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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS; 0 1. Acadêmica da Universidade de Brasília (UnB), Faculdade de Ceilândia – DF, [email protected] 2. Acadêmica da Universidade de Brasília(UnB), Faculdade de Ceilândia – DF,[email protected] 3. Enfermeira. Acadêmica do programa de Pós-graduação de Ciências e Tecnologias da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Faculdade de Ceilândia – DF,[email protected] 4. Fisioterapeuta. Doutora em Ciências da Saúde com ênfase em saúde Coletiva. Docente da Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília(UnB) – DF, [email protected] 2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SAÚDE AMBIENTAL - 2ºSIBSA 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2014, BELO HORIZONTE/MG EIXO: A FUNÇÃO SOCIAL DA CIÊNCIA, ECOLOGIA DE SABERES, E OUTRAS EXPERIÊNCIAS DE PRODUÇÃO COMPARTILHADA DE CONHECIMENTO A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NO DISTRITO FEDERAL ROSA, M. S. 1 OLIVEIRA, L. F. C. 2 JONAS, M. F. 3 DOMÍNGUEZ, A. G. D. 4 VANESSA (NÃO SEI O NOME COMPLETO) 5

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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS; 0

1. Acadêmica da Universidade de Brasília (UnB), Faculdade de Ceilândia – DF, [email protected] 2. Acadêmica da Universidade de Brasília(UnB), Faculdade de Ceilândia – DF,[email protected] 3. Enfermeira. Acadêmica do programa de Pós-graduação de Ciências e Tecnologias da Saúde da Universidade

de Brasília (UnB), Faculdade de Ceilândia – DF,[email protected] 4. Fisioterapeuta. Doutora em Ciências da Saúde com ênfase em saúde Coletiva. Docente da Faculdade de

Ceilândia da Universidade de Brasília(UnB) – DF, [email protected]

2º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SAÚDE AMBIENTAL - 2ºSIBSA

19 A 22 DE OUTUBRO DE 2014, BELO HORIZONTE/MG

EIXO: A FUNÇÃO SOCIAL DA CIÊNCIA, ECOLOGIA DE SABERES, E OUTRAS

EXPERIÊNCIAS DE PRODUÇÃO COMPARTILHADA DE CONHECIMENTO

A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS

RECICLÁVEIS NO DISTRITO FEDERAL

ROSA, M. S. 1 OLIVEIRA, L. F. C. 2

JONAS, M. F.3 DOMÍNGUEZ, A. G. D.4

VANESSA (NÃO SEI O NOME COMPLETO) 5

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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS; 1

RESUMO: INTRODUÇÃO: O crescimento populacional mundial, as mudanças nos hábitos de vida e consumo têm favorecido o aumento da quantidade de material reciclável no lixo da população. No Brasil não ocorreu diferente, e corroborando com esses fatos, Luis Inácio Lula da Silva assinou a Lei nº 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS). Demonstrando a necessidade de o governo adaptar-se para dar conta da crescente demanda, considerando as condições de trabalho e a saúde dos coletores de lixo. OBJETIVO: descrever a percepção, segundo o olhar dos catadores de materiais reciclados, sobre o trabalho com o resíduo sólido e saúde. MÉTODO: estudo exploratório, descritivo de abordagem qualitativa, realizada com 07 coletores de materiais recicláveis da Associação Recicle a Vida no Distrito Federal, por meio da entrevista semiestruturada. A coleta de dados foi realizada entre maio e junho de 2014. Os depoimentos foram analisados com respaldo na técnica de análise de conteúdo, na categoria de análise temática, depois da aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética seguindo a Resolução 466/2014. RESULTADOS: foi identificada a categoria “Percepção sobre a saúde”, onde percebe-se um reconhecimento, pelos trabalhadores, dos perigos há que estão expostos, sendo relatados acidentes com objetos perfurocortantes, atropelamentos, desmaios; o temor da presença de lixo hospitalar junto com o lixo comum e mesmo assim relatam que só o procuram o serviço de saúde em caso de adoecimento.CONCLUSÃO: percebe-se a importância de treinamento dos trabalhadores sobre como proceder frente ao seu trabalho, da fiscalização e cobrança por parte dos setores de saúde do trabalhador e de sindicatos, e da conscientização da população sobre como descartar e acondicionar corretamente o lixo domiciliar. PALAVRAS-CHAVE:Determinantes Sociais da Saúde; Uso de Resíduos Sólidos e Associações de Profissionais.

ORIGEM DO TRABALHO: Projeto de extensão Pare, Pense e Descarte da Universidade de Brasília.

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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS; 2

A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS

RECICLÁVEIS NO DISTRITO FEDERAL.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O crescimento populacional mundial, as mudanças nos hábitos de vida e

consumo têm favorecido o aumento da quantidade de material reciclável no lixo da

população. No Brasil não ocorreu diferente e visando minimizar a quantidade de material

descartado surgiu a reciclagem e a reutilização, isto é, formas de reaproveitar os materiais

considerados inúteis transformando-os em um produto útil para a sociedade, é entendida

como uma forma de solução para a redução de lixo descartado no meio ambiente

(DELONGUI, 2011).

Outro proposta que visa favorecer o aumento da reciclagem e da reutilização dos

resíduos sólidos, é a Lei nº 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS).O ex-

presidente do Brasil, Lula, sancionou a Política no final de 2010, dispondo sobre os

princípios, objetivos e instrumentos, bem como as diretrizes relativas à gestão integrada e

ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os perigos, às responsabilidades dos

geradores e do poder público (BRASIL, 2010).

Várias conquistas já foram alcançadas como os direitos trabalhistas consagrados

na legislação brasileira, no entanto, muito ainda há por fazer. Sabe-se da fundamental

importância do trabalho desenvolvido por esta categoria para promoção da saúde de toda a

população. Então, o governonecessita considerar as condições de trabalho e a saúde dos

coletores de lixo (GRIMBERG, 2005).

Vários estudos revelam que o trabalho dos catadores demanda grandes esforços

físicos, sem desconsiderar os riscos ocupacionais recorrentes das condições próprias que o

trabalho proporciona (BECKER, 2013).

O trabalho é precário, envolvendo longas jornadas, exposição a produtos tóxicos

decorrentes da decomposição do lixo, o manuseio de materiais cortantes entre outros.

Acidentes trabalhistas e doenças são frequentes nesse grupo (CASTILHOS JUNIOR, 2013).

De acordo com pesquisas realizadas no Brasil, encontram-se três tipos de riscos

à saúde dos coletores de lixo. Riscos químicos produzidos pelas substâncias que possam

entrar em contato com a pele; Riscos biológicos, pois estão constantemente em contato com

micro-organismos e parasitas; e Riscos físicos, que ocorrem através do contato com objetos

perfurocortantes nos sacos de lixo, além da exposição a ruídos (SANTOS; SILVA, 2009).

A coleta no Brasil, assim como no Distrito Federal, pode ser classificada em dois

sistemas: sistema especial de coleta (resíduos contaminados) e sistema de coleta de

resíduos não contaminados, elaborada de maneira convencional, onde os resíduos são

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direcionados ao seu destino final. Na coleta seletiva, os resíduos recicláveis são

encaminhados a locais adequados com o intuito de serem tratados e recuperados (CUNHA;

FILHO, 2002).

Atualmente no Distrito Federal existem quatorze cooperativas de catadores,

duas associações profissionais. O Governo Federal apoia e incentiva tais iniciativascomo

alternativa de inclusão social e econômica para catadores (SOUSA; MENDES, 2006).

Dentre as diversas cooperativas do DF, destaca-se a “100 Dimensão” por seu

projeto bem sucedido na área social e de preservação ambiental, sendo reconhecida

internacionalmente, a “Cooperativa Araucária” e o “Lixão da Estrutural”. Além destas, outra

que merece atenção é a “Recicle a Vida”, foco de estudo no trabalho, que sobrevive de

materiais recicláveis provenientes de despejos nos lixões (SOUSA; MENDES, 2006).

Em Ceilândia, região administrativa localizada a 26km de Brasília, o lixo é

também uma forma de sustento para diversas famílias. Nesse contexto econômico, surgiu a

“Associação Recicle a Vida”, que fica localizada no Setor de Indústrias da Ceilândia – DF.

Trata-se de uma associação de catadores sem fins lucrativos, objetivando promover a

inclusão social através da geração de renda com atividades sustentáveis.

Além do material coletado pelos catadores nas diversas residências locais, a

usina dessa associação recebe outros materiais da usina do “P Sul”. O lixo que chega ao

local é separado por materiais como garrafas, plásticos e papelões, sendo lavados antes de

irem para a máquina de prensa. Atualmente, a “Recicle a Vida” possuí 45 funcionários, onde

cada trabalhador tem sua função bem delimitada, recebendo o nome de agentes ambientais.

O presente trabalho teve como objetivodescrever a percepção, segundo o olhar

dos catadores de materiais reciclados, sobre o trabalho com o resíduo sólido e saúde.

Acredita-se que a partir do conhecimento da opinião dos trabalhadores, possam ser

sugeridas, desenvolvidas e implementadas estratégias de enfrentamento dessa realidade no

que refere ao foco do estudo.

Isso tornará possível a oferta de um serviço de saúde de qualidade direcionado

não apenas a população alvo principal, os coletores de materiais reciclados, como também

a todos aqueles que se encontram diretamente envolvidos no trabalho com resíduos sólidos,

tais como os varredores e garis.

Supõe-seque esse estudo é relevante e pertinente para divulgar as informações

apreendidas sobre o perfil de saúde desses atores sociais que desempenham um papel

essencial na vida dos pequenos e grandes centros urbanos. Espera-se assim ampliar o

debate sobre o tema e principalmente sensibilizar as pessoas e autoridades sobre a

importância de se refletir mais profundamente sobre o assunto.

CONSIDERAÇÕESMETODOLÓGICAS

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Estudo exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa, na cidade de Brasília

no Distrito Federal, entre abril de 2014 a junho de 2014. Trata-se da capital do Brasil, onde

recentemente foi implantada uma política voltada para o destino correto dos resíduos

sólidos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Participaram da pesquisa 07 catadores de materiais recicláveis, escolhidos

aleatoriamente e pertencentes à associação Recicle a Vida da capital nacional. Para a

seleção dos sujeitos, foram elencados os seguintes critérios de inclusão: trabalhadores da

coleta seletiva e que concordarem em assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE). Foram excluídos os profissionais que se recusarem a assinar

previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada

individualizada, as quais foram gravadas e transcritas mediante autorização prévia dos

participantes. Foram formuladas questões norteadoras que serviram para a apreensão da

realidade, a saber: qual o significado da saúde para seu trabalho? Em sua opinião, quais os

principais riscos que o seu trabalho implica na sua saúde?

Os dados empíricos produzidos neste estudo seguiram as etapas preconizadas

pelo método qualitativo de análise de conteúdo na categoria de análise temática (MINAYO,

2009).

A condução deste tipo de análise envolve passos sistemáticos, sendo eles: a

codificação dos dados; a categorização dos dados e a interação dos núcleos temáticos.

Dessa forma, a análise teve início com a leitura e releitura das entrevistas, buscando a

identificação do da percepção de saúde relacionada ao trabalho dos catadores. Assim, foi

possível identificar as categorias e integrá-las no núcleo temático.

Por se tratar de uma investigação com seres humanos, o projeto foi submetido

ao Comitê de Ética em pesquisa, como preconiza a Resolução 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, em duas vias, ficando com uma delas e a outra sob a posse do pesquisador

responsável. Com o propósito de atender princípios éticos, os sujeitos envolvidos na

pesquisa foram informados e esclarecidos sobre os seus objetivos. Na apresentação dos

resultados, utiliza-se a letra “P” para identificar o participante, seguido dos números arábicos

que representam a sequência da realização das entrevistas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os profissionais catadores de materiais recicláveis da Associação Recicle a Vida

da capital nacional, Brasília, apresentaram faixa etária variando de 18 a 45 anos de idade,

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sendo cinco do sexo masculino e duas do sexo feminino. Quanto ao estado civil, dois eram

solteiros, três casados e outros dois em relacionamentos diversos. Dos sete participantes,

quatro considerando-se de cor parda, dois brancos e um de outras raças/etnias. Em relação

a escolaridade, três possuíam ensino fundamental incompleto, um com ensino fundamental

completo, um com ensino médio incompleto e dois com ensino superior.

Ao serem questionados da renda familiar, cinco relataram ganhar menos de 2

salários mínimos e dois informaram ganhar mais de 3 salários mínimos. O tempo de serviço

como coletor de resíduos sólidos variou de 2 semanas a 17 anos, com uma jornada de

trabalho variando de 8 a 10 horas por dia, cinco pessoas declararam trabalhar 8 horas por

dia, e as outras duas declarando trabalhar entre 9 e 10 horas. Constatou-se, ainda, que

são famílias que variam de 3 a 6 membros, com uma maior prevalência na quantidade de 4

membros (43%).

A análise do conteúdo das entrevistas possibilitou o agrupamento das

percepções das participantes com relação ao seu trabalho com o resíduo sólido e saúde,

constituindo a categoria “Percepção sobre sua saúde”.

Percepção sobre a saúde

Os catadores de resíduos sólidos frequentemente mantém contato com

poeira,resíduos químicos, resíduos tóxicos, dentre outros fatores que podem vir a prejudicar

a sua saúde (ABREU, 2001).Constatou-se nas falas dos informantes que participaram deste

estudo que apesar de reconhecer a importância da saúde para o seu bom rendimento no

trabalho, poucos correlacionaram saúde como sendo ausência de doença o que dista muito

do pregado hoje principalmente no contexto da promoção da saúde e dos seus

determinantes sociais.

Quando perguntados sobre os principais riscos que o seu trabalho implica na

sua saúde, percebe-se um reconhecimento dos perigos ha que estão expostos sendo

relatadosacidentes com objetos perfurocortantes, atropelamentos, desmaiose contato com

substâncias diversas que podem causar doenças como constata-se nas falas a seguir:

Trabalhar com resíduo sólido não é fácil, tem risco sempre.(P6).

Já passei mal nas ruas, quando fui atropelado, desmaiei por umas3 horas e ninguém ajudou (P4).

Temos riscos com vidro cortante, já que a população não destaca as sacolas com vidro. (P5).

Essa realidade relatada pelos informantes de Brasília também se repetem em

outras metrópoles do país. Segundo estudorealizado por Porto et. al. (2004), sobre as

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condições de vida, trabalho e saúde em 218 catadores do Rio de Janeiro, constatou-se um

percentual de 71,7% desses trabalhadores sofreram algum tipo de acidente em seu

ambiente de trabalho. O estudo comprovou ainda que os acidentes mais comuns foram:

corte com vidro, topadas e quedas, queimaduras, atropelamento, contusões, dentre outros.

A pesquisa indica também que 72% reconhecem que existem riscos no local de trabalho,

mas somente 47,5% identificam que esses riscos podem causar danos à saúde.

Silva (2002) realizou uma pesquisa sobre a condição socioeconômica e

ambiental da atividade de catadores em Corumbá (MS), onde 88% dos catadores

queparticiparam do estudo já sofreram algum tipo de acidente de trabalho, e dentre estes,

60% não procuraram atendimento médico.

Castilhos Junior (2013) encontrou em sua pesquisa junto aos catadores de

materiais recicláveis nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, um percentual de 41,5%

de acidentes de trabalho relacionado à cortes e arranhões.

Vale destacar aqui que essas lesões podem ser pré-requisito para outros

problemas de saúde, já que a pele não íntegra permite a entrada de microrganismos

presentes no lixo, comopor exemplo a bactéria Leptospirainterrogans, agente etiológico da

leptospirose, além da possível contaminação por vírus, como os do HIV e os das Hepatites

B e C, que pode acontecer através da lesão ocasionada por agulhas contaminadas

descartadas nos resíduos (BRASIL, 2007).

Outro ponto que chamou a atenção nas falas dos informantes diz respeito ao

temor da presença de lixo hospitalar junto com o lixo comum. Alguns informantes relataram

já ter encontrado esse tipo de material quando realizavam a coleta seletiva, isto é, as

agulhas de seringas sem encape foram descartadas no lixo domiciliar.

Monte de doenças do lixo, por exemplo doenças que vem do lixo hospitalar (P2).

Lixo hospitalar veio parar aqui uma vez e uma catadora foi atingida por seringas(P5).

O estudo de Lazzari e Reis (2011), demonstra os principais riscos biológicos que

os trabalhadores coletores de lixo do município de Dourados (MG) estão expostos. Segundo

a visão dos mesmos os riscos biológicos envolvem acidentes com vidro, seringas, espinhos

e contato com substâncias do lixo. Os participantes do mesmo estudo realizado em Minas

Gerais informam que os acidentes com perfurocortantes estabelecem uma porta de entrada

para microorganismos como bactérias, vírus e fungos.

O mesmo autor afirma que agulhas contaminadas descartadas nos lixos

domiciliares podem ser o principal fator de acidentes e de contaminação com vírus, a

exemplo do HIV e Hepatites B e C.

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Com relação à busca por um serviço de saúde, os trabalhadores relatam que só

o procuram em caso de adoecimento, talvez pela longa jornada de trabalho que impede o

acesso às unidade básicas de saúde. Dessa maneira, o único serviço de saúde que eles

têm contato é o hospital, como pode ser observado nas falas a seguir.

Em caso de adoecimento a gente corre pro hospital público (P2).

Saúde é uma coisa importante, hoje tomo remédio controlado, porque teve um dia que desmaiei [...] ai fui no hospital ver o que eu tinha (P 3).

Só quando eu adoeço que procuro o hospital(P5).

Considerando os estudos de Melo Aggio et. al. (2013) os catadores fazem

associação de ausência de sintomas de doenças à saúde. Outros estudos também apontam

que essa percepção é comum entre essa classe trabalhadora, pois estes sujeitos

consideram a saúde apenas como uma condição de trabalho e não como uma condição de

sobrevivência e qualidade de vida (PORTO et. al., 2004).

Percebe-se a necessidade de oferecer a estes trabalhadores ações educativas

no sentido de proporcionar conhecimentos sobre os determinantes sociais de saúde e a

importância do autocuidado no seu dia a dia de trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente a reciclagem do material sólido esta se apresentando como nova

profissão, a qual tem atraído vários indivíduos que as vezes vivem em algumas condições

que faz o objetivo primordial ser a garantia da sua sobrevivência e de suas famílias,

ignorando possíveis riscos que são proporcionados pelo trabalho desse (ROSA; BRÊTAS ,

2005).

No Brasil, ainda não há uma política social e de saúde específica para atender

as necessidades desse grupo expressivo de trabalhadores (PORTO et. al., 2004).

Por esses fatos, percebe-se a importância de treinamento dos trabalhadores

sobre como proceder frente ao seu trabalho, da fiscalização e cobrança por parte dos

setores de saúde do trabalhador e de sindicatos, e da conscientização da população sobre

como descartar e acondicionar corretamente o lixo domiciliar.

REFERENCIAS

1. ABREU, M. F. Do lixo à cidadania: estratégias para a ação. Brasília: Caixa Econômica Federal, 2001.

2. BECKER, Karine Rodrigues et al. Análise ergonômica em empresa de triagem de metais para reciclagem: um estudo de caso. Revista CPAQV-Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida, v. 5, n. 3, 2013.

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A PERCEPÇÃO DE SAÚDE SOB A ÓTICA DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS; 8

3. BRASIL. LEI Nº 12305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências, Brasília, DF: [s.n], 2010.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Prefeitura é condenada a indenizar gari contaminado em Brusque, 2007.

5. CASTILHOS JUNIOR, Armando Borges de et al. Catadores de materiais recicláveis: análise das condições de trabalho e infraestrutura operacional no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, n. 11, p. 3115-3124, 2013.

6. CUNHA V.; FILHO J. Gerenciamento da Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos: Estruturação e Aplicação de Modelo Não-Linear de Programação por Metas. Gestão e Produção, v.9, n.2, p.143-161, 2002.

7. DE MELO AGGIO, Cristiane; ANTUNES, Juliana Gorski; DE PAULA, Tarcila Kuhn Alves. A vivência dos separadores de materiais reciclados diante de uma ótica interdisciplinar. Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul (SIIEPE – Sul), Florianópolis. Florianópolis: EGC/UFSC, 2013. [Recurso eletrônico] ISBN 978-85-61115-04, Disponível em: http://www.siiepe.ufsc.br/anais

8. DELONGUI, Lucas et al. Panorama dos resíduos da construção civil na região central do Rio Grande do Sul Constructionanddemolitionwastesituation in central regionof Rio Grande do Sul. Teoria e Prática na Engenharia Civil, n. 18, p. 71-80, 2011.

9. GRIMBERG, Elisabeth. A Política Nacional de Resíduos Sólidos: a responsabilidade das empresas ea inclusão social. Gestão de resíduos: valorização e participação. Rio Claro, SP:LPM/IGCE/UNESP, p. 11-16, 2005.

10. LAZZARI, Michelly Angelina; REIS, Cássia Barbosa. Os coletores de lixo urbano no município de Dourados (MS) e sua percepção sobre os riscos biológicos em seu processo de trabalho. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 8, p. 3437-3442, 2011.

11. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11 ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco; 2009.

12. PORTO, M. F. S; JUNCA, D. C. M.; GONÇALVES, R. S.; FILHOTE, M. I. F. Lixo, trabalho e saúde: um estudo de caso com catadores em um aterro metropolitano do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.20, n.6, p.1503-1514, 2004.

13. ROSA, A. S.; CAVICCHIOLI, M. G. S.; BRÊTAS, A. C. P. O processo saúde-doença-cuidado e a população em situação de rua. Ver. Latino-am. Enfermagem, v.13, n.4, p.576-582, 2005.

14. SANTOS, Gemmele Oliveira; SILVA, Luiz Fernando Ferreira da.Estreitando nós entre o lixo e a saúde: estudo de caso de garis e catadores da cidade de Fortaleza, Ceará. REDE-Revista Eletrônica do PRODEMA, v. 3, n. 1, 2009.

15. SILVA, A. C. G. Catadores de lixo: aspectos sócio-ambiental da atividade desenvolvida no lixão municipal de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Dissertação (Mestrado) Universidade de Brasília, 2002.

16. SOUSA, C.; MENDES, A.Viver do lixo ou no lixo? A relação entre saúde e trabalho na ocupação de catadores de material reciclável cooperativos no Distrito Federal estudo exploratório. Rev. Psicol., Florianópolis , Organ. Trab. v.6 n.2 dez, 2006.