30 de marÇo a 14 de abril de 2014 enquete gera polêmica · ram em defesa da posição de ferreira...

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11 30 DE MARÇO A 14 DE ABRIL DE 2014 O Planeta geral Enquete gera polêmica Quase três anos após o reco- nhecimento da união homoa- fetiva pelo Supremo Tribunal Federal (STF), uma enquete no site da Câmara dos Depu- tados reacendeu a polêmica sobre o reconhecimento da família além da “união entre homem e mulher” e seus des- cendentes. No ar desde o dia 5 de fevereiro, mais de meio milhão de pessoas se mobili- zaram em torno da enquete, que não tem valor científico, mas serve como termômetro para os deputados conhece- rem a opinião dos eleitores. Dos 558.471 internautas que responderam à pergunta “Você concorda com a defi- nição de família como núcleo formado a partir da união en- tre homem e mulher, prevista no projeto que cria o Estatuto da Família?”, até a tarde de segunda (24), 50.83% respon- deram “não”, 48.78 % respon- deram “sim”, enquanto 0.39 % não souberam opinar. O nú- mero de participantes é mais do que o dobro da segunda enquete mais votada no site da Câmara. A manutenção do poder de investigação do Ministério Público, aborda- do pela PEC 37, por exemplo, obteve apenas 230.386 votos. A sondagem na página da Casa sobre a “união entre ho- mem e mulher” aborda a de- finição feita pela proposta do Estatuto da Família, projeto de lei do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), membro da bancada evangélica, que determina que só poderiam se beneficiar de programas sociais direcionados à prote- ção da família homens e mu- lheres casados ou com união estável reconhecida, ou ainda pais e mães solteiros ou viú- vos. A descrição exclui casais homoafetivos do conceito. A pesquisa causou polêmica nas redes sociais. Figuras públicas militantes anti e pró-direitos dos homossexuais mobiliza- ram seus seguidores para fa- zer valer a sua opinião. Entre perfis famosos de religiosos, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), pastor da Assem- bleia de Deus Catedral do Avivamento e com mais de 500 mil fãs no Facebook, e Silas Malafaia, pastor da As- sembleia de Deus Vitória em Cristo, com mais de 700 mil seguidores no Twitter, se uni- ram em defesa da posição de Ferreira na enquete, pedin- do votos ao “sim”. Do outro lado, entre os perfis pró-di- reitos LGBT, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) com mais de 300 mil fãs no Facebook e o cartunista Laerte Coutinho, em seu perfil pessoal, seguido por mais de 50 mil pessoas, se mobilizaram pedindo “não”. Pela redação atual do Estatuto, outras configurações de famí- lia, como uniões homoafetivas, são excluídas de políticas pú- blicas como assistência gratuita e especializada a dependentes químicos e acompanhamento de adolescentes grávidas. Na justificativa entregue por Fer- reira ao Congresso, ele afirma que a definição “fortalece os laços familiares” ao estabelecer o conceito de entidade familiar, junto com a “proteção e a pre- servação da unidade familiar, ao estimular a adoção de polí- ticas de assistência que levem às residências e às unidades de saúde pública, profissionais capacitados a orientação das famílias”.

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Page 1: 30 DE MARÇO A 14 DE ABRIL DE 2014 Enquete gera polêmica · ram em defesa da posição de Ferreira na enquete, pedin-do votos ao “sim”. Do outro lado, entre os perfis pró-di-reitos

1130 DE MARÇO A 14 DE ABRIL DE 2014O Planeta geral

Enquete gera polêmicaQuase três anos após o reco-nhecimento da união homoa-fetiva pelo Supremo Tribunal Federal (STF), uma enquete no site da Câmara dos Depu-tados reacendeu a polêmica sobre o reconhecimento da família além da “união entre homem e mulher” e seus des-cendentes. No ar desde o dia 5 de fevereiro, mais de meio milhão de pessoas se mobili-zaram em torno da enquete, que não tem valor científico, mas serve como termômetro para os deputados conhece-rem a opinião dos eleitores.

Dos 558.471 internautas que responderam à pergunta “Você concorda com a defi-nição de família como núcleo formado a partir da união en-tre homem e mulher, prevista no projeto que cria o Estatuto da Família?”, até a tarde de segunda (24), 50.83% respon-deram “não”, 48.78 % respon-deram “sim”, enquanto 0.39 % não souberam opinar. O nú-mero de participantes é mais do que o dobro da segunda enquete mais votada no site da Câmara. A manutenção do poder de investigação do

Ministério Público, aborda-do pela PEC 37, por exemplo, obteve apenas 230.386 votos. A sondagem na página da Casa sobre a “união entre ho-mem e mulher” aborda a de-finição feita pela proposta do Estatuto da Família, projeto de lei do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), membro da bancada evangélica, que determina que só poderiam se beneficiar de programas sociais direcionados à prote-ção da família homens e mu-lheres casados ou com união estável reconhecida, ou ainda

pais e mães solteiros ou viú-vos. A descrição exclui casais homoafetivos do conceito. A pesquisa causou polêmica nas redes sociais. Figuras públicas militantes anti e pró-direitos dos homossexuais mobiliza-ram seus seguidores para fa-zer valer a sua opinião. Entre perfis famosos de religiosos, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), pastor da Assem-bleia de Deus Catedral do Avivamento e com mais de 500 mil fãs no Facebook, e Silas Malafaia, pastor da As-sembleia de Deus Vitória em

Cristo, com mais de 700 mil seguidores no Twitter, se uni-ram em defesa da posição de Ferreira na enquete, pedin-do votos ao “sim”. Do outro lado, entre os perfis pró-di-reitos LGBT, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) com mais de 300 mil fãs no Facebook e o cartunista Laerte Coutinho, em seu perfil pessoal, seguido por mais de 50 mil pessoas, se mobilizaram pedindo “não”. Pela redação atual do Estatuto, outras configurações de famí-lia, como uniões homoafetivas, são excluídas de políticas pú-

blicas como assistência gratuita e especializada a dependentes químicos e acompanhamento de adolescentes grávidas. Na justificativa entregue por Fer-reira ao Congresso, ele afirma que a definição “fortalece os laços familiares” ao estabelecer o conceito de entidade familiar, junto com a “proteção e a pre-servação da unidade familiar, ao estimular a adoção de polí-ticas de assistência que levem às residências e às unidades de saúde pública, profissionais capacitados a orientação das famílias”.