3 programa experimental - dbd puc rio · a norma nbr 7175 (2003) - cal hidratada para argamassas...
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3 Programa experimental 3.1 Considerações iniciais
O programa experimental deste trabalho consiste em duas etapas: na
primeira, inicialmente foram definidas as porcentagens de cinza adotadas para as
misturas com base em trabalhos realizados anteriormente, descritos na revisão
bibliográfica. Posteriormente, foram realizados ensaios de caracterização física
dos materiais (areia, argila, cinza volante, misturas destes com a cal), com o
objetivo de conhecer a granulometria dos mesmos e obter os valores de densidade
real dos grãos.
Para a areia e as misturas, também foram realizados ensaios com o
objetivo de determinar os índices de vazios, com base na densidade relativa da
areia correspondente a 50%, definida através da análise de trabalhos anteriores. A
umidade ótima adotada nos ensaios de cisalhamento da areia e das misturas foi
definida através da execução de ensaios de cisalhamento direto da areia a
diferentes umidades, tendo sido escolhida aquela cujo comportamento apresentou-
se melhor.
Na segunda etapa, foram realizados ensaios de caracterização mecânica
(ensaios de compactação e ensaios de cisalhamento direto). Os ensaios de
compactação foram realizados para todas as misturas com argila, a fim de se
determinar a umidade ótima e o peso específico seco máximo para a moldagem de
cada corpo de prova para o ensaio de cisalhamento direto.
Foi executada uma sequência de ensaios de cisalhamento direto para as
misturas solo-cinza e solo-cinza-cal, tendo sido adotada a cura apenas para as
misturas com areia e cal, por motivos de disponibilidade de tempo.
Na Tabela 3.1, encontra-se a descrição de todos os ensaios realizados.
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Tabela 3.1: Descrição dos ensaios.
Etapa Material Ensaio Quantidade*
Caracterização
física
Areia
Densidade real dos
grãos 3
Análise
granulométrica 1
Índice de vazios
máximo e mínimo 3
Cinza volante
Densidade real dos
grãos 3
Análise
granulométrica 1
Misturas com areia
e cinza
Densidade real dos
grãos 3
Análise
granulométrica 1
Índice de vazios
máximo e mínimo 3
Misturas com areia,
cinza e cal
Densidade real dos
grãos 3
Misturas com argila
e cinza
Densidade real dos
grãos 3
Análise
granulométrica 1
Misturas com argila,
cinza e cal
Densidade real dos
grãos 3
Caracterização
mecânica
Misturas com areia
e cinza Cisalhamento direto 3
Misturas com areia,
cinza e cal Cisalhamento direto 3
Misturas com argila
e cinza
Compactação 1
Cisalhamento direto 3
Misturas com argila,
cinza e cal
Compactação 1
Cisalhamento direto 3
*Quantidade de ensaios por material e/ou mistura.
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3.2 Materiais 3.2.1 Solo 3.2.1.1 Solo argiloso
O solo utilizado é um solo maduro, de origem coluvionar, argilo-arenoso,
não saturado, proveniente do Campo Experimental II da PUC-Rio (Soares, 2005).
O material foi retirado de uma profundidade de aproximadamente 2 metros a
partir da superfície da encosta. A Figura 3.1 mostra a localização do Campo
Experimental II, e a caracterização deste material está presente no Capítulo 4.
Cabe ressaltar que a escolha deste material foi feita em função de o local de
retirada ser de fácil acesso e de existir em muitos trabalhos anteriores sobre ele,
como os de Sertã (1986), Lins (1991), Daylac (1994), Beneveli (2002), Ramírez
(2012) e Quispe (2013).
Figura 3.1: Localização do Campo Experimental II da PUC-Rio (Soares, 2005).
De acordo com Sertã (1986), embora não existam afloramentos rochosos
no Campo Experimental, o embasamento local é constituído por um gnaisse
formado principalmente por minerais como quartzo, feldspato e biotita, e por
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minerais acessórios como a muscovita e a granada. Sua tonalidade é vermelha
com trechos amarelados, devido à presença de óxidos de ferro e alumínio
resultantes do processo de intemperismo dos minerais primários. A Figura 3.2
mostra o aspecto do solo em estudo.
Figura 3.2: Solo argiloso.
Baseando-se no perfil morfológico feito por Daylac (1994), mostrado na
Figura 3.3, o solo utilizado encontra-se na camada superior do perfil, conformado
por colúvio. No local da coleta, foi observada ainda a presença de alguns
pedregulhos de quartzo e uma grande quantidade de raízes.
Daylac (1994) também sintetizou os resultados da análise mineralógica do
solo do campo experimental, realizada por Sertã (1986). A Tabela 3.2 mostra a
mineralogia do solo a 3 m de profundidade. A presença de minerais como a
caulinita, a gibsita e a goetita, e o perfil morfológico apresentado revelam o
elevado grau de intemperismo do solo em estudo.
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Figura 3.3: Perfil morfológico do Campo Experimental da PUC-Rio (Daylac, 1994).
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Tabela 3.2: Mineralogia para a profundidade de 3m (Sertã, 1986).
Fração do solo Mineral Quantidade / observações
Pedregulho Quartzo
grãos arestados de coloração
transparente a leitosos
Granada alterada alguns fragmentos
Areia
Quartzo grãos arestados
Granada muito alterada correspondem a
aproximadamente 5% da amostra
total Agregados
Ferruginosos
Magnetita pequenos traços
Silte
Quartzo presença
Caulinita presença
Goetita presença
Argila Caulinita presença marcante
Goetita alguns traços
3.2.1.2 Areia
A areia foi coletada na Praia da Barra da Tijuca, localizada na zona oeste
da cidade do Rio de Janeiro/RJ. Foi escolhida uma areia de praia no intuito de
avaliar o comportamento mecânico de misturas com este material, analisando
individualmente o papel das cinzas e da cal na resistência das misturas, tendo em
vista que esta areia foi considerada material inerte.
O local da coleta foi escolhido em função da presença de uma areia de
granulometria fina, sendo ela realizada entre os postos 5 e 6 (Figura 3.4). O
material foi coletado a cerca de 40 cm de profundidade, evitando que eventuais
impurezas também fossem coletadas, e posteriormente, armazenado em sacos
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plásticos. A Figura 3.5 ilustra este solo, e a sua caracterização é apresentada no
Capítulo 4.
Figura 3.4: Localização do ponto de coleta de areia.
Figura 3.5: Areia.
3.2.2 Cinza volante
A cinza volante é originária do processo de queima do carvão mineral no
Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, situado no município Capivari de Baixo,
no estado de Santa Catarina (Figura 3.6). Foi transportada para o Rio de Janeiro
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por meio da SATC – Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa
Catarina, e foi disposta em tonéis no Laboratório de Geotecnia e Meio Ambiente
da PUC-Rio.
Figura 3.6: Localização do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda (Leandro, 2005).
A caracterização da cinza volante está presente no Capítulo 4. Na Figura
3.7, podem ser observados com detalhe os aspectos desta cinza.
Figura 3.7: Cinza volante.
O Complexo Termelétrico Jorge Lacerda é considerado o maior complexo
termelétrico movido a carvão mineral da América Latina. Pertence à Companhia
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Tractebel Energia, que integra o Grupo Franco-Belga GDF-Suez e engloba um
conjunto de usinas termelétricas, como pode ser visto na Figura 3.8. A Figura 3.9
mostra a vista da área de depósito das cinzas desta termelétrica.
O complexo é composto pelas usinas termelétricas A, B e C com
capacidade de produção instalada de 857 Megawatts. De acordo com Pozzobon
(1999 apud Lopes, 2011), com base na classificação da Portaria 100/87 do
Conselho Nacional do Petróleo, as três utilizam o carvão mineral do tipo CE
4500, com baixo teor calorífico, e um elevado teor de cinzas. A Tabela 3.3
apresenta as especificações do carvão mineral utilizado.
Dentre as principais atividades envolvidas na geração de energia
termelétrica neste Complexo, destacam-se a mineração do carvão e seu transporte
até as usinas onde ocorre a geração de energia elétrica, gerando um abastecimento
das indústrias, residências e estabelecimentos comerciais em torno de 35%.
Dos resíduos produzidos da queima do carvão mineral, são produzidas
cerca de 70% de cinzas volantes, alocadas em silos e vendidas para indústrias de
cimento. Quanto à cinza de fundo, uma pequena parte está sendo utilizada em
áreas degradadas pela mineração de carvão; enquanto a maior parte gerada é
destinada às bacias de decantação (Ubaldo, 2005).
Figura 3.8: Usinas pertencentes à Companhia Tractebel (Tractebel Energia, 2010 apud Lopes, 2011).
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Figura 3.9: Vista geral do Complexo Jorge Lacerda (Tractebel Energia, 2010 apud Lopes, 2011).
Tabela 3.3: Especificações dos carvões energéticos brasileiros (Portaria 100/1987-CNP apud Lopes, 2011). Características CE6000 CE5900 CE5200 CE4700 CE4500 CE4200 CE3700 CE3300 CE3100
Poder calorífico superior
mínimo base seca (kcal/kg)
5700 5900 5200 4700 4500 4200 3700 3150 2950
Granulometria (mm)
35X0 50X0 (*) 50X0 (*) 50X0 50X0 50X0 75X0
Umidade máxima total
(%) 15 20 10 19 10 19 15 17 15
Conteúdo máximo de
cinza (%) 25 22 35 35 43 40 47 54 57
Conteúdo máximo de enxofre (%)
6,5 1,5 2,5 1,5 3,5 1,5 1,5 1,5 1,0
Índice de fechamento
(FSI) - - <2 - <2 - - - -
3.2.3 Cal
A cal utilizada nas misturas é a cal hidratada calcítica, conhecida
comercialmente por “cal hidratada Itaú”. A Norma NBR 7175 (2003) - Cal
hidratada para argamassas – apresenta as suas especificações físicas e químicas,
expostas no Quadro 1.
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Quadro 1: Exigências físicas e químicas para a cal (NBR 7175).
Exigências físicas
Compostos Limites
CH-I CH-II CH-III
Finura (% retida
acumulada) Peneira 0,600mm 0,5 0,5 0,5
Peneira 0,075mm 10 15 15
Retenção de água 75 75 70
Incorporação de areia 3,0 2,5 2,2
Estabilidade Ausência de cavidades ou protuberâncias
Plasticidade 110 110 110
Exigências químicas
Anidrido carbônico Fábrica (máx) 5% 5% 13%
Depósito (máx) 7% 7% 15%
Óxidos de cálcio e magnésio não hidratado
calculado (CaO + MgO) (máx) 10% 15% 15%
Óxidos totais na base de não voláteis (CaOt +
MgOt) (mín) 90% 88% 88%
3.2.4 Misturas solo-cinza-cal
Para as misturas com areia, foram ensaiadas as porcentagens de 15%, 30%
e 40% de cinza volante, a fim de determinar o “teor ótimo” deste material para a
mistura, no que se refere à melhoria dos parâmetros de resistência do solo (coesão
e ângulo de atrito interno). Para as misturas com solo argiloso, foram ensaiadas as
porcentagens de 15% e 30% de cinza volante.
Vale ressaltar que estas porcentagens de cinza foram definidas com base
na análise dos teores utilizados em pesquisas anteriores.
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O teor de cal utilizado foi arbitrado em 3%, em substituição ao peso seco
das cinzas, também tendo sido escolhido com base em trabalhos anteriores.
A Tabela 3.4 apresenta os teores de cada material utilizado nas misturas,
assim como as siglas que as descrevem. Durante o tempo de cura, os corpos de
prova foram armazenados em câmara úmida, a temperatura (22°C) e umidade
(10%) constantes, sendo que para uma melhor conservação dos mesmos, eles
foram vedados em plásticos. Os tempos de cura empregados para cada mistura
estão especificados na Tabela 3.5.
Tabela 3.4: Teores e símbolos utilizados para os materiais.
Material/Mistura Solo (%)
Cinza
volante
(%)
Cal (3%) Símbolo
Areia 100 - - A
Solo argiloso 100 - - S
Cinza Volante - 100 - CV
Mistura 1 60 37 3 A60/CV37/C3
Mistura 2 70 27 3 A70/CV27/C3
Mistura 3 85 12 3 A85/CV12/C3
Mistura 4 60 40 - A60/CV40
Mistura 5 70 30 - A70/CV30
Mistura 6 85 15 - A85/CV15
Mistura 7 70 27 3 S70/CV27/C3
Mistura 8 85 12 3 S85/CV12/C3
Mistura 9 70 30 - S70/CV30
Mistura 10 85 15 - S85/CV15
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Tabela 3.5: Tempos de cura empregados para cada mistura. Mistura Cura (dias)
A85/CV12/C3 0
30
A70/CV27/C3
0
30
100
125
140
A60/CV37/C3
0
30
100
125
140
3.3 Métodos e procedimentos de ensaio 3.3.1 Ensaios de caracterização física
Os ensaios de caracterização física das amostras de solo foram realizados
no intuito de se determinar as suas propriedades-índice, e envolveram os ensaios
de análise granulométrica, densidade específica dos grãos e limites de Atterberg.
Todos estes ensaios foram realizados no Laboratório de Geotecnia e Meio
Ambiente da PUC-Rio, e seguiram as metodologias prescritas nas normas a
seguir:
-NBR 6457 (1986) – Amostras de Solos – Preparação para ensaios de
compactação e caracterização;
-NBR 7181 (1984) – Análise granulométrica;
-NBR 6508 (1984) – Determinação da densidade real dos grãos;
-NBR 6459 (1984) – Solo – Determinação do limite de liquidez;
-NBR 7180 (1984) – Solo – Determinação do limite de plasticidade.
-NBR 12004 (1990) – Solo – Determinação do índice de vazios máximos
de solos não coesivos;
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-NBR 12051 (1991) – Solo – Determinação do índice de vazios mínimos
de solos não coesivos;
-NBR 7182 (1986) – Solo – Ensaio de compactação.
3.3.1.1 Limites de Atterberg
Os ensaios para a determinação dos limites de liquidez e plasticidade
foram realizados conforme as normas NBR 6459 (1984) e NBR 7180 (1984),
respectivamente.
Através dos resultados obtidos, é possível determinar o índice de
plasticidade do solo, expresso pela equação eq. (3.1):
���%� = ���%� − ���%� eq. (3.1)
3.3.1.2 Densidade real dos grãos
A densidade real dos grãos dos materiais foi determinada de acordo com o
especificado na norma NBR 6508 (1984).
Do material passante na peneira #40, utilizou-se cerca de 120 g para as
misturas com areia e 100 g para as misturas com solo argiloso. Em seguida, foram
colocados 30 g das misturas com areia e 25 g das misturas com solo argiloso em
três picnômetros de 250 mL. Estes picnômetros foram, então, preenchidos com
água destilada e, em seguida, procedeu-se ao processo de deaeração, utilizando
uma bomba de vácuo.
3.3.1.3 Análise granulométrica
A análise granulométrica dos solos e das misturas com cinza foi
determinada de acordo com a norma NBR 7181 (1984).
Peneiraram-se 1000 g de material arenoso e 600 g de material argiloso na
peneira #40, sendo que o retido foi lavado e seco em estufa a 110°C. Após 24
horas, realizou-se o peneiramento grosso com estes materiais. Do material
passante na peneira #40, utilizou-se 70 g para a sedimentação, que foi realizada
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com o auxílio do defloculante hexametafosfato de sódio. Depois desta etapa, todo
o material foi lavado na peneira #200 para proceder com o peneiramento fino.
Vale ressaltar que, no caso da cinza volante, a análise granulométrica
englobou apenas a sedimentação, por ela apresentar somente frações finas.
3.3.1.4 Índice de vazios máximo e mínimo
O índice de vazios máximo foi determinado para a areia e as misturas
deste com a cinza volante, de acordo com a norma NBR 12004 (1990). Para fins
práticos, estes ensaios não foram realizados para as misturas com cal. Para elas,
foi empregado o resultado da mistura solo-cinza correspondente. Por exemplo,
para a mistura A85/CV12/C3, foi utilizado o resultado obtido para a mistura
A85/CV15.
Com o auxílio de um funil, o solo foi sendo colocado uniformemente em
um cilindro, seguindo trajetórias da borda em direção ao centro do mesmo. Foram
colocadas 3 camadas de solo, de modo que ficasse sobrando cerca de 2 cm de solo
no topo do cilindro. Este excesso foi então retirado com o auxílio de uma régua de
aço biselada. Este procedimento foi repetido 3 vezes, e em cada uma, foi pesado o
conjunto cilindro+solo.
O índice de vazios mínimo foi determinado para os mesmos materiais e
seguiu os procedimentos da norma NBR 12051 (1991). O solo é colocado da
mesma forma; e a cada camada, ele é vibrado por cerca de 1 minuto. Em seguida,
o conjunto é pesado, sendo este procedimento repetido 3 vezes, obtendo-se a
média.
3.3.2 Ensaios de caracterização química e ambiental
Na medida em que a proposta deste trabalho é reutilizar a cinza volante
para outras aplicações, foram feitos ensaios de caracterização química e ambiental
no intuito de verificar a viabilidade do emprego deste resíduo, sem causar danos à
saúde humana e ao meio ambiente.
Estes ensaios foram realizados no Laboratório de Geotecnia e Meio
Ambiente da PUC-Rio em conjunto com o Departamento de Química, e no
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laboratório TASQA Serviços Analíticos Ltda., de acordo com as metodologias das
seguintes normas:
-NBR 10004 (2004) – Classificação de Resíduos Sólidos;
-NBR 10005 (2004) – Lixiviação de Resíduos Sólidos;
-NBR 10006 (2004) – Solubilização de Resíduos Sólidos;
-NBR 13600 (1996) – Determinação do teor de matéria orgânica por
queima a 440°C.
3.3.2.1 Composição química
Os ensaios de composição química da cinza volante foram realizados por
Lopes (2011), que utilizou em sua pesquisa o mesmo material. Portanto, apenas
foi necessário realizar estes ensaios para as misturas.
Foi utilizada a técnica de espectrometria de fluorescência de raios-x por
energia dispersiva (EDX), sendo o EDX um instrumento que determina
qualitativa e semi-quantitativamente os elementos presentes em uma determinada
amostra, através da aplicação de raios-x na superfície da amostra e da análise dos
fluorescentes raios-x emitidos. Por ser uma técnica não destrutiva para todos os
tipos de amostras (sólidos, líquidos ou pós), é considerada interessante para a
caracterização dos materiais.
Foram armazenados 50 g de cada mistura em sacos plásticos para a
execução dos ensaios químicos, contudo, foi introduzida no equipamento uma
quantidade inferior, devido ao fato de o mesmo conseguir trabalhar com poucas
quantidades de material.
3.3.2.2 Ensaios de solubilização e lixiviação
Estes ensaios também foram realizados por Lopes (2011), cujos resultados
encontram-se no capítulo seguinte. Eles foram feitos pelo laboratório TASQA
Serviços Analíticos Ltda., com o objetivo de classificar o resíduo em estudo.
As amostras foram enviadas em caixas plásticas herméticas, contendo
cerca de 3 kg de material, para o Laboratório localizado em Paulínia, São Paulo.
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3.3.3 Ensaios de caracterização mecânica 3.3.3.1 Ensaio de compactação Proctor Standard
Os ensaios de compactação foram realizados para o solo puro e as misturas
com os teores de 12%, 15%, 27% e 30% de cinza volante, com a finalidade de
determinar a umidade ótima de compactação e o peso específico seco máximo dos
materiais. Estes ensaios seguiram as metodologias da norma NBR 7182 (1986),
utilizando-se a energia de compactação Proctor Normal e com reuso de material.
Depois de ser seco em estufa a 60 °C, o material foi destorroado e passado
na peneira #4, como determina a norma NBR 6457 (1986). Em seguida, foi
adicionada uma determinada quantidade de água ao material, de forma que ele
ficasse com cerca de 5% de umidade abaixo da umidade ótima. O ensaio de limite
de plasticidade permite estimar com maior precisão este valor, por apresentar um
resultado que pode ser próximo da umidade ótima. Após a adição do volume de
água às misturas do solo argiloso com as diversas porcentagens de cinza,
homogeneizou-se bem o material.
Passada esta etapa, inseriu-se o material dentro do mole cilíndrico pequeno
(cilindro Proctor), aplicando 26 golpes com um soquete pequeno para cada
camada de solo introduzida, totalizando três. Para se conseguir uma boa aderência
entre as camadas compactadas, escarificou-se bem cada uma delas antes de se
compactar a camada sobrejacente. Devido ao emprego de um anel complementar,
atinge-se uma altura de solo maior que a do molde, sendo este excesso removido
com o auxílio de uma régua biselada.
Finalizada a compactação, pesa-se o cilindro juntamente com o solo, e são
retiradas três amostras da região central do corpo de prova com o objetivo de se
obter a sua umidade média após secagem em estufa, e o seu peso específico seco
correspondente.
Após esta etapa, é preparado um novo corpo de prova, com uma
quantidade maior de água, aumentando-se a umidade da mistura em
aproximadamente 2%, prosseguindo-se uma nova compactação e obtendo-se um
novo par de valores de umidade e peso específico seco.
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Todo este processo foi repetido cinco vezes para cada mistura, a fim de se
obter cinco pares de valores (dois no ramo seco e dois no ramo úmido da curva de
compactação). Com todos os pontos obtidos, plota-se a curva de compactação, de
onde se extraem os valores de umidade ótima e peso específico seco máximo,
correspondentes ao ponto máximo das curvas, e utilizados para a moldagem dos
corpos de prova utilizados nos ensaios de cisalhamento direto.
3.3.3.2 Ensaio de cisalhamento direto
Os ensaios de cisalhamento foram realizados para os dois tipos de solo em
estudo. Para as misturas com areia, utilizou-se 15%, 30% e 40% de cinza volante.
Empregando-se 3% de cal, as porcentagens de cinza adotadas foram 12%, 27% e
37%, sendo as misturas submetidas a 0, 30, 100, 125 e 140 dias de cura. Para as
misturas com solo argiloso, utilizou-se 15% e 30% de cinza volante. As misturas
com cal contaram com a presença de 12% e 27% de cinza, contudo não foram
submetidas ao processo de cura, devido à disponibilidade de tempo.
Estes ensaios foram realizados com o objetivo de determinar a resistência
ao cisalhamento do solo através da obtenção dos parâmetros coesão e ângulo de
atrito. Dessa forma, buscou-se analisar a influência do teor de cinza e do tempo de
cura nestes parâmetros, verificando a viabilidade do emprego destes materiais
para aplicações geotécnicas.
Os procedimentos para a execução dos ensaios estão descritos na norma
ASTM D 3080 (2004). Devido às particularidades de cada solo em estudo, as
técnicas de moldagem do corpo de prova deles foram diferentes, como é descrito a
seguir.
- Preparação dos corpos de prova de areia
Para a confecção dos corpos de prova de areia e misturas desta com os
teores de cinza determinados, a compactação do material foi realizada diretamente
na caixa de cisalhamento, uma vez que a areia é um material não coesivo, não
sendo possível moldá-lo fora do equipamento. Esta compactação foi realizada
manualmente, de maneira uniforme, e de modo que a areia não ficasse muito
75
densa. Com o auxílio de um gabarito, foi possível ajustar a altura do material na
caixa de cisalhamento. A Figura 3.10 ilustra um esquema com essas etapas.
A fim de garantir que o material ficasse com todas as propriedades
adequadas, calculou-se a quantidade de material seco a ser adicionado à caixa de
cisalhamento, acrescido de certo teor de umidade, com o objetivo de auxiliar no
processo de moldagem. A umidade ótima adotada para a areia e as misturas foi de
10%, definida com base na execução de ensaios de cisalhamento direto da areia
sob as umidades de 5, 10, 15 e 20%, tendo sido escolhido este valor pelo fato de,
entre as umidades estudadas, a de 10% ter sido a que apresentou melhores
resultados. Os valores do peso específico seco da areia e das misturas foram
calculados com base nos ensaios de índices de vazios máximo e mínimo, e de
densidade real dos grãos. A densidade relativa adotada para a areia e as misturas
foi de 50%, pelo fato de este valor ter sido utilizado em pesquisas anteriores,
demonstrando bons resultados.
Figura 3.10: Processo de moldagem do corpo de prova arenoso.
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-Preparação dos corpos de prova do solo argiloso
Para a confecção dos corpos de prova do solo argiloso e das suas misturas,
primeiramente, compactou-se um corpo de prova cilíndrico na energia Proctor
Normal com umidade ótima e peso específico seco máximo obtidos por meio dos
ensaios de compactação.
Devido às dimensões da caixa de cisalhamento (10,2 cm x 10,2 cm x 2,5
cm), a compactação do corpo de prova foi realizada no cilindro grande, de
dimensões 15,08 cm x 17,78 cm (diâmetro x altura), utilizando-se o soquete
grande (4,53 kg) e ajustando-se o número de golpes e o número de camadas para
que a energia de compactação fosse igualada à aplicada no cilindro pequeno.
Assim, foram feitas 5 camadas, e aplicados 12 golpes em cada uma, conforme a
norma NBR 7182 (1986).
Obtido o cilindro compactado, moldaram-se 3 corpos de prova para o
ensaio de cisalhamento direto. O procedimento de moldagem consiste na cravação
de um anel metálico, com aproximadamente as mesmas dimensões da caixa de
cisalhamento, no cilindro obtido. A cravação é feita uniformemente, escavando-se
as laterais para o alívio de tensões. Antes da cravação do anel, é importante que
suas laterais sejam untadas com vaselina para que o corpo de prova não se
danifique ao ser transferido para o equipamento. Por fim, com o auxílio de um cap
de acrílico, o corpo de prova é então transferido para a caixa de cisalhamento. A
Figura 3.11 mostra o processo de moldagem do corpo de prova argiloso.
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Figura 3.11: Processo de moldagem do corpo de prova argiloso.
A caixa de cisalhamento é dividida horizontalmente em duas metades e a
força normal é aplicada no corpo de prova a partir do topo da caixa de
cisalhamento. A força de cisalhamento é aplicada movendo-se uma metade da
caixa em relação à outra para provocar a ruptura. As caixas superior e inferior são
distanciadas de 5,0 mm antes de iniciar a fase de cisalhamento do ensaio, para que
o deslocamento relativo entre elas possa ocorrer. Acima e abaixo do corpo de
prova, são colocadas placas ranhuradas que fornecem atrito ao solo, impedindo
que este deslize quando aplicada a força horizontal. Também são colocados papéis
filtro para impedir o carreamento de partículas, e pedras porosas para que a
drenagem possa ocorrer livremente, estando o corpo de prova completamente ou
parcialmente saturado.
O ensaio de cisalhamento direto realizado ocorreu com o controle da
deformação, onde uma taxa constante de deslocamento cisalhante é aplicada na
metade superior da caixa por um motor que atua por meio de engrenagens, a uma
velocidade determinada por um fator que vai de acordo com a carga aplicada
verticalmente. Essa velocidade é calculada através dos dados da fase inicial do
ensaio, chamada fase de adensamento, onde o corpo de prova é submetido
somente à tensão vertical, sendo medida a variação de altura com o tempo, até que
esta se estabilize. Através de um gráfico de deslocamento vertical versus raiz do
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tempo (t), obtém-se o valor de t100, correspondente a 100% do adensamento, e
calcula-se a velocidade a ser adotada na fase de cisalhamento. Para as misturas
com o solo argiloso, o tempo de adensamento foi estipulado em 24 horas; já para
as misturas com areia, o adensamento é praticamente imediato, tendo sido adotado
o tempo de 20 minutos para melhor estipulação da velocidade de ensaio a ser
adotada.
Na fase de cisalhamento, a ruptura sofrida pelo corpo de prova ocorre ao
longo do plano de divisão da caixa. O deslocamento horizontal da metade superior
da caixa é medido por um LVDT (Linear Variable Differential Transformer)
horizontal, que funciona como um sensor para medição de deslocamento linear.
As variações da altura do corpo de prova, ou seja, as variações do volume do
mesmo ao longo do ensaio são obtidas através das leituras no LVDT vertical. O
anel de carga mede a força horizontal variável à qual o corpo de prova está sendo
submetido.
Os ensaios foram repetidos em três tensões distintas, em corpos de prova
similares, para cada solo e mistura. No caso da areia, adotaram-se os valores de
50, 150 e 300 kPa para as tensões normais aplicadas. Para o solo argiloso,
aplicou-se 200 kPa ao invés de 150 kPa. Através do gráfico da Tensão Cisalhante
Máxima, que indica o momento da ruptura, versus Tensão Normal, pré-definida,
determinam-se as envoltórias de ruptura e os parâmetros de resistência ao
cisalhamento do solo. A Figura 3.13 ilustra o equipamento de cisalhamento direto
utilizado na presente pesquisa.
Figura 3.12: Prensa utilizada para os ensaios de cisalhamento direto.