2015pragmatizes politicas culturais e territorio na al

Upload: yaguanpna

Post on 08-Jul-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    1/15

    22 

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    Políticas Culturais e Território na América Latina: Diálogos conceituais

    entre Néstor García Canclini, Rodolfo Kusch e Milton Santos

     

    Políticas Culturales y Territorio en América Latina: Diálogos conceptuales

    entre Néstor García Canclini, Rodolfo Kusch y Milton Santos

    Cultural Policies and Territory in Latin America: Conceptual dialogues

    between Néstor García Canclini, Rodolfo Kusch and Milton Santos

    Juan Ignacio Brizuela1

    José Márcio Barros2

    Resumo:

    Começamos este artigo com uma recapitulação, em três momentos,do conceito de políticas culturais elaborado por Néstor García Canclini.Destacamos três textos (e contextos) que entendemos serem chaves nodesenrolamento conceitual deste autor no campo das políticas culturais.O primeiro é o artigo “Políticas Culturais na América Latina”, publicadoem português em 1983. O segundo momento aparece na introdução àcoletânea “Políticas Culturales en América Latina” de 1987, onde GarcíaCanclini registra a sua primeira sistematização conceitual mais densa. Enalmente, um terceiro texto em “Deniciones en transición”, de 2001,onde são acrescentadas algumas questões inéditas ao conceito de1987, incluindo categorias de análise sócio-espacial como geoculturae o caráter transnacional dos processos simbólicos e materiais maisrecentes. Considerando estas mudanças conceituais, dialogamos comdois pensadores latino-americanos que nos ajudam a relacionar, desdediversos campos do conhecimento, geocultura, território e políticasculturais: Rodolfo Kusch e Milton Santos. Interessa-nos reetir sobrea atualidade destas construções conceituais, buscando contribuir como estudo das políticas culturais contemporâneas no contexto latino-americano. Para concluir, registramos distintas experiências realizadas porestudiosos contemporâneos da região no intuito de continuar discutindo asrelações possíveis entre território e políticas culturais na América Latina.

    Palavras chave:

    Políticas culturais

    Território

    Néstor García Canclini

    Rodolfo Kusch

    Milton Santos

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    2/15

    23

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    Resumen:

    Comenzamos este artículo con una recapitulación, en tres momentos,

    del concepto de políticas culturales elaborado por Néstor García Canclini.Destacamos tres textos (y contextos) que entendemos son claves en eldesenvolvimiento conceptual de este autor en el campo de las políticasculturales. El primero es el artículo “Políticas Culturais em América Latina”,publicado en portugués en 1983. El segundo momento aparece en laintroducción a la colección de artículos “Políticas Culturales en AméricaLatina” de 1987, donde García Canclini registra su primer sistematizaciónconceptual más densa. Y, nalmente, un tercer texto “Deniciones entransición”, de 2001, donde son acrecidas algunas cuestiones inéditasal concepto de 1987, incluyendo categorías de análisis socio-espacialcomo geocultura y el carácter transnacional de los procesos simbólicos

    y materiales más recientes. Considerando estos cambios conceptuales,dialogamos con dos pensadores latinoamericanos que nos ayudan arelacionar, desde diversos campos del conocimiento, geocultura, territorio ypolíticas culturales: Rodolfo Kusch y Milton Santos. Nos interesa reexionarsobre la actualidad de estas construcciones conceptuales, buscandocontribuir con el estudio de las políticas culturales contemporáneasen el contexto latino-americano. Para concluir, registramos distintasexperiencias realizadas por estudiosos contemporáneos de la regióncon el propósito de continuar discutiendo las relaciones posibles entreterritorio y políticas culturales en América Latina.

    Abstract:

    We started this article with a recapitulation, in three times, on the concept ofcultural policies elaborated by Néstor García Canclini. We highlight threetexts (and contexts) that we mean keys on the conceptual learning of thisauthor in the eld of cultural policies. First it’s the article “Políticas Culturaisem América Latina”, published in portuguese in 1983. The second momentappears at the introduction of the collection of articles untitled “PolíticasCulturales en América Latina” of 1987, where García Canclini records his

    rst conceptual systematization. And nally, a third moment appointed onthe article “Deniciones en transición” in 2001, where inedited points areincreased on the concept of 1987, including categories of social-spatialanalyze such as geoculture and the transnational character of the recentsymbolic and material processes. Considering this conceptual changes,we dialogue with two latin-american thinkers that will help, from diverseelds of knowledge, to relation geoculture, territory and cultural policies:Rodolfo Kusch and Milton Santos. We aim to reect of the actuality ofthese conceptual constructions, seeking to contribute on the study ofcontemporary cultural policies in Latin American context. To conclude,we recorded some differents experiences performed by contemporaryscholars of the region with the purpose of continuing the discussion ofthe relationships between territory and cultural policies in Latin America.

    Palabras clave:

    Políticas culturales

    Territorio

    Néstor García Canclini

    Rodolfo Kusch

    Milton Santos

    Keywords:

    Cultural Policies

    Territory

    Néstor García Canclini

    Rodolfo Kusch

    Milton Santos

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    3/15

    24

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    Políticas Culturais e Território na

    América Latina: Diálogos conceituais

    entre Néstor García Canclini, Rodolfo

    Kusch e Milton Santos

     É difícil pensar sobre o campo de

    estudos em políticas culturais na Améri-ca Latina sem referir-nos a Néstor GarcíaCanclini. Doutor em losoa pela Universi-dad Nacional de La Plata – UNLP, Argenti-na (1975) e pela Universidade de Paris emFrança (1978), o pesquisador argentino

    elaborou uma denição de políticas cul-turais nos anos 1980 que, mais de trintaanos depois, se mantém com atualidade ecom um grau de reconhecimento invejávelno campo de estudos da cultura. Se nemtodos os estudiosos contemporâneos daspolíticas culturais concordam totalmentecom a sua denição, é quase impossívelque a desconheçam, sendo referência bá-sica em qualquer curso de formação desta

    área nos países latino-americanos e emmuitas outras partes do mundo também. 

    Os três momentos que destacare-mos aqui em sua construção conceitualacerca das políticas culturais estão presen-tes nos textos “Políticas Culturais na Amé-rica Latina”, publicado em português em1983, na introdução à coletânea “PolíticasCulturales en América Latina” de 1987 – naqual García Canclini registra a sua primei-

    ra sistematização conceitual – e, nalmen-te, no texto “Deniciones en transición” de2001, onde são acrescentadas algumasquestões inéditas ao conceito de 1987;incluindo categorias de análise sócio-es-pacial como geocultura e o caráter trans-nacional dos processos simbólicos e ma-teriais mais recentes. Considerando estasmudanças conceituais, dialogamos comdois pensadores latino-americanos quenos ajudam a relacionar, desde diversoscampos do conhecimento, geocultura, ter-ritório e políticas culturais: Rodolfo Kusch e

    Milton Santos. Interessa-nos reetir sobre aatualidade destas construções conceituais,buscando contribuir com o estudo das polí-ticas culturais contemporâneas no contex-

    to latino-americano. Para concluir, registra-mos distintas experiências realizadas porestudiosos contemporâneos da região nointuito de continuar discutindo as relaçõespossíveis entre território e políticas cultu-rais na América Latina.

    1983 – Políticas Culturaisna América Latina

      No primeiro texto aqui destacado,García Canclini (1983) fala a partir dopróprio contexto histórico-geográco. Oautor registra as expectativas revolucio-nárias dos anos 1960 após a revoluçãocubana, as reações conservadoras cívi-co-militares dos anos 1970 com golpesno Brasil, na Bolívia, Chile, Argentina eUruguai e as idas e voltas das lutas popu-lares das grandes maiorias destes paísesdiante das receitas neoconservadoras doeconomista estadunidense Milton Frie-dman, referência da perspectiva liberal,que começavam a ser aplicadas com for-ça nos países do continente (p. 39). Nes-se contexto, o horizonte traçado para aspolíticas culturais pelo jovem professorera claro: lutar contra o capitalismo e im-perialismo no intuito de possibilitar umavia socialista a partir de uma política po-pular na cultura (p. 48 e 51).

      Para o autor, discutir políticasculturais é pensar sobre a sociedadeem que queremos viver. Sendo assim,o texto busca:

    [...] revisar as concepções do nacional--popular atuantes na América Latina esua relação com as práticas, com aspolíticas culturais, como parte da dis-cussão sobre o tipo de sociedade que

    queremos e sobre os erros que obsta-ram as lutas populares (p. 40).

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    4/15

    25 

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

      Registra-se um entendimento so-bre a cultura relativamente comum entreos antropólogos que a estudam “como umconjunto de fenômenos que contribuem,

    mediante a representação ou reelabora-ção simbólica das estruturas materiais,para compreender, reproduzir ou trans-formar o sistema social” (Ibidem, p. 40).Sendo assim, o âmbito da cultura não serestringe às chamadas “belas artes”, livrosou concertos, mas inclui os modos de vi-ver, pensar, comer, imaginar e fazer polí-tica de uma população determinada. Istoé, formas e práticas que distinguem a umpovo e lhes dão identidade.

      Cinco são as concepções do nacio-nal-popular estudadas pelo pesquisadorargentino: a) biológico-telúrica; b) partidáriado Estado; c) mercantil; d) militar e; e) his-tórico-popular. O autor busca compreenderde forma crítica os paradigmas ideológicosque sustentam estas concepções exami-nando as suas consequências práticas;ou seja, a execução das políticas culturais.

    Sobre a denição conceitual das políticasculturais, foco principal deste texto, ela nãoaparece de forma explícita, mas já podemosobservar alguns delineamentos que serãoretomados pelo autor poucos anos depois.

    1987 – Políticas Culturalesen América Latina

      Na introdução desta coletânea, pu-

    blicada em 1987, García Canclini realizaum balanço dos estudos latino-americanossobre políticas culturais desde o nal dosanos 1960 e procura argumentar a respei-to de por que são cada vez mais centraiseste tipo de discussões e práticas no naldos anos 1980, nos países do continen-te. Por um lado, arma o autor, as açõesestatais no campo da cultura começama ganhar algum tipo de coerência similarà coordenação que pode ser encontra-da nas políticas setoriais econômicas, desaúde ou moradia. Isto pode ser observa-

    do nas ações do governo cívico-militar doBrasil com a criação do Conselho Federalde Cultura em 1967 e na formulação daPolítica Nacional de Cultura em 1973-75

    e também na Argentina, já no processo deredemocratização, com o Plano Nacionalde Cultura 1984-1989 (p. 14 e 22)3.

      Por sua vez, arma o autor, estu-diosos das ciências sociais, no seu sentidomais amplo, e organismos internacionais,como a UNESCO, começam a conside-rar temáticas relacionadas ao campo dacultura para melhor entendimento das so-ciedades da época junto com as questões

    econômicas e políticas, procurando aplicarmetodologias de pesquisa tão rigorosasquanto às aplicadas a outros campos deconhecimento social “superando así la épo-ca en que este campo sólo merecía espe-culaciones losócas y ensayos intuitivos”(p. 15)4. O estudioso destaca, também, opapel crescente de atores não estatais nagestão das políticas culturais, sejam es-tes tanto grandes corporações empresa-

    riais transnacionais e outros agentes domercado capitalista quanto agrupaçõesculturais de base, movimentos indígenas,comunitários e populares, entre muitos ou-tros, invisibilizados pelo Estado e tambémpelas chamadas indústrias culturais. Nes-te contexto, surgem estudos interessadosem compreender as bases culturais dosmovimentos revolucionários e das culturaspopulares da região (p. 24), com destaquepara os pensadores nucleados no CLAC-

    SO5, menos preocupados pelas análisespolíticas e econômicas tradicionais e maisinquietados na redenição e ampliação doconceito de cultura, que deixa de designarunicamente às linguagens artísticas daelite. Estes pesquisadores estudam, en-tre outras questões, a reprodução e trans-formação das operações simbólicas queacontecem no seio das comunidades, quese traduzem em diversos modelos de so-ciedade e que, por sua vez, estão sendopropostos e disputados pelos distintos gru-pos de interesses culturais (p. 25-26).

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    5/15

    26 

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

      G. Canclini lamenta que a conjun-tura econômica das sociedades latino--americanas da época seja de crise (quan-do América Latina não esteve em crise?),

    agravada pela implantação do modeloliberal neoconservador que reduz fundospúblicos para a educação, para pesquisare difundir bens culturais, que diminui ossalários e aumenta as condições de pre-carização dos trabalhadores... Enm, queimpossibilita as condições para uma efeti-va democracia cultural: “[e]n el momentoen que comprendemos mejor el papel quela cultura puede cumplir en la democratiza-ción de la sociedad estamos en las peores

    condiciones para desarrollarla, redistribuir-la, fomentar la expresión y el avance de lossectores populares” (p. 26). Sendo assim,arma o autor, se o trabalho cultural é ne-cessário para enfrentar democraticamen-te as contradições do desenvolvimento, acrise da cultura deve tratar-se junto com aque se vive na economia e na política. É apartir deste contexto e desta conjuntura, eapós esta sólida argumentação que o autorregistra a sua já clássica conceituação:

    Entenderemos por políticas culturalesal conjunto de intervenciones realiza-das por el Estado, las institucionesciviles y los grupos comunitarios orga-nizados a n de orientar el desarrollosimbólico, satisfacer las necesidadesculturales de la población y obtenerconsenso para un tipo de orden o detransformación social (1987, p. 26).

    Nesta denição, chama a atençãoo fato de armar não ser o Estado o únicoagente das políticas culturais, envolvendotambém diversas instituições civis e co-munitárias organizadas – pensando, se-guramente, nos mais variados movimen-tos sociais e de populações origináriasque existem na América Latina. Ademais,os programas e ações estabelecidos emuma política cultural procuram, segundo o

    autor, satisfazer as necessidades culturaisda população. Finalmente, estas políticas

    são aplicadas para obter um determinadoconsenso, seja para manter uma ordemou cânone preestabelecido, ou para cons-truir vias alternativas que permitiriam uma

    transformação desse status quo.

      Essa questão nos remete à possibi-lidade de reconhecer a especicidade daspolíticas culturais no contexto das políticaspúblicas, congurando uma trajetória depesquisas e um conjunto de instrumentose ferramentas metodológicas elaboradaspara dar conta desta singularidade. Comisto não estamos querendo dizer que a pro-dução intelectual sobre políticas públicas

    não tenha nenhuma utilidade para o estu-do e avaliação das políticas culturais. Estaabordagem é importante, claro, ainda maisquando analisamos e avaliamos políticasestatais ou governamentais para a área dacultura. O que armamos é a partir de G.Canclini, que o estudo das políticas cultu-rais não pode ser simplicado a uma subca-tegoria dos estudos das políticas públicas.

    2001 – Deniciones en transición

      O que mudou na conceituação deGarcía Canclini sobre políticas culturaisentre os textos de 1987 e 2001? A mudan-ça espaço-temporal antes da queda domuro de Berlim a outro contexto no iniciodo século XXI onde não tinha aconteci-do, ainda, a queda das torres gêmeas deNova Iorque, nos Estados Unidos, em 11

    de setembro de 2001, deveria signicaruma grande mudança6. Este artigo, con-forme já foi registrado no começo do tex-to, se intitula “Deniciones en transición”.Nele, o autor faz um comentário que setornou amplamente conhecido armandoque, aparentemente, o único consensoque existe entre os estudiosos da culturaé que não há consenso sobre como deni--las7. Porém, matiza o pesquisador, é ne-cessário construir denições operativas,

    ainda que sejam provisórias, inseguras e,nós acrescentamos, intuitivas, para seguir

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    6/15

    27 

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    pesquisando e fazendo políticas cultu-rais8. Citamos, a seguir, o verbete corres-pondente à noção em discussão:

    Políticas Culturales: Los estudios re-cientes tienden a incluir bajo este con-cepto al conjunto de intervenciones re-alizadas por el estado, las institucionesciviles y los grupos comunitarios orga-nizados a n de orientar el desarrollosimbólico, satisfacer las necesidadesculturales de la población y obtener con-senso para un tipo de orden o de trans-formación social (p. 65, grifado original).

    Nesta conceituação de 2001 G.Canclini reproduz sua denição de 1987,acrescentando, algo extremamente impor-tante, o caráter transnacional das trocasculturais: “Pero esta manera de caracte-rizar el ámbito de las políticas culturalesnecesita ser ampliada teniendo en cuentael carácter transnacional de los proce-sos simbólicos y materiales en la actu-alidad” (p. 65, grifo nosso). O que isso sig-nica? Basicamente o reconhecimento dotransbordamento dos espaços nacionaisem função dos uxos comunicacionais edos reordenamentos econômicos:

    No puede haber políticas sólo nacio-nales en un tiempo donde las mayoresinversiones en cultura y los ujos co-municacionales más inuyentes, o sealas industrias culturales, atraviesan

    fronteras, nos agrupan y conectan

    en forma globalizada, o al menospor regiones geoculturales o lin-

    güísticas. Esta transnacionalizacióncrece también, año tras año, con lasmigraciones internacionales que plan-tean desafíos inéditos a la gestión dela interculturalidad más allá de las fron-teras de cada país (p. 65, grifo nosso).

      Podemos pensar, com G. Canclini,que as indústrias culturais dos anos 1970e 80 – e as políticas culturais estatais –não conseguiam atravessar fronteiras

    para agrupar-nos e conectar-nos de formaglobalizada ou ao menos, como esclareceo autor, por regiões geoculturais e linguís-ticas. O fenômeno de transnacionalização

    aos quais estamos “submetidos” aconte-ce, também, pelo aumento das migraçõesinternacionais, o que gera desaos inédi-tos, segundo o pesquisador, para a ges-tão da interculturalidade – interessanteprovocação – além das fronteiras dos pa-íses. Em síntese, ao considerar o carátertransnacional dos processos simbólicos emateriais da contemporaneidade, GarcíaCanclini incorpora vários elementos quenão se mostravam presentes em 1987,

    quando da primeira aproximação ao con-ceito de políticas culturais.

      Contudo, o que mais nos interessatrabalhar nesta “nova” denição é a ques-tão das regiões geoculturais, elementoque consideramos estar implícito na suaproposta de 1987 quando contextualizasua reexão sobre políticas culturais “na” América Latina. E nos chama a atençãoesta opção pelo “geo” cultural dado nãoser comum a presença desta categoria nosestudos da cultura e ainda menos nas po-líticas culturais. Desde quando o elementogeográco importa na compreensão destefenômeno? Quer dizer, a ideia de AméricaLatina foi estudada como proposta política,econômica e cultural nos últimos tempos,mas não como região geocultural. Aliás,que signica região geocultural? Qual a re-lação entre geograa, território e cultura?

    Estas questões aparecem, também, emum livro posterior em que García Cancliniparticipa junto com reconhecidos pesqui-sadores como Jesús Martín-Barbero e Ro-dolfo Stavenhagen – entre outros –, intitu-lado “El Espacio Cultural Latinoamericano”(2003), coordenado pelo pesquisador chi-leno Manuel Garretón e editado pelo Con-vênio Andrés Bello. A tese principal do livroestá fundamentada na seguinte armação:

    El mundo en este siglo se constitui-rá no en torno a lo geopolítico ni a lo

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    7/15

    28 

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    geoeconómico, sino principalmente entorno a lo geocultural: será apropiado,construido, distribuido entre diferentesespacios culturales, y América Latina

    debe ser uno de ellos (p. 7).

      Nesse trabalho coletivo, os autoresacreditam na existência de uma imagemdo latino-americano fruto da geograa, dacultura, do idioma, da história, da políticae de um estilo de vida que, conjugado comoutros numerosos elementos, denemcerta singularidade do latino-americano.Porém, a integração deste espaço cultu-ral é frágil, mesmo com mais de duzen-

    tos anos de trajetória compartilhada. Oconhecimento deste espaço, armam ospesquisadores, não faz parte da culturacomum dos latino-americanos no séculoXXI. E isto gera um problema porque é in-dispensável o reconhecimento do espaçoonde se vive, a história comum e a consci-ência de que se forma parte de um projetocultural, isto é, de uma cultura e de umasociedade maior aos projetos nacionais,por mais diversos que estes sejam (p. 47).

    O texto coletivo apresenta, tam-bém, uma denição operativa sobre a no-ção de espaço cultural:

    El espacio cultural es un conceptocomplejo y puede signicar variascosas. La noción de espacio sugiereterritorios geográcamente delimita-dos, visibles, identicables, pero hay

    también espacios que no son ter-ritorialmente ubicables, o que lo

    son sólo parcialmente. Hay espa-cios y circuitos culturales que no sereducen a una distribución, lugareso límites geográcos, que trascien-den las naciones e incluso el marcode un conjunto de naciones-Estados.[…] El espacio cultural, en su concep-to más amplio, es aquel que incluyelo físico territorial y lo no territorial

    incluyendo lo comunicacional y lo

    virtual (p. 35, grifo nosso).

      Em um mundo contemporâneo or-ganizado em blocos geoculturais, um dosquais seria o espaço cultural latino-ameri-cano, os limites nacionais são insucien-

    tes para o estudo das políticas culturais, ocaráter transnacional dos processos sim-bólicos e materiais atuais devem ser con-siderados enquanto um espaço culturalcomum maior, supranacional, que incluidimensões físico-territoriais e “não terri-toriais” (como circuitos comunicacionais evirtuais, segundo Garretón et al ). Podemosquestionar se esta separação propostapelos autores entre espaço cultural “terri-torial” – que seria a dimensão físico-mate-

    rial do continente, a área geográca dosEstados Nacionais – e o espaço cultural“não territorial” – que incluiria redes comu-nicacionais e virtuais “desterritorializadas” – é adequada. Autores como Haesbaert(2008), entre outros, defendem a ideia denovas territorialidades no mundo globali-zado – como a noção de territórios-rede – mas não concordam que existam espa-ços culturais “não territoriais” ou “desterri-torializados”, conforme analisaremos maisna frente. O que muda no século XXI nãoseria só o estudo das políticas culturais; ofazer, também, deveria ser diferente:

    […] las condiciones en que se puedenhacer políticas culturales son distintasa cuando se hablaba sólo de espaciosterritoriales, cuando la cultura coin-

    cidía mucho más con los territorios

    habitados por una población, que se

    creía que era homogénea. Cuandoexisten circuitos, también hay que teneruna política para éstos, pero tiene queser otro tipo de política. Es evidenteque hay una enorme uidez entre ter-ritorio y circuito. Pero aún dentro de lospaíses más denidamente capitalistasy globalizados, la lucha por las excep-ciones culturales y contra la oligo-

    polización en algunos campos son

    armaciones de territorialidad y de

    control social de esa territorialidad (GARRETÓN, 2003, p. 35, grifo nosso).

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    8/15

    29

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

      Barros (2009) arma que uma po-lítica cultural se constitui na articulaçãoentre as noções de territorialidade e seto-rialidade. Destarte, segundo o pesquisa-

    dor, é necessário articular estas variáveisbuscando um equilíbrio que atenda tantoà dimensão mais ampla da cultura, tam-bém chamada de perspectiva antropológi-ca, quanto à perspectiva mais especícade organização de circuitos de produçãocultural; ou seja, a dimensão sociológica –categorias trabalhadas por Isaura Botelho(2001) a partir das reexões do sociólogochileno José Joaquin Brunner (apud BO-TELHO, 2001). Tanto a abrangência terri-

    torial quanto a análise de suas caracterís-ticas e especicidades se mostram comoindispensáveis na construção (e estudo)de uma política cultural, nos distintos ní-veis de atuação: local, regional, nacional,transnacional e global (2009, p. 64).

      Por sua vez, o pesquisador Mato(2007a) arma em seus estudos, a neces-sidade de não limitar a análise das polí-ticas culturais a um determinado tipo deatores sociais – como governos ou agên-cias especícas de cultura de organismosestatais – nem a uma série de práticasespecícas associadas às chamadas “be-las artes”, “culturas populares” ou às “in-dústrias culturais” (aliás, segundo o autor,todas as indústrias são culturais). A suaproposta de pesquisa inclui políticas epráticas de grupos comunitários e outrostipos de organizações sociais, empresa-

    riais etc. e também integra tudo aquilo quese relaciona com o caráter simbólico e desentido das práticas sociais; em particular,através de representações sociais pesqui-sadas pelo autor em diferentes contextosao longo da sua trajetória intelectual (p.15-16). Mato estabelece uma perspectivaabrangente, não setorial, que pouco é es-tudada e utilizada tanto no Brasil quantoem outros países latino-americanos.

      Assim sendo, observamos uma pre-ocupação nestes e outros autores em dis-

    cutir a importância do território e da dimen-são espacial para o estudo das políticasculturais no contexto latino-americano. Paranalizar este artigo, registraremos, a seguir,

    algumas reexões realizadas por distintospensadores de diversos campos de conhe-cimento no intuito compreender conceitual-mente as relações entre geocultura, territó-rio e políticas culturais na América Latina.

    Território e políticas culturais - Contribui-ções de Milton Santos e Rodolfo Kusch

      O território e as políticas culturais

    são, cada um por sua conta, aconteci-mentos sumamente instigantes que têmgerado diversos e renovados “experi-mentos” teórico-conceituais publicadosao longo dos últimos anos no contexto la-tino-americano9. Para o professor MiltonSantos [1994], o estudo do território, nacontemporaneidade, não deveria repro-duzir a tradição herdada da modernidadede conceitos puros que permanecem porséculos quase intocáveis (2005, p. 255).Segundo ele, é necessário construir con-ceitos híbridos, de formas impuras, afeta-dos espaço-temporalmente, abertos e emmovimento constante:

    [...] por que, então, em nossa cons-trução epistemológica não preferi-mos partir dos híbridos, em vez departir da ideia de conceitos puros?Esta é, também, a posição de Hä-

    gerstrand (1989, 1991b, p. 117)quando propõe tratar de forma si-multânea o mundo da matéria eo mundo do signicado humano (2012, p. 101, grifo nosso).

    Portanto, Santos arma que o obje-to de análise social não é o território “em simesmo”, mas o uso do território; ou seja, oterritório usado – nós acrescentamos: his-tórico, simbólico, contingente, habitado–como quadro permanente de nossa vida(2005, p. 255)10. “[...] já que usado, o territó-

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    9/15

    30 

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    rio é humano” arma o pesquisador (Ibidem,p. 257). E esta seria a sua proposta híbridainicial, ao mesmo tempo, simbólica e mate-rial, que nos permitiria estudar a realidade

    territorial de forma sistêmica e integral.

      A perspectiva miltoniana não consi-dera o território apenas como um palco, umcenário passivo onde acontece a vida emsociedade. O território também “acontece”.Ele surge, “retorna” – na metáfora do au-tor – como um ator dinâmico, em constantemovimento e interação com o seu entornocultural. Santos e Silveira [2001] armamque: “para denir qualquer pedaço de ter-

    ritório devemos levar em conta a interde-pendência e a inseparabilidade entre a ma-terialidade, que inclui a natureza, e o seuuso, que inclui a ação humana, isto é, o tra-balho e a política” (2011, p. 247). Por con-seguinte, o território usado é um territóriovivo, vivendo que: “[...] revela também asações passadas e presentes, mas já con-geladas nos objetos, e as ações presentesconstituídas em ações” (Ibidem, p. 247).

      Nutrindo-se destas considerações,o geógrafo gaúcho Rogério Haesbaert(2006) nos provoca (o que nos estimula areetir) armando que as ciências sociais(re)descobriram recentemente o territóriosó para falar de seu desaparecimento (p.26). Com raras exceções, arma o autor,o espaço11  foi negligenciado nas análisesdas sociedades modernas. Estudos recen-tes sobre a chamada “desterritorialização”

    promovida pela globalização neoliberal12 teriam alertado sobre o enfraquecimento,ou até mesmo o desaparecimento, doslaços territoriais das sociedades atuais.Contudo, arma Haesbaert, isto não geroupesquisas que destacaram a importânciaanterior dos territórios nas sociedades ago-ra globalizadas. Outros pesquisadores daregião, como Escobar (1999, 2010), Mato(2007b) e Porto-Gonçalves (2008, 2012),também questionam o “mito da desterri-

    torialização” no mundo contemporâneo e,concordando com Haesabert, armam que

    não existe sociedade sem território. Con-forme sinalizado por Daniel Mato:

    […] globalización y transnacionali-

    zación no necesariamente implican“desterritorialización”, y que segúnlos casos especícos y basándose enanálisis cuidadosos, habría que ha-blar en términos de transterritoriali-dad, multiterritorialidad, multilocali-zación, o reterritorialización (2007b,p. 35, grifo nosso).

      Esta multiplicidade de categoriasespaciais associadas ao território nos

    obrigam a (re)pensar o estudo das políti-cas culturais desde uma perspectiva maisabrangente e, claro, territorial.

      Além disso, especialistas em eco-nomia, losoa, antropologia e outroscampos do saber também têm contribuído,e muito, nas atuais abordagens territoriaiscada vez mais afastadas do naturalismoou dos estudos físico-geográcos tradicio-nais da modernidade. Contudo, este diá-logo interdisciplinar acontecido dentro datradição do pensamento latino-americanonão parece ter tido muita visibilidade ouestudo na contemporaneidade13. Assimsendo, um dos pensadores das nossaslatitudes que muito tem a contribuir nes-tas abordagens mais abrangentes sobre oterritório é o argentino Rodolfo Kusch. 

    Professor da Universidad Nacional

    de Buenos Aires (UBA) com formação emlosoa, Kusch foi invisibilizado, todavia,pelos colegas lósofos da região. Tam-bém utilizou métodos antropológicos nassuas pesquisas de campo; entretanto, erabastante crítico dos antropólogos de suaépoca. Dialogava, sim, com geógrafos,especialmente do campo rural; porém,tampouco suas conceituações claramenteligadas a esta disciplina – como a noçãode “geocultura” – conseguiram um lugar

    destacado nas discussões geográcas dopaís ou do continente. Neste sentido, se

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    10/15

    31

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    bem Kusch não constrói de forma tão ex-plícita uma abordagem territorial, acredita-mos pertinente retomar algumas de suasreexões sobre o solo, o habitat, o espaço

    vital e a (geo)cultura com o intuito de (re)pensar o estudo do território a partir des-tas inquietações mais losócas situadasno contexto americano.

      Após realizar diversas pesquisas decampo com comunidades do norte da Ar-gentina e do sul da Bolívia, região conhecidaculturalmente como andina, Kusch [1978]se debruça sobre a importância que adqui-re o pensamento dos grupos culturais para

    compreender tudo o que se refere a elesmesmos. Segundo o autor, “[s]e trata de unpensamiento condicionado por el lugar, osea que hace referencia a un contexto r-memente estructurado mediante la intersec-ción de lo geográco con lo cultural” (2012f,p. 75). Contudo, matiza o autor, armar quea geograa condiciona o pensamento seriamuito supercial. Para ele acontece algomais profundo. Existiria uma fundamenta-ção losóca que não se sabe exatamenteo que seria, uma espécie de sustento “últi-mo” não racional de um grupo cultural, queele caracteriza com o termo solo14:

    La idea de un pensamiento resultantede una intersección entre lo geográ-

    co y lo cultural conduce al problemalosóco de la incidencia del suelo enel pensamiento y abre, por consiguien-te, esta pregunta: ¿Todo pensamiento

    sufre la gravidez del suelo, o es po-sible lograr un pensamiento que es-

    cape a toda gravitación? Esto lleva auna funcionalidad del pensar y ésta, porsu parte, al encuentro del pensar con susuelo (Ibidem, p. 76, grifo nosso).

      Assim sendo, um pensamento gra-vitado pelo solo constitui um núcleo semi-nal de conteúdo simbólico, histórico e tam-bém material; que mantém uma relação

    indissociável com o espaço geográco eque produz os símbolos culturais cotidia-

    nos que permitem a supervivência de umacomunidade humana determinada. Kuschenuncia um paradoxo lógico quando ques-tiona a universalidade do pensamento oci-

    dental, armando sua historicidade, loca-lidade e contingência, mas asseverando,também, a “universalidade” da gravidadedo solo que sustenta o pensamento. Sóque esta universalidade “deformada”, con-tingente, histórica, localizada, afetada peloterritório e pela cultura local, gera diversossolos e, neste sentido, distintas formas depensamento. Ou seja, a universalidade dacondição humana se manifesta historica-mente em todas suas variantes pela união

    indissociável de culturas e territórios, pen-samentos e solos. Em palavras do autor:

    Si se logra fundar la observación deque todo pensamiento es naturalmentegrávido y tiene su suelo, cabría ver enqué medida dicha gravidez crea dis-

    tintas formas de pensamiento. Quizáse podría ampliar entonces todo lo quese reere a una antropología del pen-samiento, en el sentido de no estable-cer ad hoc un pensamiento así llamadouniversal, sino de descubrir en la gra-videz del pensar, o sea en el suelo

    que lo sostiene, un cuadro real del

    mismo que abarque todas las varian-

    tes de su modo de ser universal. Yesto simplemente porque lo universaldeformado, no es ni universal, ni de-

    formado, sino que constituye la res-

    titución de un modelo real (Ibidem, p.

    76-77, itálica do autor, grifo nosso).

      Rodolfo Kusch [1975] também pro-blematiza se a cultura é um cultivo que,como pensadores latino-americanos, nãosabemos colher, ou se na verdade a se-mente também está em nós mesmos,deste lado do mundo (2012e, p. 113-114). A cultura seria nosso “endereço existen-cial” no planeta; nela nos encontramos,nos arraigamos e sentimos que a gravi-dade do chão, a atração do solo, nos con-templa e nos acolhe:

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    11/15

    32 

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    Y este suelo así enunciado, queno es ni cosa, ni se toca, pero quepesa, es la única respuesta cuan-do uno se hace la pregunta por la

    cultura. Él simboliza el margen dearraigo que toda cultura debe tener[…] No hay otra universalidad queesta condición de estar caídos enel suelo, aunque se trate del alti-plano o de la selva (Ibidem, p. 113,grifo nosso).

      A busca de conexões entre o pen-samento de Rodolfo Kusch e Milton San-tos, somados aos estudos contemporâne-

    os sobre o território citados, nos animam areetir sobre o ponto de vista geocultural.Kusch considera o espaço geográco co-berto pelo pensamento do grupo e condi-cionado pelo local. Sendo assim, não cabefalar de geograa e cultura, mas de “uni-dade geocultural” (LANGÓN, 2005). Estaperspectiva procura o reconhecimento deoutras geoculturas, outros logos e ethos,o que possibilita e exige o diálogo intercul-tural: “ Al comprender al otro como incom- prensible desde mi cultura, lo descubroéticamente como otra cultura —otra inte-rioridad, otra vida — de distinto contenidoque la mía: con otras costumbres, verda-des, valores, preferencias...” (Ibidem, p. 1).

    A modo de conclusão

      Ao longo do texto, buscamos ana-

    lisar como o conceito de políticas culturaisem G. Canclini se transforma e abarca tro-cas transnacionais e o reconhecimento dasregiões geoculturais e interculturais, man-tendo-se vigente em reexões contempo-râneas deste campo. Além disso, introduzi-mos a questão do território e da dimensãoespacial no estudo das políticas culturais apartir de dois outros pensadores latino-ame-ricanos, Rodolfo Kusch e Milton Santos.

      As pesquisas sobre políticas cultu-rais têm profundas variantes teóricas, me-

    todológicas e inclusive epistemológicas,mas poderíamos armar que um dos pres-supostos mais sólidos destes trabalhos éa defesa de três dimensões básicas na

    análise desde fenômeno: a política, a eco-nômica e a cultural15. Cada uma destasdimensões tem a sua singularidade, mastambém relações e interconexões com asoutras, próprio da natureza plural e trans-versal das políticas culturais. As combi-nações são tão diversas como a área deabrangência deste fenômeno, que incluidesde a indústria cultural até a economiacriativa, passando pela economia políticada comunicação e da cultura, as culturas

    populares e identitárias, as tecnologias dainformação e da comunicação e as cultu-ras digitais, entre tantas outras.

      Assumindo que a política, a eco-nomia e a cultura sejam, efetivamente, astrês dimensões básicas para o estudo daspolíticas culturais; será que são sucien-tes para a compreensão deste fenômenona contemporaneidade? Quais seriam osdesdobramentos que a indissociabilidadeentre território/espaço geográco e culturapoderia signicar para o estudo e a gestãodas políticas culturais? Alguns geógrafostêm demonstrado interesse nesta temá-tica, gerando, inclusive, uma ramicaçãodenominada geograa cultural. Ainda as-sim, uma primeira aproximação destecampo mais especíco de conhecimentorevela um desconhecimento sobre a tra-dição de pensamento latino-americano,

    especialmente nestes três autores aquicomentados, que discutem, há décadas,as relações entre cultura e território.

      Para que não se cometam injusti-ças, podemos destacar o trabalho de al-guns pesquisadores como ALBINATI, 2010;SERPA, 2011; BORGES e SERPA, 2012,bem como outros em andamento , quetrabalham sobre a relação entre território,cultura, políticas públicas e políticas cultu-

    rais. Podemos ainda citar as pesquisas deJosé Tasat (2009, 2010) e equipe (TASAT

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    12/15

    33

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    e MENDES CALADO, 2010), na UNTREF,sobre gestão territorial da cultura na Argen-tina; as pesquisas do prof. Carlos VladimirZambrano (2001) sobre Governabilidade

    Cultural e Territorial na Colômbia; ArturoEscobar (1999, 2010) e Eduardo Restrepo(2005) sobre os territórios da diferença e ascomunidades negras do pacíco colombia-no; Tício Escobar (2012) sobre terra, terri-tório e guaranis em Paraguai, entre outros.

      Este texto procurou realizar umbreve exercício de recapitulação de trêsmomentos conceituais chaves na clássicadenição de Néstor García Canclini e seu

    diálogo com a questão territorial em Rodol-fo Kusch e Milton Santos. Há, contudo, anecessidade de novas reexões inseridasnas chamadas regiões ou blocos geocultu-rais contemporâneos que incluam nos seusestudos dimensões sócio-espaciais como oterritório e o espaço geográco, elementosindissociáveis das sociedades latino-ameri-canas e, claro, das políticas culturais.

    Bibliograa

     ALBINATI, M.  Assistir, Entrar em Cena ou Rou-bar a Cena? – Políticas Culturais no Território de Alagados (Salvador-BA). Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade deComunicação, Salvador, 2010. 136f.

     ANDER-EGG, E. La política cultural a nivel munici- pal. Buenos Aires: Lumen Hvmanitas, 2005.

    BARBALHO, A. Movimentos sociais, territóriosinterculturais e direitos: Pensando a partir do Mo-vimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra(MST). In: Anais ANPOG. 36º ENCONTRO ANUALDA ANPOCS. ÁGUAS DE LINDÓIA – SP, 2012.

    BARBALHO, A. Política Cultural . Coleção Políticae Gestão Culturais. Salvador: P55 Edições / Secre-taria de Cultura do Estado da Bahia, 2013.

    BARBALHO, A. Política Cultural. In: RUBIM, L.

    (Org.) Organização e produção da cultura. Salva-dor: EDUFBA; FACOM/CULT, 2005, p. 33-52. Dis-ponível em: http://www.repositorio.ufba.br/ri/hand-le/ufba/146 Acesso em: 4 de janeiro de 2015.

    BARBALHO, A. Políticas e indústrias culturais na América Latina. Revista Contemporânea.  Ed.17,Vol. 9, N1, 2011. UERJ, Rio de Janeiro. Disponí-vel em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/contemporanea/article/view/1195 Acesso em:4 de janeiro de 2015.

    BARBOSA, F. da S.; ARAÚJO, H. E. Cultura Viva: avaliação do programa arte, educação e cidada-nia. Brasília: IPEA, 2010.

    BARROS, J. M. Processos (trans)formativos e a

    gestão da diversidade cultural. In: CALABRE, L.Políticas culturais: reexões sobre gestão, proces-sos participativos e Desenvolvimento. São Paulo:Itaú Cultural; Rio de Janeiro: Fundação Casa deRui Barbosa, 2009. p. 63-65.

    BARROS, J. M. A mudança da cultura e a culturada mudança: cultura, desenvolvimento e transver-salidade nas políticas culturais. In: BARROS, J. M.;OLIVEIRA Jr., J. (org). Pensar e Agir com a Cul-tura: desaos da gestão cultural. Belo Horizonte:Observatório da Diversidade Cultural, 2011.

    BARTHE-DELOIZY, F.; SERPA, A. (Org.). Visõesdo Brasil : Estudos culturais em geograa. Salva-dor: EDUFBA; Edições L´Harmattan, 2012.

    BORGES, S.; SERPA, A. O papel dos agentes pú-blicos e da sociedade civil na implementação depolíticas de desenvolvimento territorial no Estadoda Bahia: uma análise preliminar. Revista Geogra-fares, n°11, p.31-59, Junho, 2012.

    BOTELHO, I. Dimensões da cultura e políticaspúblicas. Revista São Paulo em perspectiva, São

    Paulo: Abr-Jun, Vol. 15, N° 2, p. 73-83, 2001.

    BRUNNER, J. J. Políticas culturales y democracia:hacia una teoría de las oportunidades In: GARCÍACANCLINI, N. (ed.). Políticas Culturales en Améri-ca Latina. México: Grijalbo, 1990. [1987].

    CALABRE, L. História das políticas culturais na América Latina: um estudo comparativo de Bra-sil, Argentina, México e Colômbia. Revista Escri-tos, Ano 7, Nº 7. Rio de Janeiro: FCRB, 2013, p.323-345.

    ESCOBAR, A. Comunidades Negras de Colom-bia: en defensa de biodiversidad, territorio y cul-

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    13/15

    34

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    tura. Biodiversidad , n. 22, p. 15-20, Dic. 1999.Disponível em: http://aescobar.web.unc.edu/-les/2013/09/biodiv223aescobar.pdf Acesso em: 4de janeiro de 2015.

    ESCOBAR, A. Territorios de diferencia: Lugar, mo-vimientos, vida, redes. Popayán: Envión Editores,2010 [2008]. Trad. Eduardo Restrepo. Disponívelem: http://aescobar.web.unc.edu/les/2013/09/Ter-ritorios.pdf Acesso em: 4 de janeiro de 2015.

    ESCOBAR, T. Los tiempos múltiples. Entrevista deJulio Ramos. Revista Casa de las Américas  No.269, octubre-diciembre/2012, p. 110-125. Dispo-nível em: http://www.casa.cult.cu/publicaciones/revistacasa/269/entrevista.pdf Acesso em: 4 de ja-neiro de 2015.

    FERNANDES, B. M. Entrando nos territórios doTerritório [2008]. In: FERNANDES, B. M. Construin-do um estilo de pensamento na questão agrária: odebate paradigmático e o conhecimento geográ-co. Tese (livre-docência). Presidente Prudente:UNESP, 2013, p. 190-220.

    GARCÍA CANCLINI, N. Deniciones en transición.In: Mato D. (Comp). Estudios Latinoamericanos so-bre cultura y transformaciones sociales en tiempos

    de globalización. Buenos Aires: CLACSO, 2001.

    GARCÍA CANCLINI, N. Introducción. Políticas Cul-turales y crisis de desarrollo: un balance latinoa-mericano. In: GARCÍA CANCLINI, N. (ed.). Políti-cas Culturales en América Latina. México: Grijalbo,1990. [1987].

    GARCÍA CANCLINI, N. Políticas culturais na América Latina . Novos Estudos Cebrap, SãoPaulo, v. 2, n. 2, p. 39-51, jul. 1983. Trad. WandaCaldeira Brant.

    GARRETÓN, M. A. (Coord.) El Espacio Cultural

    Latinoamericano. Santiago: CFE/CAB, 2003.

    HAESBAERT, R. Hibridismo, Mobilidade e Multiter-ritorialidade numa Perspectiva Geográco-CulturalIntegradora. In: SERPA, A. (org.). Espaços cultu-rais: vivências, imaginações e representações.Salvador: EDUFBA, 2008.

    HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: dom dos “territórios” à multiterritorialidade. Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 2006. [2004].

    HAESBAERT, R.; MONDARDO, M. Transterri-torialidade e antropofagia: territorialidades detrânsito numa perspectiva brasileiro-latino-ame-

    ricana. Revista GEOgraphia, Niterói: RJ, Vol. 12,No 24, 2010.

    KUSCH, R. Planteo de un arte americano. Rosario:Fund. Ross, 2012a. [1959].

    KUSCH, R.  América Profunda. Rosario: Fund.Ross, 2012b. [1962].

    KUSCH, R. El pensamiento indígena y popular en América. Rosario: Fund. Ross, 2012c. [1970].

    KUSCH, R. Geocultura del Hombre Americano.Rosario: Fund. Ross, 2012e. [1975].

    KUSCH, R. Esbozo de una antropología losócaamericana. Rosario: Fund. Ross, 2012f. [1978].

    KUSCH, R. Obras completas. Tomo I, II, III e IV.Rosario: Fund. Ross, 2007.

    LANGÓN, M. Geocultura. In: SALAS ASTRAIN, R.(dir.). Pensamiento Crítico Latinoamericano: Con-ceptos Fundamentales. Santiago de Chile: U. Ca-tólica Silva Henríquez, 2005, v. II.

    MATO, D. Cultura, comunicación y transformacio-nes sociales en tiempos de globalización. In: Cultu-ra y Transformaciones sociales en tiempos de glo-

    balización: Perspectivas latinoamericanas. MATO,

    D.; MALDONADO FERMÍN, A. (comp.). Buenos Aires: CLACSO, 2007a.

    MATO, D. Importancia de los referentes territoria-les en procesos transnacionales. Estudos de So-ciologia, Araraquara: São Paulo, v.12, n.23, 2007b.p. 35-63. Disponível em: http://seer.fclar.unesp.br/estudos/article/view/499 Acesso em: 4 de janeirode 2015.

    MATO, D. Todas las industrias son culturales.Nueva época, núm. 8, julio-diciembre, 2007c. p.

    131-153. Disponível em: http://www.publicaciones.cucsh.udg.mx/pperiod/comsoc/pdf/cys8_2007/cys_n8_7.pdf Acesso em: 4 de janeiro de 2015.

    MATO, D. Contextos, conceptualizaciones y usosde la idea de interculturalidad. In: AGUILAR, M. etal (Eds.) Pensar lo contemporáneo: De la culturasituada a la convergencia tecnológica. (p. 28-50).Barcelona and México: Anthropos y Universidad Autónoma Metropolitana-Iztapalapa, 2009.

    MATO, D. Heterogeneidad social e institucional,interculturalidad y comunicación intercultural. MA-TRIZes. Vol 6, Nº 1-2. São Paulo, Jul/Dez, 2012.p. 43-61. Disponível em: http://www.matrizes.usp.

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    14/15

    35 

    Ano 5, número 8, semestral, out/2014 a mar/ 2015

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    br/index.php/matrizes/article/view/376 Acesso em:4 de janeiro de 2015.

    MORAES, A. C. R. Bases da formação territorial doBrasil. GEOGRAFARES, Vitória, no 2, jun. 2001. p.

    105-113.

    NIVÓN BOLÁN, E. Desarrollo y debates actualesde las políticas culturales en México, (texto sinpublicar), 2008. Disponível em: http://sgpwe.izt.uam.mx/les/users/uami/nivon/NIVON_EDUAR-DO_Pol_Cultural_Mexico.pdf Acesso em: 4 de janeiro de 2015.

    PORTO-GONÇALVES, C. W.  A globalização danatureza e a natureza da globalização. Rio de Ja-neiro: Civilização Brasileira, 2012. [2006].

    PORTO-GONÇALVES, C. W. De saberes e de ter-ritórios: diversidade e emanicapação a partir daexperiência latino-americana. In: CECEÑA, AnaEsther (coord.). De los saberes de la emancipacióny de la dominación. Buenos Aires: Consejo Latino-americano de Ciencias Sociales - CLACSO, 2008.

    RESTREPO, E. Políticas de la teoría y dilemas delos estudios de las colombias negras. Popayán:Editorial Universidad del Cauca. 2005. Disponívelem: http://www.ram-wan.net/restrepo/publicacio-nes.htm Acesso em: 4 de janeiro de 2015.

    RESTREPO, E. Antropología y estudios culturales: Disputas y conuencias desde la periferia. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2012.

    RUBIM, A. A. C. Políticas culturais: entre o possívele o impossível. In: NUSSBAUMER, G. M. Teorias e políticas da cultura: visões multidisciplinares. Sal-vador: EDUFBA, 2007.

    SAQUET, M. A.  Abordagens e concepções deterritório. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular,

    2010 [2007].

    SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geogra-a. São Paulo: Edusp, 2012a [1988].

    SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tem-po, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2012b[1996].

    SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pen-samento único à consciência universal. Rio de Ja-neiro: RECORD, 2010 [2000]. SANTOS, M. O retorno do território. In: OSAL: Ob-

    servatorio Social de América Latina. Año 6 no. 16(jun.2005). Buenos Aires: CLACSO, 2005 [1994],p. 251-261.

    SANTOS, M. Território e Sociedade: Entrevista

    com Milton Santos. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001 [2000].

    SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil : território esociedade no inicio do século XXI.Rio de Janeiro:RECORD, 2011 [2001].

    SERPA, A. (Org.). Cidade popular : trama de rela-ções sócio-espaciais. Salvador: EDUFBA, 2007.

    SERPA, A. Políticas públicas e o papel da geogra-a. In: Revista da ANPEGE , v. 7, n. 1, número es-pecial, p. 37-47, out. 2011.

    SODRÉ, M. O terreiro e a cidade: A forma socialnegro-brasileira. Rio de Janeiro: Imago Ed.; Salva-dor: FUNCEB, 2002. [1988].

    TASAT, J. Políticas Culturales de los gobiernos lo-cales en el conurbano bonaerense. In: IndicadoresCulturales 2008 . Caseros: EDUNTREF, 2009. p.185-191.

    TASAT, J. Políticas Culturales de los gobiernoslocales en el conurbano bonaerense (segunda

    parte). In: Indicadores Culturales 2009. Caseros:EDUNTREF, 2010. p. 61-70.

    TASAT, J.; MENDES CALADO, P. Indicadores pre-supuestarios: Dispositivos para la gestión de go-biernos locales. In: Indicadores Culturales 2009. Caseros: EDUNTREF, 2010. p. 33-39.

    TEIXEIRA COELHO. Dicionário Crítico de PolíticaCultural: Cultura e Imaginário. São Paulo: Iluminu-ras, 1997.

    TEIXEIRA COELHO. Dicionário Crítico de PolíticaCultural: Cultura e Imaginário. 2ª ed., [rev. e ampl.].São Paulo: Iluminuras, 2012.

    ZAMBRANO, C. V. Territorios plurales, cambiosociopolítico y gobernabilidad cultural. In: Boletim

    Goiano de Geograa 21(1): 09-49, jan/jul, 2001.

    Recebido em 09/01/2015  Aprovado em 15/02/2015 

  • 8/19/2019 2015Pragmatizes Politicas Culturais e Territorio Na AL

    15/15

    pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura

    Disponível em http://www.pragmatizes.uff.br 

    1 Juan Ignacio Brizuela, pesquisador visitante na Uni-versidade Federal da Bahia, Brasil. Contato: [email protected]

    2 José Márcio Pinto de Moura Barros, doutor em Comu-nicação e Cultura, Professor Titular da Universidade doEstado de Minas Gerais, Brasil. Contato: [email protected]

    3 Experiências similares de organização estatal do cam-po da cultura podem ser observadas, também, na mes-ma época, na Colômbia e no México.

    4 Esta crítica do jovem García Canclini ao ensaio e àlosoa latino-americana não durará muito já que elemesmo contribuirá com a vigência do ensaio latino-ame-ricano no premiado texto “Latinoamericanos buscandoun lugar en este siglo” (2002).

    5 O Conselho Latino-americano de Ciências Sociais(CLACSO) é uma instituição internacional não gover-namental, fundada em 1967, que mantém relações for-mais com a UNESCO. Através de diversas parecerias eatividades de ensino e pesquisa, busca contribuir a re-pensar, a partir de uma perspectiva crítica e pluralista, aproblemática integral das sociedades da América Latinae Caribe. Informação disponível em: http://www.clacso.org.ar/institucional/1a.php?idioma=port Acesso em: 4 de janeiro de 2015.

    6 O livro organizado por Daniel Mato onde García Can-

    clini participa foi publicado em junho de 2001; isto é, trêsmeses antes do atentado.

    7 “Uno de los pocos consensos que existe hoy en losestudios sobre cultura es que no hay consenso. No tene-

    mos un paradigma internacional e interdisciplinariamente

    aceptado, con un concepto eje y una mínima constelaci-

    ón de conceptos asociados, cuyas articulaciones puedan

    contrastarse con referentes empíricos en muchas socie-

    dades. Hay diversas maneras de concebir los vínculos

    entre cultura y sociedad, realidad y representación, ac-

    ciones y símbolos”  (GARCÍA CANCLINI, 2001, p. 57).

    8 “Necesitamos, sin embargo, algunas denicionesoperativas, aunque sean provisionales e inseguras, paraseguir investigando y hacer políticas culturales. Todos

    arbitramos de algún modo en conictos entre tenden-

    cias epistemológicas cuando elegimos nuestro objeto

    de estudio, ponemos en relación un conjunto de com-

     portamientos con un repertorio de símbolos, y seguimos

    una ruta para buscar los datos, ordenarlos y justicarlos”(Ibídem, p. 57).

    9 Sobre território, por exemplo, podemos consultarobras de autores como Antonio Carlos Robert de Moraes(2001), Arturo Escobar (1999, 2010), Bernardo MançanoFernandes (2013), Carlos Walter Porto-Gonçalves (2008,

    2012), Daniel Mato (2007a), Marcos Aurélio Saquet(2010), Milton Santos (2001, 2010, 2012a, 2012b), MunizSodré (2002), Rodolfo Kusch (2012b, 2012e, 2012f) e Ro-

    gério Haesbaert (2006, 2008). Sobre políticas culturais,encontramos reexões de Albino Rubim (2007), Alexan-dre Barbalho (2005, 2011, 2013), Eduardo Nivón Bolán(2008), Ezequiel Ander-Egg (2005), Frederico Barbosa daSilva (2010), Isaura Botelho (2001), José Joaquin Brun-ner (1990), José Márcio Barros (2009, 2011), Lia Calabre(2013), Néstor García Canclini (1983, 1990, 2001), Teixei-ra Coelho (1997, 2012), entre outros. Além disso, eventoscientícos como o ENECULT realizado pelo CULT/UFBA,diversos encontros organizados pela Fundação Casa RuiBarbosa – FCRB com destaque para o Seminário Inter-nacional de Políticas Culturais, os Encontros Estaduais eBrasileiros sobre Políticas Culturais e os Congressos deCultura Viva Comunitária – Pontos de Cultura corroboramessa crescente preocupação e produção nesta área.

    10 Em palavras do autor: “O que ele [o território] tem depermanente é ser nosso quadro de vida. Seu entendi-mento é, pois, fundamental para afastar o risco da alie-

    nação, o risco de perda de sentido da existência indivi-dual e coletiva, o risco de renúncia ao futuro” (SANTOS,2005, p. 255, colchetes nossos).

    11 Costuma distinguir-se o “espaço” como categoria ge-ral de análise, mais vago, do “território” como conceitomais “preciso” do ponto de vista epistemológico (MORA-ES apud  HAESBAERT, 2006, p. 37). Roberto Lobato Cor-rêa, na orelha do livro de Haesbaert, também considera oterritório como uma conceituação derivada do espaço, oconceito maior. Contudo, Milton Santos, nos seus últimosescritos, deixa de considerar relevante esta distinção,questão que discutimos no primeiro capítulo da tese.

    12 Segundo Haesbaert: “[...] o argumento da desterrito-rialização e o projeto neoliberal caminham juntos, um aserviço do outro” (2006, p. 24). 13 As trocas intelectuais que acontecem, por exemplo,em países como Itália, França, Alemanha e Grã Breta-nha, foram estudadas minuciosamente por pesquisado-res brasileiros como Haesbaert (2006, 2008) ou Saquet(2010).

    14 “Armar que la geografía condiciona el pensamientosería muy supercial. Pero enunciemos siquiera a nivelhipotético que algo más profundo ocurre, y que no lo co-

    nocemos y que caracterizamos el problema con el térmi-no suelo” (Ibidem, p. 78, itálicas do autor).

    15 Desde 2003, com a chegada ao poder do presidenteLuis Inácio “Lula” Da Silva, muitas pastas de cultura nacio-nais, estaduais e municipais adotaram a tridimensionalida-de da cultura (no seu sentido mais amplo, também chama-do de antropológico) nas suas dimensões cidadã (política),econômica e simbólica (cultural, em sentido estrito).

    16 Cincinato Marques de Souza Júnior, Cartograa nasMetas do Plano Nacional de Cultura e Luciano Simõesde Souza, Me conta Universidade livre do Médio Riodas Contas: cultura, participação e desenvolvimentolocal. Teses em andamento do Doutorado em Cultura eSociedade - Universidade Federal da Bahia. Início: 2012.