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4 Memória. Histórias do jornalista Marcondes Tedesco, morto em 2001, cheias de lances de realismo e humor. Domingo • 21 de fevereiro de 2010 • Ano I • Número 2 DESFILE NA SAPUCAÍ Pré-sal A Câmara dos Deputados retoma na próxima semana as votações dos projetos de lei que tratam da exploração da camada pré-sal. As negociações para a retomada das votações estão sendo feitas pelo pre- sidente da Câmara, deputado Michel Temer e os líderes partidários. A ideia é concluir a votação dos quatro projetos até o dia 10 de março para encaminhá-los ao Senado Federal. O primeiro projeto a ser apre- ciado pelos deputados, a partir de terça-feira (23). Destaques 6 O erro de JK. O ex- presidente teria sido mais infeliz com a indústria automobilística do que na construção de Brasília. A polêmica do trânsito, de novo. Multas irrisórias e impunidade contribuem para o aumento crescente dos acidentes. Economia É comum ouvir de econo- mistas e cientistas políticos re- clamações quanto à ingerência do Estado nas diretrizes econô- micas da nação. Alegam que o Estado está (ou é) muito grande que é preciso reduzi-lo a simples instrumento de regulação da economia. O resto ajeita-se por si mesmo. As inúmeras variáveis tendem-se a acomodar no pro- cesso de ampla liberdade. Em outras palavras, a intervenção do Estado nas atividades produtivas é desaconselhável, tem ares de socialismo. Em suma, impede a expansão do capitalismo, sob as rédeas do governo. O assunto é polêmico e comporta discussões sem fim, porque envolve políti- ca, ideologia e, principalmente, economia. Sem questionar, ou melhor, abstraindo-se de valo- res que possam ser atribuídos a qualquer sistema ou aparelho ideológico, vale lembrar que o Brasil deu um salto espetacular entre 1950 e 2010. E isso se deveu à iniciativa e participação forte do Estado. Descapitaliza- da, a iniciativa privada não fez, nem poderia fazer nada nesse período. Somente depois que os diversos governos abriram gran- des frentes de trabalho é que surgiram os mega-empresários, capitalizando-se logicamente com o dinheiro recebido dos go- vernos. Tudo isso em meio a um cerrado tiroteio de corrupção, fundada ou infundada. Vamos listar alguns exemplos: Em 1950, o Brasil não tinha rodovias, automóveis, energia elétrica, sistema de saúde, aço, petróleo, universidades, asfalto, indústria naval, comunicação, etc. Nesse período, - 60 anos – transformou-se de simples ex- portador de café em um dos paí- ses mais importantes do mundo. Autosuficiente em petróleo, exportador de automóveis, aço e manufaturados. Esta citação é um pálido exemplo do que é o Brasil de hoje, face ao atraso de sessenta anos atrás. De uma certa maneira, todos os gover- nos do período investiram em infraestrutura, até mesmo o dos militares. Agora, onde estava o dedo da iniciativa privada aí? A luta para criar a Petrobras (1953) foi o estopim da crise que levou ao suicídio Getúlio Vargas. Em 1950, o Brasil produzia 500 mil toneladas de aço. Hoje produz 100 vezes mais. As melhores universidades do país são as da rede pública, que ensinam gra- tuitamente. A terceira ou quar- ta maior fábrica de aviões do mundo é a Embraer, criada pelo Estado. A primeira siderúrgica do país – CSN - foi construída por um ditador. No governo de Fernando Henrique foi cria- do o PROER para “socorrer” bancos falidos. A propósito, essa iniciativa produziu uma das mais engraçadas e cruéis piadas do anedotário nacional. Diz-se que o terceiro melhor negócio do mundo é um banco mal ad- ministrado; o segundo melhor negócio do mundo é um banco bem administrado; e o primeiro melhor negócio do mundo seria um banco que- brado. Na crise devastadora desen- cadeada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o governo americano escancarou as portas do cofre e criou frentes de tra- balho para combater o desem- prego e recuperar a economia. Foram investidos 60 bilhões de dólares nessa ação para tirar o país do caos. Corrigido, esse va- lor hoje equivale a dois trilhões de dólares. Os bancos que fomentam hoje o desenvolvimento do Brasil também são do governo. Quando se exportam produtos brasileiros é com aval ou em- préstimo dos bancos estatais. É. Pelo visto, os liberais ou neo-liberais atribuem ao Estado uma culpa que não é totalmente sua (WR). O Estado é mau gestor? Nem sempre Vamos listar alguns exemplos: Em 1950, o Brasil não tinha rodovias, automóveis, energia elétrica, sistema de saúde, aço, petróleo, universidades, asfalto, indústria naval, comunicação CARNAVAL ELETRÔNICO Desta vez, o que destoou foi o sensacional espetáculo desenvolvido na passarela do samba pela Unidos da Tijuca Na opinião e no gosto de muita gente Carnaval é sam- ba no pé. De fato, continuam inesquecíveis os desfiles das grandes sociedades antes do advento de sua industrializa- ção. É claro que com o interes- se e a necessidade de se ganhar dinheiro, qualquer evento tem que ser lucrativo. O Carnaval perdeu muito de sua identi- dade com o povo brasileiro. Estão longe os tempos em que marchinhas e sambas, confetes e serpentinas, pierrôs e colombinas tornavam a cha- mada festa momesca três dias de beijos, abraços e confrater- nizações. Se você perguntar hoje, agora, neste momento qual a música que despertou seu maior interesse e que você achou mais bonita você não é capaz de saber responder, por- que ficou tudo pasteurizado. Faça um teipe de um desfile da Marquês de Sapucaí, guarde-o num baú, e cinco anos depois faça uma comparação: o ei-iê- iê, ai-iá-iá tem o mesmo zum- bido. Na falta de imaginação para construção de músicas do agrado geral, as escolas partem para a parafernália eletrônica. Os sambas-enredo são pou- co inspirados e, comumente, buscam temas que não tradu- zem com fidelidade fatos de repercussão nacional. Mas, já se sabe que isso acontece por- que, para satisfazer grupinhos ligados a “entidades” pouco recomendáveis vários são os seus “compositores”. Desta vez, o que destoou foi o sensacional espetáculo desen- volvido na passarela do samba pela Unidos da Tijuca. Des- de que o Carnaval se tornou “moderno” nunca se viu um show tão maravilhoso quanto ao dos vencedores deste ano. Misturando criatividade com tecnologia, a Unidos levou ao delírio uma plateia antes habi- tuada à mesmice. A sua Co- missão de Frente e o quesito Porta-Bandeira e Mestre-Sala, por si só, foram empolgantes. A qualidade do espetáculo foi tão acentuada que deixou para trás a visão eletrônica que era o objetivo principal da escola. Foi um espetáculo digno de ser mostrado para turistas estrangeiros. Este, sim, valeu a pena! 5

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DESFILE NA SAPUCAÍ Vamos listar alguns exemplos: Em 1950, o Brasil não tinha rodovias, automóveis, energia elétrica, sistema de saúde, aço, petróleo, universidades, asfalto, indústria naval, comunicação Pré-sal Domingo • 21 de fevereiro de 2010 • Ano I • Número 2 Memória. Histórias do jornalista Marcondes Tedesco, morto em 2001, cheias de lances de realismo e humor.

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Memória. Histórias do jornalista Marcondes Tedesco, morto em 2001, cheias de lances de realismo e humor.

Domingo • 21 de fevereiro de 2010 • Ano I • Número 2

DESFILE NA SAPUCAÍ

Pré-salA Câmara dos Deputados retoma na próxima semana as votações

dos projetos de lei que tratam da exploração da camada pré-sal. As negociações para a retomada das votações estão sendo feitas pelo pre-sidente da Câmara, deputado Michel Temer e os líderes partidários. A ideia é concluir a votação dos quatro projetos até o dia 10 de março para encaminhá-los ao Senado Federal. O primeiro projeto a ser apre-ciado pelos deputados, a partir de terça-feira (23).

Destaques

6

O erro de JK. O ex-presidente teria sido mais infeliz com a indústria automobilística do quena construção de Brasília.

A polêmica do trânsito, de novo. Multas irrisórias e impunidade contribuem para o aumentocrescente dos acidentes.

Economia

É comum ouvir de econo-mistas e cientistas políticos re-clamações quanto à ingerência do Estado nas diretrizes econô-micas da nação. Alegam que o Estado está (ou é) muito grande que é preciso reduzi-lo a simples instrumento de regulação da economia. O resto ajeita-se por si mesmo. As inúmeras variáveis tendem-se a acomodar no pro-cesso de ampla liberdade. Em outras palavras, a intervenção do Estado nas atividades produtivas é desaconselhável, tem ares de socialismo. Em suma, impede a expansão do capitalismo, sob as rédeas do governo. O assunto é polêmico e comporta discussões sem fim, porque envolve políti-ca, ideologia e, principalmente, economia. Sem questionar, ou melhor, abstraindo-se de valo-res que possam ser atribuídos a qualquer sistema ou aparelho ideológico, vale lembrar que o Brasil deu um salto espetacular entre 1950 e 2010. E isso se deveu à iniciativa e participação forte do Estado. Descapitaliza-da, a iniciativa privada não fez, nem poderia fazer nada nesse período. Somente depois que os diversos governos abriram gran-des frentes de trabalho é que surgiram os mega-empresários, capitalizando-se logicamente com o dinheiro recebido dos go-vernos. Tudo isso em meio a um cerrado tiroteio de corrupção, fundada ou infundada. Vamos listar alguns exemplos:

Em 1950, o Brasil não tinha rodovias, automóveis, energia elétrica, sistema de saúde, aço, petróleo, universidades, asfalto,

indústria naval, comunicação, etc.

Nesse período, - 60 anos – transformou-se de simples ex-portador de café em um dos paí-ses mais importantes do mundo. Autosuficiente em petróleo, exportador de automóveis, aço e manufaturados. Esta citação

é um pálido exemplo do que é o Brasil de hoje, face ao atraso de sessenta anos atrás. De uma certa maneira, todos os gover-nos do período investiram em infraestrutura, até mesmo o dos militares.

Agora, onde estava o dedo da iniciativa privada aí? A luta para criar a Petrobras (1953) foi o estopim da crise que levou ao suicídio Getúlio Vargas. Em 1950, o Brasil produzia 500 mil

toneladas de aço. Hoje produz 100 vezes mais. As melhores universidades do país são as da rede pública, que ensinam gra-tuitamente. A terceira ou quar-ta maior fábrica de aviões do mundo é a Embraer, criada pelo Estado. A primeira siderúrgica do país – CSN - foi construída por um ditador. No governo de Fernando Henrique foi cria-do o PROER para “socorrer” bancos falidos. A propósito, essa iniciativa produziu uma das mais engraçadas e cruéis piadas do anedotário nacional. Diz-se que o terceiro melhor negócio do mundo é um banco mal ad-ministrado; o segundo melhor negócio do mundo é um banco bem administrado; e o primeiro melhor negócio do

mundo seria um banco que-brado.

Na crise devastadora desen-cadeada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o governo americano escancarou as portas do cofre e criou frentes de tra-balho para combater o desem-prego e recuperar a economia. Foram investidos 60 bilhões de dólares nessa ação para tirar o país do caos. Corrigido, esse va-lor hoje equivale a dois trilhões de dólares.

Os bancos que fomentam hoje o desenvolvimento do Brasil também são do governo. Quando se exportam produtos brasileiros é com aval ou em-préstimo dos bancos estatais.

É. Pelo visto, os liberais ou neo-liberais atribuem ao Estado uma culpa que não é totalmente sua (WR).

O Estado é mau gestor? Nem sempre

Vamos listar alguns exemplos: Em 1950, o Brasil não

tinha rodovias, automóveis,

energia elétrica,

sistema de saúde, aço, petróleo,

universidades, asfalto,

indústria naval,

comunicação

CARNAVAL ELETRÔNICO

Desta vez, o que destoou foi o sensacional espetáculo desenvolvido na passarela do samba pela Unidos da Tijuca

Na opinião e no gosto de muita gente Carnaval é sam-ba no pé. De fato, continuam inesquecíveis os desfiles das grandes sociedades antes do advento de sua industrializa-ção. É claro que com o interes-se e a necessidade de se ganhar dinheiro, qualquer evento tem que ser lucrativo. O Carnaval perdeu muito de sua identi-dade com o povo brasileiro. Estão longe os tempos em que marchinhas e sambas, confetes e serpentinas, pierrôs e colombinas tornavam a cha-mada festa momesca três dias de beijos, abraços e confrater-nizações. Se você perguntar hoje, agora, neste momento qual a música que despertou seu maior interesse e que você achou mais bonita você não é capaz de saber responder, por-que ficou tudo pasteurizado. Faça um teipe de um desfile da Marquês de Sapucaí, guarde-o num baú, e cinco anos depois faça uma comparação: o ei-iê-iê, ai-iá-iá tem o mesmo zum-bido.

Na falta de imaginação para construção de músicas do agrado geral, as escolas partem

para a parafernália eletrônica. Os sambas-enredo são pou-co inspirados e, comumente, buscam temas que não tradu-zem com fidelidade fatos de repercussão nacional. Mas, já se sabe que isso acontece por-que, para satisfazer grupinhos ligados a “entidades” pouco recomendáveis vários são os seus “compositores”.

Desta vez, o que destoou foi o sensacional espetáculo desen-volvido na passarela do samba pela Unidos da Tijuca. Des-de que o Carnaval se tornou “moderno” nunca se viu um show tão maravilhoso quanto ao dos vencedores deste ano. Misturando criatividade com tecnologia, a Unidos levou ao delírio uma plateia antes habi-tuada à mesmice. A sua Co-missão de Frente e o quesito Porta-Bandeira e Mestre-Sala, por si só, foram empolgantes. A qualidade do espetáculo foi tão acentuada que deixou para trás a visão eletrônica que era o objetivo principal da escola.

Foi um espetáculo digno de ser mostrado para turistas estrangeiros. Este, sim, valeu a pena!

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Mosaico Setor metalmecânicoIncluir as indústrias do Pólo Metalmecânico do Vale do Aço no bilionário mercado da indústria naval e offshore brasileiro. Com esse objetivo, o Centro Integrado Sesi/Senai, em Ipatinga, recebe no dia 23 de fevereiro, a partir das 8h, o “Encontro de Desenvolvimento de Fornecedores de Navipeças do Vale do Aço”, promovido pelo Sindimiva e Sinaval, com apoio da PMI e Fiemg.

VALE ECONÔMICO • Página 2 • Domingo • 21 de fevereiro de 2010

Vida ÚtilVocabUlário comercial

inglês PorTUgUêslong term longo Prazomarketing resarch Pesquisa de mercadomarketing tend Tendência de mercadomenger Fusãomint casa de moedanews notíciasWarrant garantiaProfit lucrolost Perdamaneger gerente

receita líquida de vendas (em milhões de reais):

2005 2006 2007 2008 2009

3.727.0 4.241.0 4.846.7 5.300.8 5.792.7

O Homem de US$ 100 bilhões

mil reais por mês.Mas, a estrela de Eike

brilha mais que o brilho da ex-modelo. Ele é hoje o homem mais rico do Brasil (US$ 8 bilhões) segundo a revista For-bes.

Aos 52 anos de ida-de, o bilionário declarou a uma rede de TV ame-ricana que em dez anos pretende acumular US$ 100 bilhões. O entrevis-tador ficou espantado e admirou-se: “então, o senhor será o homem mais rico do mundo. Bill Gates só tem US$ 40 bi-lhões!”

Com a proverbial tranqüilidade mineira, Eike discordou: mas quando eu chegar lá, Bill já terá US$ 150 bilhões!

Eike Batista, filho do ex-ministro Eliezer Batista e nascido em Governador Valadares, tornou-se celebridade

nacional ao casar-se com a modelo Luma de Oli-veira. Houve separação, e a ex-mulher recebe uma pensãozinha de 250

As atuais reservas de petróleo do Brasil bate-ram na casa dos 15 bilhões de barris. Mas o presiden-te da Petrobras disse que esse número é “conserva-dor”, isto é, considerado por baixo. Prevê-se au-mento das reservas para

35 bilhões de barris com a exploração do Pré-Sal. É óleo para o país queimar durante 40 anos.

Contra o argumento de que o Brasil aumentará seu consumo neste perí-odo, na outra ponta está a produção do Biodiesel

(etanol) de que o país é líder mundial.

Parece que o tal “país do futuro” está dando as caras.

Getúlio Vargas, JK, Ita-mar Franco, FHC e, sobre-tudo, Lula são os grandes artífices dessa arrancada.

impostos pagos ao governo

2005 2006 2007 2008 2009

4.238.0 4.458.5 5.111.3 5.748.8 6.328.6

O Brasil continua pitando-mais

Balanço analítico publi-cado pela Souza Cruz mos-tra receita líquida de vendas e os tributos pagos ao go-verno no exercício de 2009.

A fabricante de veneno que mata lentamente (nin-guém tem pressa de mor-rer) deu ênfase ao pagamen-to dos impostos e reduziu o tamanho das letras que indi-cavam o lucro líquido. Veja o demonstrativo abaixo.

O governo recebeu no período citado 26 bilhões de reais. Contra-senso: o Ministério da Saúde informou que os gastos para comba-

ter as doenças provocadas pelo cigarro totalizaram 28 bilhões, seiscentos e cinqüenta milhões de reais.

lucro líquido: um bilhão, quatrocentos e oitenta e quatro mil e novecentos reais.

Petróleoeike batista tem 8 bilhões de dólares, mas quer chegar a 100

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Política e Negócios

Domingo • 21 de fevereiro de 2010 •VALE ECONÔMICO • Página 3

Supremo publica súmula sobre cobrança do ISSReivindicação de advogados tributaristas para a edição de uma súmula vinculante que tratasse da não incidência de ISS sobre locação de bens móveis foi acolhida pelo Supremo Tribunal Federal.

Onde maisse compra em Ipatinga

A Avenida 28 de Abril pode transformar-se numa 25 de Março. Não é que se isso acontecer signifique seu desapare-cimento do mapa de ne-gócios. E quando se fala em 25 de Março nada há de depreciativo, está-se referindo à famosa rua da capital paulista, uma es-pécie de bazar ou um gi-gantesco camelódromo.

Considerada como berço das atividades co-merciais de Ipatinga, a Avenida 28 de Abril está arquitetonicamente feia, mal arrumada, com a cara cheia de rugas e pior ainda, tornando-se intransitável, conforme a hora do dia.

Com um shopping bem confortável, onde se pode comprar prati-camente de tudo, à som-bra, e outros bairros em franco desenvolvimento, aumentam as opções de escolha do consumidor.

avenida 28 de abril está perdendo espaço para expansão do comércio em alguns bairros

O bairro Cidade Nobre, por exemplo, que é o centro geográfico do mu-nicípio, está se tornando a cada dia o ponto prefe-rido das pessoas de maior poder aquisitivo.

Há tempos, houve um projeto muito bem bolado para tornar o pri-

meiro “centro” comer-cial da cidade num polo catalisador de negócios, administrações, políticas públicas, enfim, irradia-dor de crescimento para a “periferia”. Atualmen-te, a 28 de Abril ficou para trás. Alguém vai se mexer?

os ‘geraldos’ nascimento e Hilário protagonizaram um senta-levanta no último mandato: ao final, o segundo provou que estava certo; e quem paga o prejuízo?

Justiça eleitoralDois municípios do

Vale do Aço pagaram e pagam um preço mui-to elevado pela maneira como funciona a Justiça Eleitoral, principalmen-te, a de segunda e terceira instâncias (TRE e TSE). No mandato eletivo de 2005 a 2008, a Prefeitura Municipal de Timóteo vi-veu um período de insta-bilidade institucional que, além de provocar danos à população, contribuiu para que ela se tornasse cética quanto ao valor das leis do país, principal-mente as que regem o sis-tema eleitoral. Criadas a cada período de eleições, aumentam as dificuldades para sua interpretação, uma vez que são edita-das a poucos meses de cada pleito. Em Timóteo o senta-levanta se repetiu

com tal intensidade que a população local resolveu tratar o assunto com espí-rito de galhofa:

- Alô! Qual é o prefei-to do dia?

Geraldo Nascimento e Geraldo Hilário trocaram de lugar várias vezes nes-se período, o que trouxe interrupção de programas e projetos municipais, mudanças em escalões de segunda e terceira catego-rias da prefeitura.

Mas, há uma pergunta que ninguém ainda fez e para a qual parece não ha-ver resposta muito fácil. Quem terminou o man-dato foi o prefeito Ge-raldo Hilário. Ora, fatal-mente, o período anterior deveria lhe pertencer por direito. É evidente que se o problema for encarado do ponto de vista econô-

mico, alguém teria que pagar ao prefeito Hilário os salários ou vencimen-tos daquele período, por-que lhe tiraram o direito de exercer um cargo que no final provou ser seu.

Mas o mais engraça-do nessa história de sen-ta-levanta aconteceu no ano passado em Timóteo (outra vez) e João Mon-levade. Os respectivos prefeitos foram cassados e voltaram ao poder 24 horas depois. Até hoje suas excelências togadas e doutoradas não se dig-naram a explicar ao povo essa lambança.

Mas o pior aconteceu em Ipatinga. Mandaram suspender um pleito elei-toral em pleno andamen-to, com vários candidatos na disputa. E ficou por isso mesmo.

Justiça – horas extrasO Tribunal Superior

do Trabalho (TST) de-cidiu que as horas extras não podem ser impostas na celebração do contra-to. Por maioria de votos, o TST rejeitou o recurso de uma empresa brasilei-ra contra a condenação de pagar com hora nor-mal de jornada as horas extras pré-contratadas no ato de admissão do

trabalhador. O relator dos embargos, ministro Aloysio Correa da Veiga, defendeu a tese de que a pré-contratação de horas extras é ilegítima, justa-mente porque descarac-teriza a natureza extra-ordinária da prorrogação da jornada normal de tra-balho. Quando esse tipo de contrato acontece, afirmou o relator, deve

ser considerado nulo. O caso envolve um ajudante de caminhão, que alegou que vendia botijões de gás para a empresa e as-sinou acordo de prorro-gação de jornada de duas horas extraordinárias por dia. Pediu a declaração de nulidade desse ajuste contratual, e por conse-qüência as diferenças sa-lariais daí decorrentes.

Dilma melhora o discursoPara aumentar o ní-

vel de competitividade da economia brasileira e transformar o país em uma “sociedade do co-nhecimento”, o próximo governo precisará de in-vestimentos maciços em educação, infra-estrutura e ciência e tecnologia. Essa foi a essência do discurso que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rous-seff, fez no IV Congresso Nacional do PT, no lança-mento oficial de sua can-didatura à Presidência. O discurso foi um resumo do programa de governo votado pelos delegados do

partido. Ainda bem que a ministra fala em ciência e educação, pontos funda-mentais de qualquer pro-grama de desenvolvimen-to de governo. Educação,

em sentido amplo, é o de que um povo precisa para se tornarem cidadãos conscientes de sua respon-sabilidade e participação ativa na vida de um país.

Dilma rousseff, agora candidata oficial do PT

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Carta do leitorVALE ECONÔMICO • Página 4 • Domingo • 21 de fevereiro de 2010

Multas irrisórias e impunidade A POLÊMICA DO TRÂNSITO

Carta do leitor:

“Ao ler a matéria “O caos Anunciado”, publicada em 07/02/2010, fiquei e estou indignado ao ser chamado de irresponsável,

assassino ou suicida por fazer parte dos “mais ou menos trinta mil” condutores de veículo de duas rodas que circulam por está cidade.

Devo lembrar a quem escreveu esta matéria e não assinou, que den-tre estes “mais ou menos trinta mil” existem muitos assinantes e apre-ciadores deste jornal, jovens, trabalhadores (inclusive entregadores e funcionários deste mesmo jornal), pais de famílias que aqui votam, pa-gam seus impostos e contribuem para o crescimento sócio, econômico e cultural desta cidade. Utilizam os veículos de duas rodas citados nes-ta matéria com muita responsabilidade e que não querem suicidar nem tirar a vida de ninguém. Usam estes por economia ou para trabalhar e sustentar suas famílias como policiais, mototaxista, entregadores e outros mais.

Reconheço a imprudência de alguns condutores de veículos de duas, quatro e mais rodas e o caos que iremos enfrentar se as autoridades, educadores, pais e veículos de comunicação (como este jornal) não se unirem para resolver este problema que se agrava a cada dia.

Obs. Talvez seja mais eficaz sugerir projetos aos órgãos de tráfe-go urbano que chamar os motoristas de ignorantes ou sugerir que os mesmos não comprem “caminhonetas de cabine dupla”.

Ass. Renato da Silvaacidentes de trânsito violentos fazem parte do cotidiano: mudar essa realidade será um caminho árduo

Renato,

Nesse caso, a razão é sua. Pelo que escreveu, você dirige com res-ponsabilidade. Há muito profis-sional sério em qualquer atividade. Mas a maioria não o é. O índice de acidentes envolvendo carros e mo-tos no Brasil é assustador. E não ponham a culpa em cima das estra-das ruins, porque quanto melhor a estrada (como a via Dutra) mais morrem pessoas. Em São Paulo, na capital, morrem 1000 pessoas por mês (motociclistas).

Os acidentes de carros nas BR’s e nas MG’s ocorrem sempre nas ul-trapassagens. Caminhões se julgam donos das estradas. Automóveis conduzidos por motoristas com a “cara cheia”, inabilitados ou im-prudentes, matam famílias inteiras. É proibido dirigir e falar ao tele-fone ao mesmo tempo. Entretanto, nas ruas e nas estradas você sempre cruza com um engraçadinho com uma mão no volante e outra no ce-lular. E dados estatísticos indicam que o risco de acidentes aumenta 37% quando alguém dirige e fala ao celular ao mesmo tempo.

Quem trafega no perímetro ur-bano de automóveis tem, pela lei, limite de 60km/hora. E qual é o limite de velocidade de um mo-

toqueiro? 100, 120, 150km/hora? Nos sinais eletrônicos de trânsito as motos não esperam o sinal verde para atravessarem.

No Brasil, adiantam pouco ou nada campanhas educativas. O brasileiro não tem educação. Pro-gramas de ensino e professores confundem ENSINO com EDU-CAÇÃO. Ensinar é simplesmente entupir a cachola de uma pessoa para um fim específico. Por exem-plo: preparar para cursinhos.

Educar é outra coisa completa-mente diferente. É formar cidadãos para cuidar de si, respeitar os limi-tes do outro ter ética e estar aten-to a não degradação do meio que habita. Forma-se assim uma ação em cadeia no fim da qual tem-se uma nação, uma comunidade. Bra-sileiro joga lixo na rua, faz xixi em portões de casas residenciais à noi-te, dá gargalhadas escandalosas e arrota em restaurantes lotados, fala gritando ao celular. Os tais ado-lescentes, protegidos por uma lei estúpida, cruzam de bicicleta à sua frente e ainda mandam você tomar naquele lugar!

O problema do trânsito só será resolvido, ou pelo menos atenuado, quando o infrator for pesadamente multado no momento em que co-meter o delito. Teria que pagar o

valor da multa na hora ou então ter seu veículo recolhido até a quitação do débito. Mexeu no bolso, muda tudo. Veja como campeia a impuni-dade no país. O brasileiro já nasce com direito de matar pelo menos

uma pessoa, nos seguintes ca-sos:

- se for réu primário e tiver “bons antecedentes” não vai para a cadeia

- se cometer atropelamento e matar também não vai. Dizem que é crime “culposo”, isto é, o cara do volante não tinha a intenção de matar. Boa essa, não? O sujeito en-che a cara, enfia o pé no acelerador e não tinha intenção de matar?

É melhor dizer que, nessas con-dições, o motorista só não sabia quem iria matar, o que a meu ver fato que só agrava a pena.

Vamos encerrar este assunto com um exemplo concreto. Há alguns anos, um “bem nascido” em Coronel Fabriciano, montado num BMW, avançou o sinal em Melo Viana e espatifou duas crian-cinhas.

O criminoso continua gozando de liberdade e certamente rindo da Justiça, das vítimas e seus parentes.

Veja o que o leitor Ronaldo Go-mes Barbosa – bairro Dona Clara, Belo Horizonte – escreveu para o

jornal O TEMPO, edição de 7 des-te mês:

“Órgãos de fiscalização do trân-sito deveriam ficar mais atentos em relação a alguns motoqueiros: muitos deles praticam diversas ir-regularidades, como parar na faixa de pedestres. Ultrapassar a faixa de segurança é quase uma regra. Em vez de ficarem atentos à sinalização dos veículos, prestam atenção no sinal de pedestre. Ao ver que co-meça a piscar a luz vermelha, indi-cando que o sinal vai fechar para o pedestre, o motoqueiro age como se aquele fosse o sinal verde para ele, arrancando com a moto, o que coloca em risco a vida dos tran-seuntes. É estressante para o pedes-tre que atravessa a rua ser acossado pelo barulho da moto, cujo acele-rador é acionado pelo motoqueiro, sem necessidade, causando ansie-dade e medo. Além de fiscalização mais incisiva, campanhas educati-vas específicas talvez ajudem a dar maior segurança aos cidadãos.”

Nota do Redator: Não adianta gastar dinheiro com papel, Renato. As medidas têm que ser mais drás-ticas. Na Alemanha, por exemplo, quem comete uma falta por menor que seja no trânsito, ou paga pesa-da multa ou vai para o xilindró.

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Domingo • 21 de fevereiro de 2010 •VALE ECONÔMICO • Página 5

Nacional Mudança de posiçãoO ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, sinalizou esta semana que “os novos

acontecimentos em Honduras podem levar o governo do Brasil a rever sua posição em relação ao país caribenho”. Desde o golpe de Estado, em junho do ano passado, o governo brasileiro considerou ilegítimas as eleições, realizadas em junho, e que deram a vitória a Porfirio Lobo. Sem saída, só resta ao governo brasileiro acompanhar a comunidade internacional.

O erro de JKO problema do ex-presidente teria sido a Indústria Automobilística e não a construção de Brasília

A indústria automo-bilística no Brasil come-çou, de fato, em 1960, no governo de JK. A que existia antes dele era praticamente artesanal. O país vivia período de euforia nacionalista, que se acentuou com a “bri-ga” entre o governo e o FMI. Juscelino pediu um empréstimo de 1 bi-lhão de dólares para “to-car as obras de Brasília”. Os americanos toparam a concessão do dinheiro mas fizeram uma exigên-cia pauliana. Queriam o direito de explorar o pe-tróleo brasileiro, pratica-mente o que substituiria a Petrobras criada em 1953. JK rompeu re-lações com o FMI, e o “orgu lho” dos brasi-leiros ficou ainda mais verde e ama-relo. O país acionou as m á q u i n a s da Casa da Moeda para fabricar di-nheiro sem lastro. É sa-bido que em semelhante caso a espiral inflacioná-ria tende a bater no pon-to mais alto da curva.

Sob fogo cerrado da oposição, Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, com pom-pa e circunstância.

Os udenistas (União Democrática Nacional) lutavam há vários anos para chegar ao poder. Aristocrática e conserva-dora como pretende ser a atual Oposição brasi-leira, acabaram chegan-do lá via golpe militar de 1964. Os militares com

o poder e os canhões nas mãos ficaram livres para maximizar o erro de JK e a inoportunidade da obra. Embora vários generais ocupassem a cadeira do presidente da República sem o desgas-te de submeter-se à apro-vação do povo.

A verdade é que Bra-sília está aí, com seus er-ros e acertos. Sua grande contribuição para o de-senvolvimento do país é interiorizar o desen-volvimento. Incorpo-rou os estados de Mato Grosso do Sul e Goiás à região Sudeste e passou a crescer com ela. Gran-

de parte da população concentrada no litoral do país dei-xou as areias quentes das praias e a delícia da água de coco para plantar soja e cana no oeste do país.

O u t r a cantilena dos inimigos de Brasília é baseada na crença de que a corrup-ção que assola o Brasil ficou centralizada lá e com mais poder. Pode ser. Mas as informações do que acontece na Ca-pital Federal se irradiam com tanta freqüência e intensidade graças ao interesse de jornalistas, lobistas, altos funcioná-rios, os quais gostariam de trabalhar à beira do mar. Brasília é um deser-to nos fins-de-semanas e nos feriados. Dizem até que isso é contra os interesses dos crimes or-ganizados porque faltam

bandidos e mocinhos para assaltar o caixa da viúva.

Um grande erro, sim, teria sido a prioridade dada ao sistema de trans-porte rodovi-ário em de-trimento das vias férreas e hidrovias. Os Estados Uni-dos da Amé-rica possuem 450 mil qui-lômetros de ferrovias e in-contáveis vias de transporte aquático. O Brasil tem somente 39 mil quilôme-tros de ferrovia. Agora o governo brasileiro anun-ciou o investimento de 15 milhões de reais para

construir mais 11 mil quilômetros de trilhos até 2015. Com um ter-ritório praticamente do mesmo tamanho do dos americanos chegaríamos

a apenas à nona parte da rede de-les.

Aí, vem o contra-ar-gumento. A indústria automobi-lística traz a reboque de si mi-lhares de empregos nas fábricas de auto-peças, nos

consertos e remendos de estradas. Mas o pessoal que estaria consertando estradas mal construídas

poderia estar plantando tomate ou batata. Con-sertar obra paga e mal feita seria o mesmo que o governo mandasse dinamitar pontes para reconstruí-las e dar em-pregos...

O transporte ferrovi-ário é indiscutivelmente mais barato que o rodo-viário. Poupa combustí-vel, mão-de-obra e trans-porta mais volume e peso que carretas consumindo óleo pelas estradas sinu-osas do país. Uma boa rede ferroviária tiraria de circulação milhares de automóveis e cami-nhões e pouparia milha-res de vida. O índice de acidentes ferroviários é praticamente nulo. Ima-ginem uma carreta trans-portando uma bobina de aço de doze toneladas,

o então presidente JK, no início da construção de brasília: projeto desenvolvimentista que esbarrou nos interesses americanos

Outra cantilena dos inimigos de Brasília é baseada na

crença de que a corrupção que assola o Brasil ficou

centralizada lá e com mais poder.

Pode ser.

Os Estados Unidos da América

possuem 450 mil quilômetros de ferrovias e

incontáveis vias de transporte aquático. O Brasil tem

somente 39 mil quilômetros de

ferrovia

entre Belo Horizonte e Porto Alegre. Qual seria o custo?

EUA NO CAMINHOQuem melhor pode

explicar isso é o senador Eliseu Resende. Conside-rado um mini-gênio em Cálculo, Resende, filho de um fotógrafo lambe-lambe de Oliveira (oeste de Minas), teve a sorte de tornar-se engenheiro numa conceituada uni-versidade norte-america-na. Começou nessa época suas relações com órgãos de financiamento externo para construção de rodo-vias na América Latina. Os americanos, então os maiores fabricantes de au-tomóvel do mundo, pre-cisavam rasgar estradas, sem as quais ficariam sem mercado externo. Quem iria comprar automóveis sem estradas no Brasil.

Esta, a razão por que era difícil conseguir fi-nanciamento externo para construir ferrovias. Elizeu montou escritório de intermediação para “facilitar” a aprovação de projetos de emprésti-mo ao Brasil. A imprensa da época noticiava que qualquer operação dessa natureza “teria que passar por Resende”.

Hoje, o Brasil é o país dos automóveis. So-mente dentro da capital paulista (onze milhões de habitantes) existem seis milhões deles. Se se considerar a Grande São Paulo - 20 milhões de habitantes – pelo menos metade desse povo está buzinando no seu ouvi-do! Mas, não se espante. As cidades de porte mé-dio do país já se tornam intransitáveis. (WR)

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MemóriaVALE ECONÔMICO • Página 6 • Domingo • 21 de fevereiro de 2010

Meu tipo inesquecívelMarcondes Tedes-

co morreu no dia 15 de maio de 2001. Nasceu numa favela no bairro do Catete, no Rio de Janei-ro. Filho de pai argentino e de mãe mineira. Muito pobre, fez tudo que um menino faz na infância para sobreviver, inclusive tirar a carne das marmitas que sua mãe fazia pra ele vender no cais do porto. Marcondes Tedesco, José Lewgoy (ator, já faleci-do) e Silvio Santos fre-

qüentavam o Largo do Machado nas noites de fim de semana. O desti-no de Silvio Santos – Se-nior Abravanel – todos já conhecem. Ainda novo, Tedesco mudou-se para Belo Horizonte e, sem nenhum estudo regular, fez testes para publicitário na internacional Mac Eri-kson e foi aprovado. Ins-tável, irriquieto, deixou o emprego cinco anos depois. Foi parar em Go-vernador Valadares onde

iniciou carreira de jorna-lista. Fez sucesso com o Diário do Rio Doce. Em 1978 veio para a “Baixa-da”, nome que se dava à região à época, e fundou o Diário do Aço. Como todo sonhador, Tedesco padecia de incurável falta de tino administrativo. Já em Ipatinga, dois anos depois, o Diário do Aço começou a fazer água. As despesas cresciam e as re-ceitas diminuíam. “Essa merda nunca empata”, estava sempre reclaman-do. No dia 21 de janeiro de 1981 comecei a tra-balhar no Diário do Aço “convidado” pelo flamen-guista mais chato que eu conheci até hoje. Forma-mos uma trinca: ele, eu e Parajara dos Santos. Em questão de miséria, era um trio respeitável...

Perguntei à dupla quanto teria que pagar pela minha participação

– 33% .- Nada. Nós temos

uma baita dívida pra pa-gar. Uns sessenta milhões! E não tem nem papel pra hoje. O que você tem a fazer é começar a traba-lhar logo.

Para encurtar a con-versa, em um ano as dívi-das foram pagas e o jornal encontrou seu ponto de equilíbrio econômico-financeiro. Aí, os dois ensengaram para retornar a Valadares. Estavam ma-lucos pra jogar conversa fora na Esquina do Boi. Comprei os 67% dos dois em doze prestações.

Na hora de assinar os papéis Tedesco apareceu de camisa do Flamengo e chuteiras vermelhas. Pa-guei, na hora, a primeira prestação (dinheiro que tomei emprestado do antigo Banco Nacional). Na noite do mesmo dia, fui à casa dele – rua Chi-

le, Cariru – e o encontrei sentado no chão brincan-do com um Autorama, coqueluche da época.

Diante do meu espan-to, Tedesco tentou justifi-car-se: era o sonho do Lú-cio, meu filho. Paguei 80 mil cruzeiros por ele e o abraçou carinhosamente.

Tedesco me ligou de Valadares, três ou quatro meses depois, me convi-dando para ir à Argenti-

na.- Tenho um irmão lá

há 40 anos. Só sei que mora em Buenos Aires, mais nada. Vou de kombi. Eu, Suzete, Lúcio, Pau-linho, Juliana, Fernanda, Sô Afonso e Dona Isabel (sogros).

- Vou, também. Ha-via comprado um corcel zerinho do Mário Yolete – Brasauto, Coronel Fa-briciano.

A viagem – janeiro de 1982A Argentina vivia o mes-

mo inferno que queimava o Brasil. Os milicos de lá tor-turavam, matavam e jogavam los hermanos vivos de avião no Rio da Prata. Quando atravessamos la aduana, em Uruguaiana, era só puliça com metralhadoras embica-das. Tedesco viajava numa kombi em avançado estado de uso. Na primeira aborda-gem em território argentino, cinco puliça apontavam as metralhadoras com o dedo no gatilho. Eu observava de longe, rezando pela sorte do amigo. Como ensina a psico-logia, nos regimes de exceção onde impera o terror, os de-dos dos guardas de la pátria coçam de satisfação ante a possibilidade de disparar e fazer sangue. Poucos minutos depois os puliça foram embo-ra. Perguntei para o Tedesco, alto, narigudo: “cumé que ocê saiu dessa?”

- Falei com cara de brabo:

tira essa porra daqui! Não es-tão vendo aqui dentro mulhe-res, velhos e crianças?

Uma noite a gente entrou numa pequena cidade cha-mada San José. Uma filha do Tedesco menstruou: ai que sangueira, reclamou a moça sentindo-se desconfortável numa kombi entupida de gente.

Seu pai bateu na porta de uma farmácia. Abriram a por-ta, e Tedesco perguntou:

-Osted tiene el panoelito blanco para la perseguida?

E o da farmácia respon-deu:

- Fala em Português, seu babaca. Eu sou brasileiro de Governador Valadares...

Os beijos e abraços fo-ram inevitáveis e demorados. Quando já entrava na kombi ouviu o grito do conterrâ-neo:

- Olha aqui conterra. Acá no és la perseguida e si la ofe-recida.

Em Buenos Aires Tedes-co pegou o catálogo de tele-fones e fez umas 50 ligações. O nome Tedesco é de origem alemã. Embora Buenos Aires seja habitada por italianos, alemães, espanhóis e alguns índios, achar um Tedesco-pa-rente com apenas dois nomes seria mais difícil que George Bush ir para o reino dos céus.

Excelente piadista, Tedes-co contou pelo menos uma bem engraçada. Quando jo-gava pelada com amigos em Valadares, seu médico procto-logista era um ótimo atacante, mas Tedesco era melhor de-fensor. Puto da vida, o doutor ameaçou Tedesco:

- Se você não facilitar as coisas aí pra mim, na próxima consulta vou enfiar dois dedos de uma vez só.

O time do médico enfiou uma goleada.

A última cena digna de registro que testemunhei, foi no quintal de sua casa. Nunca

pedi licença para entrar nela. Um dia, desses em que Vala-dares “assa” a gente, encontrei Tedesco e o médico Carlos Vieira sentados, de costas um para o outro, dentro de um prisma de cantoneiras, em atitude de “contemplação” e absoluto silêncio. Perguntei: o que esses dois babacas estão fazendo ali dentro?

- Eles dizem que estão se energizando. E é possível. Com quarenta graus de calor vão sair de lá torrados, res-pondeu Suzete, acrescentando que quanto ao resto não tem importância: estão de costas um pro outro.

No dia 15 de maio de 2001, eu voltava de Belo Ho-rizonte. Nas proximidades de Antônio Dias, o locutor da rádio anunciou em voz baixa “lamentamos informar o fale-cimento do grande jornalis-ta...” Imediatamente, presu-mi que era Tedesco, quando se falou em “grande jornalista”.

Minha mulher, grande amiga dele, desmanchou-se em lá-grimas. Fomos direto para a capela-velório de Governador Valadares. Coincidentemente, a “patroa” trajava vestido pre-to. E Suzete, a viúva, muito contida, trajava branco. As pessoas iam chegando, abra-çando e cumprimentando minha mulher. Tive um prin-cípio de pânico. Será que o defunto sou eu?

Meio perdido, recebi aten-ção do tenente-coronel Fran-cisco Xavier, velho conhecido meu e compadre do Tedesco.

Você está vivo. Tedesco também. A qualquer hora, ele levanta daquele caixão e dá uma “banana” pra gente.

- Sai daqui seu bando de idiotas!

Ninguém saiu. Tedesco foi enterrado e com ele meu “tipo inesquecível”.

Foi uma péssima piada. A última que ele não pode con-tar.

o ex-prefeito bonifácio mourão, ivanor Tassis e o casal suzete e Tedesco

Tedesco, a filha Fernanda, Ten-coronel Francisco Xavier e a esposa lana Xavier

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LiteratoliceDomingo • 21 de fevereiro de 2010 •VALE ECONÔMICO • Página 7

Vidas Mal Traçadas – Capítulo IICheguei numa segunda-feira, bem cedo.

Uma chuvinha de “molhar bobo” insistia. A cidade, circundada por colinas bem sa-lientes, embranquecera-se como véu de vir-gem. Senti falta de sol. O cenário levava à introspecção. Melhor estivera eu saindo de novo para outros intermináveis quinze dias. Ou não. Sem rumo, comecei a cismar. Tá parecendo Semana Santa, quando a lem-brança de Cristo vem à mente. Cristãos voltam-se para dentro de si. O fenômeno religioso que ora confunde ora explica, nes-sa passagem ajudou. As pessoas sempre ati-nam com o impenetrável mistério da morte de Cristo. Por que, Ele, filho de Deus, que tudo pode, haveria de morrer assim, lance-tado na cruz? Religiosos, teólogos, ascetas, são unânimes: Cristo sentiu dores físicas. Teria chegado a lamuriar: “Pai, por que me abandonastes?”

De repente, sacudi a cabeça, dei de om-bros, como se estivesse despertando de um sonho. Por que sou eu quem vai entender tamanho mistério? Existir, por si, só já é o maior deles.

Estou parado na pequena rodoviária, perdido.

Devo ir agora para a pensão ou demo-rar mais? A saudade da imagem que não via ao vivo agiganta-se. Me engole. De minha sombra nem seu tamanho percebo. O dese-jo de avançar cresce. O medo, também.

Por que não prolongar mais essa incerte-za? Boa ou má, a notícia definitiva assusta.

Será que ela vai me perguntar por que estive fora tanto tempo? E se nem tivesse dado conta disso?

Puxei a velha cadeira da rodoviária, sentei-me, pedi uma cerveja e um pão com salame. Fixei os olhos em nenhum lugar. O tempo consumido entre a decisão de não ir e beber a cerveja morna e choca fez chegar a hora de ir para o trabalho. Me senti um vencedor havendo suportado cerca de seis horas sem ir para a pensão, a pouco mais de um quilômetro dali. No caminho para o banco, fui falando comigo mesmo: “o que será que ela está pensando? Será que notou minha ausência? E dona Ione, teria falado que eu perguntara por ela? Certamente não. Por que despertar a curiosidade da filha que ela mesma escondia?

Foi trabalho difícil tolerar clientes pedin-do a “atualização de suas cadernetas de de-pósito bancário”, calcular rendimentos dos juros entre um depósito e outro.

NÃO SE ASSUSTE. BANCOS NÃO LUCRAVAM DEZ BILHÕES DE RE-AIS POR ANO. Ao contrário, pagavam juros de 6% ao ano para depósitos à vis-ta. Não cobravam taxas, tarifas, ou serviços

prestados ao cliente de qualquer espécie. Hoje, você tem que pagar pra deixar lá seu dinheiro. E se não “movimentar” sua conta, o saldo diminui! Pode até ficar negativo. Aí, mandam seu nome para a lista dos “sujos” e você tem que pagar para limpar. Eles ten-tam - e conseguem – empurrar sua goela abaixo seguro de vida em grupo, seguro de vida pessoal, seguro para sua mulher, na-morada, namorado, seu cachorro, sua casa, seu carro, seus empregados, cartões de cré-ditos, cheques especiais a 150% de juros ao ano. Na Suécia, um dos mais liberais países da Escandinávia, já se fala em seguro para a “outra” ou para o “outro”. Não há governo que dê jeito nisso. Por que? Elementar, meu caro Watson. Quem financia as milioná-rias campanhas políticas de governadores, senadores e deputados? Eles, né, meu caro e inocente leitor. Quando você realiza uma operação de crédito num banco, na hora de a bufunfa cair na sua conta você jamais es-capa da última facada.

O gerente cara-de-pau te encosta na pa-rede e diz que é o último dia para “cumprir” sua meta e leva mais um pedaço do seu.

Enfim, deu as seis horas da Ave-Maria de Gounod na igreja próxima. Era a senha para apertar o nó da gravata, vestir o paletó e pegar a Praça João Pessoa, caminho mais curto para a pensão. Os quinze dias de via-gem agora transformaram-se em dezesseis. Que efeito teria produzido? Talvez algum, talvez nenhum.

Desci o calçadão com o peito sempre apertado, a cabeça fervilhando e as mãos suando.

Agora, vou ter que ir. Já estou indo. Não quero vê-la. Ou quero?

No meio do caminho não tinha uma pe-dra. Tinha Lea, professora de papo agradá-vel, de boa cultura. Cada palavra sua era um sussurro filosófico.

- Pra onde você está indo? - Pra pensão. Quero dizer, acho que vou.

Aliás, já estou indo. Um passo pra frente, dois pra trás. Mas tem uma pedra no meio do meu caminho. Graças a Deus.

Prática, Lea entendeu, aproveitou o limão que lhe joguei e fez uma limonada com ele.

- Então, vamos sentar em cima dela e fa-lar qualquer coisa. No meu caminho estou encontrando pedra no princípio, no meio e no fim. Olha o dedão do meu pé: está sem unha!

Naquele momento Lea parecia realista. A pedra não seria de Drummond. Cheguei a ficar com raiva dela. Por que sentar em cima de uma pedra que só existia na poesia drumoniana? Mas Lea era bem mais inteli-

gente do que eu pensava. Ria e fazia piadas da dor – a dos outros.

- Falar qualquer coisa de quê? – pergun-tei, na expectativa de que ela desconfiasse do meu problema.

- A vida só vale a pena ser vivida quan-do há pedras no meio do caminho. Ainda somos novos, temos de saltar muitos obs-táculos, muitas barreiras, para chegar a al-gum lugar. Digo barreiras no sentido real. O amor, a paixão são obstáculos às vezes intransponíveis. Só a dor, uma dor difusa, fica. Corrói. O remédio é o tempo, que a gente acha que nunca vai acabar.

Fiquei assustado com as coisas que Lea sabia, ainda bem nova e perguntei: onde você aprendeu tudo isso?

- Pára de perguntar e vai lá.- Vai lá aonde?- Lá na casa dela. - Dela quem? Fingi inocência, ignorân-

cia e espanto. Mas notei que fui um péssi-mo ator. Lea quase falou o nome dela.

Quando notou que a conversa estava fi-cando perigosa porque se achava perto de falar o que não devia, não podia ou não convinha, Lea deu sinais de encerrar o papo e o fez me desejando “sorte”.

- Tá. Agora eu vou mesmo. Você me deu coragem.

No caminho, fantasiei à solta. Idealizei-a, pintei-a, esculpi-a à minha feição.

Olhos penetrantes, pretos de cigana

magiar. Olhos que te buscam, que pa-recem te escutar. Voz firme brotando de boca feita a pincel. Ela não queria se mos-trar por inteiro. Escondia com elegância e personalidade sua identidade. Na verdade, ela se traía.

Inteligentemente distraída. Como assim? Costumava perguntar com indolência.

Um convite à luxúria? Não. Um enig-ma. Encarei-a frente a frente. Mas me vi re-duzido ao nada, naquele momento.

Era o belo em sua manifestação mais pura e real. Sua beleza assusta. Parecia imen-sa a distância entre ela e os comuns.

Rapidamente pulou de seu trono e dis-se: “Carol falou que você pode me ajudar em Matemática?”

Festejei a possibilidade agora real de es-tar perto dela. É que no “você pode me aju-dar” recuperei tudo que havia perdido de mim. Juntei os cacos que restaram da alma esfarrapada e gritei para o meu mundo: É ela – Maria Rita!

Depois eu conto para Lea como foi a primeira abordagem. E no dia 7 de mar-ço eu escrevo pra você ler, se quiser e tiver saco!

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