3 paragem todos aler_junho2015_final

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Portugal para miúdos

Vem um cavalo a galope

já cansado da jornada,

enquanto se vêem no céu

os restos da madrugada.

Vem armado o cavaleiro

com espada e armadura;

dão-lhe o título de rei,

o único à sua altura.

É um rei chamado Afonso

e já parte à reconquista

do agreste território

que em seu redor avista.

Évora, Beja, Leiria,

também Alcácer do Sal,

Lisboa, Serpa e Moura

para dilatar Portugal.

No meio de tanta batalha

deita-se o rei a pensar:

«Já venci os sarracenos,

pela frente tenho o mar.»

«Mas eu no mar não me afoito,

por não ter embarcações;

deixo esse sonho entregue

a futuras gerações.»

Um dia apaga-se a luz

nos olhos do rei fundador;

adeus Afonso Henriques,

é Sancho o continuador.

José Jorge Letria ( Portugal para miúdos)

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As naus do verde pinho

E da flor de verde pinho

das trovas do seu trovar

mandou plantar um pinhal.

Depois a flor foi navio.

E lá se foi Portugal

caravela a navegar.

(…)

Manuel Alegre ( As naus do verde pinho)

De um lado o chão e a raiz

do outro o mar e o seu cântico.

Era uma vez um país

entre a Espanha e o Atlântico.

Tinha por rei D. Dinis

que gostava de cantar.

Mas o reino era tão pouco

que se pôs a perguntar:

- E se o mar fosse um caminho

deste lado para o outro?

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25 de Abril

João Pedro Mésseder

(Romance do 25 de Abril em prosa rimada e versificada)

..."Esse dia sem igual,

como um dia inicial,

esse dia inteiro e limpo

foi o 25 de Abril.

Dia em que as ruas cresceram

e as horas se esqueceram

e em praças e avenidas

se agitaram cravos mil.

Em que o povo levantou,

de voz armado e razão, a sua

Revolução,

p´ra, sem mortos nem feridos,

ao país restituir

a liberdade roubada e à terra lançar

sementes de um recto e claro

porvir..."

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Dia dos Monumentos e dos Sítios

Os monumentos e os sítios

existem para nos lembrar

que foi longa a caminhada

que fizemos para aqui chegar,

tendo pouco para esquecer

e tanta coisa para lembrar.

José Jorge Letria (O Livro dos Dias)

Nós somos o chão e a pedra,

a igreja e o convento,

a muralha da cidadela,

o cais de onde partiu

certo dia a caravela,

o forte e o pelourinho

que por vezes encontramos

no meio de um caminho,

mas também a velha anta

pré-histórica e soberana

que ganhou verdete e fama

e a pegada do dinossáurio

ou as gravuras do Coa,

ou um teatro romano

numa rua de Lisboa.

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MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa ( X. Mar Português – “Mensagem”)

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MAR PORTUGUÉS

Oh mar salado, cuánta de tu sal son lágrimas de Portugal! Por cruzarte, cuántas madres lloraron, Cuántos hijos en vano rezaron! Cuántas novias quedaran por casar Para que fueses nuestro, oh mar! Valió la pena? Todo vale la pena Si el alma no es pequeña Quien quiere pasar más allá de Bojador Tiene que pasar más allá del dolor. Dios al mar el peligro y el abismo dio, (*) Mas en él es que espejó el cielo.

©2003-07-20 by Sebastián Santisi, all rights reserved.

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MER PORTUGAISE

O mer salée, combien de ton sel

Est fait des larmes du Portugal !

Parce que nous t'avons franchie,

que de mères ont pleuré !

Que d'enfants ont en vain prié !

Que de fiancées ne se sont pas mariées,

Pour que tu sois nôtre, ô mer !

Cela en valait-il la peine ? Tout vaut la peine

Si l'âme n'est pas mesquine.

Qui veut dépasser le Cap Bojador

Doit dépasser la douleur.

Dieu a donné à la mer l'abîme et le péril

Mais c'est sur elle qu'Il a reflété le ciel.

Traduction par les élèves de la classe Européenne de Portugais (Lycée François Magendie -

Bordeaux )

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THE SEA O salty sea, so much of whose salt

Is Portugal’s tears! All the mothers

Who had to weep for us to cross you!

All the sons who prayed in vain!

All the brides-to-be who never

Married for you to be ours, O sea!

Was it worth doing? Everything’s worth doing

If the soul of the doer isn’t small.

Whoever would go beyond the Cape

Must go beyond sorrow.

God placed danger and the abyss in the sea,

But he also made it heaven’s mirror.

Fernando Pessoa (translated by Richard Zenith)

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Queria que os Portugueses

teriam sido capazes

de constituir cultura

por tudo que a vida ensina

e mais do que livro dura

e tem certeza de sol

mesmo que a noite se instale

visto que ser-se o que se é

muito mais que saber vale

até para aproveitar-se

das dúvidas da razão

que a si própria se devia

olhar pura opinião

que hoje é uma manhã outra

e talvez depois terceira

sendo que o mundo sucede

sempre de nova maneira

Queria que os portugueses

tivessem senso de humor

e não vissem como génio

todo aquele que é doutor

sobretudo se é o próprio

que se afirma como tal

só porque sabendo ler

o que lê entende mal

todos os que são formados

deviam ter que fazer

exame de analfabeto

para provar que sem ler

alfabetizar cuidado

não me ponham tudo em culto

dos que não citar francês

consideram puro insulto

se a nação analfabeta

derrubou filosofia

e no jeito aristotélico

o que certo parecia

deixem-na ser o que seja

em todo o tempo futuro

talvez encontre sozinha

o mais além que procuro.

Agostinho da Silva (Poemas )

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SER PORTUGUÊS

Visitar Alfama,

Dar uma volta e descer ao Ribatejo.

Ver as touradas,

À noite cantar o fado.

Ouvir gritar «ó freguesa»,

Junto à rua do mercado.

Ser português

É lutar,

Descobrir,

Remar,

Viver com o cheiro do mar.

Ser português

É ser esperança

E encontrar todos os dias

Um caminho para a mudança. Joana (pseudónimo de Ana Isabel Santos Silva)

Ser português

É ser sonhador,

É ser poeta

De tantos poemas de amor.

É remar ao encontro da aventura,

Prometendo um futuro brilhante.

É ser herói,

Pegar na espada do Infante.

É rever as tuas paisagens belas,

Espreitar o norte à lareira.

Descobrir o Porto num segundo,

Ir ao S. João,

Brincar e saltar à fogueira.

Ver Belém ao longe,

Passear de mão dada com o Tejo.

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Trova do Vento que Passa

Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada

ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.

Vi meu poema na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir

(Portugal à flor das águas)

vi minha trova florir

(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.

Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio - é tudo o que tem

quem vive na servidão.

E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.

Peço notícias ao vento

e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre (Praça da Canção )

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Esta Língua Portuguesa

A língua que falas e escreves

é uma árvore de sons

que tem nos ramos as letras,

nas folhas os acentos

e nos frutos o sentido

de cada coisa que dizes.

É uma língua tão antiga

como isto de ser português.

Teve o latim por avô,

que primeiro foi romano,

depois bárbaro,

mais tarde monge medieval

ou copista do renascimento.

A língua cresceu com o país,

que se alongou até ao sul

e depois chegou às ilhas,

vencendo os tormentos do mar.

O país ganhou a forma

de uma língua de terra

capaz de usar palavras

como “lonjura” e “saudade”.

(…)

José Jorge Letria ( Esta Língua Portuguesa)

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Portugalidade

Sete colinas são as tuas,

És grande, pelo Tejo banhada

Bela, és por todos amada

Na luz que ilumina as ruas.

Planícies de perder o fim,

Chaparros, searas de trigo,

Gaiatos a brincar no milho,

É o quadro mais belo p’ra mim.

Algarve de sol e do mar azul

Dos ingleses e laranja doce

É agora, como se fosse

O nosso outro reino ao sul

Na verdade não há ideal,

A minha terra é Portugal!

Pelo Norte com Chaves abri,

Lugares vivos e boas gentes

De tempo frio e Homens quentes

A outra invicta havia ali.

Para sul, vendo, olhando, rumei,

Bebi vinho, iguarias comi,

Paisagens lindas e praias eu vi,

Belas montanhas de neve amei.

De saber, cheguei à cidade

De doutos e outros senhores

Bom português, fado e amores

Encantos de vida na verdade.

Mário L. Soares