2.1 unidade i - função social do contrato

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  • 7/25/2019 2.1 Unidade I - Funo Social do Contrato

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    CONTRATOS

    1) CONCEITO: acordo de vontades que tem por fim criar,modificar ou direitosextinguir

    o mais expressivo exemplo de negcio jurdico bilateral. fonte de obrigaes.

    2) ELEMENTOS:

    Gerais: - agente capaz

    - objeto lcito, possvel e determinado (ou determinvel) Art. 104 C.C

    - forma prescrita ou no defesa em lei

    Especficos: - consentimento recproco (acordo de vontades)

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    3) PRINCPIOS CONTRATUAIS: - autonomia da vontade privada (liberdade individual)

    - supremacia da ordem pblica: lei do inquilinatolei da usuralei da economia popular

    lei do consumidor, etc.

    - consensualismo: o contrato independe da entrega dacoisa. Uma vez concludo o pacto, oo s fato do consenso entre as partescria obrigaes. Exceo ao princpio

    so os contratos reais (a obrigaos nasce aps a tradio da coisa):

    - depsito- mtuo- comodato

    - relatividade: o contrato produz efeitos somente emrelao s partes. Exceo a esse princpioso: - as estipulaes em favor de terceiro

    (arts. 436-438 CC)- convenes coletivas de trabalho,

    assinadas por sindicatos

    - obrigatoriedade: a fora vinculante das obrigaes

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    FUNO SOCIAL DO CONTRATO

    Qual a funo do contrato: econmica ou social?

    Se essa pergunta fosse feita ao tempo de Napoleo (sc. XVIII), a resposta seria s afuno econmica. De l at hoje, transformaes sociais como a Revoluo Industrial, a

    Quebra da Bolsa de NY (1929), as Guerras Mundiais (1918 e 1945), a industrializao noBrasil e a consequente formao de uma sociedade urbana de massas, tudo isso levou ocontrato a ganhar uma nova funo: SOCIAL.

    Alm dos interesses econmicos dos contratantes, o contrato deve tutelar interessesque vo alm do aspecto patrimonial: EXISTENCIAL (deve buscar a dignidade humana).

    Na doutrina jurdica, a funo social do contrato divide-se em trs correntes:

    a) POLTICA LEGISLATIVA CONSTITUCIONAL: revela uma orientao sem eficcia em simesma, mas cujos efeitos esto difusospelo ordenamento jurdico. Ex.:

    - resoluo por excessiva onerosidade

    (art. 478)

    - leso (art. 157)

    - converso do negcio jurdico (art. 170)

    - simulao como causa nulidade (art. 167)

    Obs.: os institutos acima tutelam apenas os interesses dos contratantes.

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    FUNO SOCIAL DO CONTRATO

    b) VALOR SOCIAL DAS RELAES CONTRATUAIS: revela uma vertente terica ondea funo social do contrato um

    meio de aumentar a proteo dos

    contratantes, um mero instrumento amais de proteo contratual, em favordos seus interesses individuais e

    patrimoniais.

    Ex.: - leso (art. 157)

    Art. Ocorre leso quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperincia, seobriga a prestao manifestamente desproporcional ao valor daprestao oposta.

    1 Aprecia-se a desproporo das prestaes segundo os valores vigentes aotempo em que foi celebrado o negcio jurdico.

    (exemplo de direito baseado na realidade do caso concreto. Quando ocorre aleso, permitido reequilibrar a relao, desonerando-se aquele que se viusobrecarregado. Atende de certa forma a dignidade humana, mas apenas adignidade da prpria parte contratante lesada).

    Essa vertente terica minoritria porque aborda a funo social do

    contrato apenas do ponto de vista dos contratantes, deixando de lado os outrosinteresses extracontratuais (da sociedade como um todo).

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    FUNO SOCIAL DO CONTRATO

    c) DEVERES EXTRACONTRATUAIS: nesta vertente, a funo social do contrato significa

    uma:

    - superao da relatividade dos contratos

    (efeitos do contrato para alm das partes)- ampliao do princpio da ordem pblica

    (maior limitao liberdade privada)

    Segundo essa corrente, que majoritria, o contrato s se torna vlido e legtimo se estiver

    condicionado ao atendimento de interesses extracontratuais, conforme dizemexpressamente os arts. 421 e 2.035 do CC.

    Art. 421. A liberdade de contratar ser exercida em razo e nos limites da

    funo social do contrato.

    Art. 2.035 [...]

    Pargrafo nico. Nenhuma conveno prevalecer se contrariar preceitos deordem pblica, tais como os estabelecidos por este Cdigo

    para assegurar a funo social da propriedade e dos contratos.

    Obs.: porm, a lei no especifica o que a funo social do contrato (seu conceito).

    Apenas diz que um limite. Limite de que? Limite liberdade privada.

    O conceito da funo social do contrato uma construo jurisprudencial, que produzida atravs de discursos jurdicos baseados nos princpios da CF/88.

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    FUNO SOCIAL DO CONTRATO

    4) NORMAS CONSTITUCIONAIS:

    Dentro de uma viso constitucionalizada do direito civil, a funo social do contratomelhor se adapta terceira vertente terica examinada anteriormente. Assim, devemos contratantes perseguir:

    - OBJETIVOS EXTRACONTRATUAIS

    Alguns princpios constitucionais integram o contedo da funo social do contrato:

    a) dignidade da pessoa humana (art. 1, III, CF/88)- livre concorrncia (art.173,

    4, CF/88)b) valor social da livre iniciativa (art. 1, IV) - consumidores

    c) solidariedade social (art. 3, I) - meio ambiente

    d) igualdade substancial (art. 3, III) - relaes de trabalho

    e) ordem econmica (art. 170, I-IX)

    soberania (art. 190, CF/88 e

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    FUNO SOCIAL DO CONTRATO

    5) CONCLUSO:

    De acordo com os arts. 421 e 2.035 do CC, combinados com os princpios da CF/88,

    nem todos os contratos produziro efeitos, se acaso no observarem os interesses extra-partes. Ex.:

    a) - se uma empreiteira contratada para levantar edifcio (art. 610), dentro de terrenoprivado, onde teoricamente o dono possui amplo direito de uso, gozo e disposio (art.

    1.228), as obrigaes assumidas nesse pacto no sero necessariamente vlidas

    se acaso o terreno estiver situado em uma APP (rea de preservao permanente).Conforme o art. 170, VI da CF/88, a atividade econmica s ser permitida se

    houver respeito ao meio ambiente. Por sua vez, a Lei n 4.771/65 (Cdigo Florestal)probe, em seus arts. 1, 1, 2 e 4, que sejam feitas atividades em APPs.

    Logo, referido contrato de empreitada no prevalece porque contraria normas deordem pblica (art. 2.035), ligadas preservao ambiental (tema de extrema importnciano sc. XXI por envolver a perpetuao da espcie humana).

    O ordenamento jurdico brasileiro probe a proteo de interesses individuais(apenas dos contratantes) em detrimento dos interesses coletivos (de toda a sociedade).

    Ademais, sendo o contrato um negcio jurdico, seu objeto deve ser lcito (arts. 104,II e 166, II).

    Esse exemplo mostra o que FUNO SOCIAL DO CONTRATO.

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    b) - se duas sociedades empresrias (vulgarmente empresas) resolvem fazer um

    contrato de fuso, com a inteno de aumentarem exageradamente o seu lucro,

    dominar o mercado, constituir um monoplio e quebrar toda a concorrncia ,

    certamente isso no ser permitido porque fere a ordem pblica (art. 2.035).

    importante lembrar que um dos princpios da atividade econmica a livreconcorrncia (art. 170, IV da CF/88).

    Logo, embora o Cdigo Civil de 2002, nascido do liberalismo econmico da poca deNapoleo (sc. XVIII), proteja a riqueza do setor privado, essa proteo

    tem limites advindos dos princpios constitucionais.

    Em nome da dignidade da pessoa humana (art. 1, III, CF/88), a ordem econmicaconstitucional REPUDIA O MONOPLIO (art. 173, 4). Estabelece a livre concorrncia comoprincpio (art. 170, IV), pois somente em ambientes econmicos com esse perfil pode oCONSUMIDOR ter maior proteo (art. 170, V).

    A experincia econmica mostra que o monoplio submete o consumidor e o

    espolia, na medida em que retira-lhe a liberdade de contratar, suprime-lhe o direito de escolha,acorrentando-o a um nico agente econmico fornecedor do produto ou

    do servio.

    No Brasil, o monoplio uma exceo, somente permitido nos setores que so

    considerados ESTRATGICOS e necessrios SOBERANIA (arts. 170, I), SEGURANA

    NACIONAL e INTERESSE COLETIVO (arts. 173, 175 E 177): - servios pblicos

    - petrleo e gs- minrios nucleares

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    c) - um terceiro exemplo serve para mostrar como atua na prtica a funo social do

    contrato.

    O chamado CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO, embora acumulado ao

    longo de milhares de anos pelos povos indgenas amaznicos, representa um tipo de

    riqueza tpica da economia do sc. XXI: informao e conhecimento.

    A Medida Provisria n 2.186/01, em seus arts. 7, I, 9 e 16, regula o acesso aopatrimnio gentico brasileiro (informao gentica advinda da biodiversidade).

    Referido acesso permitido somente a instituio nacional, desde que possua

    prvia autorizao da comunidade indgena titular dos conhecimentos (art. 9, incs.).

    Um dos requisitos para o acesso o RECEBIMENTO DE BENEFCIOS, decorrentesda explorao econmica, em favor dos indgenas. Isso originou o chamado:

    - CONTRATO DE REPARTIO DE BENEFCIOS PELO

    ACESSO AO CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO

    BIODIVERSIDADE

    Esse contrato atende a lgica do art. 225, 1, II e 4 da CF/88, na medida

    em que subordina (condiciona, limita) sua validade observncia dos princpios da

    preservao ambiental. Isso funo social.

    Alm disso, a permisso do acesso apenas s instituies NACIONAIS, atende

    ao princpio da SOBERANIA (art. 170, I, CF/88). Isso funo social.

    Sabe-se que os conhecimentos tradicionais associados biodiversidade podemgerar utilidades industriais, farmacuticas e cosmticas de trilhes de dlares.