24-01-2003c discurso do presidente da republica- luiz inacio lula da silva- no iii forum social...

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1 Discurso do Presidente da República Presidência da República Secretaria de Imprensa e Divulgação 24/01/2003 Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no III Fórum Social Mundial Anfiteatro Pôr do Sol Porto Alegre RS, 24 de janeiro de 2003 Será que seria pedir demais que os nossos companheiros enrolassem as suas bandeiras só uns dez minutos, para que a gente possa ver as pessoas de trás e as de trás possam ver a gente? Vocês sabem que uma das coisas que eu mais admiro é um militante, de qualquer organização, que vai para a rua com a sua bandeira. Eu acho uma coisa fantástica e inusitada. Eu só estou pedindo. Faz tempo que eu não vejo vocês, faz tempo que vocês não me vêem, e eu acho que enrolar a bandeira cinco minutos não pesa nada para nenhum companheiro. Eu quero, em primeiro lugar, dizer para vocês que é uma alegria maior do que a que o meu coração comporta, estar, outra vez, participando do maior evento multinacional que a sociedade civil mundial organiza, que é este Fórum Social Mundial. Da outra vez que participei aqui, fui fazer um debate cujo tema destinado para eu falar era “Um outro Brasil é possível”. E me lembro que, naquele instante, eu não tinha nem certeza de que seria candidato a Presidente da República. E, hoje, ao participar deste Fórum, eu participo na condição de funcionário público número 1 do meu país. Quero agradecer à Direção deste evento. Eu sei que não é fácil, sei do sacrifício que vocês estão fazendo para ter essa organização, sei do cuidado que vocês têm com a segurança. Eu, agora mesmo, estou falando aqui, em português, e deve haver companheiro aí, francês, inglês, deve haver gente da China, da Índia, que não está entendendo nada do que estou falando. Entretanto, aqueles que não entenderem as minhas palavras, e são

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    Discurso do Presidente da Repblica

    Presidncia da Repblica

    Secretaria de Imprensa e Divulgao

    24/01/2003

    Discurso do Presidente da Repblica, Luiz Incio Lula da Silva, no III

    Frum Social Mundial

    Anfiteatro Pr do Sol Porto Alegre RS, 24 de janeiro de 2003

    Ser que seria pedir demais que os nossos companheiros enrolassem

    as suas bandeiras s uns dez minutos, para que a gente possa ver as pessoas

    de trs e as de trs possam ver a gente?

    Vocs sabem que uma das coisas que eu mais admiro um militante, de

    qualquer organizao, que vai para a rua com a sua bandeira. Eu acho uma

    coisa fantstica e inusitada. Eu s estou pedindo. Faz tempo que eu no vejo

    vocs, faz tempo que vocs no me vem, e eu acho que enrolar a bandeira

    cinco minutos no pesa nada para nenhum companheiro.

    Eu quero, em primeiro lugar, dizer para vocs que uma alegria maior

    do que a que o meu corao comporta, estar, outra vez, participando do maior

    evento multinacional que a sociedade civil mundial organiza, que este Frum

    Social Mundial.

    Da outra vez que participei aqui, fui fazer um debate cujo tema destinado

    para eu falar era Um outro Brasil possvel. E me lembro que, naquele

    instante, eu no tinha nem certeza de que seria candidato a Presidente da

    Repblica. E, hoje, ao participar deste Frum, eu participo na condio de

    funcionrio pblico nmero 1 do meu pas.

    Quero agradecer Direo deste evento. Eu sei que no fcil, sei do

    sacrifcio que vocs esto fazendo para ter essa organizao, sei do cuidado

    que vocs tm com a segurana.

    Eu, agora mesmo, estou falando aqui, em portugus, e deve haver

    companheiro a, francs, ingls, deve haver gente da China, da ndia, que no

    est entendendo nada do que estou falando.

    Entretanto, aqueles que no entenderem as minhas palavras, e so

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    Secretaria de Imprensa e Divulgao

    24/01/2003

    pessoas que acreditam no Frum Social Mundial, olhem nos meus olhos, que

    vo entender cada palavra que eu falar.

    Quero agradecer, aqui, aos companheiros dirigentes do Frum, aos

    ministros, mas, sobretudo, ao povo do mundo inteiro que, sem medir sacrifcio,

    veio aqui, s vezes sem ter o direito de falar, a oportunidade de falar, mas veio

    aqui s para dizer: Eu existo como ser humano. E eu quero ser respeitado

    como tal.

    Eu sempre disse que o maior desejo que tinha, de ser eleito Presidente

    da Repblica, era ver se eu conseguiria atender s minhas prprias

    reivindicaes. Eu sou um homem que fez muitas reivindicaes no Brasil. Eu

    exigi muito de cada Governo que passou aqui, antes de mim, como muitos de

    vocs exigem, nos seus pases.

    E o meu desejo de ser Presidente da Repblica era o de saber se, eleito

    Presidente, serei capaz de atender s minhas prprias reivindicaes.

    Portanto, no tenho que me preocupar com aquilo que possveis

    adversrios vierem a falar. Tenho que saber que, ao longo da histria, o

    movimento social brasileiro, o movimento sindical brasileiro, os partidos

    polticos no Brasil, as Igrejas no Brasil, as ONGs no Brasil, acumularam muita

    experincia e, junto com essa experincia acumulada, tm propostas, tm

    reivindicaes, tm coisas extraordinrias apresentadas. E eu, agora, tenho

    quatro anos para, com muita tranqilidade, a gente possa atender, seno

    todas, aquelas que tivermos capacidade e condies de atender.

    Continuo com o meu sonho de fazer a reforma agrria neste pas.

    Continuo com o meu sonho de garantir uma escola pblica de boa qualidade

    para o nosso povo; e que a Universidade no seja um privilgio de apenas 8%

    da sociedade, mas que seja um direito ao alcance de todos.

    Continuo sonhando com a possibilidade de fazer uma poltica de sade,

    em que nenhum pobre morra mais na porta do hospital por falta de

    atendimento mdico ou por falta de assistncia.

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    Continuo sonhando em construir uma sociedade justa, solidria, fraterna,

    onde o resultado da riqueza produzida no pas seja distribudo de forma mais

    equnime para todos os filhos deste pas.

    Entretanto, tambm aprendi, ao longo da minha trajetria poltica e

    aprendi com vocs , que o tcnico importante para um time no aquele que

    comea ganhando, mas aquele que termina ganhando o jogo que nos

    propusemos jogar.

    Tenho quatro anos de Governo para, de forma tranqila e serena, ir

    fazendo as coisas que tm que ser feitas neste pas. Quero fazer o Governo

    mais honesto que j houve na histria deste pas, o Governo que tenha a mais

    perfeita relao com a sociedade.

    Quero tratar cada um de vocs como trato meu caula de 17 anos. Na

    hora em que puder fazer, faremos. Mas, na hora em que no der para fazer,

    com a mesma serenidade e com o mesmo carinho, quero dizer: companheiro,

    no d para fazer. E tenho certeza de que essa relao de honestidade e de

    companheirismo ser a razo do sucesso do nosso Governo.

    E por que vou agir assim? Vou agir assim porque tenho conscincia da

    responsabilidade que est nas costas das pessoas que me elegeram, que est

    nas costas dos meus ministros e que est, sobretudo, nas minhas costas.

    Embora tenha sido eleito Presidente do Brasil, tenho a ntida noo do que a

    nossa vitria representa de esperana, no apenas aqui dentro, mas para a

    esquerda em todo o mundo e, sobretudo, para a esquerda na Amrica Latina.

    Eu me levanto todo dia, pela manh, e falo para a Marisa que ns temos

    que fazer as coisas muito bem pensadas. Porque qualquer governo, em

    qualquer pas do mundo, pode errar e no acontecer nada, porque muito

    normal que os governantes errem. Mas eu no posso errar. E no posso errar

    porque no fui eleito pelo apoio de um canal de televiso. Eu no fui eleito pelo

    apoio do sistema financeiro. Eu no fui eleito por interesse dos grandes grupos

    econmicos. E eu no fui eleito por obra da minha capacidade ou da minha

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    inteligncia. Eu fui eleito pelo alto grau de conscincia poltica da sociedade

    brasileira, no dia 27 de outubro de 2002.

    Eu sei a expectativa que estou gerando nas mulheres, nos homens e

    nas crianas. Eu nunca vi, na histria do Brasil, tanta expectativa, tanta

    esperana e tanta gente pedindo a Deus para a gente acertar. E tanta gente

    pedindo, no emprego, mas dizendo para mim: Lula, como que eu fao para

    ajudar o nosso Governo a dar certo?

    essa fora da sociedade, e exatamente esse capital poltico que fez

    com que a gente pudesse terminar a eleio e gritasse bem alto: A esperana

    finalmente venceu o medo.

    Eu j estive na Argentina, j estive no Chile, j estive no Equador, e sei

    da expectativa que a Amrica do Sul tem no Governo brasileiro. Eu sei a

    esperana que os socialistas do mundo inteiro tm no sucesso do nosso

    Governo. por isso que aumenta a nossa responsabilidade, e eu volto a

    afirmar: ns esperamos tanto para ganhar, ns perdemos tanto, sofremos

    tanto, tanta gente morreu antes de ns, tentando chegar l, que, por esse

    acmulo de compromissos, quero olhar na cara de cada um de vocs e dizer:

    Eu no vou errar e vou fazer um Governo voltado para os pobres deste pas.

    Eu sempre disse aos companheiros que organizam o Frum Social

    Mundial que era preciso transformar o Frum num instrumento, primeiro que

    no fosse dependente de nenhum partido poltico; segundo, que no fosse

    utilizado por ningum.

    Quando fui convidado a vir aqui, eu ainda disse aos companheiros:

    preciso que vocs pensem se eu devo ir ao Frum Social Mundial, porque eu

    serei o primeiro Presidente. E me disseram: Lula, voc pode ir, porque voc

    anfitrio do III Frum Social Mundial. Mas, hoje, j me comprometi

    publicamente, porque um companheiro da ndia, onde vai ser a prxima sede

    do Frum Social Mundial, perguntou a mim, numa reunio que fiz com a

    Direo mundial do Frum, se eu iria, no ano que vem, ndia. Eu disse a ele:

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    vou ndia. Se for necessrio, vou China e, se for necessrio, vou aonde me

    convidarem, porque sou obra e resultado do trabalho que vocs fizeram ao

    longo de todos esses anos. E, portanto, acho que no apenas eu, acho que

    outros governantes deveriam ir ao Frum Social para ver o que pensa o povo,

    o que deseja o povo e como o povo quer que as coisas aconteam.

    Qual a novidade? Qual a novidade deste ano? que este ano, por

    causa de vocs e por causa do Frum Social Mundial, fui convidado a ir a

    Davos. Se no fossem vocs, eu no seria convidado. E, a, lembrei de uma

    coisa: quando comecei minha vida sindical, os meus amigos mais inteligentes e

    mais espertos diziam para mim: Lula, no entres no movimento sindical,

    porque a estrutura sindical brasileira a cpia fiel da Carta di Lavoro, de

    Mussolini e, se tu entrares no sindicato, vais virar um pelego e no vais

    conseguir fazer nada. Eu entrei no sindicato e, em trs anos, ns mudamos a

    histria do movimento sindical brasileiro, que hoje um dos mais importantes

    do mundo.

    Em 1979, estvamos lutando neste pas pela reconquista das liberdades

    polticas e eu inventei de criar um partido. A, aqueles que queriam liberdades

    polticas comearam a ficar contra, porque na liberdade poltica deles no se

    pressupunha a criao de um partido poltico. E havia quem dissesse para

    mim: Olhe, no Brasil no cabe um partido como o PT. Esse negcio de dizer

    que Partido de Trabalhadores pode ser criado, que metalrgico vai dirigir

    partido, isso coisa do passado. No h, na sociologia brasileira ou mundial,

    exemplo disso. Pois bem, ns fomos teimosos e criamos um partido, que hoje

    o partido mais importante da esquerda em toda a Amrica Latina.

    Agora, lembro de uma coisa que vou contar para vocs: em 1978,

    entramos em greve no ABC e o Presidente da Federao das Indstrias correu

    ao II Exrcito para dizer ao general Dilermando que era preciso acabar com

    uma greve que os metalrgicos estavam fazendo. Possivelmente, se

    pertencesse a uma organizao poltica mais tradicional, eu teria arrumado a

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    mala e teria ido para outro lugar, ficar uma semana, at a poeira baixar. Como

    eu era mais inocente politicamente, peguei um telefone e liguei para o

    comandante do II Exrcito e falei: General Dilermando, estou vendo nos

    jornais que o senhor convidou o Presidente da FIESP, para atender FIESP.

    Sou Presidente dos trabalhadores. Eu quero ir falar com o senhor. E ele me

    recebeu durante trs horas.

    Agora, quando surgiu o convite para Davos, a princpio, falei: o que vou

    fazer em Davos? E, a, tomei a seguinte deciso: sou Presidente de um pas

    que a oitava economia mundial. Sou Presidente de um pas que tem 45

    milhes de pessoas que no consomem as calorias e as protenas

    necessrias. Sou Presidente de um pas que tem histria e que tem um povo.

    E no em qualquer dia, em qualquer ms, em qualquer sculo, que um

    torneiro mecnico ganha a Presidncia da Repblica deste pas. Portanto,

    tomei a deciso.

    Muita gente que est em Davos no gosta de mim, sem me conhecer.

    Quero fazer questo de ir a Davos e dizer em Davos exatamente o que eu diria

    para um companheiro qualquer que esteja aqui neste palanque. Dizer em

    Davos que no possvel continuar uma ordem econmica onde poucos

    podem comer cinco vezes ao dia, e muitos passam cinco dias sem comer no

    planeta Terra. Dizer a eles que preciso uma nova ordem econmica mundial,

    em que o resultado da riqueza seja distribudo de forma mais justa, para que os

    pases pobres tenham a oportunidade de ser menos pobres. Dizer a eles que

    as crianas negras da frica tm tanto direito de comer como as crianas de

    olhos azuis que nascem nos pases nrdicos. Dizer a eles que as crianas

    pobres da Amrica Latina tm tanto direito de comer como qualquer outra

    criana que nasa em qualquer parte do mundo. Dizer a eles que o mundo no

    est precisando de guerra, o mundo est precisando de paz, o mundo est

    precisando de compreenso.

    Eu acho que ns temos o que fazer no mundo. O que a gente no pode

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    ficar preso dentro do nosso mundo, achando que todo mal que nos rodeia

    por causa de quem est fora.

    Eu dizia, hoje: isso mais ou menos como numa famlia em que, de

    repente, aparece um filho metido em drogas e, ao invs de o pai e a me

    discutirem com o filho e saberem onde que est o defeito, comeam a culpar

    a escola, comeam a culpar o vizinho, comeam a culpar a namorada; ao invs

    de sentarem e olharem para dentro do pai e da me e perguntarem a si

    mesmos: O que ns deixamos de fazer, para que o nosso filho no fosse

    drogado?.

    Ns somos pobres. Uma parte pode ser culpa dos pases ricos. Mas

    outra pode ser culpa de uma parte da elite do continente sul-americano, que

    governou de forma subserviente, que governou de forma subalterna este pas,

    praticando os casos mais absurdos de corrupo.

    S na Amrica Latina, nos ltimos anos, quatro governantes: Collor, no

    Brasil; Fujimori, no Peru; Menem, na Argentina e Salinas, no Mxico, saram

    por terem praticado verdadeira roubalheira em seus pases. E isso no pode

    continuar acontecendo. No podem os pases ricos querer ajudar os pases

    pobres aceitando depsito ou lavagem de dinheiro de quem rouba dos pases

    pobres.

    Eu me lembro que, uma vez, havia um presidente do Zaire, chamado

    Mobuto. E eu me lembro que, na poca, a denncia era que ele tinha 8 bilhes

    de dlares depositados num pas da Europa, e o seu povo estava passando

    fome.

    Se os pases ricos querem contribuir, que eles no aceitem dinheiro do

    narcotrfico, do crime organizado. E que no aceitem dinheiro dos pases onde

    os governantes praticaram verdadeiros roubos; que devolvam esse dinheiro

    para ajudar o seu povo.

    Eu quero terminar dizendo para vocs uma coisa. Eu quero dizer para

    vocs que o nico e o mais importante compromisso que eu tenho com vocs

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    o de que podem ter a certeza como a certeza e a f que vocs tm em Deus

    , para quem cristo: eu posso cometer algum erro, mas jamais eu negarei

    uma vrgula dos ideais que me fizeram chegar Presidncia da Repblica do

    nosso pas.

    Eu quero poder, a cada ms, a cada ano, olhar na cara de cada criana,

    de cada mulher, de cada homem e dizer: Ns estamos construindo uma nova

    Nao. Ns estamos construindo um novo pas.

    E teimo em dizer, todo santo dia: eu hei de realizar um sonho, que no

    s meu, mas um sonho que de todos vocs: que haver um dia, neste pas,

    onde nenhuma criana ir dormir sem um prato de comida e nenhuma criana

    acordar sem um caf da manh.

    Haver o dia em que, neste pas, as pessoas podero morrer, porque

    nascemos para morrer, mas ningum morrer de desnutrio, como muitos

    morrem hoje. Chega um dia em que a gente tem que ter a conscincia de que

    este pas que eu sonho e que vocs sonham pode ser construdo. Depende da

    nossa disposio de faz-lo. Depende da nossa coragem. Depende da nossa

    disposio.

    E estou aqui para dizer a vocs: meus companheiros e minhas

    companheiras do III Frum Social Mundial, haja o que houver, acontea o que

    acontecer, tentarei cumprir cada palavra que est contida no Programa de

    Governo que me elegeu Presidente da Repblica deste pas.

    Governar como uma maratona. Voc no pode comear a 80 por hora,

    porque o seu flego pode acabar na primeira esquina. Voc tem que dar

    passos slidos, concretos, para que possa terminar o Governo com a certeza

    do dever cumprido. E quero poder dizer ao mundo: como seria bom, como

    seria maravilhoso se, ao invs de os pases ricos produzirem e gastarem

    dinheiro com tantas armas, gastassem dinheiro com po, com feijo e com

    arroz, para matar a fome do povo.

    Fico imaginando quantos bilhes e bilhes de dlares se gastam com a

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    guerra. Soldado matando soldado. Soldado matando inocente e, prximo de

    ns, crianas levantando os olhos e mendigando um prato de comida, que

    muitas vezes se joga fora e no se d para essa criana.

    Meus companheiros e companheiras do Frum Social Mundial, quero

    que vocs, que so brasileiros, e vocs que no so brasileiros, mas que esto

    aqui, quero que tenham a certeza mais absoluta da vida de vocs: no lhes

    faltarei. No deixarei de fazer as coisas que temos que fazer. E espero dar a

    minha contribuio para que outros companheiros ganhem as eleies em

    outros pases do mundo, para que a gente possa, de uma vez por todas,

    comear a eleger pessoas que tenham mais sensibilidade, que tenham mais

    compromisso, que acreditem que possvel a gente mudar a histria da

    Humanidade.

    O nosso pas, durante 500 anos, ficou olhando para a Europa. Est na

    hora de olhar para a frica e para a Amrica do Sul. Est na hora de se

    estabelecer novas parcerias, para que a gente possa ser mais independente,

    fortalecer o Mercosul e estabelecer uma fora poltica para negociar. No

    podemos aceitar o que est acontecendo durante 40 anos, o bloqueio a Cuba.

    No podemos aceitar que pases sejam marginalizados durantes sculos e

    sculos. E no podemos aceitar que o Brasil, do tamanho que , continue, a

    cada ano que passa, sendo um pas que apresenta maior ndice de pobreza e

    miserabilidade.

    Por isso, no poderia deixar de vir aqui. No poderia deixar de vir aqui e

    dizer a vocs: valeu a pena, gente. E vai valer muito mais a pena, quando a

    gente estiver no ltimo dia de Governo e puder provar, com dados sobre

    dados, que fizemos em quatro anos o que os outros no fizeram em algumas

    dezenas de anos, neste pas.

    Quero me despedir de vocs, quero terminar dizendo aos companheiros

    coordenadores e coordenadoras do Frum Social Mundial: pelo amor de Deus,

    no desistam, porque vocs conseguiram, em trs anos, construir uma das

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    coisas mais extraordinrias que a sociedade civil mundial conheceu.

    Embora estejamos a tantos mil quilmetros de Davos, a verdade que,

    depois do Frum de Porto Alegre, Davos j no tem mais a fora que tinha

    antes de existir o Frum Social Mundial. A verdade que os problemas sociais

    do mundo nunca tinham sido discutidos em Davos e, agora, todos so

    obrigados a saber que tm que discutir os problemas sociais.

    Vocs conseguiram um espao na histria. A imprensa, que comeou,

    no I Frum, a dizer que era um encontro de esquerdistas, a dizer que era um

    encontro dos malucos do mundo, hoje reconhece, em todas as primeiras

    pginas dos jornais: o Frum Social Mundial o maior evento poltico realizado

    na histria contempornea.

    E eu no tenho dvida nenhuma de que ele vai contribuir, de forma

    decisiva, para que a gente mude a histria da Humanidade.

    Muito obrigado e at vitria, se Deus quiser, companheiros!

    /mcpro/lrj