24. jogos olímpicos do rio de janeiro – aspectos orçamentários e

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ECONOMIA SINDICATO DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS CONTÁBEIS DO RS Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro Aspectos Orçamentários e Estratégicos Convênio FACE/PUCRS e SESCON-RS Relatório 24 maio de 2016

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ECONOMIA

SINDICATO DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS CONTÁBEIS DO RS

Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro –

Aspectos Orçamentários e Estratégicos

Convênio FACE/PUCRS e SESCON-RS

Relatório 24

maio de 2016

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1) Introdução

A realização e a organização dos Jogos Olímpicos da Era Moderna assumiram

desde meados do século XX importância política, econômica e social. Assim, por

exemplo, foram os jogos de Berlim em 1936, quando a organização valeu-se da

realização do evento para propagandear junto ao público, interno e externo, as ideias do

governo alemão. Também foram emblemáticos os jogos de Londres, em 1948, logo

após o término da segunda guerra; assim como os de Tóquio e Munique,

respectivamente em 1964 e 1972, para mostrar ao mundo a recuperação dessas nações;

os jogos de Moscou, em 1980, demonstrando a vitalidade do regime soviético; os de

Seoul e Barcelona, para mostrar a ascensão de novas nações no cenário internacional; e

os de Pequim, em 2008, simbolizando a força da economia chinesa e de sua sociedade.

O mesmo ocorre com outros eventos esportivos como a Copa do Mundo, os

mundiais de atletismo e natação e mesmo esportes menos populares, como o rugby com

o simbólico mundial de 1995 na África do Sul.

Para o Brasil a realização de dois eventos de grande porte em curto período de

tempo poderia representar o “novo status” do país no contexto global. Essa era a aposta

ao acumular a Copa do Mundo de futebol e as Olímpiadas, algo que poucos países antes

do Brasil ousaram fazer: EUA (1994 e 1996), Alemanha (1972 e 1974) e o México

(1968 e 1970).

Nesse sentido, a realização dos eventos não é apenas uma oportunidade para

assistir alguns desempenhos e confrontos fantásticos, mas antes posicionar-se frente ao

mundo, tal como é a perspectiva de assumir papéis mais relevantes. Então é como uma

grande campanha diplomática, afora uma grande responsabilidade para com a

humanidade.

O presente relatório pretende focar dois temas: as promessas da candidatura

brasileira, concluída com sucesso em 2009, e a situação atual; e a orçamentação dos

compromissos, sobretudo o comprometimento de recursos federais versus recursos

locais, além da majoração dos custos.

3

2. Qual Brasil sediaria as Olimpíadas?

As candidaturas às olímpiadas têm, para além das visitas e know-how

comprovados, como primeira obrigação apresentar um relatório sobre as condições de

infraestrutura, capacidade de organização e condições de financiamento e econômicas.

Em especial, a estabilidade e o crescimento econômicos prévios e durante a realização

dos Jogos. Essa primeira seção terá como função avaliar o que se pretendia e o que se

alcança.

2.1 O Brasil da candidatura

No documento de candidatura há uma abrangência de temáticas que passam pelo

conceito geral dos Jogos até aspectos meteorológicos. Nossa preocupação estará

centrada em dois itens: clima e estrutura da política e da economia, além de finanças.

Porém, como missões gerais são identificadas cinco estratégias gerais (Dossiê de

Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p. 20):

1. Participação dos Jovens;

2. Transformação social através do esporte;

3. Liderança esportiva regional – promoção de eventos para os vizinhos;

4. Promoção global – valores associados ao movimento olímpico;

5. Uma entrega de sucesso – aspecto infraestrutura;

Como legados o documento ainda cita (Dossiê de Candidatura, vol. 1, Rio 2016,

p. 22):

1. Transformação da cidade;

2. Inserção social: habitação, treinamento e emprego;

3. Juventude;

4. Esportes;

Em um sentido geral, o documento de candidatura afirma (Dossiê de

Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p. 22): “O Rio de Janeiro tem cada vez mais o perfil

de cidade global, e se tornaria um lugar ainda melhor para viver, realizar

negócios e fazer turismo”.

4

Na seção relativa ao “clima e estrutura da política e da economia do Brasil”,

para nosso interesse, estão algumas das afirmações mais centrais.

Uma das afirmações ainda no primeiro parágrafo refere-se a uma projeção

do Banco Mundial nas quais “projeções do Banco Mundial mostram que o Brasil

se tornará a quinta maior economia do mundo até 2016” (Dossiê de Candidatura,

vol. 1, Rio 2016, p. 34). Embora a fonte da projeção seja outra, que não o governo

brasileiro, um dos corresponsáveis da candidatura, essa foi uma firmação central no

convencimento da opinião pública internacional sobre a capacidade do Brasil em

sediar o evento. Também o foi a frase subsequente: “A economia brasileira está

estabilizada há mais de 20 anos e atingiu crescimento sustentável, com projeções

de inflação abaixo de 4% no médio prazo e um sólido superávit fiscal” (Dossiê de

Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p. 46). Mais à frente, afirma-se que “essa

estabilidade de longo prazo desempenha papel fundamental no processo de

inclusão e na melhor distribuição de renda.” (Dossiê de Candidatura, vol. 1, Rio

2016, p. 46).

Sem dúvida, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a comunidade

internacional gostam de realizar eventos em ambientes estáveis e previsíveis.

Sobretudo, em se tratando do evento máximo do comitê.

Mais à frente, nos detalhamentos dos itens, é dito que “A economia do país

é uma das que mais cresce no mundo, uma economia com mercado robusto que

permanece estável, mesmo neste período de grande incerteza econômica”. (Dossiê

de Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p. 56).

Sobre os níveis de renda afirma-se que o crescimento de anos anteriores

garantiu um novo patamar de renda, US$ 6.907 em 2007, junto ao fato da

desigualdade de renda, medida pelo índice de Gini cair 0,7 pontos por ano durante a

primeira década do século XXI. (Dossiê de Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p. 56).

Finalmente, em termos financeiros e considerando a evolução da inflação e

do real frente ao dólar: R$ 7,6 bilhões ou US$ 3,2 bilhões relativos às operações

antes e durante os jogos e outros R$ 31 bilhões ou US$ 13,5 bilhões relativos ao

orçamento da infraestrutura em estruturas de capital e operações relativos aos Jogos

(Dossiê de Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p. 126).

As garantias financeiras são dadas pelos três níveis de governo no caso das

instalações esportivas, obras de infraestrutura, instalações de treinamento e pela

Caixa Econômica Federal atribuindo garantias para a Vila Olímpica e Paraolímpica

5

e a Vila de Mídia da Barra da Tijuca (Dossiê de Candidatura, vol. 1, Rio 2016, p.

126).

2.2 O Brasil dos jogos Olímpicos

Desse modo, podemos agora entender como o Brasil chega aos Jogos

Olímpicos.

Quadro 1 – Projetado / Contratado versus Entregue nos itens

estratégicos (continua)

Item Projetado / Contratado Entregue

Tamanho da economia Quinta maior economia

do mundo.

Pelas projeções do FMI o

Brasil será em 2016 a

nona maior economia do

mundo.1

Estabilidade econômica Inflação ao redor de 4%

ao ano

IPCA Brasil fechou o ano

de 2015 com variação

acima de 10%. O

projetado para 2016 está

acima de 7%. Ambos fora

da meta determinada pelo

CMN – Conselho

Monetário Nacional.

Contas Públicas Sólido Superávit Fiscal O déficit nominal alcança

7,3% do PIB. Na

realidade, há também

déficit primário, da ordem

de 2,1% do PIB.

Distribuição de renda Em melhora contínua Segundo dados do FMI, a

renda per capita do Brasil

é de US$ 8.802 em 2015.

A desigualdade de renda

parou de cair e elevou-se

no ano de 2015.

1 Pelo critério da Paridade do Poder de Compra, o Brasil será a sétima economia do mundo em 2016. No

entanto, o dossiê da candidatura abordava o critério nominal.

6

Quadro 1 – Projetado / Contratado versus Entregue nos itens

estratégicos (conclusão)

Item Projetado / Contratado Entregue

Crescimento Econômico Uma das que mais cresce

no mundo

Das grandes economias o

Brasil terá o pior

desempenho em 2016. O

projetado pelo mercado é

uma retração próxima a

4%. Junto ao decréscimo

de 2015, o Brasil vive a

sua pior recessão em

séculos.

Rio, uma cidade melhor Um lugar ainda melhor

para se viver

O índice de

desenvolvimento humano,

tanto o apurado pelo

PNUD-ONU, quanto o

apurado pela FIRJAN

apresenta melhora nas

dimensões Saúde e

Educação. A dimensão

emprego e renda

mantêm-se estável desde

2009.

A taxa de homicídios caiu

desde então, embora ainda

se encontre em patamar

elevado.

Fonte: Elaboração Própria com base no Dossiê de Candidatura, v.1, índice FIRJAN

de desenvolvimento municipal, Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD,

Fundo Monetário Internacional, OCDE, Notas para a Imprensa – Relatório Fiscal do

Banco Central do Brasil e Relatório Focus do Banco Central.

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3 Orçamentação

A orçamentação dos jogos é dividida em três itens:

1. O orçamento das arenas e instalações esportivas;

2. O orçamento do legado (obras de infra estrutura);

3. O orçamento do comitê organizador (promoção, eventos e divulgação

dos jogos, bem como oferta de serviços e produtos durante os dias de

realização do evento);

Serão analisados separadamente cada um dos itens.

3.1 Orçamentação da Estrutura Esportiva

Para fins de planejamento, a Olímpiada do Rio de Janeiro foi dividida em

regiões de competição, donde se destacam seus cinco eixos: a Região da Barra, local

sede da maior parte das competições e da vila olímpica, a Região Deodoro, a Região

Copacabana, a Região Maracanã e, por fim, uma Multirregião, abarcando diferentes

complexos.

As tabelas e quadros a seguir levarão em conta tal divisão para demonstração

dos resultados. Nestas tabelas, além do orçamento, procurar-se-á destacar a fonte de

financiamento relativa às obras. Faz-se necessário destacar de antemão que, exceto

pela região da Barra, as demais regiões em janeiro de 2014 ou 32 meses antes dos

jogos não possuíam valores definidos. No entanto, a partir do primeiro semestre de

2015 os valores foram definidos em sua totalidade.

De idêntica maneira foi definida no primeiro semestre de 2015 a efetiva

participação de cada uma das esferas públicas e dos entes privados na orçamentação

da Olimpíada.

De um ponto de vista regional também é preciso fazer notar alguma

heterogeneidade na distribuição de recursos. A maior parte dos recursos foi

direcionada à região da Barra, centro das competições e da atividade olímpica. A

Barra da Tijuca, contudo, detém o melhor IDH dentre os centros regionais

escolhidos, sendo que outros bairros com expressivo IDH é o do Maracanã, assim

como Copacabana. Dentre os 126 bairros do Rio de Janeiro, a Barra posiciona-se

em oitava, Copacabana em décimo primeiro e o Maracanã em décimo quarto na

classificação do IDH.

8

A exceção é o bairro de Deodoro, quinquagésimo colocado. Esse é o único

bairro que efetivamente pode se beneficiar, no sentido de mudar sua condição

estrutural, dos investimentos esportivos proporcionados pela Olímpiada.

Tabela 1 – Portfólio Região da Barra – Reponsabilidade por Ente –

Em milhões de R$

Valor %

Governo Federal 903,7 15,9

Governo Estadual 18,0 0,3

Governo Municipal 652,6 11,5

Setor Privado 4.119,5 72,3

Total 5.675,7 100,0

Fonte: Matriz de Responsabilidades, Autoridade Pública Olímpica, janeiro de 2016

Tabela 2 – Portfólio Região de Copacabana – Reponsabilidade por Ente

Em milhões de R$

Valor %

Governo Federal 7,3 9,7

Governo Estadual 7,6 10,1

Governo Municipal 0 0

Setor Privado 60,0 80,1

Total 74,9 100,0

Fonte: Matriz de Responsabilidades, Autoridade Pública Olímpica, janeiro de 2016

9

Tabela 3 – Portfólio Região do Maracanã – Reponsabilidade por Ente

Em milhões de R$

Valor %

Governo Federal 0 0

Governo Estadual 0 0

Governo Municipal 38,5 39,0

Setor Privado 60,0 61,0

Total 98,5 100,0

Fonte: Matriz de Responsabilidades, Autoridade Pública Olímpica, janeiro de 2016

Tabela 4 – Portfólio Região de Deodoro – Reponsabilidade por Ente

Em milhões de R$

Valor %

Governo Federal 825,4 100,0

Governo Estadual 0 0

Governo Municipal 0 0

Setor Privado 0 0

Total 825,4 100,0

Fonte: Matriz de Responsabilidades, Autoridade Pública Olímpica, janeiro de 2016

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Tabela 5 – Recursos Multirregião – Responsabilidade por Ente

Em milhões de R$

Valor %

Governo Federal 362,4 89,9

Governo Estadual 0 0

Governo Municipal 40,9 10,1

Setor Privado 0 0

Total 403,3 100,0

Fonte: Matriz de Responsabilidades, Autoridade Pública Olímpica, janeiro de 2016

Tabela 6 – Total da Autoridade olímpica – Responsabilidade por Ente

Em milhões de R$

Valor %

Governo Federal 2.098,8 28,2

Governo Estadual 25,6 0,3

Governo Municipal 1.078,5 14,5

Setor Privado 4.239,0 57,0

Total 7.038,6 100,0

Fonte: Matriz de Responsabilidades, Autoridade Pública Olímpica, janeiro de 2016

Gráfico 1 – Distribuição Por Região

Fonte: Elaboração Própria

11

Gráfico 2 – Distribuição por Ente Financiador

Fonte: Elaboração Própria

3.2 Orçamentação dos Itens Não esportivos ou “Orçamento do Legado”

Nesse item são computados os acessórios de infraestrutura, portanto que

podem ser classificados como legado dos jogos, uma vez que sua estrutura possui

potencial de ser utilizada pela população, independentemente da realização de

eventos esportivos ou práticas de alto rendimento.

Esses totais somam R$ 24,6 bilhões em obras que passam por malha viária

até recuperação arquitetônica de bairros. Nesse caso, o orçamento é totalmente

financiado pelos governos federal, estadual e municipal.

3.3 Orçamento do Comitê Organizador

O último item refere-se ao orçamento relativo ao comitê organizador,

responsável pela promoção e organização antes, durante e depois das competições

realizadas. Esse item tem orçamento superior à construção da infraestrutura esportiva,

somando um orçamento total de R$ 7,4 bilhões.

Todo o orçamento é resultado de recursos privados ou oriundos do Comitê

Olímpico Internacional. A tabela 7 apresenta essa distribuição entre os itens arrecadados

e a Tabela 8 os itens a serem dispendidos.

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Tabela 7 – Orçamento do Comitê Organizador – Origem dos Recursos

Item Receita (milhões) %

Patrocinadores Locais 2.960 40

Comitê Olímpico Internacional 1.850 25

Venda Ingressos 1.184 16

Patrocinadores Internacionais 888 12

Licenciamento e Outras receitas 518 7

Total 7.400 100

Fonte: Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016

Tabela 8 – Despesas do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016

Item Receita (milhões) %

Administração e Comércio 1.924 24

Tecnologia 1.406 19

Projetos de Infra Estrutura 962 13

Esportes e Cerimônias 740 10

Acomodações 740 10

Serviços nos Jogos 592 8

Direitos de marketing 444 6

Transporte 296 4

Atenção ao Público 296 4

Total 7.400 100

Fonte: Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016

4. Totalização dos Três Orçamentos

Na sequência faremos a consolidação dos três orçamentos: o da autoridade

olímpica, o das obras de legado e o do comitê organizador dos Jogos.

Esse somatório é importante por duas razões: a primeira saber efetivamente os

custos dos Jogos e o dispêndio total realizado. A segunda, para avaliar com correção a

participação do setor público e privado, visto que o destaque tem sido sempre para a

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expressiva participação do setor privado, porém apenas no orçamento da autoridade

olímpica do Rio de Janeiro.

Tabela 9 – Soma dos Três Orçamentos por Ente - Em R$ Milhões

Estruturas Legado Comitê

Organizador

Total

Governo federal 2.098,8

24.600,0

Governo estadual 25,6

Governo municipal 1.078,5

Setor Privado / Terceiro

Setor

4.239,0 7.400,0

Total 7.038,6 24.600,0 7.400,0 39.038,6

Fonte: Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016

Gráfico 3 – Participação do Setor Público e Setor Privado nos três orçamentos

Em R$ Milhões

Fonte: Elaborado a partir de Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016