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Alfabetizando Moçambique Relatório 03 - Ano 2013 Queridos amigos, Em janeiro recebemos quatro professoras brasileiras que vieram treinar, durante uma semana, os professores moçambicanos com quem trabalhamos! Foi um grande prazer recebê-las e passar tempo conhecendo-as mais profundamente entre viagens, trabalho, desafios e momentos descontraídos. Aprendi muito com cada uma delas! Mais do que isso, foi impactante o efeito que tiveram sobre os professores moçambicanos! Esse relatório foi escrito (e muito bem escrito, por sinal) por uma delas, Isabela Barros! Tenho certeza de que vocês desfrutarão conhecer mais sobre a cultura e educação moçambicanas e o efeito de brasileiros investindo nessas áreas! Obrigada à Escola Cristã Jundiaí, que patrocinou a vinda de duas de suas professoras e aos familiares que enviaram e investiram na vinda de todas! Obrigada a cada um que faz parte desse trabalho!

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Relatório sobre a visita de 4 professoras brasileiras em Janeiro de 2013 à Nacala Porto, Nampula, Moçambique.

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AlfabetizandoMoçambique

Relatório 03 - Ano 2013Queridos amigos,

Em janeiro recebemos quatro professoras brasileiras que vieram treinar, durante uma semana, os professores moçambicanos com quem trabalhamos!

Foi um grande prazer recebê-las e passar tempo conhecendo-as mais profundamente entre viagens, trabalho, desafios e momentos descontraídos. Aprendi muito com cada uma delas! Mais do que isso, foi impactante o efeito que tiveram sobre os professores moçambicanos!

Esse relatório foi escrito (e muito bem escrito, por sinal) por uma delas, Isabela Barros! Tenho certeza de que vocês desfrutarão conhecer mais sobre a cultura e educação moçambicanas e o efeito de brasileiros investindo nessas áreas!

Obrigada à Escola Cristã Jundiaí, que patrocinou a vinda de duas de suas professoras e aos familiares que enviaram e investiram na vinda de todas! Obrigada a cada um que faz parte desse trabalho!

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Janeiro/ 2013 - Relatório 03

Educação Em moçambiquESegundo dados estatísticos, recentemente publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa média de analfabetismo entre a população adulta do país situa-se à volta de 53.6%, sendo mais elevada nas zonas rurais (65.7%) do que urbanas (30.3%) e mais saliente nas mulheres (68%) do que nos homens (36.7%). Num país com a dimensão e a diversidade de Moçambique, não é de estranhar a existência de discrepâncias entre diferentes regiões, com as taxas variando entre 15.1% a 68.4%. Entre os jovens a situação é alarmante, com taxas de 37.9% para a faixa etária de 15 a 19 anos (48% entre as jovens mulheres) e 50.7% para a faixa de 20 a 29 anos de idade (61.1% entre as jovens mulheres). É valido ressaltar que tais índices revelam o nível de analfabetismo e não de letramento da população. Isso quer dizer que considera-se apenas se o indivíduo sabe ou não escrever seu nome e não se tem a apropriação da leitura e da escrita, que o permitiria interpretar, dialogar e formular textos. Tal diferenciação é característica à países subdesenvolvidos, que têm uma educação defasada. Por isso, se considerássemos o índice de iletrados no país, os números seriam catastróficos.

Para a formação de professores, há possibilidades de diferentes cursos, onde mesmo os que ainda não concluíram os estudos podem ensinar. Por exemplo, alguns se tornam professores após concluírem o ensino fundamental, seguido de três anos de uma formação específica para o ensino, como o antigo magistério no Brasil. Outros, que concluíram o primeiro ano do ensino médio, têm formação de um ano. Por isso, muitos professores são jovens e não finalizaram os estudos. De tal modo, como pessoas que tiveram acesso a um ensino precário e fizeram cursos aparentemente insuficientes para formação, podem exercer a profissão? Como esperar que, por meio dessas pessoas, haja a propagação do letramento no país?

o projEtoPensando na situação educacional do país, tivemos o privilégio de, em uma semana (seis horas diárias), estar com vinte e nove professores da pré-escola e escolas primárias de Nacala. Nosso objetivo foi compartilhar um pouco dos conhecimentos e experiências adquiridas no Brasil. A equipe foi composta por duas pedagogas da Escola Cristã de Jundiaí (Karina e Taís), uma pedagoga em formação de Piracicaba (Isabella Costa), uma fonoaudióloga em formação de Campinas (Isabela Barros) e a missionária Susana Walker, que foi fundamental como organizadora e facilitadora na comunicação.

contEúdo abordadoAo nos depararmos com as diferenças culturais e com a insuficiência de suas formações procuramos compartilhar alguns dos fundamentos da educação e também atividades possíveis à situação em que vivem. Mais do que ensinar como fazer, procuramos instigá-los à autonomia de elaborarem, em qualquer circunstância, suas próprias atividades.

Dessa forma, iniciamos a semana com uma dinâmica em que expuseram suas expectativas, seguida de uma palestra sobre o desenvolvimento infantil e a importância de estimularem as crianças. Sobre essas bases, ministramos, por meio de dinâmicas, meditações, palestras, brincadeiras e debates, quais são as necessidades de aprendizado de crianças do maternal à alfabetização e como preparar as aulas, de acordo com cada faixa etária; como introduzir letras e números; o significado e a importância do letramento; o valor da disciplina; o que é ser educador; a importância de trabalhar em equipe; a necessidade de estar constantemente em formação; finalizando com “educação para o pensar: como formar crianças críticas”.

nossas imprEssõEsNo primeiro dia, tivemos a impressão de que eles estavam desconfortáveis e distantes por não esboçarem reação às palestras. Por isso, nossa postura foi de tornar os momentos juntos mais dinâmicos, por meio de perguntas, exemplos práticos, brincadeiras, teatro entre outras coisas. Dessa forma, a participação se tornou intensa, o que permitiu ótimos momentos de trocas e também reformularmos os temas de acordo com as necessidades. Por fim, todos relataram o quanto a semana contribuiu para a formação e que as estratégias que utilizamos para envolvê-los permitiu a resolução de dúvidas, a experiência com a prática – por meio

Todos professores que participaram do treinamento!

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Hoje (05/02/2013) as aulas começaram nas escolinhas (pré-escolas) de Ontupaia/Nacala e na Casa Esperança, em Inhaminga! São cerca de 600 crianças estudando esse ano, graças ao apoio de pessoas no Brasil!

Obrigada por fazer parte desse impacto na educação moçambicana!

Alfabetizando Moçambique

das dinâmicas e elaboração de aulas - e consequentemente, maior aprendizado.

Entretanto, mais do que isso, fomos impactadas pelo intenso desejo que eles nos transmitiram de aprender e contribuir para a formação de seus alunos, mesmo com todas as dificuldades que eles têm. Como demonstrado no depoimento a seguir:

“O professor, quanto mais lê, quanto mais estuda, quanto mais é formado, mais ele fica informado e o desenvolvimento está

indo cada vez mais [...] e o vosso [equipe] apoio, a vossa preocupação de melhoria

do ensino deve ser de modo contínuo. Cada vez mais, estamos a pedir o vosso apoio para cada vez mais melhorarmos o nosso ensino e aprendizagem. Outra

parte, eu gostaria que a organização não governamental que é vossa, do Brasil, também vir a levar outros professores.

Por exemplo, eu tenho essa ganância de ver criança brasileira, como é que está a desenvolver capacidades lá do

terreno, para vir comparar, realmente, aquilo que eu vi na prática, e aquilo que vocês trouxeram, ver na prática e fazer

diferença para melhor futuro”. (H. – participou assiduamente do

treinamento e é professor do ensino fundamental em Nacala).

Ser professor em um país como Moçambique é uma tarefa árdua: não têm formação suficiente; as turmas são muito grandes; o salário é baixo; as condições de vida são precárias; há pouca participação dos pais no ensino; as crianças são pouco estimuladas e por isso apresentam dificuldades de aprendizado; há poucos recursos disponíveis, como salas de aula e materiais; também não é uma profissão respeitada, muitas vezes por culpa dos próprios professores, que cometem abuso físico e emocional e permanecem impunes. Dessa forma, convivermos, em um tempo total de trinta horas, com vinte e nove professores que enfrentam muitas dessas dificuldades, foi aprender o significado de vocação, determinação e como lidar com as adversidades. São verdadeiros guerreiros que necessitam matar mais que um leão por dia.

Além do privilégio da troca de experiências entre educadores, tivemos a oportunidade de usar nossas profissões para ministrar os valores do Reino, pois o grupo era composto por cristãos e mulçumanos: iniciávamos e concluíamos os dias com orações, citamos versículos e fundamentamos nossos ideais nos princípios cristãos, fizemos amizades e compartilhamos, individualmente, do cristianismo. Deste modo, cremos que tivemos frutos espirituais, como uma jovem que exprimiu, em uma conversa individual, a necessidade em conhecer Jesus e que ele é a solução do país; e, no último dia, na oração pela manhã, cinco pessoas apresentaram dificuldades pessoais que enfrentavam e pediram oração para todo o grupo.

Acreditamos que a precariedade educacional de Moçambique está além das marcas deixadas pela colonização. Também é decorrente da atmosfera espiritual que sujeita toda a nação a viver em extrema miséria e ignorância. Por isso, pensar em atuar na educação foi também, nos posicionarmos como combatentes espirituais, pedindo para que o Espírito Santo guiasse nossas ações, facilitasse a compreensão da equipe e dos professores, por haver grandes diferenças culturais e nos fortalecesse espiritualmente. Somos gratas a Deus por cada vez mais, despertar pessoas dispostas a lutar por esta causa.

Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.

Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.Efésios 6:12-13

Isabela Barros, em nome da equipe brasileira.

Karina despedindo de professores

Aprendendo na prática como apresentar novas letras para crianças pequenas: caminhando sobre o desenho no chão.

Trabalho prático em grupo!