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FIs. ACÓRDÃON. 24480 RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 51" ZONA ELEITORAL . SANTA CECÍLIA Relatora: Juíza Eliana Paggiarin Marinho Relator Designado: Juiz Oscar Juvérício Borges Neto Recorrente: Ministério Público Eleitoral Recorridos: João Rodoger de Medeiros; Delci José Goetten de Brito - RECURSO - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - CONDUTA VEDADA - AMPLIAÇÃO DE PROGRAMA SOCIAL DE DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS EM ANO DE ELEIÇÃO - SUPOSTA VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO § 10 DO ART. 73 DA LEI N. 9.504/1997 - AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL - NORMA RESTRITIVA _ - IMPOSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO INTERPRETATIVA. O § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 impõe limites à atuação do administrador público, portanto deve ser interpretado restritivamente. Como a ampliação, em ano eleitoral, do número de beneficiários de programa social, já em execução, não é situação expressamente proibida no mencionado dispositivo legal, não pode ser por ele abrangida. ALEGADO ABUSO DO PODER POLÍTICO E ECONÔMICO - AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE DA CONDUTA PARA DESEQUILIBRAR A DISPUTA ELEITORAL - NÃO-OCORRÊNCIA - IMPROCEDÊNCIA - DESPROVIMENTO DO RECURSO. Para configurar abuso de poder, seja político, econômico ou'de autoridade, impõe-se a comprovação de que a conduta vedada teve potencialidade para desequilibrara disputa eleitoral. - Vistos, etc, ACORDAM os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e, por maioria de votos - vencida a Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho -, jp«fe~nètjar provimento, nos termos do voto da Relator Designado, que fica fazendo parte; Integrante da decisão.

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FIs.

ACÓRDÃON. 2 4 4 8 0 RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 51" ZONA ELEITORAL . SANTA CECÍLIA Relatora: Juíza Eliana Paggiarin Marinho Relator Designado: Juiz Oscar Juvérício Borges Neto Recorrente: Ministério Público Eleitoral Recorridos: João Rodoger de Medeiros; Delci José Goetten de Brito

- RECURSO - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL -CONDUTA VEDADA - AMPLIAÇÃO DE PROGRAMA SOCIAL DE DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS EM ANO DE ELEIÇÃO -SUPOSTA VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO § 10 DO ART. 73 DA LEI N. 9.504/1997 - AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL - NORMA RESTRITIVA

_ - IMPOSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO INTERPRETATIVA.

O § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 impõe limites à atuação do administrador público, portanto deve ser interpretado restritivamente. Como a ampliação, em ano eleitoral, do número de beneficiários de programa social, já em execução, não é situação expressamente proibida no mencionado dispositivo legal, não pode ser por ele abrangida.

ALEGADO ABUSO DO PODER POLÍTICO E ECONÔMICO -AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE DA CONDUTA PARA DESEQUILIBRAR A DISPUTA ELEITORAL - NÃO-OCORRÊNCIA -IMPROCEDÊNCIA - DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Para configurar abuso de poder, seja político, econômico ou'de autoridade, impõe-se a comprovação de que a conduta vedada teve potencialidade para desequilibrara disputa eleitoral. -

Vistos, etc,

A C O R D A M os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e, por maioria de votos -vencida a Relatora Juíza Eliana Paggiarin Marinho - , jp«fe~nètjar provimento, nos termos do voto da Relator Designado, que fica fazendo parte; Integrante da decisão.

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RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 51" ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA

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RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 51 a ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA

RELATÓRIO

Trata-se de recurso interposto pelo Ministério Publico Eleitoral, em face da sentença proferida pelo MM. Juiz da 51 a Zona Eleitoral - Santa Cecília, que julgou improcedente ação de investigação judicial eleitoral por ele proposta contra João Rodoger de Medeiros e Delci José Goetten de Brito, respectivamente prefeito e vice-prefeito eleitos, por considerar que não houve comprovação da ocorrência de abuso de poder político/econômico ou da violação à legislação eleitoral (fls. 1621-1629).

Em suas razões recursais, o recorrente alega, em síntese, que é irregular a implantação e ampliação do Programa de Reforço Alimentar às Famílias Carentes de Santa Cecília, pois viola o art. 73, § 10, da Lei n. 9.504/1997 e resulta em abuso de poder político, pois a lei eleitoral veda aumento ou incremento de programas sociais que possam ser explorados nas campanhas eleitorais, o que se verifica no presente caso. Argumenta que o programa social foi utilizado na campanha eleitoral dos recorridos, o que caracteriza abuso de poder, além de os cabos eleitorais, nas visitas aos eleitores, terem ameaçado retirar o benefício no caso de falta de apoio à candidatura do recorrido, conforme consta da Ação de Investigação Judicial Eleitoral n. 37/2008, no qual o TRE confirmou a cassação do registro de candidatura de João Rodoger de Medeiros.

Sustenta, ainda, que a concessão do benefício não respeitou as dete mi inações da lei que o criou e que considerando o número de beneficiários e de potenciais votos em cada família, a conduta realizada apresenta potencialidade para influir no resultado da eleição, restando desnecessária a participação do candidato na distribuição do benefício para a configuração do abuso de poder. Requer a reforma do julgado e a aplicação das sanções previstas no art. 73, §§ 4 o e 5 o, da Lei n. 9.504/1997, e no art. 22, XIV, da Lei Complementam. 64/1990 (fls. 1631-1641).

. Nas contrarrazões, João Rodoger de Medeiros e Delci José Goetten de Brito, afirmam que não houve criação de programa social, mas somente a extensão do que já estava em andamento, devidamente autorizada pela lei, pois o programa de reforço alimentar estava previsto na plano plurianual 2006-2009 e havia previsão orçamentária para o exercício de 2007 na Lei Municipal n. 1.487, de 19 de dezembro de 2007, que autorizou a expansão da distribuição de cestas básicas.

Alegam que o § 10, do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 não veda a ampliação de programa social em ano de eleição, que o programa não foi utilizado com fins eleitoreiros e a concessão das cestas básicas não diz respeito à esfera eleitoral, por não haver possibilidade de demonstração da

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vantagem política auferida em tal situação. Pedem a manutenção da sentença (fls. 1643-1659) e juntam os documentos das fls. 1660 a 1664.

A Procuradoria Regional Eleitoral manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso (fls. 1667-1671 e versos) e os autos foram redistribuídos à Juíza Eliana Paggiarin Marinho por prevenção (fl. 1673), a qual deferiu a juntada de documentos novos (fls. 1677-1719) e determinou a manifestação da parte contrária (fl. 1.674).

Com nova vista dos autos, o Procurador Regional Eleitoral - reiterou os termos do parecer anterior (fl. 1721).

É o relatório. -

V O T O

O SENHOR JUIZ OSCAR JUVÊNCIO BORGES NETO (Relator Designado): Sn Presidente, presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Quanto ao mérito, a presente ação de investigação trata de suposta violação ao § 10'do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, que assim

. estabelece;

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades

, entre candidatos nos pleitos eleitorais:

[...]

* § 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

Narra o recorrente que a infringência dispositivo da lei eleitoral citadoteria ocorrido por meio da instituição e ampliação do Programa de Reforço Alimentar à Família Carente do Município de Santa Cecília, instituído pela Lei Municipal a 1.446, de 15 de março de 2007 e ampliado pela Lei Municipal n. 1.487, de 19 de dezembro de 2007.

Quanto à regularidade da instituição do mencionado programa social e a possibilidade de sua continuidade em ano eleitoral, reporto-me aos

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argumentos expendidos pela ilustre relatora em suas razões de voto, haja vista não ter havido divergência na Corte quanto à matéria.

No que se refere à majoração do número de beneficiários do programa no ano eleitoral, entendo que a questão merece solução diversa daquela adotada no voto original, razão pela qual dei início à divergência.

Extrai-se do voto da Juíza Relatora "(...) muito embora exista autorização legislativa pára a ampliação do Programa de "Reforço Alimentar às Famílias Carentes - abstraída, por enquanto, a questão do "erro material" existente na lei - , entendo que por ter sida esta ampliação efetivada a partir de janeiro de 2008 (ano eleitoral) fere o § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997".

Com efeito, verifica-se que existia previsão na lei orçamentária -Lei Municipal n. 1.476/2007 (fls. 439-451), que trata do orçamento de 2008 -para essa ampliação do programa, o qual já estava em execução no exercício anterior, até porque restou plenamente configurado, a meu ver, o mencionado erro material na data da lei.

Divergi do voto da ilustre Juíza Relatora por não concordar com a interpretação por ela feita do § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, por entender que a pena de cassação de mandato é desproporcional â conduta praticada e por não vislumbrar, in casu, o alegado abuso de poder político ou econômico.

Quanto à interpretação do mencionado dispositivo legal, entendo ser incabível a interpretação extensiva feita pela ilustre relatora.

Como o mencionado dispositivo legal veda apenas a criação de programa social em ano eleitoral, entendo que não se pode interpretá-lo extensivamente para proibir, também, a ampliação de programa social já criado e em execução no ano anterior.

A interpretação extensiva, também chamada de ampliativa, lata ou ampla, é aquela que extrai do texto mais do que ditam as palavras e não pode ser adotada quanto aos dispositivos que prevêem as condutas vedadas, pois sendo preceitos de cunho condenatório, estes devem ser interpretados restritivamente.

Do magistério de José Jairo Gomes, extrai-se:

O que se impõe para a perfeição da conduta vedada é que o evento considerado tenha aptidão para lesionar o bem jurídico protegido pelo tipo em foco, no caso, a igualdade da disputa, e não propriamente as eleições como um todo (...}. Não se pode olvidar que o Direito Eleitoral tem em vista a expressão da soberania popular, o exercício do sufrágio,

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RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 51 a ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA

a higidez do processo eleitoral, de sorte que somente condutas lesivas aos bens por ele protegidos merecem sua atenção e severa reprimenda.

Mutatis mutandis, sobre a matéria, essa Corte já decidiu:

' RECURSO - REGISTRO DE CANDIDATURA - DIRIGENTE DE ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE FEIJÃO E MILHO -SOCIEDADE CIVIL DE DIREITO PRIVADO, SEM FINS LUGRATIVOS

DESNECESSIDADE DE, DESINCOMPATIBILIZAÇÃO IMPOSSIBILIDADE DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DE NORMA RESTRITIVA DE DIREITO - DEFERIMENTO DO REGISTRO -MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - PRECEDENTES DESPROVIMENTO [TRESC. Acórdão n. 22.776, de 5.9.2008, Relator Juiz Volnei Celso Tomazini].

RECURSO - REGISTRO DE CANDIDATURA - DIRIGENTE DE ASSOCIAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE MICROBACIAS - SOCIEDADE CIVIL DE DIREITO PRIVADO, SEM FINS LUCRATIVOS - DESNECESSIDADE DE DESINCOMPATIBILIZAÇÃO - IMPOSSIBILIODADE , DE INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DE NORMA RESTRITIVA DE DIREITO - DEFERIMENTO DO REGISTRO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - DESPROVIMENTO |TRESC. Acórdão n. 22.466, de 18.8.2008, Relator Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto].

Ademais, entendo que a regra estabelecida pelo mencionado § 10 do art. 73 abarca, numa interpretação literal, inúmeras condutas que não merecem sanção da lei eleitoral, pois visam apenas a efetivação dos direitos sociais.

Por isso o julgador não pode se ater apenas ao aspecto formal da norma, analisando sé os fatos se amoldam ou não ao que está previsto na regra legal, é seu dever ir além e examinar o conteúdo material da lei, para poder valorar se, no caso concreto, houve efetivamente lesão ao bem jurídico tutelado pelo legislador.

É o que determina a regra de interpretação estabelecida no art. 5 o

da Lei de Introdução do Código Civil: "Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum".

Ora, o bem jurídico que o dispositivo ora em comento visa preservar é a igualdade dos candidatos na disputa eleitoral, impedindo que o administrador público utilize a máquina pública como instrumento eleitoreiro, o que entendo não aconteceu no caso concreto.

e,

RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - 51* ZONA ELEITORAL • SANTA CECÍLIA

No que se refere especificamente ao § 10 do art. 73 ora em análise, o Professor José Nilo de Castro, em seu artigo sobre Condutas Vedadas e Abuso de Poder publicado na Revista Brasileira de Direito Municipal, Belo Horizonte, n. 29, p. 155-164, preleciona:

Se enquadram na restrição eleitoral os atos e as ações necessários a suprir situações de calamidade pública e estado de emergência, bem como para dar prosseguimento aos programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior. Esta última exceção deve ser analisada de modo a compreender o maior número de situações possíveis, desde que presentes os seguintes requisitos:

a) caráter assistencial do ato ou ação desenvolvida pela Administração Pública, no intuito de proteger ou alcançar os direitos sociais elencados pela Constituição da República (educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados, dentre outros);

b) inexistência de conotação eleitoral na distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios;

c) lei orçamentária autorizando as despesas decorrentes das atividades de cunho social;

d), realização de «despesas com o ato ou ação social em anos anteriores, de modo a representar a continuidade das políticas públicas já desenvolvidas pelo Estado

Com efeito, apenas analisando a presença dos critérios acima destacados e a realidade social e cultural da região, será possível definir se a conduta ultrapassou o caráter social e foi utilizada com motivo eleitoral.

In casu, entendo que todos os critérios acima relacionados foram observados, não havendo que se falar em prática de conduta vedada.

Ademais, não se pode inviabilizar a salutar e necessária continuidade das políticas públicas desenvolvidas pelo Estado - ainda mais em se tratando de Município pequeno, cujos cidadão sobrevivem dessa assistência social prestada pela Municipalidade,

A meu juízo, muito bem expôs o Ministro Caputo Bastos a respeito da necessidade dê cautela na aplicação das condutas vedadas:

Conforme venho defendendo nesta Corte Superior, afirmo que a intervenção da Justiça Eleitoral há que se fazer com o devido cuidado no que concerne ao tema das condutas vedadas, a fim de não se impor, sem prudência I critério, severas restrições ao administrador público no

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exercício de suas funções. (Acórdão TSE n. 24.989, Relator Min. Caputo Bastos).

Esta Corte, no Acórdão n. 23.377/2008, da relatoria do Juiz Márcio Vicari, o qual se valeu, em seu voto, de parecer do douto Procurador Regional Eleitoral, também não entendeu irregular o incremento no número de benefícios sociais distribuídos em ano eleitoral.

Transcrevo a ementa do mencionado precedente:

- ELEIÇÕES 2008 - REPRESENTAÇÃO - CONDUTA VEDADA -. DOAÇÃO DE BENS EM ANO ELEITORAL - ART. 73, §10, DA LEI N.

9.504/1997, ACRESCIDO PELA LEI N. 11.300/2006 ("MINIRREFORMA ELEITORAL") - PROGRAMA SOCIAL AUTORIZADO, EM LEI E JÁ EM EXECUÇÃO - HIPÓTESE QUE CONFIGURA UMA.DAS EXCEÇÕES LEGAIS EM QUE É PERMITIDO O REPASSE DE VALORES -LICEIDADE DA CONDUTA - DESPROVIMENTO.

Ainda que se admitisse a prática da conduta vedada, entendo que a pena aplicada é desproporcional. Conforme a jurisprudência atual, as penas previstas para a prática de conduta vedada devem ser aplicadas observando-se o princípio da proporcionalidade.

Os precedentes do Tribunal Superior Eleitoral sobre conduta vedada vinham entendendo que para a sua configuração era necessária a, comprovação de que a conduta teve potencialidade para atingir o bem jurídico protegido pelo art. 73 da Lei das Eleições, qual seja, a normalidade das eleições.

Mais recentemente, a jurisprudência evoluiu e definiu a adoção do princípio da proporcionalidade na aplicação das penas previstas para a prática das condutas vedadas e, apenas nos casos mais graves em que se cogita da cassação do registro ou do diploma, entende cabível o juízo da potencialidade.

Filio-me a esse entendimento, cuja discussão na Corte Superior se deu no Agravo Regimental no Recurso Eleitoral n. 27.896, da relatoria original do Ministro Joaquim Barbosa, após pedido de vista do Min. Félix Fischer, designado relator.

Transcrevo precedente nesse sentido da lavra do Min. Arnaldo Versiane Leite Soares, assim ementado:

Agravo regimental. Representação. Conduta vedada. Art. 73, V, da Lei n° 9.504/97.

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1..A dificuldade imposta ao exercício funcional de uma servidora consubstanciado em suspensão de ordem de férias, sem qualquer interesse da administração, configura a conduta vedada do art. 73, V, da Lei n° 9.504/97, ensejando a imposição de multa. 2. A atual jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, quanto ao tema das condutas vedadas do art. 73 da Lei das Eleições, afigura-se mais recomendável a adoção do princípio da proporcionalidade e, apenas naqueles casos mais graves - em que se cogita da cassação do registro ou do diploma - é cabível o exame do requisito da potencialidade, de modo a se impor essas severas penalidades [TRESC. Acórdão n. 11.207, de 11.2.2010].

No caso*ora em análise não vislumbro a gravidade exigida para a análise da potencialidade na ampliação do programa de distribuição de cestas básicas e entendo desproporcional aplicar aos recorrentes qualquer pena, seja de multa ou, ainda pior, a pena gravíssima de cassação dos mandatos eletivos por eles democraticamente conquistados.

Quanto ao abuso de poder político ou econômico, entendo não configurado, haja vista a ausência de potencialidade da conduta para influenciar a disputa eleitoral.

Com efeito, conforme exposto no item anterior, entendo que o aumento de 500 para 72761 cestas básicas distribuídas no âmbitode programa social do Município não teve, potencialidade para desequilibrar a disputa eleitoral em Santa Cecília, o que é indispensável para a configuração do abuso de poder.

A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é pacífica nesse sentido. Transcrevo, no que interessa e apenas a título dé exemplo, trechos de ementas de três precedentes que apesar de se referirem a outras espécies de abuso, tratam exatamente da necessidade de potencialidade para a configuração do abuso de poder

A declaração de inelegibilídade prevista rio art. 22 dá Lei Complementar no 64/90 somente se configura quando há a comprovação da efetiva potencialidade do ato irregular para influir no resultado da eleição [TSE. Ac. n. 915, de 13.2.2007, Relator Min. Francisco César Asfor Rocha].

O abuso do poder apenado pelo art. 22 da Lei das Inelegibilidades se configura quando há a comprovação da efetiva potencialidade do ato irregular para influir no resultado do pleito [TSE. Ac : n. 935, de 17.10.2006, Rei. Min. Francisco César Asfor Rocha],

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A procedência da investigação judicial eleitoral exige a demonstração da potencialidade de o ato irregular influir no resultado do pleito [TSE. Ac. n. .949, de 27.9.2006, Relator Min. Francisco César Asfor Rocha].

Esta Corte também já se manifestou em diversas oportunidades sobre a matéria, sempre considerando a necessidade da potencialidade da conduta abusiva para desequilibrar a disputa eleitoral:

A seriedade das situações apuradas por meio da ação de investigação judicial da Lei Complementar n. 64/1990, refletida na severidade das penas aplicadas, torna imprescindível, além da caracterização do abuso, a demonstração da sua potencialidade, condições que se não atendidas acarretam a improcedência da representação (Precedente: TRESC. AC. n. 21.527, de 6.2.2007) |TRESC. Ac. n. 21.608, de 11.4.2007, Relator Juiz José Trindade dos Santos],

Se o Judiciário, no caso do art. 22 da LC n. 64/1990, se permitisse extrair a potencialidade, não do resultado do pleito, mas sim da gravidade da conduta, poderia incidir em dois abusos: um jurídico, por ir além da lei sancionatória expressa; e outro político, por invadir a esfera da soberania popular, materializada no resultado das umas [...] [TRESC. Ac. n. 21.414, de 01.12.2006, Relator Juiz José Trindade dos Santos].

Ante as considerações expostas, conheço do recurso e a ele nego provimento, mantendo a sentença monocrática de improcedência da presente investigação judicial eleitoral.

É como voto.

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RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO DE PODER ECONÔMICO - ABUSO DE PODER POLÍTICO/AUTORIDADE - CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO 51 a

ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA

A SENHORA JUÍZA ELIANA PAGGIARIN MARINHO (Relatora): Sr. Presidente, presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

A matéria de fundo discutida na presente ação diz respeito à violação ao § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997. O dispositivo citado, introduzido pela Lei n. 11.300/2006, possui a seguinte redação (original):

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

§ 10. No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

Destaco que outros parágrafos que dizem respeito ao dispositivo em questão foram recentemente acrescentados pela Lei n. 12.034/2009 ao art. 73. Todavia, como se verá oportunamente, não se aplicam ao processo em questão tendo em vista o princípio da anterioridade da lei eleitoral (art. 16 da Constituição Federal).

Objetiva também o autor da ação a apuração de condutas representativas do abuso de poder econômico e político ou de autoridade do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990.

Os fatos supostamente irregulares - e violadores da legislação eleitoral - narrados na inicial reférem-se ao Programa de Reforço Alimentar à Família Carente do Município de Santa Cecília, instituído pela Lei Municipal n. 1.446, de 15 de março de 2007, cuja ampliação foi autorizada pela Lei Municipal n. 1.487, de 19 de dezembro de 2007.

O representante do Ministério Público Eleitoral no primeiro grau entendeu que a criação do benefício social em debate não obedeceu â autorização do § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, tampouco sua ampliação respeitou as diretrizes legais. Alegou que programas sociais somente podem

V O T O (VENCIDO)

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RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO DE PODER ECONÔMICO - ABUSO DE PODER POLÍTICO/AUTORIDADE - CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO - 51 a

ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA

ser mantidos quando - em consonância com o que diz a lei - já estivessem em execução desde o ano anterior à eleição e fossem devidamente incluídos na lei orçamentária do ente federativo.

Todavia, o Magistrado que atua na 5 1 a Zona Eleitoral rejeitou os argumentos do autor e julgou improcedente a demanda.

Entende o recorrente que, apesar de constar do plano plurianual do município para o período 2006-2009, a distribuição de cestas básicas para os cidadãos carentes não foi prevista especificadamente no orçamento anual de 2007. Irregularidade repetida no ano de 2008, com a agravante da ampliação do número de beneficiários sem haver lei autorízadora, por ter a suposta norma permissiva validade somente até 31.12.2007. Por conseqüência, teria havido violação à Lei 9.504/1997, com a caracterização também do abuso de poder econômico e político, pois os recorridos fizeram uso da máquina administrativa do município e utilizaram-se do programa social para trazer benefícios à campanha.

Não há dúvidas de que a distribuição de cestas básicas para a população carente, mesmo sem ser a solução ideal, é de extrema relevância, principalmente nas localidades onde as condições de subsistência não são alcançadas por todos os cidadãos, como ocorre - segundo as informações que são trazidas nos autos por ambas as partes - em Santa Cecília. Entretanto, no presente caso, não se está a avaliar o mérito da medida adotada, evitando-se qualquer juízo de valor sobre oportunidade, necessidade e conveniência da concessão do benefício, limitando-se o exame, apenas, à regularidade do referido programa social em confronto com as normas eleitorais.

Faz-se necessário cindir o exame das irregularidades narradas pelo autor em duas partes: a primeira, relativa à regularidade da instituição do programa de reforço alimentar e, portanto, à possibilidade de sua continuidade no ano eleitoral, e a segunda, à possibilidade de majoração do número de beneficiários no ano de 2008.

a) Instituição do programa de reforço alimentar e a possibilidade de sua continuidade no ano eleitoral.

Ao que consta, a*Lei Municipal n. 1.446/2007 - cuja cópia foi juntada às fls. 19-21 - instituiu o "Programa de Reforço Alimentar à Família Carente", estabelecendo os critérios a serem atendidos pelos pretendentes ao benefício.

RECURSO ELEITORAL (RE) N. 1641 - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO DE PODER ECONÔMICO - ABUSO DE PODER POLÍTICO/AUTORIDADE - CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO - 51 a

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Nesse ponto, adentrando em questões relativas à contabilidade pública, verifico que a legislação pertinente foi atendida no que se refere à criação do referido programa. Primeiramente, porque o plano plurianual, que, em definição simplista, estabelece como será a atuação do Executivo para o período de quatro anos - no caso, o quadriênio 2006-2009 previu a implantação do auxílio para pessoas carentes, sob a forma de "cestas básicas", como demonstra o documento das fls. 30-76 (mais especificamente, às fls. 34, 35, 36, 68 e 69). Portanto, era parte integrante do projeto do Governo Municipal a distribuição de alimentos às pessoas de menor poder aquisitivo e em situação que poderia necessitar da intervenção do poder público. Em segundo lugar, a lei que aprovou o orçamento para ano de 2007 - votada e aprovada no ano anterior (Lei Municipal n. 1425/2006, fls. 465-466) - , fixou as despesas que poderiam ser realizadas pelo Executivo, incluindo entre elas as despesas com assistência social, conforme determina a Lei n. 4:320/1964 - , que define as normas sobre elaboração dos orçamentos públicos.

Nos precisos termos do caput do art. 2° da Lei n. 4.320/1964, "a Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma a evidenciar a política econômica, financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade". Ainda, os incisos I e II do § 1 o desse mesmo artigo determinam que "integrarão a Lei de Orçamento o sumário geral da receita por fontes e da despesa por funções do Governo", bem como o "quadro demonstrativo da Receita e Despesa segundo as Categorias Econômicas, na forma do Anexo n°. 1", ou seja, (despesas correntes, receitas correntes, etc).

Assim, a lei municipal que aprovou o orçamento para o ano de 2007 permitiu a implantação do programa em comento, pois previu despesas com "assistência social" - entre as quais se pode incluir a distribuição de cestas básicas - nos termos do que determina a legislação pertinente.

Em que pese não haver detalhamento dos projetos que seriam executados pela assistência social do município, não há como negar a existência de previsão orçamentária para implantação do programa social de distribuição de cestas básicas em 2007. A assertiva é reforçada, ainda, pelo fato de o Tribunal de Contas do Estado, órgão encarregado da fiscalização contábil, orçamentária e financeira dos entes municipais, não ter apontado nenhuma restrição de caráter orçamentário quando da avaliação das finanças municipais referentes ao ano de 2007, como se depreende do documento das fls. 418-419.

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ou parcial do programa - limitado ao número de cestas básicas autorizado em lei.

impeditivos para que o programa de auxílio social fosse implantado no Município de Santa Cecília no ano de 2007 e tivesse sua execução continuada no ano seguinte, porque a vedação específica contida no § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 diz respeito, precisamente, aos programas sociais não autorizados por lei e/ou que não estavam em aplicação no início do ano das eleições.

beneficiados, seja no cumprimento das regras estabelecidas na lei de criação do auxílio social neste ano de 2007 afastam-se da competência desta Justiça Especializada, ficando sua análise delegada às esferas competentes.

2007, no meu entendimento, não apresentam nenhuma irregularidade de natureza eleitoral, o que permitiria sua continuidade em 2008.

eleitoral - período ao qual se aplica efetivamente a vedação legal para, a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios - tenho que a questão merece solução diversa.

distribuição de cestas básicas aos moradores de Santa Cecília (Lei Municipal n. 1.487, de 19 de dezembro de 2007 - fls. 28-29) autorizou a entrega de mais 500 unidades, em complementação às 800 cestas básicas que já vinham sendo distribuídas em 2007, em conformidade com o disposto na Lei n. 1.446/2007. Todavia, a lei previu que tal aumento poderia ocorrer somente até 31 de dezembro de 2007.

foi grafada erroneamente, devendo subentender-se que a permissão legal incluiria O ano de 2008 e, portanto, que não há qualquer irregularidade capaz de impedir a continuação e ampliação do programa de reforço alimentar, que teve um aumento efetivo de apenas 261 cestas básicas, para atender, segundo afirmam, a demanda da localidade, embora a permissão tenha sido de distribuição de mais 500 cestas.

Portanto, durante o ano de 2007 poderia haver a implantação total

Cotejando os fatos narrados com a legislação eleitoral, não vejo

Eventuais atos irregulares, seja no cadastramento dos

Portanto, a criação e implementação do programa no ano de

b. Quanto à majoração do número de beneficiários no ano

A lei municipal que permitiu a ampliação do programa de

Os recorridos alegam em sua defesa que a data de validade da lei

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Sustentam, ainda, que o erro material contido naquela lei foi devidamente corrigido pela Lei Municipal n. 1.531, de 10 de setembro de 2008 (fl. 403), que alterou a redação do art. 6 o da Lei n. 1.487/2007 e prorrogou o prazo de vigência da ampliação até 31.12.2008.

Quanto à manutenção do programa de distribuição de cestas básicas, como já havia dito, entendo que não existia impedimento. Regular o programa, sua continuidade não contraria o disposto no § 10 do art. 73 da Lei das Eleições.

No entanto, muito embora exista autorização legislativa para a ampliação do Programa de Reforço Alimentar às Famílias Carentes -abstraída, por enquanto, a questão do "erro material" existente na lei - , entendo que por ter sida esta ampliação efetivada a partir de janeiro de 2008 (ano eleitoral) fere o § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997.

O dispositivo legal em questão somente permite à Administração Pública, em anos eleitorais, a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios - entre outras exceções que não se aplicam a estes autos - , no caso "de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior". Isso significa que o então Chefe do Executivo Municipal poderia continuar a distribuição de cestas básicas, evidentemente cumpridas as demais prescrições legais, respeitando o número limite de pessoas que já estavam cadastradas e usufruindo do benefício em 2007 (800 cidadãos).

Não se pode confundir a existência de previsão na lei orçamentária - requisito básico para a realização de qualquer despesa pública - com a exigência de o programa já estar em execução orçamentária no exercício anterior, prevista no § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997. A lei orçamentária de 2008 até poderia prever mais verbas para custear o aumento do número de beneficiários do programa - o que na prática não se pode verificar, seja porque na Lei Municipal n. 1.476/2007 (fls. 439-451), que trata do orçamento de 2008, as despesas foram fixadas genericamente como "despesas com assistência social", como ocorreu em 2007, sem haver detalhamento do projeto relativo à distribuição de cestas básicas, seja porque a previsão orçamentária para o programa "assistência social" foi menor no orçamento de 2008 do que no de 2007 (passou de R$ 909.400,00 em 2007, para R$ 650.000,00 em 2008) - , mas o administrador só poderia distribuir gratuitamente aquela quantidade de bens e serviços de fato já em execução no ano anterior.

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Os documentos que constituem o caderno processual (em sua grande maioria fichas de cadastramento de beneficiários do programa de distribuição de cestas básicas) permitem afirmar com certeza que o número de pessoas que recebem o benefício no Município de Santa Cecília passou de 800 em 2007 para 1.061 em 2008, o que representa um incremento de mais de 30% no número de atendimentos. Nesse sentido, penso que o impacto da medida, não só para esse grupo que passou a receber as cestas básicas somente no ano de 2008, mas para a população do município em geral, foi semelhante ao da criação de um novo programa social no ano da eleição.

A permissão de distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios nos anos em que ocorre eleição é uma exceção e, portanto, somente deve ser permitido aquilo que estiver expresso no texto legal. E não se reportou o legislador à ampliação de programas sociais, pois isto contraria frontal mente o objetivo legal, que é coibir o uso da máquina pública pelos partidos e candidatos que estão no poder. Dessa forma, não vejo possibilidade de, a pretexto de dar continuidade a programa previamente existente, ampliar a incidência das benesses regularmente concedidas, ainda mais quando se trata de auxílio a pessoas carentes, pois este ato certamente repercute na vontade popular, podendo, inclusive, ser utilizado como moeda de troca, já que se trata de bens essenciais à subsistência dessa população mais carente. A distribuição gratuita daquelas cestas básicas que correspondem ao incremento havido em 2008 não estava em execução no ano anterior e, portanto, é capaz de causar um impacto no pleito muito semelhante àquele originado pela implementação de um novo programa social.

Para que se configure a exceção, não basta a prévia autorização Legal, sendo imprescindível que o programa estivesse sendo executado no ano anterior, ou seja, que os bens já estivessem sendo distribuídos no ano anterior à eleição, o que, no meu entendimento, significa a possibilidade apenas de sua continuidade às famílias atendidas no ano anterior, jamais o aumento no número de beneficiários, pois isso fere o objetivo do dispositivo em questão, acrescentado à Lei n. 9.504/1997 pela minirreforma de 2006.

Assim como, mesmo que previsto na lei orçamentária e criado por lei editada no ano anterior, não poderia um programa de distribuição de cestas básicas ser iniciado no ano eleitoral, da mesma forma não se pode permitir sua ampliação nesse período, sob pena de autorizar o desequilíbrio entre os candidatos que disputam o pleito com o uso da máquina pública, o que eqüivaleria a custear com verba pública determinada candidatura.

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A regularidade dos cadastros efetuados em 2008 também foi questionada pelo Promotor Eleitoral. Embora, no que se refira ao ano de 2007, como já afirmei, não seja pertinente a análise por parte deste Tribunal, com relação ao ano de 2008 - cadastros do número 801 a 1061 - faz-se necessário o exame, ainda que não aprofundado, a fim de verificar se foram observados os requisitos previstos no art. 5 o da Lei Municipal n. 446/2007, que diz o seguinte:

Art. 5o Poderão ser beneficiadas com o implemento deste Programa, as famílias que atendam aos seguintes requisitos:

I - comprovação de renda familiar per capita não superior a R$ 120,00 (Cento e Vinte Reais) mensais, ressalvando a inaplicabilidade deste índice per capita, para os casos de idosos e portadores de deficiências e necessidades especiais;

II - comprovação de matrícula em estabelecimento de ensino público de todos os filhos em idade escolar e que tenham freqüência mínima de 75% (setenta e cinco por cento) dos dias letivos;

III - comprovação do comparecimento dos pais às reuniões escolares promovidas pelos estabelecimentos de ensino freqüentados por seus filhos;

IV - comprovação da regularidade nas vacinações dos filhos menores de 07 (sete) anos, mediante apresentação de caderneta de vacinação;

V - compromisso expresso das famílias representada, por pai ou mãe, de que deverão, com orientação de pessoal técnico da Secretaria Municipal de Agricultura, implantar e manter em sua residência, uma horta caseira;

VI - compromisso expresso das famílias representada por pai ou mãe, de que deverão proceder à regular limpeza das residências e quintais, fazendo coleta seletiva do lixo produzido no âmbito residencial e depositá-lo no local adequado â coleta pública;

VII - compromisso expresso das famílias representada por pai ou mãe, de manter seus filhos menores de 16 (dezesseis) anos em atividades compatíveis com a idade, de zelar para que não exerçam atividades laborais e destacadamente, evitar que saiam às ruas para atuarem como "pedintes", mantendo-os efetivamente sob sua guarda e proteção;

VIII - nos casos em que algum dos membros da família apresentarem embriaguez habitual, deverá comprovadamente se subme,

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tratamento adequado para o problema, com orientação médica, ou através dos "Alcoólicos Anônimos - AA";

IX - comprovação de residência fixa no Município de Santa Cecília, já há pelo menos 02 (dois) anos consecutivos;

§ Primeiro - A família que tenha seu cadastro aprovado deverá manter as condições previstas nos artigos anteriores, sendo que, a modificação de qualquer destas condições importará na suspensão do benefício.

§ Segundo - A família que tiver o benefício suspenso terá um prazo de até 45 (quarenta e cinco) dias para regularizar a situação, sob pena de exclusão definitiva do programa.

§ Terceiro - A análise dos cadastros e atendimento aos requisitos previstos nos incisos deste artigo, assim como, o acompanhamento, quanto à continuidade destas condições será realizado por Assistentes Sociais e demais servidores designados pela Secretaria da Família, da Assistência e do Desenvolvimento Social [s/c - grifei].

Pois bem. Muitos dos formulários não trazem informação acerca do atendimento de um dos requisitos básicos previstos na lei que criou o Programa de Reforço Alimentar à Família Carente para a concessão do benefício, e que é exigível de todos os beneficiários: o tempo de residência no município, que, segundo o citado inciso IX, deveria ser de, no mínimo, dois anos consecutivos. No entanto, em grande número de formulários de pessoas naturais de outras cidades - isso para não falar nas nascidas em Santa Cecília, que poderiam ter-se afastado do município e posteriormente retornado, o que exigiria também para elas a verificação do cumprimento da prescrição legal -não foi registrado o tempo de residência da família no município.

A não verificação do preenchimento deste requisito para o deferimento do pedido, além do descumprimento da lei, pode indicar a concessão de benefícios indevidos em ano eleitoral ou até mesmo a possibilidade de negociação da transferência de eleitores para Santa Cecília em troca da inscrição no programa para recebimento das cestas básicas. Principalmente porque, apesar de um grande número de formulários não indicar o tempo de residência, em geral, o preenchimento do número do título de eleitor dos beneficiados não foi esquecido. No entanto, disso não há provas nos autos, registrando-se, aqui, apenas a existência da irregularidade, o que reforça o motivo de existência da proibição legal de distribuição gratuita de bens em ano eleitoral, que oportuniza a utilização da máquina públicaem benefício de candidaturas. i '

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Na mesma senda, constatou-se, nos depoimentos prestados, que assistentes sociais e/ou servidores do município não realizaram visitas aos domicílios dos beneficiários, o que serviria para constatar a realidade socioeconômica das famílias contempladas com o beneficio, encontrando-se, inclusive, uma testemunha que afirma que mentiu sobre o fato de um dos filhos maiores residir com ela, porque ele trabalhava e a renda per capita ultrapassaria o limite para a concessão do benefício. Portanto, ao que parece, o preenchimento dos outros requisitos previstos na lei municipal e que não foi possível verificar nestes autos tão somente pela leitura dos formulários de cadastro também não foi fiscalizado.

Isso tudo demonstra, no mínimo, uma falta de cuidado na execução do programa. No ano eleitoral, todavia, a prática pode indicar mais do que isso: um abrandamento das regras a fim de colher dividendos eleitorais.

Mesmo não havendo provas incontroversas de que houve irregularidades na concessão dos benefícios para proporcionar vantagens eleitorais à candidatura do prefeito, o aumento substancial de distribuição de benefícios à população, sobretudo de cestas básicas, em ano eleitoral, contrariando a vedação legal, por si só já é capaz de produzir proveito eleitoral indevido em relação aos demais candidatos, pois obtido com recursos públicos que não estão ao alcance dos adversários, caracterizando, assim, o abuso de poder econômico (pela aplicação indevida de verbas públicas em benefício da candidatura à reeleição do então prefeito) e de autoridade e a conduta vedada pelo § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997.

Não desconheço a existência de decisão unânime deste Tribunal em sentido contrário, proferida por meio do Acórdão n. 23.377, na qual o Relator, Juiz Márcio Vicari, valeu-se, em seu voto, de parecer do Procurador Regional Eleitoral, que não entendia irregular o incremento no número de benefícios distribuídos em ano eleitoral. O estudo deste caso, no entanto, evidenciou para mim a necessidade de uma maior reflexão acerca da norma contida no § 10 do art. 73 da Lei Eleitoral, ainda muito nova, pois acrescentada pela Lei n. 11.300/2006. Nestes autos mostrou-se nítido que o significativo incremento de programa social que já era executado em ano anterior afeta o equilíbrio do pleito e dá margem à exploração eleitoreira da camada mais pobre da população, com potencialidade para afetar o equilíbrio entre os candidatos que concorrem ao pleito. Por isso, modificando o meu entendimento, considero que a ampliação de programa social, além de não ser uma das exceções previstas no próprio § 10 do art.73, fere o objetivo da norma, constituindo uma burla à vedação imposta. r

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Entendendo proibida a ampliação de programa social, precedente do TRE de Minas Gerais nos seguintes termos:

Recurso Eleitoral. Ação de investigação judicial eleitoral. Eleições 2008.

[...]

Mérito. Comprovação de que houve acréscimo substancial de distribuição de cestas básicas à população, bem assim acréscimo na distribuição de telhas, no ano de 2008. Promoção pessoal do prefeito por meio de informativo, divulgando a distribuição dos bens. Violação aos artigos 73, IV e § 10, da Lei n. 9.504/97 e artigo 22 da Lei Complementar n. 64/90.

Manutenção da sentença de procedência da AIJE.

Recurso a que se nega provimento [Acórdão TRE/MG n. 6017, de 7 de abril de 2009, Relator Juiz Renato Martins Prates].

Ainda que se entendesse possível o aumento do número de beneficiários do programa social em ano eleitoral, a lei que autorizaria a ampliação do programa social condicionou a vigência deste incremento à data registrada em seu art. 6 o (31.12.2007). Portanto, não havia previsão legal autorizando a alteração realizada no decorrer do ano de 2008 (após a propositura desta ação), já que somente em 10 de setembro de 2008, pela Lei Municipal n. 1.531 (fl. 403), que alterou a redação do art. 6 o da Lei n. 1.487/2007, é que foi prorrogado o prazo de vigência da ampliação para 31.12.2008. Ou seja, o prefeito alega que houve erro material na lei que autorizou a ampliação do número de beneficiados com a distribuição de cestas básicas, mas o suposto erro foi corrigido somente após o ajuizamento da presente investigação pelo Ministério Público.

Mesmo em se tratando de mero erro material, não poderia o prefeito, sem que fosse efetuada a correção da norma, em observância ao princípio da legalidade, implementar esse aumento no número de cestas básicas em 2008 por sua própria conta, pois para isso não havia amparo legal.

Sendo assim, também por- este fundamento - inexistir lei autorizando a ampliação para o ano de 2008, entendo que o caso concreto apresentado não se enquadra na exceção prevista no § 10 do art. 73 da Lei das Eleições e, considerando não só a quantidade de beneficiados em 2008, mas também a repercussão do programa no pleito eleitoral e o dispêndio de

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verbas públicas, configura também o abuso do poder econômico e de autoridade,, pela utilização de verba pública para produzir dividendos eleitorais.

O fato de não ter participado diretamente da execução do programa não exime o prefeito, candidato à reeleição, da responsabilidade. Ademais, o fato de inexistirem provas do uso promocional do programa social para sua campanha não afasta a configuração do § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 e do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990. Se houvesse uso promocional, a conduta se enquadraria em outro dispositivo legal (inciso IV do art. 73 da Lei das Eleições). Com relação às cópias extraídas do pedido de direito de resposta juntadas aos autos pelo autor da ação (fls. 1605-1611), que demonstram que os recorridos exploravam em sua campanha a criação do programa de distribuição de cestas, essa conduta não é proibida, nem ilícita, sendo natural e até desejável que os candidatos prestem contas dos seus atos de governo nas campanhas, facilitando ao eleitor a escolha do seu representante. O que não seria permitido e configuraria o uso promocional do programa seria o contrário: se durante as atividades relativas ao programa de reforço alimentar - cadastramento ou distribuição - fosse promovida a pessoa ou a candidatura do prefeito. O DVD (fl. 218) acostado aos autos, que mostra cenas referentes à entrega de cestas básicas no Município de Santa Cecília, não revela ato de promoção pessoal ou mesmo de campanha do prefeito.

Com relação à alegação de quê os beneficiários foram coagidos a votar nos recorridos para continuar recebendo o auxílio da municipalidade, não tiá provas seguras nestes autos. Ao contrário, as testemunhas ouvidas durante a instrução do feito nada relatam nesse sentido, como se infere dos depoimentos de Érica Ferreira Tibes (fl. 1535), a qual diz que "nunca ninguém pediu voto para a declarante em troca de sacolão". Do mesmo modo, a testemunha Assonipo Ribeiro de Souza (fl. 1538) afirma "que o recebimento do sacolão não era condicionado ao voto"., Os demais testemunhos nada registram com relação à possível coação para recebimento do benefício. Apesar do depoimento de Elenice Granemann Carneiro (fl. 15) - extraído da Ação de Investigação Judicial Eleitoral n. 37/2008 - , que afirmou que disseram a ela que se não aceitasse colocar a placa de propaganda iriam cortar o sacolão, este Tribunal quando julgou o recurso relativo àquela ação (Acórdão n. 23.238, de 10.11.2008), também considerou que a coação não restou devidamente comprovada.

A potencialidade lesiva, exigível para a configuração do abuso do poder econômico e de autoridade é facilmente aferível. Consoante informações que constam do site do TRESC, o Município de Santa Cecília conta com aproximadamente 12.000 eleitores e os recorridos foram eleitos com 5.

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votos. Confrontando essas informações com os números do programa de distribuição de cestas básicas, percebe-se que o acréscimo de 261 famílias beneficiadas apresenta possibilidade de influenciar na disputa eleitoral, ainda mais porque a diferença entre o candidato eleito e que alcançou o segundo lugar foi de apenas 1.028 votos. Considero, aqui, que a maioria dos cadastros demonstra haver mais de um eleitor em cada domicílio atendido pelo programa e que é bem possível que outros eleitores, mesmo que ainda não beneficiados, tenham seus votos influenciados pela distribuição gratuita de benesses no ano eleitoral.

Não obstante, essa demonstração matemática não é condicionante para configurar a potencialidade da conduta, bastando a probabilidade de que venha a interferir no resultado do pleito, o que, neste caso, é indiscutível. Ou seja, não é necessário demonstrar matematicamente que a quantidade de votos possivelmente amealhada de forma ilícita foi suficiente para que os seus responsáveis ou beneficiários ganhassem a eleição; apenas que o número de eleitores influenciados pela conduta poderia configurar vantagem significativa em detrimento dos demais candidatos, que é o que demonstram os autos, pois pelo menos 261 pessoas passaram a receber do poder público gratuitamente gêneros alimentícios mensalmente no ano da eleição, beneficiando o prefeito, candidato à reeleição.

Nesse sentido:

GOVERNADOR. CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO E ABUSO DO PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. POTENCIALIDADE DA CONDUTA. INFLUÊNCIA NO RESULTADO DAS ELEIÇÕES. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. É DESNECESSÁRIO QUE TENHA INFLUÊNCIA NO RESULTADO DO PLEITO. NÃO APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 224 DO CÓDIGO ELEITORAL. ELEIÇÕES DISPUTADAS EM SEGUNDO TURNO. CASSAÇÃO DOS DIPLOMAS DO GOVERNADOR E DE SEU VICE. PRELIMINARES: NECESSIDADE DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA, INEXISTÊNCIA DE CAUSA DE PEDIR, AUSÊNCIA DE TIPICIDADE DAS CONDUTAS, PRODUÇÃO DE PROVAS APÓS ALEGAÇÕES FINAIS, PEDIDO DE OITIVA DE TESTEMUNHA, PERÍCIA E DEGRAVAÇÃO DE MÍDIA DVD, DESENTRANHAMENTO DE DOCUMENTOS. RECURSO PROVIDO.

9. O abuso do poder político e econômico e a prática de condutas vedadas são dotados de potencialidade para Interferir no resultado] do pleito. Transferências, realizadas durante o período vedado,]

[...]

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suficientes para contaminar o processo eleitoral. Não é necessária a demonstração aritmética dos efeitos do abuso. Precedentes.

[...]

14. A probabilidade de comprometimento da normalidade e equilíbrio da disputa é suficiente para ensejar a cassação do diploma de quem nessas circunstâncias foi eleito. Precedentes.

15. Eleição decidida em segundo turno. Cassado o diploma pela prática de atos tipificados como abuso de poder, conduta vedada e captação ilícita de sufrágio, deve ser diplomado o candidato que obteve o segundo lugar. Precedente.

16. Recurso provido [TSE. RCED n. 671, julgado em 3.3.2009. Relator Min. Eros Roberto Grau].

Portanto, a existência de programa que favorece a população carente, por si só, não é irregular. Todavia, a utilização de mecanismos como esse - uso de recursos públicos para ampliar em ano eleitoral a entrega gratuita de bens para a comunidade - desequilibra o pleito, pois os demais candidatos não podem contar com os mesmos recursos para angariar a simpatia dos eleitores, o que põe em risco a estabilidade da disputa eleitoral.

Diante das provas produzidas, não há qualquer incerteza quanto à configuração da conduta vedada do § 10 do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 e do abuso do poder econômico entrelaçado ao abuso de autoridade do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, o que impõe o provimento do recurso e a aplicação das sanções pertinentes.

. O § 4 o do art. 73 da Lei n. 9.504/1997 determina a aplicação de multa aos responsáveis pela conduta, no valor de cinco a cem mil UFIR. Considerando que não há prova da responsabilidade do candidato a vice-prefeito pela ampliação do programa de distribuição de cestas básicas em ano eleitoral, aplico multa apenas ao recorrido João Rodoger de Medeiros, que fixo em R$ 10.000,00 - acima, portanto, do mínimo legal - , o que faço levando em conta o potencial da conduta para interferir na escolha popular, e sua influência nos cidadãos mais carentes.

Quanto à aplicação do § 5 o do referido art. 73, como já entendeu esta Corte, apesar da gravidade da conduta, a Lei n. 11.300/2006 não previu sua aplicação à conduta vedada do § 10. É certo que, com a edição da Lei n. 12.034/2009, o legislador corrigiu este equívoco dando nova redação ao

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Todavia, por se tratar de fatos ocorridos no pleito de 2008 e em virtude de não se admitir a retroação da lei para prejudicar o autor de conduta ilícita com a aplicação de sanção mais grave, deixo de aplicar a este caso o disposto no § 5° da Lei das Eleições com a redação introduzida pela Lei n. 12.034/2009, concluindo, assim, que não é possível cassar os diplomas dos recorridos, mesmo tendo eles sido inequivocamente beneficiados diretamente com a conduta.

Da mesma forma, não é possível cassar os seus diplomas nestes autos em razão do abuso do poder econômico e de autoridade, em razão do disposto nos incisos XIV e XV do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, uma vez que a decisão que julga procedente a representação foi proferida após a eleição.

Todavia, há de se aplicar ao recorrido João Rodoger de Medeiros, na condição de responsável pela conduta, a sanção de inelegibilidade para as eleições que se realizarem nos três anos subseqüentes ao pleito, ou seja, a contar de 5.10.2008, como determina o citado inciso XIV do art. 22 da Lei das Inelegibilidades. Deixo de aplicá-la ao recorrido Delci José Goetten de Brito, por não haver provas de sua responsabilidade nos fatos aqui tratados.

Ante o exposto, conheço do recurso e a ele dou provimento, para julgar procedente a representação, aplicando a João Rodoger de Medeiros, responsável pela conduta vedada e pelo abuso do poder econômico e de autoridade, multa no valor de R$ 10.000,00, decretando, ainda, sua inelegibilidade para as eleições que se realizarem nos três anos subseqüentes ao pleito de 2008.

p».

E como voto.

TRESC

IFI.

EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL N° 1641 (9979065-51.2008.6.24.0051) - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO DE PODER ECONÔMICO - ABUSO DE PODER POLÍTICO/AUTORIDADE - CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO -51 a ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA RELATORA: JUÍZA ELIANA PAGGIARIN MARINHO RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RECORRIDO(S): JOÃO RODOGER DE MEDEIROS ADVOGADO(S): MARCO TÚLIO GRANEMANN DE SOUZA; DO RI AN I DE SOUZA GOMES CITRA; CEZARINO INÁCIO DE LIMA FILHO; EMERSON WELLINGTON GOETTEN RECORRIDO(S): DELCI JOSÉ GOETTEN DE BRITO ADVOGADO(S): DORIANI DE SOUZA GOMES CITRA; EMERSON WELLINGTON GOETTEN

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ NEWTON TRISOTTO PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: CLÁUDIO DUTRA FONTELLA

Decisão: Após a apresentação do voto de vista do Juiz Sérgio Torres Paladino, que acompanha a divergência, o Tribunal decidiu, à unanimidade, conhecer do recurso e, por maioria, vencida a Relatora, a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator designado, Juiz Oscar Juvêncio Borges Neto. O Juiz Rafael de Assim Horn, ante o erro material constatado, retificou seu voto, proferido na sessão de 7.4.2010, para acompanhar a divergência. Presentes os Juizes Sérgio Torres Paladino, Eliana Paggiarin Marinho, Rafael de Assis Horn, Oscar Juvêncio Borges Neto, Cláudia Lambert de Faria e Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto.

SESSÃO DE 14.04.2010.

EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL N° 1641 {9979065-51.2008.6.24.0051) - AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL - ABUSO DE PODER ECONÔMICO - ABUSO DE PODER POLÍTICO/AUTORIDADE - CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO -51 a ZONA ELEITORAL - SANTA CECÍLIA RELATOR DESIGNADO". JUIZ OSCAR JUVÊNCIO BORGES NETO RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL RECORRIDO(S): JOÃO RODOGER DE MEDEIROS ADVOGADO(S): MARCO TÚLIO GRANEMANN DE SOUZA; DORIANI DE SOUZA GOMES CITRA; CEZARINO INÁCIO DE LIMA FILHO; EMERSON WELLINGTON GOETTEN RECORRIDO(S): DELCI JOSÉ GOETTEN DE BRITO ADVOGADO(S): DORIANI DE SOUZA GOMES CITRA; EMERSON WELLINGTON GOETTEN

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ NEWTON TRISOTTO PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: CLÁUDIO DUTRA FONTELLA

Decisão: foi assinado o Acórdão n. 24.480, referente a este processo. Presentes os Juizes Irineu João da Silva, Júlio Guilherme Berezoski Schattschneider, Rafael de Assis Horn, Oscar Juvôncio Borges Neto, Cláudia Lambert de Faria e Leopoldo Augusto Brüggemann.

SESSÃO DE 12.05.2010.