2013 dis fiocruz riscos quimioterapicos rebeca

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO CURSO DE FORMAÇÃO TÉCNICA EM GESTÃO EM SERVIÇOS DE SAÚDE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHADOR NO SETOR DE QUIMIOTERAPIA REBECA FIDELIS CORDEIRO RIO DE JANEIRO 2006

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Dissertação - Fiocruz - Riscos Quimioterápicos - Rebeca

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  • FUNDAO OSWALDO CRUZ ESCOLA POLITCNICA DE SADE JOAQUIM VENNCIO CURSO DE FORMAO TCNICA EM GESTO EM SERVIOS DE SADE

    SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR NO SETOR DE QUIMIOTERAPIA

    REBECA FIDELIS CORDEIRO

    RIO DE JANEIRO 2006

  • FUNDAO OSWALDO CRUZ ESCOLA POLITCNICA DE SADE JOAQUIM VENNCIO CURSO DE FORMAO TCNICA EM GESTO EM SERVIOS DE SADE

    SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR NO SETOR DE QUIMIOTERAPIA

    Monografia apresentada como requisito parcial da concluso do Curso de Formao Tcnica em Gesto em Servios de Sade da Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio da Fundao Oswaldo Cruz

    Por: Rebeca Fidelis Cordeiro Orientador: Irai Borges de Freitas Co-orientadora: Ktia Butter Leo de Freitas

    RIO DE JANEIRO 2006

  • REBECA FIDELIS CORDEIRO

    SEGURANA E SADE DO TRABALHADOR NO SETOR DE QUIMIOTERAPIA

    Aprovado em ______ de ________________ de 2006.

    Nota: _____

    BANCA EXAMINADORA

    Irai Borges de Freitas FIOCRUZ EPSJV LABMAN

    Ktia Butter Leo de Freitas INCA DISAT SEST

    Sarita de Oliveira Ferreira Lopes FIOCRUZ EPSJV LABMAN

    RIO DE JANEIRO 2006

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus, por ter me concebido vida e por me ter

    dado fora e sabedoria para continuar esse trabalho.

    Agradeo tambm a minha famlia: meu pai Fbio; meus irmos: Leandro,

    Fbio, Felipe e ster e especialmente a minha me, por todo seu carinho e por no medir sacrifcios ao adquirir um computador para que eu pudesse realizar

    este trabalho com toda comodidade.

    Ao meu namorado Adailton, pela fora, pacincia e compreenso nos

    momentos em que deixei de lhe dar ateno e por inmeras vezes se dispor a me

    ouvir repetir cada pargrafo que escrevia.

    Meu muito obrigado ao meu orientador Irai que sempre me incentivou e se

    mostrou disposto a me ajudar, a professora Sarita e a Vnia pelo carinho e o meu eterno obrigado a minha querida co-orientadora Ktia, que foi meu anjo da guarda e me ensinou a andar com as prprias pernas.

    Obrigada a todos pelo carinho e dedicao dispensados.

  • RESUMO

    Certamente o homem tem presenciado muitas evolues, no que se refere

    segurana e a sade do trabalhador ao longo dos anos. No passado, durante a

    Revoluo Industrial, os males que afligiam o trabalhador no eram levados em

    conta, onde o nico interesse dos empregadores era alcanar um lucro cada vez

    mais alto custa do trabalho dos operrios. Entretanto, vem ocorrendo

    significativas mudanas nessa concepo de sade no trabalho. O empregador

    passou a reconhecer a importncia de se ter mo-de-obra saudvel em suas

    empresas, que mesmo sendo inicialmente uma preocupao baseada na reduo

    de custos e perdas provocadas pela ociosidade, acidentes e doenas

    ocupacionais, essa concepo de sade do trabalhador nasceu da e veio

    ganhando seu espao. Hoje existem leis e normas que amparam o trabalhador nas suas atividades dirias e na rea hospitalar no tem sido diferente. Um

    grande avano que podemos citar no campo da sade do profissional hospitalar

    a criao de uma norma especificamente voltada para a proteo do trabalhador

    em sade. Para o setor de Quimioterapia (QT) tambm existem leis e normas que preconizam medidas de proteo e descrevem os riscos aos quais os

    trabalhadores esto expostos. Porm, os resultados da pesquisa quanto ao nvel

    de conhecimento dos trabalhadores da QT em relao aos riscos que esto

    expostos revelaram que, muitos desses profissionais no fazem idia do tamanho

    dos riscos que correm e das conseqncias que eles podem acarretar.

  • SUMRIO

    INTRODUO ......................................................................................................... 07 CAPTULO 1 - TRABALHO, EDUCAO E SADE............................................... 11

    1.1 - O TRABALHO COMO PRINCPIO EDUCATIVO....................... 11 1.2 - RELAO ENTRE TRABALHO E SADE................................. 14

    CAPTULO 2 MARCOS HISTRICOS NA SADE DO TRABALHADOR............ 16 CAPTULO 3 A QUIMIOTERAPIA E O CNCER ................................................. 28

    3.1 SEGURANA DO TRABALHADOR NA QT................................. 29 3.2 REA DE PREPARO DOS QUIMIOTERPICOS E CAPELA FLUXO LAMINAR.......................................................... 31

    3.3 FATORES DE RISCOS ................................................................ 32

    3.4 MAPA DE RISCOS....................................................................... 33

    CAPTULO 4 LEGISLAO NO CAMPO DA SADE DO TRABALHADOR........ 35 4.1 CONSTITUIO FEDERAL DE 1988 .......................................... 35 4.2 LEI 6.514 DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO ......... 36

    4.3 NORMAS REGULAMENTADORAS DO TRABALHO................... 37

    4.3.1- NR 5 COMISSO INTERNA DE PREVENO DE ACIDENTES ................................................................................. 37

    4.3.2 NR 6 EQUIPAMENTOS DE PROTEO INDIVIDUAL....... 38 4.3.3 NR 7 PROGRAMA DE CONTROLE MDICO DE SADE

    OCUPACIONAL ......................................................................................... 38

    4.3.4 NR 9 PROGRAMA DE PREVENO DE RISCOS AMBIENTAIS ............................................................ 40

    4.3.5 NR 15 - ATIVIDADES E OPERAES INSALUBRES ........... 41

  • 4.3.6 NR 32 SEGURANA E SADE NO TRABALHO E SERVIOS DE SADE ....................................................... 41

    4.4 LEI 8.080 LEI ORGNICA DA SADE................................................. 44 CAPTULO 5 PESQUISA DE CAMPO.................................................................. 46

    5.1 MTODOS DA PESQUISA .......................................................... 47 5.1.1 LOCAL.................................................................................... 47

    5.1.2 POPULAO.......................................................................... 48 5.1.3 AMOSTRA .............................................................................. 48

    5.1.4 PROCEDIMENTOS................................................................. 48

    5.2 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................... 48

    5.2.1 OBSERVAO ....................................................................... 51 5.2.2 ANLISE DO SETOR E DAS PRTICAS

    PROFISSIONAIS................................................................... 53

    CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 57 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................ 58 ANEXOS .................................................................................................................. 64

  • 7

    INTRODUO

    Muito se tem falado sobre o tema da segurana e da sade do trabalhador,

    diversas teorias tm surgido de forma a contribuir para o assunto em questo.

    Partindo da possibilidade de trazer um pouco mais de conhecimento sobre o tema

    e porque no dizer, de contribuio tambm para aqueles que laboram no setor

    de quimioterapia de um hospital, resolvi abordar o tema no meu trabalho de

    concluso de curso. Mas o motivo maior pelo qual me impulsionei a realizar tal

    pesquisa, foi a possibilidade de tentar contribuir, na reflexo e criticidade do

    binmio sade e trabalho, desses trabalhadores que esto envolvidos com a dor,

    o sofrimento e a doena, como tambm na preveno de acidentes de trabalho e

    na busca pelo bem-estar fsico, cognitivo e organizacional, muitas vezes

    esquecidos devido rotina intensa e estressante, com a responsabilidade do

    cuidado ao ser humano.

    Para isso, o presente estudo tem como objetivos, analisar os riscos que os trabalhadores do setor de quimioterapia (QT) esto expostos, buscar informaes de como se manter imune aos perigos e riscos eminentes do trabalho na QT,

    conhecer os equipamentos de proteo individual EPI e equipamentos de

    proteo coletivo EPC, necessrios para minimizar os danos sade dos

    trabalhadores da QT, bem como saber at que ponto os trabalhadores do setor

    em estudo conhecem os riscos ao qual esto expostos e quais as aes

    necessrias para minimiz-los ou elimin-los.

    To logo, trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, realizada em um

    hospital pblico, na cidade do Rio de Janeiro com os diversos trabalhadores do

  • 8

    setor de quimioterapia, mediante entrevistas semi-estruturadas que permitiro

    chegar aos objetivos aqui propostos. Portanto, no primeiro captulo abordo os conceitos de trabalho, educao e

    sade, que me pareceram fundamentais para o entendimento do nosso estudo e

    fao uma relao entre eles.

    J no captulo dois, resgato a histria da sade do trabalhador, desde os

    seus primrdios com o surgimento da Medicina do Trabalho, passo pela Sade

    Ocupacional e chego ao atual conceito de Segurana e Sade do Trabalhador,

    descrevendo as lutas e conquistas alcanadas nesse campo.

    O terceiro captulo fala da quimioterapia e o cncer e aborda temas como:

    o trabalhador na QT e as sobrecargas emocionais que eles recebem, j que convivem num ambiente onde a dor e o sofrimento esto sempre presentes, bem

    como a segurana do trabalhador na QT, que fala dos cuidados necessrios para

    se evitar os riscos de acidentes de contaminao. Alm de descrever como deve

    ser o ambiente em que so preparados os quimioterpicos, de modo a diminuir os

    riscos de contaminao. Os fatores de riscos e o mapa de riscos tambm so

    assuntos abordados por esse captulo, que descreve, classifica e mapeia os

    principais riscos ocupacionais.

    O prximo captulo descreve as legislaes vigentes no campo da sade

    do trabalhador, que tanto contriburam para o alcance dos direitos que atualmente

    detm. Mais adiante, no quinto e ltimo captulo veremos os resultados das

    pesquisas realizadas com dez profissionais do setor de quimioterapia, com cargos

    e vnculos empregatcios diferentes, onde ficou constatada questes como os

    tipos de riscos predominantes no setor, o grau de conhecimento e capacitao

  • 9

    dos profissionais em relao aos riscos ao qual esto expostos e os tipos de EPIs

    utilizados.

  • 10

    CAPTULO1 - TRABALHO, EDUCAO E SADE

    O trabalhador ao longo de sua trajetria de lutas e reivindicaes vem alcanando grandes conquistas no campo da Sade do Trabalhador, j que tambm atravs de mudanas no processo de trabalho e nas relaes sociais que

    se combatem os danos sade.

    Um fato histrico que traduz o que foi exposto o Movimento Operrio

    Italiano, que baseados no saber e na conscientizao pregavam mudanas nas

    condies de trabalho, bem como a no-delegao e a manuteno da sade no

    trabalho. Isso mostra que os trabalhadores podem e devem se organizar para

    solucionar os problemas de sade surgidos em seus ambientes de trabalho.

    Esse fato se explica pela afirmao do trabalhador como sujeito ativo e participativo do processo sade/trabalho, capazes de contribuir com seu saber

    para a compreenso do impacto do trabalho sobre a sade e de intervir

    politicamente para transformar a realidade (MOREIRA, 2006). Portanto, a educao tem o intuito de libertar o trabalhador, ou seja, faz-lo consciente de que agente modificador e que pode atravs do conhecimento

    compreender o problema da sade, bem como os riscos ao qual esto expostos e

    a explorao no trabalho que tanto o afeta.

    1.1 - O TRABALHO COMO PRINCPIO EDUCATIVO

    O trabalho para o homem est relacionado dignidade, pois onde ele se

    realiza, se sente til e garante sua subsistncia e de todos que dele depende. Por

    isso, o trabalho to importante ao ser humano desde sempre, j que atravs dele que se pode continuar a crescer, desenvolver, expressar e utilizar suas

  • 11

    habilidades e talentos. Alm disso, o trabalho quem determina sua classe social,

    sua mobilidade geogrfica, sua renda e seu modo de vida. (SOUTO, 2003) O mesmo autor (ibid p. 37) explicita muito bem o seu conhecimento, onde

    acredita que todo esforo que o homem, no exerccio de sua capacidade fsica

    e mental, executa para atingir seus objetivos em consonncia com princpios ticos.

    Nesse contexto, podemos entender que o trabalho influencia e modifica a

    vida humana. Contudo, ele pode transformar o ser humano tanto para o bem

    quanto para o mal, seja tornando o trabalhador um ser humano emancipado, portanto, consciente de sua dignidade e de seu real papel no meio em que est

    inserido. (Godinho et al apud Kiefer et al; 2001, p.190) ou ainda um ser humano alienado, isto , alheio aos acontecimentos que o cercam e sem o menor controle

    do processo do prprio trabalho.

    No entanto, o que vai determinar o carter destrutivo e alienador ou de

    emancipao humana do trabalho a sociedade e o contexto ao qual est

    vinculado. (FRIGOTTO apud LIMA, 2006) No Brasil, assim como em outros pases do mundo, ainda existem

    trabalhadores vivendo em condies sub-humanas, atravs do trabalho escravo,

    da explorao e de outros meios de privao da vida.

    Todavia, a educao em forma de conhecimento e informao, constitui

    elementos essenciais para a emancipao e desalienao do trabalhador. Uma

    vez que consciente de seu lugar no espao e de sua importncia para o processo

    de trabalho, o trabalhador tende a se tornar agente ativo, pensante e realizador

    em seu local de trabalho. Assim:

  • 12

    A educao conscientizadora tem como objetivo a transformao social, a troca de experincias, o questionamento, a individualizao e a humanizao. Seu contedo so os problemas existentes nas experincias cotidianas do aprendiz que, sistematizadas e teorizadas, por meio da relao dialgica e participativa, conduzem-no reflexo e ao-transformadora e legitimadora da realidade. (Godinho et al apud Kiefer et al, 2001, p.192)

    Em entrevista para a Agncia Fiocruz de Notcias, em 10/08/06, Frigotto

    afirma que no existe vida humana sem transformao de natureza, sem ao-

    trabalho e diz ainda, agora atravs do Livro: Fundamentos da Educao Escolar

    no Brasil Contemporneo, que:

    A natureza no fabrica mquinas, locomotivas, ferrovias, telgrafo eltrico, mquina de fiar automtica, etc. Tais coisas so produtos da indstria humana que se exerce sobre a natureza, ou da participao humana na natureza (FRIGOTTO apud LIMA, 2006, p.250).

    A partir dessa compreenso, clara a evidncia da necessidade do saber,

    do conhecimento, ou melhor, dizendo, da educao para a vida humana. J que

    o homem, inspirado em seus conhecimentos, quem cria e fabrica objetos necessrios a nossa subsistncia.

    Por fim, a educao um fator fundamental para a formao do

    trabalhador, em se tratando de desenvolvimento humano, tcnico ou cientfico.

    Pois alm de lhe proporcionar conhecimentos que facilitam no processo de

    execuo do trabalho, desenvolve a autonomia e o pensamento crtico diante do

    trabalho, alm de influenciar na tomada de deciso.

  • 13

    1.2 - RELAO ENTRE TRABALHO E SADE

    Desde o incio da histria do homem, a sade uma das principais

    preocupaes, reconhecendo que a doena, fonte de sofrimento e tristeza, levava

    morte, assim como tudo na Terra. Financeiramente tambm, a doena

    representara problemas para as Naes.

    O autor Souto afirma que a filosofia popular mundial entende que A sade

    e o bom estado do corpo esto acima de qualquer riqueza. Em seu entendimento

    considera que:

    Uma melhor definio de sade de que ela resultante de um estado de equilbrio, no qual os mltiplos e diversos fatores que tem influncia sobre ela so igualados. uma relao equilibrada, dinmica e harmnica entre as condies biolgicas e o meio fsico e social, isto , com o meio ambiente (Souto, 2003, p. 13).

    A relao entre trabalho e sade j era constatada desde a antiguidade, mas se intensificou a partir da Revoluo Industrial. Porm, nem sempre essa

    relao foi vista com grande importncia. Na poca do regime servil, no existia a

    menor preocupao com a sade dos trabalhadores, que eram tidos como

    escravos.

    Com a Revoluo Industrial, o trabalhador passou a ser livre para vender

    sua fora de trabalho, mas se tornou escravo da mquina e dos ritmos e

    produo cada vez mais intensa.

    Os ritmos intensos de trabalho em locais desfavorveis sade, a

    proliferao de doenas infecto-contagiosas, causadas pela aglomerao de

    pessoas em locais inadequados e as mutilaes e mortes causadas na operao

    de mquinas perigosas so efeitos do capitalismo.

  • 14

    Dessa forma o autor Souto (2003, p.38) alega que:

    O trabalho uma maneira de engrandecer a vida e no deve se transformar pelo modo como ele realizado e pelas condies do ambiente em que executado, num caminho para a invalidez ou para o encurtamento da vida. Da a importncia da manuteno da sade no trabalho.

    No entanto, para complementar o pensamento de Souto, baseamos nossa

    pesquisa tambm no entendimento de Mendes (1995, p.1768) que diz que o trabalho um dos espaos de vida determinantes na construo e na

    desconstruo da sade.

    Isso significa que o trabalho pode ser nocivo ao homem se for realizado em

    condies desumanas, sem que haja preocupao com o bem-estar de quem trabalha. Como pode tambm ser objeto de prazer, satisfao e realizao profissional, se desempenhado, claro, em condies salutares.

  • 15

    CAPTULO 2 - MARCOS HISTRICOS NA SADE DO TRABALHADOR

    Para compreendermos os avanos do direito sade do trabalhador

    necessrio fazermos uma retrospectiva mesmo que breve em sua evoluo

    histrica.

    Foi na Alemanha, no ano de 1567, que surgiu a primeira monografia

    especfica sobre as doenas ocupacionais, que falava da tsica (tuberculose pulmonar) dos mineiros e outras doenas das montanhas. No entanto, foi em 1700, atravs da obra de Bernardino Ramazzini, mdico

    italiano que lanou o livro sobre as doenas dos trabalhadores, intitulado De

    Morbis Artificum Diatriba, que deu consistncia ao tema sade do trabalhador. J

    que foi o primeiro mdico a relacionar a questo da sade x trabalho x doena.

    Na anamnese do paciente ele perguntava: Que arte exerce? Com esta pergunta

    Ramazzini buscava chegar s causas que ocasionavam o mal. Em seu livro

    Ramazzini estudou diversos grupos de trabalhadores, com variadas profisses e

    relacionou as doenas ocupacionais, as medidas de preveno e tratamento. Em

    funo do grande sucesso de seu livro, este passou a ser considerado o Pai da

    Medicina do Trabalho. (OLIVEIRA, 1996) Com a Revoluo Industrial, surgiram as mquinas e as produes em

    srie, que mudaram radicalmente a vida dos trabalhadores. O trabalho artesanal

    deu lugar aos processos industriais, e a produo em larga escala exigia cada vez

    mais esforos dos trabalhadores, que passaram a trabalhar em ritmos

    extenuantes.

    Diante de ambientes insalubres e expostos a vrios tipos de

    contaminaes, o trabalhador era o nico responsvel por manter sua sade. Nos

  • 16

    locais de trabalho era comum conviver com pessoas doentes, mutilados, rfos e

    vivas.

    No ano de 1800, na Inglaterra, a mquina a vapor passou a ser usada em

    muitas empresas inglesas, no que fez aumentar a procura por mo-de-obra. A

    incessante busca por mo-de-obra e a misria, impulsionaram o comrcio de

    crianas que eram vendidas aos empregadores atravs de intermedirios que as

    adquiriam das mos de pais miserveis. Nesse comrcio desumano, nem as

    crianas dbeis mentais eram poupadas. Para se ter uma idia, a cada 12

    crianas sadias comercializadas uma era dbil.

    A quantidade de acidentes de trabalho provocados por mquinas era

    grande, e as mortes, principalmente de crianas, tambm eram muito freqentes.

    A jornada de trabalho era ilimitada, onde homens, mulheres e crianas comeavam a trabalhar de madrugada e se estendiam at o cair da noite, em

    muitos casos as atividades permaneciam mesmo durante a noite. Alm disso, as

    fbricas eram mal iluminadas e com ventilao precria. Diante desse fato, no

    de se estranhar a disseminao de doenas de todos os tipos entre esses

    trabalhadores.

    Em reao a esse cenrio monstruoso em que eram submetidos homens,

    mulheres e crianas, a opinio pblica reivindicou interveno estatal. Mas foi em

    1802, que o Parlamento Britnico, conseguiu aprovar a primeira lei de proteo

    aos trabalhadores: a Lei de Sade e Moral dos Aprendizes, que fixava o limite de

    12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os

    empregadores a lavar as paredes das fbricas duas vezes por ano, e tornava

    obrigatria a ventilao destas. (NOGUEIRA apud OLIVEIRA, 1996, p.53)

  • 17

    Entretanto essa lei no foi suficiente para resolver todo o problema, assim

    outras leis complementares surgiram em 1819, mas em geral pouco eficientes

    devido forte oposio dos empregadores.

    Em 1830, na Alemanha, o proprietrio de uma fbrica txtil preocupa-se

    com o fato de seus operrios no possurem cuidados mdicos e resolve ento

    colocar no interior de sua fbrica um mdico responsvel por seus funcionrios.

    Surge, assim, o primeiro servio de Medicina do Trabalho no mundo. O primeiro

    mdico a exercer esse servio foi o Dr. Robert Backer. A repercusso foi grande e

    rapidamente muitas empresas passaram a manter um mdico do trabalho em

    suas fbricas. Para o empregador passou a ser conveniente fornecer cuidados

    mdicos a seus operrios, assim qualquer problema relacionado sade dos

    trabalhadores passaria a ser responsabilidade do mdico do trabalho

    (RAMAZZINI, 2000). Em funo da necessidade urgente de medidas de proteo aos

    trabalhadores, em 1831, uma comisso parlamentar de inqurito criada, sob a

    chefia de Michael Saddler, que elaborou um relatrio de grande impacto, que teve

    a seguinte concluso:

    Diante desta Comisso desfilou longa procisso de trabalhadores homens e mulheres, meninos e meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles era clara evidncia de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem, uma impiedosa condenao daqueles legisladores que, quando em suas mos detinham poder imenso, abandonaram os fracos rapacidade dos fortes (MENDES, 1980, p.7-8).

  • 18

    A reao da opinio pblica a esse relatrio foi tamanha, que em 1833 foi

    baixado na Inglaterra o Factory Act, 1833, considerada a primeira legislao

    realmente eficiente no campo da proteo ao trabalhador, que:

    Aplicava-se a todas as empresas txteis onde se usasse fora hidrulica ou a vapor; proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos e restringia as horas de trabalho destes, a 12 por dia e 69 por semana; as fbricas precisavam ter escolas, que deviam ser freqentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos; a idade mnima para o trabalho era de 9 anos, e um mdico devia atestar que o desenvolvimento fsico da criana correspondia sua idade cronolgica (MENDES, 1980, p.8).

    No final do sculo XIX, A Igreja intervm na questo relacionada a sade dos trabalhadores e atravs da encclica De Rerum Novarum do Papa Leo XIII,

    influencia autoridades a tomarem providncias, no que diz respeito a proteo

    social. Tal encclica, no captulo 27, menciona e censura os abusos cometidos

    pelos empregadores: No justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o esprito e enfraquecer o

    corpo. A atividade do homem, restrita como a sua natureza, tem limites que se

    no podem ultrapassar (OLIVEIRA, 1996, p.54). A partir da, leis de acidentes do trabalho surgiram inicialmente na

    Alemanha, mas logo se estendeu por vrios pases da Europa e no Brasil se deu

    atravs do Decreto Legislativo n 3.724, de 15 de janeiro de 1919. Nesse mesmo perodo, em funo das manifestaes e reivindicaes dos

    trabalhadores surge a Conferncia da Paz de 1919, da Sociedade das Naes, a

    criar pelo Tratado de Versailles a Organizao Internacional do Trabalho OIT,

    com o objetivo de dar s questes trabalhistas um tratamento linear, baseado na justia social. Ainda em 1919, a OIT tem a sua primeira reunio, onde foram

  • 19

    estabelecidas seis convenes, que tratavam da proteo sade e integridade

    fsica dos trabalhadores, da limitao da jornada de trabalho, desemprego, proteo maternidade, trabalho noturno das mulheres, idade mnima para

    admisso de crianas e o trabalho noturno dos menores. Logo aps a criao da

    Organizao das Naes Unidas ONU, em 1945, na cidade de So Francisco,

    com o objetivo de preservar as geraes vindouras do flagelo da guerra e promover o progresso social e melhores condies de vida, surge a

    Organizao Mundial de Sade OMS, no ano de 1946, estabelecendo assim um

    novo conceito, considerando que:

    A sade o completo bem-estar fsico, mental e social, e no apenas a ausncia de doenas ou enfermidades e que o gozo do grau mximo de sade que se pode alcanar um dos direitos fundamentais de todo ser humano, sem distino de raa, religio, ideologia poltica ou condio econmica ou social e conclui que a sade de todos os povos condio fundamental para a consecuo da paz e da segurana e depende da mais estreita cooperao de indivduos e Estados (OLIVEIRA, 1996, p.57).

    Em 1954, a OIT rene especialistas para estudarem as diretrizes da

    organizao de Servios Mdicos do Trabalho. Quatro anos aps, a

    denominao Servios Mdicos do Trabalho substituda por Servios de

    Medicina do Trabalho, atravs da Conferncia Internacional do Trabalho.

    Com base na Recomendao 112, de 1959, aprovada pela Conferncia

    Internacional do Trabalho, a expresso Servios de Medicina do Trabalho

    compreende um servio organizado nos locais de trabalho, destinado a: garantir a

    proteo dos trabalhadores contra os riscos nocivos a sua sade provenientes de

    seu trabalho ou das condies em que se efetue; contribuir o mximo possvel

  • 20

    para o bem-estar fsico e mental dos trabalhadores; contribuir para a adaptao

    dos trabalhadores em seus locais de trabalho (MENDES e DIAS, 1991, p.342). Diante do exposto, nota-se que a mudana na expresso no significou

    muita coisa na prtica. Uma vez que continua com limitaes que so

    caractersticas da Medicina do Trabalho.

    O autor Mendes (1980, p.79) explicita muito bem no que se refere a funo do Mdico do Trabalho, a saber: A manuteno da higidez da fora de trabalho

    a funo do servio mdico e onde ele encontra a razo de sua existncia luz

    dos objetivos da empresa. Isso significa que os Servios de Medicina do Trabalho se resume na

    tentativa de adaptao fsica e mental dos trabalhadores e na manuteno da

    sade dos mesmos, evidentemente sempre em concordncia com os objetivos da empresa, no que se refere ao controle da produtividade. Os cuidados com a

    sade do trabalhador so superficiais, onde s a doena analisada, mas suas

    causas so totalmente descartadas. Na verdade faltava ao mdico, autonomia

    para intervir no processo produtivo, por isso no conseguia eliminar as fontes do

    problema, mesmo porque de nada adiantava o atendimento ao trabalhador doente

    se o mesmo era obrigado a retornar s atividades laborais que lhe causaram o

    mal (OLIVEIRA, 1996). Em meio a esse cenrio, possvel constatar tambm uma forte relao com a viso mecanicista de Taylor e Fayol, autores da Teoria

    da Administrao Cientfica e Clssica, princpio no qual o principal objetivo era aumentar a produtividade.

    Todavia, o mdico do trabalho era responsvel tambm pela seleo da

    mo-de-obra e procurava escolher aqueles com aptides que melhor se

    enquadrassem nas tarefas propostas. Acreditava-se que dessa forma evitariam

  • 21

    problemas futuros como o absentismo e suas conseqncias (interrupo da produo, gastos com obrigaes sociais, etc).

    Em conseqncia disso o Servio de Medicina do Trabalho no foi

    suficiente para impedir o crescimento dos problemas de sade causados pelos

    processos de produo, no qual passou a causar insatisfaes tanto aos

    empregados, quanto aos empregadores que continuavam a perder dinheiro com

    os agravos sade de seus funcionrios. Houve ento, a necessidade de buscar

    alternativas que dessem soluo a esse problema, ou seja, dando nfase nas causas das doenas e dos acidentes no ambiente de trabalho e contando com a

    participao de outros profissionais, alm do mdico.

    Nesse contexto, nasce aps a II Guerra Mundial a Sade Ocupacional,

    com a finalidade de controlar os riscos ambientais. Uma vez que as causas dos

    acidentes e enfermidades dos trabalhadores so vista como conseqncias de

    fatores ambientais, tais como os agentes qumicos, fsicos e biolgicos.

    A partir da, intensificaram-se as pesquisas dos problemas de Sade

    Ocupacional, no que fazem parte a Sade Ambiental e a Higiene Industrial. Essa

    ltima inclusive, passa a estar presente nas grandes empresas atravs de

    contratos e servios. Em virtude dessa nova preocupao com a melhoria dos

    ambientes de trabalho, passaram a fixar limites de tolerncia para exposio aos

    agentes agressivos e a prever a utilizao dos equipamentos de proteo.

    Aps se reunirem em Genebra, na dcada e 50, o Comit Misto da OIT

    OMS prope uma definio de Sade Ocupacional:

    A sade Ocupacional tem como objetivos: a promoo e manuteno do mais alto grau de bem-estar fsico, mental e social dos trabalhadores em todas as ocupaes; a preveno entre os trabalhadores, de desvios de sade

  • 22

    causados pelas condies de trabalho; a proteo dos trabalhadores em seus empregos, dos riscos resultantes de fatores adversos sade; a colocao e manuteno do trabalhador adaptadas s aptides fisiolgicas e psicolgicas, em suma: a adaptao do trabalho ao homem e de cada homem a sua atividade (MENDES, 1980, p.18).

    Diante dessa nova viso de adaptar o trabalho ao homem, surge a

    ergonomia, com o objetivo de melhorar os mtodos de trabalho, atravs de estudos e pesquisas dos fatores fsicos, cognitivos e organizacionais.

    O trabalho prescrito e o trabalho real objeto de investigao da ergonomia contempornea. Vidal (2001) destaca a relevncia da ao ergonmica no labor para que a produo, a sade dos trabalhadores e

    conseqentemente uma assistncia e cuidado mais qualificado aos pacientes seja alcanada.

    No Brasil, a Sade Ocupacional chegou tardiamente e como nos outros

    pases dividiu-se em vrias vertentes.

    Nas instituies, destaca-se a criao da Fundao Jorge Duprat

    Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho FUNDACENTRO.

    A Sade Ocupacional passa a ganhar espao tambm na rea de ensino e

    pesquisa, da Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo, atravs

    de cursos de especializao e ps-graduao (mestrado e doutorado). Mais tarde, esse modelo estendeu-se a outras instituies de ensino e pesquisa.

    Na legislao a Sade Ocupacional expressou-se na dcada de 70,

    sobretudo com a publicao da Portaria 3.214/78 que estabeleceu a

    obrigatoriedade de equipes tcnicas multidisciplinares nos locais de trabalho, tais

    como mdicos, engenheiros, enfermeiros, tcnicos de segurana do trabalho e

    auxiliar de enfermagem no trabalho.

  • 23

    Apesar de a Sade Ocupacional ter feito um grande avano na concepo

    de sade no trabalho, mais uma vez foi um modelo que se mostrou insuficiente

    para suprir todos os problemas nesse campo. As principais causas de sua

    insuficincia que mesmo levando em conta os riscos, o meio ambiente e a

    higiene no trabalho, ainda no possua uma abordagem cognitiva, que levava em

    conta o cansao, o estresse e o desgaste fisiolgico dos trabalhadores, entre

    outros.

    Em meio a esse cenrio de insatisfaes, desencadeia um movimento

    social no final da dcada de 60, nos pases ocidentais industrializados, marcadas

    pelo questionamento do sentido da vida, o valor a liberdade e o significado do

    trabalho na vida. Um fator marcante desse movimento foi o Modelo Operrio

    Italiano, formado por operrios que reivindicavam mudanas nas condies de

    trabalho, nas questes de sade e segurana. Eles diziam no aos adicionais e

    seu lema era Sade no se Vende. Diante disso uma nova concepo de

    trabalho e trabalhador surge, atravs de novas polticas sociais que introduzem

    mudanas significativas na legislao trabalhista. Como na Itlia, com a criao

    do Estatuto dos Trabalhadores, que incorpora princpios fundamentais ao

    movimento dos trabalhadores, tais como a no delegao da vigilncia da sade

    ao Estado, a validao do saber dos trabalhadores, o acompanhamento da

    fiscalizao, e o melhoramento das condies e dos ambientes de trabalho.

    Dessa forma, na dcada de 70, entra em cena um novo modelo, que tem

    como ator principal o trabalhador. Nessa nova abordagem, alm dos fatores de

    riscos externos (fsico, qumico, biolgico, mecnico e ergonmico), outros fatores tambm passam a serem levados e considerao, como o estresse, a fadiga e os

    conflitos sociais.

  • 24

    No Brasil, a concepo de Segurana e Sade do Trabalhador tambm

    passa a tomar forma, principalmente depois de receber no incio da dcada de 70,

    o ttulo de campeo mundial de acidentes no trabalho.

    A lei 6.514 de 22/12/77 introduziu relevantes inovaes no captulo V do

    Ttulo II da Consolidao das Leis do Trabalho, modificando as expresses

    Higiene e Segurana do Trabalho por Segurana e Medicina do Trabalho,

    alterando diversos dispositivos. Por fora do Art. 200 da Consolidao das Leis do

    Trabalho CLT, foi atribudo ao Ministrio do Trabalho a tarefa de estabelecer e

    complementar normas, considerando as caractersticas de cada atividade e setor.

    Criou-se da Portaria 3.214, de 08/06/78, aprovando as 29 Normas

    Regulamentadoras do Trabalho NRs, e que atualmente so 32 Normas

    (ARAJO, 2002). Em 1981, na Conferncia Geral da OIT, foi aprovada a Conveno 155

    sobre Segurana e Sade dos Trabalhadores, que estabeleceu o conceito amplo

    de sade, obrigatoriedade da fixao de uma poltica nacional de sade,

    adaptao dos processos de produo s capacidades fsicas e mentais dos

    trabalhadores, direito ao empregado de interromper uma situao de trabalho

    quando ela envolve perigo iminente e grave para sua vida, incluso das questes

    de segurana, higiene e meio ambiente de trabalho em todos os nveis de ensino

    etc (OLIVEIRA, 1996). Finalmente, na dcada de 80, a Sade do Trabalhador se incorpora no

    Brasil, como uma questo que buscava a democracia, a cidadania e a liberdade

    na organizao dos trabalhadores. Esta nova prtica da sade, no desconsidera

    os impactos do labor sobre o corpo humano, aborda a subjetividade, o saber nico do trabalhador, considerando os possveis fatores que influenciam o

  • 25

    trabalhador para a interpretao do real (SOUTO, 2003). Surgem ento, vrios segmentos relacionados Sade do Trabalhador, como o Departamento

    Intersindical de Estudos e Pesquisas de Sade e dos Ambientes de Trabalho

    (DIESAT) e o Instituto Nacional de Sade no Trabalho (INST). Nas indstrias, em meio s novas prticas sindicais, surgem as Comisses Internas de Preveno de

    Acidentes (CIPAS). Em 1986, Braslia realizou a VIII Conferncia Nacional de Sade, que

    contou com o pronunciamento de abertura de Carlyle Guerra de Macedo, Diretor-

    Geral da Organizao Pan-Americana de Sade, a saber:

    A sade hoje em dia cada vez mais considerada um valor por sua vinculao com a prpria vida. De modo otimista, podemos estimar que pelo menos 300 mil brasileiros ainda morra, cada ano, por causas e problemas que poderiam ser perfeitamente evitveis se to s fssemos capazes de utilizar eficientemente os recursos de que dispomos hoje. Essa dvida social e sua expresso, esse nmero de mortes e o sofrimento que a acompanham mostram que os modelos at hoje utilizados no s tem sido ineficientes, seno que so inquos; e do ponto de vista de tica social poderamos dizer at obscenos e, portanto, inaceitveis (OLIVEIRA, 1996, p.64).

    A Constituio Federal de 1988 estabeleceu o marco jurdico principal na Sade do Trabalhador, pois aborda aspectos fundamentais em relao aos

    direitos trabalhistas, tais como a reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por

    meio de normas de sade, higiene e segurana; adicional de remunerao para

    atividades penosas, insalubres ou perigosas na forma de lei; seguro contra

    acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que

    este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. (SOUTO, 2003)

  • 26

    A Lei Orgnica da Sade (8.080/90), tambm instituiu normas de amparo a Sade do Trabalhador e segundo ela a expresso Segurana e Sade do

    Trabalhador definida como sendo um conjunto de atividades destinadas, atravs das aes de vigilncia epidemiolgica e sanitria, promoo e proteo

    da sade dos trabalhadores. Dessa forma, o trabalhador passa a ser agente ativo,

    pensante e realizador em seu ambiente de trabalho.

    A Sade do Trabalhador pressupe ainda um corpo de prticas tericas

    interdisciplinares tcnicas, sociais, humanas e interinstitucionais

    desenvolvidas por diversos atores situados em lugares sociais distintos e

    informados por uma perspectiva comum. (MINAYO e COSTA apud LOUZADA, 1997).

    Muito se tem evoludo em relao a esse tema, vrias instituies de

    ensino j formam trabalhadores para rea de Medicina e Segurana do Trabalho e o mercado de trabalho para esses profissionais tambm vem crescendo

    bastante. No que demonstra a crescente preocupao com a sade e

    segurana do trabalhador.

    No entanto, muita coisa ainda deve ser feita para contribuir com o assunto

    em questo. Apesar de haver as Normas Regulamentadoras do Trabalho - NRs,

    as Leis como a 8.080/90 que tambm abordam o mesmo assunto, polticas

    pblicas de sade do trabalhador tambm devem ser efetivamente implantadas,

    para garantir o cumprimento das leis e normas em seus diversos setores e

    camadas organizacionais.

  • 27

    CAPTULO 3 - A QUIMIOTERAPIA E O CNCER

    A Quimioterapia (QT) um setor onde os trabalhadores esto muito envolvidos emocionalmente, pois convivem diretamente com a dor e o sofrimento

    dos pacientes portadores de cncer. Por sua vez o cncer uma palavra que est

    relacionada morte, por isso para muitos parece to assustadora, que dir para o

    paciente que descobre possuir tal enfermidade. verdade que o cncer uma doena que pode matar se no houver um diagnstico precoce e um tratamento

    adequado. No entanto, a evoluo tecnolgica e o avano em pesquisas tm

    permitido que se possa fazer diagnsticos precisos e utilizar tratamentos

    apropriados para o controle e a erradicao dessa enfermidade.

    O cncer caracterizado por um crescimento descontrolado das clulas,

    que se aumentam e transformam em clulas aberrantes, dando origem aos

    tumores. A incidncia de cncer em adultos est relacionada a fatores ambientais,

    tais como o fumo, exposio excessiva ao sol, hbitos alimentares, entre outros.

    A palidez, perda de peso, dor de cabea com dificuldades para andar e vmitos

    no associados alimentao so alguns dos sintomas do cncer. (NACC, 2006) Um dos tratamentos para o cncer a Quimioterapia, que realizada a

    base de medicamentos, conhecidos como quimioterpicos, que destroem e/ou

    controlam o desenvolvimento das clulas tumorais.

    A Quimioterapia Antineoplsica comeou a ser estudada e utilizada no final

    do sculo XIX, com a descoberta da soluo de Fowler (arsenito de potssio) por Lissauer, em 1865, e da toxina de Coley (associao de toxinas bacterianas), em 1890. Mas foi a partir da observao dos efeitos de uma exploso de um depsito

    de gs mostarda, em 1943, na Itlia, durante a Segunda Guerra Mundial, que

  • 28

    ocasionou mielodepresso intensa e morte por hipoplasia de medula ssea entre

    soldados expostos, que passou a ser ministrada em pacientes com linfoma de

    Hodgkin e leucemia crnica (ROCHA et al, 2004) . As drogas so ministradas geralmente por via endovenosa ou via oral e

    passam pela circulao sangunea se espalhando por todo o corpo. O processo

    em si no di apenas a picada da agulha causa um desconforto inicial. No

    entanto, o que torna o tratamento mais doloroso so os efeitos colaterais,

    inevitveis, j que as drogas utilizadas no tratamento atingem tanto as clulas doentes quanto as sadias. Os efeitos colaterais mais freqentes so os aumentos

    de peso, anemia e fadiga, relacionada com a diminuio da contagem de glbulos

    vermelhos, queda de cabelo, mal-estar, nusea, diarria, ferida na boca, etc.

    Porm, vm sendo estudadas novas combinaes de medicamentos menos

    nocivos para o corpo e essas reaes to desagradveis tendem a diminuir.

    Permitindo assim uma melhor qualidade de vida aos pacientes (WIKIPEDIA, 2006).

    3.1 - SEGURANA DO TRABALHADOR NA QT

    O cuidado com a segurana no setor de Quimioterapia indispensvel

    para a reduo dos riscos de acidentes de contaminao. Assim, para uma

    central de Quimioterapia funcionar de forma segura, preciso se adequar a

    algumas condies bsicas. To logo, se faz necessrio que haja uma correta distribuio de reas e setores, visando adequar o fluxo do servio s atividades

    especficas de cada um; ser munido de equipamentos e materiais que permitam

    garantir a segurana e o conforto dos funcionrios. Alm disso, preciso que as

  • 29

    normas e procedimentos de segurana estejam definidos claramente, a fim de orientar e alertar os profissionais para os riscos inerentes (FONSECA et al, 2000). Entretanto, as boas prticas de trabalho, ou seja, o respeito aos mtodos de segurana, tambm so aspectos fundamentais para evitar as contaminaes.

    Portanto, uma boa tcnica a sua maior proteo (MASSUNGA et al apud FONSECA et al; 2000; p. 74). Sendo assim alguns mtodos relacionados ao manuseio de objetos e medicamentos devem ser considerados:

    Agulhas e seringas devem ser descartadas em coletores prprios para

    o descarte de materiais prfuro-cortantes, evitando sempre reencap-las;

    Ampolas no manuseio de ampolas preciso encobrir seu pescoo

    com gaze estril antes de quebr-las, evitando assim possveis cortes e

    vazamentos;

    Quimioterpicos na forma slida devem ser manuseados em fluxo

    laminar e com equipamentos de proteo individuais, principalmente

    comprimidos que produzam p.

    Outros cuidados at 48 horas aps a ltima aplicao de quimioterapia

    tambm devem ser tomados, bem como no manuseio de excrees e secrees

    corpreas contaminadas com frmacos, portanto:

    Utilizar luvas de procedimento sempre que estiver manuseando excreo;

    Dar a descarga duas ou trs vezes e com a tampa do sanitrio fechada,

    para evitar respingos;

    Usar luvas e avental quando lidar com lenis contaminados.

  • 30

    3.2 - REA DE PREPARO DOS QUIMIOTERPICOS E CAPELA FLUXO LAMINAR

    A rea de preparo dos quimiterpicos dever ser isolada e restrita, onde s

    os funcionrios que participam da manipulao dos medicamentos tem acesso. A

    descontaminao deve ser contnua antes e aps o preparo dos quimioterpicos.

    Alm disso, a Portaria 930/92 do Ministrio da Sade prev semanalmente uma

    limpeza terminal. As refeies, aplicao de cosmticos e o armazenamento de

    comidas so expressamente proibidos dentro da rea de preparo dos

    quimioterpicos (MASSUNAGA et al apud FONSECA et al; 2000). Durante a preparao dos quimioterpicos antineoplsicos obrigatrio o

    uso de EPIs (Equipamentos de Proteo Individual), mediante Normas preconizadas pela agncia norte-americana Occupational Safety and Health

    Administration OSHA, que estabelece o uso de luvas de ltex ou prolipropileno,

    descartveis e sem talco; aventais descartveis, com mangas longas, fechados

    na parte frontal, punhos com elsticos e com baixa permeabilidade; mscaras

    com proteo de carvo ativado, que age como filtro qumico; culos de proteo,

    que impeam a contaminao frontal e lateral de partculas, sem reduzir o campo

    visual. Como EPC, a mesma normatizao estabelece o uso de capela de fluxo

    laminar no preparo dos antineoplsicos. Pois ela garante a proteo pessoal e

    ambiental, j que seu fluxo incide verticalmente em relao rea de preparo e a seguir totalmente aspirado e submetido nova filtragem, atravs do filtro HEPA

    (High Efficieney Particulate Air). Esses filtros devem ser trocados a cada seis meses. Os tipos de aparelhos considerados mais seguros so os verticais de

  • 31

    classe II, tipo B ou classe III. Aparelhos do tipo horizontal so desaconselhveis,

    pois oferecem riscos ao manipulador (ROCHA et al; 2006).

    3.3 - FATORES DE RISCOS

    O ambiente hospitalar possui caractersticas muito particulares, tendo em

    vista a sua insalubridade, pois apresenta uma srie de situaes, atividades e

    fatores potenciais de risco aos trabalhadores, os quais podem causar alteraes

    na sade, bem como acidentes de trabalho e doenas aos profissionais a ele

    expostos.

    Os males causados ao trabalhador no ambiente hospitalar so conseqncias dos fatores de riscos, dentre os quais destacamos os riscos ergonmicos, mecnicos, qumicos,

    fsicos e biolgicos. Abaixo podemos ver a classificao dos principais riscos ocupacionais divididos em grupos, de acordo com a sua natureza e a padronizao das

    cores correspondentes:R I S C O S GRUPO I

    (Qumicos) GRUPO II (Fsicos)

    GRUPO III (Biolgicos)

    GRUPO IV (Ergonmicos)

    GRUPO V (Mecnicos)

    Poeira Rudo Vrus Trabalho fsico pesado Arranjo fsico deficiente

    Fumos metlicos Vibrao Bactria Postura incorreta Mquinas sem Proteo

    Nvoas Radiao

    ionizante e no ionizante

    Protozorio Treinamento

    Inadequado ou inexistente

    Matria prima fora de especificao

    Vapores Presses Anormais Fungos Jornada Prolongada

    de Trabalho Equipamentos

    inadequados, defeituosos ou inexistentes.

    Produtos qumicos em geral

    Temperaturas extremas Bacilos Trabalho noturno Eletricidade

    Gases Iluminao deficiente Parasitas Responsabilidade, conflito, tenses

    emocionais.

    Incndio, exploses, edificaes,

    armazenamento.

    Solventes Umidade Insetos, cobras, aranhas, etc. Desconforto, monotonia,

    ritmo excessivo. Transporte de materiais

    Outros Outros Outros Outros Outros

  • 32

    Em relao aos trabalhadores que manipulam quimioterpicos, os perigos

    so ainda maiores. Pois esses profissionais tm mais chances de contrarem

    tumores secundrios e cnceres. Alm de outros danos, tais como alteraes no

    ciclo menstrual, aborto e malformao congnita. Isso devido aos efeitos

    mutagnicos, carcinognicos e teratognicos que os quimioterpicos

    antineoplsicos possuem.

    Devido ao fato da preparao e administrao dos antineoplsicos

    representarem alta complexidade e riscos aos que o manipulam, foi estabelecido

    na Resoluo CFF 288/1996 e na Resoluo COFEN 210/1998, respectivamente,

    que de competncia do farmacutico o preparo das drogas antineoplsicas e de

    competncia do enfermeiro a administrao desses agentes. No entanto, por

    meio da Resoluo COFEN 257/2001, o Conselho Federal de Enfermagem

    estabelece que o preparo dessas drogas poder ser executado pelo enfermeiro,

    porm, to somente na ausncia do farmacutico. Excluindo os tcnicos e

    auxiliares de enfermagem dessa tarefa, em qualquer hiptese (ROCHA et al; 2006).

    3.4 - MAPA DE RISCOS

    Os riscos podem ser mais bem identificados pelos trabalhadores atravs de

    seu mapeamento. Esse mapeamento, chamado mapa de riscos uma

    representao grfica dos riscos sade dos trabalhadores, identificados nos

    locais de trabalho por meio de crculos de diferentes tamanhos e cores, como

    podemos ver no exemplo a seguir:

  • 33

    MAPA DE RISCOS DO BIOTRIO

    AGENTES AGENTES AGENTES AGENTES AGENTES QUMICOS FSICOS BIOLGICOS ERGONMICOS DE ACIDENTES

  • 34

    TABELA DE PROPORO DO RISCO

    O Mapa deve ser construdo por membros da CIPA (Comisso Interna de Preveno de Acidentes), conforme orientaes contidas no anexo IV da NR 5, dada pela Portaria N 25 de 29/12/1994 do Ministrio do Trabalho e Emprego -

    MTE. Alm disso, precisa estar atualizado e de acordo com as disposies legais

    vigentes, afixados em locais de fcil visualizao dos trabalhadores.

    Contudo, o mapa de risco uma importante ferramenta, que permite

    informar e conscientizar os trabalhadores dos riscos que esto expostos.

  • 35

    CAPTULO 4 - LEGISLAO NO CAMPO DA SADE DO TRABALHADOR

    As leis e normas referentes segurana e sade do trabalhador so

    extremamente importantes, pois atravs delas que os trabalhadores recebem o

    amparo necessrio para garantir que todos os seus direitos sejam respeitados e cumpridos.

    Assim, os trabalhadores de setor de sade contam com toda a legislao

    vigente relativas promoo e a proteo de sua sade, como tambm mais

    recentemente conta com uma legislao especfica, que trata da Segurana e

    Sade do Trabalhador em Servios de Sade NR 32, que constitui uma enorme

    conquista para os trabalhadores.

    A seguir veremos algumas leis e normas que serviram de base para as

    conquistas no campo da sade do trabalhador.

    4.1 CONSTITUIO FEDERAL DE 1988

    A Constituio de 1988 trouxe grandes avanos no campo da sade do

    trabalhador, pois foi o marco jurdico na conquista de seus direitos. To logo, para garantir a sade do trabalhador se preocupou em abordar

    assuntos como a inerncia dos riscos do trabalho; reduo dos riscos, atravs de

    normas de sade, higiene e segurana; remunerao por atividades penosas,

    insalubres ou perigosas, onde o trabalhador recebe um percentual a mais em seu

    salrio por conta da periculosidade do seu trabalho; seguro obrigatrio contra

    acidentes do trabalho.

  • 36

    Por fim, por ser a Constituio a Lei maior, se tornou base consistente na

    proteo da vida das pessoas em suas ocupaes, na luta pela melhoria das

    condies de trabalho.

    4.2 LEI 6.514, DE DEZEMBRO DE 1977 DA SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO.

    Esta lei estabelece medidas de segurana e medicina do trabalho, tratando

    da incumbncia do rgo nacional, das Delegacias Regionais do Trabalho, das

    empresas e dos empregados em relao segurana e medicina do trabalho.

    O rgo Nacional incumbido de coordenar, orientar, controlar e

    supervisionar as atividades de segurana e medicina do trabalho, como a de

    Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA em todo o territrio

    nacional.

    As Delegacias Regionais do Trabalho tem o dever de fiscalizar o

    cumprimento das normas de segurana e medicina do trabalho e aplicar penas

    pelo no cumprimento das normas.

    Cabem as empresas cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e

    medicina do trabalho, bem como orientar os empregados quanto s formas de

    evitar acidentes de trabalho ou doenas ocupacionais.

    J aos empregados cabe compreender as instrues dadas pelo

    empregador e as normas de segurana e medicina do trabalho, assim com

    colaborar com a empresa nas questes relacionadas segurana.

  • 37

    Contudo, esta lei aborda ainda questes como as Medidas Preventivas de

    Medicina do trabalho; Equipamentos de Proteo Individual; rgos de Segurana e Medicina do Trabalho nas empresas; Iluminao, entre outras.

    4.3 - NORMAS REGULAMENTADORAS DO TRABALHO

    o conjunto de normas, que visam estabelecer diretrizes para implementao de medidas de proteo segurana e a sade dos

    trabalhadores. Essas normas so de observncia obrigatria por todas as

    empresas, tanto pblica quanto privada, que possuam empregados regidos pela

    Consolidao das Leis do Trabalho CLT. So criadas pelo Ministrio do

    Trabalho, pela Portaria 3.214/78 e atualizadas pela edio de Portarias

    complementares do Ministrio do Trabalho e Emprego MTE. Atualmente

    formam um quantitativo de 32 Normas Regulamentadoras do Trabalho NR,

    dentre as quais destacamos as mais relevantes para o nosso estudo.

    4.3.1 NR 5 COMISSO INTERNA DE PREVENO DE ACIDENTES

    uma comisso formada dentro das instituies com o intuito de prevenir a ocorrncia de acidentes e doenas ocupacionais e garantir a preservao da vida

    e da sade do trabalhador.

    A Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA formada por

    representantes dos empregadores, que so por eles nomeados e dos

    empregados, atravs de eleio.

    So algumas das competncias da CIPA, conhecer os riscos ocupacionais,

    elaborar o mapa de riscos, contanto com a assessoria do Servio Especializado

  • 38

    em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho SESMT, quando

    houver, bem como traar o plano de ao preventiva dos problemas de segurana

    e sade no trabalho. Alm de ajudar na implementao do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional PMSO e Programa de Preveno de Riscos

    Ambientais PPRA e de outros programas que dizem respeito segurana e

    sade no trabalho.

    4.3.2 NR 6 EQUIPAMENTOS DE PROTEO INDIVIDUAL

    A NR 6 trata da utilizao dos Equipamentos de Proteo Individual EPIs

    pelos trabalhadores, que segundo ela so equipamentos que se destinam a

    proteger a integridade do trabalhador, contra os riscos eminentes do trabalho.

    O fornecimento dos EPIs deve ser feito pela empresa sem nenhum custo

    para o empregado e precisam ser adequados aos tipos de riscos que o

    trabalhador estar exposto, visando sua completa proteo contra tais riscos.

    Alm disso, os EPIs devem ser de uso obrigatrio e possuir o certificado de

    aprovao (CA) expedido pelo Ministrio do Trabalho, de modo a garantir sua qualidade e eficincia contra os riscos.

    4.3.3 NR 7 PROGRAMA DE CONTROLE MDICO DE SADE OCUPACIONAL

    Esta norma tem o intuito de promover e preservar a sade dos

    trabalhadores, para tanto os empregadores e instituies que possuam

    empregados so obrigados a manterem o Programa de Controle Mdico de

    Sade Ocupacional PCMSO.

  • 39

    Tal programa tem o dever de prevenir e diagnosticar precocemente os

    males que podem afetar a sade do trabalhador em seu ambiente de trabalho,

    para isso se faz obrigatrio realizao de alguns exames, que compreendem a

    avaliao clnica, abrangendo anamnese ocupacional e exame fsico e mental,

    assim como exames complementares. No entanto, para trabalhadores expostos a

    riscos ou a situaes de trabalho que possam agravar a doena ocupacional,

    como no caso dos trabalhadores do setor de quimioterapia, que ficam expostos a

    agentes qumicos, os exames devero ser repetidos a cada ano ou a intervalos

    menores, de acordo com a necessidade e a critrio mdico.

    De acordo com o item 7.4.4 desta NR, para cada exame mdico realizado,

    o mdico emitir o Atestado de Sade Ocupacional ASO em duas vias, sendo

    que a primeira via ficar arquivada no local de trabalho e a segunda via ser

    obrigatoriamente entregue ao trabalhador, mediante recibo na primeira via.

    Alm disso, os dados obtidos nos exames mdicos devero ser registrados

    em pronturio clnico individual, sob a responsabilidade do mdico coordenador

    do PCMSO, que dever ser um especialista em Engenharia de Segurana e

    Medicina do Trabalho. Esses dados devero ser mantidos por pelo menos vinte

    anos aps o desligamento do trabalhador.

    Quando constatada a ocorrncia de acidentes ou doenas ocupacionais,

    atravs de exames mdicos, o mdico-coordenador ou encarregado dever

    solicitar empresa a emisso da Comunicao de Acidentes do Trabalho CAT;

    o afastamento do trabalhador da exposio ao risco, ou do trabalho; orientar o

    empregador quanto necessidade de adoo de medidas do controle no

    ambiente de trabalho. Conforme descritos no item 7.4.8 desta NR.

  • 40

    4.3.4 NR 9 PROGRAMA DE PREVENO DE RISCOS AMBIENTAIS

    Esta NR visa preservao da sade e da integridade dos trabalhadores,

    que segundo a prpria, se d atravs da antecipao, reconhecimento, avaliao

    e conseqente controle da ocorrncia de riscos ambientais existentes ou que

    venham existir no ambiente de trabalho, levando em conta a proteo do meio

    ambiente e dos recursos naturais.

    Todavia, o Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA

    determina como sendo riscos ambientais os agentes fsicos, qumicos e biolgicos

    existentes nos locais de trabalho, que possam vir a causar danos sade dos

    trabalhadores.

    O item 9.1.5.2 desta NR define agentes qumicos como sendo as

    substncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via

    respiratria, nas formas de poeiras, fumos, nvoas, neblinas, gases ou vapores,

    ou que pela natureza da atividade de exposio, possam ter contato ou ser

    absorvido pelo organismo atravs da pele ou por ingesto.

    Para garantir a sade e preservar a integridade dos trabalhadores, o PPRA

    determina a implantao de medidas de preveno, que podem ser de carter

    coletivo e/ou individual, atravs de Equipamentos de Proteo Coletiva EPCs e

    Equipamentos de Proteo Individual EPIs.

    Contudo, o empregador dever informar e orientar os trabalhadores sobre

    os riscos ambientais e suas formas de preveno ou limitao, a fim de evitar que

    a sade do trabalhador fique comprometida.

  • 41

    4.3.5 NR 15 - ATIVIDADES E OPERAES INSALUBRES

    Esta normatizao trata da insalubridade no local de trabalho, ou seja, das atividades e operaes realizadas no trabalho que trazem riscos potenciais ao

    trabalhador.

    De acordo com esta norma, atividades ou operaes insalubres so

    aquelas realizadas acima dos limites de tolerncia, que segundo ela a

    concentrao mxima ou mnima, relacionada com a natureza e o tempo de

    exposio ao agente, que no causar dano sade do trabalhador, durante a

    sua vida laboral.

    Desse modo, tal norma traz medidas necessrias para eliminao ou

    minimizao da insalubridade, atravs da determinao dos limites de tolerncia

    para cada agente agressivo e da utilizao dos Equipamentos de Proteo

    Individual EPI pelo trabalhador.

    4.3.6 NR 32 SEGURANA E SADE NO TRABALHO EM SERVIOS DE SADE

    A NR 32 a mais recente norma destinada sade e a segurana do

    trabalhador e ao contrrio das demais NRs que regulamentam o trabalho

    voltada exclusivamente para rea hospitalar.

    Por ser o setor sade um ambiente com caractersticas muito peculiares,

    houve-se a necessidade de criar uma norma especfica que amparasse os

    profissionais dessa rea, j que as outras NRs tratavam do assunto mais genericamente.

  • 42

    Em virtude disso, a NR 32 regulamenta medidas de proteo e promoo

    sade e segurana dos trabalhadores dos servios de sade e segundo ela,

    entende-se por servios de sade qualquer edificao destinada prestao de

    assistncia sade da populao, e todas as aes de promoo, recuperao,

    assistncia, pesquisa e ensino em sade em qualquer nvel de complexidade.

    To logo, esta NR aborda os riscos que o trabalhador de sade costuma se

    deparar ao longo de sua jornada diria de trabalho. Entre eles, destacamos:

    Riscos Biolgicos significa a probabilidade da exposio a agentes

    biolgicos, que so as bactrias, fungos, bacilos, vrus, parasitas,

    protozorios, entre outros. Para evitar a contaminao com esses agentes

    preciso manter alguns hbitos de higiene, tais como lavar as mos com

    sabonete lquido, usar toalhas descartveis e evitar manter contato com a

    lixeira, para isso a lixeira precisa possuir mecanismos de abertura sem

    contato manual. Alm de fazer uso dos EPIs, quando o trabalhador estiver

    exposto a riscos biolgicos.

    Riscos Qumicos a exposio aos agentes qumicos, que so as

    substncias, compostos ou produtos que possam ser absorvidos pelo

    organismo. Um exemplo disso so os medicamentos e drogas, que podem

    causar genotoxidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e toxidade sria

    sobre rgos e sistemas. Os quimioterpico antineoplsico um desses

    medicamentos e que exige alguns cuidados quanto sua manipulao,

    bem como a utilizao de EPIs em perfeito estado de conservao e

    locado em fcil acesso. Alm disso, os trabalhadores envolvidos devem

    receber capacitao inicial e continuada sobre os riscos ao qual esto

  • 43

    expostos e suas formas de preveno e amenizao dos danos, bem como

    conhecer a normatizao vigente e os procedimentos necessrios em caso

    de acidentes.

    Radiaes Ionizantes neste item a NR 32 estabelece medidas de

    controle e proteo do trabalhador contra os possveis efeitos causados

    pela radiao ionizante. Nos casos em que o trabalhador fica exposto

    radiao, obrigatrio manter no local de trabalho o Plano de Proteo

    Radiolgica PPR, aprovado pela Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CNEN. Algumas regras devem ser cumpridas para o trabalhador que

    trabalhe em reas onde existam fontes de radiaes ionizantes, tais como

    permanecer nessa rea o menor tempo possvel, estar ciente dos riscos

    radiolgicos que est exposto, assim como, estar capacitado em proteo

    radiolgica, usar os EPIs compatveis com os riscos e estar sendo

    monitorado sobre a dose de radiao ionizante.

    Resduos o acondicionamento, transporte e segregao dos resduos

    devem ser feito com muito cuidado, a fim de evitar contaminaes. Para

    isso os trabalhadores devem ter capacitao inicial e continuada quanto

    utilizao de EPIs, devem reconhecer os smbolos de identificao das

    classes de resduos, as formas de reduzir a gerao de resduos, bem

    como as definies, classificao e potencial de risco dos resduos. O

    acondicionamento destes deve ser feito em sacos plsticos bem

    resistentes de acordo com o disposto na NBR 9919, preenchidos at 2/3 de

    sua capacidade e lacrados de tal maneira que no vaze em hiptese

    alguma, mesmo quando virados com a abertura para baixo. Quanto aos

  • 44

    materiais perfurocortantes, devem ser descartados em recipientes

    especficos onde o limite mximo de enchimento deve ser de 5 cm abaixo

    do bocal.

    Por fim, podemos concluir atravs de seus dispositivos que o objetivo desta NR, nada mais do que uma forma de tornar o setor hospitalar um ambiente mais

    agradvel, confortvel e na maneira do possvel salutar ao trabalhador que nele

    dispende sua fora de trabalho e contribuio.

    4.4 LEI 8.080 DE 19 DE SETEMBRO DE 1990

    A presente lei aborda questes para a promoo, proteo e recuperao

    da sade, bem como o funcionamento e a organizao dos servios relacionados,

    alm de outras medidas. Cuja finalidade estabelecer regras para as aes e servios de sade, em todo o territrio nacional.

    Todavia, aborda a sade como sendo um direito fundamental do ser

    humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis ao seu pleno

    exerccio e diz ainda que o dever do Estado no exclui o das pessoas, da

    famlia, das empresas e da sociedade.

    O Sistema nico de Sade (SUS) tambm abordado por esta lei, que o define como sendo o conjunto de aes e servios de sade, prestados por rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais, da Administrao

    direta e indireta e das fundaes mantidas pelo Poder Pblico. Portanto consiste

    em promover a sade com a realizao de aes assistenciais, atravs de

    polticas de sade. Algumas dessas aes seriam a de vigilncia sanitria,

  • 45

    vigilncia epidemiolgica, de sade do trabalhador, bem como de assistncia

    farmacutica e teraputica integral.

    No entanto, para fins desse estudo darei nfase na ao de sade do

    trabalhador, que segundo a presente lei visa recuperao e reabilitao da

    sade dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das

    condies de trabalho.

    As aes e servios pblicos de sade prevista por esta lei devem

    obedecer alguns princpios, tais como o acesso universalizado aos servios de

    sade, assistncia integral e igualitria, bem como o direito informao e a

    participao da comunidade.

    Diante disso, podemos concluir que a referida lei de suma importncia,

    no s para os trabalhadores que dela receberam amparo, mas para todos os

    indivduos, pois atravs dela tiveram o direito sade assegurada.

  • 46

    CAPTULO 5 PESQUISA DE CAMPO

    Dentre as diversas atividades profissionais que o homem executa, o

    trabalho dos profissionais do setor de Quimioterapia (QT) foi escolhido como foco de ateno desse estudo.

    Portanto, este captulo pretende analisar os riscos eminentes do trabalho

    no setor de Quimioterapia, identificar as precaues de segurana utilizadas e

    saber se os profissionais que trabalham no referido setor so capazes de

    identificar e prevenir esses riscos.

    Os profissionais que trabalham na QT esto expostos a vrios tipos de

    riscos, que so os riscos ergonmicos, de acidentes, qumicos, fsicos e

    biolgicos, que so capazes de prejudicar a produtividade e a sade dos trabalhadores, causando acidentes de trabalho e doenas ocupacionais.

    Por ser um medicamento cancergeno e mutagnico, a manipulao e a

    administrao dos quimioterpicos devem ser realizadas com muito cuidado.

    Estudos revelam alteraes genticas, tumores secundrios, efeitos colaterais e

    maiores probabilidades de aparecimento de cncer em profissionais que

    trabalham em contato com essas drogas. (ROCHA et al, 2006). To logo, indispensvel adoo de medidas de segurana desde a

    manipulao at o descarte desses medicamentos.

    Para garantir a segurana desses trabalhadores necessria a utilizao

    de capelas de fluxo laminar, que segundo normas relativas manipulao de

    antineoplsicos deve ser vertical, classe II, tipo B, no preparo dos antineoplsicos

    e o uso dos EPIs corretos, nas atividades que envolvem a manipulao de

    quimioterpicos.

  • 47

    5.1 MTODOS DA PESQUISA

    Trata-se de uma pesquisa qualiquantitativa. A qualitativa parte do

    pressuposto que existem fatores relacionados sade dos trabalhadores que no

    se podem quantificar, tais como o fator cognitivo (cultura, religio, raa), que est relacionado ao lado subjetivo de cada profissional e que pode tornar-se grande influenciador na relao sade x trabalho. J a quantitativa trabalha com

    estatstica, atravs da matemtica para expressar numericamente os dados

    obtidos. (MINAYO, 2002).

    5.1.1 LOCAL

    O estudo foi desenvolvido no setor de Quimioterapia de uma instituio de

    sade federal especializada em cncer, na cidade do Rio de Janeiro.

    A instituio o rgo do Ministrio da Sade, responsvel por

    desenvolver e coordenar aes integradas para a preveno e controle do cncer

    no Brasil. Tais aes abrangem a assistncia mdico-hospitalar, preveno e a

    deteco precoce, a formao de profissionais especializados, o desenvolvimento

    de pesquisa e a informao epidemiolgica.

    5.1.2 POPULAO

    A populao foi constituda pelos trabalhadores de enfermagem

    (enfermeiros e auxiliares de enfermagem) e farmacuticos, lotados no setor de Quimioterapia do Hospital onde foi desenvolvida a pesquisa. A coleta de dados foi

    realizada em 13 de novembro de 2006.

  • 48

    5.1.3 AMOSTRA

    A amostra foi constituda por 9 trabalhadores de enfermagem, distribuda

    entre enfermeiros e auxiliares de enfermagem do setor de Quimioterapia, de

    ambos os sexos e que concordaram em participar da pesquisa.

    5.1.4 PROCEDIMENTOS

    Foi utilizado como instrumento de pesquisa, um questionrio constitudo de

    8 perguntas abertas e fechadas aos 9 profissionais do setor em estudo, que

    assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Tambm se observou

    o setor e as prticas de trabalho adotadas pelos trabalhadores envolvidos com a

    manipulao e administrao dos quimioterpicos antineoplsicos.

    5.2 RESULTADOS E DISCUSSO

    Participaram do presente estudo 12 trabalhadores, sendo 8 enfermeiros e 1

    auxiliar de enfermagem, 3 farmacuticos, que no participaram da entrevista, mas

    tambm tiveram suas prticas de trabalho observadas. Dos 12 profissionais

    observados apenas 2 eram do sexo masculino.

    Observou-se que os trabalhadores pertenciam predominantemente

    categoria profissional de enfermeiro, cerca de 67% e do sexo feminino, cerca de

    84%.

  • 49

    Distribuio de Sexo e Categoria Profissional

    02468

    1012

    Sexo e categoria profissional

    N de

    pe

    sso

    as

    Homens Mulheres Enfermeiros Outras Profisses

    Figura 1 Distribuio de Sexo e Categoria Profissional dos Trabalhadores da QT (n=12). Rio de Janeiro, 2006.

    Atravs do questionrio os trabalhadores responderam a algumas questes

    referentes capacitao, ocorrncia de acidentes e procedimentos em caso de

    acidente, riscos e proteo contra os riscos, entre outros assuntos. No qual foram

    emitidas vrias possibilidades, entre elas: apenas 1 enfermeira disse ter se

    acidentado durante o trabalho, quando tentava fechar a caixa descarpak se

    ferindo no dedo com uma agulha que estava de ponta para cima, no que

    representa apenas 11, 11% dos 9 profissionais que participaram do questionrio.

    Segundo a enfermeira, foi realizado a CAT (Comunicao de Acidente de Trabalho).

    Em relao capacitao, todos afirmaram terem recebido de forma inicial

    e continuada. No entanto, apenas 7 disseram conhecer os procedimentos a

    serem tomados em caso de acidente biolgico ou qumico, representando 77,77%

    do total de trabalhadores entrevistados, no que justifica a necessidade da realizao de outras capacitaes para melhor esclarecer e afirmar o

    conhecimento necessrio realizao das atividades dirias no setor de forma

    segura.

  • 50

    Procedimentos em Caso de Acidente

    77,77%

    23,23%

    0,00%

    20,00%

    40,00%

    60,00%

    80,00%

    100,00%

    1Conhecem No conhecem

    Figura 2 Profissionais que Conhecem ou no os Procedimentos em Caso de Acidentes (n=9). Rio de Janeiro, 2006.

    Quando questionados sobre o prprio estado de sade, 3 trabalhadores

    consideraram ser timo (33,33%) e 6 trabalhadores consideraram ser bom (66,66%), alm disso, todos afirmaram estar com o exame peridico em dia. Quanto exposio aos riscos e os equipamentos necessrios na proteo

    dos mesmos, as respostas dos trabalhadores se deram da seguinte forma: 8

    citaram o risco biolgico como fator de exposio (88,88%), todos disseram estar expostos a riscos qumicos e fsicos, 4 disseram estar expostos a riscos

    ergonmicos (44,44%), 1 citou o risco psicolgico como fator de exposio (11,11%) e 2 citaram o risco de bala perdida como risco externo, considerando que o setor fica localizado bem de frente a uma rea de risco social, que

    visualizada atravs da janela do mesmo. J em relao aos Equipamentos de Proteo Individual e Coletivo (EPIs e EPCs): 1 das enfermeiras no citou nenhum tipo de equipamento de proteo contra os agentes nocivos sua sade

    (11,11%), 8 citaram a mscara e a luva como equipamento de proteo individual (88,88%), 4 citou o gorro (44,44%), 3 citaram o avental (33,33%), 1 citou o sapato fechado e 3 citaram os culos de segurana. Como EPC 1 trabalhador citou o kit

    de derramamento (11,11%), 4 citaram a capela de fluxo laminar (44,44%) e

  • 51

    apenas 1 citou o coletor de materiais perfurocortantes (11,11%). Portanto, apenas 5 citaram o EPC como equipamento de proteo (55,55%). Assim, diante das respostas fornecidas pelos trabalhadores, constatou-se a

    necessidade de maior conhecimento destes em relao exposio e proteo

    dos riscos, uma vez que muitos EPIs e EPCs essenciais na proteo contra os

    riscos foram ignorados ou pouco citados, tais como sapatos fechados, aventais

    descartveis, culos de proteo, toucas impermeveis, coletores de materiais

    perfurocortantes e capela de fluxo laminar, ou seja, quase todos no foram citados ou foram insatisfatoriamente citados.

    5.2.1 OBSERVAO

    Durante a pesquisa de campo fui convidada pela enfermeira chefe do setor

    de Quimioterapia do hospital estudado a participar do curso de capacitao, que

    estava sendo ministrado para a equipe profissional lotados neste setor. Diante

    disso, pude constatar que os profissionais que fazem parte desse estudo recebem

    capacitao. Todavia, o curso por mim assistido fazia referncia aos diversos

    riscos que os trabalhadores da QT esto expostos e aos cuidados que deveriam

    ser tomados para evitar os danos sade dos mesmos. Baseados em legislaes

    especficas, o assunto era pesquisado pelas prprias enfermeiras do grupo de

    profissionais da QT, que o apresentavam aos demais colegas de profisso.

    Portanto, no momento do curso em que se falava de desgaste psquico

    (irritao, preocupao, depresso, transtornos psicossomticos, reaes do comportamento e sofrimento mental), foram levantadas questes que traziam a

  • 52

    tona um fato presente entre os trabalhadores do setor em estudo: o conflito, que

    segundo uma das enfermeiras devido sobrecarga de trabalho e a um conjunto de fatores que levam a esta situao. Foi levantado ainda que os trabalhadores

    eram vistos como um nico grupo, mas devido a essa sobrecarga de trabalho e

    aos conflitos est gerando subgrupos. O atrito entre as pessoas est gerando

    partidarismo e Vo se tornando distantes, pessoas que precisam trabalhar em

    equipe. Tambm foram citados como fatores que colaboraram para a mudana

    da caracterstica da equipe, que antes era tida como homognea e unida, a

    diversidade de vnculos empregatcios entre os membros da equipe, que

    costumam ser divididos entre temporrios, terceirizados, funcionrios pblicos,

    entre outros. Esse caso de desgaste psicossomtico entre os trabalhadores faz

    parte do estudo da Ergonomia Cognitiva.

    No momento do curso algumas questes foram apontadas como sugestes

    pelas enfermeiras que apresentavam o tema, tais como: o desconforto do ar

    condicionado, uma vez que os aparelhos no possuem termostato e o ambiente

    ou fica muito frio ou muito calor; o uso de gorros, culos, mscara de carvo

    ativado, avental completo, sapatos fechados e luvas de procedimento; capote de

    proteo por cima do pijama; cabelos presos; o no uso de adornos e o descarte de agulhas e seringas. A determinao do uso da mscara de carvo ativado

    trouxe discusso entre alguns trabalhadores, quanto ao incmodo na sua

    utilizao e quanto segurana da mesma. Nesse caso, recomendvel que se

    busque na literatura cientfica conhecimentos que esclaream a necessidade e a

    eficincia da mscara de carvo ativado.

  • 53

    5.2.2 ANLISE DO SETOR E DAS PRTICAS PROFISSIONAIS

    O setor analisado centralizado e composto por sala de espera, recepo,

    dois consultrios de enfermagem onde os pacientes so acompanhados por um

    profissional que explica todo o procedimento antes de comear com tratamento a

    base de quimioterpicos, sala de cateter, sala de administrao de medicamentos

    composta por dez cadeiras, por vezes doze, contando com a maca e a cadeira de

    rodas, alm de banheiro para o paciente, copa com porta fechada, posto de

    enfermagem, sala de estoque de material, vestirio, banheiro dos funcionrios,

    anti-sala da capela de fluxo laminar com presso positiva e sala de manipulao

    com presso negativa, no que evita a passagem de ar exterior para dentro da sala

    de manipulao, onde o ar mais puro.

    Figura 3 - Anti-sala da Capela de Fluxo Laminar

  • 54

    Figura 4 - Sala de Medicamentos Figura 5 - Sala de

    Medicamentos

    No setor tambm possui lixeiras com tampa, pedal e com sacos branco-

    leitosos, corretamente identificados como materiais infectantes; os materiais

    perfurocortantes so descartados em coletores com paredes rgidas e ficam em

    locais visveis, porm observou-se que o limite de enchimento no respeitado,

    aumentando assim o risco de acidentes no fechamento desse coletor.

    Figura 6 - Sala de Medicamentos Figura 7 - Sala de Medicamentos

    Outro item observado que contraria as legislaes vigentes que o setor

    no possui o kit de derramamento, nem os lava-olhos e chuveiro de emergncia.

  • 55

    Observou-se tambm que a manipulao dos quimioterpicos feita somente por

    farmacuticos. Na sala de manipulao foi observado que o coletor de materiais

    perfurocortantes no estava num lugar apropriado, uma vez que o mesmo se

    encontrava no cho e a lixeira de dentro da capela estava muito alta. Ficou

    constatado tambm que a capela de fluxo laminar recebe manuteno preventiva,

    que foi feita h quinze dias atrs da data dessa pesquisa e que a etiqueta se

    encontra fixada em local visvel. J os profissionais que estavam dentro da sala

    de manipulao no momento da pesquisa, os farmacuticos, utilizavam roupas do

    centro cirrgico por baixo do capote, exceto a farmacutica que estava

    manipulando as drogas, usava o capote por cima da prpria roupa. Alm disso,

    nenhum deles fazia uso de avental descartvel, alis, no setor no existia esse

    equipamento de proteo, os trabalhadores utilizavam roupas de pano. Fora isso,

    os farmacuticos faziam uso de toucas descartveis, mscara de carvo ativado,

    capote, aventais fechados frontalmente com punhos elsticos e mangas longas,

    culos de proteo, sapatos fechados e uma luva por dentro da manga e outra

    por fora. Como podemos observar na figura a seguir:

  • 56

    Figura 8 - Sala de Manipulao dos Quimioterpicos

    J na sala de administrao de medicamentos nenhum dos profissionais

    usava capote, apenas utilizavam o pijama; 4 enfermeiras faziam uso de maquiagem, no que facilita a contaminao por aerossis, pois eles se fixam na

    maquiagem; 7 enfermeiras estavam com o cabelo solto, contrariando a

    determinao que diz que os cabelos devem estar presos; 5 enfermeiras

    utilizavam algum tipo de adorno (relgio, pulseira, brinco, anel); 6 no utilizavam sapatos fechados, facilitando o risco de contaminao por pele. Observou-se

    tambm que alguns profissionais no lavavam as mos antes e aps a

    administrao das drogas. Alm disso, segundo declarao de uma das

    enfermeiras as luvas eram muito entalcadas, o que no obedece norma que

    preconiza o uso de luvas sem talco ou pouco entalcadas. Notou-se ainda que as

    enfermeiras circulavam pelo setor apenas com o pijama e utilizavam a mscara de carvo ativado apenas quando iam administrar as drogas.

  • 57

    CONSIDERAES FINAIS

    No novidade que no ambiente hospitalar existe riscos potenciais aos

    quais os trabalhadores podem estar expostos e o setor de Quimioterapia no fica

    fora disso. Alis, um ambiente onde os riscos se tornam mais difceis de ser

    combatidos, pois so muitas vezes invisveis, porm bastante nocivos ao

    trabalhador e podem trazer danos sade dos mesmos a curto e em longo prazo.

    Em muitos casos o profissional que se contaminou no atribui o suposto problema

    de sade futuro ao contato que teve com a droga. As principais formas de

    contaminao que envolve os profissionais da QT a inalao de aerossis, a

    ingesto de alimentos e medicaes contaminadas por resduos desses agentes

    e o contato direto da droga com a pele e mucosas.

    As medidas de preveno apresentadas nesse estudo tendem a diminuir

    esses riscos. No entanto, preciso que os prprios profissionais estejam envolvidos e conscientes quanto aos cuidados essenciais que se devem ter com a

    administrao e a manipulao dos quimioterpicos. Para isso, preciso que haja capacitao continuada entre os trabalhadores, de maneira que eles possam

    conhecer bem os riscos que esto expostos e conscientizar-se de que devem

    dispor de medidas de preveno.

    Ficou constatado durante a pesquisa que os trabalhadores de um modo

    geral deixam de usar os equipamentos de proteo ou de adotar prticas seguras

    de trabalho, pois no tm muita conscincia da gravidade do risco que correm.

    Talvez por serem riscos invisveis, acham que no esto sendo contaminados.

    Da a necessidade de maior orientao e capacitao.

  • 58

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ABRAMIDES, M.B.C e CABRAL, M.S.R. Regime de Acumulao Flexvel

    e Sade do Trabalhador. So Paulo em Perspectiva, 17(1): 3-10 2003.

    ACADMICO Espao. Educao Libertadora, Habitus e Sade do Trabalhador: uma articulao fundamental. Disponvel em http://

    www.espacoacademico.com.br. Acessado em 12/10/2006

    ARAJO, Clara. Polticas Pblicas e Gnero um breve balano de sua trajetria e das intervenes no Brasil apud Joana Garcia. Sociedade e Polticas Novos Debates entre ONGS e Universidades.

    Rio de Janeiro: Ed. CEVAN, 2003, p. 235-262.

    ARAJO, Giovanni Moraes de. Normas Regulamentadoras Comentadas. 3 ed. Rio de Janeiro: Atual, 2002.

    BRASIL, ANVISA. Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. Resoluo n

    358/2005. Disponvel em http:// www.anvisa.gov.br. Acessado em

    21/10/2006

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    BRASIL, MS. Lei Orgnica da Sade LOS 8.080/90.

    BRASIL, MTE. Ministrio do Trabalho e Emprego. Norma

    Regulamentadora 32: Segurana e Sade no Trabalho em Servios de

    Sade. Disponvel em http:// www.mte.gov.br. Acessado em 21/04/2006

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