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2018

2ª ediçãoRevista, ampliada e atualizada

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Paulo Lépore

1. CONSTITUIÇÃO. CONCEITO. CLASSIFICAÇÃO. APLICABILI-DADE E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO.

(Cespe – Analista de Controle – Área Jurídica – TCE – PR/2016) Assinale a opção correta no que concerne às classificações das constituições.

A) As Constituições cesaristas são elaboradas com base em determinados princípios e ideais dominantes em período determinado da história.

B) Constituição escrita é aquela cujas normas estão efetivamente positivadas pelo legislador em documento solene, sejam leis esparsas contendo normas materialmente constitucionais, seja uma compilação que consolide, em um só diploma, os dispositivos alusivos à separação de poderes e aos direitos e garantias fundamentais.

C) A classificação ontológica das Constituições põe em confronto as pretensões normativas da Carta e a realidade do processo de poder, sendo classificada como nominativa, nesse contexto, a Constituição que, embora pretenda dirigir o processo político, não o faça efetivamente.

D) As Constituições classificadas como populares ou democráticas são materiali-zadas com o tempo, com o arranjo e a harmonização de ideais e teorias outrora contrastantes.

E) As Constituições semânticas possuem força normativa efetiva, regendo os processos políticos e limitando o exercício do poder.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor: classificação das constituições é matéria cobrada com muita frequência em concursos públicos.

Alternativa correta: letra “c”: a constituição, quanto ao valor ou ontologia (Karl Loewestein), pode ser assim classificada: a) Normativa: dotada de valor jurídico legítimo; b) Nominal: sem valor jurídico; com papel eminentemente social; c) Semântica: tem importância jurídica, mas não valoração legítima, pois é criada

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Questões Comentadas de Direito Administrativo e Direito Constitucional – CESPE 10

apenas para justificar o exercício de um Poder não democrático. São meros simu-lacros de Constituição. Portanto, correto dizer que a classificação ontológica das Constituições põe em confronto as pretensões normativas da Carta e a realidade do processo de poder, sendo classificada como nominativa (ou nominal), nesse contexto, a Constituição que, embora pretenda dirigir o processo político, não o faça efetivamente, eis que não possui valor jurídico.

Alternativa “a”: Constituição Cesarista, Bonapartista, Plebiscitária ou Referen-dária é aquela criada por um ditador ou imperador e posteriormente submetida à aprovação popular por plebiscito ou referendo.

Alternativa “b”: quanto à forma, uma constituição classifica-se como escrita quando formada por um texto. Será Escrita Legal (Paulo Bonavides) quando formada por texto oriundo de documentos esparsos ou fragmentados e Escrita Codificada (Paulo Bonavides) quando formada por texto inscrito em documento único. No entanto, não é correto afirmar que a constituição escrita consagra apenas normas materialmente constitucionais, pois pode ser composta de normas apenas formalmente constitucionais.

Alternativa “d”: constituição Democrática, Promulgada ou Popular é aquela elaborada por legítimos representantes do povo, normalmente organizados em torno de uma Assembleia Constituinte.

Alternativa “e”: a constituição, quanto ao valor ou ontologia (Karl Loewestein), pode ser assim classificada: a) Normativa: dotada de valor jurídico legítimo; b) Nominal: sem valor jurídico; com papel eminentemente social; c) Semântica: tem importância jurídica, mas não valoração legítima, pois é criada apenas para justificar o exercício de um Poder não democrático. São meros simulacros de Constituição. Desse modo, as Constituições Semânticas não possuem força normativa efetiva, não regem os processos políticos e não limitam o exercício do poder.

(Cespe – Analista de Controle – Área Jurídica – TCE – PR/2016) Assinale a opção correta acerca da interpretação constitucional.

A) Como as Constituições regulam direitos e garantias fundamentais e o exercício do poder, deve-se priorizar o emprego de linguagem técnica em seu texto, restringindo-se a sofisticada atividade interpretativa às instâncias oficiais.

B) A interpretação constitucional deve priorizar o espírito da norma interpretada em detrimento de expressões supérfluas ou vazias; por isso, a atividade do intér-prete consiste em extrair o núcleo essencial do comando constitucional, ainda que isso implique desconsiderar palavras, dispositivos ou expressões literais.

C) Sendo a Constituição impregnada de valores, sua interpretação é norteada essencialmente por diretrizes políticas, em detrimento de cânones jurídicos.

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D) Na interpretação da Constituição, prepondera a teleologia, de modo que a ati-vidade do hermeneuta deve priorizar a finalidade ambicionada pela norma; o texto da lei, nesse caso, não limita a interpretação nem lhe serve de parâmetro.

E) O caráter aberto e vago de muitas das disposições constitucionais favorece uma interpretação atualizadora e evolutiva, capaz de produzir, por vezes, uma mutação constitucional informal ou não textual.

COMENTÁRIOS

Alternativa correta: letra “e”: o caráter aberto e vago de muitas das disposições constitucionais favorece uma interpretação atualizada e evolutiva, uma vez que não restringe demasiadamente o sentido da norma, possibilitando eventuais mudanças e adaptações interpretativas, e viabilizando a adequação da norma ao contexto his-tórico, social e jurídico. Desse modo, abre-se espaço para a mutação constitucional, que é um processo não formal de mudança da Constituição em que o texto cons-titucional permanece inalterado, modificando-se apenas o significado e o sentido interpretativo de determinada norma constitucional. Neste ponto, calha destacar as lições de Dirley da Cunha Júnior: “Numa perspectiva jurídica, compreende-se a Constituição como um conjunto de normas jurídicas suficientes aptas para regular todos os fenômenos da vida política e social. Mas a Constituição não é um conjunto fechado de normas, nem as suas normas revelam-se apenas sob a forma de regras. Ora, se a Constituição, como examinado no capítulo anterior, deve interagir com a realidade político-social de onde ela provém, é mais do que natural que as normas que a compõem devem estar abertas aos acontecimentos sociais para acompanhar a sua evolução e adaptar-se às transformações emergentes da sociedade. Mas essa desejada abertura das normas constitucionais somente é possível quando, entre as normas da Constituição, algumas delas expressem-se sob a forma de princípios. [...]. Isto significa afirma que uma Constituição é composta por regras e princípios de diferentes graus de densidade normativa (concretização), articulados de maneira tal que, juntos, formam uma unidade material (unidade da Constituição). Conse-quentemente, para compreender uma Constituição e as ideia sque ela exprime, é imperioso que o intérprete se valha desta unidade constitucional e entenda como as regras e os princípios constitucionais se encontram articulados.” (Curso de direito constitucional. 10. Ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 130).

Alternativa “a”: como as Constituições regulam direitos e garantias fundamentais e o exercício do poder, deve-se priorizar o emprego de linguagem clara. Neste ponto, importante destacar a concepção aberta da constituição (Peter Haberle – 1975), prega uma Constituição interpretada por todo o povo em qualquer espaço e, não apenas, pelos juristas, no bojo dos processos. Segundo destaca Pedro Lenza, “propõe Häberle que se supere o modelo de interpretação de uma sociedade fechada (nas mãos de juízes e em procedimentos formalizados) para a ideia de uma sociedade aberta dos intérpretes da Constituição, vale dizer, uma interpretação pluralista e democrática. Ao afirmar que a interpretação não mais deve ficar confinada dentro

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de uma sociedade fechada, Häberle propõe a ideia de que a interpretação não possa ficar restrita aos órgãos estatais, mas que deve ser aberta para todos os que ‘vivem’ a norma (a Constituição), sendo, assim, esses destinatários, legítimos intérpretes, em um interessante processo de revisão da metodologia jurídica tradicional de interpretação” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 141)

Alternativa “b”: na interpretação da norma constitucional, não se deve des-considerar palavras, dispositivos ou expressões, já que a Constituição não trata de expressões ou palavras inúteis.

Alternativa “c”: a Constituição deve ser norteada, em sua interpretação, por diretrizes jurídicas.

Alternativa “d”: na interpretação da norma, o texto da lei limita a interpretação, servindo de parâmetro. Caso contrário, a interpretação seria ilimitada e vaga. Desse modo, o texto da norma estabelece os limites para a interpretação.

(Cespe – Defensor Público – RN/2015) A respeito de constitucionalização simbó-lica, de hermenêutica e de interpretação constitucional, assinale a opção correta.

A) Os conceitos jurídicos indeterminados são expressões de sentido fluido, que podem ser encontradas na Constituição, destinadas a lidar com situações nas quais o constituinte não pôde ou não quis, no relato abstrato do enunciado normativo, especificar de forma detalhada suas hipóteses de incidência. Assim, a atribuição de sentido a essas cláusulas abertas deve dar-se mediante valoração concreta dos elementos da realidade, a partir de um juízo discricionário.

B) Da relação entre texto constitucional e realidade constitucional, tem-se, como reflexo da constitucionalização simbólica em sentido negativo, uma ausência generalizada de orientação das expectativas normativas conforme as determi-nações dos dispositivos da Constituição.

C) Como forma básica de manifestação da constitucionalização simbólica, tem-se a constitucionalização-álibi, caracterizada pela presença de dispositivos cons-titucionais que, sem relevância normativo-jurídica, confirmam as crenças e o modus vivendi de determinados grupos.

D) A hermenêutica filosófica de matriz gadameriana assemelha-se à hermenêutica clássica, na medida em que trabalha com a atribuição de sentido às normas.

E) Casos difíceis são aqueles que não têm uma solução abstratamente prevista e pronta na Constituição, devendo o intérprete, para tanto, valer-se da subsunção.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor: a questão possui alto grau de dificuldade, abordando aspectos teóricos acerca do direito constitucional.

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Alternativa correta: letra “b”: Constituição Simbólica (Marcelo Neves – 1994) é aquela que traz uma grande enunciação de direitos e valores sociais que não passam de álibis ou argumentos dilatórios frente à falta de efetividade prática do que se preceitua. A Constitucionalização simbólica possui um sentido negativo e um positivo. “Negativamente, o texto constitucional ‘não é suficientemente concretizado normativo-juridicamente de forma generalizada’. Positivamente, ‘a atividade constituinte e a linguagem constitucional desempenham um relevante papel político-ideológico’, servindo para encobrir problemas sociais e obstruindo as transformações efetivas da sociedade.” (LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 14. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 74).

Alternativa “a”: segundo ensina Daniel Amorim Assumpção Neves, “A norma costuma ser composta de duas partes: a situação fática e o efeito jurídico. Normas fechadas são aquelas em que essas duas partes já são definidas pelo legislador, cabendo ao juiz apenas identificar a situação fática descrita na norma e aplicar seus efeitos jurídicos ao caso concreto. [...]. Quando o legislador fixa no conteúdo da norma a situação fática mas deixa a consequência jurídica em aberto, para ser definida pelo juiz no caso concreto, tem-se o conceito jurídico indeterminado. [...]. Nas cláusulas gerais o legislador prevê uma situação fática vaga e um efeito jurídico indeterminado, de forma que nesse caso o grau de indefinição é ainda maior do que no conceito jurídico indeterminado, porque nesse caso, além de ser vaga sua hipótese de incidência, é indeterminado seu efeito jurídico.” (Manual de direito processual civil: volume único. 8. Ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 127).

Alternativa “c”: segundo Pedro Lenza, “Diante de certa insatisfação da socie-dade, a legislação-álibi aparece como uma resposta pronta e rápida do governo e do Estado. Busca a legislação-álibi dar uma aparente solução para problemas da sociedade, mesmo que mascarando a realidade. [...] tem o ‘poder’ de introduzir um sentimento de ‘bem-estar’ na sociedade, solucionando tensões e servindo à ‘lealdade das massas’.” (Direito constitucional esquematizado. 14. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 72).

Alternativa “d”: a hermenêutica filosófica de matriz gadameriana não se assemelha à hermenêutica clássica. Vale colacionar a precisa e clara explicação de Flávio Quinaud Pedron: “Cabe destacar desde já que, diferentemente de Alexy, Dworkin desenvolve sua teoria levando em conta o giro hermenêutico empreendido por Heidegger e Gadamer, que irá adotar uma postura de ruptura com as posições objetivistas de Schleiermacher e Dilthey, radicalizando a experiência hermenêutica e apoiando-se principalmente no modo de ser do Dasein (do ser-aí) heideggeriano. Desta forma, a Hermenêutica Filosófica entende que “a compreensão humana se orienta a partir de uma pré-compreensão que emerge da eventual situação existencial e que demarca o enquadramento temático e o limite de validade de cada tentativa de interpretação” (GRONDIN, 1999:159). Os reflexos da percepção da tal “consciência histórica”, podem ser sentidos no pensamento de Dworkin, como lembra Menelick de Carvalho Netto: “Para ele, a unicidade e a irrepetibilidade que caracterizam todos os eventos históricos, ou seja, também qualquer caso concreto

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sobre o qual se pretenda tutela jurisdicional, exigem do juiz hercúleo esforço no sentido de encontrar no ordenamento considerado em sua inteireza a única decisão correta para este caso específico irrepetível por definição” (Algumas considerações sobre a interpretação de Robert Alexy sobre a tese da única resposta correta de Ronald Dworkin. Disponível em: www.ambito-juridico.com.br) Assim, o giro her-menêutico de Heidegger e Gadamer não defende, mas sim propõe uma ruptura com os métodos objetivantes. Portanto, reconhece-se que cada caso concreto é único, exigindo, portanto, atenção especial do julgador. Lado outro, o Método Jurídico ou Hermenêutico Clássico (Ernest Forsthoff) parte de uma Tese da Identidade que existiria entre a Constituição e as demais leis, ou seja, se a constituição é uma lei, não há porque criar-se um método específico para interpretá-la. Ele se vale basicamente dos seguintes elementos: a) genético (origem do ato); b) gramatical ou filológico (análise textual e literal); c) histórico (momento e contexto de criação do ato); d) lógico (não contradição); e) sistemático (análise do todo ou conjunto); f) teleológico (finalidade social do ato).

Alternativa “e”: quanto a interpretação constitucional, em casos difíceis (hard cases), é apontado o Método Tópico-problemático (Theodor Viehweg) que atua sobre as aporias (aporia: dificuldade de escolher entre duas opiniões contrárias e igualmente racionais sobre um dado problema). Topos que no plural são os topoi representam formas de pensamento, raciocínios, argumentações, pontos de vista ou lugares comuns. Os topoi são retirados da jurisprudência, da doutrina, dos princípios gerais de direito e até mesmo do senso comum. Trata-se de uma teoria de argumentação jurídica em torno do problema. A partir do problema expõem-se os argumentos favoráveis e contrários e consagra-se como vencedor aquele capaz de convencer o maior número de interlocutores.

(Cespe – Defensor Público – RN/2015) A respeito da classificação e das con-cepções de Constituição, do conteúdo do direito constitucional e das normas constitucionais, assinale a opção correta.

A) Consoante Hans Kelsen, a concepção jurídica de Constituição a concebe como a norma por meio da qual é regulada a produção das normas jurídicas gerais, podendo ser produzida, inclusive, pelo direito consuetudinário.

B) No que tange ao conteúdo do direito constitucional e a seus aspectos multiface-tários, denomina-se direito constitucional comunitário o conjunto de normas e princípios que disciplinam as relações entre os preceitos de Estados estrangeiros e as normas constitucionais de determinado país.

C) As Constituições rígidas, também denominadas Constituições fixas, são aquelas que só podem ser modificadas por um poder de competência idêntico àquele que as criou.

D) O preâmbulo da CF possui caráter dispositivo.

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E) De acordo com a concepção de Constituição trazida por Konrad Hesse, a força condicionante da realidade e a normatividade da Constituição são independentes. Nesse sentido, a Constituição real e a Constituição jurídica devem apresentar-se de forma autônoma.

COMENTÁRIOS

Nota do Autor: a questão possui alto nível de dificuldade, abordando aspectos teóricos do Direito Constitucional

Alternativa correta: letra “a”: a Constituição Jurídica (Hans Kelsen – 1934) é aquela que se constitui em norma hipotética fundamental pura, que traz fundamen-to transcendental para sua própria existência (sentido lógico-jurídico), e que, por se constituir no conjunto de normas com mais alto grau de validade, deve servir de pressuposto para a criação das demais normas que compõem o ordenamento jurídico (sentido jurídico-positivo).

Alternativa “b”: nos termos da doutrina, “Direito Constitucional Comunitário é o subsistema normativo integrante de uma realidade maior: o Direito Comunitário. [...]. O Direito Comunitário é um tertium genus que se situa entre o Direito Interno e o Direito Internacional. Lida com um conjunto de normas supranacionais, as quais consignam disposições comuns aos Estados membros da associação. Emanam de fontes próprias, que não se confundem com aquelas que produzem o Direito Interno e o Internacional, a exemplo dos Parlamentos e dos governos locais. Nesse sentido, lembre-se dos tratados de integração, como o de Maastricht, na Europa, e mesmo o de Assunção, na América do Sul, embora eles ainda estejam em fase de consolidação de suas instituições. Esses tratados são verdadeiras cartas constitu-cionais - aquilo que a doutrina chama de tratados-quadro. Inserem-se, nesse bojo, as resoluções e diretrizes partidas dos órgãos comunitários, vinculando Estados, as pessoas jurídicas públicas e privadas, bem como os particulares. O Direito Cons-titucional Comunitário é, assim, um apêndice do próprio Direito Comunitário. Está presente nas constituições de diversos países, as quais, para acompanhar as exigências da modernidade, consagram certas disposições, a exemplo do parágrafo único do art. 4º e do § 2º do art. 5º da Carta brasileira em vigor. Nesse ínterim, toma de empréstimo os princípios gerais do Direito, a exemplo do pacta sunt servanda, do suum cuique tribuere, do ne bis in idem, do nemo jus ignorare censetur, dos vetores da paz, da unidade, da isonomia, da liberdade, da subsidiariedade, da solidariedade, da segurança, da razoabilidade etc. O Direito Constitucional Comu-nitário, em início de formação, é o que de mais avançado existe no panorama do constitucionalismo de nosso tempo, fomentando o ideal de se instituir um poder constituinte originário supranacional, apto a criar uma constituição comum para os blocos de países, a exemplo dos megablocos econômicos da União Europeia. [...]. Dentre outras metas, propõe: • rediscutir o papel das constituições contemporâneas à luz do advento das leis supranacionais; e • criar uma constituição comum para

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os blocos de países, com normas vinculatórias, e não simples exortações de cunho moral aos governantes.” (BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 62-63).

Alternativa “c”: constituição rígida não se confunde com constituição fixa. A Constituição Rígida é aquela em que o processo para a alteração de qualquer de suas normas é mais difícil do que o utilizado para criar leis. Já a Constituição Fixa só pode ser alteração pelo Poder Constituinte Originário, “circunstância que implica, não em alteração, mas em elaboração, propriamente, de uma nova ordem constitucional” (CUNHA JÙNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 122-123).

Alternativa “d”: o preâmbulo é o texto introdutório da Constituição e não está disposta em um dispositivo (artigo, parágrafo, inciso, alínea). Segundo posição exarada pelo STF no bojo da ADI 2076, julgada em 2002, o Preâmbulo da Cons-tituição da República não tem força normativa, figurando como mero vetor interpretativo. Em seu voto, Celso de Mello sustentou que o Preâmbulo não se situa no âmbito do direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte. Ademais, ele conteria proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na Constituição Federal. Quanto à natureza jurídica do Pre-âmbulo, a posição do STF filia-se à Tese da Irrelevância Jurídica, afastando-se da Tese da Plena Eficácia (que defende ter o Preâmbulo a mesma eficácia das normas que consta da parte articulada da CF) e da Tese da Relevância Jurídica Indireta (para a qual o Preâmbulo é parte da Constituição, mas não é dotado das mesmas características normativas da parte articulada). Por essa razão, também não serve de parâmetro para controle de constitucionalidade. Esse posicionamento do STF serviu para definir que a invocação à proteção de Deus, constante do Preâmbulo da Constituição da República vigente, somente denota inspiração do constituinte, não violando a liberdade religiosa que permeia o Estado brasileiro.

Alternativa “e”: Konrad Hesse defende a Constituição como uma ordem ma-terial e aberta da Comunidade. Segundo explica Uadi Lammêgo Bulos: “As cons-tituições servem para criar os fundamentos e normatizar os princípios diretores da unidade política do Estado. Nesse ínterim, regulam o processo de solução de conflitos da comunidade e as relações sociais historicamente cambiantes. Sendo o contexto histórico que pretendem ordenar, possuem um conteúdo adaptado às necessidades do tempo em que foram concebidas. Por isso, as constituições são incompletas e imperfeitas. Instituem uma ordem jurídica fundamental, material e aberta da comunidade. Daí o conteúdo vago e indeterminado de seus preceitos. Mas isso não significa que elas se esfacelem perante a dinâmica da vida, já que equivalem a uma ordem material e aberta. Essas ideias, hauridas do espírito arguto de Konrad Hesse, granjearam notório respeito entre os nomes mais expressivos da juspublicística mundial. E faz sentido, pois é indubitável que a função de um texto constitucional escrito é racionalizar, estabilizar e garantir o exercício das liberdades, ao mesmo tempo que erige critérios para limitar as mazelas do processo político. Disso exsurge a força normativa da constituição que, ao atuar diretamente na rea-

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lidade histórica, pretende atribuir ao texto supremo efetividade ou eficácia social (Konrad Hesse, Grundzüge des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland, p. 1 8).” (BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 109).

(Cespe – Procurador do MP junto ao TCU/2015) Acerca das Constituições e das normas constitucionais, assinale a opção correta.

A) O uso da analogia em matéria constitucional pode ser visto como uma imposição do princípio da isonomia.

B) Por ser uma Constituição analítica, a CF não admite lacuna de nenhuma espécie.C) Por não ser dotado de caráter normativo, o preâmbulo da CF não pode ser

utilizado pelo aplicador como vetor de interpretação.D) Entende-se por “silêncio eloquente” da Constituição um lapso do legislador

constituinte que, pretendendo deliberadamente contemplar determinada hipó-tese de fato, acabe omitindo, por desaviso, a respectiva norma disciplinadora.

E) Em modelos de Constituição formal e rígida como o da brasileira, é inadequado falar-se em normas constitucionais implícitas.

COMENTÁRIOS

Alternativa correta: letra “a”: o uso da analogia em matéria constitucional pode ser visto como uma imposição do princípio da isonomia.

Alternativa “b”: de fato a CF de 1988 é classificada como analítica, pois vai além dos princípios básicos, trazendo detalhamento também de outros assuntos. No entanto, é possível que haja lacunas, já que impossível a previsão abstrata de todas as situações possíveis.

Alternativa “c”: o preâmbulo é o texto introdutório da Constituição. Segundo posição exarada pelo STF no bojo da ADI 2076, julgada em 2002, o Preâmbulo da Constituição da República não tem força normativa, figurando como mero vetor interpretativo. Em seu voto, Celso de Mello sustentou que o Preâmbulo não se situa no âmbito do direito, mas no domínio da política, refletindo posição ideológica do constituinte. Ademais, ele conteria proclamação ou exortação no sentido dos princípios inscritos na Constituição Federal. Quanto à natureza jurídica do Pre-âmbulo, a posição do STF filia-se à Tese da Irrelevância Jurídica, afastando-se da Tese da Plena Eficácia (que defende ter o Preâmbulo a mesma eficácia das normas que consta da parte articulada da CF) e da Tese da Relevância Jurídica Indireta (para a qual o Preâmbulo é parte da Constituição, mas não é dotado das mesmas características normativas da parte articulada). Por essa razão, também não serve de parâmetro para controle de constitucionalidade. Esse posicionamento do STF serviu para definir que a invocação à proteção de Deus, constante do Preâmbulo

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da Constituição da República vigente, somente denota inspiração do constituinte, não violando a liberdade religiosa que permeia o Estado brasileiro.

Alternativa “d”: entende-se por “silêncio eloquente” da Constituição um lapso proposital do legislador constituinte. Ou seja, deliberadamente deixa de contemplar determinada hipótese de fato.

Alternativa “e”: ainda que em modelos de Constituição formal e rígida como o da brasileira, é existem normas constitucionais implícitas.

(Cespe – Advogado da União – 2015) Com relação a constitucionalismo, clas-sificação e histórico das Constituições brasileiras, julgue o item que se segue.

Constituições promulgadas — a exemplo das Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988 — originam-se de um órgão constituinte composto de representantes do povo que são eleitos para o fim de as elaborar e estabe-lecer, ao passo que Constituições outorgadas — a exemplo das Constituições brasileiras de 1824, 1937 e 1967 — são impostas de forma unilateral, sem que haja participação do povo.

COMENTÁRIOS

Nota do autor: para facilitar a memorização acerca de quais constituições brasi-leiras são outorgadas e quais são promulgadas, lembrem-se que são promulgadas a de 1891 e as restantes pares. São outorgadas a de 1824 e as restantes ímpares.

Certo. Constituição promulgada, democrática ou popular é aquela elaborada por legítimos representantes do povo, normalmente organizados em torno de uma Assembleia Constituinte. Foram constituições promulgadas no Brasil as de 1891, 1934, 1946 e 1988. Já constituição outorgada é aquela elaborada sem a presença de legítimos representantes do povo, imposta pela vontade de um poder absolutista ou totalitário, não democrático. No Brasil, tivemos constituições outorgadas em 1824, 1937 e 1967.

No neoconstitucionalismo, passou-se da supremacia da lei à supremacia da Constituição, com ênfase na força normativa do texto constitucional e na con-cretização das normas constitucionais.

COMENTÁRIOS

Certo. O neoconstitucionalismo prega a importância destacada da moral e dos valores sociais, garantidos predominantemente por meio de princípios. Não se con-forma com as normas programáticas e as constituições dirigentes, afirmando que as Constituições devem ser dotadas de força normativa. Para conferir normatividade