3 domingo - reportagens

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SUPER ESPORTES ESTADO DE MINAS D O M I N G O , 3 1 D E M A R Ç O D E 2 0 1 3 5 4 RUMO À PRIMEIRA MORTE REPORTAGEM ESPECIAL ilberto Silva é a voz baixa e mansa da expe- riência. Volante da Seleção Brasileira em três Copas do Mundo – titular em 2002 e 2010 e reserva em 2006 –, o mineiro voltou ao estado natal em dezembro, com contra- to de uma temporada com o Atlético, de- pois de uma década longe do alvinegro, de- fendendo Arsenal, Panathinaikos e Grêmio. Aos 36 anos, afirma estar "preparando bem a cabeça para virar uma página importante da vida", que é como costuma tratar a apo- sentadoria. Por enquanto, se cuida nos trei- nos para desempenhar bem a função de za- gueiro ou volante, quando solicitado pelo treinador Cuca. "Não é só o corpo que precisa de cuida- do. A cabeça também, para lidar com as di- versas pressões. Por ser mais experiente, a gente passa a ser mais cobrado em deter- minadas situações e, se você não consegue desempenhar bem a função dentro de campo, as pessoas começam a achar que você não está mais apto para ajudar. Você tem de ter a cabeça no lugar para não se frustrar", comenta. Gilberto sempre teve estrela. No pri- meiro ano como profissional, em 1997, aju- dou o América na conquista do título da Sé- rie B do Brasileiro. Em 2000 conquistou a Copa Sul-Minas pelo Coelho, antes de se transferir para o Atlético e ser campeão mi- neiro. Depois do título da Copa do Mun- do’2002, atuando nos sete jogos, foi nego- ciado ao Arsenal. Na estreia no clube londri- no, fez o gol do título da Copa da Inglater- ra. Após nove temporadas na Europa, acer- tou com o Grêmio em 2011, voltando ao Galo no fim do ano passado. Segundo ele, o respeito que conquistou é fruto de sua pos- tura. "Sempre cultivei uma imagem positi- va na minha carreira, trabalhando sério. E é assim que vou continuar, para cumprir bem meu contrato com o Atlético." CURSOS ON-LINE A chance de ficar perto da mulher e dos filhos pesou para Gilberto Sil- va aceitar a proposta do Galo e retornar a Mi- nas. Depois da aposentadoria, que ainda não tem data marcada, pretende se dedicar aos filhos e descansar. Continuar no futebol é uma possibilidade, mas não é a prioridade do atleta. "Estou buscando conhecimento fo- ra do futebol. Quando tenho tempo, faço cursos on-line de administração, marketing e recursos humanos. Quero dedicar mais tempo aos estudos para seguir carreira de administrador depois de parar." ‘ESTOU BUSCANDO CONHECIMENTO’ O ARTILHEIRO VIROU VEREADOR GILBERTO SILVA GILBERTO APARECIDO DA SILVA 36 ANOS Nascimento: 7/10/1976, em Lagoa da Prata Altura e peso: 1,84m e 74kg Posição: volante Clubes: América, Atlético, Arsenal (ING), Panathinaikos (GRE), Grêmio e Atlético RENAN DAMASCENO Os 12 anos dedicados à URT renderam a Ditinho 1.386 votos nas eleições municipais do ano passado, votação suficiente pa- ra elegê-lo vereador em Patos de Minas, no Alto Paranaíba. Maior artilheiro da história da URT, com 103 gols em mais de 200 jogos, o atacante abando- nou os gramados aos 40 anos para se dedicar exclusivamen- te ao Legislativo. A ideia de se lançar candida- to era antiga e tomou força de- pois de problema de saúde que o tirou de combate. Em março do ano passado, Ditinho pas- sou mal durante partida contra o Araxá, pelo Módulo II do Mi- neiro. Após o jogo, foi levado para a UTI, onde se submeteu a vários exames. A tomografia mostrou uma obstrução do ca- nal do rim direito, totalmente comprometido, obrigando a re- tirada do órgão. "Coincidiram o período de recuperação, a idade avançada e a vontade de me candidatar. Queria retribuir à cidade todo o carinho que recebo nas ruas desde que cheguei aqui. É um trabalho completamente novo, mas aos poucos estou apren- dendo direitinho", comenta o vereador, que tem dois filhos que sonham ser jogadores de futebol: Luiz Henrique, de 15 anos, e Ially Henrique, de 14, vão fazer teste nas categorias de base do Cruzeiro no mês que vem. POSSÍVEL RETORNO Habituado à nova rotina e totalmente re- cuperado, Ditinho sonha em voltar a defender as cores azul e branca. Cogitou disputar o Clássico do Milho, com o ar- quirrival, Mamoré, marcado para hoje, mas a falta de tem- po para os treinos e divergên- cias com membros da direto- ria adiaram seu retorno. "Es- tou jogando, mas não profis- sionalmente. Tenho vontade de defender a URT, mas está faltando tempo para treinar. É difícil conciliar, sempre tem uma coisa nova para fazer, um compromisso ou alguma reu- nião na Câmara." Para Ditinho, ficar de fora do duelo que o consagrou – é o maior artilheiro do clássico com 12 gols – ainda é difícil. "A gente sente falta de jogar. É di- fícil ficar assistindo da arqui- bancada. Apesar de ter feito 41 anos, ainda estou bem e teria condições de voltar a jogar. Às vezes, dá vontade de descer, calçar a chuteira e correr com a bola rumo ao gol." (R.D) G inga chegou ao Cruzeiro em maio do ano passado e já impôs respeito. Exemplo para os mais novos, o volante de 35 anos assinou contrato até dezembro de 2014, quando es- tará prestes a completar 37. Pretende cum- pri-lo integralmente, se possível com título. Em seguida, quer curtir a família, tocar pro- jetos sociais que mantém em Porto Alegre, estudar e desfrutar de uma vida tranquila – de preferência, longe do futebol. "Estou me preparando para parar de jogar desde os 32 anos, quando terminou meu contrato com o Borussia Dortmund. E minha mente começou a trabalhar em função dis- so. O choque vai ser inevitável, mas vai ser menor. Comecei a estudar inglês, já que falo alemão fluentemente, faço curso de oratória. Eu me preparo para ter outro ambiente lon- ge do mundo da bola e fazer amizades com pessoas que, quando eu parar de jogar fute- bol, vão continuar comigo, porque não me conhecem apenas como jogador", comenta o volante, que cuida de dois projetos sociais em bairros carentes da capital gaúcha: o Es- porte Clube Cidadão, em parceria com Dun- ga, e o Aspirantes de Cristo, com o zagueiro Leo, companheiro no Cruzeiro. Nascido no Bairro da Restinga – que origi- nou o apelido –, Tinga é um líder nato. Acon- selha os mais novos, principalmente sobre as ilusões e armadilhas do futebol. Por causa dos cinco anos na Europa e pelas passagens em grande clubes, tem conhecimento tático que arranca elogios de treinadores. No entan- to, não pensa em se tornar técnico, apesar de não esconder a curiosidade pelas funções ad- ministrativas dos clubes. Quando chegou ao Cruzeiro, fez questão de conhecer todos os detalhes do funciona- mento dos oito andares da sede administra- tiva, no Barro Preto. "Conhecimento nunca é demais. A coisa mais valiosa que a gente tem é o aprendizado. Na vida, a gente estando pronto, pode competir em qualquer área do mercado. Sou curioso, gosto de aprender." DESGASTE Tinga acredita que os jogadores brasileiros são vítimas da rotina pesada de jogos e treinos e por isso chegam aos 30 anos já próximos da aposentadoria. "Todo atleta com mais de 30 que joga em alto ní- vel hoje no futebol brasileiro esteve pelo menos dois anos no exterior. Aqui fazemos 80 jogos. Lá fora, 40. No exterior, treinamos uma vez por dia, você pode viver. Jogou, treinou, acabou. Aqui, psicologicamente, você fica desgastado", compara. ‘CHOQUE SERÁ INEVITÁVEL’ REFORÇO NO TIME DA PREFEITURA TINGA PAULO CÉSAR FONSECA DO NASCIMENTO 35 ANOS Nascimento: 13/1/1978, em Porto Alegre Altura e peso: 1,70m e 62kg Posição: volante Clubes: Grêmio, Kawasaki Frontale (JAP), Botafogo, Sporting (POR), Internacional, Borussia Dortmund (ALE), Internacional e Cruzeiro RENAN DAMASCENO Contratado em dezembro do ano passado para defender o Amé- rica-TO no Campeonato Mineiro, o atacante paulista Erivelto, prestes a completar 31 anos, surpreendeu a todos ao pedir desligamento do clube no mês passado, por motivo inusitado: passou em um concur- so público de auxiliar administra- tivo na Prefeitura de Guarulhos, Região Metropolitana de São Pau- lo. O salário, de menos de R$ 2 mil, é inferior ao recebido no futebol, mas ele optou pela estabilidade. Erivelto casou-se em dezem- bro, tem uma filha de 5 anos e quis ficar mais perto da família, na cidade em que nasceu. Conta que, por causa dos treinos, não teve tempo nem para a lua de mel. No ano passado, ficou desemprega- do, sem nenhuma fonte de renda, antes de assinar com o Botafogo- PB. O receio de passar por proble- mas semelhantes depois da apo- sentadoria o encorajou a prestar o concurso. O resultado foi sur- preendente: 14º lugar entre mais de 3 mil concorrentes. "Se a gente olhar as estatísti- cas, a maioria esmagadora dos jo- gadores de futebol ganha salários entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, uma rea- lidade muito diferente da vivida pelos atletas de grandes clubes. Se o jogador tiver a cabeça no lu- gar, dá para comprar uma casa, carro...", diz Erivelto, que come- çou a trabalhar no novo empre- go há duas semanas. "Senti um friozinho na barriga na hora em que entrei na sala, igual ao que sentia nos estádios", brinca. VOLTA AOS GRAMADOS Erivelto ainda está aprendendo o novo ofício, conhecendo os serviços de escritório e almoxarifado. Mas, se até o ano passado ele precisava procurar time para jo- gar, agora tem o passe disputa- do no campeonato interno. "O pessoal da garagem veio me chamar para o campeonato da prefeitura, mas as inscrições es- tavam encerradas", conta. Na se- mana passada, ele estreou na Copa Kaiser, mais tradicional campeonato de futebol amador do país, defendendo o Classe A, que pertence a um velho amigo. O ex-jogador, que ainda sonha em fazer faculdade de nutrição, dá risadas sobre a repercussão de sua aposentadoria. "Esses dias, no almoço, o Fred estava em um programa de TV falando sobre Teófilo Otoni, sua cidade natal. Aí, um funcionário, na outra me- sa, começou a falar sobre um jo- gador que jogava naquela cidade e estava trabalhando na prefeitu- ra. Eu me levantei e falei: ‘Esse ca- ra sou eu!’.” (R.D) T FOTOS: RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS AMANHÃ: FÁBIO JÚNIOR, ATACANTE, SENTE A ANGÚSTIA SÓ AO PENSAR EM PARAR ERIVELTO ERIVELTO ALEXANDRINO DA SILVA, 30 ANOS Nascimento: 7/4/1982, em Guarulhos-SP Altura e peso: 1,84m e 79kg Posição: atacante Clubes: Juventus, Inter de Limeira-SP, Cataratas de Foz-PR, Rio Branco-SP, Corinthians-AL, FK Qabala (AZE), XV de Jaú-SP, Flamengo de Guarulhos-SP, Canedense-GO, Náutico, Brasiliense, Trindade-GO, Fluminense de Feira-BA, Botafogo-PB e América-TO DITINHO FRANCISMAR ROSA DOS SANTOS, 41 ANOS Nascimento: 21/3/1972, em São José dos Campos-SP Altura e peso: 1,70m e 66kg Posição: atacante Clubes: Guarulhos, Noroeste, Paulista, URT, Passos, Funorte e Hortolândia-SP RAMON LISBOA/EM/D. A PRESS ARQUIVO PESSOAL

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Page 1: 3 DOMINGO - REPORTAGENS

SUPERESPORTESE S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 3 1 D E M A R Ç O D E 2 0 1 3

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

ilberto Silva é a voz baixa e mansa da expe-riência. Volante da Seleção Brasileira emtrês Copas do Mundo – titular em 2002 e2010 e reserva em 2006 –, o mineiro voltouao estado natal em dezembro, com contra-to de uma temporada com o Atlético, de-pois de uma década longe do alvinegro, de-fendendo Arsenal, Panathinaikos e Grêmio.Aos 36 anos, afirma estar "preparando bema cabeça para virar uma página importanteda vida", que é como costuma tratar a apo-sentadoria. Por enquanto, se cuida nos trei-nos para desempenhar bem a função de za-gueiro ou volante, quando solicitado pelotreinador Cuca.

"Não é só o corpo que precisa de cuida-do. A cabeça também, para lidar com as di-versas pressões. Por ser mais experiente, agente passa a ser mais cobrado em deter-

minadas situações e, se você não conseguedesempenhar bem a função dentro decampo, as pessoas começam a achar quevocê não está mais apto para ajudar. Vocêtem de ter a cabeça no lugar para não sefrustrar", comenta.

Gilberto sempre teve estrela. No pri-meiro ano como profissional, em 1997, aju-dou o América na conquista do título da Sé-rie B do Brasileiro. Em 2000 conquistou aCopa Sul-Minas pelo Coelho, antes de setransferir para o Atlético e ser campeão mi-neiro. Depois do título da Copa do Mun-do’2002, atuando nos sete jogos, foi nego-ciado ao Arsenal. Na estreia no clube londri-no, fez o gol do título da Copa da Inglater-ra. Após nove temporadas na Europa, acer-tou com o Grêmio em 2011, voltando aoGalo no fim do ano passado. Segundo ele, o

respeito que conquistou é fruto de sua pos-tura. "Sempre cultivei uma imagem positi-va na minha carreira, trabalhando sério. E éassim que vou continuar, para cumprirbem meu contrato com o Atlético."

CURSOS ON-LINE A chance de ficar perto damulher e dos filhos pesou para Gilberto Sil-va aceitar a proposta do Galo e retornar a Mi-nas. Depois da aposentadoria, que ainda nãotem data marcada, pretende se dedicar aosfilhos e descansar. Continuar no futebol éuma possibilidade, mas não é a prioridadedo atleta. "Estou buscando conhecimento fo-ra do futebol. Quando tenho tempo, façocursos on-line de administração, marketinge recursos humanos. Quero dedicar maistempo aos estudos para seguir carreira deadministrador depois de parar."

‘ESTOU BUSCANDO CONHECIMENTO’

O ARTILHEIROVIROU VEREADOR

GILBERTO SILVAGILBERTO APARECIDO DA SILVA

36 ANOS

●● Nascimento: 7/10/1976, em Lagoa da Prata ●● Altura e peso: 1,84m e 74kg●● Posição: volante ●● Clubes: América, Atlético, Arsenal (ING),

Panathinaikos (GRE), Grêmio e Atlético

RENAN DAMASCENO

Os 12 anos dedicados à URTrenderam a Ditinho 1.386 votosnas eleições municipais do anopassado, votação suficiente pa-ra elegê-lo vereador em Patosde Minas, no Alto Paranaíba.Maior artilheiro da história daURT, com 103 gols em mais de200 jogos, o atacante abando-nou os gramados aos 40 anospara se dedicar exclusivamen-te ao Legislativo.

A ideia de se lançar candida-to era antiga e tomou força de-pois de problema de saúde queo tirou de combate. Em março

do ano passado, Ditinho pas-sou mal durante partida contrao Araxá, pelo Módulo II do Mi-neiro. Após o jogo, foi levadopara a UTI, onde se submeteu avários exames. A tomografiamostrou uma obstrução do ca-nal do rim direito, totalmentecomprometido, obrigando a re-tirada do órgão.

"Coincidiram o período derecuperação, a idade avançadae a vontade de me candidatar.Queria retribuir à cidade todo ocarinho que recebo nas ruasdesde que cheguei aqui. É um

trabalho completamente novo,mas aos poucos estou apren-dendo direitinho", comenta overeador, que tem dois filhosque sonham ser jogadores defutebol: Luiz Henrique, de 15anos, e Ially Henrique, de 14,vão fazer teste nas categoriasde base do Cruzeiro no mêsque vem.

POSSÍVEL RETORNO Habituadoà nova rotina e totalmente re-cuperado, Ditinho sonha emvoltar a defender as cores azule branca. Cogitou disputar oClássico do Milho, com o ar-quirrival, Mamoré, marcadopara hoje, mas a falta de tem-po para os treinos e divergên-cias com membros da direto-

ria adiaram seu retorno. "Es-tou jogando, mas não profis-sionalmente. Tenho vontadede defender a URT, mas estáfaltando tempo para treinar. Édifícil conciliar, sempre temuma coisa nova para fazer, umcompromisso ou alguma reu-nião na Câmara."

Para Ditinho, ficar de fora doduelo que o consagrou – é omaior artilheiro do clássicocom 12 gols – ainda é difícil. "Agente sente falta de jogar. É di-fícil ficar assistindo da arqui-bancada. Apesar de ter feito 41anos, ainda estou bem e teriacondições de voltar a jogar. Àsvezes, dá vontade de descer,calçar a chuteira e correr com abola rumo ao gol." (R.D)

Ginga chegou ao Cruzeiro em maio do anopassado e já impôs respeito. Exemplo paraos mais novos, o volante de 35 anos assinoucontrato até dezembro de 2014, quando es-tará prestes a completar 37. Pretende cum-pri-lo integralmente, se possível com título.Em seguida, quer curtir a família, tocar pro-jetos sociais que mantém em Porto Alegre,estudar e desfrutar de uma vida tranquila –de preferência, longe do futebol.

"Estou me preparando para parar de jogardesde os 32 anos, quando terminou meucontrato com o Borussia Dortmund. E minhamente começou a trabalhar em função dis-so. O choque vai ser inevitável, mas vai sermenor. Comecei a estudar inglês, já que faloalemão fluentemente, faço curso de oratória.Eu me preparo para ter outro ambiente lon-ge do mundo da bola e fazer amizades com

pessoas que, quando eu parar de jogar fute-bol, vão continuar comigo, porque não meconhecem apenas como jogador", comentao volante, que cuida de dois projetos sociaisem bairros carentes da capital gaúcha: o Es-porte Clube Cidadão, em parceria com Dun-ga, e o Aspirantes de Cristo, com o zagueiroLeo, companheiro no Cruzeiro.

Nascido no Bairro da Restinga – que origi-nou o apelido –, Tinga é um líder nato. Acon-selha os mais novos, principalmente sobre asilusões e armadilhas do futebol. Por causados cinco anos na Europa e pelas passagensem grande clubes, tem conhecimento táticoque arranca elogios de treinadores. No entan-to, não pensa em se tornar técnico, apesar denão esconder a curiosidade pelas funções ad-ministrativas dos clubes.

Quando chegou ao Cruzeiro, fez questão

de conhecer todos os detalhes do funciona-mento dos oito andares da sede administra-tiva, no Barro Preto. "Conhecimento nunca édemais. A coisa mais valiosa que a gente temé o aprendizado. Na vida, a gente estandopronto, pode competir em qualquer área domercado. Sou curioso, gosto de aprender."

DESGASTE Tinga acredita que os jogadoresbrasileiros são vítimas da rotina pesada dejogos e treinos e por isso chegam aos 30anos já próximos da aposentadoria. "Todoatleta com mais de 30 que joga em alto ní-vel hoje no futebol brasileiro esteve pelomenos dois anos no exterior. Aqui fazemos80 jogos. Lá fora, 40. No exterior, treinamosuma vez por dia, você pode viver. Jogou,treinou, acabou. Aqui, psicologicamente,você fica desgastado", compara.

‘CHOQUE SERÁ INEVITÁVEL’

REFORÇO NO TIMEDA PREFEITURA

TINGAPAULO CÉSAR FONSECA DO NASCIMENTO

35 ANOS

●● Nascimento: 13/1/1978, em Porto Alegre ●● Altura e peso: 1,70m e 62kg●● Posição: volante ●● Clubes: Grêmio, Kawasaki Frontale (JAP), Botafogo, Sporting (POR),

Internacional, Borussia Dortmund (ALE), Internacional e Cruzeiro

RENAN DAMASCENO

Contratado em dezembro doanopassadoparadefenderoAmé-rica-TOnoCampeonatoMineiro,oatacante paulista Erivelto, prestesa completar 31 anos, surpreendeua todos ao pedir desligamento doclube no mês passado, por motivoinusitado: passou em um concur-so público de auxiliar administra-tivo na Prefeitura de Guarulhos,Região Metropolitana de São Pau-lo. O salário, de menos de R$ 2 mil,é inferior ao recebido no futebol,mas ele optou pela estabilidade.

Erivelto casou-se em dezem-bro, tem uma filha de 5 anos e

quis ficar mais perto da família, nacidade em que nasceu. Conta que,por causa dos treinos, não tevetempo nem para a lua de mel. Noano passado, ficou desemprega-do, sem nenhuma fonte de renda,antes de assinar com o Botafogo-PB. O receio de passar por proble-mas semelhantes depois da apo-sentadoria o encorajou a prestar oconcurso. O resultado foi sur-preendente: 14º lugar entre maisde 3 mil concorrentes.

"Se a gente olhar as estatísti-cas, a maioria esmagadora dos jo-gadores de futebol ganha salários

entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, uma rea-lidade muito diferente da vividapelos atletas de grandes clubes.Se o jogador tiver a cabeça no lu-gar, dá para comprar uma casa,carro...", diz Erivelto, que come-çou a trabalhar no novo empre-go há duas semanas. "Senti umfriozinho na barriga na hora emque entrei na sala, igual ao quesentia nos estádios", brinca.

VOLTA AOS GRAMADOS Eriveltoainda está aprendendo o novoofício, conhecendo os serviçosde escritório e almoxarifado.Mas, se até o ano passado eleprecisava procurar time para jo-gar, agora tem o passe disputa-do no campeonato interno. "Opessoal da garagem veio me

chamar para o campeonato daprefeitura, mas as inscrições es-tavam encerradas", conta. Na se-mana passada, ele estreou naCopa Kaiser, mais tradicionalcampeonato de futebol amadordo país, defendendo o Classe A,que pertence a um velho amigo.

O ex-jogador, que ainda sonhaem fazer faculdade de nutrição,dá risadas sobre a repercussão desua aposentadoria. "Esses dias, noalmoço, o Fred estava em umprograma de TV falando sobreTeófilo Otoni, sua cidade natal.Aí, um funcionário, na outra me-sa, começou a falar sobre um jo-gador que jogava naquela cidadee estava trabalhando na prefeitu-ra. Eu me levantei e falei: ‘Esse ca-ra sou eu!’.” (R.D)

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FOTOS: RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

AMANHÃ: FÁBIO JÚNIOR, ATACANTE,SENTE A ANGÚSTIA SÓ AO PENSAR EM PARAR

ERIVELTOERIVELTO ALEXANDRINO DA SILVA, 30 ANOS● Nascimento: 7/4/1982, em Guarulhos-SP● Altura e peso: 1,84m e 79kg ● Posição: atacante● Clubes: Juventus, Inter de Limeira-SP, Cataratas de Foz-PR, RioBranco-SP, Corinthians-AL, FK Qabala (AZE), XV de Jaú-SP,Flamengo de Guarulhos-SP, Canedense-GO, Náutico, Brasiliense,Trindade-GO, Fluminense de Feira-BA, Botafogo-PB e América-TO

DITINHOFRANCISMAR ROSA DOS SANTOS, 41 ANOS● Nascimento: 21/3/1972, em São José dos Campos-SP● Altura e peso: 1,70m e 66kg● Posição: atacante● Clubes: Guarulhos, Noroeste, Paulista, URT, Passos,

Funorte e Hortolândia-SP

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