3° relatório do grupo nacional sobre as florestas ...« grenelle » pelo meio ambiente em matéria...

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Florestas tropicais: balanço de etapa e novos desafios 3° RELATóRIO DO GRUPO NACIONAL SOBRE AS FLORESTAS TROPICAIS QUE ORIENTAçõES PARA OS ATORES FRANCESES? SÍNTESE DO RELATÓRIO

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Page 1: 3° RelatóRio do GRupo nacional sobRe as FloRestas ...« Grenelle » pelo meio ambiente em matéria de florestas tropicais Compromisso n° 221: Promoção pela presidência francesa

Florestas tropicais: balanço de etapa e novos desafios

3° RelatóRio do GRupo nacional sobRe as FloRestas tRopicais

Que oRientações paRa os atoRes FRanceses?

SínteSe do relatório

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intRodução

o grupo nacional sobre as florestas tropicais (GnFt) é um órgão consultivo informal cujo objetivo é discutir a doutrina e as orientações francesas sobre as florestas tropicais. Criado em abril de 2002 na esteira da sexta Conferência das Partes da Convenção sobre diversidade biológica da Haia, comumente chamada “Cúpula das florestas antigas”, este grupo é pilotado conjuntamente pelos representantes dos principais Ministérios envolvidos. as partes interessadas neste grupo são atores do setor privado (setor da madeira, varejo, finanças), onGs ecologistas e de desen-volvimento, representantes dos consumi-dores e dos eleitos, autoridades públicas, entidades públicas e institutos de pesquisa.

o grupo tinha por mandato inicial « definir um programa de ação francês pelo respeito dos critérios de exploração sustentável das florestas e contra a explo-ração ilegal » (comunicado de imprensa do governo de 10 de abril de 2002). Concretamente, o grupo devia recolher elementos de diagnóstico, identificar os pontos de controvérsia e as necessidades de informações complementares, e propor ações concretas sobre vários desafios: estado das florestas, manejo sustentável, exploração ilegal da madeira e comércio associado, rastreabilidade da madeira, sistemas de certificação, impor-tações de madeira na França e eco-condi-cionalidades nos contratos públicos.

após um relatório inicial intitulado « Florestas tropicais: como pode a França contribuir para seu manejo sustentável? », o GnFt publicou em 2006 um «Livro branco sobre as florestas tropicais húmidas» que constitui um texto de referência sobre as políticas necessárias para garantir a conservação e a gestão sustentável das florestas tropicais húmidas, tanto ao nível das ações do estado, da ajuda pública ao

desenvolvimento quanto das iniciativas do setor privado. ele apresenta mais de uma centena de recomendações subre um conjunto de temas chave e traduz o consenso alcançado no âmbito do GnFt ao cabo de vários anos de discussões entre as diferentes partes envolvidas francesas.

em 2007 e 2008, um grupo ad hoc sobre as florestas tropicais contribuiu aos trabalhos do processo « Grenelle » de reflexão nacional sobre o meio ambiente, que terminou acordando vários compromissos, e recomendando a reativação do GnFt.

compromissos do processo « Grenelle » pelo meio ambiente em matéria de florestas tropicais Compromisso n° 221: Promoção pela presidência francesa [da União europeia em 2008] do tema floresta/biodiversidade como um dos pilares das disposições pós-Quioto. neste âmbito, apoio ativo pela implementação de mecanismos de financiamento inovadores que permitam evitar o desmatamento. Compromisso n° 222: luta contra o comércio ilegal da madeira e desenvolvimento das alternativas à exploração destruidora das florestas, através da gestão destes espaços. Será dada uma especial atenção à bacia do Congo.

o mandato do GnFt foi atualizado para incluir nos seus trabalhos os desafios do aquecimento climático e das florestas tropicais secas. os três temas que estru-turam as atividades do grupo hoje são o comércio de produtos florestais, a luta contra o desmatamento e a ajuda ao desenvolvimento no setor floresta-meio ambiente. o GnFt dá também uma importância particular ao monitoramento da parceria para as florestas tropicais da bacia do Congo (PFBC).

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em 2011, o GnFt decidiu fazer um balanço da implementação das recomen-dações do livro branco e de atualizar o seu conteúdo para pôr em dia as orientações políticas sobre as florestas tropicais à luz dos desenvolvimentos mais recentes. Para isto, o GnFt começou por encomendar um estudo cujo intuito é de trazer elementos objetivos de avaliação do estado de implementação das recomendações concretas do livro branco de 2006. este estudo serviu como base para a segunda etapa que consistiu na organização de uma conferência dos atores franceses sobre as florestas tropicais em Paris a 11 e 12 de janeiro de 2012.

esta conferência reuniu mais de 300 participantes de setores diversos: adminis-trações, autoridades locais, pesquisa e academia, sociedade civil e setor privado, bem como várias grandes entidades internacionais.

o presente relatório foi redigido em grande parte com base nos trabalhos desta conferência, em diferentes fontes recentes, notadamente as avaliações realizadas sobre as ações da agência Francesa de desenvol-vimento (aFd) e do Fundo Francês para o Meio ambiente Mundial (FFeM) nas florestas da bacia do Congo, e nas trocas entre membros do GnFt. o seu intuito é de atualizar as posições dos atores franceses sobre as florestas tropicais e de elaborar um novo roteiro que constituirá a doutrina francesa sobre as florestas tropicais, em particular na perspectiva da conferência das nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável em junho de 2012 (rio+20).

Sem jamais procurar minimizar os problemas identificados nem ocultar as sensibilidades por vezes diferentes para tratá-los, os relatórios do GnFt traçam progressivamente os contornos de uma visão compartilhada dos atores franceses atuando na área da proteção e do desen-volvimento. eles propõem orientações

Parque Nacional de Guadalupe. © Jonathan Saulnier, ministère de l’agriculture et de l’agroalimentaire

políticas e estratégicas aos atores franceses e contribuem em particular para reorientar gradualmente as prioridades e os modos de intervenção do governo francês e das agências públicas, tanto na França ultra-marina como através da diplomacia dos bens públicos globais e da ajuda bilateral, europeia e multilateral.

na sua primeira parte, o presente documento recorda brevemente os grandes desafios florestais tropicais, e refere em seguida os principais elementos estrutu-rantes da ação dos atores franceses sobre as florestas tropicais desde a publicação do livro branco anterior em 2006. ele apresenta os principais temas e modos de intervenção da França em matéria de florestas tropicais, assim como as lições que podem ser retiradas da implementação das recomendações de 2006.

a segunda parte do documento é dedicada às perspectivas e às orientações propostas pelo GnFt para conduzir a intervenção dos atores franceses sobre as florestas tropicais nos próximos anos. esta segunda parte inclui seis capítulos corres-pondentes aos seis workshops da conferência e um capítulo complementar sobre as questões de pesquisa e de aprimoramento dos conhecimentos.

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i. contexto: desaFios FloRestais tRopicais e ações dos atoRes FRanceses

A. Florestas tropicais: situação e principais desafios

O desmatamento tropical, embora diminuindo, continua muito preocupante. a degradação das florestas é também uma fonte de muita preocupação, notadamente por conta das consequências sobre o clima e a biodiversidade.

O peso da França e da UE diminui nos mercados das madeiras tropicais em relação à demanda dos países emergentes.

B. As grandes diretrizes da intervenção francesa sobre as florestas tropicais

A França confirma seu compromisso em prol das florestas tropicais e o nível da sua ajuda aumentou muito nestes últimos anos.

A cooperação florestal francesa, até recentemente muito focada sobre o apoio à ordenação florestal na África central, está em vias de diversificação temática e geográfica.

A gestão sustentável e a conservação das florestas tropicais ultramarinas progrediram nestes últimos anos.

ii. peRspectivas: oRientações paRa um enFoQue FRancês sobRe as FloRestas tRopicais

A. Gestão sustentável das florestas tropicais de produção

A ordenação das florestas tropicais é um sucesso importante destes últimos vinte anos.

O modelo deve ser aperfeiçoado para aumentar os benefícios sociais e ecológicos.

Outros modelos que não sejam o da concessão ordenada devem também ser fomentados.

B. Florestas tropicais de proteção: como estão os modelos de conservação e de restauração?

O papel fundamental das áreas protegidas fica reafirmado. Elas devem ser ampliadas para alcançar 17% das terras emersas em conformidade com os objetivos de Aichi da CDB, com um esforço particular sobre os biomas florestais tropicais, e o seu manejo deve ser melhorado.

A biodiversidade fora das áreas protegidas também desempenha um papel ecológico muito importante. outras modalidades de conservação devem completar as redes de áreas protegidas seguindo uma lógica de continuidade ecológica.

A restauração, em estreita cooperação com as populações locais, dos ecossistemas florestais degradados é um desafio emergente considerável.

Índice do RelatóRio e pRincipais mensaGens de cada capÍtulo

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C. O incremento da demanda mundial em energia, alimentos e minérios como causa do desmatamento

A demanda mundial em energia, alimentos e minérios gera uma pressão acrescida sobre as florestas tropicais.

Os principais eixos de trabalho, notadamente nos ramos agroalimentares, são o controle da demanda, a certificação, a intensificação ecológica da produção e a diminuição dos desperdícios.

As implantações das atividades extrativas deverão ser melhor controladas, zelando para preservar o domínio florestal, particularmente as áreas protegidas.

As bioenergias são recursos renováveis mas limitados. há que determinar uma hierarquia dos usos e promover a emergência de ramos sustentáveis.

A iniciativa «Por uma Europa eficiente na utilização dos recursos» oferece uma perspectiva interessante para limitar os impactos do consumo europeu sobre o desmatamento.

D. Comércio da madeira tropical: legalidade, sustentabilidade

O plano de ação FLEGT e a certificação da gestão florestal devem continuar os seus trabalhos para enfrentar os desafios de uma produção e de um consumo responsáveis para o futuro das florestas tropicais.

A maior parte dos volumes de madeira tropical produzidos são consumidos ao nível regional ou exportados para os países emergentes. Nossa próxima meta será de manter um diálogo ativo com os atores deste comércio sul-sul a fim de prevenir os riscos de superexploração dos recursos naturais.

E. Investimentos em florestas tropicais e financiamento das externalidades ambientais

A gestão sustentável e a conservação das florestas tropicais acarretam custos importantes perante os quais os atores públicos, privados, nacionais e internacionais devem se mobilizar, em particular a cooperação francesa e europeia.

A potencialização de REDD+ abre uma prespectiva importante para o financiamento das externalidades ambientais em florestas tropicais.

As lições aprendidas sobre a eficácia da ajuda devem ser plenamente aplicadas, em particular o alinhamento sobre as estratégias nacionais elaboradas de maneira participativa nos países tropicais.

A experiência dos fundos fiduciários e dos pagamentos por serviços ecossistêmicos é muito relevante para o financiamento da gestão sustentável e em particular para REDD+.

F. Governança dos territórios florestais, do local ao global

A proteção efetiva dos maciços florestais tropicais requer um investimento renovado na regularização dos direitos fundiários e a tomada em consideração da diversidade de valores e de interesses.

Uma agência especializada das Nações Unidas para o meio ambiente poderia contribuir para a melhoria da governança mundial das florestas com um reforço do seu pilar ambiental e desempenhando um papel motor, em associação com a FAO, no diálogo entre as grandes organizações e instituições responsáveis por questões florestais.

G. Pesquisa e enriquecimento dos conhecimentos

Os sistemas florestais tropicais são particularmente complexos e muito menos conhecidos do que os sistemas temperados e mediterrânicos.

Recentes reflexões internacionais constituem um marco sólido para identificar os deficits de conhecimentos e as prioridades de pesquisa.

A França possui uma rede de laboratórios e de competências de primeira categoria ao nível mundial, bem como uma sólida experiência de colaboração com as equipes científicas nos países tropicais.

O impacto do dispositivo de pesquisa poderia ser reforçado melhorando o acesso aos resultados para as sociedades civis, os administradores, as empresas e os dirigentes nos países tropicais.

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conclusão

este terceiro relatório do GnFt permite medir o caminho percorrido, melhor identificar o sustentáculo das convicções francesas ao mesmo tempo que as inflexões progressivas e as prioridades emergentes. no contexto da rio+20, ele faz por um lado um balanço positivo, mas matizado, das orientações decididas em matéria de manejo sustentável das florestas tropicais desde 1992, identificando em particular carências que devem ser corri-gidas mas sem mudar o rumo, e por outro lado apresenta perspectivas mobilizadoras para a década vindoura.

O sustentáculo das convicções francesas

a França sempre promoveu um enfoque multifuncional sobre a floresta, permi-tindo adaptar a ponderação dada aos fatores ecológicos, econômicos e sociais, consoante os lugares e os desafios locais. Mas uma tomada de consciência progressiva dos problemas concretos e das morosidades históricas levou a instar pela necessidade por um lado de apoiar também a criação e a gestão de áreas protegidas, por outro lado de melhor ter em conta os interesses das populações locais através de uma gover-nança adequada.

tradicionalmente, a França propugna como ferramenta a ordenação florestal, que integra os fatores ecológicos, econô-micos e sociais, valorizando assim a sua experiência multissecular e o seu know-how. Mas o contexto das florestas tropicais exige uma atenção particular para a concepção dos inventários ecológicos e dendro-métricos antes da ordenação, a identifi-cação prospectiva das pressões e ameaças, e as lógicas socioeconômicas e culturais locais. a promoção da ordenação florestal junto aos pequenos operadores florestais

e às comunidades locais é necessária, mas requer uma adaptação da ferramenta a este novo contexto. ao fim e ao cabo, a ordenação, por mais que seja interessante e provada, não passa de uma ferramenta: os resultados dependem também e sobretudo da boa vontade dos administradores e das autoridades públicas no longo prazo.

nas regiões povoadas, é inútil pensar na proteção e na gestão sustentável de um território florestal in abstracto, sem prever paralelamente a inclusão das necessidades em alimentos e energia das populações envolvidas. a ordenação territorial não pode limitar-se apenas aos territórios florestais e às questões específicas de silvicultura e de ecologia. ela deve ter um enfoque integrado abrangente, para além da mera dimensão florestal, e promover um zoneamento da utilização das terras junto com as populações locais. a agricultura e a satisfação das necessidades em energia são uma parte das soluções aos problemas florestais, da mesma forma que são uma causa destes problemas.

a definição e a regularização dos direitos em um território florestal é uma história antiga na França, feita de conflitos mas também de soluções criativas. esta experiência levou em particular ao surgi-mento de florestas comunais importantes em certas regiões, reconhecendo os direitos das populações locais, ao lado das florestais dominiais, herança do poder regaliano, e das florestas privadas. isto explica a parti-cular sensibilidade francesa em defender uma colaboração estruturada entre autori-dades públicas encarregadas de orientar, controlar e mais raramente de atuar, e os outros atores, ativos e reunidos em estru-turas representativas que defendem seus interesses. o modelo de proteção e de gestão sustentável promovido pela França insiste sobre a necessidade de um poder regaliano bem organizado, cooperando ativamente com atores privados ou públicos

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em um marco estruturado onde cada um atua naquilo em que é mais eficiente. a criação de uma dinâmica associando atores públicos e privados é por conseguinte necessária, e apostar exclusivamente sobre um únic grupo seria um fracasso garantido: o reforço em paralelo da sociedade civil e do estado é indispensável, e a luta contra a corrupção imprescindível.

Por fim, há mais de um século que a França se empenha no enriquecimento dos conhecimentos necessários para o inven-tário e o manejo sustentável dos recursos nas zonas florestais tropicais, através das ciências naturais e das ciências sociais. a pesquisa francesa sobre as florestas tropicais é de primeira categoria ao nível mundial, sem falar de uma sólida experi-ência de parceria com as equipes cientí-ficas dos países do Sul. isto é um trunfo, dado que, perante os muitos desafios atuais

e futuros, o ensino superior e a pesquisa, mais do que nunca, têm um papel deter-minante na melhoria do nível de conheci-mentos técnicos e sociais necessários junto aos atores.

As inflexões em curso

Justifica-se mais do que nunca que a cooperação francesa e europeia se mobilizem com força nos próximos anos em prol dos desafios florestais tropicais, notadamente o clima, a biodiversidade, a segurança alimentar, a economia verde e as condições de existência das comunidades locais.

nestes últimos anos, os desafios emble-máticos das florestas tropicais húmidas haviam um pouco ocultado os das florestas tropicais secas. o presente relatório

Assentamentos na Amazônia boliviana. ©CNES 2009 - Distribution Astrium Services/Spot Image

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procura ampliar suas ambições e incluir este segundo grupo de florestas tropicais, cuja importância ecológica e social não deve ser menosprezada pelo fato de ser menos visível na mídia.

o progresso conceitual, legislativo e prático das reflexões sobre as áreas prote-gidas francesas, inclusive ultramarinas, nestes últimos anos traduz-se logica-mente por uma inflexão na maneira de conceber a conservação da biodiver-sidade em florestas tropicais. o relatório frisa mais do que os anteriores a neces-sidade de criar redes interconectando as áreas protegidas, a necessidade de se interessar ativamente pelas zonas perifé-ricas, mas também a utilidade de valorizar a biodiversidade fora das áreas prote-gidas, inclusive nas florestas secundárias, dado que os espaços antropizados contêm uma porção importante e crescente da biodiversidade florestal.

deste ponto de vista, a restauração dos ecossistemas degradados deverá também ser um eixo de intervenção de importância crescente.

os atores públicos e privados franceses permanecem convencidos de que um forte empenhamento francês e europeu pode alavancar o controle de legalidade das madeira e da certificação da gestão sustentável, mesmo que nem todos os países sigam esta abordagem, em particular alguns países grandes importadores de madeira tropical. logo, os esforços devem ser continuados para alcançar as metas do plano de ação FleGt, a resposta da Ue ao desafio da exploração ilegal e do comércio associado. É necessário em parti-cular melhorar a articulação ainda muito imperfeita entre por um lado o monitora-mento da exploração florestal no terreno pela autoridade pública, a certificação privada e os observadores independentes e

tipos de florestas tropicaisFonte: baseada no mapa das florestas do mundo em 2010 da FAO

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por outro lado a implementação de sistemas de verificação da legalidade para o comércio internacional. Por fim, os compradores e os decisores públicos e privados devem ser melhor informados sobre os meios para orientar a demanda de madeira tropical para produtos oriundos de uma gestão sustentável certificada. as modalidades de implementação da portaria relativa aos contratos públicos de compra de madeira deverão ser melhoradas.

Mas mais além, as questões de conser-vação, de gestão sustentável e de valori-zação das florestas tropicais já não podem ser abordadas sem ter em consideração os determinantes extra-florestais: outros setores de atividades, decisores-atores, prioridades e conflitos de uso.

Comparado às intervenções clássicas por subsídio de projeto, o recurso aos fundos fiduciários e aos pagamentos por serviços ecossistêmicos apresenta um

melhor potencial para a eficácia da ajuda e a mobilização dos atores nacionais, notada-mente para contribuir a resolver as questões difíceis ligadas às políticas das áreas prote-gidas. Mas tal orientação pressupõe melhor formalizar as contrapartidas locais, reduzir os custos de transação e prevenir os riscos de desvio.

nem as prioridades declaradas, nem a mobilização de competências reconhe-cidas e de meios suficientes, e nem as boas intenções, bastam para garantir que o resultado esteja à altura das esperanças depositadas em um projeto. Por esta razão a metodologia da avaliação ambiental, ex ante e ex post, mas também com uma periodicidade razoável, deve ser experi-mentada e adaptada às especificidades das florestas tropicais e do contexto socioeco-nômico local.

Floresta ombrófila densa Floresta tropical decídua Sistema montanhoso tropical Floresta Tropical seca Matagal tropical Outras terras Agua

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As prioridades emergentes

Perante o volume do comércio local e do comércio sul-sul das madeiras tropicais, é evidente para todos que nossas ferramentas atuais baseadas no comércio norte/sul das madeiras tropicais constituem apenas uma parte da resposta. a situação alimentar mundial, a extensão das superfícies agrícolas, a demanda em bioenergias e a mineração podem suscitar novas tensões sobre os ecossis-temas florestais tropicais, agravados pelos riscos ligados à mudança climática. o relatório identifica estes desafios imensos para quaisquer políticas de proteção e de gestão sustentável como o próximo fito da nossa ação coletiva que deve se interessar ao mesmo tempo ao zoneamento e à gestão integrada dos territórios, às cadeias de abastecimento e ao controle dos efeitos da demanda global. Continuará a ser neces-sário reavaliar as orientações preconizadas à luz dos conhecimentos mais recentes dispo-níveis sobre estas problemáticas.

o crescimento da demanda requer que a tônica seja colocada também sobre os itinerários técnicos e os modelos socioeco-nômicos adaptados para a agroflorestaria e as plantações florestais.

a criação de novas áreas protegidas é indispensável, tal como foi reconhecido nos objetivos de aichi sobre a biodiver-sidade, mas deve ser acompanhada por uma melhoria da vigilância e da gestão das áreas protegidas existentes. a elabo-ração, a implementação e o financiamento

perene de modos de gestão eficientes constituem um desafio emergente para a conservação da biodiversidade.

existe um verdadeiro interesse em muitos países tropicais pelo mecanismo de luta contra o desmatamento contemplado pela convenção sobre o clima (Redd+), que permite abordar de maneira concreta as causas societais do desmatamento promovendo uma abordagem participativa da análise dos desafios e da implemen-tação das ações neessárias. a potenciali-zação deste mecanismo deve continuar e integrar a grande diversidade dos contextos nacionais e locais e enfrentar os numerosos desafios técnicos, econômicos e políticos que surgem, sem perder de vista a neces-sidade de resultados em grande escala em matéria de proteção das florestas.

Sem reduzir a floresta a uma mera dimensão ambiental, a França tem muita expectativa em relação à criação de uma agência especializada das nações Unidas para o meio ambiente, que seria constituída segundo o modelo do Programa das nações Unidas para o Meio ambiente, e que traba-lharia em sinergia com a Fao sobre as questões que condicionam o êxito de uma política de proteção e de gestão sustentável das florestas tropicais. o movimento rumo a uma cooperação sul-sul reforçada entre os países dos três grandes maciços florestais tropicais da américa do sul, da África central e da Ásia do sudeste, esboçada na Cúpula de Brazzaville em junho 2011, contribui também para reforçar as trocas de experiência e para encorajar a adoção das melhores práticas.

E possivel fazer o download da versão eletrônica completa deste relatório em Françês e dos documentos relativos no endereço seguinte: www.developpement-durable.gouv.fr/Rapport-GNFT-annee-2012.html

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Foto da capa. Reserva natural Kaw na Guiana, maior area de pântanos da França.. © Xavier Remongin, ministère de l’agriculture et de l’agroalimentaire.

P. 4-5. Floresta nublada no Corredor Choco Andino, Reserva de Maquipucuna, Equador. © Léa Durant, www.envol-vert.org.

P. 11. Floresta primária, Danum Valley, Bornéo © Jonathan Saulnier, ministère de l’agriculture et de l’agroalimentaire

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o 3° relatório elaborado pelo Grupo nacional sobre as florestas tropicais, do qual provém esta síntese, procura fazer o balanço dos desafios florestais tropicais entre os atores franceses envolvidos – autoridades públicas, setor privado, cientistas, associações – para definir novas orientações perante os desafios atuais, tanto na França de Ultramar quanto com os países parceiros, e em particular às vésperas da rio+20.

porquê este interesse pela proteção das florestas tropicais? antes de mais, convém lembrar que, com os departamentos e territórios ultramarinos, cerca de um terço das florestas francesas são florestas tropicais. em seguida, a França importa quantidades importantes de madeiras tropicais e as florestas tropicais contribuem para bens públicos mundiais como a estabilização do clima, a preservação da biodi-versidade, a segurança alimentar e a saúde pública. Por fim, as florestas tropicais oferecem um potencial importante para o desenvolvimento da economia verde, a luta contra a pobreza e a preservação dos modos de vida tradicionais nos países parceiros da cooperação pelo desenvolvimento.

como está a proteção das florestas tropicais? a ordenação e a certificação progridem nos grandes maciços tropicais embora ainda haja muito por fazer em matéria de manejo sustentável. o desmatamento, embora tenha diminuído desde os anos 1990 e tenha sido parcialmente compensado pelo reflorestamento, continua a um ritmo de 13 milhões de hectares por ano segundo o último relatório da organi-zação para a agricultura e a alimentação (Fao). estes últimos anos, a Convenção para o clima estabeleceu um mecanismo redd+ para apoiar e financiar a luta contra o desmatamento. em 2010, a Conferência de Paris sobre as grandes bacias florestais permitiu a mobilização de mais de 4 bilhões de USd para encetar este mecanismo. a Conferência de nagoya sobre a biodiversidade definiu os objetivos de aichi para 2020. a União europeia aprovou o seu Regulamento madeira para prevenir as importações de madeira ilegal e negocia acordos de parceria com uma dúzia de países florestais tropicais.

Que temas são aprofundados neste novo relatório? (i) o modelo de ordenação e de certificação do manejo sustentável das florestas tropicais de produção, seus sucessos e limites em matéria de proteção da biodiversidade e de benefícios para as populações locais; (ii) os modelos de conservação e de restauração das florestas tropicais de proteção; (iii) o incremento das demandas mundiais em energia, alimentos e minérios em um contexto de expansão demográfica, de crescimento econômico e de globalização das trocas; (iv) os instrumentos de promoção da legalidade e da sustentabilidade através do comércio internacional da madeira tropical assim como a situação dos mercados locais e a demanda dos países emergentes; (v) o investimento nas florestas tropicais e o financiamento das externalidades ambientais, com um enfoque no mecanismo redd+ e os fundos fiduciários para as áreas protegidas; (vi) os desafios de governança dos territórios florestais, desde o nível local – papel das autoridades locais, representação das populações autóctones – até o nível mundial, tendo na mira as oportunidades oferecidas pela rio+20 para consertar a fragmen-tação atual da governança internacional dos desafios florestais; (vii) as prioridades em matéria de ensino superior e de pesquisa bem como o papel crescente das ferra-mentas de sensoriamento remoto para a proteção das florestas tropicais.

Florestas tropicais:

balanço de etapa e novos desafiosdéfis

Que oRientações paRa os atoRes

FRanceses?

MINISTÈRE DES

AFFAIRES ÉTRANGÈRES

MINISTÈRE DE L’ÉCOLOGIE,

DU DÉVELOPPEMENT DURABLE

ET DE L’ÉNERGIE

MINISTÈRE DE L’AGRICULTURE

ET DE L’AGROALIMENTAIRE

MINISTÈRE DES OUTRE-MER