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Revista Portuguesa de Educação, 2012, 25(2), pp. 197-216 © 2012, CIEd - Universidade do Minho O ensino da Expressão Musical e Dramática no 1.º CEB — O caso da Região Autónoma da Madeira. Uma visão curricular * Filipa Barreto de Seabra Universidade Aberta, Portugal Resumo Revisitando os lugares-comuns do currículo propostos por Schwab (1973) (o aluno, o professor, os conteúdos, o processo de desenvolvimento curricular e o contexto), propomo-nos traçar – com base num estudo de caso que parte da análise documental de um conjunto de normativos e documentos de referência e da análise preliminar de dados recolhidos junto dos vários elementos envolvidos (coordenadores, professores, alunos e encarregados de educação), através de inquérito, entrevista, focus group e observação – uma visão global do currículo de Expressão Musical e Dramática no 1.º Ciclo do Ensino Básico (CEB) da Região Autónoma da Madeira (RAM), Portugal, com foco nas questões curriculares relacionadas com a Expressão Musical, ainda que com referências pontuais ao 2.º Ciclo do Ensino Básico e à Educação Artística em geral. Palavras-chave Currículo; Regionalização; Expressão Musical; Educação Artística Introdução Partindo dos lugares-comuns do currículo – o aluno, o professor, os conteúdos, o processo de desenvolvimento curricular e o contexto –, procurámos analisar a situação do ensino da Expressão Musical e Dramática na Região Autónoma da Madeira (RAM), tomando o 1.º CEB como ponto de

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  • Revista Portuguesa de Educao, 2012, 25(2), pp. 197-216 2012, CIEd - Universidade do Minho

    O ensino da Expresso Musical e Dramtica

    no 1. CEB O caso da Regio Autnoma da

    Madeira. Uma viso curricular*

    Filipa Barreto de SeabraUniversidade Aberta, Portugal

    Resumo

    Revisitando os lugares-comuns do currculo propostos por Schwab (1973) (o

    aluno, o professor, os contedos, o processo de desenvolvimento curricular e

    o contexto), propomo-nos traar com base num estudo de caso que parte

    da anlise documental de um conjunto de normativos e documentos de

    referncia e da anlise preliminar de dados recolhidos junto dos vrios

    elementos envolvidos (coordenadores, professores, alunos e encarregados

    de educao), atravs de inqurito, entrevista, focus group e observao

    uma viso global do currculo de Expresso Musical e Dramtica no 1. Ciclo

    do Ensino Bsico (CEB) da Regio Autnoma da Madeira (RAM), Portugal,

    com foco nas questes curriculares relacionadas com a Expresso Musical,

    ainda que com referncias pontuais ao 2. Ciclo do Ensino Bsico e

    Educao Artstica em geral.

    Palavras-chave

    Currculo; Regionalizao; Expresso Musical; Educao Artstica

    Introduo

    Partindo dos lugares-comuns do currculo o aluno, o professor, os

    contedos, o processo de desenvolvimento curricular e o contexto ,

    procurmos analisar a situao do ensino da Expresso Musical e Dramtica

    na Regio Autnoma da Madeira (RAM), tomando o 1. CEB como ponto de

  • partida, e com nfase na Expresso Musical, ainda que englobando

    referncias ao 2. CEB e Educao Artstica em geral. Para tal,

    comearemos pelo contexto, referindo-nos problemtica da regionalizao

    do currculo, mais premente ainda quando tomamos por referncia uma regio

    insular, perifrica e dotada de maior autonomia curricular. Ao nvel do ensino

    da msica, verifica-se, na RAM, uma preocupao pela recuperao de

    patrimnio local, quer ao nvel de prticas instrumentais regionais, quer de

    composies de autores locais.

    Ao nvel do processo de desenvolvimento curricular, analisaremos a

    estrutura organizacional que sustenta todo o processo curricular, as formas de

    regulao curricular presentes e a articulao dos contedos ligados

    Educao Musical com o currculo do Ensino Bsico. Faremos uma breve

    apresentao dos contedos focalizados e da organizao curricular eleita.

    Destacaremos ainda o papel desempenhado pelos professores, desde a

    caracterizao da sua formao inicial e contnua, passando pelas suas

    perspetivas pessoais de identificao com o projeto e valorizao profissional.

    Por fim, ser feita uma breve referncia aos alunos e respetivos encarregados

    de educao.

    A Educao Artstica no 1. CEB tem sido alvo de ateno por parte de

    tericos e prticos da educao em muitos pases ocidentais. Apesar da sua

    incluso no plano dos discursos, a prtica revela ainda uma conscincia

    deficiente da necessidade de proporcionar programas de formao musical

    coerentes a todas as crianas desde o incio da escolaridade. O Governo

    Regional da Regio Autnoma da Madeira, atravs do Gabinete Coordenador

    de Educao Artstica (GCEA), tem desenvolvido, ao longo dos ltimos 30

    anos, um projeto de Educao Musical e Dramtica direcionado a todas as

    crianas do 1. CEB. O conhecimento e a anlise da experincia de ensino

    acumulada por este projeto pode ser particularmente relevante para a reflexo

    que atualmente tem vindo a ser realizada no continente, resultante da

    introduo das Atividades de Enriquecimento Curricular do 1. CEB, em

    20061. Atualmente, todas as crianas que frequentam o 1. CEB na RAM

    recebem aulas de Expresso Musical e Dramtica, em regime de

    monodocncia coadjuvada, assegurada essencialmente por professores de

    msica2. As orientaes curriculares, a seleo, contratao e formao

    contnua desses professores, assim como a prestao de contas sobre os

    resultados do projecto, so da responsabilidade do GCEA.

    198 Filipa Barreto de Seabra

  • Perante este contexto, foi desenvolvido um projeto de investigao,

    contando entre os seus objetivos o de caracterizar o projeto desenvolvido pelo

    GCEA quanto aos princpios fundamentais a nvel da estrutura, organizao,

    orientaes curriculares e pedagogia, e o de compreender o papel da

    formao contnua de professores no mesmo. O presente artigo pretende

    resumir alguns dos contributos a esse nvel, posicionando-se numa perspetiva

    exclusivamente curricular3. Ao nvel metodolgico, optou-se por uma

    metodologia de ndole sobretudo qualitativa, embora com contributos de

    natureza quantitativa. A recolha de dados ocorreu mediante observao de

    aulas, notas de campo dos investigadores, anlise documental, entrevistas

    semi-estruturadas e inquritos por questionrio a professores generalistas,

    professores de Expresso Musical e Dramtica e encarregados de educao,

    entrevistas no estruturadas a responsveis do GCEA e entrevista focus

    group com crianas. Os dados foram recolhidos entre Novembro de 2007 e

    Setembro de 2009.

    O contexto: regionalizao do currculo

    Atravessamos um perodo de intensa globalizao, com crescente

    influncia de instncias supra-nacionais ao nvel da deciso curricular

    (Seabra, 2010). No entanto, ainda que o contexto global ganhe influncia, a

    globalizao no um processo homogneo e bottom-up, antes se

    encontrando intimamente ligado com os contextos locais. Na medida em que

    o currculo um veculo produtor de identidades, a crescente conscincia da

    necessidade de construir identidades nacionais e locais num mundo em

    franca globalizao tem vindo a crescer ao mesmo tempo que as presses

    hegemnicas para a homogeneidade (Pacheco & Pereira, 2007). A Lei de

    Bases do Sistema Educativo prev a existncia de componentes regionais e

    locais no currculo, as quais podero contribuir para esse desgnio.

    A discusso do currculo regional requer uma perspetiva curricular que

    se posicione face ao currculo enquanto construo dinmica e permanente,

    na medida em que "o currculo regional s se torna possvel se rompermos

    com os processos uniformes e estandardizados de deciso curricular"

    (Pacheco, 2003, p. 1). As concees estruturalistas e funcionalistas do

    currculo assentam numa perspetiva baseada na atuao de especialistas ao

    nvel da administrao central para a definio de um currculo nacional, de

    199Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • natureza normativa, que dever ser implementado em todas as regies de

    igual modo. Atravessando ns um momento de forte recentralizao do

    controlo curricular, como evidenciado pelo recurso crescente avaliao

    externa, ou aos rankings, que pressionam no sentido da uniformidade

    curricular, a discusso da regionalizao do currculo desafiante, apelando

    ao recurso a modelos abertos do currculo, apoiados nas teorias ps-

    estruturalistas.

    Ao nvel nacional, tm ocorrido iniciativas no sentido da regionalizao

    do currculo nos contextos insulares, tendo a Regio Autnoma dos Aores

    introduzido o conceito de currculo regional em 2001 (Sousa, 2007) e

    publicado um currculo regional do Ensino Bsico (RAA/SREC, 2005),

    subsidirio do currculo nacional, o qual se baseia no pressuposto de que a

    insularidade ultraperifrica contribuiu para a criao de caractersticas

    culturais prprias. Este currculo regional enfatiza aspetos do patrimnio

    histrico, cultural, lingustico e artstico da Regio Autnoma dos Aores.

    Baseia-se numa lgica de diferenciao curricular assente na

    profissionalidade docente e, consequentemente, no esforo de adequar o

    currculo s caractersticas dos estudantes, incluindo a sua identidade local e

    regional. Visando uma aprendizagem significativa, no se limita a transmitir

    contedos prximos dos estudantes aorianos, antes englobando diferentes

    nveis de proximidade: competncias para a cidadania (nacional), para a

    insularidade, e para a aorianidade (Sousa, 2007). No caso da RAM, embora

    no existindo um currculo regional, emprega-se a expresso regionalizao

    do currculo', a qual aponta para um processo mais do que para um resultado

    final, e para a qual contribui a Educao Artstica proporcionada pelo GCEA.

    O currculo nacional inclui em si uma fragmentao entre as reas

    curriculares disciplinares, reas curriculares no disciplinares e de

    complemento curricular, sendo estas ltimas facultativas e de natureza

    cultural (Pacheco, 1994). Esta diviso carece de sentido na medida em que

    todas estas atividades devem ser entendidas como esforos convergentes no

    sentido da formao integral dos educandos (Ribeiro, 1990, cit. por Pacheco,

    2004). Neste sentido, a descurricularizao que tem vindo a afectar as reas

    expressivas e a componente cultural do currculo enferma do risco de

    desculpabilizar a escola na sua integralidade de prosseguir objetivos de

    natureza cultural. O espao do no disciplinar e do complemento curricular

    200 Filipa Barreto de Seabra

  • tem sido perspetivado como o espao por excelncia para a componente

    local, regional e cultural do currculo, desde o advento da rea-Escola,

    passando pela rea de Projeto (Pacheco, 1994) e pelas Atividades de

    Enriquecimento Curricular, cuja coordenao tem vindo a desenvolver-se ao

    nvel da escola e do municpio, permitindo maiores margens de autonomia

    (Pacheco, 2008; Pereira, 2008).

    Foi assim com a Educao Artstica, introduzida nas escolas do Ensino

    Bsico do continente em 2006, pelo Ministrio da Educao, como atividade de

    complemento curricular. Ora, sendo a Educao Artstica, nomeadamente a

    Educao Musical, parte integrante do currculo nacional do Ensino Bsico,

    regulamentada pelo Decreto-Lei n. 344 de 1990, e definida no documento

    "Currculo Nacional do Ensino Bsico Competncias Essenciais", de 2001,

    gerou-se ento uma situao curricular ambgua, em que um mesmo elemento

    surge como parte integrante do currculo, a ser trabalhado pelo professor titular

    de turma, e como complemento curricular, a ser ministrado por um professor

    especialista, redundando no reconhecimento tcito de que, enquanto elemento

    curricular, a Educao Musical no tem sido implementada com sucesso pelos

    professores do 1. CEB (Mota, 2001, 2007; Boal-Palheiros & Encarnao,

    2008), que, na sua maioria, se sentem incapazes de lecionar as reas

    artsticas, considerando as suas competncias nesse domnio insuficientes

    para fazer face s exigncias do currculo (Mota, 2003).

    Um efeito secundrio desta poltica, constatado no terreno, tem sido a

    desresponsabilizao de muitos dos professores do 1. CEB pela Educao

    Artstica, com a correspondente subalternizao curricular destas reas face

    s reas cientficas que correspondem ao core curriculum, e cuja lecionao

    ganhou terreno custa das Expresses, relegadas ao plano de complemento

    curricular. Esta situao particularmente perigosa na medida em que, como

    complemento curricular, estas atividades so de natureza facultativa. Nas

    palavras de Mota (2007, p. 4), "o lugar da Msica no currculo do EB continua

    a ter contornos pouco claros e a ser encarado como algo que, embora esteja

    aparentemente assumido, se situa numa zona de alguma marginalidade tanto

    em termos conceptuais como pragmticos". Fortes implicaes para a

    formao inicial e contnua, quer dos professores do 1. CEB, quer dos

    professores especialistas contratados a nvel municipal, e nem sempre

    portadores de habilitaes para a docncia, alm de privados das condies

    201Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • profissionais dos restantes colegas de profisso , devem ser retiradas desta

    situao. O facto de os professores responsveis pelas atividades de

    enriquecimento curricular terem condies laborais e por vezes grau

    acadmico e preparao pedaggica4 inferior ao dos professores do 1. CEB

    coloca-os numa posio de relativa marginalidade profissional.

    Contrastando com a realidade vivida no continente portugus, na RAM

    a Educao Artstica tem vindo a receber ateno considervel, englobando

    uma forte perspetiva regionalizante. Em 2003, no I Encontro Regional dos

    Professores de Educao Musical da Madeira, foi tomada a deciso de

    regionalizar o currculo de Educao Musical do 2. CEB na RAM. Os

    objetivos visados por esse processo de regionalizao foram: "(1) Inserir no

    currculo prticas musicais que ajudassem o aluno a integrar-se nas

    estruturas sociais que o rodeiam; (2) conservar o patrimnio musical

    madeirense, disperso por vrias fontes e em risco de se perder, atravs da

    educao; e (3) fortificar a identidade regional, numa poca de forte

    globalizao econmica e cultural". Os contedos regionais deveriam

    representar 30% do currculo e, aps experincias em escolas-piloto, este

    projeto foi alargado a todas as escolas da regio em 2006/2007 (Esteireiro,

    2007, p. 3).

    No mbito deste projeto, foi feita a recolha e produo de material

    didctico sobre msica madeirense, editado sob a forma de livro didtico. Foi

    realizada formao de professores para a implementao das propostas de

    atividade compreendidas neste material. Os estudantes envolvidos no estudo-

    piloto foram incentivados a colaborar na recolha de msicas tradicionais e

    tiveram oportunidade de conviver de perto com msicos madeirenses (idem).

    Esta iniciativa foi alargada ao 3. CEB em 2009, e tem sido motor da recolha

    continuada de patrimnio musical madeirense. Para alm de dois manuais de

    apoio ao professor, apoiados por CD-ROM e CD udio, foram ainda

    publicados diversos livros com pautas de msicas da regio e um livro com

    biografias de msicos madeirenses.

    A par desta iniciativa, focalizada, como referimos, nos 2. e 3. CEB, as

    Modalidades Artsticas oferecidas como complemento curricular a todas as

    crianas (incluindo as do 1. CEB), com o objetivo de "fomentar as prticas

    artsticas nas escolas, visando a dinamizao dos eventos organizados dentro

    e fora da escola" (Secretaria Regional de Educao e Cultura, 2010, p. 9),

    202 Filipa Barreto de Seabra

  • incluem a modalidade de Cordofones Tradicionais Madeirenses, que conta

    entre os seus objetivos especficos para o 1. CEB:

    Reconhecer a diversidade do panorama musical madeirense, portugus,europeu e mundial atravs da visionao, audio e anlise de trechostradicionais ou provenientes da msica tnica (europeia e mundial);

    Adquirir um conhecimento geral dos vrios instrumentos tradicionaismadeirenses (ibidem).

    Entendemos, desta forma, que a Educao Musical levada a cabo sob

    a orientao do GCEA, que realizada no 1. CEB, inclui elementos

    regionalizantes do currculo, ainda que a presena da regio se faa sentir de

    forma mais presente e estruturada nos 2. e 3. CEB. A modalidade artstica

    de Cordofones Tradicionais Madeirenses, embora seja de complemento

    curricular e, como tal, facultativa, permite a parte dos estudantes desta regio

    conhecer e contribuir para a preservao de prticas musicais culturalmente

    relevantes no contexto madeirense. Realamos ainda o facto de o intuito de

    contribuir para a regionalizao do currculo do 2. CEB ter sido motor de um

    trabalho de recolha e manualizao de msicas tradicionais madeirenses,

    contribuindo assim diretamente para a preservao do patrimnio artstico e

    cultural da regio.

    O processo de desenvolvimento curricular

    Todo o processo de desenvolvimento curricular levado a cabo por

    atores dotados de relativa autonomia e inseridos em estruturas organizativas

    que importa descrever de forma a facilitar a compreenso do modelo

    curricular em questo. O programa tem uma magnitude muito significativa,

    abarcando toda a ilha da Madeira, o que s possvel na presena de uma

    organizao bem estruturada, neste caso corporizada pelo GCEA. Este

    gabinete depende da Direco Regional de Educao da Secretaria Regional

    de Educao e Cultura. Na sua dependncia encontram-se, entre outros, o

    Gabinete de Apoio Educao Artstica (DAEA) e a Diviso de Expresses

    Artsticas (DEA)5.

    O projeto nasceu em 1980 envolvendo um pequeno grupo de

    professores do 1. CEB, sob a direo de um ento professor do

    Conservatrio de Msica e de uma professora do 1. CEB especializada em

    203Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • Expresso Dramtica, mas rapidamente passou a dirigir-se a estudantes de

    msica, embora continuasse a trabalhar com professores do Pr-Escolar e 1.

    CEB. Este ncleo veio a dar origem ao GCEA, que contou com o apoio do

    Governo Regional. A hierarquia do GCEA inclui o Diretor (Carlos Gonalves,

    um dos mentores originais do projeto), trs coordenadores das vrias divises

    de interveno, os coordenadores concelhios, os professores de apoio

    Expresso Musical e Dramtica e os alunos. Cada coordenador concelhio

    responsvel, ao nvel do concelho, por um nmero varivel de professores de

    apoio, com quem rene a cada duas semanas para planificar conjuntamente

    as actividades letivas e cujas aulas supervisiona, sendo cada aula assistida

    alvo de um relatrio enviado ao GCEA. Por sua vez, os coordenadores

    concelhios renem quinzenalmente com a coordenadora do DAEA e com a

    Coordenadora Regional de reas Artsticas, recebendo indicaes, discutindo

    problemas encontrados e dando conta da aplicao do projeto ao nvel do

    terreno.

    Verificamos, assim, a existncia de uma estrutura curricular fortemente

    centralizada no GCEA, com formas de regulao curricular direta, atravs dos

    coordenadores concelhios, que funcionam, na prtica, como sistemas

    desconcentrados mas no descentralizados, uma vez que a deciso e a

    prestao de contas emerge de e dirige-se ao gabinete, sendo os professores

    de apoio e os prprios coordenadores concelhios mais executores das

    decises centralmente tomadas do que propriamente decisores curriculares.

    As entrevistas realizadas aos elementos do GCEA revelaram quatro temas

    emergentes, dos quais trs so consistentes com esta perspetiva, importando

    ser referidos quanto a este ponto: a) agentes de inovao; b) magnitude do

    programa; c) liderana e pertena. Estando envolvidos na gnese e

    desenvolvimento do projeto, estes elementos tm o sentimento de terem

    originado um projeto inovador. As entrevistas revelaram tambm a magnitude

    do programa, abrangendo toda a ilha, assente numa estrutura hierrquica de

    coordenao e organizao que permite ao GCEA controlar globalmente as

    prticas docentes, com base numa liderana forte.

    Os quatro manuais escolares produzidos pelo GCEA surgem como

    instrumentos reguladores do currculo, uma vez que, embora no sejam

    obrigatrios, a realizao de atividades dos manuais fortemente

    aconselhada6 e verificada pelos coordenadores concelhios. Estes manuais

    204 Filipa Barreto de Seabra

  • revelam, a nvel do seu contedo, predomnio da performance, em detrimento

    das atividades de composio e audio. A observao de aulas (n=34) por

    elementos do projeto confirmou esta posio: observou-se um predomnio de

    atividades de canto ou prtica instrumental, estando as atividades de audio

    e composio praticamente ausentes. As componentes referidas

    (performance, audio e composio) integram quer o currculo nacional

    (ME/DEB, 2001), quer as orientaes programticas para a Expresso

    Musical (DEB, 2004), ao nvel do 1. CEB.

    A Educao Musical e Dramtica chega s crianas do 1. Ciclo de

    duas formas claramente demarcadas: por um lado, as aulas curriculares de

    Expresso Musical e Dramtica, com presena de uma hora semanal na

    matriz curricular e de natureza obrigatria, contribuindo para a avaliao dos

    estudantes, que deve ser feita em colaborao pelo professor de apoio e pelo

    professor titular de turma; por outro lado, as Modalidades Artsticas, de

    complemento curricular, facultativas e com a durao de 90 minutos por

    sesso semanal. So oferecidas s crianas 5 modalidades artsticas: Canto

    Coral, Grupo Instrumental, Cordofones Tradicionais Madeirenses, Dana e

    Expresso Dramtica.

    As orientaes curriculares encontram-se definidas no documento

    "Projecto Curricular: reas Artsticas no 1. Ciclo do Ensino Bsico. Curricular

    e Enriquecimento Curricular", da autoria da Diviso de Apoio Educao

    Artstica do GCEA (2010). Este documento compreende 11 objetivos gerais,

    formulados sob a forma de competncias (ex.: Desenvolver competncias e

    conhecimentos aos nveis: vocal e instrumental), revelando alguma

    indefinio conceptual que no lhe exclusiva, antes parecendo caracterizar

    as prticas curriculares ao nvel do Ensino Bsico (Seabra, 2010). Estes

    objetivos gerais so prprios a este documento, no sendo decalcados da

    Organizao Curricular e Programas do 1. CEB (DEB, 2004), ou do Currculo

    Nacional do Ensino Bsico (ME/DEB, 2001), sendo posteriormente

    operacionalizados em tabelas que, para cada ano curricular, elencam

    contedos, aos quais correspondem competncias de natureza especfica. O

    mesmo documento elenca os objetivos gerais para cada uma das

    Modalidades Artsticas e um conjunto de critrios de avaliao, de natureza

    genrica, a considerar, sem indicao das ponderaes que cada um desses

    elementos deve convocar. A margem de autonomia curricular deixada ao

    205Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • professor , assim, muito mais ampla nas atividades de complemento

    curricular do que no tocante componente curricular, e, nesta, est menos

    definida no que respeita avaliao do que no que respeita aos contedos a

    trabalhar e competncias a promover. A centralizao da deciso curricular

    parece, no entanto, residir de forma mais premente nas prticas de

    planificao e superviso, que preveem um acompanhamento muito prximo

    por parte dos coordenadores concelhios, e nos prprios manuais, do que do

    projeto curricular em si mesmo.

    Embora sejam lecionadas pelos professores de apoio Expresso

    Musical e Dramtica, as aulas curriculares devem contar com a presena

    obrigatria do professor titular de turma. As observaes de aulas realizadas

    por elementos da equipa de investigao revelaram que, embora esteja

    sempre presente nas aulas, o professor titular de turma raramente se envolve

    nas atividades desenvolvidas. Os dados recolhidos por inqurito, adiante

    apresentados em maior detalhe, apontam no mesmo sentido. Assim, o

    modelo preconizado no artigo 8. da LBSE, de monodocncia coadjuvada

    (Mota, 2007), claramente o previsto para o projeto, embora possa encontrar

    dificuldades ao nvel da implementao.

    Ainda ao nvel extra-curricular, o GCEA promove a realizao de

    Encontros de Modalidades e de um espetculo anual, transmitido pela

    televiso regional, o MusicaEB. Estas atividades contribuem fortemente para

    a visibilidade social do projeto e, em ltima anlise, atravs da prestao de

    contas que a apresentao de resultados finais comporta, para a

    sobrevivncia do prprio projeto. Se, por um lado, estas iniciativas

    presenteiam as crianas com a oportunidade de levar para o palco as suas

    performances musicais e dramticas, deixando marcas importantes nos seus

    percursos pessoais, por outro, entendemos haver grande investimento nestes

    produtos, em detrimento do processo (e, uma vez mais, da audio e da

    composio). A preparao do MusicaEB esteve muito presente nas reunies

    a que assistimos com os coordenadores concelhios e destes com os

    professores, ocupando boa parte do ano letivo. Esta ideia foi reforada por um

    dos elementos do GCEA entrevistados, que afirmou verificar-se um exacerbar

    em torno do MusicaEB, que, mais do que um mostrurio do trabalho

    desenvolvido ao longo do ano, se transformou, no seu entender, num

    espetculo preparado desde Janeiro. Acresce, preparao deste produto

    final, a dinamizao de inmeras festas a nvel escolar e local, para as quais

    206 Filipa Barreto de Seabra

  • a colaborao dos professores de apoio convocada. Pese embora o facto

    de o Documento Orientador das Actividades Artsticas no 1. Ciclo explicitar

    que a responsabilidade da organizao de tais festas no compete ao

    professor de apoio, devendo este, no entanto, colaborar com o Conselho

    Escolar nos projetos de Natal, Pscoa e Final de Ano, na prtica as aulas

    parecem incidir muitas vezes sobre a preparao de um produto (festa da

    escola ou MusicaEB), em detrimento da preocupao com o processo.

    O papel dos professores

    Entre 1980 e 2009, 261 professores de apoio ensinaram nas escolas

    do 1. CEB na Madeira, tendo recebido o apoio do GCEA sob a forma de

    workshops regulares, superviso e reunies de trabalho. A participao dos

    professores em atividades institucionais, sobretudo nos grupos vocais e

    instrumentais, fortemente incentivada, visando contribuir para o

    desenvolvimento das suas competncias musicais. Verifica-se um cuidado

    importante em proporcionar boas condies de trabalho a estes professores.

    O professor de apoio s actividades artsticas integra o Conselho Escolar, no

    qual tem direito a voto, existe um conjunto de preocupaes no sentido de lhe

    garantir um horrio organizado e deve lecionar as atividades de complemento

    curricular s mesmas turmas a que leciona atividades curriculares. H ainda

    forte investimento ao nvel da formao contnua dos professores: aqueles

    que lecionam no projeto h menos de dois anos devem frequentar formao

    no GCEA uma vez por ms, aqueles que pela primeira vez atuam ao nvel do

    Pr-Escolar so obrigados a fazer formao, e todos so obrigados a

    frequentar no mnimo uma ao de formao por ano no GCEA. Os contactos

    tidos com os professores de apoio, a par da documentao consultada,

    sustentam um quadro de forte valorizao profissional dos professores de

    apoio integrados no projeto. Esta situao contrasta, no entanto, com a

    reduzida autonomia curricular, que, como vimos, lhes deixada.

    Os questionrios enviados a professores titulares de turma confirmam

    a posio sustentada por Mota (2003) quanto sua falta de confiana na

    realizao de atividades formativas nas reas artsticas, a par de insuficincia

    da sua formao de base a este nvel, bem como a sua participao apenas

    marginal nas atividades de ensino artstico desenvolvidas pelos professores

    de apoio.

    207Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • Foram enviados 132 questionrios a professores titulares de turma,

    tendo-se obtido um retorno de 107. Mais de 60% destes professores

    afirmaram no ter qualquer preparao em termos de msica e drama.

    Aqueles que, pelo contrrio, referiram possuir formao a este nvel

    (aproximadamente 33%) receberam formao contnua proporcionada pelo

    GCEA, que se evidencia como a instituio formadora mais relevante para os

    professores do 1. Ciclo na RAM. Questionados sobre a sua possibilidade de

    assumir responsabilidade pelas aulas de msica e drama, 64,5%

    consideraram ter falta de confiana e preparao para o fazer. Ao nvel das

    prticas, a grande maioria (mais de 90%) dos professores titulares de turma

    nunca participou em atividades formais de msica ou drama. Quase todos

    (92,5%) afirmam permanecer na sala de aula durante as atividades

    curriculares de msica e drama; no entanto, apenas 9,3% reconhecem

    participar ativamente nas mesmas.

    No que respeita aos questionrios enviados a professores de msica

    e drama (n=71, num total de 83 enviados), estes confirmam a baixa

    participao dos professores titulares de turma nas aulas de Expresso

    Musical e Dramtica, e revelam um quadro docente jovem e, em boa parte,

    qualificado: cerca de metade (49%) tem licenciatura em Educao Musical,

    14% em Ensino Bsico 1. Ciclo e 10% em Educao de Infncia (em

    ambos os casos, com formao musical pelo GCEA); 10% so profissionais

    de msica e drama sem licenciatura (formados pelo GCEA); e 13% tm

    formao pelo Conservatrio de Msica. Na sua maioria (51,4%), tm idade

    inferior a 30 anos e menos de 5 anos de experincia profissional (n=41).

    Muitos participam em atividades extra-curriculares de msica e drama

    organizadas pelo CGEA, com o objetivo de aumentar as suas competncias

    artsticas. A maioria considera que os professores titulares de turma so

    pouco colaborativos, inviabilizando a continuidade do trabalho por eles

    desenvolvido ao longo da semana.

    As entrevistas aos professores de apoio permitiram identificar dois

    perfis distintos: por um lado, os professores oriundos do continente, e por

    outro os locais (muitos dos quais estudaram no continente e regressaram). Os

    professores do continente tendem a perspetivar a docncia na RAM como

    uma experincia transitria; poucos so os que permanecem mais de uma

    dcada. Assim, o seu nvel de envolvimento no projeto tende a ser mais

    208 Filipa Barreto de Seabra

  • superficial e procuram evitar o confronto direto com o GCEA. J os

    professores madeirenses revelam um envolvimento mais profundo com o

    projeto (por vezes, j experienciado por eles enquanto alunos do 1. Ciclo),

    que se sentem mais capazes de flexibilizar e adaptar.

    Os alunos

    Foi realizado um focus group (n=50) com crianas, inquirindo-as a

    respeito da sua participao no MusicaEB e nas aulas de Expresso Musical

    e Dramtica. Os resultados indicam que a generalidade dos alunos que

    connosco colaborou aprecia as aulas de Expresso Musical e Dramtica.

    Aqueles que j participaram num MusicaEB referem ter gostado de aparecer

    na televiso e a importncia de fazer bem o playback. Os que no

    participaram dividem-se entre o sentimento de rejeio e a noo de que, ao

    participar nos ensaios, tambm contriburam para o evento. Aqueles que vo

    participar pela primeira vez mostram-se preocupados com o pblico. Por fim,

    os que participaram nas gravaes queixam-se do nmero de repeties que

    tiveram de fazer.

    Ao falar de crianas do 1. Ciclo, a perspetiva dos pais e encarregados

    de educao no pode ser desconsiderada. Responderam a um questionrio

    226 pais e encarregados de educao. A maioria possui um nvel acadmico

    baixo (55,9%) e mais de 40% afirma raramente participar em eventos

    culturais. No entanto, 80,5% referem participar regularmente nos eventos em

    que os seus filhos esto envolvidos, e 98,7% apoiariam a escolha, pelo seu

    filho, de uma carreira musical.

    Concluso

    O estudo de caso realizado ao longo de trs anos na RAM permite-nos

    descrever um projeto com potencialidades e fragilidades ao nvel curricular.

    Seguindo novamente o percurso indicado pelos lugares comuns do

    currculo de Schwab (1973), comeamos por considerar o contexto. Sendo a

    Madeira uma regio insular e ultraperifrica, sujeita aos efeitos da

    globalizao educacional (e no s), os contributos para a regionalizao do

    currculo, no sentido da afirmao de uma identidade regional e da

    preservao da herana cultural, so dignos de nota. A Educao Musical tem

    209Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • impulsionado esse desgnio, nomeadamente a recolha e edio de msica

    tradicional madeirense ou o ensino dos cordofones tradicionais madeirenses.

    Ao nvel do contedo e do processo de desenvolvimento curricular, que

    analismos conjuntamente, encontramos um cenrio mais problemtico. Se,

    por um lado, existe um sistema eficaz que garante o acesso de todas as

    crianas do 1. CEB a aulas curriculares de Expresso Musical e Dramtica

    num modelo de monodocncia coadjuvada, a colaborao entre professores

    de apoio e titular poderia ser melhorada. Ainda que num contexto curricular

    obrigatrio e avaliado, com a presena obrigatria dos professores titulares,

    as aulas de Expresso Musical e Dramtica parecem ser da responsabilidade

    exclusiva dos professores de apoio, com reduzido apoio dos colegas titulares

    de turma e, consequentemente, reduzida transversalidade dos contedos de

    Educao Artstica com as restantes reas curriculares.

    A organizao curricular fortemente centralizada no GCEA,

    desconcentrada atravs dos coordenadores concelhios, que renem

    quinzenalmente quer com o gabinete, quer com os professores, assumindo

    funes de superviso (incluindo assistncia a aulas) dos professores de

    apoio e assegurando a comunicao nos dois sentidos. Embora eficaz, este

    controlo muito prximo das prticas docentes, a par de um currculo

    centralmente definido e da adoo de um manual quase obrigatrio da autoria

    do Gabinete, deixa uma margem autonmica de adaptao curricular muito

    reduzida aos professores. As orientaes curriculares, organizadas por

    objetivos gerais, contedos e competncias de natureza especfica, parecem

    ser menos relevantes para esta centralizao do que as prticas supervisivas

    implementadas. A par das atividades curriculares, desenvolvem-se vrias

    atividades de complemento curricular, facultativas, e claramente distintas

    daquelas, que contribuem para o aprofundamento dos conhecimentos e das

    prticas artsticas das crianas, permitindo-lhes envolver-se em momentos de

    performance musical. No se verifica, a este nvel, a ambiguidade curricular

    que se regista no continente portugus.

    Em relao aos contedos, a anlise dos manuais e a observao de

    aulas revelou uma centrao na performance musical, em detrimento da

    audio e da composio. Este facto ainda reforado pela colonizao que

    parece existir das aulas de Expresso Musical e Dramtica pela preparao

    de produtos finais animao de festas, encontros de modalidades e, em

    210 Filipa Barreto de Seabra

  • particular, o MusicaEB, cuja preparao se inicia em Janeiro, ocupando

    grande parte do ano letivo. Verifica-se, assim, um certo desequilbrio face aos

    objetivos e competncias que norteiam o currculo da Expresso Musical no

    1. CEB, com nfase na performance e nos produtos finais.

    No que respeita aos professores, verifica-se, numa nota muito positiva,

    o investimento na sua profissionalidade, oferecendo-lhes boas condies

    laborais, bons horrios, participao no Conselho Escolar a par dos colegas

    titulares de turma e amplas oportunidades de formao contnua.

    Negativamente, regista-se a insuficiente articulao com os professores

    titulares de turma e a j referida falta de autonomia profissional. Os resultados

    confirmaram a insuficiente preparao dos professores titulares de turma para

    fazer frente s exigncias do currculo nacional no que concerne Educao

    Artstica.

    Por fim, relativamente s crianas, verifica-se um agrado generalizado

    pelas atividades, incluindo o MusicaEB, embora com reservas quanto a este

    evento por parte daquelas que nunca participaram, algumas das quais

    sentindo-se excludas, e daquelas que participaram na gravao, que

    consideraram esta atividade repetitiva. Temos reservas acerca das virtudes

    pedaggicas deste evento, que perspetivamos mais como um momento de

    prestao de contas perante a comunidade e o Governo Regional do que

    como um momento formativo. A Educao Musical e Dramtica poder estar

    a ter um impacto positivo tambm sobre os pais, na medida em que participam

    nos eventos em que os seus filhos esto envolvidos e mostram estar

    disponveis para apoiar uma carreira musical por parte destes. O

    aprofundamento do estudo do impacto do programa a este nvel, de forma

    longitudinal, poder ser uma perspetiva de trabalho interessante para estudos

    futuros.

    Salvaguardadas todas as diferenas contextuais, ser interessante

    refletir sobre os elementos deste projeto que podero iluminar o currculo da

    Expresso Musical no 1. CEB no continente. Destacam-se, a este nvel, as

    condies profissionais e a formao contnua oferecidas aos professores de

    apoio, a aposta num modelo de monodocncia coadjuvada e a separao

    clara entre a Educao Musical integrada no currculo (obrigatria) e as

    atividades de enriquecimento curricular, que no substituem a primeira mas

    antes a complementam (facultativas). No que toca ao projeto proporcionado

    211Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • pelo GCEA, a forte nfase nos produtos e na performance apresentam-se

    como pontos a melhorar, na medida em que descuram outras dimenses

    previstas no currculo nacional para a Educao Musical.

    Notas* O presente artigo apresenta concluses resultantes do Projeto "Msica e Drama no

    1. Ciclo do Ensino Bsico O caso da Regio Autnoma da Madeira", financiadopela FCT (PTDC/CED/72112/2006), resultante de uma parceria entre o CIPEM -Centro de Investigao em Psicologia da Msica e Educao Musical, da EscolaSuperior de Educao do Porto, e o CIIE - Centro de Investigao e IntervenoEducativas, da FPCE-UP.

    1 As Atividades de Enriquecimento Curricular no 1. Ciclo do Ensino Bsicoencontram-se regulamentadas pelo Despacho n. 14460/2008, de 26 de maio,alterado pelo Despacho n. 8683/2011, de 28 de junho. De acordo com o artigo 9.do Despacho n. 14460/2008, "Consideram-se actividades de enriquecimentocurricular no 1. ciclo do ensino bsico as que incidam nos domnios desportivo,artstico, cientfico, tecnolgico e das tecnologias da informao e comunicao, deligao da escola com o meio, de solidariedade e voluntariado e da dimensoeuropeia da educao, nomeadamente: a) Actividades de apoio ao estudo; b)Ensino do Ingls; c) Ensino de outras lnguas estrangeiras; d) Actividade fsica edesportiva; e) Ensino da msica; f) Outras expresses artsticas; g) Outrasactividades que incidam nos domnios identificados". Para uma discusso recentee aprofundada das Atividades de Enriquecimento Curricular visando as suasimplicaes para a prtica docente, vide: Magalhes, A. M., & Lopes, D. S. (2011).Dualizao dplice: Sobre a flexibilizao dos servios de ensino em Portugal.Etnogrfica, 12(2), 261-286.

    2 Os currculos dos cursos de formao inicial de professores de msica em Portugalcontemplam uma dimenso de Expresso Dramtica, a qual, no entanto, poucoaprofundada.

    3 Para uma sinopse do projeto global, vide: http://www.fpce.up.pt/ciie/projectos/musica_drama.html. Outras comunicaes e publicaes resultantes do mesmoprojeto desenvolvem os mbitos relacionados com a Educao Artstica ou ametodologia empregue, sendo objetivo desta publicao a discusso de um pontode vista curricular.

    4 No que respeita ao perfil de formadores (art. 16, Seco III do Cap. III), osprofessores podem ser recrutados diretamente dos Conservatrios, Escolas eAcademias de Msica, hoje Ensino Secundrio de Msica (Mota, 2007).

    5 Para uma discusso mais aprofundada da estrutura hierrquica do GCEA videPacheco, Tormenta, & Arajo (2010).

    6 Orientao Geral presente no Documento Orientador (SREC, 2010, p. 8): "Autilizao do manual, Da Escola ao Palco, destinado rea da Expresso Musicale Dramtica, a constar da lista de material a adquirir pelos alunos, dever constituir

    212 Filipa Barreto de Seabra

  • uma referncia de apoio s actividades destes domnios, atendendo ao trabalhosequencial que prope".

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    214 Filipa Barreto de Seabra

  • MUsICAl AND DRAMAtIC ExpREssION EDUCAtION IN thE 1st CyClE Of

    BAsIC EDUCAtION thE CAsE Of thE AUtONOMOUs REgION Of MADEIRA.

    A CURRICUlAR pERspECtIvE

    Abstract

    Revisiting the common places of curriculum, proposed by Schwab (1973) (the

    student, the teacher, the contents, the curriculum development process and

    the context), we intend to outline a global analysis of curriculum of Musical and

    Dramatic Expression in the 1st Cycle of Basic Education in the Autonomous

    Region of Madeira, Portugal, particularly attaining to the curriculum of Musical

    Expression, although referring occasionally to the 2nd Cycle of Basic

    Education and to Arts Education as a whole. The data come from a case study

    which included documental analysis of a corpus of normative and reference

    documents and the preliminary analysis of data gathered from the various

    people involved in the project (coordinators, teachers, students and parents),

    by survey, interview, focus group, and observation. .

    Keywords

    Curriculum; Regionalization; Music Education; Arts Education

    l'ENsEIgNEMENt DE lExpREssION MUsICAlE Et DRAMAtIqUE DANs lE

    1ER CyClE DE lDUCAtION BAsIqUE lE CAs DE lA RgION AUtONOME

    DE MADRE. UNE AppROChE CURRICUlAIRE

    Rsum

    En revisitant les lieux communs du curriculum, proposs par Schwab (1973)

    (l'tudiant, lenseignant, le contenu, le processus de dveloppement du

    curriculum et le contexte), nous proposons de faire une rvision globale du

    curriculum de lExpression Musicale et Dramatique dans le 1er Cycle de

    l'ducation Basique dans la Rgion Autonome de Madre (RAM), Portugal, en

    concernant particulirement lExpression Musicale, mais avec des rfrences

    215Expresso Musical e Dramtica na RAM

  • occasionnelles au 2me Cycle de l'ducation de Base et l'ducation

    Artistique en gnral. On part dune tude de cas, dans lequel on utilise des

    questionnaires, des interviews, un focus group et lobservation, pour obtenir

    informations des multiples personnes qui participent au projet (les

    coordinateurs, les professeurs, les lves et leurs parents).

    Mots-cl

    Curriculum; Rgionalisation; ducation Musicale; ducation Artistique

    Recebido em Maro/2011

    Aceite para publicao em Julho/2012

    216 Filipa Barreto de Seabra

    Toda a correspondncia relativa a este artigo deve ser enviada para: Filipa Barreto de Seabra ; e-mail: [email protected]