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FOCUS – ESCOLA DE FOTOGRAFIA Módulo I Maravilhas Iluminadas Aluna: Alessandra G. Monteiro 23 de julho de 2018 Uberlândia/MG

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FOCUS – ESCOLA DE FOTOGRAFIA

Módulo I

Maravilhas Iluminadas

Aluna: Alessandra G. Monteiro

23 de julho de 2018 Uberlândia/MG

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Luz entre sombras

É noite medonha e escura, Muda como o passamento,

Uma só no firmamento Trêmula estrela fulgura.

Fala aos ecos da espessura A chorosa harpa do vento,

E num canto sonolento Entre as árvores murmura.

Noite que assombra a memória,

Noite que os medos convida Erma, triste, merencória.

No entanto... minh′alma olvida

Dor que se transforma em glória, Morte que se rompe em vida.

© MACHADO DE ASSIS In Falenas, 1870

Ortografia atualizada

Elementos intrínsecos da linguagem artística, luz e sombra, se apresentam como pilares inafastáveis na construção de inumeráveis aplicações estéticas em todas as manifestações de expressão, especialmente na fotografia. A própria definição do método não deixa dúvidas, fotografia é um processo de fixação em chapa/sensor sensível, no interior de uma câmera escura dotada de um dispositivo óptico, a imagem de objetos iluminados diante dessa câmara. Considerando que todo objeto não transparente, exposto a um foco luminoso, seja ele natural ou artificial, resulta em uma zona iluminada e na sombra projetada de si próprio, fica claro que fotografia não existe na presença absoluta da sombra ou na vista integral de luz, ela somente possível pela combinação desses dois elementos. Importante salientar que do período clássico Acadêmico, sobrevivem algumas noções didáticas, segundo as quais o quesito “luz e sombra” compõe importante capítulo da formação do artista e têm grande influência no fenômeno corpóreo-sensível-cognitivo do encontro da luz refletida na impressão dos contrastes luminosos que imprimem num primeiro momento a ilusão de tridimensionalidade da imagem, mas que em última instância sugerem sua poética. Estudos acurados de luz e sombra fizeram parte da formação artística em todos os tempos. A pintura, suporte irmão da fotografia, fonte de inspiração e de conceitos básicos de composição e iluminação, conta com exemplos fascinantes do uso desses elementos.

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Na busca pela captação das reações emocionais humanas, um dos maiores artistas do barroco italiano, Caravaggio expressou forte realismo em suas obras e os reflexos de sua própria existência, intensa e turbulenta, utilizando o um fundo em cores escuras que muitas vezes confundiam os espectadores oferendo um ar sombrio e maior dramaticidade às personalidades retratadas. O foco do artista estava em expressar o rosto e os sentimentos das pessoas como elas eram, como ele via nas ruas de Roma. Sua pintura exerce grande fascínio que muitas vezes é atraído à estranha luz que banha seus personagens, supostamente resultante de encenações noturnas, à luz de velas, em seu atelier.

Narciso

Outro ícone do mesmo estilo foi Johannes Vermeer, cuja obra é caracterizada pela luminosidade solene, mostrando seus personagens recolhidos em si mesmos, mantendo-os distantes ao criar uma atmosfera intimista e uma impressão de mistério.

Diana e suas companheiras

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Belíssimos desenhos de Leonardo, Michelangelo, Rafael, Rembrandt, muitos deles executados como preparação para telas, demonstram melhor o procedimento em chiaroscuro na pintura. Nesse contexto, eis a fundamental lição que todo fotógrafo precisa dominar, conseguir o ajustar esses elementos aos métodos tecnológicos disponíveis para sua produção estética. Iluminação, velocidade do obturador, objetivas, foco, exposição e ISO são os pilares da ciência fotográfica e funcionam de formas distintas na abundância e na ausência de luz. Na fotografia noturna, alguns fatores técnicos são determinantes para conseguir resultados mínimos. Ajustes de velocidade mais baixas, objetivas com aberturas maiores, uso de ISO coerente com os outros dois e um suporte de estabilização da câmera. Contudo, a boa fotografia noturna está longe desses limitados aspectos. Do surgimento da fotografia em que as películas possuíam uma sensibilidade tão baixa que eram necessárias horas para conseguir exposição da imagem, passando pela primeira foto noturna de animais selvagens (1906), de autoria de George Shirras, pioneiro na fotografia com recurso de iluminação artificial contínua e disparadores remotos, chegando à atual revolução das câmeras digitais com ISO tão altos que são capazes de fotografar quase em escuridão total, os desafios e possibilidades criativas que esse tipo de fotografia ainda oferece são incontáveis. O modo de longa exposição quase obrigatório na fotografia noturna, faz com que as imagens tenham certas características como borrões ou traços de luz, cores mais vivas diferentes e com maior saturação. São recursos que se somam e são talhados ao modo de cada fotógrafo.

Autor não identificado

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A variação de técnicas também é bastante ampla, batizado de Strobist pelo fotógrafo americano David Hobby, técnica muito apreciada atualmente e que consiste em usar o flash compacto fora da sapata da câmera como um flash de estúdio.

Alguns fotógrafos, inclusive, valem-se de recursos da fotografia noturna para produzir imagens fabulosas à luz do dia, como o paranaense Luiz Braga, no ensaio Nightvisions, que inspirado na aplicação militar da radiação infravermelha da Guerra do Golfo, criou imagens esverdeadas e subverteu a cor.

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Interessante aplicação de possibilidades está o ensaio Lux Noctis, do criativo fotógrafo Reuben Who, também americano, que usando drones guiados por GPS e potentes painéis de LED para iluminar grandes paisagens. Empreendeu cuidadoso estudo das possibilidades de enquadramento e diferentes ângulos de iluminação produzindo um clima dramáticos e tenso ao usar o balanço de claro e escuro da paisagem para isolar os elementos da cena escolhidos.

Em seu vazio pleno de possibilidades, a fotografia noturna incorpora nuances e declara expressamente diferenças inafastáveis da fotografia diurna, esta última identifica na luz as sombras, a primeira cumpre a missão de resgatar das sombras a luz. Para o artista britânico David Hockney, a capacidade de observar e reproduzir gradações luminosas, em conjunto com a capacidade de reprodução formal, trazem para o artista um “conhecimento secreto”, uma base sólida para a “genialidade”.