2014 isabel&fred artigo praxis educativa etica

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209 Práxis Educativa, Ponta Grossa, v . 9, n. 1, p. 209-234, jan./jun. 2014 Disponível em: <http://www .revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa> 209  A regulaçã o da pesqui sa e o camp o biomédico: considerações sobre um embate epistêmico desde o campo da educação The research regulation and the biomedical field: considerations about an epistemic clash from the field of education La regulación de la investigación y el campo de la biomedicina: consideraciones acerca de un choque epistémico desde del campo de la educación Isabel Cristina de Moura Carvalho * Frederico Viana Machado ** Resumo:  O presente artigo discute a regulação da ética em pesquisa, preconizada pelas resoluções 196/1996 e 466/2012 e o sistema CEP/CONEP, retomando debates realizados no campo das Ciências Humanas a partir da perspectiva da pesquisa em educação. Foram analisados dados sobre os cuidados éticos na pesquisa em 84 Programas de Pós-Graduação em Educação, liados ao FORPRED , que responderam a um questionário online  elaborado pelo fórum. Apresentamos argumentos construídos pelas Ciências Humanas, sobretudo pela Antropologia, ao longo da última década, e que consideramos fundamentais para a consolidação deste debate. Argumentamos que a regulação da ética na pesquisa deve ser tomada como parte de um processo mais amplo de demandas do campo das Ciências Humanas às agências reguladoras. Palavras-chave: Ética na Pesquisa. Sistema CE P/CONEP. Pesquisa em Educação.  Abstract:  This article discusse s the research ethics regulations in contemporar y Brazil, advocated by 196/1996 and 466/2012 Resolutions, and the CEP/CONEP System. We take into account the theoretical discussions in the Humanities and Social Sciences elds, from the educational research perspective. We analyze the ethical guidelines on research in 84 Postgraduate institutions, afliated to FORPRED (F orum of Post- Graduate Programs of Education) which answered to an onlin e questionnaire, specially prepared by this Forum. We present arguments constructed by Humanities and Social *  Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Pontifícia Univer - sidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]> **  Pós-doutorando (PNPD/CAPES) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]> DOI:10.5212/PraxEduc.v.9i1.0010

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  • 209Prxis Educativa, Ponta Grossa, v. 9, n. 1, p. 209-234, jan./jun. 2014Disponvel em:

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    A regulao da pesquisa e o campo biomdico: consideraes sobre um embate epistmico desde o

    campo da educao

    The research regulation and the biomedical field: considerations about an epistemic clash from the

    field of education

    La regulacin de la investigacin y el campo de la biomedicina: consideraciones acerca de un choque

    epistmico desde del campo de la educacin

    Isabel Cristina de Moura Carvalho*Frederico Viana Machado**

    Resumo: O presente artigo discute a regulao da tica em pesquisa, preconizada pelas resolues 196/1996 e 466/2012 e o sistema CEP/CONEP, retomando debates realizados no campo das Cincias Humanas a partir da perspectiva da pesquisa em educao. Foram analisados dados sobre os cuidados ticos na pesquisa em 84 Programas de Ps-Graduao em Educao, filiados ao FORPRED, que responderam a um questionrio online elaborado pelo frum. Apresentamos argumentos construdos pelas Cincias Humanas, sobretudo pela Antropologia, ao longo da ltima dcada, e que consideramos fundamentais para a consolidao deste debate. Argumentamos que a regulao da tica na pesquisa deve ser tomada como parte de um processo mais amplo de demandas do campo das Cincias Humanas s agncias reguladoras.Palavras-chave: tica na Pesquisa. Sistema CEP/CONEP. Pesquisa em Educao.

    Abstract: This article discusses the research ethics regulations in contemporary Brazil, advocated by 196/1996 and 466/2012 Resolutions, and the CEP/CONEP System. We take into account the theoretical discussions in the Humanities and Social Sciences fields, from the educational research perspective. We analyze the ethical guidelines on research in 84 Postgraduate institutions, affiliated to FORPRED (Forum of Post-Graduate Programs of Education) which answered to an online questionnaire, specially prepared by this Forum. We present arguments constructed by Humanities and Social

    * Professora do Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de Educao da Pontifcia Univer-sidade Catlica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]>

    ** Ps-doutorando (PNPD/CAPES) e professor colaborador do Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de Educao da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]>

    DOI:10.5212/PraxEduc.v.9i1.0010

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    Sciences, especially in the Anthropology field, over the last decade, and we consider fundamental for the consolidation of this debate. We argue that the regulation of research ethics should be taken as part of a broader process in demanding regulatory agencies, by Social Sciences researchers.Keywords: Research Ethics Regulations. CEP/CONEP System. Educational Research.

    Resumen: Este artculo aborda la regulacin de la tica en la investigacin en Brasil, preconizada por las Resoluciones 196/1996 y 466/2012 y el sistema CEP/CONEP. Hemos tomado los debates del campo de las Ciencias Humanas y Sociales desde la perspectiva de la investigacin en educacin. Fueron analizados datos sobre orientaciones ticas en la investigacin de 84 programas de posgrado en educacin, afiliados a FORPRED (Foro de Coordinadores de Programas de Pos Graduacin en Educacin), que respondieron a un cuestionario online, elaborado por este foro. Se presentan argumentos construidos en las Ciencias Humanas y Sociales, especialmente de la antropologa, en la ltima dcada, que consideramos fundamentales para la consolidacin de este debate. Se argumenta que la regulacin de la tica en la investigacin debe ser tomada como parte de un proceso ms amplio de demandas de las Ciencias Humanas e Sociales a las agencias reguladoras.Palabras-clave: tica en la Investigacin. Sistema CEP/CONEP. Investigacin en

    educacin.

    Apresentao

    Este artigo foi escrito para a Sesso Especial sobre A Regulao da tica na Pesquisa, promovida pelo Frum de Coordenadores de Programas de Ps--Graduao em Educao (FORPRED) e o Comit Cientfico da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Educao (ANPED), durante a 36 Reunio Nacional (RN) da ANPED (Goinia, 28/09 a 03/10 de 2013). Esta ses-so marca a preocupao dos pesquisadores da educao com o debate em torno da regulao da tica na pesquisa pelas resolues 196/96 e a atual 466/2012 do Conselho Nacional de Sade (CNS). O campo da Antropologia tem liderado este debate que convoca o campo das Cincias Humanas a posicionar-se diante das formas de regulao da tica na pesquisa e suas implicaes para o fazer cientfico. Neste artigo, nosso objetivo sistematizar os argumentos que esto em pauta nesta conjuntura e contribuir para tomada de decises entre os pesqui-sadores da educao.

    Para tal, importante diferenciar duas expresses que nos ltimos anos tm pautado nossas preocupaes acadmicas sobre o cuidado e a responsabilidade na produo do conhecimento: tica e integridade na pesquisa. Embora

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    associadas, na medida em que tratam dos fundamentos morais da prtica cientfica e definem boas prticas, tratam-se de duas esferas diferentes. A integridade na Pesquisa diz respeito conduta do pesquisador no tratamento dos dados e na publicao da pesquisa. nesta esfera que se definem as orientaes e normas que buscam evitar fraudes tais como o plgio, o autoplgio, a fabricao e/ou segmentao de dados, autoria indevida1.

    Embora estes aspectos denominados de integridade na pesquisa digam respeito ao campo da tica, como horizonte norteador da conduta moral de-sejvel do pesquisador cientifico, o que se convencionou chamar de tica na Pesquisa abrange especificamente os procedimentos de proteo aos participan-tes de pesquisa diante dos riscos das pesquisas envolvendo seres humanos2. sobre este domnio de preocupaes e procedimentos que versa a Resoluo 466/2012 do CNS e de onde derivam os protocolos e procedimentos de regula-o da pesquisa pelo sistema dos Comits de tica na Pesquisa em seres huma-nos (CEPs) e animais (CEUAs), associados Comisso Nacional de tica em Pesquisa (CONEP) do CNS, constituindo o chamado sistema CEP-CONEP3. deste domnio denominado tica na Pesquisa no circuito da regulao da pes-quisa no Brasil que trataremos neste artigo (BEVILAQUA, 2010). Buscando contribuies de outras reas das Cincias Humanas, sobretudo nas experincias e nos debates desenvolvidos pela Antropologia, analisaremos os impasses que os pesquisadores dos Programas de Ps-Graduao em Educao vm enfren-tando por conta dos vieses institucionais e polticos no mbito da definio dos parmetros deste sistema de regulao.

    Introduo

    As Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas em Seres Humanos, institudas pela Resoluo CNS196/1996 (BRASIL, 1996) e reformulada pela Resoluo CNS 466/2012 (BRASIL, 2012) do Ministrio da Sade, constituem um marco legal reconhecido como de grande valor pela

    1 Sobre o plgio, ver os artigos de Pitham e Oliveira (2013) e Pitham e Vidal (2013), bem como o documento de orientaes da CAPES para o combate ao plgio (CAPES, 2011). Sobre integridade na pesquisa ver a declarao do II Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics (BRISPE, 2012) e as diretrizes apontadas pelo Relatrio da Comisso de Integridade de Pesquisa do CNPq (CNPQ, 2011).

    2 Para uma discusso sobre as noes de risco mnimo e risco mais que mnimo, ver Guilhem e Novaes (2010).

    3 O sistema CEP-CONEP, conforme definido no item VII da Resoluo 466/2012: integrado pela Co-misso Nacional de tica em Pesquisa - CONEP/CNS/MS do Conselho Nacional de Sade e pelos Comits de tica em Pesquisa - CEP compondo um sistema que utiliza mecanismos, ferramentas e instrumentos prprios de inter-relao, num trabalho cooperativo que visa, especialmente, proteo dos participantes de pesquisa do Brasil, de forma coordenada e descentralizada por meio de um processo de acreditao. (BRASIL, 2012).

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    comunidade cientfica (SARTI; DUARTE, 2013; FLEISCHER; SCHUCH, 2010; GUERRIERO; SCHMIDT; ZICKER, 2008; VCTORA et al., 2004). Como sabemos, estas Resolues expressam a histria de um compromisso em favor dos direitos dos participantes de pesquisas autonomia e informao e deveres da comunidade cientfica no maleficncia, responsabilidade, justia e equidade quanto aos procedimentos e resultados da pesquisa (GUILHEM; NOVAES, 2010). Ao mesmo tempo, esto alinhadas ao repdio histrico contra abusos cometidos contra estes valores. Tem por base o movimento em prol dos direitos humanos que se inicia no Ps-Guerra e, como declarado no prprio texto da Resoluo CNS 466/12, evoca os documentos que marcam este movimento: Declarao de Helsinque, adotada em 1964 e suas verses de 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000; o Pacto Internacional sobre os Direitos Econmicos, Sociais e Culturais, de 1966; o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polticos, de 1966; a Declarao Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, de 1997; e no campo da sade: a Declarao Internacional sobre os Dados Genticos Humanos, de 2003; e a Declarao Universal sobre Biotica e Direitos Humanos, de 2004.

    Mesmo gozando de grande legitimidade, ao longo de seus 17 anos de existncia, a Resoluo CNS 196/1996 gerou uma srie de reaes devido s inadequaes de seus procedimentos quando aplicados pesquisa social. De um modo geral, consenso entre os pesquisadores das Cincias Humanas e Sociais que a transposio do modelo de pesquisa biomdica para as bases epistemol-gicas, metodolgicas e procedimentais das Cincias Humanas tem se mostrado pouco eficaz e, muitas vezes, um obstculo para a realizao de pesquisas. Este debate indica que a forma como esta resoluo foi pensada e executada reproduz a separao, no mbito da cincia moderna, entre as Cincias Naturais e Sociais, em um momento histrico no qual o debate epistemolgico tem privilegiado os valores de cientificidade que fundamentam as Cincias Naturais (FONSECA, 2010), e no qual h uma problemtica sinergia entre tecnologia, conhecimento e mercado (CASTELFRANCHI, 2008). O debate sobre a no neutralidade da ci-ncia foi contundente em identificar elementos ticos e polticos ocultados pelo sistema de purificao que, em ltima instncia, tende a reforar a hegemonia de princpios ideolgicos que a cincia insiste em no assumir como parte de seu alicerce epistmico (LATOUR, 2001).

    Depois de passar por alteraes nos anos de 2000, 2004 e 2008, em virtude das Resolues CNS 303/2000 e CNS 404/2008, a CNS 196/96 foi revista e substituda pela Resoluo CNS 466/2012. Esta reviso mobilizou a comunidade cientfica e gerou expectativas de uma maior adequao da re-gulao da pesquisa para as Cincias Humanas. A consulta pblica ocorreu em 2011 e recolheu 1890 sugestes por via eletrnica e 18 documentos pelo

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    Correio. As contribuies foram submetidas anlise do Encontro Nacional dos CEPs, o ENCEP, e resultou na resoluo CNS 466/12. Esta resoluo, contudo, no atendeu satisfatoriamente as demandas das Cincias Humanas, o que denota a falta de aparatos legais e institucionais que deem conta da multi-plicidade das formas de se fazer cincia na contemporaneidade (FLEISCHER; SCHUCH, 2010; VCTORA et al., 2004) e das relaes de poder que a se inter-pem (FONSECA, 2010). A nova resoluo reconhece esta necessidade, mas a projeta para o futuro, indicando a necessidade de uma resoluo complementar, como se pode ler no item XIII.3 desta pea legal (BRASIL, 2012):

    XIII - Das resolues e das normas especficas

    XIII.3 - As especificidades ticas das pesquisas nas cincias sociais e humanas e de outras que se utilizam de metodologias prprias dessas reas sero con-templadas em resoluo complementar, dadas suas particularidades.

    Neste contexto, o FORPRED foi uma das entidades que se pronunciou publicamente em prol de uma resoluo especfica para a regulao da tica em Cincias Humanas, por moo aprovada na Assembleia da ANPED em 2012. Ao longo de 2013, alguns Programas de Ps-Graduao em Educao tambm realizaram debates em suas universidades sobre esta temtica. Neste mbito, des-taca-se o evento Dilogos com a Pesquisa do Programa de Ps-Graduao em Educao da Unicamp que, juntamente com o Frum Regional de Coordena-dores de Programa de Ps-Graduao em Educao da ANPED (FORPRED--Sudeste), promoveu o Seminrio tica na Pesquisa em Educao, em 07 de agosto deste ano, visando abrir a discusso comunidade da educao e preparar o FORPRED-Sudeste para a reunio anual da ANPEd. Neste seminrio, foi reforada a necessidade de uma legislao complementar para a rea de Cincias Humanas e Sociais4.

    A questo, contudo, no se limita s propostas de uma resoluo complementar especfica para as Cincias Humanas, mas tambm cogita a sada da regulao da pesquisa social do Ministrio da Sade, portanto, seu desligamento do Conselho Nacional de Sade e sua passagem para o Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI). Entre as alternativas propostas, destaca-se tambm a criao de Comits de tica em Pesquisa especficos para a Pesquisa em Cincias Humanas e Sociais5. Apesar das dificuldades para sua introduo e de algumas polmicas poltico-epistemolgicas (FONSECA, 2010),

    4 O evento contou com a participao da antroploga Cynthia Sarti da UNIFESP, que tem estado presente em vrios debates sobre regulao da pesquisa, levando as posies da Associao Brasileira de Antropologia, o Prof. Claudio Garcia Capito, do Instituto de Infectologia Emlio Ribas, e o Prof. Newton Aquiles Von Zuben, da PUC Campinas.

    5 Para uma discusso especfica sobre esta experincia, ver Diniz (2010). Esta autora aponta ainda que a cria-o de CEPs especficos funciona j h algum tempo e com eficcia no contexto argentino.

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    esta possibilidade tem sido vista com bastante interesse por vrios Programas, Institutos e Faculdades das reas de Cincias Humanas e, como veremos adiante, este interesse tambm se manifesta nos PPGs em Educao.

    Estas diferentes propostas, apesar das discordncias, so unnimes em sinalizar a importncia de questionarmos a aplicao do modelo biomdico s Cincias Humanas (DINIZ, 2008) e a necessidade das agncias cientficas reco-nhecerem a pluralidade de concepes epistemolgicas de pesquisa. Com isto, reivindica-se tambm o consequente reconhecimento desta especificidade na rea de influncia procedimental do campo cientfico que regula o julgamento das pesquisas pelas Comisses de tica em Pesquisa, as condies de publicao em peridicos cientficos, as condicionalidades para os financiamentos de pes-quisa, entre outros. Como podemos perceber, mais que uma questo meramente burocrtica, as contingncias deste momento histrico criam oportunidades para discutirmos conjuntamente questes polticas fundamentais, tais como a hierar-quizao das formas de saber, os destinatrios do conhecimento produzido, bem como as finalidades e aspectos ticos do fazer cientfico diante da sociedade.

    As dificuldades para se chegar a algum consenso, acerca da melhor solu-o para a regulao da tica na pesquisa, mostram a importncia da instaurao de um debate amplo, integrado e participativo, para que as diversas demandas e experincias possam ser socializadas, discutidas e analisadas coletivamente. Con-tudo, antes de discutirmos os argumentos em jogo, vejamos como nossos pares tm se posicionado e vivenciado as exigncias do sistema CEP/CONEP nos PPGs em Educao.

    Os rebatimentos da regulao da tica na pesquisa no mbito da Ps-Graduao em Educao

    Com vistas produo de subsdios para a mesa da sesso especial da ANPED (citada acima), o FORPRED promoveu uma consulta sobre o tema da tica na pesquisa, por meio de formulrio eletrnico, dirigido aos coordenadores de Programas de sua rede de filiados6. O Formulrio foi enviado por e-mail, para resposta online, para 143 PPGs no Brasil. Responderam 84 Programas (58%). Na tabela abaixo podemos identificar o perfil de curso dos respondentes.

    6 Devemos esta iniciativa ao professor Jefferson Mainardes, coordenador do FORPRED, que elaborou este formulrio online e o enviou para os 143 PPGs associados. Recebemos os dados desta consulta com as per-guntas fechadas j tabuladas e expressas em grficos e tabelas, algumas das quais utilizamos neste tpico.

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    Tabela 1 - Programas de Ps-Graduao no Brasil que responderam a Consulta do FORPRED segundo perfil de curso

    Mestrado Profissional 9 11%Mestrado Acadmico 38 45%Mestrado e Doutorado 35 42%Mestrado Profissional, Mestrado Acadmico e Doutorado 2 2%Fonte: Consulta FORPRED 2013.

    Quanto ao modo como o PPG lida com a informao e orientao sobre os procedimentos de regulao da tica na pesquisa junto aos seus alunos e pro-fessores, verificou-se que: 67 PPGs disponibilizam orientao explcita sobre a anlise dos projetos pelo CEP e/ou possui documento especfico sobre questes relativas tica na pesquisa. Alm disto, o questionrio indica que, entre os res-pondentes:

    a) 37 possuem orientao explcita com relao anlise dos projetos de pesquisa dos ps-graduandos pelo Comit de tica;

    b) 53 utilizam a Plataforma Brasil7;

    c) Em 64 PPGs os projetos de pesquisa dos ps-graduandos so avaliados por Comit de tica da prpria instituio;

    d) 30 PPGs possuem um documento (ou documentos) no qual est expli-citada a orientao aos ps-graduandos com relao a questes ticas da pesquisa.Quanto obrigatoriedade de submisso ao CEP, para 47 (56%) dos PPGs

    respondentes h obrigatoriedade para projetos que envolvem pesquisas com seres humanos, e para 37 (44%) o envio opcional. Interessante observar que o cotidia-no dos pesquisadores consultados revela um perfil significativamente dissonante diante da prescrio da Resoluo 466/12, quando afirma que:

    XII.2 - As agncias de fomento pesquisa e o corpo editorial das revistas cientficas devero exigir documentao comprobatria de aprovao do pro-jeto pelo Sistema CEP/CONEP.

    Este perfil se refletir na conformao da ambincia acadmica, restringin-do, socializando e/ou incentivando os ps-graduandos para que se adequem s exigncias de submisso de seus projetos de pesquisa ao CEP. Deste modo, quan-to ao envio de projeto de pesquisa que envolva seres humanos ao comit de tica, vemos que 47,6% dos PPGs afirmaram que este procedimento obrigatrio para todos os alunos da ps-graduao, sendo que 37,44 % o consideram opcional.

    7 A Plataforma Brasil um sistema nacional e unificado para o registro de pesquisas envolvendo seres hu-manos. Como disposto no item V da Resoluo 466/2012: A Plataforma BRASIL o sistema oficial de lanamento de pesquisas para anlise e monitoramento do Sistema CEP/CONEP (BRASIL, 2012).

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    A consulta FORPRED contou com uma pergunta aberta para que os PPGs relatassem informaes relevantes sobre questes da tica na pesquisa, envolvendo eventos realizados, discusses, eventos, grupos de trabalho, comis-ses, documentos, posicionamentos a respeito dos problemas enfrentados ou dificuldades com a Plataforma Brasil. Dentre os respondentes, 42 PPGs pre-encheram esta questo. significativo que 33 dos 42 respondentes consideram inadequado o modelo de pesquisa da rea da sade quando aplicado educao. Alm disto, relatam dificuldades com os procedimentos, prazos e exigncias dos CEPs, bem como no preenchimento dos formulrios eletrnicos da Plataforma Brasil. Den-tre estes 33 respondentes, 6 PPGs mencionam a criao de Comits especficos para Cincias Humanas, como uma alternativa possvel para a superao destes problemas. Em algumas poucas respostas (3) aparece a demanda por maior in-formao sobre os critrios para decidir sobre o envio ou no de projetos de pesquisa para o CEP.

    Respostas Nmero de PPGsInadequao do modelo da rea a sade aplicado educao. Dificuldades com a Plataforma Brasil, prazos e procedimentos do Comit de tica.

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    Proposta de criao de Comits especficos para Cincias Humanas 06

    Tabela 2 - Questes relevantes sobre tica na pesquisa relatadas pelos PPGs em Educao na resposta aberta da Consulta FORPRED 2013

    Fonte: Consulta FORPRED 2013.

    Embora parea haver clareza por boa parte dos PPGs sobre o desajuste entre o modelo de pesquisa que fundamenta a regulao e aprovao de proje-tos pelos CEPs, as dificuldades com os protocolos so o ponto mais recorrente dentre as dificuldades sinalizadas. Isto nos leva a considerar que, muitas vezes, o peso dos procedimentos que so percebidos como burocracias impostas impe-dem que os verdadeiros problemas ticos sejam discutidos e considerados em toda sua pertinncia. Os procedimentos para submisso (sobretudo a adequao de projetos fundamentados em metodologias qualitativas aos rgidos formul-rios da Plataforma Brasil) e a forma como so conduzidos os debates sobre os projetos de pesquisa que so submetidos aos CEPs incentiva pouco a discusso, nos termos que as instncias acadmicas esto acostumadas a realizar no campo das Cincias Humanas.

    Neste sentido, o sistema CEP/CONEP no apenas limita a discusso tica e impe dificuldades desnecessrias aos pesquisadores do campo da edu-cao, mas tambm exige a adequao dos modos de pensar e fazer cincia a

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    uma cultura acadmica estranha e, at mesmo, avessa ao desenvolvimento das Cincias Humanas. Talvez por isto os professores estejam resistentes a submeter os projetos de seus alunos de mestrado e doutorado ao comit de tica, pois este processo parece ser visto como uma imposio burocrtica e gerencialista, e no uma confrontao com os dilemas ticos contemporneos que poderia ampliar a abrangncia analtica e a relevncia social da pesquisa8.

    importante ressaltar que o campo da educao traz, historicamente, densas discusses sobre tica, e os pesquisadores no so, de maneira alguma, estranhos a este debate, mas temos que reconhecer que nos falta a socializao das perguntas e a sistematizao de solues locais e das consequncias de ex-perincias particulares que as relaes entre pesquisa, aplicao e formulao de polticas pblicas tm acarretado no mbito da regulao da tica na pesquisa.

    Por este motivo, ao invs de decidirmos definitivamente sobre uma se-parao fundamental entre Cincias Biomdicas e Sociais, ou ainda, sobre per-manecermos com o mesmo modelo, talvez pudssemos experimentar novas alternativas que vm se configurando, como quem coletivamente tateia em um campo cujas respostas so construdas pelas contingncias histricas e polticas e no esto completamente dadas. O fato de poucos programas de pesquisa terem relatado que possuem um documento especfico com orientaes sobre tica na pesquisa refora nossa percepo de que este debate na educao est apenas comeando.

    A seguir, trataremos de alguns enfrentamentos destes problemas no cam-po da Antropologia que, at onde identificamos, foi a rea que primeiro e mais fortemente assumiu o protagonismo na interpelao do sistema CEP/CONEP. Mapeamos as principais iniciativas e publicaes sobre regulao da tica na pes-quisa em Antropologia, para em seguida delinear uma sntese de tenses e argu-mentos construdos neste percurso.

    O enfrentamento da regulao da pesquisa pelo Sistema CEP/CONEP na Antropologia

    Como sabemos, a Antropologia uma rea do conhecimento que se carac-teriza pela pesquisa etnogrfica. A imerso nas realidades pesquisadas condio para a pesquisa de campo, o que contribui para o engajamento e o compromisso tico e poltico dos pesquisadores com as populaes com quem produzem suas pesquisas. pblica a implicao dos antroplogos no Brasil com as populaes

    8 Consideramos que este foi um dos principais ganhos do processo de avaliao instaurado por um comit especfico. Ao contrrio da racionalidade instrumental que conduz os debates na maioria dos CEPs, neste comit os passos metodolgicos so debatidos e as sugestes de adequao, a partir de um processo reflexivo, no ficam refns dos cdigos de tica em pesquisa desenhados para o campo Biomdico (DINIZ, 2010).

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    que investigam, o que se pode notar em seus posicionamentos na defesa dos direitos humanos das populaes afetadas por grandes projetos de desenvolvi-mento como no Projeto Belo Monte das populaes indgenas ameaadas pela poltica fundiria e os interesses da agroindstria como nos conflitos da Serra Raposa do Sol entre outros conflitos socioambientais onde os antrop-logos se posicionaram como atores polticos em favor das populaes afetadas.

    Hoje, nas Cincias Humanas de modo geral, inclusive a fronteira que se-para o lugar da militncia poltica e o do pesquisador se torna cada vez mais tnue e a definio de papis mais complexa. No raro, pesquisadores de um de-terminado tema tambm militam ou assumem publicamente posies polticas sobre este mesmo tema e, do mesmo modo, comum ativistas irem para a uni-versidade para estudar suas prprias prticas polticas. Cincia e senso comum se tornam, neste contexto, no apenas registros de conhecimento mais apro-ximados, mas principalmente associados e interdependentes (SANTOS, 1988). Como argumenta Schuch (2010), paradoxal que a Antropologia seja interpelada por procedimentos de regulamentao que impem uma definio dos sujeitos pesquisados a partir de sua vulnerabilidade, em um momento histrico no qual mais forte que nunca o movimento de reavaliao das assimetrias na construo de representaes sobre o outro.

    Deste modo, importante demarcar que no se trata de recusar a regulao dos procedimentos ticos que preservem os interesses das populaes pesquisadas. Ao contrrio, a atuao da Associao Brasileira de Antropologia (ABA) mostra o intenso debate sobre a tica na pesquisa e a responsabilidade social e poltica dos pesquisadores com as populaes com as quais esto implicados em suas pesquisas de campo. O cdigo de tica do antroplogo data de 1988 (ABA, 1988)9. Exatamente por conta deste engajamento tico que a ABA vem conduzindo sistematicamente, ao longo da ltima dcada, um processo de resistncia e questionamento ao sistema CEP/CONEP (SARTI; DUARTE, 2013; FLEISCHER; SCHUCH, 2010b; VCTORA et al., 2004). Ao analisarmos este embate veremos sua pertinncia para os diversos campos das Cincias Humanas e Sociais (GUERRIERO; SCHMIDT; ZICKER, 2008).

    Os questionamentos da rea da Antropologia s normatizaes biomdicas sobre a regulao da pesquisa cientfica com seres humanos tem seu marco inicial em 2000, com a aprovao de uma moo da ABA contra a resoluo 304/00 (BRASIL, 2000) da CONEP, que estabelecia as Normas para Pesquisas Envolvendo Seres

    9 A constituio de 1988 tambm contextualiza avanos para o campo da tica na pesquisa, entre outros mo-tivos, por reconhecer novos direitos e universalizar princpios de cidadania capazes de garantir a integridade dos seres humanos independente de classe, raa, gnero etc. (AMORIM; ALVES; SCHETTINO, 2010). Foi esta constituio que consolidou e ampliou o estado democrtico no campo jurdico e poltico, incentivando formas de participao da sociedade (DALLARI, 2008).

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    Humanos/rea de Povos Indgenas. Em 2001 a mesma postura reiterada em oficio da ABA de 18/07/2001, assinado pelo presidente da ABA, na poca Ruben Oliven, e dirigido ao Ministro da Sade, na poca Jos Serra, e ao presidente da CONEP, na poca William Saad Hossne, em que se recomendava que a proposta de Normas de tica para Pesquisa em Populaes Indgenas, ento em vias de elaborao pela CONEP, fosse limitada esfera da sade como reza o item XVI, art. 3 do Regimento Interno do Conselho Nacional de Sade (Resoluo 291/99), a Lei 8.080 de 19/9/90 e a Lei 8.142 de 29/12/9010.

    O que j estava em jogo era o questionamento da abrangncia da nor-mativa da CONEP que pretendia regular todas as reas do conhecimento que pesquisassem tendo como sujeitos seres humanos. Contra o que a ABA entendia ser uma extrapolao das competncias da CONEP, argumentava-se que a pes-quisa antropolgica em comunidades indgenas j estava submetida regulao da FUNAI (portaria 745-88da), ao parecer favorvel do CNPq e a uma comisso interinstitucional formada por diversas entidades cientificas como SBPC, ABA, ABRALIN, CNPq. Como vemos, no se trata apenas de regulao da pesquisa, pois as prticas da Antropologia j se encontravam reguladas por outras institui-es. O que se iniciou em 1996 foi, na verdade, a centralizao e burocratizao das prticas de regulao cientficas a partir de um modelo empiricista de cincia. No por outro motivo, o ser humano passa a ser entendido como um organismo, alvo do interesse e dos cuidados da sade, em uma perspectiva reducionista bio-mdica e, na maior parte das vezes, medicamentosa (FONSECA, 2010).

    Na dcada que se passou entre os anos 2000 e 2011, o debate parece ter se mantido dentro da rea, com publicaes e seminrios a respeito (ver Anexo 1), mas sem outros enfrentamentos diretos com o Ministrio da Sade. Como sabemos, o CNS estabeleceu em 1996 a Resoluo 196/96, que passou a regular toda a pesquisa com seres humanos em todas as reas do conhecimento. As-sim, o desconforto no se limitava pesquisa com comunidades indgenas, nem apenas Antropologia, mas afetava outras disciplinas tambm afeitas pesquisa qualitativa, como Educao, Servio Social, Psicologia, Letras, entre outras que no se encaixam com facilidade no modelo biomdico da CONEP.

    As publicaes e os seminrios organizados pela ABA, bem como os or-ganizados em outros campos11, tiveram um papel importante para expandir a

    10 Segundo relatos informais de membros da ABA, esta carta jamais foi respondida pelo Ministrio da Sade ou pelo CONEP.11 Ver, por exemplo, o livro organizado por Guerriero, Schmidt e Zicker (2008), fruto do I Seminrio sobre tica em pesquisa em Cincias Sociais e Humanas na Sade, realizado pelo Comit de tica em Pesquisa da Secretaria Municipal da Sade de So Paulo e pelo Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo. Importante ressaltar que no fizemos um levantamento sistemtico dos debates sobre regulao da tica em pesquisa e, deste modo, podemos ter omitido realizaes importantes.

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    discusso, integrando pesquisadores em diferentes regies e universidades do Brasil, e iniciando um processo de sistematizao das reflexes sobre o tema (SARTI; DUARTE, 2013; FLEISCHER; SCHUCH, 2010; GUERRIERO; SCHMIDT; ZICKER, 2008; VCTORA et al., 2004). Neste perodo, tambm tivemos como objeto deste debate o caso do Comit de tica em Cincias Hu-manas e Sociais, em funcionamento na UNB desde 2008, que vem tentando es-tabelecer critrios e protocolos de avaliao dos princpios ticos em projetos de pesquisa, mais apropriados aos parmetros da pesquisa social. Esta experincia relevante pois nos permite analisar, a partir de um caso concreto, as possibilida-des e limitaes para a criao de CEPs especficos, alm de oferecer um modelo inicial para outros empreendimentos semelhantes12.

    Em 2011, o Conselho Diretor da ABA aprovou uma nova moo com os seguintes pontos: apoio preservao da Resoluo 196/96 apenas para o controle das pesquisas biomdicas; recusa da manuteno da subordinao da pesquisa de Cincias Sociais e Humanas lgica biomdica da mesma Resoluo; disposi-o em participar da possvel elaborao de outra regulamentao, especfica de nossa rea, fora do mbito do Ministrio da Sade. A moo de 2011, aprovada pela Assembleia Geral da ANPOCS, dirige-se aos rgos reguladores de pes-quisa no sentido de pedir a criao de mecanismos prprios para as Cincias Humanas e para pesquisas com, e no apenas em seres humanos. Neste momento, est colocada a possibilidade, tambm polmica, de que a regulao da tica na pesquisa migre do Ministrio da Sade para o Ministrio de Cincia e Tecnologia. Entretanto esta proposta, como veremos adiante, ser retomada apenas em 2013.

    Em agosto de 2011, ocorre em Braslia o Seminrio Temtico Pesquisas em Cincias Sociais e Humanas: Reviso da Resoluo CNS 196/96 e, em se-tembro, em So Paulo, acontece o I Encontro Extraordinrio dos Comits de tica em Pesquisa do Sistema CEP-CONEP. Neste encontro, foi constitudo um Grupo de Trabalho da CONEP, constitudo pela ABA e representantes de outras instituies, para a formulao de uma proposta de Resoluo Comple-mentar especfica para a pesquisa social. Recentemente, em 11 de junho de 2013, aconteceu uma Reunio de Associaes Cientficas na UNB, que contou com a presena de representantes de 26 entidades, na qual se discutiu a criao de um Cdigo de tica em Pesquisa nas Cincias Humanas e a possibilidade de formao de um Conselho de tica em Pesquisa junto ao Ministrio da Cincia,

    12 Alm de estar articulado com pesquisadores de todo o Brasil, em seu stio virtual (http://www.cepih.org.br), este comit disponibiliza informaes valiosas sobre o debate no campo da tica na pesquisa, tais como artigos, livros, sites e documentos nacionais e internacionais. Para uma discusso mais detalhada, ver Diniz (2010).

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    Tecnologia e Inovao (MCTI)13. Formou-se um Grupo de Trabalho respon-svel por sistematizar as contribuies das diferentes instituies e apresentar uma proposta consensual. Neste encontro apresentada a ideia de criao do Frum de Associaes das Cincias Humanas, Sociais e Cincias Sociais Apli-cadas, que seria um espao poltico para fortalecer os interesses dos grupos de pesquisa neste campo.

    Um ponto que avana sobre as discusses anteriores alterar a regulao prescritiva por um mesmo Cdigo de tica para toda a pesquisa cientfica, e que seria acionado apenas em caso de denncia de violao aos seus princpios. Vemos que a crtica perspectiva biomdica de regulao se amplia em direo sua aplicao normativa. Neste contexto, a sada para as Cincias Humanas se daria a partir de um modelo principialista de regulao tica, em outras palavras, atribui-se mais importncia aos princpios ticos que s normas. Recupera-se deste modo, os valores que fundamentam os procedimentos de regulao. Im-portante ressaltar que esta proposta retorna, mais uma vez, fragilidade de um acordo tico que repouse excessivamente no bom senso de cada pesquisador, o que pode recolocar o problema em outras bases.

    A partir deste rpido apanhado do percurso da ABA no campo da regula-o da tica em pesquisa, podemos perceber que as questes que atravessam este debate no so simples e envolvem mudanas institucionais complexas. Por este motivo, para municiar a continuao dessa luta, importante que se disponha do mximo de informao sobre o modo e sobre as condies de funcionamento dos CEPs locais e do eventual trnsito de processos de autorizao junto CO-NEP (como no caso da pesquisa com populaes indgenas). Veremos agora alguns argumentos que povoam os debates sobre tica na pesquisa e que consi-deramos especialmente pertinentes ao campo da educao.

    Uma sntese dos principais argumentos em jogo

    Na Sesso Especial sobre tica em pesquisa na 36 RA da ANPEd, em 2013, o professor Anbal Gil Lopes (UFRJ), representando a CONEP, iniciou sua apresentao com uma citao s duas culturas. Esta expresso foi cunhada pelo fsico e romancista Charles Percy Snow, para analisar a distncia entre a cultura cientfica e a cultura literria, e a dificuldade de construir um

    13 Um alerta importante que tem sido debatido sobre esta possibilidade diz respeito aos efeitos desta migra-o para as pesquisas biomdicas. Estando a regulao destas pesquisas no Ministrio da Sade, os critrios de regulao, apesar das crticas, estariam mais atrelados s exigncias e demandas relacionadas sade e ao bem-estar dos indivduos. No MCTI isto pode no ocorrer, e os critrios podem assumir um carter mais comprometido com o desenvolvimento e o avano tecnolgico, deixando a estrutura institucional mais fragi-lizada frente poderosa indstria farmacutica, e outros gigantes do campo da pesquisa em seres humanos, e seus interesses econmicos.

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    entendimento comum entre estas duas culturas (SNOW, 1995). Esta distino tambm foi associada distncia entre Cincias Naturais/Exatas e Cincias Humanas, que constitutiva da universidade moderna concebida por Wilhelm von Humboldt. O elemento diferencial desta universidade foi, alm da antiga funo de preparar para as profisses, a centralidade da pesquisa, a wissenschaft. J em seu nascedouro, no incio do sculo XIX, o campo da pesquisa estava tensionado entre duas vertentes diferentes: as Naturwissenschaften, ou Cincias Naturais, e as Geisteswissenschaften, ou Cincias Humanas e Sociais (FARR, 2008). Isto nos mostra que o problema subjacente discusso sobre a regulao da tica na pesquisa encontra razes profundas na histria da modernidade, que determinam a maneira como a sociedade classifica e hierarquiza as diferentes formas de construo de conhecimento.

    Buscando enfrentar este abismo histrico, Gil Lopes, de acordo com a postura pedaggica que foi assumida pela CONEP, reiterou a disposio para o dilogo e a abertura para o entendimento entre essas duas culturas. Contudo, apesar das sinceras intenes h uma distncia instituda que permanece vigente entre as duas culturas. Isto produz efeitos importantes, como veremos em segui-da, ao analisarmos os principais argumentos trazidos pelas Cincias Humanas e Sociais no questionamento regulao da pesquisa a partir de princpios e pro-tocolos criados para as Cincias da Vida ou Biocincias.

    A crtica ao argumento biocntrico e extrapolao dos domnios da ordem biomdica

    Talvez o argumento mais eloquente que tem se evidenciado como origem do mal-estar nas Cincias Humanas diga respeito ao posicionamento do modelo biomdico como representante do ncleo de verdade e validade cientfica que, nesta condio, seria a base de toda cincia. Esta premissa fundamenta o alarga-mento deste modelo como base para a regulao de todo campo cientfico, o que ir impactar, alm da regulao da tica na pesquisa, o financiamento de projetos, a avaliao dos cursos, os ndices de produtividade etc. Estamos tratando do contexto brasileiro, entretanto importante ressaltarmos que este processo de ampliao dos cdigos de conduta baseados nas Cincias Naturais, acrescidos da lgica produtivista e de demandas por conhecimentos voltados para o mercado, est cada vez mais globalizado. Atinge at mesmo as mais tradicionais universi-dades europeias. Neste mbito, destaca-se o Pacto de Bologna, comparvel ao Modelo Capes de Avaliao e Fomento, que intensifica os regimes de trabalho dos professores e pesquisadores universitrios, em um processo caracterizado pela heteronomia e pela lgica de mercado (BIANCHETTI, 2010).

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    Ao desconstruirmos o universo hierrquico de valores epistemolgicos e sociais das polticas cientficas, o que se evidencia uma expanso indevida de um domnio de verdade sobre todos os outros. Tomemos como exemplo a pr-pria noo de sujeito da pesquisa. O modelo biomdico tende a produzir efeitos de continuidade e equivalncia entre as noes de indivduo e organismo como objetos da pesquisa. Estes indivduos-organismos, por sua vez, participam de relaes de causalidade como as que se estabelecem entre um fator patognico e a resposta do organismo, ou ainda entre fatores ambientais e respostas cog-nitivo-comportamentais. Esta lgica, que faz sentido para investigaes epide-miolgicas e para produo de escalas psicolgicas, por exemplo, tem pouco a dizer sobre pessoas e fenmenos culturais complexos tais como os encontros e desencontros multiculturais, relaes intertnicas, modos de vidas que partilham de ontologias no ocidentais e constituem regimes de conhecimento diferentes daqueles dos que buscam conhec-los.

    A questo no decidir pela matriz mais cientfica, mas garantir a plu-ralidade de modelos de cincia disposio das diferentes opes terico-meto-dolgicas. O problema a reduo das formas vlidas do fazer cientifico sobre/com/em seres humanos ao modelo biomdico. Isto provoca o que Oliveira (2004) chamou de extrapolao de domnios, ao identificar um vis biocntrico na resoluo 196/96, determinando o carter da pesquisa:

    Ao regular toda e qualquer pesquisa com seres humanos a resoluo sugere um certo exagero ou uma certa extrapolao de domnios. Neste sentido, me parece que a resoluo 196 expressa o que gostaria de caracterizar como um certo areacentrismo ou biocentrismo na viso sobre a tica, com implica-es muito similares ao que ns na antropologia frequentemente nos referi-mos atravs da noo de etnocentrismo. (OLIVEIRA, 2004, p. 33).

    Conforme o autor, trata-se, assim, de uma impostura no sentido de uma expanso ou presena no autorizada pelo Outro. Uma situao que remete a conflitos anlogos entre esferas profissionais dentro do prprio campo da sade, tal como o que acompanhamos nos ltimos anos com a tentativa de reduo ordem mdica de toda interveno na sade humana. Referimo-nos aqui ao pro-jeto de lei denominado Ato Mdico14, recentemente aprovado e, felizmente, vetado em seus artigos mais controversos pela Presidente da Repblica Dilma Rousseff. Os artigos vetados pretendiam submeter toda interveno no campo da sade, como aquelas praticadas por assistentes sociais, enfermeiros, psiclo-gos, fisioterapeutas, educadores fsicos e outros, ao escrutnio e autorizao prvia por um mdico.

    14 Projeto de Lei do Senado n268/2002.

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    Voltando para as disputas no campo da pesquisa, a cultura cientficaque alicerou a resoluo CNS 196/96, e segue vigente na atual CNS 466/12, no pa-rece estar em questo. Discusses como as trazidas pelos estudos sociais da cincia, que tomam o fazer cientfico como prtica cultural interessada, no parecem ter lugar no contexto desta guerra das cincias. O que move este cenrio parece ser antes a luta por hegemonia na regulao do campo cientifico e o controle de seus dispositivos de legitimao como as agncias de fomento, redes de pesquisa, circui-tos editoriais e outras reas de influncia. Como j advertia Minayo (2008, p. 39)

    Mesmo quando a biomedicina lana mo de alguns conceitos e mtodos das cincias sociais, privilegia o positivismo e o funcionalismo sociolgico, dei-xando de atentar para as tenses e os conflitos na sociedade, as determinaes sociais da sade/doena, assim como os aspectos da medicina como produ-o cultural.

    Os desacordos acontecem na esfera da poltica cientfica justamente pela imposio ou extrapolao dos domnios de uma razo cientfica (biomdica) para todo o campo cientfico, como se apenas esta detivesse a chave de valida-o de um fazer cientfico apresentado como universal. Seramos ingnuos se pensssemos que so, exclusivamente, os critrios epistemolgicos que definem os princpios e procedimentos das polticas cientficas. Este movimento se d em duas direes, na qual um determinado modelo de cincia se mostra mais adequado s exigncias poltico-econmicas (LATOUR, 2004). No por outro motivo, vemos o alastramento da lgica quantitativista e empiricista, como a j mencionada adoo de lgicas de mercado no interior das polticas de educao (BIANCHETTI, 2010), apenas para citar um exemplo.

    Pesquisa em seres humanos, envolvendo seres humanos, com seres humanos

    A expresso pesquisa em seres humanos ou pesquisa em animais a mais recorrente na rea biomdica. assim que se nomeiam os CEPs, por exemplo. A Resoluo CNS 466/12, no item II.14, usa um termo um pouco mais amplo, que pesquisa envolvendo seres humanos. Define este termo como pesquisa que, individual ou coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus dados, informaes ou materiais biolgicos (BRASIL, 2012). Este ser humano, que pode ser tomado em suas partes, do qual podem ser extrados dados, informaes ou materiais biolgicos, afasta-se do humano com que geralmente operam as Cincias Humanas e Sociais. No campo da educao, sobretudo, grande parte dos esforos terico-metodolgicos vai ao sentido de considerar o ser humano em sua totalidade e integrar as diferentes esferas da existncia humana.

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    Na literatura antropolgica, tornou-se uma referncia a distino feita por Oliveira (2004) entre Pesquisa em versus pesquisa com seres humanos (OLIVEIRA, 2004, grifo no original). Nesta perspectiva, a pesquisa biomdica seria aquela tipicamente pensada como realizada em seres humanos, em que os seres humanos estariam no lugar de objetos do experimento cientfico e, portanto, em um lugar de participante passivo e de reduzida alteridade. A pesquisa com seres humanos pressupe o pesquisador num contexto de interlocuo com os participantes da pesquisa, pessoas com capacidade de dilogo e coproduo de conhecimento (OLIVEIRA, 2004). Neste sentido, a relao de pesquisa em Cincias Humanas tenderia a certa simetria entre diferentes saberes, diferentemente do modelo experimental biomdico. Por este motivo, expedientes como o assentimento e o consentimento tomam dimenses que nem sempre se resolvem num documento por escrito assinado no incio da pesquisa. Como sintetiza Ribeiro (2004, p. 12) o antroplogo em geral vive com quem ele pesquisa, e confiana um trusmo, no se adquire de imediato.

    Por este motivo, vemos que este processo de regulao s atinge os pes-quisadores vinculados ao sistema universitrio, mostrando-se parcial, inclusive em sua percepo acerca do que seja a atividade de pesquisa. Como argumenta Oliveira (2010), um dos problemas do sistema CEP/CONEP que ele s atinge as universidades e os institutos de pesquisa de maior destaque, no alcanando, por exemplo, as ONGs, algumas empresas e outros espaos que cada vez mais incorporam prticas de pesquisa em suas atividades. Este sistema no alcana, por exemplo, os pesquisadores que no possuem vnculos com instituies aca-dmicas.

    O indivduo esclarecido, livre e autnomo. A razo ilustrada e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido/TCLE como procedimento universal

    O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) tem sido apon-tado como um dos principais complicadores para a adequao das pesquisas em Cincias Humanas ao modelo do CEP/CONEP (DUARTE; SARTI, 2013; FLEISCHER; SCHUCH, 2010; FONSECA, 2010; AGUIRRE, 2008). A exi-gncia do TCLE estava na Resoluo CNS 196/96 e permaneceu na Resoluo CNS 466/2012. Em ambos os casos o TCLE apresentado como mandatrio e se prev situaes especficas em que este pode ser dispensado, desde que devi-damente justificadas as razes pelo pesquisador. Vejamos em que situaes esta dispensa aceitvel no tpico IV.8 desta ltima resoluo:

    IV.8 - Nos casos em que seja invivel a obteno do Termo de Consentimen-to Livre e Esclarecido ou que esta obteno signifique riscos substanciais

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    privacidade e confidencialidade dos dados do participante ou aos vnculos de confiana entre pesquisador e pesquisado, a dispensa do TCLE deve ser justificadamente solicitada pelo pesquisador responsvel ao Sistema CEP/CONEP, para apreciao, sem prejuzo do posterior processo de esclareci-mento. (BRASIL, 2012).

    A premissa da obrigatoriedade e universalizao deste instrumento se re-afirma neste item que regula sua dispensa para casos muito especficos, e sempre seguida de justificada solicitao pelo pesquisador instncia reguladora. Uma condio que assegurasse a liberdade do pesquisador decidir pelo melhor formato do consentimento no parece ter lugar nesta Resoluo. Uma situao diferente, por exemplo, pode ser vista no recente Cdigo de tica da American Antropological Association (AAA). Esta entidade estabeleceu como princpio que o consentimento no precisa ser necessariamente assinado e pode tomar diversas formas.

    Entende-se que o grau e a amplitude do consentimento necessrio de-pendero da natureza do projeto e pode ser afetada por requisitos de outros cdigos, leis e tica do pas ou da comunidade em que a pesquisa realizada. Alm disso, entende-se que o processo de consentimento informado dinmico e contnuo, o processo deve ser iniciado na concepo do projeto e continuar com a execuo por meio do dilogo e da negociao com os estudados. Os pes-quisadores so responsveis pela identificao e pelo cumprimento dos diversos cdigos de consentimento informado, as leis e regulamentos que afetam seus projetos. O consentimento informado, para efeitos deste cdigo, no implica, necessariamente, ou exige a forma escrita ou assinado particular. a qualidade da autorizao, no o formato, o que relevante15 (AAA, 1998).

    Oliveira (2010) discute esta inovao no cdigo de tica da AAA e aponta que, mesmo no tendo poder coercitivo, expressa formas procedimentais mais articuladas aos dilemas enfrentados pelos antroplogos nas pesquisas de campo. Entretanto, apesar destas inovaes, o autor ainda apresenta alguns casos de pesquisas que, para serem realizadas, desafiam este cdigo de tica. Por exemplo, casos nos quais o pesquisador assume a identidade de nativo, dificultando a transparncia para os participantes dos objetivos daquela interao (HOONAARD, 2008). O mesmo acontece com pesquisas com atividades criminosas, tais como

    15 O Cdigo de tica profissional da American Anthropological Association (AAA), aprovado em 2012, regula o consentimento informado nos seguintes termos: Anthropologists have an obligation to ensure that research participants have freely granted consent, and must avoid conducting research in circumstances in which consent may not be truly voluntary or informed. In the event that there search changes in ways that will directly affect the participants, anthropologists must revisit and renegotiate consent. The informed consent process is necessarily dynamic, continuous and reflexive. Informed consent does not necessarily imply or require a particular written or signed form. It is the quality of the consent, not its format, which is relevant. (AAA, 2012, p. 7).

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    o trfico de rgos, utilizado como exemplo pelo autor, que exige engajamento do pesquisador e a supresso de sua identidade em determinadas interaes de campo (OLIVEIRA, 2010). Na pesquisa em educao, podemos pensar em diversas situaes semelhantes, tais como os casos nos quais o pesquisador atua profissionalmente em um campo que quer estudar, ou em pesquisas que tomam menores de idade como informantes, buscando estudar temas que seriam tabus para a famlia ou que levantassem suspeitas sobre contravenes ou atividades criminosas. Em escolas localizadas em zonas de alta periculosidade, geralmente sob presso de traficantes ou milcias, a exigncia de um TCLE tornaria praticamente impossvel a realizao de muitos recortes de pesquisa. Como vimos, em muitos contextos de pesquisa em Cincias Humanas, notadamente nas pesquisas de cunho etnogrfico, a proposio de tal documento por parte do pesquisador, poderia criar um obstculo pesquisa, introduzindo suspeio, estranhamento e assimetria efeitos no desejados no estabelecimento de uma relao de confiana e colaborao. Sobretudo quando imaginamos pesquisas com populaes em conflito com a lei, populaes no alfabetizadas ou mesmo com baixo domnio da lngua portuguesa, como algumas populaes indgenas ou grupos sociais marginalizados social e economicamente.

    Assim, no se questiona a necessidade de fornecer informao sobre a pesquisa e a livre aceitao do participante em colaborar ou no com uma de-terminada proposta de investigao. Do mesmo modo, no est em questo o direito do participante da pesquisa ter acesso aos resultados do estudo para o qual colaborou e beneficiar-se deles (FERREIRA, 2010). Contudo, o que se pe em questo, no caso do sistema CEP/CONEP, o carter obrigatrio e univer-salizante da assinatura de um documento por escrito, formulado dentro de regras discursivas e contedos de um ethos especfico, aplicado no momento inicial da pesquisa. Neste contexto, Lima (2010) chega a questionar o funcionamento e a efetividade do sistema CEP/CONEP.

    Cabe destacar finalmente que a noo de indivduo autnomo, livre e esclarecido tributria de uma tradio filosfica bastante situada na histria ocidental, que pouco sentido faz para populaes no ocidentais, tradicionais ou mesmo para grupos sociais que, vivendo no Ocidente, no habitam, no sen-tido fenomenolgico, a ontologia moderna16. Para estes grupos, a aplicao do TCLE pode ser no apenas um gesto destitudo de sentido, como pode significar uma interveno vivida como expresso indesejvel de relaes assimtricas.

    Ambos, pesquisador e pesquisado, so produtores de conhecimento e a pesquisa deve ser vista como uma interlocuo, um dilogo. Os sujeitos e as relaes so processuais, as possibilidades de reconhecimento e/ou de 16 Sobre este tema, ver o artigo de Silva (2012) sobre o conceito de autonomia kantiano e sua distncia das narrativas das populaes brasileiras em situao de vulnerabilidade e excluso.

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    antagonismo vo emergindo na medida em que as relaes se constroem no campo de pesquisa. Por este motivo, a percepo de que a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido encerre os dilemas ticos de uma pesquisa seria ingnua e artificial. Ao contrrio, muitas vezes a exigncia de assinatura de um documento deste tipo pode, inclusive, colocar os interlocutores em risco e causar prejuzos de ordem fsica, psicolgica, social, econmica, em temas delicados como gravidez na adolescncia, homossexualidade, violncia domstica, trfico de drogas, e outros (LISBOA; HABIGZANG; KOLLER, 2008; SILVEIRA; LUPPI; CARNEIRO JUNIOR, 2008).

    Esta viso formal de regulao das relaes entre pesquisadores e sujeitos de pesquisa, na verdade produz um curto circuito. Ao burocratizar os pro-cedimentos ticos, fecha espaos para a reflexo, o exerccio do bom senso e a autonomia do pesquisador. Estes procedimentos podem, inclusive, desqualificar o comprometimento tico do pesquisador, desobrigando-o de expor as relaes de poder que constituram o contexto de pesquisa e condicionaram a autonomia e a vulnerabilidade dos sujeitos em interao. Mais uma vez, a normatizao e o enfoque procedimental impedem, mais do que garantem, a lealdade aos princ-pios ticos da prtica de pesquisa.

    Modelos metodolgicos diversos e estranhamentos mtuos em contexto de assimetria no campo cientfico

    Como j apontou Minayo (2008), o cerne do dilema enfrentado atual-mente nos Comits de tica pode ser compreendido como um conflito entre fundamentos epistemolgicos. O campo biomdico, segundo a autora, est fun-damentado pelo pragmatismo dos debates ticos anglo-saxes, ao passo que as Cincias Sociais esto fundamentadas, em sua maioria, pelas tradies filosficas da Europa continental, que apresentam tradies como o existencialismo e a fenomenologia. A diferena entre os modelos metodolgicos, como os de tipo experimental-estatstico das pesquisas epidemiolgicas na sade e o qualitativo--hermenutico das pesquisas em Cincias Humanas, levam a territrios igual-mente diversos de tcnicas procedimentais. Histrias de vida, entrevistas narra-tivas abertas, entrevistas em profundidade ou semiestruturadas, grupos focais, observao participante e etnografias so procedimentos frequentes dos mto-dos de pesquisa social. Estes costumam, entretanto, causar estranhamento diante dos parmetros de cientificidade-objetividade, amostragem vlida, generalizao de resultados, por exemplo, para quem trabalha baseado apenas como modelo experimental-estatstico.

    Este um n que est no centro de muitas das dificuldades que afetam os pesquisadores das Cincias Humanas quando submetem seus projetos aos

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    A regulao da pesquisa e o campo biomdico: consideraes sobre um embate epistmico desde ...

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    CEPs, que, apesar de obrigatoriamente interdisciplinares, acabam por se subs-crever ao ethos das Cincias Naturais e Biomdicas. A observao participante e a etnografia podem ser consideradas os procedimentos metodolgicos mais dis-tantes do modelo de objetividade biomdica e, por isso, so os que suscitam os maiores equvocos neste embate epistmico entre reas do conhecimento. Como alertam MacRae e Vidal (2006, p. 653, grifo no original),

    [...] projetos de pesquisa que investigam os aspectos culturais do uso de dro-gas e adotam mtodos antropolgicos, especialmente a observao partici-pante, geralmente causam estranheza e at rejeio entre cientistas de outras disciplinas, como as da sade, uma vez que muitas vezes no apresentam hi-pteses formuladas a priori a serem testadas.

    Consideraes semelhantes so feitas por Zaluar (2012) sobre o traba-lho de pesquisa com jovens em situao de vulnerabilidade, envolvidos com trfico, uso de drogas e situaes de violncia. Tratando das especificidades da pesquisa participante, que apresenta grande flexibilidade metodolgica diante das contingncias dos campos de pesquisa, Schimidt e Toniette (2008, p. 105) argumentam que:

    A tica na pesquisa pode ser entendida ou interpretada de modo exclusiva-mente regulador e normalizador, pressupondo que o pesquisador deva seguir, devotamente, condutas estabelecidas. Essa viso pode resvalar para a reduo da tica aos procedimentos burocrticos e legalistas. A tica, quando forjada na heteronomia, de forma alienante, no garante a postura tica ao longo da pesquisa, mesmo aps ter sido obtida a chancela tica.

    Consideraes finais

    Neste artigo, buscamos recuperar reflexes importantes que vm sendo desenvolvidas no campo das Cincias Humanas e Sociais, de modo a contribuir para este debate na rea da educao. Um ponto nos parece central: para pensarmos a regulao da tica na pesquisa, esta deve ser vista como a ponta de um iceberg, que traz submersas diversas questes de ordem epistemolgica, culturais e, acima de tudo, polticas e econmicas. Mais que discutir as formas de regulao da tica na pesquisa e suas implicaes para o fazer cientfico, neste momento providencial refletirmos sobre as implicaes do fazer cientfico nas diversas esferas atravessadas por ele. No apenas o impacto do fazer cientfico no corpo dos indivduos, mas o lugar da cincia e do fazer cientfico no projeto de sociedade em curso e na que queremos construir. Esta questo est amplamente abordada na bibliografia que encontramos e constitui o pano de fundo mais amplo sobre o qual devemos debater a regulao da tica na pesquisa.

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    Isabel Cristina de Moura Carvalho; Frederico Viana Machado

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    Se tomamos os argumentos de Vieira (2010), Porto (2010), Fonseca (2010), entre outros, nos questionaremos se as exigncias deste modelo de trans-parncia na regulao da pesquisa em Cincias Humanas no estariam, no limite, protegendo atores poderosos e que deveriam ser escrutinados pela atividade de pesquisa:

    No estamos deixando as instituies mdicas blindadas do escrutnio cient-fico das cincias humanas e sociais? Com certeza, os objetivos da Resoluo CNS 196/1996 no se relacionam a isso, mas, na prtica, tm dado margem para se proteger grupos de interesse nada vulnerveis. [...] corre o risco de corroborar para a obstaculizao de investigaes de grande interesse pblico. (VIEIRA, 2010, p. 139).

    Deste modo, consideramos oportuno trazermos para o centro da discus-so as especificidades da pesquisa em educao e aprimorarmos nossos argu-mentos. O que seria uma regulamentao apropriada ao campo da educao? Como conciliar os aspectos ticos com as tradies de pesquisa em educao? Como a dimenso inter e multidisciplinar que caracteriza a pesquisa em edu-cao pode, neste contexto, fortalecer o dilogo e a presena da educao no campo das Cincias Sociais e Humanas? Quais so os destinatrios e os agentes de poder que atravessam o campo da educao?

    O que est em jogo na regulao da cincia no separar os modelos de cincia, mas pensar sobre o processo de construo e o destino do conhecimento. Apenas alterar o cdigo de tica seria insuficiente. O desejvel que este debate proporcione mudanas na correlao de foras entre os campos epistmicos em disputa e seus agentes. Assim, o que est implcito na demanda por reviso dos parmetros de regulao da pesquisa ao habitus das Cincias Humanas o reco-nhecimento de um modo de produzir conhecimento vlido no campo cientfico e engajado no plano social e poltico. Formulrios mais flexveis e compatveis com metodologias qualitativas, critrios de avaliao da produo que alcancem me-lhor a qualidade e a quantidade do trabalho em cada pesquisa seriam marcadores deste reconhecimento. Pensamos que esta a reivindicao dos pesquisadores em Cincias Humanas e Sociais, entre os quais ns, educadores, nos situamos.

    Referncias

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    Maria Carmen Silveira Barbosa

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    Recebido em 10/10/2013Aceito em 25/11/2013