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Alessandra Mello O deputado estadual Pedro Ivo Ferreira Caminha, o

Pinduca (PP-MG), não desistiu de assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas, no dia 1º, quando serão empossados os parlamentares eleitos em outubro. Mesmo tendo o registro de sua candidatura negado pelo Tribunal Re-gional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e também pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que confirmou a decisão da Justiça mineira após recurso protocolado pela defesa de Pinduca, o deputado entrou com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar anular a decisão.

No dia 20, ele apresentou uma ação cautelar pedindo que os votos recebidos por ele nas eleições de outubro sejam computados e ele seja empossado junto com os deputados que já foram diplomados.

Em 13 de janeiro, o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, havia indeferido pedido de liminar em outra ação cautelar no mesmo sentido, ajuizada pelo PP. O deputado quer garantir uma cadeira na Assembleia até que o STF de-cida sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa. São inúmeros os questionamentos que tramitam na corte a respeito da apli-cação dessa lei.

Se não tivesse tido seu registro cassado, Pinduca estaria na lista dos deputados mais bem votados do estado, sendo o

primeiro de sua legenda. Mesmo com o registro negado, seu nome foi incluído na urna eletrônica e ele recebeu 61,3 mil votos, o que garantiria a ele a 15ª posição entre os eleitos no pleito de outubro. Segundo o TRE-MG, na data da eleição ainda não havia decisão final da Justiça sobre a possibilidade ou não de ele concorrer e por prevenção seu nome constou das urnas de votação. Caso ele tivesse obtido sucesso na Jus-tiça, os votos teriam sido computados. A reportagem tentou falar por telefone com o deputado e seu advogado, Francisco Galvão de Carvalho, para comentar o recurso, mas não con-seguiu localizá-los. No gabinete do parlamentar, que exer-ceu seu terceiro mandato consecutivo, ninguém atendeu os telefonemas.

BARRADO A candidatura de Pinduca foi impugnada a pedido do

Ministério Público Eleitoral (MPE) com base na Lei da Ficha Limpa por causa de uma condenação de 2008. Ele foi condenado, com seu filho, o vereador de Betim, na Grande BH, Leonardo Pinduca (PP), por abuso de poder econômico e político em ação movida pelo MPE, por causa de festas para a população da cidade, com distribuição de comida e bebida. Ele também foi condenado por causa da frota de am-bulâncias que usava para transportar doentes.

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Thobias Almeida A reformulação do Mercado Distrital do Cruzeiro,

no bairro de mesmo nome, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, promete acirrar os ânimos entre moradores e a prefeitura da capital. A Associação dos Cidadãos do Bairro Cruzeiro (Amoreiro) entende que a modernização significa, na prática, a extinção do tradicional mercado, pois a pro-posta visa erguer no espaço de 15 mil metros quadrados um megaempreendimento que incluiria um centro gastronômi-co, dois hotéis, um shopping e um estacionamento para 2 mil carros. O maior temor dos vizinhos, que afirmam não ter sido consultados sobre as mudanças, se refere a transtornos que vão desde o caos no trânsito até a perda das característi-cas residenciais do bairro. Para defender seu ponto de vista, a comunidade informa que a principal arma será a conscien-tização e uma mobilizarão.

“Nosso mercado distrital tem o porte adequado para o tamanho do bairro. O Cruzeiro não suportará esse movi-mento”, alega a presidente da Amoreiro, Patrícia Caristo. Ela aponta outros pontos vulneráveis, como a rede de esgoto que atende a área, insuficiente para a magnitude da proposta apresentada pelo consórcio candidato a construir o moderno complexo. Além do mercado, o projeto engloba as áreas do Parque Municipal Amílcar Martins e o Campus Universitá-rio da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec), todos de propriedade da prefeitura.

A relutância dos moradores do Cruzeiro se baseia na

própria experiência. Segundo Patrícia, o impacto negativo causado pela universidade, instalada na localidade há mais de quatro décadas, é enorme, principalmente nas questões de mobilidade. “Nos horários de entrada e saída de alunos, todos os acessos para o bairro ficam impedidos. Se alguém tiver uma emergência de saúde, morre”, argumenta a presi-dente. A universidade é uma das integrantes do consórcio que planeja investir R$ 200 milhões para levantar o moder-no complexo comercial.

Os habitantes do Cruzeiro planejam fazer audiências públicas, buscar apoio de políticos de expressão e promover manifestações para expor o problema e barrar as intenções do consórcio e da prefeitura.

Segundo a prefeitura, a justificativa da iniciativa está no procedimento de manifestação de interesse (PMI), pu-blicado em junho de 2010, que buscou receber estudos so-bre a revitalização dos imóveis. Apenas um levantamento de grande porte foi entregue, o do Consórcio que envolve a Fumec e duas construtoras. No documento, a administração municipal diz que a proposta visa harmonizar os três imóveis envolvidos. A prefeitura expõe no PMI que o centro gastro-nômico renovará o mercado, que haverá uma recuperação do Parque Amílcar Martins e que parte do estacionamento será destinado à Fumec, para amenizar os problemas ligados ao tráfego de veículos. A previsão é de que seja lançado no primeiro semestre de 2011 um edital para exploração pela iniciativa privada das áreas envolvidos na proposta.

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LEI FICHA LIMpA

Desespero na reta final

Bairro Cruzeiro

Polêmica cerca empreendimento

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O TEMpO - p. 6 - 26.01.2011

Eduardo KattahA 9.ª Vara Criminal de Belo

Horizonte inicia hoje, com o de-poimento de testemunhas de acusa-ção, a fase de instrução do processo contra os acusados no inquérito do chamado mensalão mineiro, supos-to esquema de desvio de recursos públicos durante a campanha à re-eleição do então governador de Mi-nas, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998.

Ontem, a juíza Neide da Silva Martins indeferiu uma manobra de última hora da defesa de Marcos Valério Fernandes de Souza, que solicitou o adiamento da audiência e que o processo fosse remetido para o Supremo Tribunal Federal, já que um dos réus, Clésio Andrade (PR), passou a gozar de foro privilegiado ao assumir uma cadeira no Sena-do após a morte de Eliseu Resende (DEM), de quem era suplente.

Integrantes do Ministério Pú-

blico Estadual confirmaram ao Es-tado que será requerida a exclusão de Clésio do processo que corre na primeira instância, caso a medida não seja determinada pela própria juíza.

Processo. Por possuir foro pri-vilegiado, a ação penal contra Aze-redo foi aberta no STF. Em maio de 2009, o relator, ministro Joaquim Barbosa, ordenou o desmembra-mento do processo, determinando que todos, exceto Azeredo, respon-dessem aos crimes na Justiça Fe-deral, que, por sua vez, remeteu os autos para a Justiça Estadual.

A denúncia apresentada pelo então procurador-geral da Repú-blica, Antonio Fernando Souza, e ratificada pelo Ministério Público Estadual, foi recebida em fevereiro do ano passado. O ex-procurador apontou desvio de pelo menos R$ 3,5 milhões dos cofres do Estado para a campanha à reeleição, por

meio da “retirada criminosa” de re-cursos públicos das estatais Com-panhia de Saneamento (Copasa), Companhia Mineradora (Comig) - atual Codemig - e Banco do Es-tado de Minas Gerais. Na acusação formal, o Ministério Público Fe-deral diz que o “repasse indevido de dinheiro público” ocorreu sob o “manto formal” de patrocínios a eventos esportivos.

Falha manobra de Valério para adiar julgamento

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Por Renato MarcãoPassado mais de um quarto de século de vigência da Lei de

Execução Penal (Lei 7.210, de 11 de julho de 1984), e mais de 20 anos da Constituição Federal, a proclamada “Constituição Cida-dã” (5 de outubro de 1988), ainda nos encontramos às voltas com velhos dilemas relacionados com a prática da execução das penas criminais, o que nos remete às profundas inquietações de Cesare Bonesana, o marquês de Beccaria, no tocante ao sistema de pena e execucional vigente a seu tempo (há mais de 200 anos), conforme levado a conhecimento público em sua admirada obra intitulada Dei delitti e delle Pene.

É inegável que “os tempos são outros” desde a insurgência de Beccaria, tanto quanto é inegável que a sociedade atual conhece e reclama a vigência de um sistema penal cercado de garantias que interessam ao cidadão e à sobrevivência democrática da própria sociedade moderna.

Muito embora se possa dizer que, a contar das ideias ilumi-nistas, o ordenamento jurídico brasileiro tem avançado em direção ao ideal humanístico, a realidade prática é de todos conhecida, tan-to quanto os efeitos deletérios que de tal estado de coisas decorre.

A prática execucional brasileira demonstra o reincidente e impune desrespeito às garantias constitucionais incidentes, bem como a constante afronta aos dispositivos da Lei de Execução Penal (LEP), sem que inúmeras autoridades incumbidas do dever constitucional de fiscalizar, buscar e dizer o direito adotem as pro-vidências que também estão explícitas no ordenamento jurídico vigente e que, portanto, são de conhecimento presumido e exigên-cia imperiosa.

A letargia de muitos tem contribuído para as estatísticas la-mentáveis e tudo isso impunemente. Não é outra a pretensão das singelas observações que seguem, senão consignar algumas das situações inaceitáveis verificadas na realidade execucional brasi-leira.

Nos precisos termos do artigo 1º da LEP, a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internato.

Em síntese, a pretensão da lei é “punir” e “humanizar”, e na busca de tal desiderato, ao condenado e ao internado devem ser assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei, conforme determina o artigo 3º da LEP.

Compete ao juiz da execução, dentre outras atribuições lista-das no artigo 66 da LEP: “zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança (inciso VI); inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o adequa-do funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidades (inciso VII); interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em condições ina-dequadas ou com infringência aos dispositivos desta lei (inciso VIII)”.

Tais atividades de sua competência devem ser exercitadas ex officio, independentemente de provocação de quem quer que seja, especialmente com vistas à preservação dos direitos e garantias fundamentais alcançados com a execução de penas criminais. A interdição de estabelecimento penal que não atende ao que deter-mina a lei e configura ambiente de degradação da pessoa humana é obrigação jurisdicional expressa.

Que não argumente o juiz, justificando a ausência de provi-dências de sua competência, com o mofado discurso no sentido de

que não há local apropriado para a transferência dos presos que devem ser removidos em razão de interdição de estabelecimento penal. Esta preocupação não pertence ao juiz de execução, mas sim ao administrador público desidioso, e bem por isso não serve de fundamento para justificar a inércia jurisdicional como conse-quência e em homenagem à inércia do administrador.

Juiz decide; faz cumprir a lei “e ponto”. O administrador que resolva os problemas relacionados ao ofício que escolheu exercer. A incapacidade e o descaso do Poder Executivo em relação ao tema não podem servir de fundamento para a inércia do Poder Ju-diciário, a quem cumpre precipuamente dizer o direito.

Não há fundamento jurídico válido que justifique qualquer omissão jurisdicional diante de flagrante descumprimento da lei, especialmente em relação às matérias em que se deve agir ex offi-cio.

Está disposto no artigo 127 da Constituição Federal que “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurí-dica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

Na Lei de Execução Penal, diz o artigo 67 que o Ministério Público fiscalizará a execução da pena e da medida de segurança, oficiando no processo executivo e nos incidentes da execução, e dentre outras, anota o artigo 68 que constitui sua atribuição re-querer todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo.

Como está expresso, é atribuição do Ministério Público zelar pelo escorreito cumprimento da LEP, sob todos os aspectos, reque-rendo o que for de direito em busca deste ideal democrático.

Na dicção do proclamado e tantas vezes sonoramente repetido artigo 133 da Constituição Federal: “O advogado é indispensável à administração da Justiça”. No processo execucional, a presença de advogado e a existência de defesa efetiva são imprescindíveis, antes e acima de tudo visando à preservação dos interesses do exe-cutado, requerendo não só a concessão de benefícios, tais como a progressão de regime (artigo 112 da LEP) e o livramento condi-cional (artigo 131 da LEP), mas também postulando que o juízo de execução e o Ministério Público adotem as providências que a lei determina, quando tais órgãos do Estado não agirem ex officio.

Questões relacionadas com a inadequação física do estabele-cimento prisional, que não atende à finalidade da lei, e descumpri-mento de direitos e garantias vinculadas à pessoa presa não estão fora da esfera de interesses que cabe ao advogado observar em defesa de seu cliente, e contra tal estado de coisas existem provi-dências legais que podem e devem ser manejadas tecnicamente.

Dispõe o artigo 134 da Carta Magna que “a Defensoria Públi-ca é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incum-bindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV”.

Nos precisos termos do artigo 1º da Lei Complementar 80, de 12 de janeiro de 1994 (Lei que Organiza a Defensoria Pública): “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e ins-trumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do artigo 5º da Constituição Federal”.

São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre

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Normas de execução penal precisam ser respeitadas

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outras, “atuar nos estabelecimentos policiais, penitenciários e de internação de adolescentes, visando a assegurar às pessoas, sob quaisquer circunstâncias, o exercício pleno de seus direitos e garantias fundamentais” (artigo 4º, XVII, da Lei Complementar 80/1994), e, para tanto, os estabelecimentos referidos “reservarão instalações adequadas ao atendimento jurídico dos presos e inter-nos por parte dos Defensores Públicos, bem como a esses forne-cerão apoio administrativo, prestarão as informações solicitadas e assegurarão acesso à documentação dos presos e internos, aos quais é assegurado o direito de entrevista com os Defensores Pú-blicos” (artigo 4º, § 11º, da Lei Complementar 80/1994).

Diz o art. 81-A da LEP que a Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da medida de segurança, oficiando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para a de-fesa dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e coletiva, incumbindo-lhe, nos termos do artigo 81-B, dentre outras atividades, adotar todas as providências necessárias ao desenvolvimento do processo executivo; representar ao juiz da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sin-dicância ou procedimento administrativo em caso de violação das normas referentes à execução penal; visitar os estabelecimentos penais, tomando providências para o adequado funcionamento, e requerer, quando for o caso, a apuração de responsabilidade; bem como requerer à autoridade competente a interdição, no todo ou em parte, de estabelecimento penal.

As regras acima indicadas são apenas algumas dentre tantas relacionadas com o tema aqui tratado e que se cumpridas fossem resolveria em boa parte o problema da execução penal. Como se vê, regras não faltam a indicar o ideal normativo. O que falta nos dias que correm é um melhor posicionamento de alguns profis-sionais frente ao tema e verdadeiro compromisso com a efetiva aplicação da Lei de Execução Penal, com respeito aos princípios constitucionais correlatos.

Tanto isso é exato que foi preciso o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deflagrar os conhecidos mutirões carcerários, que já colocaram em liberdade milhares de detentos, e que, verdade seja dita, vieram muito mais para dar um sonoro e retumbante alerta a respeito de tão grave problema, e com isso tentar incutir na prática jurisdicional uma nova postura de enfrentamento dos problemas vivenciados do que efetivamente promover a liberdade de alguns alcançados com os benefícios concedidos, até porque não se trata de atividade constante do referido conselho, mas episódica.

Como se sabe, o sistema progressivo de cumprimento de pena privativa de liberdade adotado no Brasil determina que, iniciando o cumprimento da pena no regime fechado, após atender os requi-sitos objetivo e subjetivo (artigo 112 da LEP e Lei 11.464/2007), o condenado poderá progredir para o regime semiaberto, e, nas mesmas condições, deste para o aberto.Se iniciar o cumprimen-te da pena no regime semiaberto, poderá progredir para o aberto quando atendidos os requisitos que a lei reclama. A efetividade da execução penal, nestes termos, pressupõe a eficiência dos regimes indicados e, portanto, a existência de estabelecimentos adequados ao cumprimento de pena nos regimes fechado, semiaberto e aber-to, respectivamente.

A Constituição Federal assegura o princípio da individualiza-ção da pena, que também deve ser observado em sede de execução penal. Daí porque a Lei de Execução Penal disciplina e determina, conforme a norma de regência (artigo 5º da LEP), que “os conde-nados serão classificados segundo os seus antecedentes e persona-lidade, para orientar a individualização da execução penal”, sendo certo que a classificação deve ser feita por “Comissão Técnica de

Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisó-rio” (artigo 6º da LEP).

Tendo a população carcerária, no Brasil, alcançado a expres-siva soma de 500.000 presos (um terço deles no estado de São Paulo), encontramo-nos em quarto lugar dentre os países que mais encarceram (1º. Estados Unidos; 2º. Rússia; 3º. China), porém, em primeiro lugar quando se tem em conta o percentual de crescimen-to da população carcerária nos últimos anos, conforme pesquisa levada a efeito pelo Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes (www.ipcluizflaviogomes.com.br).

Impulsionando os elevados números temos, além da violên-cia crescente, que a todos incomoda, e isso muitas vezes em razão da ausência de políticas públicas inteligentes e efetivas que ofe-reçam alternativas aos jovens (o maior contingente da população carcerária é composto por jovens entre 24 e 29 anos), temos o endurecimento das leis penais nas últimas décadas.

Destes fatores e de ainda outros é que decorre o déficit atual de cerca de 200.000 vagas no sistema penal; não sendo demais lembrar que no país existem mais de 500.000 mandados de prisão aguardando cumprimento.

A superlotação no regime fechado decorre também da falta de investimentos nos estados, não só visando a criação de vagas no regime fechado, mas também no regime semiaberto, pois é cediço que, mesmo recebendo progressão para o regime semiaberto, em regra os condenados permanecem no regime fechado aguardando vaga para transferência, situação com a qual não compactuam as Turmas Criminais do Superior Tribunal de Justiça, conforme evi-denciam suas reiteradas decisões a respeito do tema, até porque, nos termos do artigo 3º da Lei de Execução Penal, “ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”.

Mas, em regra, é preciso ir até a referida Corte Federal para conseguir a aplicação do dispositivo acima transcrito. Há mais. A média nacional de presos cautelares alcança o inaceitável patamar de 44%, em verdadeiro paradoxo com o ideal constitucional, pois sabe-se que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (artigo 5º, LVII, da CF).

A média mundial de presos cautelares gira em torno de 25% nos países democráticos. No Brasil, no início da década de 1990 o percentual de presos cautelares era de 18% e saltou, agora, de forma expressiva, para os astronômicos 44%, de acordo com a pesquisa do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes. É evidente que algo não vai bem neste tema. É claro que estamos diante de flagrante distorção à regra constitucional da presunção de inocência ou não culpabilidade.

Pois bem. Este é o quadro: violência crescente; excesso na decretação de prisões cautelares; falta de investimentos suficientes e adequados com vistas à criação de vagas nos regimes fechado e semiaberto; falta de vagas no regime semiaberto e permanência de condenados irregularmente no regime mais severo, quando já promovidos ou inicialmente condenados ao cumprimento de pena no regime intermediário, são alguns dos principais motivos da su-perpopulação no regime fechado, cujas condições das instalações, em regra, são péssimas e violam todas as garantais elencadas na Constituição Federal; na Lei de Execução Penal; nas regras míni-mas para o tratamento do preso no Brasil; nas regras mínimas da ONU para o tratamento de reclusos, e em tantos outros diplomas normativos internacionais aos quais o Brasil se vinculou.

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A falta de estabelecimentos para cumprimento de pena no re-gime semiaberto é inaceitável, pois do descaso evidenciado resulta considerável contribuição para a falência do sistema progressivo adotado. Faltam estabelecimentos e, portanto, vagas. Disso decor-re, como acima anotado, superlotação do regime fechado.

Mas não é só. Alguns estabelecimentos funcionam em con-dições precárias, distantes do ideal normativo, deixando de con-tribuir, como poderia, como os ideais indicados no artigo 1º da Lei de Execução Penal: punir e humanizar. A pouca eficiência do regime semiaberto não justifica, evidentemente, sua extinção. Ao contrário, o que se deve buscar é seu fortalecimento, com a espe-rada adequação à lei, revigorando o sistema progressivo.

Na realidade prática nacional, salvo raríssimas exceções, não existem estabelecimentos para o cumprimento de pena no regime aberto, e nada se tem feito para que este quadro seja alterado para melhor. Também aqui não se cumpre a lei.

A individualização da pena no âmbito execucional em regra não ocorre, tanto quanto é ausente a classificação determinada por lei. E tudo isso, não é demais lembrar, diante dos olhos inertes de muitos que, por dever de ofício, deveriam cuidar para que a lei fos-se cumprida. Não é demais reclamar que se cumpra a lei; não deve ser dolorosamente insuportável fazer cumprir a lei, especialmente quando esta é elogiável, como na hipótese.

Como vimos, praticamos um regime fechado superlotado e em condições desumanas; impera a insuficiência de vagas no regi-me semiaberto e o rotineiro descumprindo da lei; não há, em regra, estabelecimento para cumprimento de pena no regime aberto. Que sistema progressivo é este praticado?

Que não se argumente a falta de recursos nos cofres do ad-ministrador público, a ensejar dificuldade insuperável na solução das questões aqui tratadas, que interessam a toda a sociedade e não apenas aos condenados e seus familiares.

Há dificuldade, sim, mas não estamos diante de realidade in-vencível; de dificuldade intransponível. Claro que não! Falta mes-mo é boa vontade, de muitos, e por isso o sistema progressivo adotado permanece sem aplicação na prática execucional, sobrevi-vendo, em regra, fora da lei e à margem da Constituição Federal.

A execução das penas e medidas alternativas está lançada, em regra, à boa vontade do executado, especialmente no que tange à prestação de serviços à comunidade, a mais largamente aplicada na realidade forense. Como se sabe, e por força do disposto no artigo 44 do Código Penal, aplicada pena privativa de liberdade e, presentes os requisitos legais, o juiz deverá substituí-la por penas alternativas.

Ocorre, entretanto, que a prática forense tem demonstrado que na esmagadora maioria dos casos a pena privativa de liber-dade aplicada deve ser cumprida no regime inicial aberto e, sendo assim, caso o condenado não cumpra a pena alternativa, ocorren-do a conversão deverá submeter-se ao cumprimento da privativa de liberdade aplicada, no regime fixado na sentença, qual seja, o aberto.Nestes termos, o condenado não cumpre a pena alternativa e, não havendo estabelecimento adequado para o cumprimento da pena no regime aberto, como é a regra nacional, receberá o bene-fício do albergue domiciliar, que somente deveria ser concedido a quem se encontre nas condições do artigo 117 da LEP.

Em outras palavras, não cumpre a pena alternativa e, como

consequência, passará a cumprir pena “em casa”, sem qualquer fiscalização efetiva, como vem ocorrendo. A limitação de fim de semana deve ser cumprida em estabelecimento destinado ao cum-primento de pena no regime aberto, sabidamente inexistente na maioria das comarcas, mas é sempre bom ressaltar a existência de valiosas e elogiosas exceções.

Qual a eficiência do sistema punitivo e execucional prati-cado? Como se vê, a ausência de estabelecimento destinado ao cumprimento de pena no regime aberto fulmina não só o sistema progressivo, mas também enfraquece opção pelo cumprimento de penas e medidas alternativas.

A esmagadora maioria da clientela penal e da população car-cerária está ligada ao consumo e dependência de drogas ilícitas, especialmente o crack. Dos 500 mil condenados, quantitativamen-te, temos como mais frequentes incidências penais as que seguem, na ordem indicada: 1º) roubo qualificado; 2º) tráfico de drogas; 3º) roubo simples; 4º) furto qualificado, e 5º) furto simples (www.ipcluizflaviogomes.com.br).

Quem pratica roubo – simples ou qualificado - e está cum-prindo pena, em regra roubou para comprar drogas para o con-sumo pessoal. Quem trafica e está preso, na maioria dos casos, estava traficando para obter meios visando adquirir droga para seu consumo pessoal. Quem pratica furto, simples ou qualificado, fur-ta visando obter algum bem ou valor que em regra irá destinar à aquisição de droga para seu consumo pessoal.

O parágrafo 7º do artigo 28 da Lei 11.343/2006 (Lei de Dro-gas), diz que nos casos de condenação por crime de porte de entor-pecente para consumo pessoal o juiz “determinará ao poder públi-co que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabeleci-mento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado”.

Também como regra, tal dispositivo não tem sido aplicado nos processos criminais a que se refere. De igual maneira, também não se tem aplicado o disposto no artigo 26 da Lei de Drogas, que assim dispõe: “O usuário e o dependente de drogas que, em razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de segurança, têm garanti-dos os serviços de atenção à sua saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário”.

Sem o enfrentamento adequado do problema das drogas, a Justiça Criminal continuará a “enxugar gelo”, já que o motivo de-terminante da prática do crime – dependência de drogas -, persistirá mesmo após a condenação e o cumprimento da pena nas péssimas condições acima indicadas. A mesma realidade que determinou a inicial condenação por certo ensejará outras mais, contribuindo para a elevação das estatísticas de reincidência, hoje por volta de alarmantes 80%. Falta a concretização de políticas públicas. Falta o cumprimento da lei.

Não faltam no ordenamento jurídico boas regras de direito ligadas à execução penal. Paradoxalmente, também não faltam omissões e desrespeito a quase totalidade dessas mesmas valio-sas regras. Faltam, ainda... Bem, melhor parar por aqui; continuar fazendo minha parte na medida das minhas limitações e esperar para ver onde o descumprimento impune da lei e da Constituição Cidadã vai arremessar a sociedade brasileira. Que Deus nos guar-de e proteja.

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A proposição de Ação Civil Pública é atribuição do Mi-nistério Público. Com esse entendimento, a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acatou a tese do procurador de Justiça Roberto Bandeira Pereira de que a Defensoria Pública não tem legitimidade para propor ACP para tutela de interesses difusos. O relator do caso foi o de-sembargador Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves.

O caso tratava de uma ACP da Defensoria Pública, que cuidava da criação do Conselho Tutelar no município de Bagé. Porém, o Ministério Público recorreu, alegando que não é da competência da Defensoria a medida. A tese esta-va fundamentada na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3.943, ajuizada pela Associação Nacional dos Mem-bros do Ministério Público (Conamp) no Supremo Tribunal Federal. Na ADI, é questionada a legitimidade da Defenso-

ria Pública para propor Ação Civil Pública.Segundo os autos, a Conamp alegou que a possibilidade

da Defensoria Pública propor, sem restrição, Ação Civil Pú-blica “afeta diretamente” as atribuições do Ministério Públi-co. Segundo a Conamp, a lei contraria os artigos 5º, LXXIV , e 134, da Constituição Federal, que versam sobre as funções da Defensoria Pública de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que não possuem recursos suficientes.

Por fim, a 6ª Câmara Cível, ao julgar a apelação civil, acolheu parecer do procurador de Justiça Roberto Bandei-ra Pereira, defendendo a ilegitimidade ativa da Defensoria Pública do estado do Rio Grande do Sul para propor ACP relativa à defesa de interesses difusos, imprecisos e abstra-tos, como se qualifica o direito tutelado na ação mencionada. Com informações da Assessoria de Imprensa do MP-MG.

Folhapress, de BrasíliaUm pedido de vista suspendeu ontem o julgamento

do pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) delimi-te e oriente a atuação de juízes em relação às gravações de conversas de presos com advogados e visitas em presídios federais.

A análise do caso foi interrompida pelo conselheiro Jorge Hélio, após o voto do relator Paulo Tamburini. O relator sustentou que o CNJ não poderia analisar a deci-são de instalar escutas e nem editar uma regra.

Para Tamburini, as autorizações para as escutas pre-cisam ser analisadas caso a caso porque haveria risco de prejudicar a privacidade dos presos e a necessidade do Estado de investigar. “Qualquer restrição adminis-trativa que venha a ser imposta de modo a assumi-la ou restringi-la padecerá de ilegalidade”, afirmou o relator.

O conselheiro Jefferson Kravchychyn discordou do relator e defendeu que haja limites para essas gra-vações. “A maioria de nossos advogados é de homens e mulheres íntegros que não precisam ser ouvidos. Pre-cisamos que se regulamente e que seja cumprida a lei. Não podemos transformar esse país em um grande big brother e é o que está acontecendo nos presídios fede-rais”, disse.

O governo federal instalou equipamentos de grava-ção de áudio e vídeo nos parlatórios, as salas reservadas para a conversa entre advogados e presos, nas quatro penitenciárias federais do país: Campo Grande (MS); Catanduvas (PR); Mossoró (RN); e Porto Velho (RO).

Para advogados, a medida é totalmente inconsti-tucional, já que essas conversas deveriam ser inviolá-

veis.O Ministério da Justiça alegou, em carta encami-

nhada no ano passado à OAB, que os equipamentos são voltados para “segurança” e “inteligência”, mas alegou que o uso não faria parte da rotina da penitenciária. Só são usados em “caráter excepcional” e com autorização judicial. A existência do equipamento veio à tona após sete agentes penitenciários de Campo Grande denun-ciarem à OAB de Mato Grosso do Sul a ocorrência de crimes e faltas disciplinares graves. O Ministério Públi-co Federal investiga o caso.

CONSuLTOR juRíDICO - Sp - CONAMp - 26.01.2011

Defensoria não pode propor Ação Civil Pública

VALOR ECONôMICO - Sp - CONAMp - 26.01.2011

CNJ julga validade de escutas em presídios

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CLAUDIA AN-TUNES

DO RIOA assessoria in-

ternacional do Pla-nalto e o Itamaraty não conseguem ex-plicar como darão maior ênfase aos di-reitos humanos sem cair no padrão, atri-buído às potências ocidentais, de usar o tema contra rivais.

Há uma tentativa de reduzir a expecta-tiva de mudança ra-dical -Marco Aurélio Garcia, assessor do Planalto, disse que o Brasil não será um “alto-falante gira-tório” contra viola-ções.

Ao mesmo tem-po, porém, existe o reconhecimento de que a questão deve ser tratada com mais sofisticação e trans-parência.

Mas a própria discussão, instalada no governo desde en-trevista da presidente Dilma ao “Washing-ton Post”, é cheia de lacunas.

Isso acontece porque um debate sincero implicaria relativizar as decla-rações de Dilma e criticar outras feitas pelo ex-presidente Lula durante seu go-

verno.Na entrevista,

antes da posse, Dil-ma disse que não “endossava” o ape-drejamento [de con-denados no Irã] nem “práticas medievais” quanto às mulheres.

Questionada por que então o Brasil se abstivera, dias antes, na votação na 3ª Co-missão da ONU que condenou o Irã, ela respondeu que “como mulher” se sentiria “desconfortável em não dizer nada con-tra o apedrejamento” e que não avalizava a posição adotada.

À Folha, Garcia disse que a “leitura feita [da entrevista] foi impregnada pelo fato de que ela [Dil-ma] estava mencio-nando um tema em particular, o da Saki-neh [Ashtiani, a ira-niana condenada ao apedrejamento]”.

Nos bastidores, diplomatas apontam que a resolução não tinha relação direta com o caso Sakineh, ao contrário do que sugeriu a entrevista-dora do “Post”.

Embora o texto, entre seis itens, traga uma condenação à violação dos direitos femininos, ele é se-

melhante aos que são apresentados sobre o Irã quase anualmente há 30 anos.

Sobre Lula, a avaliação dominan-te é que a imagem do Brasil na área foi manchada pelo tratamento efusivo que deu ao iraniano Mahmoud Ahmadi-nejad e frases como as que compararam a oposição iraniana a uma torcida de fute-bol e presos políticos cubanos a presos co-muns.

Mas o máximo que se diz é que seu estilo fez mais para promover o prestígio do Brasil do que para miná-lo.

De toda manei-ra, até pela vigilân-cia redobrada sobre a área, haverá alguma mudança de orien-tação. Avalia-se que será difícil manter a abstenção sistemáti-ca nas moções contra países votadas na 3ª Comissão.

Com isso, não eram confrontados nem os proponentes das resoluções, em geral EUA e euro-peus, nem os gover-nos que, com justifi-cativas -mas não os únicos condenáveis-, eram alvos.

FOLHA DE Sp - p. A-14 - 26.01.2011Brasil embola debate de direitos humanos

Nos bastidores do governo, fala de Dilma ao “Post” é relativizada, e Lula é criticado por frases sobre Irã e Cuba. Haverá mudanças de tom, mas

menores do que expectativa criada; manter a abstenção sistemática será difícil

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Aloísio de Toledo César As instituições às vezes refletem contradições capazes

de deixar atordoado o mais sereno dos brasileiros. Uma de-las, bastante recente, está na circunstância de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, detentor de linda carreira, com quase 40 anos de magistratu-ra sem a mais leve mancha, a partir de 1.º de fevereiro passar a receber subsídios iguais aos do comediante Tiririca, eleito deputado federal.

O País acompanhou o fenômeno Tiririca, o mais votado de todos os tempos, apesar de sua claudicante alfabetização, tão controversa que tornou duvidosa a conclusão final do Judiciário a respeito de ser ele alfabetizado ou não. É pessoa simpática e detentora de talento próprio para as graças que costuma fazer e das quais se alimenta. Mas, sem dúvida al-guma, a equiparação assusta.

A imagem do comediante não se confunde com a do Congresso Nacional, integrado por muitas pessoas de bom nível intelectual e cultural. Mas, com a decisão do final do ano passado, que vinculou os vencimentos dos deputados federais e senadores aos recebidos pelos ministros do STF, Tiririca e Cezar Peluso estarão empatados nos respectivos contracheques.

Em verdade, é pior do que isso, porque os deputados federais e senadores, por força daquelas vantagens extraor-dinárias para pagamento de despesas pessoais e de asses-sores, acabam recebendo bem mais do que um ministro do Supremo.Isso tende a criar situação bastante constrangedo-ra. Os representantes do povo detêm o poder de aprovar as leis e por isso lhes é dado decidir se portadores de mandatos eletivos devem receber subsídios iguais ou maiores que os dos ministros do STF e vice-versa.

O que não parece adequado é a equiparação, porque re-presenta o risco de se perpetuar, ou seja, cada vez que houver aumento dos subsídios dos ministros do STF, o precedente poderá levar os congressistas e votarem nova lei em causa própria, promovendo outra vez a equiparação.

A Constituição federal, em seu artigo 37, inciso XI, de-terminou com toda a clareza que os subsídios dos ministros do Supremo devem ser os mais elevados, tanto que represen-tam o valor máximo para cálculo dos demais. A equiparação levada a efeito no final de 2010 introduziu um aleijão na Carta Magna, ou seja, fez surgir um arremedo de paradigma, representado pelos valores que serão recebidos por deputa-dos federais e senadores.Sem nenhuma dúvida, não foi isso o que pretendeu o legislador constituinte de 1988 ao colocar o STF no topo da escala de vencimentos dos agentes do Es-tado. Se a moda pega, outros ocupantes de cargos, funções e empregos públicos, na administração direta e indireta, pode-rão postular a mesma equiparação a ministros e congressis-tas, uma vez que o precedente está cristalizado.

Após seguidas eleições, pacificamente realizadas, a democracia brasileira mostra-se efetivamente consolidada, sobretudo com a escolha, agora, de uma mulher para pre-

sidente da República. Mas todos sabemos que a democra-cia tem os seus inimigos. A equiparação de vencimentos de deputados federais, senadores e ministros, dando a ideia de uma nobreza intocável e favorecida, será sempre um prato cheio para aqueles que gostariam de estatizar até mesmo os banhos de praia.

Os vencimentos dos subsídios dos ministros do STF são fixados por lei federal. A última, de 2005, fixou-os em R$ 21.500, com elevação ao patamar de R$ 24.500 a partir de 1.º de janeiro de 2006. Pela Resolução n.º 423, legalmen-te prevista, esses valores foram elevados pelo STF para R$ 26.723,13. Com base neles são calculados os vencimentos dos ministros dos outros tribunais, juízes e promotores de Justiça, federais e estaduais.

Está prevista para o início da atual legislatura a votação pelo Congresso do projeto que concede ligeira majoração aos vencimentos dos ministros do Supremo. Isso ocorrerá pela primeira vez num momento em que ministros e con-gressistas recebem os mesmos subsídios e, claro, poderá provocar constrangimentos.

A equiparação efetivada ocorreu levando em conta tão somente os valores recebidos pelos ministros da Suprema Corte, ou seja, não houve alteração do princípio constitucio-nal que coloca os subsídios dos ministros do STF na condi-ção de os mais elevados do País. Isso significa que a possível aprovação do reajuste pretendido pelo Supremo não se es-tenderá automaticamente aos congressistas, muito embora, dado o precedente, fique em aberto a possibilidade de estes iniciarem nova corrida para igualar os subsídios. Vê-se que se trata de questão tormentosa, capaz de repercutir desastro-samente entre a população espectadora.

O acesso ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Fe-deral representa o coroamento de qualquer carreira jurídica. É uma honra ser escolhido, porém a escolha não representa um agradável desfecho de vida profissional, representando, ao contrário, servidão interminável, decorrente do inacredi-tável volume de processos que cada ministro tem a obriga-ção de julgar.Respeitadas as exceções, os ministros da Su-premo Corte trabalham muitas vezes mais do que a maioria dos deputados e senadores. E, muito embora ocupem o car-go máximo na hierarquia dos agentes públicos, não será con-fortável para eles receberem os mesmos subsídios que serão pagos aos parlamentares no Congresso Nacional - inclusive ao deputado federal Tiririca.

A equiparação em favor dos deputados federais e sena-dores ocorreu por decreto legislativo, no final do ano passa-do, aprovado em regime de urgência e resultando em majo-ração de 61,68% nos seus subsídios, ou seja, índice bastante superior ao da inflação no período. Como se efetivou por decreto legislativo, nem houve necessidade de sanção do presidente da República.

DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TRIBU-NAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO (TJ-SP)

O ESTADO DE Sp - p. A2 - 26.01.2011O efeito Tiririca no Supremo

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