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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina I-019 – ÁGUAS DE LENÇOL FREÁTICO EM CONEXÃO COM ESGOTOS APRESENTANDO RESULTADOS NEGATIVOS DE CONTAMINAÇÃO BACTERIOLÓGICA Paulo Soares dÁguila(1) Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Engenheiro Químico pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1973. Mestre em Saúde Pública com Concentração em Saneamento pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ) (1996). Endereço(1): Rua Leopoldo Bulhões, 1480 5º andar - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ- CEP: 22251-050 - Brasil - Tel: (21) 2598-2568/2598-2576 - Fax: (21) 2270.7352-e-mail: [email protected]. Odir Clécio da Cruz Roque Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Professor Adjunto da Faculdade de Engenharia da UERJ, Engenheiro Químico pela UFRRJ (1969), Doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ (1997). Ana Marcela Ugarte Ramos Pesquisadora Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Engenheira Química pela UFRRJ (1972), Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ (1981). RESUMO O presente trabalho teve como marco referencial os resultados encontrados de qualidade microbiológica da água consumida pela comunidade do Conjunto Imbariê I, II e III, em Duque de Caxias, RJ, onde havia acometimentos de doenças de veiculação hídrica, devido

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22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina I-019 – ÁGUAS DE LENÇOL FREÁTICO EM CONEXÃO COM ESGOTOS APRESENTANDO RESULTADOS NEGATIVOS DE CONTAMINAÇÃO BACTERIOLÓGICA Paulo Soares dÁguila(1) Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Engenheiro Químico pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1973. Mestre em Saúde Pública com Concentração em Saneamento pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ) (1996). Endereço(1): Rua Leopoldo Bulhões, 1480 5º andar - Manguinhos - Rio de Janeiro – RJ- CEP: 22251-050 - Brasil - Tel: (21) 2598-2568/2598-2576 - Fax: (21) 2270.7352-e-mail: [email protected]. Odir Clécio da Cruz Roque Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Professor Adjunto da Faculdade de Engenharia da UERJ, Engenheiro Químico pela UFRRJ (1969), Doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ (1997). Ana Marcela Ugarte Ramos Pesquisadora Titular da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, Engenheira Química pela UFRRJ (1972), Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ (1981). RESUMO O presente trabalho teve como marco referencial os resultados encontrados de qualidade microbiológica da água consumida pela comunidade do Conjunto Imbariê I, II e III, em Duque de Caxias, RJ, onde havia acometimentos de doenças de veiculação hídrica, devido

a saneamento precário, com efluentes de sumidouros diretamente lançados no lençol freático e consumo de água por poços rasos. Os resultados encontrados por perícia local, acusaram num universo de 30 amostras, apenas 16% contaminadas por indicadores conforme as normas do Ministério da Saúde. Assim, compreendendo as variantes que cercam o consumo da água, intencionou-se contribuir ao aprofundamento da discussão no que se refere aos estudos feitos sobre os microrganismos encontrados na água e contribuir para as normas que estabelecem coliformes como indicadores, acompanhados de outros microrganismos como fator de segurança sem levar em consideração outras espécies possivelmente presentes que a partir de um certo momento interferem na cadeia nutricional dos indicadores além de interferências químicas das substâncias contidas no esgoto sanitário. PALAVRAS-CHAVE: Controle Qualidade da Água, Monitoramento da Água, Abastecimento de Água. INTRODUÇÃO O propósito primário para a exigência de qualidade de água é a saúde pública. O critério adotado para assegurar essa qualidade tem por objetivo fornecer uma base para o desenvolvimento de ações que, se propriamente implementadas junto à população, garantirão a segurança do fornecimento através da eliminação ou redução à concentração mínima de constituintes na água conhecidos por serem perigosos à saúde. A água é essencial à manutenção da vida. A proteção de contaminações no fornecimento de água é a primeira linha de defesa (DAHI, 1992). Quase invariavelmente, o melhor método de assegurar água adequada para consumo consiste em formas de proteção, evitando-se contaminações de dejetos animais e humanos, os quais podem conter grande variedade de bactérias, vírus, protozoários e helmintos. Falhas na proteção e no tratamento efetivo expõem a comunidade a riscos de doenças intestinais e a outras doenças infecciosas (BROMBERG, 1995; HELLER, 1998). Os riscos à saúde relacionados com a água podem ser distribuídos em duas categorias principais: 1) riscos relativos à ingestão de água contaminada por agentes biológicos (vírus, bactérias e parasitas), através do contato direto ou por meio de insetos vetores que necessitem da água em seu ciclo biológico; 2) riscos derivados de poluentes químicos e, em geral, efluentes de esgotos industriais (CHARRIERE et al., 1996; KRAMER et al. 1996). Avaliar os interferentes de resultados de análises de indicadores de contaminação da água para consumo humano principalmente oriundo do lençol freático, estando em conexão com esgotos domiciliares, foram as principais preocupações do trabalho. A realização da pesquisa teve como marco referencial os resultados encontrados de qualidade microbiológica da água consumida pela comunidade do Conjunto Imbariê I, II e

III, em Duque de Caxias, RJ, onde havia acometimentos de doenças de veiculação hídrica, saneamento precário com efluentes de sumidouros diretamente lançados no lençol freático e consumo de água por poços rasos. A qualidade de água utilizada para consumo humano obrigatoriamente deve ser monitorada, conforme legislação atual, pela Vigilância Sanitária e/ou Vigilância Ambiental Municipal, de forma a garantir a saúde de uma determinada população. O risco sanitário potencial no caso estudado é significativo e pode desencadear de uma só vez, várias doenças de origem e de veiculação hídrica. Apesar do Conjunto se abastecer de água de poço as Instituições responsáveis deveriam estar presentes, o que não acontece, pois a situação desses órgãos públicos não é favorável, uma vez que apresentam dificuldades operacionais por falta de investimentos e de estruturas gerenciais adequadas para este fim. Esses problemas vêm acarretando perdas de qualidade do serviço, refletindo assim, em constantes reclamações e aumento do risco de contaminação pela população. A nível local, os questionamentos da população a respeito da qualidade de água, normalmente não são respondidos pelas autoridades responsáveis. A população recorre a Secretaria Municipal de Saúde, que não tendo meios para analisar essa água, recomendam laboratórios de referência do SUS na capital do Estado do Rio de Janeiro. Este procedimento pode apresentar falhas de coleta, insuficiência de conservação da amostra durante o transporte, sendo que no geral, este processo não apresenta resolução, pois o resultado final das análises é apresentado vários dias do evento inicial e não há a continuidade na investigação devido à falta de capacitação dos servidores da Secretaria Municipal em pesquisar a causa e propor correções técnicas. Esta não é uma realidade somente para o caso em estudo, porém comum a maioria dos municípios, pois as Secretarias Municipais de Saúde apresentam, além da carência de recursos humanos capacitados, falta de espaço físico para implantação de laboratório, bem como problemas financeiros para investimentos em vigilância sanitária e ambiental. O resultado final destes fatores é a inexistência da atividade de monitoramento de qualidade de água de consumo humano nos Municípios em detrimento da legislação de saúde. DESCRIÇÃO DO SÍTIO EM ESTUDO LOCALIZAÇÃO: Região Metropolitana, zona da baixada fluminense, com sede situada a 22o 47’10" de Latitude sul e 43o 18’30" de longitude W Gt. Dista 16 km da Capital do Estado, em linha reta no rumo oés-Noroeste. DISTRITOS: Possui quatro distritos: Duque de Caxias (sede-10 distrito), Campos Elíseos (20 distrito), Imbariê (30 distrito) e Xerém (40distrito). O Município de Duque de Caxias é um dos maiores pólos industriais do Estado do Rio de Janeiro. Sua história, segundo Antônio Izaías da Costa Abreu (Municípios e Topônimos Fluminense, Imprensa Oficial RJ, 1944) confunde-se com a de São João de Meriti, uma vez que seu território integrava o deste último com a criação da Freguesia de São João Batista de Trairaponga. Segundo os cronistas, o devassamento da região em que se estende o Rio

Meriti ao Estrela ou Inhomirim e da Baía de Guanabara à orla das serras ocorreu logo após a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, quando da distribuição das primeiras quadras ou sesmarias aos que participaram do teatro de guerra. Entre os agraciados figura Brás Cubas, com uma quadra medindo nada menos de 03 mil braços de terras, de testada, pela costa mar, e 9 mil de fundos pelo rio de Meriti, "correndo pela piassaba da aldeia de Jacutinga". Inicialmente os primeiros colonos fixaram-se às margens do rio Meriti, Sarapuí, Iguaçú, Estrela e Inhomirim, ou na orla marítima, dando início à exploração do seu solo e de riquezas naturais. Já um tanto povoada a região, há a manifestação religiosa com a ereção de uma capela, dedicada ao culto de Nossa Senhora do Pilar, elevada a freguesia por alvará de 1637. Dez anos mais tarde, surge a freguesia de São João Batista de Traiaraponga, em 1647, atual São João de Meriti. Contudo, dentro da área da cidade de Duque de Caxias, segundo José Lustosa, ilustre historiador Caxiense, "a manifestação sócio religiosa mais formal se processou quando o prelado Antônio Marins Loureiro iniciou a construção de um templo onde se localiza hoje a igreja de Santa Terezinha. Entrementes, com o correr dos anos o templo danificou-se, ficando ao abandono. Felizmente no atual século aparece Dom Guilherme Muller, bispo de Barra do Piraí, que resolve salvar a edificação, preservando-a. Então, as suas expensas, restaura aquele monumento histórico que se perdia irremediavelmente. Um motivo o atraía principalmente: dar ao orago em homenagem a Santa Terezinha do Menino Jesus. E, assim, no dia 11 de setembro de 1930, já se celebrava novamente a missa naquele templo que foi de fato o primeiro que se construiu com importância social dentro do território que hoje constitui o Município de Duque de Caxias". No período que se seguiu à abolição da escravatura, embora a ausência de mão-de-obra tenha sido considerável, a região acolheu inúmeras levas de novos colonos e moradores provenientes do êxodo rural fluminense, de início, e de outras partes do País, posteriormente. Em 14 de março de 1931, por força do Decreto no 2.559, dessa data, Duque de Caxias desmembrou-se de São João de Meriti para constituir-se em mais um distrito de Nova Iguaçú, com sede na velha estação ferroviária de Meriti. Com o considerável progresso alcançado não tardou, na década seguinte, fosse elevado à categoria de município, em virtude do decreto no 1.055, de 31 de dezembro de 1943, confirmado pelo de no 1056, da mesma data, com o nome de Duque de Caxias; a instalação verificou-se no dia seguinte pelo doutor Luiz Miguel Pinaud, então Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de Nova Iguaçú, prestigiado pelas mais destacadas figuras do cenário político fluminense. Duque de Caxias possui uma área de 442 km2, estando localizado no centro-sul do Estado do Rio de Janeiro. A temperatura ambiente atinge valores elevados no verão, estação que apresenta alto nível de precipitação pluviométrica. Sua temperatura média anual é agradável, situando-se em torno de 21,8 0 C; tem como limites: Miguel Pereira e Petrópolis, ao Norte. Rio de Janeiro, ao Sul. Magé e Baía de Guanabara, ao Leste. Nova Iguaçú, São João de Meriti e Belford Roxo, a Oeste. Fazem parte do seu território os rios: Iguaçú, Meriti, Estrela e Sarapuí, entre outros de menor importância. O município possui

importantes rodovias, podendo-se citar: Rodovia Washington Luiz(Rio-Petrópolis); BR-040 (liga o Rio à Minas Gerais, Brasília e Bahia); BR-135 (liga o Rio à Bahia, pelo litoral). DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS O Município de Duque de Caxias apresenta os seguintes dados sócio-econômicos: Possui um Museu Histórico localizado na Taquara (30 distrito), onde morou Duque de Caxias; Possui 04 (quatro) faculdades: AFE (Universidade), FEUDUC, UERJ e SANTA LUZIA; Possui um Centro de Estudos Supletivos (CES), localizado no 10 Distrito(Centro), destinado ao ensino individualizado de adultos; Possui várias opções de lazer: Parque Histórico Duque de Caxias; Reserva Florestal de Xerém, Cascata do Embaixador, Centro de Esportes, Teatro Procópio Ferreira (Câmara), Teatro Armando Melo (Shopping Center); Cinema Unigranrio e Santa Rosa; Possui uma das maiores refinarias de petróleo (REDUC), localizada em Campos Elíseos (20 distrito); Possui uma parte da Mata Atlântica (floresta tropical), formada por CEDRO, CANELA, IPÊ e JEQUITIBÁ; Em 1971, Duque de Caxias foi declarada área de Segurança Nacional e os Prefeitos passaram a ser nomeados pelo Presidente da República, só retornando as eleições diretas em 1986; Possui uma população de 1.670.000 habitantes (censo de 1996-IBGE), sendo 748.528 homens e 921.478 mulheres; Possui 30 bairros e o centro do Município ocupa uma área de 180 ha; Possui 11 mil estabelecimentos comerciais; Possui 1.591 indústrias, com destaque para a mecânica, metalúrgica, de roupas e de mobiliário (censo de 1989); Hospitais de atendimento geral (03 unidades); Maternidade(07 unidades); Pronto socorro (02 unidades); Clínicas (02 unidades); Hospitais Especializados (05 unidades); Postos de Saúde (10 unidades);

INDICADORES SANITÁRIOS Domicílios ligados à rede de esgotos: 24,21 % Domicílios ligados à rede de abastecimento de água: 60% Coleta de lixo e destino final: coleta em aproximadamente 70% da zona e urbana e destino final no aterro controlado de Gramacho. HISTÓRICO DA ÁREA DE ESTUDO (CONJUNTO RESIDENCIAL) O Conjunto Residencial Imbariê I, II e III está localizado no Município de Duque de Caxias, no 30 Distrito (Imbariê), tendo como um dos seus limites a Avenida Automóvel Clube na altura do número 7014 (Km 55,5). Foi construído pela Caixa Econômica Federal, sendo de n0 32.129/91 o seu processo de construção o qual foi aprovado em 12/02/92 pelo Secretário Municipal de Obras. As obras foram concluídas em 1994 e a primeira chave entregue em 30/08/96. O Conjunto é composto de 1460 unidades habitacionais. Indicadores sócio-econômicos: Possui uma escola de ensino de 10 grau. (Escola Municipal Barbosa Leite); Possui cinco igrejas (todas protestantes); Possui 15 estabelecimentos comerciais (todos pequenos comércios de variedades); População estimada: 5.000 pessoas. O Conjunto é representado socialmente pela Associação de Moradores e Amigos de Shekinah (AMAS), fundada em 05/12/97, estando registrada no 20 Ofício do Registro de Pessoas Jurídicas de Duque de Caxias, sob número 0.010.704, processo n0 83.540 de 02/12/97. Indicadores de saúde: No condomínio não existe nenhum tipo de serviço médico-sanitário. Indicadores sanitários: Destino dos Dejetos: no projeto inicial cada quatro unidades habitacionais têm seus dejetos ligados a uma fossa séptica e o efluente desta é conduzido ao canal existente na Avenida do Canal. Com o crescimento do conjunto alguns moradores construíram sumidouros.

Abastecimento d’água: no projeto inicial o abastecimento d’água era feito por um sistema que consta de um poço tubular de onde a água era elevada a um reservatório que distribuía para as unidades habitacionais por gravidade. Com o crescimento da população os moradores escavaram poços. Atualmente 62% das casas são abastecidas por poços individuais. Como pode ser avaliada a situação local não difere dos indicadores gerais do Município. METODOLOGIA De forma a atender os objetivos do trabalho foi utilizada uma metodologia descritiva da situação de saneamento local e de dados práticos de campo através de coleta de amostras selecionadas, tendo como meta atingir uma cobertura mínima de 01 (uma) amostra de água por no mínimo 500 m2, dando-se preferência aos locais públicos de maior circulação populacional. O sítio de estudo, conforme já descrito, foi o conjunto residencial Imbariê I, II e III, pela situação observada que fere todos os princípios de saneamento, fator primordial na promoção da saúde. As análises obedeceram o "Standard Methods for Examination of Water and Wastewater" (AWWA, 1995), Métodos FEEMA de Análise de Água e Esgotos (1983) e Métodos CETESB de Análises Bacteriológicas de Água (1992), realizados na Fiocruz/ENSP/DSSA, sendo os resultados comparados com as normas brasileiras de potabilidade de água destinada ao consumo humano, portarias 36/1990 e 1469/2000, do Ministério da Saúde. Além de atender as normas levou-se em consideração a possível interferência de Pseudomonas aeruginosa em análises de coliformes e avaliou-se a presença de Amebas, Giardia e Criptosporidium. As técnicas de coleta e transporte obedeceram a norma ABNT NBR 9898. Trabalho de Campo Para a pesquisa o número total de amostras coletadas foram de 316 (trezentas e dezesseis), levando-se em consideração a área do condomínio e a densidade populacional, sendo feitas duas coletas em datas diferentes em cada ponto pré-determinado. Para cada campanha de coletas tomou-se como base a média de 15 amostras/dia de forma que devido a distância comunidade-laboratório não excedesse o tempo de 4 horas para início das análises. Em todas as amostras foram feitas avaliações locais que constaram de: Ensaio de Nessler com o objetivo de se avaliar previamente contaminação fecal (ROQUE, d`AGUILA, MIRANDA. 1995), Aspecto e Odor. Nas amostras coletadas nos reservatórios foi medido o cloro residual.

Em todos os casos os locais de coleta foram vistoriados sob os diversos aspectos de proteção, possíveis infiltrações, distância do sumidouro, tampas, etc. A preferência de coletas foram, as retiradas diretamente dos poços, na impossibilidade coletou-se nos reservatórios. Análises Laboratoriais Em todas as amostras foram realizadas análises quantitativas de coliformes fecais, coliformes totais, salmonelas e enterobactérias. Em 23% das amostras análise quantitativa de Pseudomonas aeruginosa , em 15’% das amostras análise quantitativa de Ameba, Giardia e Criptosporidium. Para efeito de comparação em 15% das amostras foram determinados parâmetros físico-químicos como pH, cor, turbidez, cloro residual, cloretos, nitratos, ferro, detergentes, fenol, oxigênio dissolvido, demanda química de oxigênio e demanda bioquímica de oxigênio. Para efeito de controle, as amostras foram avaliadas no local da coleta, transportadas em poucas horas para os laboratórios de análises. Os frascos de coleta foram previamente preparados, para águas contendo cloro, águas isentas de cloro, esterilizados. Resultados Obtidos Resumo dos resultados podem ser vistos a seguir: Tabela 01 – coliformes totais e coliformes fecais em 100% das amostras Análises para Coliformes Número de amostras coletadas Número de amostras positivas Positivas com coliformes totais Positivas com coliformes fecais

Positivas somente com coliformes totais Positivas somente com coliformes fecais 206 106 106 19 87 0 Tabela 2 – Pseudomonas aeruginosa em 23% das amostras coletadas Análises para Pseudomonas aeruginosa Número de amostras analisadas Número de amostras positivas Positivas para CT, CF e Pseudomonas ao mesmo tempo Positivas para CT e Pseudomonas ao mesmo tempo Positivas para CF e Pseudomonas ao mesmo tempo Positivas só em CT e Pseudomonas. Positivas só em CF e Pseudomonas Positivas somente em Pseudomonas 48 22 08 21

08 12 00 01 CT e CF – coliformes totais e coliformes fecais Tabela 3 – Análises parasitológicas em 15% das amostras coletadas Análises Parasitológicas Número de amostras analisadas Amostras positivas em giardia Positivas positivas em ameba Positivas positivas em criptosporidium 31 03 01 00 Obs. Em nenhuma amostra houve positivação de dois microorganismos ao mesmo tempo Tabela 4 – Análises Físico –Químicas em 15% das amostras coletadas No da amostra pH Cor

Turbidez OD DBO DQO Ferro Fenol Detergente Cloretos 5 6,5 2,0 5,0 0,6 1,8 0 1,0 + + 12,0 6 5,3 7,5 16,0 1,4

4,2 16,3 1,5 + + 11,5 20 4,1 2,0 7,2 0,5 8,6 0 1,1 + - 12,0 26 4,3 4,0 7,1 1,7 1,0

0 0,5 + - 9,5 27 6,6 5,0 6,7 1,2 0,65 0 0,6 - - 15,0 28 5,5 1,0 7,1 2,5 2,4 2,0 0,8

- + 7,0 30 5,3 2,0 3,5 1,6 3,6 0 0,4 + + 32,0 36 6,0 2,0 3,5 6,2 4,2 0 0,1 +

+ 1,0 38 4,4 5,0 6,6 2,5 1,5 0 0,6 + - 9,5 40 5,8 1,0 3,5 5,2 3,6 10,6 0,6 - + 9,5

42 5,7 1,0 4,7 4,8 4,8 0 0,6 + - 16,0 45 5,3 2,0 6,4 5,6 0,9 0,14 0,1 - - 17,5 46

5,5 1,5 6,5 5,9 1,4 0 0,1 - - 14,5 47 5,3 3,0 6,7 0,8 1,4 0,8 0,4 + - 12,5 48 5,4 2,0

3,5 1,5 4,7 0 0,1 + + 14,0 49 4,7 2,5 5,8 2,7 0,45 0 0,6 + - 9,0 54 5,3 2,0 5,0

0,8 0,14 2,5 2,5 + - 7,5 55 5,8 10,0 16,0 1,3 7,4 0 2,6 - - 7,5 57 5,8 2,0 5,0 4,1 7,4

0 0,2 + - 6,0 66 5,7 2,0 5,0 0,6 5,7 0,8 1,5 - - 7,0 67 5,1 12,0 6,7 0,8 6,9 3,0

2,7 - + 24,0 78 5,8 2,0 6,7 5,1 1,7 0 0,2 + - 9,5 80 5,5 3,0 6,7 4,7 0,5 0 0,1 +

+ 8,5 82 5,3 3,0 6,7 4,9 0,5 0 0,1 - + 8,5 84 5,0 4,0 5,0 3,7 0,5 0 0,2 - +

8,0 87 4,2 5,0 2,7 3,7 0 0 0,6 + - 8,5 92 4,2 5,0 2,7 3,7 0 0 0,6 + - 8,0 95

5,3 2,5 6,7 0,5 3,5 29,9 2,6 + + 12,0 98 5,1 1,5 6,7 0,5 4,2 35,4 1,6 + + 1,0 Conclusões/Recomendações

Pode-se afirmar que existem interferências nos valores positivos/negativos de contaminação de água, seja pela presença de microrganismos inibidores de crescimento bacteriano nos meios de cultura tradicionais, talvez pelo material bactericida utilizado pelos moradores como desinfetantes, inseticidas, etc., presença de metal pesado e pouco carbono orgânico bioassimilável. A presença de Giardia e Ameba em algumas amostras, principalmente as com índice coli zero, aumenta a importância dos resultados, pois sabe-se que estas espécies são mais resistentes que os coliformes não só em relação ao tempo (contaminações antigas) mas também nos casos onde existem interferências microbiológicas e/ou químicas. Os resultados esperados eram de que praticamente 100% de amostras apresentassem algum tipo de contaminação pelas condições precárias locais e pela falta de informação de medidas sanitárias da comunidade. O fato de não ocorrer em quase metade das amostras, contaminação ou presença de quaisquer outros microrganismos pesquisados não é garantia segura de água de boa qualidade. Por outro lado os exames físico-químicos levantam a possibilidade de interferências de determinação, já que apresentou valores de ferro, fenol, turbidez, pH, cor e detergentes, fora das normas estabelecidas. Há a necessidade de ao se pesquisar a qualidade da água para consumo humano fazer-se uma perícia local prévia, objetivando-se a obtenção de dados, inclusive as características organolépticas, para que possam ser utilizados na interpretação dos resultados obtidos. Água Subterrânea é uma ótima opção de fonte para consumo humano sob diversos aspectos, porém se não forem observados alguns detalhes técnicos corre-se o risco de se fornecer água imprópria para a população . Mesmo que haja o controle da água sob o ponto de vista bacteriológico, corre-se o risco de se estar consumindo água imprópria. AGRADECIMENTOS A Direção da Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ e em particular a Coordenação do Programa de Pesquisa Estratégica e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP pela possibilidade de realização e divulgação deste trabalho neste Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental BIBLIOGRAFIA

CYNAMON,S.E. Subsídios Para um Instrumental de Análise: In: Congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, 8.1975. Rio de Janeiro: Anais... Rio de Janeiro, ABES, 1975. d’AGUILA, P.S. Pseudomonas aeruginosa como mais um Indicador nas Análises Bacteriológicas da Água de Abastecimento Público. TESE DE MESTRADO, ENSP/FIOCRUZ, 1996.64 p. FERREIRA, A. P.; d’AGUILA, P.S; ROQUE, O.C.C; MIRANDA, C.A., Vigilância Epidemiológica (Monitoramento e Contrôle) da Qualidade da Água de Abastecimento público da Município de Nova Iguaçú. Cadernos de Saúde Pública, v.16 n0 3, julho / setembro 2000. Rio de Janeiro, ENSP/FIOCRUZ.2000). HELLER, L. Saneamento e Saúde. OPAS/OMS. Brasília, 1977. ROQUE, O. C. C.; d’AGUILA, P.S; MIRANDA, C. Avaliação Preliminar de Águas Captadas de Poços e Nascentes pelo Reativo de Nessler. In. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 18 . 1995, Bahia. Anais ... Salvador: ABES, 1995, p.58-62.