3 cadernão 1o ano 3 - idade media feudalismo - dom bosco

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1º ANO Instituto Dom Bosco 3º. Caderno PROF ROF° . A . AUGUSTO UGUSTO T TRINDADE RINDADE IDADE MÉDIA FEUDALISMO MEDIEVO www.domboscobelem.com.br 1

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1º ANO Instituto Dom Bosco 3º. Caderno

PPROFROF°°. A. AUGUSTOUGUSTO T TRINDADERINDADE

IDADE MÉDIAFEUDALISMO

MEDIEVO

PPROFROF°°. A. AUGUSTOUGUSTO TTRINDADERINDADE

INTRODUÇÃOCom a morte

de Teodósio I, em 395, o império romano foi dividido entre seus dois filhos: Arcádio, que ficou com o

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Oriente, com capital em Constantinopla, e Honório, que ficou com o Ocidente, com capital em Milão. A partir daí, a separação entre Ocidente e Oriente foi se acentuando cada vez mais.

O último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augústulo, tinha sua autoridade restrita praticamente à cidade de Roma. Os Hérulos, membros do exército romano, depuseram-no em 476, colocando no poder seu chefe Odroaco, que se intitulou rei da Itália. Acabava, assim, a autoridade já desaparecida, na prática, do império romano do Ocidente.

Vítima das contradições internas e do esgotamento do modo de produção escravista, o império, já doente e agonizante desde o século III, terá nas invasões bárbaras do século V apenas um fator de precipitação da sua morte, mas não sua causa.

Foi sem dúvida no final do baixo império que a decadência de Roma se viu acompanhada do colapso e contradições, como os valores culturais, militares, econômicos e sociais internos que abriu caminho para a ascensão do cristianismo religião de cunho universal com bases de sustentação do império que acabou por condenar a militarização e a escravidão em troca do perdão e do amor ao próximo como salvação eterna, obviamente que o império não se deixou influenciar pela nova seita, mas acabou sucumbindo a uma nova forma de produzir gerada principalmente pelo conflito com os povos invasores como os germanos.

Desta forma passa a surgir uma nova mentalidade e um novo conceito de modo de produção, proveniente da tentativa de resgatar a economia do império tão combalida e desgastada, que agora se descortinava, o MUNDO MEDIEVAL.

IDADE MÉDIA–O SISTEMA FEUDAL

A queda do último imperador romano, em 476, ocorrida no contexto das invasões germânicas, é o fato que marca o fim da Antigüidade e o início de um novo período da história ocidental, chamado Idade Média. Esse período vai até 1453, quando a cidade de Constantinopla foi conquistada pelos Turcos.

Qual a função da ciência em nossa sociedade? Esse é provavelmente um dos temas que mais deve ser questionado e discutido. A partir disso, é de indubitável importância perceber a ação da ciência e seu papel ao longo de toda a história do homem e das sociedades.

O presente estudo, portanto, foi realizado com o intento de se analisar qual foi a importância do exercício da ciência na Europa cristã no período denominado Alta Idade Média. O primeiro subtítulo é abordada a questão da passagem de conhecimentos que já vinham sendo desenvolvidos nos séculos passados. Não se tratam apenas de noções referentes às ciências naturais, mas de toda a área do conhecimento. Na segunda parte é levantado o aspecto das condições em que o conhecimento dessas “artes liberais” pagãs poderia ser requisitado. Por fim, quais foram as conseqüências na prática para aquela sociedade de uma ciência condicionada.

Nas considerações finais, foi traçado um paralelo entre o papel da ciência aqui analisado e o da sociedade de hoje, sendo esse talvez o aspecto mais importante de toda pesquisa histórica: levantar questões proporcionando uma crítica radical da sociedade moderna.

O FEUDALISMOO sistema que ora será apresentado

conhecido como feudal se prenderá especificamente a análise do mesmo em sua ocorrência na Europa Ocidental caracterizando-o em suas linhas específicas.

O feudalismo ou sistema feudal foi a forma como se estruturou na Europa a vida social em razão da desestruturação do Império Romano e as invasões germânicas, mesclando elementos das duas culturas.

Entre as causas da implantação podemos destacar: a crise do escravismo romano, a divisão da Europa em vários reinos germânicos e a divisão do império franco em 843 com a assinatura do Tratado de Verdum entre os netos de Carlos Magno, filhos de Luís, o Piedoso, como veremos a seguir.

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CLIENTELA: estabelecia uma relação de dependência entre o patrono que dava proteção as pessoas inferiores, e estas que lhes deviam respeito. Eram protegidos em troca de serviços.

COLONATO: situação intermediária entre a escravatura e a liberdade, o colono era um rendeiro hereditário ligado ao solo que cultivava mediante uma renda paga em espécie dinheiro ou produto, uma proteção em troca de serviço.

INSTITUIÇÕES GERMÂNICAS BENEFÍCIO: era o nome que recebiam as concessões de terra feitas como recompensa a certos serviços e com o encargo de cumprir certos deveres, sistema de pagamento feito com a produção extraída da terra.

COMITATOS: era o juramento de honra, obediência e lealdade realizada pelos guerreiros aos seus chefes.

O FEUDOGeralmente era a

grande propriedade territorial pertencente a um senhor (suserano), podendo ser um reino, uma aldeia ou vila, o certo é que qualquer direito que trouxesse lucro era um feudo.

A ORGANIZAÇÃO POLÍTICAO poder político dentro do feudo era

descentralizado, com um sistema de suserania e vassalagem, onde não havia um governo único, mas sim, que era regido por obrigações contratuais recíprocas.

O CONTRATO FEUDALCompreendia as relações formais entre

os suseranos e os vassalos, obedecendo as formalidades estabelecendo os direitos e deveres entre os mesmos:

HOMENAGEM: Juramento solene de fidelidade do vassalo ao suserano.

INVESTIDURA: Ato de doação da terra onde o suserano transmitia a posse da terra ao vassalo.

OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS RECÍPROCAS

DO SUSERANO: Dar ao vassalo proteção e justiça, arrecadar impostos, declarar guerra e celebrar a paz.

DO VASSALO: Prestar serviço militar durante certo número de dias ao suserano e pagar diversos impostos e obrigações:

CONTRIBUIÇÕES FINANCEIRAS: RESGATE: contribuição do vassalo caso o

suserano fosse aprisionado.

DOTE: deveria presentear a filha mais velha do suserano quando esta casasse.

CONTRIBUIÇÕES COSTUMEIRAS:

CORVÉIA: era a obrigação do servo trabalhar gratuitamente nas terras do suserano.

PRESTAÇÃO: hospedagem de seu suserano e toda a sua comitiva quando este passasse pelo território do servo.

RETRIBUIÇÕES: pagamento do servo ao seu senhor em dinheiro ou bens:

1-Capitação: imposto pago por cabeça, por cada servo;

2-Censo: renda paga pelos vilões e homens livres;

3-Talha: pagamento feito com metade da produção do servo ao seu suserano;

4-Banalidade: compensação paga pelo servo pela utilização do moinho, do lagar (moenda) e forno;

5-Marriage: imposto para casar fora do feudo;

6-Mão morta: os filhos ao receberem o feudo de herança do suserano pagavam-lhe o imposto.

ECONOMIA FEUDALO feudo era a principal unidade

produtiva, poderia ser qualquer coisa que oferecesse renda; um reino ou uma ponte, mas geralmente é associado a terra, cada feudo procurava ser o mais auto-suficiente possível, importando o mínimo necessário como ferramentas e o sal.

Predominava a agricultura e a pecuária, atividades básicas, o comércio era local feito a base de troca, não envolvendo necessariamente o uso do dinheiro, o feudo estava dividido em três partes:

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RESERVA SENHORIAL OU DOMÍNIO: Terras que pertenciam exclusivamente ao senhor feudal. Tudo o que fosse produzido na reserva senhorial era de sua propriedade privada;

MANSO SERVIL OU TENÊNCIA: Terras utilizadas pelos servos, das quais eles retiravam seu próprio sustento e recursos para cumprir as obrigações feudais;

CAMPOS ABERTOS: Terras de uso coletivo, podiam ser utilizadas pelos servos para pasto retirada de madeira, sendo as mesmas coletivas no uso.

SOCIEDADE FEUDALCom o desaparecimento das cidades e

o surgimento de uma economia ruralizada, formou-se uma sociedade de estamentos, onde não permitia a mobilidade e era constituída de privilégios monopolizados pela nobreza e pelo clero, enquanto os servos garantiam a produção e o sustento deste.

NOBREZA: Constituída pelos grandes proprietários de terra. Eles dedicavam-se basicamente as atividades militares. Estavam divididos em:

ALTA, composta pelo Rei, Duques, Condes e Maqueses, podiam enfeudar, isto é, conceder feudos;

BAIXA, formada de Arquiduques, Viscondes, Barões e Cavaleiros, os quais não podiam enfeudar. Os bellatores (guerreiros), em tempo de paz dedicavam-se a caça e aos torneios violentos treinando para guerra.

CAVALEIROS: Era homem de nascimento nobre e desde jovem aprendia andar a cavalo e manejar a espada; sua iniciação começava aos sete anos como Pajem, ajudando as damas da corte para aprender noções de cortesia, dos quatorze aos vinte era um escudeiro responsável pela vestimenta e armamento do cavaleiro, aprendendo as artes de combate, aos vinte e um era sagrado cavaleiro depois de todo o cerimonial religioso.

CLERO: Composto pelos membros da Igreja Católica, destacando-se o ALTO formado pelo Papa, Cardeais, Arcebispos, Bispos e Abades; administravam as propriedades agrárias e influenciando política-ideologicamente a sociedade, e o BAIXO formado por Vigários, Padres, Monsenhores, Arciprestes, Cabildos, Monges e clérigos, cuidavam de arrebanhar fiéis e estavam mais próximos do povo. Os oratores (rezadores), celebravam os sacramentos e instruíam a população.

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“Portanto, a cidade de Deus, que se crê única, está dividida em três ordens: alguns rezam, outros combatem e outros trabalham.” (ADALBERTO, bispo de Laon. In: BOUTRUCHE, R. Señorío y feudalismo. Madri: Siglo Veintiuno, 1972. In, ITAUSSU, L. & AMAD, L. C. Ed. Scipione, pg 8 S.P. 1999).

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SERVOS: Representavam a maioria da população camponesa, realizavam todos os trabalhos necessários à subsistência material: produzindo alimentos e roupas. Não era nada invejável suas vidas, pois os mesmos trabalhavam do nascer ao por do sol.

A SOCIEDADE FEUDAL

O REINO FRANCO E A DINASTIA CAROLÍNGIA

Com a decadência do império romano do ocidente, a Europa ficou dividida em vários reinos bárbaros cujo que mais destacou-se foi o germânico, que por sua vez subdividia-se em vários grupos como: Franco, Anglo-saxões, Visigodos, Godos; Ostrogodos e Visigodos, Vândalos, Burgúndios e Francos.

Entre os reinos germânicos que se estabeleceram após a queda de Roma, os francos foram os que mais se destacaram nos primórdios da idade média, pois, conseguiram manter relativa unidade política dominando grande parte das terras do antigo império romano do ocidente.

Os francos apresentaram duas grandes dinastias de reis bárbaros aliados à igreja católica romana para facilitar a unificação dos territórios.

Clóvis foi coroado pela igreja, tornando-se líder da dinastia Merovíngia e em 20 anos de reinado anexou vários territórios do antigo império romano.

No final do século VII a dinastia Merovíngia entrou em decadência. E Pepino, o breve, inaugurou a dinastia Carolíngia. Posteriormente o filho de Pepino, o breve, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III, rei dos francos.

O GOVERNO DE CARLOS MAGNOCarlos Magno com o apoio da igreja

católica desenvolveu um governo brilhante e cheio de conquistas, anexando vários territórios que faziam parte do antigo império romano. O rei tinha como principal objetivo unificar toda a Europa ocidental em um só reino.

O legado que Carlos Magno recebeu veio de ilustres ancestrais. Era neto de Carlos Martel, vencedor de uma das batalhas mais importantes da história da Europa, a de Poitiers, que em 732 barrou o avanço muçulmano. Era filho de Pepino, o Breve, que destituiu de vez os já enfraquecidos reis merovíngios e inaugurou uma nova dinastia entre os francos, a dos carolíngios – nome emprestado de Martel. Após a morte de Pepino, o reino dos francos foi dividido entre seus dois filhos. O primogênito, Carlos Magno, ficou com um pedaço ao norte. Carlomano, oito anos mais moço, ficou com a parte sul. Essa configuração não durou muito, pois Carlomano morreu três anos depois. O mais velho ignorou os direitos de seus sobrinhos e anexou as terras de seu

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irmão. Esse foi o primeiro passo para erguer o maior império na Europa desde o fim do Império Romano. À base de muito derramamento de sangue.

O império erguido na ponta da espada por Carlos Magno cairia por terra em apenas uma geração. Um ano antes de morrer, ele indicou seu único filho legítimo vivo, Luís, o Piedoso, como herdeiro do vasto império. Com a morte de Luís, em 843, o território foi dividido entre seus três filhos, pelo Tratado de Verdum. Carlos, o calvo, ficou com a porção ocidental, que abrangia o que hoje é parte da França e da Catalunha, na Espanha. Lotário ficou com a terça parte central que hoje equivale à região ocidental da França e o norte da Itália. E Luís, o germânico ficou com o restante, (o quinhão ocidental da Alemanha).

O governo de Carlos Magno contribuiu acentuadamente para o fortalecimento do poder da Igreja Católica em toda a Europa, pois apoiado pelo Papa. O rei impôs o cristianismo a todos os povos conquistados.

A PENOSA SOBREVIVÊNCIA DO CONHECIMENTO

A instalação dos bárbaros constituiu uma grande ameaça a todo o acervo herdado da Antiguidade. De fato, muito se perdeu de todo o conjunto de obras científicas e filosóficas com as invasões. Some-se a isso, a condenação de toda a cultura pagã da Antiguidade por parte da religião cristã. Nesse ponto, acontece um interessante paradoxo, pois apesar dessa aversão à cultura antiga, o cristianismo está bastante impregnado da mesma, afinal, foi nesse meio que se formou essa nova e poderosa crença.

“Mesmo os mais ‘cultos’ entre os Padres da Igreja, os mais fiéis herdeiros do pensamento e da arte clássicos, Santo Agostinho (354-430) - foi um dos mais importantes pensadores do cristianismo do primeiro milênio de nossa era. Suas obras influenciaram todo o cristianismo da alta idade média. Podemos citar A Cidade de Deus e Confissões, por exemplo, concordam com a reação espontânea dos simples e dos ignorantes para condenar a cultura antiga enquanto ideal independente rival da revelação cristã” (MARROU, 1966, p.488).

Para saber mais: http://www.cultura.dequalidade.com.br/index.php/pensamento-filosofico/ideais-de-santo-agostinho/

Não que esta tenha sido negada, pois foram os próprios eclesiásticos que reescreveram diversos livros da Antiguidade ao longo de toda a Idade Média.

“O que se passava na cabeça e na imaginação desses escribas quando recopiavam um texto pagão, a seus olhos, ora falso, ora licencioso ou indecente? Constatemos primeiro que eles nunca selecionaram ou censuraram. Os escribas eram fiéis ao texto.” (ROUCHE, 1985, p.523).

Ainda assim a cultura antiga teve seus admiradores, como Boécio, - Anicius Manlius Torquatus Severinus Boethius, (480 e 525). Era adepto de uma filosofia aristotélica um tanto quanto singular para sua época, sendo que, o pensamento de Aristóteles só começou a exercer uma verdadeira influência a partir do século XIII com São Tomás de Aquino. que além de traduzir diversas obras clássicas, propôs o estudo de Platão e Aristóteles nas escolas, além de ciências que se resumiam em aritmética, geometria, música e astronomia. Muito dessa cultura do passado, porém, não exerceu influência na mentalidade cristã ocidental como aconteceu na região oriental no novo período que se afigurava.

O Oriente por sua vez, principalmente os árabes, podem ser, talvez, considerados os principais transmissores do conhecimento antigo, auxiliado pelo Império Bizantino nessa questão. Afinal, enquanto a Roma do Baixo Império via a filosofia esmaecendo, Bizâncio além de partilhar do conteúdo literário e jurídico romano, desenvolvia uma filosofia de tradição milenar. Dessa forma, os árabes, com suas conquistas no território oriental do antigo Império, tiveram ao seu dispor todo o legado de uma cultura que vinha sendo cultivada há séculos.

“Antes da Renascença, muitos clássicos gregos, preservados pelos bizantinos e pelos árabes, ainda eram desconhecidos no Ocidente” (LIND, 2000, p.6). Se por um lado, o cristianismo usava um platonismo de uma forma adaptada, esquecendo uma boa parte da cultura pagã, a visão de mundo aristotélica com alguns elementos do platonismo predominava entre os sábios árabes. Podem

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ser considerados como a verdadeira ponte que permitiu a propagação da ciência antiga contribuindo para a formação da ciência moderna ocidental.

De qualquer forma, apesar da prudência com relação à propagação da cultura antiga, pagã, a visão do homem medieval e seu modo de buscar o conhecimento da natureza não diferiam tanto de seus antepassados. Pode-se dizer que tanto a educação quando a ciência tinham muito daquela cultura passada, com diferentes arranjos. Entre esses arranjos, pode-se citar a fusão que estava acontecendo entre a visão de mundo pregada pelo cristianismo, e toda uma cultura pagã típica dos povos invasores que agora ocupavam a Europa. Mas o principal delineador da ação da ciência nesse período, foi o fato de estar simplesmente à serviço da Igreja.

A CIÊNCIA: UMA MERA FUNCIONÁRIAO modo de encarar a ciência na Alta

Idade Média, pode ser percebida através de como Santo Agostinho a via. Ele não escreveu nada especificamente relacionado com conhecimentos científicos, mas sua visão sobre o assunto, foi predominante por muitos séculos.

Agostinho argumenta com o pressuposto de que se o mundo é uma criação de Deus, naturalmente é bom. Sendo assim, o mal é simplesmente uma ausência do bem. Desse pensamento de Agostinho derivam seus incentivos para as ciências naturais. Ora, se o mundo é bom, a busca do conhecimento do mesmo por parte do homem, só poderia lhe trazer benefícios com a contemplação da beleza da obra divina.

Apesar dessa aprovação da busca do conhecimento, ela tinha suas limitações. A ciência não era uma preocupação central de Santo Agostinho, assim como não era da Igreja nem do homem medieval. Como a preocupação essencial era a salvação das almas, a ciência foi relegada a um segundo plano. O objetivo dos estudiosos, era única e simplesmente compreender e interpretar a Sagrada Escritura. A cultura pagã, apesar de estar recheada de superstições e mitos, poderia ser usada para auxiliar o estudo das

mensagens divinas. O próprio Agostinho deixa claro no segundo livro De Doctrina Christiana:

“Não se atrevam a consagrar-se sem inquietação às ciências liberais professadas fora da Igreja, como se elas fossem indispensáveis para alcançar a vida feliz. Os jovens devem submetê-las a exame criterioso e sereno, pois as ciências profanas só lhes devem interessar enquanto servirem de adminículo para o estudo da Sagrada Escritura e para o auxílio na tarefa de interpretação das suas passagens obscuras” (apud NUNES, 1978, p.208)

Sendo assim, surgia outra, e mais influente limitação da ciência: o seu objetivo definido pela Igreja. “...não se observava a natureza para se deduzir explicações ou levantar hipóteses, mas para se ver os símbolos dos desígnios de Deus.” (FRANCO, 1986, p.128).

A CIÊNCIA EM AÇÃO E O CONTRASTE COM O ORIENTE

A ciência quando não usada em sua principal função, compreender Deus, era acionada quando surgiam questões de preocupação da Igreja, como algumas da área da agricultura ou então na determinação da Páscoa. Questões práticas que não exigiam um trabalho teórico de profundidade. As limitações dos conhecimentos científicos na Europa cristã são visíveis nas mais diversas áreas.

A astrologia, por exemplo, enquanto era negada no Ocidente por Santo Agostinho, que a considerava a negação da liberdade de escolha do homem, era vista como a ciência mais nobre entre os árabes, e além de tudo, intimamente ligada com a religião.

Na área da saúde, por sua vez, a busca de um aprimoramento de técnicas é brutalmente retardada. Basta pegar qualquer livro sobre a história da Medicina para constatar tal fato. Encontraremos descrições minuciosas da medicina árabe, chinesa, hebraica, hindu, durante toda a alta idade média, mas quando se busca algo relativo ao ocidente, encontra-se uma verdadeira página em branco. “A Medicina estava limitada pela idéia de que o doente é um pecador cuja cura residia na atuação da Igreja (orações, exorcismos, etc.)” (FRANCO, 1986, 128). Agora, junte-se a essa mentalidade, todas as condições precárias de higiene, os grandes períodos de fome, pestes, e tem-se a resposta

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de como as taxas de natalidade quase foram alcançadas pelas de mortalidade em algumas regiões. Enquanto isso, na China existiam hospitais e inclusive uma faculdade de Medicina. Se no Ocidente os padres realizavam exorcismos, os hindus também recorriam à soluções metafísicas. Mas ainda que entre os hindus se buscasse curas através de feitiços e encantos, eles não se limitaram a isso. Foram desenvolvidos diversos remédios com algumas ervas e partes de animais, além de idéias avançadas para a época, como a de doenças hereditárias e de pequenos organismos dentro do corpo humano causadores de algumas moléstias. Simultaneamente, na Europa cristã, as curas milagrosas eram relatadas por monges médicos. Infelizmente as mãos de Deus não foram capazes de impedir em algumas regiões, por exemplo, a “taxa de mortalidade infantil extremamente elevada: 45%” (ROUCHE, 1985, p.442). A obra de Santo Isidoro de Sevilha (560 ou 570), foi outro importante transmissor da cultura antiga. Entre suas obras estão Crônicas, História dos Reis Godos, Vândalos e Suevos, e a já citada Etimologias-, uma verdadeira enciclopédia com muito da cultura antiga, solitariamente trata da Medicina, mas em um segundo plano, sendo o trabalho direcionado principalmente para o Direito. E basta pegar o objeto de estudo da obra de Marciano Capela, o qual foi um retórico contemporâneo à Santo Agostinho de indubitável importância na preservação do saber antigo, Sobre as Noves Disciplinas, onde “o advogado cartaginês (...) deixou de lado a medicina e a arquitetura, por se tratar de disciplinas ‘ocupadas’ com as coisas mortais e terrestres sem nada ter de comum com o céu. (NUNES, 1979, p.75), para observamos como a área de saúde era encarada”.

A mineralogia e a botânica, que no Ocidente se limitaram à mera observação das plantas e minério na busca de se encontrarem mensagens divinas, objetivo semelhante em todos os outros campos, opostamente tiveram um acentuado desenvolvimento entre as culturas de outros povos da época correspondente

A IGREJA MEDIEVAL (A SENHORA FEUDAL)

Com a queda do Império Romano a única instituição que se manteve estruturada foi a Igreja Católica com sua sede em Roma.

A doutrina católica ainda no Império Romano era o amor a Deus, ao próximo, a observação dos ensinamentos dos religiosos e a obtenção da recompensa do paraíso, os cristãos, ainda na época do império só deixaram de ser perseguidos quando Constantino, em 313, assinou o Edito de Milão, dando liberdade de culto. Em 391, através do Edito da Tessalônica o cristianismo tornou-se religião oficial do Império Romano, com Teodósio. Porém foi somente em 756, que Pepino, o Breve doou ao Papa Estevão II o patrimônio de São Pedro, surgindo assim o Estado Pontifício, fortalecendo o poder papal e o reconhecimento popular.

A Igreja passou então a regulamentar a vida e a moral entre os povos, principalmente difundindo a fé entre os bárbaros, a mentalidade medieval passou inteiramente a ser dominada pela religião.

Além de configurar grande controle espiritual, passou a ter grande poder temporal, ou seja, as do mundo as não espirituais, pois, se enriquecera com as doações de terras feitas pelos fiéis, chegando inclusive a controlar 1/3 das terras cultiváveis da Europa, sem dúvida uma Senhora Feudal.

A ORGANIZAÇÃO DO CLERO CATÓLICOA igreja católica passou a ter duas

grandes categorias: Clero Secular e Regular.

CLERO SECULAR: VIVER NO MUNDO era composto pelos sacerdotes que conviviam em meio às comunidades, fora dos mosteiros. Desta maneira a igreja criou uma hierarquia de cargos e funções onde destacamos: pároco, responsável por uma paróquia; bispo, responsável pela diocese que reunia várias paróquias; arcebispo, responsável pela província eclesiástica que reunia várias dioceses. No ponto mais alto estava o Papa, bispo de Roma.

CLERO REGULAR: MONGES são os sacerdotes que viviam em mosteiros ou conventos, obedecendo uma regra de vida (regula, em latim) estabelecida por sua ordem religiosa, estes

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na maioria dedicavam-se as atividades intelectuais, como por exemplo a cópia de documentos clássicos, transformado-se em centros de ensino, eram coordenados por abades, possuindo as maiores bibliotecas.

O IMAGINÁRIO MEDIEVALNos séculos l e II, eram perseguidos

pêlos imperadores ou governadores dos territórios romanos, por se recusarem a adorar os deuses protetores de Roma e até os imperadores, que também eram cultuados como deuses.

Os apóstolos, representantes de Cristo na Terra, especialmente São Pedro e São Paulo, divulgaram a palavra cristã para várias outras partes do Império Romano, de modo que já no século l existiam comunidades cristãs em várias localidades do Império. Nos séculos seguintes, o número de adeptos aumentou progressivamente e o cristianismo adquiriu uma organização e uma doutrina baseadas nos Evangelhos (textos escritos pêlos apóstolos, que narram a vida e os ensinamentos de Jesus) e nos escritos dos pensadores cristãos.

A Idade Média é chamada costumeiramente "Idade da Fé". De fato, a religiosidade marcou profundamente as atitudes dos homens daquela época. A fé misturava-se aos atos cotidianos; era como se o sagrado estivesse em todos os lugares, em todos os momentos, em todas as ideias.

Para os teólogos medievais Deus era um ente incorpóreo, espiritual. A massa dos fiéis, ao contrário, procurou representá-lo concretamente, dando-lhe uma imagem e conferindo-lhe características humanas. Visualizaram-no como o filho; e o Espírito Santo. Como uma pomba. O Deus-Pai cristão era em geral representado como um juiz ou, então no trono, soberano em toda a sua majestade. Nos séculos XI e XII, momento de apogeu do feudalismo, Deus aparecia como um grande senhor feudal, do qual todos os homens dependiam. Até hoje, durante a missa, os católicos ajoelham-se e mantêm as mãos juntas ao rezar, como os vassalos faziam ao prestar homenagem aos senhores feudais.

Cristo, o Deus-Filho, era concebido como alguém ainda mais próximo dos homens. O "Cordeiro de Deus" às vezes era simbolizado como um cordeiro mesmo; outras vezes, como um juiz, salvando ou condenando vivos e mortos no dia do juízo final. Do século XII em diante, a imagem que se fixou na consciência dos cristãos mostrava-o crucificado como o sofredor a purgar os pecados do mundo; um Cristo de cabelo e barba clara e olhos azuis. Em outras palavras, um Cristo bem europeu! Podemos dizer, pois, que a imagem de Cristo que vemos até hoje é uma criação medieval.

Entre os fiéis e Deus havia muitos intermediários. Em primeiro lugar, os anjos, protetores incansáveis dos homens e auxiliares assíduos de Deus A Idade Média conferiu aos anjos os mais variados papeis. Sua principal função era permanecer como vigilantes guardiões contra satã e os demônios.

Auxiliados pelos anjos, os medievais acreditavam aproximar-se de Deus, e era crença comum que cada qual tivesse seu anjo da guarda. O imaginário medieval era povoado por imenso exército celeste, do qual faziam parte anjos comuns e anjos mais poderosos - como os querubins, os serafins e os arcanjos, ocupantes das posições mais elevadas dessa verdadeira hierarquia angélica.

A esse exército celeste se opunha um exército de anjos rebeldes: os demónios. Liderados por Satã o anjo caído, esse exército do mal espreitava continuam os homens, pondo à prova sua fé.

A figura do diabo também foi construída na imaginação dos homens da sociedade feudal. O diabo representava nessa sociedade o papel de traidor, pois traíra o senhor dos senhores: Deus.

Como tal, ele era o espírito do mal que podia assumir várias aparências para seduzir os fracos de fé, induzindo-os ao pecado.

Os demônios, auxiliares de satã, poderiam mostrar-se aos homens a cada

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instante. Tomando a aparência de jovens belíssimas, provocavam nos homens o desejo sexual excessivo, chamado luxúria; como rapazes atraentes, seduziam as mulheres levando-as ao pecado carnal.

Vez por outra, entretanto, o diabo era representado em sua "verdadeira" aparência. Sem disfarces, ele era horrível, aterrador. Sua nudez revelava de imediato a impureza, a distância que o separava de "Deus; cara muito magra, olhos muito negros, chifres pontudos e imensas orelhas peludas, corpo disforme e grotesco Suas pobres vítimas, tomadas pelo pavor, eram conduzidas para o inferno, onde queimariam no fogo eterno para pagar seus erros.

TRIBUNAIS DA INQUISIÇÃONem sempre a

igreja católica teve suas idéias plenamente aceitas, portanto surgiram idéias que iam de encontro a doutrina cristã, as heresias, desta maneira o Papa Gregório IX, no concílio de Toulouse criou, em 1229-1231, o Tribunal da Santa Inquisição ou do Santo Ofício, com a finalidade de punir os hereges, ou seja, aqueles que praticavam ações que contrariavam os dogmas (verdades indiscutíveis) católicos, as penas iam desde o confisco de bens, ou a morte na fogueira.

AS HERESIAS ARIANISMO: Criada pelo Bispo Ários, identificava Deus apenas como Pai, negando a divindade do Filho e do Espírito Santo, foi condenado em 325 pelo Concílio de Nicéia. PELAGIANISMO: Criado pelo monge Pelágio da bretanha, negava a existência do pecado original e a necessidade de graça para a salvação. Foi combatido por Santo Agostinho, foi também condenado pela Igreja pelo concílio de Cartago em 418.

NESTORIANISMO: Criada pelo Patriarca de Constantinopla Nestor (Nestório) aceitava a

origem Divina e Humana de Cristo aceitando Maria como Sua mãe, mas, negando-a como mãe de Deus, foi condenado em 431 pelo Concílio de Éfeso.

MONOFISISMO: Criado pelo bispo Êutiques, defendia a idéia de que Cristo possuía apenas a origem divina, foi condenado em 451, pelo Concílio da Calcedônia.

VALDENSES OU POBRES DE LION: Criado por um rico comerciante francês, Pedro Valdo, 1170, que rejeitava os sacramentos, as indulgências, o culto aos santos e o sacerdócio, admitindo somente a autoridade da Bíblia.

ALBIGENSE ou CRUZADA CONTRA OS CÁTAROS (1209 e 1244): Negava a existência de um único Deus ao afirmar a dualidade das coisas (existência de um Deus mau), da Trindade e a salvação viria através do conhecimento em vez de através da fé em Deus.

QUESTÃO DAS INVESTIDURASForam as disputas travadas entre o

Papa Gregório VII e o Imperador da Alemanha Henrique IV sobre quem tinha a autoridade para investir bispos e Cavaleiros. Esta disputa foi resolvida após a assinatura da Concordata de Worms, em 1122, entre o Papa Calixto III e Henrique IV, estabelecendo que o papa era responsável pela investidura espiritual (anel e cruz) e o imperador pela temporal (báculo).

A DECADÊNCIA DA IDADE MÉDIAO período que vai do século XI ao XIII é

marcado por profundas transformações dentro da Europa como: a diminuição das guerras internas entre os senhores feudais, o fim das invasões bárbaras, o crescimento do comércio e a formação de monarquias nacionais centralizadas. Este período é também alterado quando começam a ressurgir as cidades que ofereciam uma maior segurança a população e a formação de uma rica classe de comerciantes denominados de burgueses. Isso tudo tem início com o movimento das cruzadas.

AS CRUZADAS: Tem início a partir do Concílio de Clermont-Ferrand convocada pelo Papa Urbano II em 1095 que tinha como objetivo expandir

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a fé católica pela chamada “GUERRA SANTA”. O movimento foi visto pelos nobres como uma possibilidade de conquistar novas terras, os mercadores de ampliar seus mercados fornecedores de matérias-primas e os servos de se libertarem. Foram nove no total e cada uma teve suas características próprias deixando consequências marcantes.

ESTADOS NACIONAIS: Como já foi visto, durante o feudalismo o poder político era descentralizado, mas com o movimento das cruzadas e o renascimento comercial houve estímulo aos senhores feudais em lutar para formar um estado nacional onde vigorasse uma soberania no lugar da suserania. Com o desenvolvimento do comércio a terra deixou de ser o critério de riqueza para passar a adotar a moeda como valor de mercado, até porque, sem uniformidade política não havia desenvolvimento econômico. Como a burguesia estava interessada no desenvolvimento econômico ela passa a apoiar a Centralização Monárquica.

A BURGUESIA: À medida que o comércio se desenvolvia nas chamadas rotas comerciais surgiam as feiras (centros econômicos), ali geralmente nasciam as cidades com a venda de grande variedade de produtos, nesse tempo ainda eram chamados de “pés-poerentos”, assim nesses lugares costumavam instalar-se oficinas de artesãos, para garantir a continuidade da produção, e corporações de ofício, que era a associação dos artesãos, estes grupos passavam a ocupar uma área fortificada, os quais eram livres e desvinculados do sistema feudal. Esta área fortificada era chamada de burgos e os seus habitantes burgueses, dando origem a chamada burguesia, onde os reis encontraram forte aliado na luta contra a nobreza feudal.

O FIM DA IDADE MÉDIAO mais interessante em se observar a

ciência na Alta Idade Média, é poder comparar o papel que ela representava na época com a que assume hoje. De uma ciência submissa à religião, passamos à uma submissa à economia. Como frisou bem Fritjof Capra em seu polêmico Ponto de Mutação:

“O paradigma ora em transformação dominou nossa cultura durante muitas centenas de anos, ao longo dos quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. Esse paradigma compreende um certo número de idéias e valores que diferem nitidamente dos da Idade Média (...). Incluem a crença de que o método científico é a única abordagem válida do conhecimento (...) e a crença do progresso material ilimitado, a ser alcançado através do crescimento econômico e tecnológico”.

Se naquele tempo o progresso tecnológico e cientifico foi de certa forma retardado por um tipo mentalidade dominante, hoje, mais do que nunca, ele é incentivado e consegue ser tão prejudicial ao homem quanto no passado. Isso serve inclusive para nos mostrar o quanto são falhas as teorias evolucionistas quando usadas para analisar a história das sociedades. Se podemos por um lado falar de uma evolução das técnicas, nem sempre podemos dizer o mesmo de seu uso. O progresso da ciência, aliado ao capitalismo selvagem, estão conseguindo submeter a natureza à um processo de exploração brutal, afirmando assim a posição do homem como senhor do mundo. Se entre os Francos pagãos, por exemplo, a natureza era “um mundo obscuro de violência que se deve dominar” (ROUCHE, 1990, p.472), na sociedade moderna, poderíamos dizer que a natureza é um mundo obscuro de lucros que se deve dominar.

As diversas guerras ocorridas no período medieval forneceram as bases para a desestruturação do modo de produção feudal, a desorganização da produção proveniente das revoltas camponesas devido aos maus tratos recebidos pelos mesmos, isso provocou também o êxodo rural, além das diversas doenças e epidemias como a peste negra que assolaram a Europa e elevaram a mortalidade, as secas que provocaram a perda de boa parte das colheitas, tudo isso contribuiu para o fim do feudalismo e o surgimento de uma nova ordem sócio-econômica denominada de Capitalismo Comercial que veremos a seguir na Transição do Feudalismo para o Capitalismo.

Textos ComplementaresMuitas instituições romanas e

germânicas foram importantes na estruturação

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da ordem feudal. A Clientela, que estabelecia as relações de dependência social entre os indivíduos na sociedade romana, constituiu a base sobre a qual se desenvolveram as relações de dependência do mundo feudal (senhor-servo).

O Colonato outra herança romana, impôs a fixação do homem (colono) à terra. Instituído pelo governo imperial, o colonato originalmente objetivava conter o êxodo rural e a crise de abastecimento provocada pela falta de mão de obra escrava. Os colonos, embora juridicamente livres, não podiam abandonar as terras, submetendo-se à autoridade dos grandes proprietários rurais. Juntamente com o Precarium (entrega de terras a um grande senhor em troca de proteção), o colonato constituiria a base da servidão medieval. O Comitatus, instituição germânica que estabelecia a relação de lealdade entre os guerreiros e o chefe tribal, foi o alicerce das relações feudais de suserania e vassalagem. (VICENTINO, Cláudio. História Geral, Ed. Scipione, SP. 2000).

1) Qual o real sentido estabelecido pela implementação das relações de suserania e vassalagem?

2) Explique as características das relações de dependência e reciprocidade dentro das relações sociais feudais?

3) Quais as correlações entre as instituições romanas e germânicas com o estabelecimento do contrato feudal?

As CruzadasEm 1095, atendendo

ao apelo do papa Urbano II para que iniciasse uma guerra santa contra os muçulmanos, os nobre cristão organizaram as cruzadas - que também tiveram como motivação o hábito guerreiro dos nobres feudais e o desejo de retomar importantes cidades comerciais que estavam em poder dos muçulmanos. (COTRIM, Gilberto. História Global, Brasil e Geral Ed. Saraiva. SP 2002)

No ano de 2001, após ataques que mataram inúmeras pessoas e destruíram símbolos do poder norte-americano, em Nova York e Washington, o governo dos EUA desencadeou uma guerra contra o Afeganistão. O argumento era caçar Osama Bin Laden, muçulmano apontado como responsável pelos

ataques. O presidente dos EUA referiu-se à guerra como uma “cruzada” do Bem contra o Mal.

1) O Que foram as cruzadas e quais os seus objetivos, suas conseqüências mais evidentes?

2) Qual a influência da Igreja Católica no que se refere a seu comprometimento com o movimento das cruzadas durante o período medieval?

3) Como você analisa o uso do termo cruzada pelo presidente George W. Bush e as reações que se seguiram?

ExercíciosQuestões Objetivas

1) Dentre as formas de invasões dos povos bárbaras podemos destacar:

a) A busca pelo intenso comércio dos romanos visto que os bárbaros não dispunham desta atividade,

b) A necessidade de encontrar terras férteis para suas plantações, visto que fugiam das áreas abaladas pela seca,

c) Ocorreu no primeiro momento de forma pacífica e no segundo devido as pressões de forma belicosa,

d) Buscavam novos povos para difundir sua cultura e encontraram nos romanos os principais intelectuais para realizar tais atividades,

e) Se instalaram nas fronteiras do Império com a finalidade de divulgar o cristianismo.

2) Os laços de suserania e vassalagem são decorrentes de elementos romanos e germânicos sobre estes podemos afirmar corretamente:

a) O Colonato foi o confisco das terras dos servos para o rei;

b) O Beneficium era o sistema feudal,c) A Economia agro-pastoril criavam o gado

com a finalidade de exportaçãod) O Comitatus fidelidade do guerreiro para com

o seu chefe.e) O Colonato que foi a concessão da terra para

cultivo em troca de proteção

3) Por manso servil ou tenência entende-se:

a) Imposto cobrado sobre a utilização de máquinas dos feudos:

b) Área ainda não cultivada pelos suseranos,c) Imposto pago sobre as terras dos sevos,d) Terras utilizadas pelos servos para o cultivo de

onde tiravam o sustento.

4) Sobre a religião católica na idade média podemos afirmar que:

a) Eram os nobres que controlavam os papas e arcebispos ,

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b) A igreja só serviu para desagregar os membros da sociedade

c) Estava dividido o clero em regular que viviam em mosteiros e secular que viviam junto a comunidades

d) As cruzadas foram movimentos de oposição à igreja católica.

5) Aponte os elementos do regime feudal que resultaram das características de elementos romanos e germânicos:

a) Suserania doação da terra e Beneficio o recebimento desta,

b) Vassalagem doação da terra e Colonato aquele que recebia o lote de terra,

c) Suserania doação da terra e Vassalagem o recebimento desta,

d) Suserania doação da terra e Comitatus o recebimento da mesma,

e) Vassalagem doação da terra e Suserania recebimento da mesma.

6) Entre os principais objetivos das Cruzadas podemos destacar:

a) Conquistar Jerusalém e mover uma guerra contra os muçulmanos

b) Demonstrar para os povos orientais o poder de força existente entre os nobres ocidentais,

c) Exigência do Papa Urbano II de converter os judeus dispersos pelo mundo,

d) Fortalecer o poder real e derrubar através dos ensinamentos cristãos o paganismo,

e) Instituir o Tribunal do Santo Ofício.

7) Leia atentamente os seguintes textos:

I [...]nunca bebe o produto de suas vinhas nem prova migalha do bom alimento: muito feliz será se puder Ter o pão preto e um pouco de sua manteiga e queijo [...] (texto de um cronista do século XII.)

II Se ele tiver ganso ou galinha gorda bolo de farinha de trigo em seu armário tudo isso terá de ser do senhor (Treco de uma canção popular.)- A classe social a que os textos se referem é:

a) O clero,b) O servo;c) A burguesia,d) O proletariado,e) A nobreza.

8) Entre os fatores que contribuíram para crise do feudalismo, destacam-se:

a) Novas ondas de invasões que assolaram a Europa

b) O choque entre o crescimento do mercado consumidor, devido a redução populacional, e a baixa produtividade agrícola e artesanal do sistema feudal,

c) O crescimento populacional desacelerado, decorrente da melhoria das condições de vida

d) A redução das obrigações cobradas dos servos

e) O fim das ondas de invasões, a partir do século XI, que propiciaram um clima de segurança aumentando a circulação de mercadorias na Europa.

9) (UFPI) Na transição do feudalismo para o capitalismo, tivemos:

a) a transformação de uma sociedade estamental, com fraca mobilidade vertical e posições sociais pela origem de nascimento, para uma sociedade de classes com grande mobilidade vertical e posições sociais determinadas pelo poder econômico.b) a transformação de uma sociedade de classes, com grande mobilidade vertical, para uma sociedade estamental com fraca mobilidade vertical e posições sociais determinadas pelo poder econômico.c) a passagem de uma sociedade de classes para uma sociedade de castas.d) a desorganização de uma sociedade patriarcal, com grande mobilidade vertical, para uma sociedade estamental com fraca mobilidade social.e) a mudança de uma sociedade de castas para uma sociedade estamental.

Questões Analítico Discursivas- Leia com atenção o texto e responda à questão proposta:

"Seja qual for o ponto de vista que se adote, pode-se dizer que a Europa Ocidental, desde o século IX, oferece o aspecto de uma sociedade essencialmente rural e na qual o intercâmbio e a circulação dos países se restringiram ao grau mais baixo que podiam atingir. A classe mercantil desapareceu nas referidas sociedades. Determina-se agora a condição dos homens, por suas relações com a terra .(Henri Pirrene, Histórica Econômica e Social da Idade Média)

10) Destaque e comente duas idéias centrais do texto acerca da sociedade feudal.

11) "O pessimismo, esperança sofrida de novas calamidades, era generalizado. A obsessão pelo pecado era imensa, acreditando-se que mesmo os pequenos erros de um indivíduo comprometia a todos. A perspectiva da morte e da ira de Deus atormentava a muitos: temas macabros abundavam na Arte e na Literatura”. (Francisco de Assis, Editora Moderna - 1998)

a. O século XIV foi um período de crise para a Europa. Indique dois elementos que revelam essa crise.

b. Indique algumas características do trabalho urbano durante a crise do feudalismo.

12) (Unicamp-SP) "Todo o poder vem de Deus. Os governantes, pois, agem como ministros de Deus e seus representantes na terra. Conseqüentemente, o trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio

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Deus." (Jacques Bossuet, Política tirada das palavras da Sagrada Escritura, 1709.)

"[...] Que seja prefixada à Constituição uma declaração de que todo o poder é originalmente concedido ao povo e, conseqüentemente, emanou do povo."(Emenda constitucional proposta por Madison em 8 de junho de 1789)

a) Explique a concepção de Estado em cada um dos textos.

b) Qual a relação entre indivíduo e Estado em cada um dos textos?

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