2012__377_abril

52
377 ABRIL 2012 Retrato em preto-e-branco de MAZZAROPI, um sofisticado travestido de caipira PÁGINA 34 VIDAS MIKE WALLACE Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa PÁGINA 3 UMA DOR QUE NÃO PODE SER SILENCIADA! PÁGINA 28 Décio Sá, mais um jornalista silenciado LIBERDADE DE IMPRENSA PÁGINA 30 Anselmo Duarte: só ele foi consagrado em Cannes MEMÓRIA PÁGINA 20 O Apolinho Washington há meio século no ar DEPOIMENTO PÁGINA 18 Jurandyr Noronha enche a sua ficção de realidade ROMANCE PÁGINA 3 UMA DOR QUE NÃO PODE SER SILENCIADA! Professor que foi torturado pela ditadura militar diz que o regime de exceção repetiu a brutalidade sempre presente na História nacional. MUNIR AHMED

Upload: associacao-brasileira-de-imprensa-abi

Post on 10-Mar-2016

318 views

Category:

Documents


13 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: 2012__377_abril

377ABRIL2012

Retrato em preto-e-branco de MAZZAROPI, um sofisticado travestido de caipira PÁGINA 34

VIDAS MIKE WALLACE

Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

PÁGINA 3

UMA DOR QUENÃO PODE SERSILENCIADA!

PÁGINA 28

Décio Sá, mais umjornalista silenciado

LIBERDADE DE IMPRENSA

PÁGINA 30

Anselmo Duarte: só elefoi consagrado em Cannes

MEMÓRIA

PÁGINA 20

O Apolinho Washingtonhá meio século no ar

DEPOIMENTO

PÁGINA 18

Jurandyr Noronha enchea sua ficção de realidade

ROMANCE

PÁGINA 3

UMA DOR QUENÃO PODE SERSILENCIADA!

Professor que foi torturado pela ditadura militar diz que o regime deexceção repetiu a brutalidade sempre presente na História nacional.

MU

NIR

AH

MED

Page 2: 2012__377_abril

2 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

DESTAQUES

TERROR SEM LIMITES 03 ESPECIAL - Os horrores da tortura nos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

porões da ditadura - Parte 2

11 MEMÓRIA - Uma visita inesperada,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

por Rodolfo Konder

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

13 DOCUMENTÁRIO - Risos e palmas para João Saldanha

14 PUBLICAÇÃO - A Columbia Journalism Review

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

agora no Brasil

15 REFLEXÕES - A Arte e seu repentino clarão,

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

por Fábio Lucas

16 TELEVISÃO - Há vida inteligente no

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

telejornalismo brasileiro

18 LANÇAMENTO - Romance de Jurandyr Noronha

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

faz um passeio pela História

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

20 DEPOIMENTO - Fala, Apolinho!

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

30 MEMÓRIA - A Palma de Anselmo Duarte

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

33 IMPRENSA - Todas as cores da notícia

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

34 CENTENÁRIO - Mazzaropi, o jeca virou cult

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

36 DEPOIMENTO - Renato Teixeira

38 MÚSICA - Conjunto Época de Ouro: 50 anos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

promovendo o choro

41 RELATÓRIO DA DIRETORIA - Um ano de ações da ABI

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

em defesa da liberdade e da ética na vida pública

SEÇÕES

120ACONTECEU NA ABIAssembléia aprova por aclamação o Relatório

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

da Diretoria 2011-2012

28 LIBERDADE DE IMPRENSA

A morte de Décio Sá, o 5º jornalista

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

assassinado desde fevereiro de 2011

29 DIREITOS HUMANOS

Uma Comissão da Verdade

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

já em atividade na Câmara

40 VIDAS

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Mike Wallace

EDITORIAL

MAURÍCIO AZÊDO

O JORNAL DA ABI ENRIQUECE com esta edi-ção o conjunto de reportagens e entrevistas queproduziu e publicou em sua Edição 376, de marçopassado, para demonstrar com abun-dância e precisão de pormenores cri-mes cometidos pelos agentes da dita-dura militar 1964-1985, que não po-dem ser recobertos pela penumbra doesquecimento de que falava o escritorargentino Júlio Cortázar, em razão dadimensão numérica que esses delitos alcança-ram e da crueldade com que foram consuma-dos. Nunca se prendeu, torturou e se matoutanta gente quanto nessas duas décadas deterror sem limites, nem se conheceram prece-dentes em nossa História de tanta brutalida-de, tanta impiedade e tanto desprezo pela cri-atura humana. Como comunidade, o Brasilviveu um horrível e doloroso pesadelo.

UM DOS ENTREVISTADOS DESTA Edição 377,o Professor Rubim de Aquino, uma das vítimasda repressão desapiedada, lembra sem rancorque a violência contra os despossuídos, oprimi-dos e contestadores é um dos fortes traços danossa evolução histórica, que se deu sem a cor-dialidade enaltecida por pensadores da impor-tância de Sérgio Buarque de Holanda e sem aharmonia de classes tão exaltada por um estu-dioso da respeitada qualificação de GilbertoFreyre. Aquino arrola um sem-número de exem-plos que comprovam a sua afirmação ao longode séculos. Nossa História tem sabor amargoe marcas de sangue.

AO PUBLICAR ESTE INVENTÁRIO parcial doscrimes da ditadura, como outros que merece-ram a necessária ênfase em nossas páginas, a

ABI quer mais uma vez reafirmar seuempenho em que esses crimes igno-miniosos sejam revelados em toda asua inteireza, através de investigaçõescuja efetivação se afigura tardia, pelacondescendência com que os autoresde tantas torpezas foram e ainda são

tratados. Com os torturadores não pode havertransigência, nem perdão, nem esquecimento,como equivocadamente entendeu há dois anoso Supremo Tribunal Federal, acatando uma infelizproposta do então Ministro Eros Grau.

COMO SUSTENTOU EM RECENTE sessão o Con-selho Deliberativo da Casa, uma providênciaque se reclama é a constituição imediata da Co-missão Nacional da Verdade, criada por lei san-cionada em novembro passado e até agora, pas-sados cinco meses, carecedora do interesse doGoverno em fazer que a vontade do legislador,refletindo um clamor nacional, passe de sim-ples declaração no papel para a realidade dasações concretas.

NESTE MÊS DE ABRIL FAZ 48 anos que se ins-talou no País a ditadura militar que promoveutantos crimes e semeou tanta dor e luto. Nãohá por que esperar mais para fazer justiça aosque morreram e àqueles que sobreviveram aoreinado de terror implantado no mais funesto1º de abril da nossa existência nacional.

O OLHAR DE DALCIO Publicado no Correio Popular, de Campinas (SP) em 22 de abril.

LEONARDO VILLAR E GLÓRIA MENEZES EM O PAGADOR DE PROMESSAS, DE 1962.

MAZZAROPI EM O VENDEDOR DE LINGUIÇAS, DE 1961.

Page 3: 2012__377_abril

3JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

ESPECIAL

POR ARCÍRIO GOUVÊA NETO

As violências praticadas pela ditadura militar 1964-1985 são a prova de que é um mito a propalada versão, tãorepetida até parecer que é verdadeira, de que o brasileiro é um ser cordial, afirma o historiador Rubim de Aquino.

OS HORRORES DA TORTURANOS PORÕES DA DITADURA

“A VIOLÊNCIA É UMA CONSTANTENA HISTÓRIA DO BRASIL”

ubim Santos Leão de Aquino, ex-preso político, professor, sin-dicalista, ex-Vice-Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais,comentarista de política da Rádio Bandeirantes e escritor, comdiversos livros editados sobre os anos da ditadura militar no Brasil,sendo o último Um Tempo Para Não Esquecer, analisa nesta lon-

ga entrevista os diversos organismos oficiais de implantação da torturano País e revela seus autores e parte de suas vítimas. Diz ele:

“Um dos mitos existentes a respeito da sociedade brasileira refere-seao ser pacífico que é o homem brasileiro. Sempre repetida pelos segui-dores da História oficial, só que essa afirmativa é falsa e de tanto sermartelada nas escolas e universidades acaba por passar como verdadei-ra. Na verdade, a violência foi uma constante na evolução da nossa so-ciedade. Estava presente no extermínio dos índios pelos portugueses;existiu no tratamento dado aos escravos africanos, arrancados de suas

terras de origem a ferro e fogo, no sofrimento nos navios negreiros edepois nas mãos dos senhores de terras. Era habitual no Brasil Colôniae no Império a prática de atrocidades contra os de baixa condição social.

A justiça colonial, ao condenar eventuais rebeldes, usava uma expres-são que nos intriga como historiadores: ‘Portanto, condenam o réu Jo-aquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, a que seja condu-zido pelas ruas públicas ao local da forca e nela morra morte naturalpara sempre’. Morrer de morte natural era morrer sem torturas. Em-bora não houvesse tortura – pelo menos na hora do enforcamento – asentença determinava fosse a cabeça de Tiradentes cortada e expostaem local público de Vila Rica (atual Ouro Preto) com o seu corpo dividi-do em quatro quartos pregados em poste pelo caminho de Minas Ge-rais. E o que é pior, contra outros movimentos de contestação ao regi-me vigente, adotou-se usualmente prática semelhante.

R

PARTE 2

MU

NIR

AH

MED

Page 4: 2012__377_abril

4 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

o conhecido e terrível pau-de-arara, tão amplamente utiliza-do nos porões da ditadura mili-tar? Pois bem, esse aparelhinho,que a ditadura brasileira até ex-portou para uso em outros paí-

ses, foi criado no século XVII pelos ri-quíssimos oligarcas Garcia D’Ávila parapunir os escravos na Bahia. A prática decortar a cabeça dos adversários derrota-dos, usada por militares na Guerrilha doAraguaia, vem de longe. Antônio Morei-ra César, coronel do Exército e coman-dante da terceira campanha contra Ca-nudos, era conhecido pela alcunha deCorta-Cabeças. Esse cognome devia-se aofato de haver mandado cortar a cabeça demil adversários vencidos na RevoluçãoFederalista (1893-1895). Aplicou a usu-al gravata vermelha, quando, da cabeçacortada, a língua pendia, como se forauma gravata.

Esses exemplos, e eu poderia citarcentenas, caminharam lado a lado coma História do Brasil. Assim, não é surpresanenhuma que antes do golpe militar po-liciais e militares fossem enviados parafazer no exterior cursos de tortura e in-terrogatório. Esses cursos funcionavamna Academia Internacional de Polícia, emWashington, ou no quartel do ForteGullick, no Panamá. Havia ainda outrosquartéis nos Estados Unidos, como oForte Bragg, o Forte Leavenwort e oForte Benning.

O primeiro professor norte-america-no de tortura a chegar ao Rio de Janeiro,em 1960, chamava-se Daniel A. Mitrio-ne, que também atuou em Belo Horizon-te. Mais conhecido por Dan Mitrioneconseguiu importar ‘instrumentos detrabalho’ no valor de 100 mil dólares. OCoojornal de novembro de 1979 tem umamatéria que diz em um certo trecho: ‘OsEstados Unidos gastaram dois bilhões dedólares para treinar e equipar forças po-liciais brasileiras a partir de 1964, atravésde um programa da Agência Internacio-nal para o Desenvolvimento. O progra-ma, coordenado pela Secretaria de Segu-rança Pública, já propiciou treinamentoa cem mil policiais, 1/6 dos efetivos po-liciais do Brasil’.

Com relação à Escola das Américas, oGeneral Hugo Abreu diria: ‘Em fins de1970, enviamos um grupo de oficiais doI Exército à Inglaterra para aprender o sis-tema inglês de interrogatório. O méto-do consistia em colocar o prisioneiro emuma cela sem qualquer contato com omundo exterior. Os carcereiros eram ins-truídos a deixar o prisioneiro até 18 ou 24horas sem alimentos; depois dava-se oalmoço e, após uma hora, o jantar’. Cons-tituía-se em uma técnica de desestrutu-ração psicológica, inclusive com o prisi-oneiro perdendo a noção do tempo emque vivia. O desequilíbrio psicológico erade tal monta que o prisioneiro ficava fra-gilizado ao ser interrogado.

Esse sistema inglês foi introduzidoentre nós pelo General Sílvio Frota, en-tão Comandante do I Exército. Apesardisso, Frota ganhou fama de ser contrá-rio a torturas nos presos políticos. Ao

todo, durante o regime militar, foram310 tipos de torturas, físicas e psicológi-cas. Torturadores brasileiros foram iden-tificados atuando no Uruguai, no Chilee no Paraguai, por ocasião dos golpes.Isso, antes mesmo da Operação Condor,criada oficialmente em 1974. É precisodeixar claro que nem todos os torturado-res foram pessoas marcadas por um sadis-mo congênito. Essa é uma idéia simplis-ta. Na verdade, em geral, constituíam-sede pessoas comuns que agiam a serviçode uma política de Estado. Eram motiva-dos freqüentemente pela possibilidadede obter recompensas diversas: meda-lhas, prêmios, gratificações, promoções.Eram pessoas que rotineiramente mer-gulhavam nas práticas de sevícias aopreso, chegando mesmo a ficar insensí-veis aos gritos de agonia das vítimas sel-vagemente torturadas.

A Folha de S. Paulo publicou no dia 4de maio de 2008 uma entrevista com oGeneral francês Paul Aussaresses, queafirmou ter sido instrutor de torturas

para oficiais brasileiros no Centro deInstrução de Guerra na Selva, em Ma-naus, no ano de 1975. A professora deHistória Derlei Catarina de Luca desco-briu nos arquivos do Dops do Paraná umdocumento confidencial intitulado In-terrogatório, emitido pelo Gabinete doMinistro do Exército, General OrlandoGeisel, no Governo Médici (1969-1974).Esse documento confirmava efetiva-mente que a tortura era utilizada comoinstrumento da política de repressãocontra os que se opunham ao regime.

Um artigo do Jornal do Brasil de 10 dedezembro de 1978 registra: ‘Primeirotorturavam-se aqueles que combatiam oregime de armas na mão e praticavamatos terroristas. Depois, aqueles que porqualquer meio lhes foram solidários. Emseguida, os que tinham qualquer ligação,ainda que pessoal, com subversivos. Es-gotada essa área, quando o espectro datortura já rondava a sociedade política doPaís, utilizava-se qualquer pista para ate-morizar jornalistas, intelectuais, estu-dantes universitários e políticos. Qual-quer um podia ir preso e, preso, qualquerum podia ser torturado’.

UM SERVIÇOFEDERAL ENGAJADO

NAS TORTURASUm marco importante no contexto a

serviço da repressão no Brasil foi a cria-ção do Serviço Federal de Informações eContra Informações, o Sfici. Ele era te-oricamente subordinado ao Conselho deSegurança Nacional e foi montado peloCoronel Humberto de Souza Melo, peloMajor Geraldo Knock, pelo CapitãoRubens Bayama Denys e pelo Delegadoda Polícia Federal José Henrique Soares.Todos os quatro estiveram em Washing-ton, às expensas do Governo norte-ame-ricano e recebendo a orientação do fun-cionamento da Central InteligenceAgency (Cia) e do Federal Bureau ofInvestigation (FBI) em sua obsessãoanticomunista.

Ao retornar ao Brasil, os quatro con-taram com a assessoria de Alfred Pease,agente da Cia, que permaneceu no Riode Janeiro por mais de um ano. Duas dasquatro subdivisões do Sfici, a Subseçãode Segurança Interna (SSSI) e a subseçãode Operações (SSOP) encarregavam-sede vigiar pessoas e entidades mediante osmais variados métodos para cumprirsuas missões. Em 1961, o Sfici passou acontar em suas fileiras com o CoronelGolbery do Couto e Silva. A 29 de no-vembro de 1961, passou a funcionaroficialmente o Instituto de Pesquisas eEstudos Sociais (Ipes), que teve Golberycomo um dos seus principais dirigentes.O Ipes se posicionava frontalmente con-tra o Governo João Goulart, ao mesmotempo que apregoava reunir homens denegócios e intelectuais civis e militaresa favor da internacionalização da nossaeconomia, além de receber generosos re-cursos financeiros da Embaixada dosEstados Unidos, então dirigida por Lin-coln Gordon.

Um dos órgãos mais abomináveiscriados pelo regime militar foi o ServiçoNacional de Informação (SNI). De lásaíram dois Presidentes da República: osGenerais Emílio Garrastazu Médici eJoão Batista Figueiredo. O General Otá-vio de Aguiar Medeiros, que tambémdirigiu o SNI, estava escalado para ocu-par a Presidência da República, mas seuenvolvimento em escândalos frustrou

suas ambições. Na prática, o SNI, apeli-dado de Serviço Nacional da Intriga, con-verteu-se em uma agência de espiona-gem dos cidadãos. Seu principal idealiza-dor foi o General Golbery do Couto eSilva, que ao deixar o Gabinete da Presi-dência da República, em 1981, declarou:‘Criei um monstro’.

O SNI chegou a utilizar cerca de 200mil homens em todo o País e se tornouo núcleo central do Sistema Nacional deInformações e Segurança. Até ser extintono Governo Collor (1990-1992), conse-guiu acumular portentoso arquivo comfichas de mais de 250.000 pessoas, con-tendo informações sobre ‘atividades sub-versivas’, ‘comportamento suspeito’ ouenvolvimento em ‘transações ilícitas’.

CENIMAR: UMAHIDRA COM

MUITAS CABEÇASO Serviço Secreto da Marinha foi um

dos mais eficientes, preservados e sigilo-sos órgãos de informações e repressão daditadura militar. Sua existência era poucoconhecida, raramente aparecendo namídia. Inspirou-se em um modelo in-glês e suas operações eram tão camufla-das que nem o comandante e nem a tri-pulação de embarcações da Marinha deGuerra conheciam quem era o agentesecreto do Cenimar a bordo. Com o tem-po, formou-se a tradição de que essesagentes eram traidores da corporação e aoserem conhecidos tornavam-se impopu-lares na tropa. Sua central de operaçõesencontrava-se no quinto pavimento doprédio do Ministério da Marinha, no Riode Janeiro. O Cenimar chegou a fazerações de repressão juntamente com aequipe do Delegado Sérgio Fleury, alémde atuar em centros clandestinos de tor-tura de presos políticos.

O Cenimar pode ser comparado àmitológica Hidra de Lerna: um monstrodotado de muitas cabeças, cujo hálitopestilento matava as pessoas. Nesse pa-vimento de que falei, no Ministério daMarinha, ficava o local onde eram tortu-rados os que tinham a infelicidade de cairnas garras dos esbirros do Cenimar. Esseórgão, de fato, sem estardalhaço, obteveresultados produtivos que infligiramdevastadoras baixas nas fileiras das orga-

EESPECIAL OS HORRORES DA TORTURA NOS PORÕES DA DITADURA

AO TODO, DURANTE OREGIME MILITAR, FORAM

310 TIPOS DE TORTURAS,FÍSICAS E PSICOLÓGICAS.TORTURADORES

BRASILEIROS FORAM

IDENTIFICADOS ATUANDO

NO URUGUAI, NO CHILE ENO PARAGUAI, POR

OCASIÃO DOS GOLPES.ISSO, ANTES MESMO DA

OPERAÇÃO CONDOR.

ALCYR CAVALCANTI

Aquino: O pau-de-arara foi criado no século XVII na Bahia para punição dos escravos.

Page 5: 2012__377_abril

5JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

nizações guerrilheiras adversárias daditadura militar. Um dos seus coman-dantes foi o Contra-Almirante JoaquimJanuário de Araújo Coutinho Neto.

Choques elétricos, bofetões, telefone,sabão em pó nos olhos e inúmeras outrasatrocidades eram aplicadas pelos elegan-tes homens de branco, que fora dali pa-reciam lordes isentos de qualquer suspei-ta. Os torturadores faziam questão deserem chamados de Doutor, embora aquase totalidade não tivesse cursadonenhuma universidade. Sabe-se que inú-meros haviam cursado apenas a Escoladas Américas.

UMA SUCURSAL DOINFERNO: OS PORÕESDO SERVIÇO SECRETO

DA AERONÁUTICAO ensandecido anticomunista Briga-

deiro João Paulo Moreira Burnier rece-beu do Presidente Artur da Costa e Silvaa incumbência de montar o ServiçoSecreto da Aeronáutica, principalmentepor ter feito cursos na Escola das Améri-cas. Coube a Burnier, por algum tempo,comandar esse órgão, que funcionava naBase Área do Galeão. Em 1970, foi bati-zado com o nome de Centro de Informa-ções e Segurança da Aeronáutica (Cisa).Também dispunha de arquivo a respeitode cidadãos considerados suspeitos, decentros legais de tortura e assassinato depresos e realizava pesquisas sobre ques-tões diversas, disso resultando relatóriosou não.

Em junho de 1975 o Cisa encami-nhou ao SNI o seguinte documento:

“Se o governo não dispuser ou nãopuder utilizar os instrumentos adequa-dos à neutralização dessas organizaçõesde esquerda é possível que, em futuropróximo, repressão violenta tenha de serempregada, sob condições ainda maisadversas, como aconteceu no Chile e naArgentina, ou estaremos correndo o riscode uma revolta, aparentemente, para arestauração das liberdades democráticas,mas terminando sob o domíniocomunista, como aconteceu emCuba e em Portugal.”

Pelos porões dessa sucursal doinferno passaram muitos presospolíticos. Nem todos saíramcom vida. Poucos foram removi-dos para a Casa da Morte, em Pe-trópolis, ou para a Polícia doExército, onde acabaram truci-dados ou perderam a vida. Seusintegrantes, dotados de uma iro-nia de picadeiro de circo de quin-ta categoria, batizaram-no como angelical nome de Paraíso. Porlá passaram Liliana Wainberg, doMR-8, barbaramente torturada,que teve os ossos da bacia que-brados. Macabro fim tiveramGerson Theodoro de Oliveira,Maurício Guilherme da Silvei-ra e Ivan Mota Dias, todos daVPR (Vanguarda Popular Revo-lucionária) e Celso Gilberto deOliveira, Antônio Joaquim deSouza Machado e Carlos Alber-

to Soares de Freitas, os três também daVPR, os quais, após serem seviciados noParaíso, foram levados para a Casa daMorte, em Petrópolis. Nesse antro doholocausto acabaram assassinados.

Nesse paraíso do inferno cheirando asangue, entre tantos, morreu StuartEdgard Angel Jones. Stuart foi tortura-do durante todo o dia 14 de junho de1971. À noite, com o corpo coberto deesquimoses, foi amarrado à traseira deum jipe da Aeronáutica, com o rostopróximo ao cano de descarga do veículo,e arrastado pelo pátio interno. Segundoo depoimento de outros presos políticosdaquela unidade de torturas e assassina-tos, por algum tempo ouviu-se a voz,cada vez mais fraca, de um Stuart mar-tirizado e agonizante, até escutarem oscomentários dos guardas do Cisa: ‘Stu-art já era, virou comida pra peixe’.

A estilista Zuzu Angel, mãe de Stuart,acabou assassinada em 14 de abril de1976, embora a versão oficial tenha sidodesastre de automóvel. Antes disso, elamoveu céus e terras, buscando seu filho.Fazia um roteiro todos os dias, idênticoao que faziam milhares de mães peloBrasil, numa cena patética de uma Divi-na Comédia Tupiniquim. Para ela Virgí-nia Valli fez estes versos, que acabaram de-dicados também a todas as outras mães:Procurei-o e não o encontrei,Vou levantar bem cedo e corrertoda a cidade.Nas ruas, nas praças, vou procuraraquele que meu coração busca.Procuro e não o encontro.Só gente armada vigiando a cidade.Mas eu pergunto: viram aqueleque meu coração busca?

Zuzu Angel foi lembrada tambémpor Chico Buarque, na música Angélica:Quem é essa mulherQue canta sempre esse estribilhoSó queria embalar meu filhoQue mora na escuridão do mar.

O CIE, DO EXÉRCITO:UMA TERRÍVEL

FORÇA REPRESSIVADurante o Governo do General Artur

da Costa e Silva criou-se o Centro deInformações do Exército (CIE), idealiza-do pelo então Ministro do Exército Au-rélio de Lyra Tavares. As chefias dos Ge-nerais Milton Tavares de Souza (1969-1974) e Confúcio Danton de Paulo Ave-lino Pamplona (1974) transformaram oCIE em uma terrível força repressiva,inclusive estimulando a multiplicaçãode centros atuantes à margem da lei,como aconteceu com a ‘Casa da Morte’,em Petrópolis, e a ‘Casa Azul’, centropropulsor de torturas e execuções deguerrilheiros no Araguaia.

O CIE se opôs à “abertura lenta, graduale segura” do Governo Geisel e em outroinforme quis tomar para si a prerrogati-va de comandar o AI-5. Acusava, ainda,o Conselho Indigenista Missionário deser um órgão ligado ao comunismo in-ternacional e de defender os direitoshumanos e os movimentos de libertação.Em extenso relatório informava que 63integrantes da Polícia Militar de SãoPaulo eram integrantes do PCB e, sur-preendentemente, ainda acusava o Sar-gento Zaqueu Alves de Oliveira, lotadono Doi-Codi de São Paulo entre os anosde 1972 e 1973, de ser um agente comu-nista infiltrado. E comunicava tambémque a morte do Segundo-Tenente JoséFerreira de Almeida, conhecido comoPicareta, havia sido por suicídio, em 8 deagosto de 1975.

OPERAÇÃOBANDEIRANTES:CARTA-BRANCAPARA TORTURAR

Meu caro, são tantos os órgãos envol-vidos com torturas e mortes naquelestempos escuros que em vez de uma repor-tagem essa matéria vai dar um livro.Creio que ainda não falei da OperaçãoBandeirantes (Oban), vinculada ao IIExército, em São Paulo. Ela constitui-se noprimeiro órgão de repressão diretamenteinstruída com carta-branca para torturare matar quando fosse necessário, segun-do os desejos do Estado terrorista. Foi lan-çada oficialmente em 1º de julho de 1969,na capital paulista, em ato público com aspresenças do Comandante do II Exército,General José Canavarro Pereira; do Go-vernador de São Paulo, Roberto Costa deAbreu Sodré, e pelo secretário de Seguran-ça Pública, Hely Lopes Meirelles.

Para sua manuten-ção recorreu-se aoempresariado brasi-leiro e estrangeiro. Peri Igel, proprietárioda Supergel (grupo petroquímico), forne-cia refeições congeladas. A Folha da Tar-de e a Folha de S. Paulo davam coberturajornalística ocultando as violências daOban. Bancos, grupos industriais e co-merciais contribuíam com somas emdinheiro e prêmios por guerrilheiro mor-to. A Ford, a GM e a Volkswagen forneci-am automóveis. A Ultragás emprestavaveículos para campanhas ou transportede presos. Também forneciam armas,compradas até nos Estados Unidos. Rapi-damente o órgão associou-se ao Delega-do Sérgio Fleury e seus bad boys do Esqua-drão da Morte. E tentaram uma artima-nha: arregimentar ex-guerrilheiros ofe-recendo vantagens e até salários.

Nessa instituição de tortura e morteaté crianças foram seviciadas. Houvecasos de presos que ficaram incomunicá-veis por mais de seis meses. Dentre ospresos torturados e assassinados na Obancitam-se Virgílio Gomes da Silva, OlavoHansen e Raimundo Eduardo da Silva.Por lá também passou Frei Tito de Alen-car Lima, brutalmente e continuada-mente torturado que acabou se suicidan-do na França, onde vivia exilado, para pôrfim a seus imensos sofrimentos.

OS DOI-CODI,AUTÊNTICAS GESTAPOS

TUPINIQUINSSegundo o advogado paulista Mário

Simas, os Doi-Codi foram instituídos porum decreto secreto do Governo Médici,mais uma violência legislativa do terro-rismo ditatorial, até hoje não esclareci-da à Nação. Esta excrescência surgiu dosconfins do inferno no segundo semestrede 1970, no Rio de Janeiro, São Paulo (emsubstituição à Oban), Recife e Brasília.Um ano depois apareceram em Belo Hori-zonte, Curitiba, Salvador e Fortaleza. Ode Porto Alegre só passaria a funcionarem 1974.

O Doi-Codi do Rio de Janeiro funcio-nava no 1º Batalhão de Polícia do Exérci-to, na Rua Barão de Mesquita, Tijuca.Esta unidade, de 1964 a 1979, foi denun-ciada 753 vezes por crimes de tortura,mutilação, assassinato, estupro e terrorpsicológico. Essas verdadeiras Gestapostupiniquins, geralmente comandas pormajores ou tenentes-coronéis do Exérci-to, incluíam, contudo, pessoal da Mari-nha, da Aeronáutica, da Polícia Militar eda Polícia Civil, além de outros colabo-radores. Quase sempre também exigiamserem chamados de doutor.

As humilhações e sevícias aos seqües-trados freqüentemente começavam logonas vias públicas. Prosseguiam ao chegarà ante-sala do inferno, quando eramobrigados a ficar inteiramente nus evestir um macacão imundo manchadode sangue e terminava em um festival deofensas e torturas. Era prática rotineiranos Doi-Codi o desrespeito total à vidahumana. Os presos, inúmeras vezes,eram executados em meio a tiroteios

CHOQUES ELÉTRICOS,BOFETÕES, TELEFONE,SABÃO EM PÓ NOS OLHOS

E INÚMERAS OUTRAS

ATROCIDADES ERAM APLICADAS

PELOS ELEGANTES HOMENS

DE BRANCO, QUE FORA DALI

PARECIAM LORDES ISENTOS

DE QUALQUER SUSPEITA.

MU

NIR

AH

MED

FOLH

APRESS

Corajosa e inconformada, a estilista Zuzu Angel denunciouo assassinato de seu filho Stuart em exposição de moda

que fez nos Estados Unidos. Foi também assassinada.

Page 6: 2012__377_abril

6 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

forjados, suicídios inventados, atropela-mentos armados, acidentes falsificados,e por aí vai. O desprezo por vidas huma-nas inocentes era tão manifesto e corri-queiro que crianças e mulheres grávidastambém sofreram as maiores atrocidades.

Muitos agiam assim estimulados porseus comandantes. O General Vicente dePaula Dale Coutinho, prócer da linha-dura militar, assim se referiu ao GeneralHumberto de Souza Melo, que o antece-dera no Comando do II Exército, emjaneiro de 1971: ‘Eu vi em São Paulo, ejustiça se faça ao Humberto. Quandocomeçou a diminuir o terror, porque aordem dele era matar. Esse General Hum-berto, uma vez visitando o Doi-Codi deSão Paulo, disse: ‘Matem os terroristas,matem os carteiros que entregam suascorrespondências. Matem os familiares,amigos, seja lá quem for. Só não quero quemorra nenhum de vocês’.

Naquele prédio da Rua Barão de Mes-quita, 425, dezenas de crimes hediondosforam cometidos. Leonardo Valentinpassou por lá em 1973 e ao ser solto exi-lou-se em Paris, onde se suicidou, com ostraumas provocados pelas torturas. Látambém morreu Mário Alves de SouzaVieira, em 1970, dirigente do PCBR,torturado até a morte, inclusive com umcassetete de madeira com estrias enfiadoem seus ânus e perfurando seus intesti-nos. Um caso famoso ocorrido ali é o doex-Deputado federal Rubens BeirodtPaiva, preso em janeiro de 1971, além daesposa e de uma filha de 15 anos, todoslevados para suas dependências. Paiva foibrutalmente torturado naquele porão daditadura até ser assassinado na Casa daMorte, em Petrópolis. Os ex-MajoresJoaquim Pires Cerveira e João BatistaRita, presos na Argentina, foram vistospela última vez no pátio desse Doi-Codi.

Na outra sucursal do inferno do Doi-Codi, a de São Paulo, palco de monstruo-sas e hediondas torturas a centenas depresos políticos, sob o comando dos Ma-jores Carlos Alberto Brilhante Ustra(1970-1974) e Audir Santos Maciel foramarmados dezenas de teatrinhos (como elesmesmo chamavam) para mascarar a causamortis das vítimas. No contexto daOperação Radar, montada contra mili-tantes ou simpatizantes do PCB, morre-ram sob tortura José Ferreira de Almei-da, em 8 de julho de 1975; Vladimir Her-zog, em 25 de outubro de 1975, e Mano-el Fiel Filho, em 17 de janeiro de 1976. Aversão, como sempre, embasada em lau-dos médicos forjados, foi suicídio porenforcamento. Em circunstâncias idênti-cas morreu também o militante do PCBPedro Jerônimo de Souza no Doi-Codi doCeará, em 17 de setembro de 1975.

OS CENTROS SECUNDÁRIOSDE TORTURA E MORTE

Mas havia outros centros envolvidoscom a bestialidade da tortura, como aClínica Marumbi, implantada no Para-ná, em setembro de 1975, para apuraçãode supostas atividades do Partido Co-munista Brasileiro. Eles seqüestrarammais de uma centena de políticos eformaram o maior processo da Históriado Paraná, tendo como dirigente o Co-ronel Waldir Coelho. Era comum nesselugar ouvir-se os berros do CapitãoMerici Rogério Flores, o Doutor Adolfo,proclamar: ‘Nem o presidente da Repú-blica conseguirá tirar vocês daqui, poisnós estamos acima do poder constituí-do’. Sua marca registrada era servir umabrutal quantidade de açúcar no café damanhã e uma comida imensamentesalgada no almoço, como forma de pres-são psicológica no preso.

O Batalhão Paissandu, do Corpo deFuzileiros Navais, localizado na Ilha dasFlores, Rio de Janeiro, era outro local deterror, violência e verdadeiros massacresde presos políticos. Um dos mais odiadospelos carniceiros torturadores foi o jo-vem Jean Marc Van der Weid, Presiden-te da União Nacional dos Estudantes-Une, que ficou preso lá de 1969 a 1971,sofrendo horríveis e humilhantes tortu-ras que o deixaram praticamente surdo,e foi libertado em troca do embaixadorda Suíça, seqüestrado pela resistência àditadura. Em 8 de dezembro de 1969,quinze presas políticas enviaram carta aoCardeal Arcebispo do Rio de Janeiro,

Dom Jaime de Barros Câmara, denunci-ando as atrocidades ali cometidas.

Não se pode deixar de citar o Cenimarde São Conrado, nas proximidades doantigo Hotel Nacional, ao lado da Fave-la da Rocinha, logo após a saída do TúnelDois Irmãos, no Rio de Janeiro. O co-mando desse centro clandestino de tor-tura possivelmente coube ao Capitão-de-Corveta Armando Amorim do Vale.Por lá também passaram o DelegadoFleury e seus bad boys. Nesse lugar tortu-raram e mataram o guerrilheiro da ALNEduardo Collen Leite, o Bacuri. Benja-mim de Oliveira Torres, o Pato Rouco,outro militante da ALN, de lá sumiu enunca mais apareceu.

Em São Paulo existiram entre 1973 e1975 várias dessas sucursais do inferno,como eram chamadas. A primeira ficavaem uma casa à beira da Estrada da Gran-ja, 20, em Jardim Santa Cecília, na cida-de de Itapevi, e era chamada de Colina.Oito dirigentes do PCB morreram lá,todos barbaramente torturados e assas-sinados. Depois passou para uma fazen-da, à beira da Rodovia Castelo Branco. Nobairro do Ipiranga também houve umcentro clandestino de torturas, ondetambém morreram militantes da ALN.

Quem não se lembra da Casa dosHorrores, na aprazível e acolhedora For-taleza? Este centro clandestino de vio-lências arbitrárias estava localizado pró-ximo à Lagoa do Cumbuco, nos arredo-res de Fortaleza. Era um prédio de doispavimentos, cercado por alto muro. Di-versos prisioneiros, principalmente doPCB, foram ali torturados e mortos.

Também há que ser mencionada aFazenda 31 de Março, no bairro do Embu-ra, na região de Parelheiros, na GrandeSão Paulo. Esta central do terror era diri-gida pelo temível Delegado Sérgio Fleu-ry, também conhecido como Papa, Dou-tor Barreto, Júpiter I e Doutor Barreto Vi-digal. Muitos padres foram ali tortura-dos, dentro da Operação Batina Branca,que visava a desmoralizar a Igreja Cató-lica, cuja oposição à ditadura militarvinha crescendo. Nessa operação inva-diu-se o Convento dos Dominicanos,possibilitando assim que fosse armada acilada e a morte do líder guerrilheiroCarlos Marighella, na Alameda CasaBranca, na noite de 4 de novembro de1969. Existiu ainda por algum tempouma ramificação do Doi-Codi na RuaTutóia, em São Paulo, apelidada de Casada Vovó e Tutóia Hilton.

Com a finalidade de interrogar, tor-turar e executar os guerrilheiros doPCdoB, presos na Guerrilha do Ara-guaia, foi instalada nessa região do Es-tado do Pará a Casa Azul, que original-mente pertencera ao Incra. Localizava-se em uma área isolada, à beira do RioItacaiunas, nas proximidades de Mara-bá. Pouco importava se o guerrilheirohouvesse sido preso ou se se entregasse,fosse mulher ou homem; a ordem doGoverno era não deixar ninguém vivo.

Na Bahia, de gloriosas tradições, hou-ve uma conjuntura marcada por vio-lenta repressão, ainda que pouco conhe-

cida, alicerçada em três pilares do regi-me militar: Antônio Carlos Magalhães,o Toninho Malvadeza, o General Adyr Fi-úza de Castro e o Coronel Carlos Alber-to Brilhante Ustra, famigerado perse-guidor de presos políticos no Doi-Codi/SP e que ressurgiu em Salvador comoDr. Antônio. Seqüestrados e encapuza-dos, os presos eram levados para a Fazen-dinha, na cidade de Alagoinhas, próxi-mo à capital baiana.

Em Minas Gerais havia a Escola deTorturas em Ganhães, conhecida comoEscola de Contraguerrilha de Imbiru-çu, a 270 quilômetros de Belo Horizon-te, e certamente treinada por DanielMitrione, agente da Cia. Ele chegou ausar mendigos como cobaias para en-sinar técnicas de tortura a atentos alu-nos, em Belo Horizonte. Em depoimen-to publicado no Jornal do Brasil em 16de dezembro de 1992, o ex-cabo da PM/MG Antônio Casemiro da Silva afir-mou que freqüentou a escola de Ga-nhães, localizada na Fazenda Guarani:‘Segundo o cabo, a eliminação de ter-roristas com a ocultação de cadáveresera defendida por seus instrutorescomo uma ação necessária para a salva-guarda do sistema. (...). Os alunos eramselecionados nos cursos de formação daPM entre os melhores de cada classe elevados para a Fazenda’.

Também se ensinava tortura no Co-légio Militar de Belo Horizonte, quandoesteve sob o comando do Coronel deArtilharia Otávio de Aguiar Medeiros,em 1969. Nesse estabelecimento de en-sino exemplar secular do Exército Brasi-leiro ensinava-se tortura usando presospolíticos como cobaias, como o professorJosé Antônio Gonçalves Duarte, em 1970,que foi torturado e espancado diante deum auditório lotado de oficiais e sargen-tos impecavelmente fardados. Em Goi-ânia também existiu um centro clandes-tino de tortura, desde 1964, tendo comopólo o 10º Batalhão de Caçadores. Fica-va em uma casa da Vila Militar ou emum matagal próximo ao stand de tiro, aoito quilômetros de Goiânia.

Por último, não podemos terminar essarelação sem falar num lugar medonho,localizado no final da Rua Artur Barbosa,668, no bairro do Caxambu, em Petrópo-lis, região serrana do Rio de Janeiro, cha-mada Casa da Morte. O nome já fala porsi. Era um braço secreto do Doi-Codi/RJe do CIE, para funcionar como local detortura e morte de presos políticos, tam-bém chamado de Codão. Os militaresserviam lá sob o comando do Coronel de

AS HUMILHAÇÕES E SEVÍCIAS

AOS SEQÜESTRADOS

FREQÜENTEMENTE

COMEÇAVAM LOGO NAS VIAS

PÚBLICAS. PROSSEGUIAM AO

CHEGAR À ANTE-SALA DO

INFERNO, QUANDO ERAM

OBRIGADOS A FICAR

INTEIRAMENTE NUS E VESTIR

UM MACACÃO IMUNDO

MANCHADO DE SANGUE ETERMINAVA EM UM FESTIVAL

DE OFENSAS E TORTURAS.ERA PRÁTICA ROTINEIRA NOS

DOI-CODI O DESRESPEITO

TOTAL À VIDA HUMANA.

MATEM OS TERRORISTAS, MATEM OS CARTEIROS

QUE ENTREGAM SUAS CORRESPONDÊNCIAS. MATEM

OS FAMILIARES, AMIGOS, SEJA LÁ QUEM FOR.”

ESPECIAL OS HORRORES DA TORTURA NOS PORÕES DA DITADURA

NEM O PRESIDENTE

DA REPÚBLICA

CONSEGUIRÁ TIRAR

VOCÊS DAQUI, POIS NÓS

ESTAMOS ACIMA DO

PODER CONSTITUÍDO.”‘

Page 7: 2012__377_abril

7JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

“A NAÇÃO TEM O DIREITO DE SABERO QUE ACONTECEU COM SEU PASSADO”

O Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rioquestiona: a quem interessa o fechamento desses arquivos?

O Desembargador Manoel Al-berto Rebêlo dos Santos, Presi-dente do Tribunal de Justiça doEstado do Rio, é categórico aoexigir a abertura dos arquivos daditadura militar: “Já passou até dahora”. E completa: “A nação temo direito de saber o que aconteceucom o seu passado. É o direito ina-lienável de um povo”.

Humano e afetuoso, dedican-do atenção a todos no tratamentodiário da justiça, provando que asimplicidade é sinônimo de sabe-doria e inteligência, Manoel Alber-to alarga a visão sobre o assuntocom lucidez e experiência:

“Pergunto: a quem interessa ofechamento a sete chaves dessesarquivos? É claro que somenteàqueles que praticaram a barbá-rie. E esses são minoria, não representam as Forças Arma-das em sua totalidade, mas prejudicam a imagem de umacorporação, porque na verdade esse procedimento, decerta forma, leva a pensar numa implicação geral. O quepassa para a História é que todos estavam envolvidos comtorturas, mortes e prisões, e não foi nada disso. Volto a di-zer, apenas uma parte dos militares se propôs a adotar mé-todos medievais para calar as consciências neste País, no

infantaria Francisco Homem de Carva-lho. Sabe-se que dois membros da equipeque ali ‘trabalhava’ eram especialistas emretalhar o corpo de presos assassinados: osoldado da Polícia Militar do Rio de Janei-ro Jarbas Fontes, o Pardal; e o Cabo FélixFreire Dias, o Dr. Magno ou Dr. Magro.

Lá morreram esquartejados no mes-mo dia David Capistrano, Walter Ribei-ro de Souza e José Roman, dirigentes doPCB. E ainda Celso Gilberto de Oliveira,Maurício Guilherme da Silveira, GersonTheodoro de Oliveira, Ivan Motta Dias,Aluísio Palhano Pedreira, Heleni TellesFerreira, Walter Ribeiro Novais, JoséRaimundo Costa, Mariano Joaquim daSilva, Carlos Alberto Soares, AntônioJoaquim Machado, Paulo de Tarso Celes-tino Silva, Ana Rosa Kucinski, WilsonSilva, Marilene Vilas-Boas, Victor LuizPapandreu, Rubens Paiva e possivelmen-te Tomás Antônio da Silva Meireles eIssami Nakamura Okano.

Para se ter uma idéia daquele circo dehorrores vou citar um trecho do livro daTaís Morais Sem Vestígio: Revelações deum Agente Secreto da Ditadura MilitarBrasileira: (...). O que o sargento Joa-quim Arthur Lopes de Souza viu, aoentrar, tirou seu fôlego. Não, não podiaser verdade (...). Era sangue por todo olado, impregnando o ambiente comaquela textura pegajosa do processo decoagulação (...). Chocado, sem articularuma só palavra, o estômago engulhado,percebeu que as partes amontoadasnum canto estavam a ponto de seremcolocadas em sacos plásticos (...). Levan-tou a cabeça em direção a algo pendura-do em ganchos. A princípio não distin-guiu bem o que era. Um tronco, dividi-do ao meio. As costelas de Capistranopendiam do teto e ele, reduzido a peda-ços, como se fosse uma carcaça de ani-mal abatido, pronta para o açougue’.

O ALTO COMANDOSABIA DAS ATROCIDADESEstamos vendo agora dezenas de

manifestações contra a Comissão daVerdade, inclusive aquela insolente doClube Militar, assinada por um dosmaiores próceres da linha-dura, o Coro-nel reformado Carlos Alberto BrilhanteUstra, e o recente depoimento do Gene-ral Luiz Eduardo de Rocha Paiva, emuma entrevista à jornalista Mirian Lei-tão, da Rede Globo, de que não tem co-nhecimento oficial de tortura e o queexiste são notícias na mídia. Ora, entãoas autoridades civis e militares do regimemilitar não tinham consciência de quemilitares e policiais brasileiros enviadosao exterior faziam cursos em centros detreinamento cujos programas incluíamo ensino de metódos científicos de interro-gatório, ou seja tortura?

Como aceitar declarações de que atortura e a morte de presos políticos fos-sem conseqüência não controladas deuma guerra civil? Que guerra havia? Issofoi apenas um estratagema criado por elespara poder justificar as mortes, sob a ale-gação de que “numa guerra vale tudooupelo menos quase tudo”. Como admi-

tir passivamente que tais práticas cou-bessem unicamente a pessoas psicologi-camente desequilibradas? Como con-cordar em que integrantes das ForçasArmadas, tão ciosas da tradicional hie-rarquia militar, se mostrassem desaten-tas a manifestas atrocidades cometidaspor seus subordinados?

Em duas oportunidades, pelo menos,comprovou-se que o Governo Geisel en-dossava, porque sabia, o extermínio deopositores. Em uma delas, o General Vi-cente de Paula Dale Coutinho (1910-1974), Ministro do Exército, declarou: ‘Eufui obrigado a tratar esse problema desubversão lá e tive que matar, tive quematar’. Em outra ocasião, o próprio Gei-sel afirmou, em conversa com o Tenente-Coronel de artilharia Germano ArnoldiPedrozzo, chefe da sua segurança: ‘E nãoliquidaram não? (...) O que se tem a fazernessa hora é agir com muita inteligênciapara não ficar vestígio nessa coisa’.

Mas há uma terceira comprovação,esta do então Coronel de cavalaria, João

DESEMBARGADOR MANOEL ALBERTO

período em que durou a ditadu-ra militar”.

Rebêlo acredita que a aberturados arquivos seria uma declaraçãodos militares à sociedade brasileirade que não têm mais nada a es-conder: “Quem não deve nãoteme. Creio que essa abertura pro-varia uma atitude de boas inten-ções, de transparência. Seria comouma mensagem de que os tempossão outros e de que aqueles nãomais voltarão”.

“O DIREITO DEINFORMAR ESTÁ

ACIMA DO CIDADÃO”O Presidente do Tribunal de

Justiça considera fundamental oacesso de todos à informação:

“O direito de informar é umdireito disponível do ser humano, está acima do cidadão. Odireito à informação é um bem mundial, pertence a toda aHumanidade. O que acontece em nosso País é que, quandoele contraria interesses, principalmente políticos, não inte-ressa que apareça. Não existe ninguém, nenhuma corpo-ração, órgão público ou entidade privada que possa se apos-sar da informação ou tentar manipulá-la e impedir que sejadivulgada à sociedade.”

Batista Figueiredo, em conversa com oCoronel de infantaria José Luiz CoelhoNeto: ‘(...). Assisti no mês passado uminterrogatório de um preso com muitobom resultado. O desgraçado estavapendurado num pau-de-arara e aí resol-veram enfiar um cassetete, assim comoeste – segurou com a mão esquerda umbastão de madeira que se encontravaem cima de uma mesa – e enfiaram norabo do cara. Ele gritou, se sacudiu todo,

mas continuou sem falar. Então, come-çaram a enrabar o cara com o cassetetee porrada em cima e não demorou mui-to pra que ele abrisse o bico e começas-se a falar por mais de uma hora. Sabe,Coelho Neto, tudo depende de como agente faz a coisa, ninguém resiste, nin-guém é de ferro’.

É preciso ficar claro que esses centrossão apenas os mais conhecidos, porquena verdade foram dezenas e dezenas es-palhados pelo Brasil e se eu citasse todosnão caberiam no espaço desta entrevis-ta. Há, por exemplo, notícia de que emRecife, na Avenida dos Guararapes, ondehoje existe imenso prédio dos Correios,funcionava por aquele tempo o prédiodo SNI. Consta que no subsolo houveum centro clandestino de tortura. EmOlinda também, desde abril de 1964existia outro centro clandestino de tor-tura e morte, conhecido como Colônia deFérias, comandado pelo Major de infan-taria Walter Moreira Lima. Temos provasainda de que...Bem, por ora, chega!”

POUCO IMPORTAVA SE OGUERRILHEIRO HOUVESSE

SIDO PRESO OU SE SE

ENTREGASSE, FOSSE MULHER

OU HOMEM; A ORDEM DO

GOVERNO ERA NÃO DEIXAR

NINGUÉM VIVO.

ALCYR CAVALCANTI

Page 8: 2012__377_abril

8 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

No documentário Perdão, Mister Fiel,do jornalista e cineasta Jorge Oliveira,sobre a morte do operário Manoel FielFilho, ocorrida nas dependências do Doi-Codi de São Paulo, em janeiro de 1976, odepoimento do ex-agente do órgão Ma-rival Chaves revela com incrível exati-dão e clareza o cenário em que se movi-am os personagens de um pestilentomundo de prisões, torturas e mortes. Eraum mundo sem regras nem limites emque a lei era a impunidade e o arbítrio, aindiferença e o desdém. Um mundo emque o mais forte, obcecado por ideologiasoriundas de lavagens cerebrais, esmagavasem nenhum sentimento de piedadepelo ser humano seus mais nobres ideaisde liberdade e democracia. Um mundoem que a vida valia menos do que o cafe-zinho tomado entre uma tortura e outra.Como ele descreve:

“O enforcamento do Herzog (Vladi-mir), aquela fotografia clássica, quandoele aparece dependurado numa ‘teresa’,na linguagem dos cárceres, sugerindoque teria se suicidado não correspondecom a verdade, ele foi morto.

O episódio da Lapa (no qual foram as-sassinados vários integrantes do PCdoB)foi conseqüência de um ‘infiltrado’ noPartido, do qual não me ocorre o nomeagora, controlado pelo Doi do I Exército.Bem, com as informações do I Exércitoresolveu-se desencadear uma operaçãoconjunta para derrubar essa grande reu-nião que deveria ocorrer em São Paulo,no bairro da Lapa. O Doi do Rio de Janei-ro levou o ‘infiltrado’ para São Paulo e odeixou em condições de ser acolhido pelaestrutura do Partido e ‘internalizado’ noaparelho. Quando ‘fechou’, fechou-se ogrupo de pessoas que deveria 'derrubar'essa reunião de cúpula do PCdoB e foi oque a História conhece. Houve tiroteio,mortes dos integrantes que reagiram,‘reagiram’ entre aspas, não é?, e morre-ram. No entanto, alguns saíram vivos,foram levados para o Doi, interrogadose no descuido da turma de interrogató-rio que o estava conduzindo de um lugarpra outro ele (João Batista Drumond)escalou uma torre, se jogou de lá e mor-reu no pátio do Doi.

O Doi, como órgão de repressão legal-mente constituído, mantinha duas es-truturas: uma estrutura clandestina, quedesenvolvia operações clandestinas eoutra legal. Bem, se tinha um dirigente

marcado pra morrer, quem ia investigar,com o objetivo de descobrir as atividadesilegais daquele dirigente, era a clandes-tina. Estou sendo claro. Aqueles legais, oumedianamente legais, que poderiamaparecer, esses eram presos por uma equi-pe de ‘busca’. Que era a responsável pelo‘estouro’ dos ‘aparelhos’ e das prisõesmais ou menos legais, porque não haviaprisão legal, na realidade.

Prisão com ordem judicial, com man-dado de busca e apreensão, isso não exis-tia. Era o arbítrio puro e simples e depoisa barbárie. Essas pessoas que 'entravam'legalmente ou semilegalmente eramconduzidas a um interrogatório à vistade todos; todos no órgão sabiam queessas pessoas estavam ali sendo interro-gadas. Quando aconteciam os excessos eeventualmente as pessoas morriam,outra estrutura era encarregada de 'lega-lizar' a morte.

O torturador é aquele indivíduo quetem a mente impregnada dos ensina-mentos doutrinários. Eu passei pela Es-cola Nacional de Informações, hojeAbin, e aprendi todos esses métodos e fuisubmetido também a lavagem cerebral,capaz de ver em um indivíduo um ini-migo que a ditadura pintava como ofe-recendo risco à segurança nacional.Então era dessas informações que anossa mente estava impregnada.Agora, eu diferencio esse tortu-rador daquele sujeito que temvocação não é pra tortura,não; ele tem vocação pramatar. Ele tem o instin-to ruim, ele tem obses-são pra matar.

Eu sempre fui analista, eu estudavadocumentos, para através dos resultadosdas análises construir relatórios quepudessem subsidiar a continuidade dasoperações. A morte de Herzog e do Ma-noel deveu-se a um erro crasso das pes-soas que conduziram o interrogatóriodeles porque a repressão atuava naque-le instante sem medir conseqüência.Morrer mais um ou menos um, maisimportante ou menos importante, nãofazia a menor diferença. O arbítrio, aimpunidade, o pode tudo levavam os in-terrogadores a cometer toda a sorte deexcessos e esses excessos provocaram amorte do Herzog e do Manoel, deles ede outras pessoas.

Os cabeças do Doi-Codi eram o Co-ronel Aldir Santos Maciel, o CoronelDalto Cirilo, que era o chefe da turmade busca e apreensão, e um terceiro co-ronel que, se se suicidou ou não, não seie nem quero fazer juízo de valor a res-peito, o Ênio Pimentel da Silveira. Essaseram as pessoas que formavam a cúpu-la do Doi-Codi naquela ocasião. Houvea queda da Voz Operária no Rio, a VozOperária foi desmantelada. Aí o Partido(o PCB) encarregou o Montenegro de irpara São Paulo e criar uma nova estru-tura para voltar a editar o jornal. O Doidescobriu, porque já havia matado umasérie de gente do PCB, descobriu e pren-deu esse rapaz.

Coincidentemente, Orlando da RosaSilva Bonfim havia sido preso no Rio deJaneiro e pelo que eu sei esses dois rapa-

AS CONFISSÕES DOAGENTE MARIVAL

“A repressão atuava sem medir conseqüência. Morrer maisum ou menos um, não fazia a menor diferença”, contou um

dos seus quadros no documentário Perdão, Mister Fiel.zes foram mortos com injeções na veiade matar cavalo aplicadas pelo CoronelAldir Santos Maciel. O Franklin Martinsescapou da morte porque ele teve umencontro à noite, por volta das 18 horas,com os jornalistas que eu não tenhocerteza se eram o Aton Fon Filho ou oirmão dele, Antônio Carlos Fon. Muitobem, a equipe que os estava seguindoabandonou um deles e passou a perse-guir o Franklin Martins, porque ele esta-va marcado pra morrer. Ele então perce-beu que estava sendo seguido, fugiudesesperadamente naquele trânsito caó-tico de São Paulo e conseguiu escapar.

Métodos científicos de tortura fo-ram cada vez mais desenvolvidos no pe-ríodo que durou a ditadura militar.Muitos torturadores deixaram seusnomes nas páginas repugnantes da His-tória do Brasil. Um dos mais importan-tes, sem dúvida, é o Delegado SérgioFleury, uma espécie de Torquemada daditadura militar. Fleury levou a tortu-ra para as celas do Dops de São Paulo,situado no Bairro da Luz, no prédio ondefica hoje o Memorial da Resistência.

Outro lugar de tortura em São Paulo foio Doi-Codi do Bairro Paraíso. Os pri-

sioneiros chegavam às mãos deFleury e dos seus homens já es-

pancados e feridos, sangrandoe muitas vezes agonizantes.

Ali eram pendurados nopau-de-arara, recebendo

descargas elétricas,além de socos, ponta-

pés, afogamentos.Com o tempo, aspráticas ficaramcada vez maisbrutais.”

ESPECIAL OS HORRORES DA TORTURA NOS PORÕES DA DITADURA

ERA UM MUNDO SEM REGRAS

NEM LIMITES EM QUE A LEI

ERA A IMPUNIDADE E OARBÍTRIO, A INDIFERENÇA EO DESDÉM. UM MUNDO EM

QUE A VIDA VALIA MENOS DO

QUE O CAFEZINHO TOMADO

ENTRE UMA TORTURA E OUTRA.

MU

NIR

AH

MED

Page 9: 2012__377_abril

9JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Os métodos de tortura recebiam diversos nomes simbólicos.Entre eles os mais comuns registrados e confirmados são:

PAU-DE-ARARAO preso era posto nu, abraçando os

joelhos e com os pés e as mãos amarra-das. Uma barra de ferro era atravessadaentre os punhos e os joelhos. Nesta po-sição a vítima era pendurada entre doiscavaletes, ficando a alguns centímetrosdo chão. A posição causava dores atro-zes no corpo. O preso ainda sofria cho-ques elétricos, pancadas e queimadurascom cigarro. Este método de tortura jáexistia na época da escravidão, sendoutilizado em várias fases sombrias daHistória do Brasil.

CADEIRA DO DRAGÃOOs presos eram sentados nus em uma

cadeira elétrica, revestida de zinco, ligadaa terminais elétricos. Uma vez ligado, ozinco do aparelho transmitia choques atodo o corpo do supliciado. Os tortura-dores complementavam o mecanismosinistro enfiando um balde de metal nacabeça da vítima, aplicando-lhe choquesmais intensos.

CHOQUES ELÉTRICOSO torturador usava um magneto de

telefone, acionado por uma manivela;conforme a velocidade imprimida, adescarga elétrica podia ser de maior oumenor intensidade. Os choques elétricoseram desferidos na cabeça, nos membrossuperiores e inferiores e nos órgãos geni-tais, causando queimaduras e convul-sões, fazendo muitas vezes o preso mor-der a própria língua. As máquinas usadasnesse método de tortura eram chamadasde “maricota” ou “pimentinha”.

BALÉ NO PEDREGULHOO preso era posto nu e descalço em

local com temperatura abaixo de zero,sob um chuveiro gelado, tendo no pisopedregulhos com pontas agudas, que per-furavam os pés da vítima. A tendência dotorturado era pular sobre os pedregulhos,como se dançasse, tentando aliviar a dor.Quando ele “bailava”, os torturadoresusavam da palmatória para ferir as par-tes mais sensíveis do seu corpo.

TELEFONEEntre as várias formas de agressões

que eram usadas, uma das mais cruéis erao vulgarmente conhecido como “telefo-ne”. Com as duas mãos em posição côn-cava, o torturador, a um só tempo, apli-cava um golpe violento nos ouvidos davítima. O impacto era tão violento, que

rompia os tímpanos do torturado, fazen-do-o perder a audição.

AFOGAMENTO NACALDA DA VERDADE

A cabeça do torturado era mergulha-da em um tambor, balde ou tanque cheiode água, urina, fezes e outros detritos. Anuca do preso era forçada para baixo, atéo limite do afogamento na “calda da ver-dade”. Após o mergulho, a vítima ficavasem tomar banho vários dias, até que oseu cheiro ficasse insuportável. O méto-do consistia em destruir toda a auto-es-tima do torturado.

AFOGAMENTO COM CAPUZ(WATERBOARDING)

A cabeça do preso era encapuzada eafundada em córregos ou tambores deáguas paradas e apodrecidas. O prisionei-ro, ao tentar respirar, tinha o capuz mo-lhado a introduzir-se nas suas narinas,levando-o a perder o fôlego, produzindoum terrível mal-estar. Outra forma deafogamento consistia nos torturadoresfecharem as narinas do preso, pondo-lhe,ao mesmo tempo, uma mangueira ouum tubo de borracha dentro da boca,obrigando-o a engolir água.

MAMADEIRA DE SUBVERSIVOEra introduzido na boca do preso um

gargalo de garrafa, cheia de urina quen-te, normalmente quando o preso esta-va pendurado no pau-de-arara. Usandouma estopa, os torturadores comprimi-am a boca do preso, obrigando-o a engo-lir a urina.

SORO DA VERDADEEra injetado no preso pentotal sódico,

uma droga que produz sonolência e re-duz as inibições. Sob os efeitos do “soroda verdade”, o preso contava coisas quesóbrio não falaria. De efeito duvidoso, adroga pode matar.

MASSAGEMO preso era encapuzado e algemado,

o torturador fazia-lhe uma violentamassagem nos nervos mais sensíveis docorpo, deixando-o totalmente paralisa-do por alguns minutos. Violentas doreslevavam o preso ao desespero.

GELADEIRAO preso era posto nu em cela peque-

na e baixa, sendo impedido de ficar de pé.Os torturadores alternavam o sistema de

refrigeração, que ia do frio extremo aocalor exacerbado, enquanto alto-falantesemitiam sons irritantes. A tortura na“geladeira” prolongava-se por vários dias,ficando ali o preso sem água ou comida.

PRIVAÇÃO DO SONONo geral, a falta de sono pode resultar

em bocejo, confusão geral, depressão ner-vosa, desmaios, despersonalização / des-realização, diminuição da atividademental e concentração, dor de cabeça,dor nos músculos, fala sem sentido, hi-peratividade, hipertensão, impaciência,irritabilidade, lapso ou perda de memó-ria, náusea, olheiras, palidez, perda ouganho de peso, psicose, sintomas simila-res aos de intoxicação alcoólica, tempode reação reduzido, tontura, tremor nasmãos, visão embaçada, dentre outros.

PALMATÓRIAA palmatória era como uma raquete

de madeira, bem pesada. Geralmente,este instrumento era utilizado em con-junto com outras formas de tortura, como objetivo de aumentar o sofrimento doacusado. Com a palmatória, as vítimaseram agredidas em várias partes do cor-po, principalmente em seus órgãos geni-tais. Utilizava-se também o cassetete.

TORTURA SEM CONTATODesmoralizar e aterrorizar alguém a

ponto da vítima agradecer quando lheoferecerem a oportunidade de “confes-sar” qualquer coisa. Tanto faz se a con-fissão seja falsa ou verdadeira

PRIVAÇÃO SIMULTÂNEADOS SENTIDOS DE VISÃO,

AUDIÇÃO E TATOQuando o preso era submetido a vá-

rios aparelhos de tortura diferentes e aomesmo tempo. Cada um atingindo umórgão do corpo humano.

TORTURA TÉRMICASubmeter o preso a entrar em conta-

to com ferro em brasa, cadeiras escaldan-tes e aproximá-lo o mais perto possível dofogo (muito pouco usado).

TORTURA POR RUÍDOS E SONSUsada como uma forma de tortura

psicológica, pois passado um certo tem-po os ruídos e sons provocavam delíriosauditivos, parecidos com os da esquizo-frenia. Ela servia também como rebaixa-mento da auto-estima, já que, por exem-plo, pingos de água caindo 24 horas dodia dentro de um balde, na cela, faziamcom que o preso não conseguisse dormirou chegasse ao extremo da loucura.

AMEAÇAS DE MORTEMuito comum o seu uso, principal-

mente a presos que tinham famílias,com mulheres e filhos. As ameaças deque todos seriam mortos caso ele nãoconfessasse seus “crimes” eram diárias.

EMPALAMENTOConsistia em introduzir um cassete-

te ou cano através do ânus do tortura-

do. Caso fosse mu-lher, metia-se den-tro do cano um ca-mundongo, que ia aos poucos roendo asvísceras da supliciada.

COROA DE CRISTOFita de aço que ia sendo gradativamen-

te apertada, esmagando aos poucos ocrânio da vítima.

ESPANCAMENTO COMINSTRUMENTOS E/OU FORÇA

FÍSICAPrática muito comum. Incluem-se

aí: esbofeteamentos, pontapés em qual-quer parte do corpo, geralmente no fí-gado, rins e nos órgãos genitais. Váriostorturadores revezavam-se por horasnessa selvageria, sempre dois e três aomesmo tempo.

TORTURAS EMCOMPANHEIROS

O preso era obrigado a martirizar seuscompanheiros de cela ou propositalmen-te aqueles que eram seus amigos. Caso serecusasse, podia ser morto ou sofrer bru-tais maus-tratos. Comumente, levavam-se amigos encarcerados para assistir àsterríveis cenas.

FUZILAMENTO SIMULADOO preso era colocado em um paredão

e todo um cenário de fuzilamento erapreparado, levando em muitos casos aodesmaio ou a estados de desespero extre-mo. Um método com o mesmo efeito erao Enterro simulado, onde o preso assistiafazerem seu próprio enterro com caixãoe tudo. O efeito era devastador.

ARRANCAMENTO DEDENTES E UNHAS

Prática muito comum de tortura e queprovocava dores lancinantes na vítima.Em vários locais as feridas gangrenavampodendo levar à morte.

QUEIMADURA COM CIGARROSMétodo também muito usado. En-

quanto os torturadores faziam o interro-gatório iam apagando seus cigarros noscorpos das vítimas.

MORDIDAS DE CACHORROGeralmente aplicadas quando os locais

de tortura ficavam fora dos centros urba-nos. Mas jogavam-se em cima dos presostambém cobras, jacarés, baratas, ratos, etc.

PRODUTOS QUÍMICOSEra comum, de certa forma, jogar áci-

do na cabeça e no rosto dos torturados.

VIOLAÇÃO SEXUALUma das modalidades de tortura mais

usadas contra as mulheres. Praticamentequase todas sofreram estupro e toda sor-te de sevícia. Em centenas de casos foramos estupros praticados por dois, três ouquatro torturadores ao mesmo tempo.Poucos relatos apontaram para estuprosem homens; se houve, muitos, por vergo-nha, esconderam esta terrível verdade.

AS FORMAS DEMAUS-TRATOS

Page 10: 2012__377_abril

10 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

A Escola das Américas, responsáveldireta por todos os golpes de Estado e pelaimplantação de ditaduras militares naAmérica Latina nas décadas de 1960 e1970, a partir de 2001 passou a chamar-se Western Hemisphere Institute forSecurity Cooperation (WHINSEC) —Instituto do Hemisfério Ocidental paraa Cooperação em Segurança. A institui-ção, mantida pelos Estados Unidos, mi-nistra cursos sobre assuntos militares aoficiais de outros países.

Atualmente situada em Fort Ben-ning, Columbus, Georgia, a Escola foisediada de 1946 a 1984 no Panamá, ondese graduaram mais de 60.000 militares epoliciais de cerca de 23 países de Améri-ca Latina, alguns deles de especial rele-vância pelos seus crimes contra a Huma-nidade como os Generais Leopoldo For-tunato Galtieri, da Argentina, e Manu-el Antonio Noriega, do Panamá.

Este centro de propagação do terrorfoi inicialmente criado em Fort Amador,no Panamá, como parte da iniciativa daconhecida Doutrina de Segurança Naci-onal dos Estados Unidos. Sua denomina-ção inicial foi “Centro de Adestramen-to Latino-Americano - Divisão da Terra”,cuja missão principal era a de fomentarcooperação ou servir como instrumen-to para preparar as nações latino-ameri-canas a cooperar com os Estados Unidose manter assim um equilíbrio político econter a influência crescente de organi-zações populares ou movimentos sociaisde esquerda.

Alguns historiadores citam KlausBarbie, nazista e criminoso de guerra,como um dos possíveis colaboradoresdiretos ou indiretos da organização du-rante o regime do General Hugo Banzer,da Bolívia. Hugo Banzer foi graduado notreinamento na Escola das Américas.Klaus Barbie, fora anteriormente prote-gido e empregado pela agência de espio-nagem americana Counter IntelligenceCorps, que antecedeu à Cia (Central In-telligence Agency).

Em 1950 a escola mudou o seu nomepara United States Army CaribbeanSchool (Escola Caribenha do Exércitodos Estados Unidos) e foi transferida paraFort Gulick, também no Panamá. Nestemesmo ano, o espanhol foi adotadocomo língua oficial da academia. Em ju-lho de 1963, o centro reorganizou-se

jetivos como sendo o de conter e contro-lar indivíduos participantes em organiza-ções sindicais e de esquerda.

“ESCOLA DE ASSASSINOS”O jornal panamenho La Prensa a cha-

ma de “Escola de Assassinos”. Jorge Illu-eca, presidente do Panamá, chamou-a de“a base gringa para a desestabilização daAmérica Latina”. Em uma carta- abertadirigida em 20 de julho de 1993 ao Co-lumbus Ledger Enquirer, o Comandan-te Joseph Blair, antigo instrutor da Escoladas Américas, declarou: “Nos meus trêsanos de serviço na Escola nunca ouvinada sobre qualquer objetivo de promo-ver a liberdade, a democracia e os direi-tos humanos. O pessoal militar da Amé-rica Latina vinha a Columbus unicamen-te em busca de benefícios econômicos,

oportunidades para comprar bens dequalidade isentos de taxas de importaçãoe com transporte gratuito, pago com im-postos de contribuintes americanos”.

De acordo com o Senador democrataMartin Meehan (Massachusetts): “Se aEscola das Américas decidisse celebraruma reunião de ex-alunos, reuniria al-guns dos mais infames e notórios malfei-tores do hemisfério”.

Desde 1946 a Escola das Américas trei-nou mais de 60 mil militares da Argen-tina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,Costa Rica, Equador, El Salvador, Guate-mala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Pa-raguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Den-tre eles, destacam-se os assassinos deDom Oscar Romero e do bispo guate-malteco D. Juan Girardi, e de seis padresjesuítas e quatro americanos assassina-dos em El Salvador, em 1989.

Entre os graduados mais reconhecidosencontram-se importantes instigadoresde crimes de guerra ou contra a Huma-nidade, alguns deles também relaciona-dos estreitamente com os Esquadrões daMorte e ao crime organizado, bem comoligados à Cia. Alguns deles:

GGGGGENERALENERALENERALENERALENERAL M M M M MANUELANUELANUELANUELANUEL N N N N NORIEGAORIEGAORIEGAORIEGAORIEGA –Implantou uma ditadura militar no Pa-namá. Antigo colaborador da Cia, este-ve preso por vários anos nos Estados Uni-dos por sua relação com o narcotráfico.Continua preso, porém foi transferidopara o Panamá.

GGGGGENERALENERALENERALENERALENERAL H H H H HUGOUGOUGOUGOUGO B B B B BANZERANZERANZERANZERANZER – Res-ponsável pelo sanguinário golpe na Bolíviaem 1971 e sua subseqüente ditadura mili-tar, que se prolongou até 1978. Foi incluí-do em 1988 no Hall da Fama da Escola.

RRRRROBEROBEROBEROBEROBERTOTOTOTOTO D D D D D’A’A’A’A’AUBUISSONUBUISSONUBUISSONUBUISSONUBUISSON – Gradu-ado em 1972 e depois membro do servi-ço de inteligência de El Salvador, foi acu-sado de líder de Esquadrões da Morte,entre outros crimes e delitos.

GGGGGENERALENERALENERALENERALENERAL H H H H HÉCTORÉCTORÉCTORÉCTORÉCTOR G G G G GRAMAJORAMAJORAMAJORAMAJORAMAJO –Ex-ministro na Guatemala, autor de po-líticas militares genocidas nos anos 1980.

RRRRROBEROBEROBEROBEROBERTOTOTOTOTO E E E E EDUDUDUDUDUARDOARDOARDOARDOARDO V V V V VIOLAIOLAIOLAIOLAIOLA – Pro-motor do golpe de Estado na Argentinaem 1976.

LLLLLEOPOLDOEOPOLDOEOPOLDOEOPOLDOEOPOLDO F F F F FORORORORORTUNATUNATUNATUNATUNATOTOTOTOTO G G G G GALALALALALTIERITIERITIERITIERITIERI– Precursor da Guerra das Malvinas(1982), líder da Junta Militar da Argen-tina, supervisionou desde 1981 os doisanos finais da chamada “guerra suja”,durante a qual foram torturadas mais de100 mil pessoas e mais de 30 mil foramassassinadas e desaparecidas.

GGGGGENERALENERALENERALENERALENERAL G G G G GUILLERMOUILLERMOUILLERMOUILLERMOUILLERMO R R R R RODRÍODRÍODRÍODRÍODRÍ-----GUEZGUEZGUEZGUEZGUEZ – Responsável pelo golpe de Esta-do de 1972 a 1976 no Equador.

VVVVVLADIMIROLADIMIROLADIMIROLADIMIROLADIMIRO M M M M MONTESINOSONTESINOSONTESINOSONTESINOSONTESINOS – Ad-vogado, militar, colaborador inicial da Cia,responsável pelo serviço de inteligênciado Peru durante o polêmico Governo Al-berto Fujimori. Acusado de repressão po-lítica, incitador do golpe de Estado e de ar-recadar enorme fortuna graças a sua es-treita ligação com o narcotráfico.

Apesar de não haver confirmação ofi-cial, há informação de que também foramalunos da Escola das Américas AugustoPinochet, general e ditador chileno, eAnastasio Somoza, ditador da Nicarágua.

com o nome oficial de United StatesArmy School of the Americas (USArsa)ou. resumidamente, Escola das Améri-cas. Durante as décadas seguintes, coope-rou com vários Governos e regimes to-talitários e violentos.

Vários dos seus cursos ou adestramen-tos incluíam técnicas de contra insurgên-cia, operações de comando, treinamentoem golpes de Estado, guerra psicológica,intervenção militar, técnicas de interro-gação e tortura. Manuais militares deinstrução desses métodos, primeiramenteconfidenciais, foram liberados e publica-dos pelo Pentágono em 1996. Entre outrasconsiderações, os manuais davam deta-lhes sobre violações de direitos humanospermitidos, como, por exemplo, o uso datortura, execuções sumárias, desapareci-mento de pessoas, etc, definindo seus ob-

A ESCOLA DAS AMÉRICAS,UM CENTRO DE PEDAGOGIADA MORTE E DA TORTURA

Instituição mantida pelos Estados Unidos há mais de meio século dá cursos a militarese policiais da América, que nela aprendem a reprimir os movimentos progressistas.

ESPECIAL OS HORRORES DA TORTURA NOS PORÕES DA DITADURA

Entre os militares brasileiros citados como participantes de cur-Entre os militares brasileiros citados como participantes de cur-Entre os militares brasileiros citados como participantes de cur-Entre os militares brasileiros citados como participantes de cur-Entre os militares brasileiros citados como participantes de cur-sossossossossos da Escola das Américas, em diferentes momentos, são citados: da Escola das Américas, em diferentes momentos, são citados: da Escola das Américas, em diferentes momentos, são citados: da Escola das Américas, em diferentes momentos, são citados: da Escola das Américas, em diferentes momentos, são citados:• Capitão PM-MG AÉCIO FLÁVIO SILVEIRA COUTINHO• Capitão de Fragata ALFREDO DE MAGALHÃES• Tenente-Coronel PM-PR ALTEVIR LOPES• Major de artilharia BISMARCK BRACAHUY AMÂNCIO RAMALHO• Coronel aviador CARLOS ALBERTO BRAVO CÂMARA• Tenente-Coronel de cavalaria CARLOS SÉRGIO TORRES• Capitão-de-Mar-e-Guerra FN CLEMENTE JOSÉ MONTEIRO FILHO• Segundo Sargento CLODOALDO PAES CABRAL• Primeiro Sargento FRANCISCO RENATO MELLO• Tenente-Coronel engenheiro HÉLIO IBIAPINA LIMA• Segundo Sargento da Aeronáutica JOÃO FLÁVIO DE FREITAS COSTA• Coronel aviador JOÃO PAULO MOREIRA BURNIER• Segundo Sargento PM JOSÉ GOMES DA SILVA• Capitão aviador LÚCIO VALLE BARROSO• Capitão de intendência LUIZ ALBERTO DE SOUZA• Capitão da PM LUIZ SOUZA AGUIAR• Primeiro Sargento MAURO BATISTA LOBO• Capitão de cavalaria PAULO MALHÃES• Capitão aviador PAULO RUBENS SCHOLOENBACK• Terceiro Sargento SÉRGIO MAZZA DE AZEVEDO• Capitão de infantaria THAUMATURGO SOTERO VAZ• Terceiro Sargento UBIRAJARA ESCÓRCIO• Capitão de infantaria WALFRIDO SILVA

Como instrutores atuaram:Como instrutores atuaram:Como instrutores atuaram:Como instrutores atuaram:Como instrutores atuaram:• Tenente-Coronel de artilharia ANTÔNIO LEPIANE• Primeiro Tenente de infantaria JOSÉ FRANCISCO LAMAS PORTUGAL• Primeiro Sargento MOYSÉS THOMPSON DO NASCIMENTO

Os brasileiros da Escola

Page 11: 2012__377_abril

11JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

MEMÓRIA

POR RODOLFO KONDER

RODOLFO KONDER, jornalista e escritor, é Diretor da Representação daABI em São Paulo e membro do Conselho Municipal de Educação daCidade de São Paulo.

Uma visitainesperada

Em Bruxelas, encontrei meu irmão, Lean-dro, que dava aulas na Universidade deBonn. Ele estava exilado na Alemanha eveio até a capital belga para me ver. Abra-

çados e emocionados, fomos da Grand Place atéum pub e nos encharcamos de álcool. Bebemos umacerveja preta, preparada por monges belgas desdetempos bem distantes, já cobertos pela névoa. Per-corremos, inebriados, os caminhos comuns da in-fância e da adolescência, e os descaminhos igual-mente compartidos da militância política. Rimosde tudo, inclusive das desgraças. “O que nos sal-va”, ele concluiu, “é o senso de humor”.

Depois, estive em Paris, como parte da mesmaviagem estranha e inesperada. Hospedado no She-raton, andei pelas margens do Sena, desci aChamps-Elyseés, almocei no Faugeron, jantei noLe Pré Catalan, fiz compras na Rue de Rivoli. Pas-seei de barco sob algumas pontes: Alma, Invali-des, Concorde, Pont Neuf.

Cruzei o Atlântico num avião que fez escala emNova York, antes de chegar a Las Vegas, do outrolado do deserto. Durante três dias, ocupei um apar-tamento fantástico do Flamingo Hilton, com doisquartos e um salão, banheiro imperial e cozinha,quatro aparelhos de televisão e um computador.Tomava sol à beira das piscinas, fazia compras ejogava. Como era inevitável, perdi algum dinhei-ro – não muito, uns US$ 100, no máximo. Bron-zeado e feliz retornei ao Brasil, ao final daquelaviagem singular, feita a convite da ITT.

Quando Roberto Muylaert, então diretor da re-vista Visão, falou comigo sobre o convite, reagi comuma cautela “politicamente correta”.

“Fui convidado pela ITT”, ele disse, “a visitar suasinstalações em Bruxelas, Paris e Las Vegas, numaviagem de uns dez dias. Não posso aceitar, porquetenho outros compromissos. Você pode ir no meulugar, representando a revista?” “Posso?”

Andei por Bruxelas, Paris, Nova York, Las Vegas. Na volta,fiz um mergulho absurdo no Doi-Codi da Rua Tutóia.

Trabalhávamos na revista Visão com muita se-riedade e espírito profissional. Carlinhos Brickman,Ricardo Setti, Quartim de Moraes, João RicardoPenteado e outros jornalistas integravam a equi-pe comandada por Roberto Muylaert. Eu era o maisantigo, porque já estava na revista bem antes deSaid Farhat vendê-la a Henry Macksoud.

Cheguei de Las Vegas numa quinta-feira. SãoPaulo parecia alheia ao meu bronzeado. O aeroportode Guarulhos estava cheio de gente apressada. Fuipara casa – nesta época, outubro de 1975, eu mo-rava num apartamento na Alameda Tietê, nos Jar-dins. Havia um convite à minha espera: um jantarno Consulado da Inglaterra. Não fui. Se tivesse ido,ficaria sabendo pelo Vladimir Herzog, o Vlado, quetodos nós, inclusive eu, estávamos numa lista depessoas a serem presas. Vladimir e Marco AntônioRocha falaram sobre isso no jantar. “O que fazer?”perguntou Vladimir. “Vamos falar amanhã com oKonder”, respondeu Marco Antônio. Na manhã dodia seguinte, porém, não puderam falar comigo,porque, das sombras do destino e da ditadura mi-litar, outra surpresa me espreitava.

Dormi pesadamente, naquela noite, mas das pro-fundezas do sono pude ouvir a campainha da por-ta. Cambaleante, cheguei até lá. “Quem é?” “É a Po-lícia Federal. Abra, por favor”. Abri. “Sr. Rodolfo Kon-der?” “Eu mesmo”. “O senhor está preso. Queira nosacompanhar”. Dois agentes federais frios e robus-tos permitiram que me vestisse, desceram comigode elevador, atravessaram o hall de entrada – diantedo olhar perplexo do porteiro – e me empurrarampara dentro de uma Van. Então, um deles enfiou umcapuz preto na minha cabeça. “São ordens”, sussur-rou. Logo depois, levaram-me para um mergulhoabsurdo na voragem do Doi-Codi, na Rua Tutóia.

ELIA

NE

SOA

RES

Page 12: 2012__377_abril

12 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

DIRETORIA – MANDATO 2010-2013Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Tarcísio HolandaDiretor Administrativo: Orpheu Santos SallesDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretora de Assistência Social: Ilma Martins da SilvaDiretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn

CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage eTeixeira Heizer.

CONSELHO FISCAL 2011-2012Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, JorgeSaldanha de Araújo, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos Chesther de Oliveira e ManoloEpelbaum.

MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2011-2012Presidente: Pery CottaPrimeiro Secretário: Sérgio CaldieriSegundo Secretário: Marcus Antônio Mendes de Miranda

Conselheiros Efetivos 2011-2014Alberto Dines, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, Arthur José Poerner, DácioMalta, Ely Moreira, Hélio Alonso, Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Milton Coelho daGraça, Modesto da Silveira, Pinheiro Júnior, Rodolfo Konder, Sylvia Moretzsohn,Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros Efetivos 2010-2013André Moreau Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto MarquesRodrigues, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José GomesTalarico (in memoriam), Marcelo Tognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, MárioAugusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa e Sérgio Cabral.

Conselheiros Efetivos 2009-2012Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles,Fernando Segismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, JoséÂngelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães,Nacif Elias Hidd Sobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho.

Conselheiros Suplentes 2011-2014Alcyr Cavalcânti, Carlos Felipe Meiga Santiago, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas,

Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira daSilva (Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Salete Lisboa,Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães.

Conselheiros Suplentes 2010-2013Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, DanielMazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, SérgioCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

Conselheiros Suplentes 2009-2012Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (MiroLopes), Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, JordanAmora, Jorge Nunes de Freitas (in memoriam), Luiz Carlos Bittencourt, Marcus AntônioMendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo CoelhoNeto (in memoriam) e Rogério Marques Gomes.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIACarlos Felipe Meiga Santiago, Carlos João Di Paola, José Pereira da Silva (Pereirinha),Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Marcus Antônio Mendes de Miranda.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSPresidente, Lênin Novaes; Secretário, Wilson de Carvalho; Alcyr Cavalcânti, AntônioCarlos Rumba Gabriel, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro, Ernesto Vianna,Geraldo Pereira dos Santos,Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães,José Ângelo da Silva Fernandes, Lucy Mary Carneiro, Luiz Carlos Azêdo, Maria CecíliaRibas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu SantosSalles, Sérgio Caldieri e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIALIlma Martins da Silva, Presidente; Manoel Pacheco dos Santos, Maria do PerpétuoSocorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOConselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George BenignoJatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard e Reginaldo Dutra.

REPRESENTAÇÃO DE MINAS GERAISJosé Mendonça (Presidente de Honra), José Eustáquio de Oliveira (Diretor),CarlaKreefft, Dídimo Paiva, Durval Guimarães, Eduardo Kattah, Gustavo Abreu, José BentoTeixeira de Salles, Lauro Diniz, Leida Reis, Luiz Carlos Bernardes, Márcia Cruz eRogério Faria Tavares.

Jornal da ABI

O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.

Editores: Maurício Azêdo e Francisco [email protected] / [email protected] gráfico e diagramação: Francisco UchaEdição de textos: Maurício Azêdo

Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz,Conceição Ferreira, Guilherme Povill Vianna, Maria IlkaAzêdo, Ivan Vinhieri, Mário Luiz de Freitas Borges.

Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas(Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva.

Diretor Responsável: Maurício Azêdo

Associação Brasileira de ImprensaRua Araújo Porto Alegre, 71Rio de Janeiro, RJ - Cep 20.030-012Telefone (21) 2240-8669/2282-1292e-mail: [email protected]

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULODiretor: Rodolfo KonderRua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51Perdizes - Cep 05015-040Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960e-mail: [email protected]

REPRESENTAÇÃO DE MINAS GERAISDiretor: José Eustáquio de Oliveira

Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda.Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808Osasco, SP

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA

Jornal da ABI

ACONTECEU NA ABI

CATEGORIA INTERIORBRONZE: “Alto custo ‘freia’ o automobilismo”– Giovani Pagotto; O Fluminense.

PRATA: “Leandro eterno” – Leonardo Borgese Rafael Barros; Jornal Na Jogada.

OURO: Série: “Craques do Passado: aregião no mundo do esporte” – LeonardoBarros e Silva Souza, André Ricardo GomesCharret da Silva; Jornal O São Gonçalo.

CATEGORIA LITERATURABRONZE: Almanaque dos VelhosBrasileirões; Alexandre Mesquita eJefferson Almeida.

PRATA: 1981 – O Primeiro Ano do Resto deNossas Vidas; Maurício Neves de Jesus.

OURO: Gigantes do Futebol Brasileiro; JoãoMáximo e Marcos de Castro.

CATEGORIA RÁDIOBRONZE: “Vasco da Gama, campeão daCopa do Brasil” - Jorge Eduardo; Rádio Globo.

PRATA: “Emerson: a saída do Flu” - RafaelMarques; Rádio Globo.

OURO: “O futebol que ninguém vê” - FábioMorais e Gustavo Penna; Rádio Brasil/LBV.

CATEGORIA SITEBRONZE: “Cartolas em cozinha de hotel epedido de camarote: bastidores de Gaúcho

O Embaixador do Irã Mohamad AliGhanezadeh fez no dia 29 de março naABI uma conferência sobre o seu país e asituação no Oriente Médio a convite daAssociação dos Engenheiros da Petrobras-Aepet, que se fez representar na mesadiretora dos trabalhos por seu Presiden-te, Fernando Siqueira.

Tendo como intérprete o Adido Cul-tural da Embaixada, Ghanezadeh mante-ve um diálogo de cerca de três horas coma platéia, composta por cidadãos comunse especialistas em política internacional,entre os quais a jornalista Beatriz Bissio,que editou durante vários anos a revistaCadernos do Terceiro Mundo.

A conferência estava programada ini-cialmente para o Clube de Engenharia, masdivergências políticas e ideologicas entreassociados da entidade impediram que apalestra fosse feita lá.

Reunida no dia 26 de abril, a Assem-bléia-Geral da ABI aprovou o Relatório daDiretoria relativo ao exercício social2011-2012 e as Contas de Gestão do anocivil de 2011. Por proposta do Presiden-te da Assembléia, associado Sérgio Caldi-eri, a aprovação se deu por aclamação.

Após a abertura da sessão, secretariadapela associada Ilma Martins da Silva, oPresidente da ABI, Maurício Azêdo, fezuma exposição sobre as ações da Casa emdefesa da liberdade de expressão e da obser-vância da ética na vida pública. Maurícioreafirmou a preocupação da ABI diante damorte de jornalistas, como a de Décio Sá,abatido a tiros em São Luís do Maranhão nanoite do dia 23. Desde fevereiro de 2011,

Embaixador do Irã fala em casa cheiaAntes de se dirigir à Sala Belisário de

Souza, que ficou lotada por interessadosna palestra, o Embaixador Ghanezadeh foirecebido pelo Presidente da ABI, MaurícioAzêdo, e pelos Conselheiros Sérgio Caldi-eri, 1º secretário do Conselho da ABI, eMário Augusto Jakobskind, aos quais apre-sentou uma série de informações sobre oseu país e especialmente sobre os meios decomunicação do Irã, que conta com 17canais de televisão, mais de 400 jornais emais de mil revistas.

O jornal de maior expressão é O Jornaldo Cidadão, que tem uma circulação supe-rior a 1 milhão de exemplares. Conta ain-da o Irã com três canais de televisão vol-tados para o exterior e que transmitem suaprogramação em espanhol, inglês e árabe.

O Irã produz cerca de 110 filmes de fic-ção por ano e transmite atualmente mais de50 novelas nos canais de televisão do país.

Assembléia aprova por aclamaçãoo Relatório da Diretoria 2011-2012

Aprovadas também as Contas de Gestão do ano civil de 2011.

disse o Presidente, foram assassinados cincojornalistas em diferentes pontos do País.

Franqueada a palavra após a interven-ção de Maurício, discursaram os associa-dos Bernardino Capell, Geraldo Pereirados Santos, José Pereira da Silva (Pereiri-nha), Nivaldo Pereira e Jesus Chediak.

Suspensa após a votação, a Assembléia-Geral prosseguiu no dia 27, para eleiçãodo terço do Conselho Deliberativo parao mandato 2012-2015 e do ConselhoFiscal para o exercício social 2012-2013.

O Relatório da Diretoria, intituladoUm ano de ações da ABI em defesa da liber-dade de expressão e da ética na vida públi-ca, e as Contas de Gestão são publicadasnas páginas 41 a 50 desta Edição.

LÁUREA

João Máximo e Marcos de Castroganham o Prêmio João Saldanha

Vencedores na categoria Literatura com o livro Gigantes do Futebol Brasileiro,eles conquistaram também a principal distinção do certame criado pela

Associação dos Cronistas Esportivos-Acerj e apoiado pela ABI.

Os jornalistas João Máximo e Marcosde Castro, autores do livro Gigantes doFutebol Brasileiro, foram os ganhadores daprincipal láurea do Prêmio João Saldanhade Jornalismo Esportivo de 2001, cujosvencedores foram anunciados em con-corrida cerimônia na sede do Botafogo,na Avenida General Severiano. Os doishaviam ganhado o Prêmio Ouro na cate-goria Literatura; no clímax da solenida-

de, em 16 de abril, em que foram entre-gues os prêmios, ambos foram consagra-dos com a vitória no Grande Prêmio JoãoSaldanha, a categoria principal.

Promovido pelo Associação dos Cro-nistas Esportivos do Rio de Janeiro-Acerj,por iniciativa de seu Presidente, jornalistaEraldo Leite, e pela ABI, o Prêmio JoãoSaldanha, realizado pelo segundo anoconsecutivo, teve estes ganhadores:

no Fla – Vinícius Castro; Uol.

PRATA: “Aos 43” – Janir Júnior, RichardSouza, Thiago Correa; Globoesporte.com.

OURO: “Geração Moicano – a influência deNeymar e as novas tendências no futebolde base” – Cahê Motta; Globoesporte.com.

CATEGORIA JORNALBRONZE: “Tudo em família na colina (genrode Roberto Dinamite ganhou R$ 615 mil doVasco)” – Guto Seabra; Extra.

PRATA: Caderno: “30 anos do título mundialdo Flamengo” – Pedro Motta Gueiros, FábioJuppa, Miguel Caballero de Andrade, CarlosEduardo Mansur e Marceu Vieira; O Globo.

OURO: “Medalha de campeão brasileiro doFluminense é vendida na internet” –Marjorie Cristine; Extra.

CATEGORIA TELEVISÃOBRONZE: “Brasil Fora de Série/NovaFriburgo” – Thiago Gurjão / Sportv.

PRATA: “Gol de Placa” – Rubens Pozzi / TVESPN.

OURO: Ex-Traficante/Jogador” – CarlosMoreira / TV Record.

GRANDE PRÊMIO JOÃO SALDANHAGigantes do Futebol Brasileiro – JoãoMáximo e Marcos de Castro.

Page 13: 2012__377_abril

13JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

O público se esbalda de rir e em muitosmomentos faz sentir sua indignação ao ver ofilme que oferece uma visão multifacetada dojornalista e técnico que classificou a SeleçãoBrasileira para a Copa do Mundo de 1970.

Uma prolongada e calorosa salva depalmas saudou no Cine Odeon Petrobras,no Rio, no dia 3 de abril, a apresentaçãodo documentário João Saldanha, de AndréIki Siqueira e Beto Macedo, que mostraa densa e polêmica trajetória do jornalis-ta, comentarista esportivo de jornal, rá-dio e televisão, técnico da Seleção Brasi-leira de Futebol em 1969 e do Botafogo deFutebol e Regatas em 1957 e militante doPartido Comunista Brasileiro-PCB, a cujadireção nacional pertenceu. Os aplausosfinais repetiram o que sucedeu duranteinúmeros momentos da projeção, em queo público, esbaldando-se de rir diante defalas espirituosas ou entusiasmado comdeclarações contundentes de Saldanha,aplaudiu intensamente o documentário.

O filme acompanha o percurso de Sal-danha desde o Rio Grande do Sul, ondenasceu, até o seu falecimento durante aCopa do Mundo de 1990, na Itália, paraonde, já muito doente, embarcou numacadeira de rodas. Seu médico advertira queele se encontrava diante de uma opçãodifícil: ir à Copa, com risco de morrer, oumorrer aqui no Brasil, dentro de três me-ses. Apaixonado por futebol e preocupa-do em cumprir seus compromissos pro-fissionais, no Jornal do Brasil e na RedeGlobo de Televisão, Saldanha preferiuviajar. Voltou morto.

Produzido por Roberto Berliner eAlexandre Niemeyer, este do famoso Ca-nal 100, cujas imagens ilustram muitosmomentos do documentário, com produ-ção executiva de Rodrigo Letier e LorenaBondarovsky, coordenação de Paola Viei-ra, direção de fotografia e câmara de Mau-rizio D’Atri, montagem de Pedro Bronze trilha sonora de Sacha Amback, João Sal-danha revela aspectos pouco conhecidosda biografia dele, como sua participaçãocomo assistente político do PCB na guer-rilha de Porecatu, interior do Paraná,onde, no começo dos anos 1950, campo-neses sem terras enfrentaram com armasos jagunços dos latifundiários e a Políciado então Governador Moisés Lupion, etambém na greve geral dos trabalhadoresdo Estado de São Paulo em 1953.

Muito querido e admirado pelos diri-gentes sindicais, o jovem Saldanha, bemapessoado e galante, propôs casamento auma das líderes da greve, Maria Sallas,

DOCUMENTÁRIO

Risos e palmaspara “JoãoSaldanha”

mas esta prudentemente recusou a pro-posta: casar, somente de papel passado.Grande namorador, Saldanha casou cin-co vezes. Suas ex-mulheres, assim comoas suas três filhas e um filho, prestambelos depoimentos sobre ele.

Embora sem se limitar à atividade deSaldanha no campo do esporte, o docu-mentário contém cenas importantes desua atuação como técnico do Botafogo,campeão carioca de 1957 sob o seu coman-do, e como técnico da Seleção Brasileira deFutebol, que ele dirigiu nas eliminatóriasda Copa do Mundo de 1970 no México, le-vando-a à classificação. É mostrada em se-guida a crise que culminou com a sua de-missão, diante de sua recusa em convocaro jogador Dario, então centro-avante doClube Atlético Mineiro, como queria o di-tador General Emílio Garrastazu Médici.O público aplaude com vigor quando o fil-me mostra a reação de Saldanha numa en-trevista na época: “Eu e o Presidente temos

várias coisas em comum: ele é gaúcho,como eu, ele é gremista, eu também sou, eele gosta de futebol, como eu. Mas o Pre-sidente escala o seu Ministério e eu esca-lo a minha Seleção”.

Nesse ponto, de forma objetiva, semquerer induzir o espectador a essa conclu-são, João Saldanha mostra como a impren-sa, servil à ditadura militar, alimentou acrise que precederia a sua substituição pelotécnico Mário Jorge Lobo Zagalo, que logoconvocaria Dario, como queria o ditadorMédici. Mostra também, sem comentári-os, a sabujice diante da ditadura dos diri-gentes da então denominada CBF (Confe-deração Brasileira de Futebol), lideradospelo seu Presidente, João Havelange.

Ágil e num ritmo que prende o espec-tador, João Saldanha contém depoimen-tos de 57 pessoas entrevistadas sobre ele,várias delas apresentadas em atraentesflashes sob o título Histórias do João. En-tre esses depoimentos estão os de 20 jor-

nalistas, comunicadores de rádio e tele-visão ou publicitários: Alberto HelenaJúnior, Alberto Léo, Armênio Guedes,Carlos Alberto Vizeu, Doalcei Camargo,Ivan Alves Filho, Jaguar, José Carlos Ara-újo, José Machado, Juca Kfouri, LuizMário Gazzaneo, Luiz Mendes, Marce-lo Rezende, Maurício Azêdo, Paulo Stein,Sérgio Cabral, Villas-Bôas Corrêa e Wa-shington Rodrigues, citados aqui em or-dem alfabética e não na ordem em queaparecem no documentário.

Produzido pela TVZero em co-produ-ção com o Esporte Interativo e o Canal 100,João Saldanha será exibido no canal Espor-te Interativo da internet e, em julho, mêsdo nascimento de João, no Canal Brasil.Será lançado então o dvd do filme.

Após a apoteose dos aplausos na sessãono Odeon, o diretor André Siqueira admi-tiu que os produtores do filme poderãoexaminar a possibilidade de sua exibiçãotambém na rede comercial de cinemas.

Graças aminuciosa eabrangentepesquisa, odocumentáriode André IkiSiqueira reuniuimagens de JoãoSaldanha comotreinador em1969 da SeleçãoBrasileira deFutebol,constituída porferas: jogadoresdotados de caráterafirmativo, comoo do técnico.

Saldanha:contundênciae bom humor.

AJB/RIO

FOTOS DIVULGAÇÃO

Page 14: 2012__377_abril

14 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Tendências que envolvem a práticado jornalismo no Brasil e no Mundo,analisadas por profissionais experientese estudiosos do mercado, dão o tom da li-nha editorial da Revista de JornalismoESPM, edição brasileira da Columbia Jour-nalism Review, que a Escola Superior dePropaganda e Marketing-ESPM acabade lançar.

“Nossa proposta editorial é ser umarevista que discutirá o jornalismo fazen-do uma ponte entre o universo profissi-onal e o do estudo do jornalismo – exa-tamente como acontece na GraduateSchool of Journalism da Columbia Univer-sity, dos Estados Unidos”, diz Jorge Ro-berto Tarquini, Coordenador do Cursode Pós-Graduação em Jornalismo comÊnfase em Direção Editorial da ESPM eeditor da publicação.

A ESPM sempre foi voltada para pu-blicidade, marketing e negócios, e desde2011 tem direcionado seus investimen-tos para a área de jornalismo, em que já

oferece um curso de Graduação e outro dePós-graduação.

A idéia de lançar a versão brasileira daCJR surgiu de uma visita à Columbia,antes mesmo de existirem os cursos daESPM. “A universidade norte-americanatinha interesse de estar presente no Bra-sil, um mercado em alta com potencialde crescimento e no qual o mercado demídia e jornalismo cresce e se moderni-za como em poucos lugares. Assim, de-pois da China, onde a Columbia Journa-lism Review foi lançada há três anos, oBrasil é o segundo País a recebê-la”, in-forma o editor.

Fundada em 1961 pela Escola de Pós-Graduação de Jornalismo da Universi-dade de Columbia, a CJR é publicadaseis vezes por ano e tem como princí-pio incentivar e estimular a excelênciano jornalismo e busca examinar o de-sempenho da imprensa no dia-a-dia,assim como as ameaças que afetam asua atuação.

A ESPM faz parceria com a Universidade de Columbiae lança adaptação brasileira de revista de jornalismo.

PUBLICAÇÃO

A Columbia JournalismReview agora no Brasil

A Revista de Jornalismo ESPM é diri-gida a profissionais, estudantes de jor-nalismo e aos que se interessam pelouniverso da informação jornalística.Segundo Tarquini, a publicação não teráviés acadêmico, o que ajudará a aproxi-mar o conteúdo de leitores que não se-jam do segmento. Em suas 52 páginas,terá seções de notícias sobre imprensano Brasil e no mundo, artigos assinadospor profissionais renomados e assuntospolêmicos em torno da atividade dojornalismo. Na primeira edição o desta-que é um artigo sobre o ensino de jor-nalismo e a importância da parceriaentre a Columbia e a ESPM, que foi es-crito por Victor Navasky, chairman daColumbia Journalism Review, considera-

do um dos grandes nomes do jornalis-mo americano.

A direção da Redação é de Eugênio Buc-ci, que também dirige o curso de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfaseem Direção Editorial da ESPM, em par-ceria com o Instituto de Altos Estudosem Jornalismo-IAEJ. Entre os principaiscolaboradores articulistas da primeiraedição estão Alberto Dines, Sonia Nas-cimento, José Roberto Whitaker Pente-ado, Eugênio Bucci e Carlos Eduardo Linsda Silva, que também atuou como editorassociado. Nas futuras edições haveráparticipação dos professores da pós e dagraduação da escola.

“Nesta primeira edição, colocamos60% do conteúdo traduzido da CJR e,para amarrar a pauta, criamos artigosbrasileiros sobre os mesmos temas, soba retranca de “Enquanto isso no Brasil...”,diz Tarquini, ressaltando que esses arti-gos ganharam chamadas de destaque nacapa da publicação.

A revista tem periodicidade trimes-tral, tiragem de 20 mil exemplares e serávendida por meio de assinaturas, além deestar presente em livrarias e bancas sele-cionadas pelo preço de R$ 16,00. Tambémé enviada para um mailing com os prin-cipais profissionais da área, veículos ecursos de jornalismo do País. No próxi-mo ano a publicação também terá umaversão online, como sua matriz norte-americana. (Sérgio Luccas)

Page 15: 2012__377_abril

15JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

A Arte se põe do lado do saber rigoro-so, instrumento de emancipação do serhumano, ato de libertação. Não se con-funde com a falsa consciência, impreg-nada de intenções hedonísticas e libidi-nosas. Portanto, vítima e prisioneira dosprazeres oferecidos pelo ilusionismo daindústria cultural, matriz da produção deobjetos kitch, vicários.

Nada tem a ver com a expansão doconsumismo, esse mecanismo insaciáveldo vanguardismo de fachada.

O vanguardismo pressupõe a pre-valência da competição, é in-capaz de entender o aspectodesinteressado da Arte comovalor do sujeito e razão desua hegemonia. Tem voca-ção autoritária, é fruto deuma situação relacional docompetidor que, em confron-to com o outro, o desafia e sepropõe excluí-lo. Com a passa-gem do tempo, o vanguardismopadece inexoravelmente da mortesúbita. Pois padece de vício de ori-gem, orgânico.

A proposta açucarada da Arte, parafim de aguçar a tentação do prazer, as-sociada à lei do menor esforço, tão sedu-tora para a massa ingênua, encaminha-a para a arena do mercado, campo aber-to. Aos mecanismos de compra-e-venda,subordinada ao princípio da quantidade.

Quando o produto artístico sublinhaa qualidade e faz preponderar o valor deuso, vertical, diferente no mais das vezesdo valor de troca, horizontal, escapa damorte súbita com que o mercado puneefêmeras ilusões da moda.

No dizer de Adorno, a utopia baseia-se num “pacto com o fracasso” (apud DaTeoria Crítica e Seus Teóricos, de StephenEric Bronner, Campinas-SP, 1997, trad. deTomás R. Bueno e Cristina Meneguel, p.230). Com isso, o pensador deu um tirode morte na dialética ou na velha noçãodo movimento construtivo.

Os véus da ilusão (a fantasia) enco-brem a estrutura da repressão entreme-ada na indústria cultural. Os prazeres doespetáculo, de duração instantânea emorte súbita, disfarçam os princípios dedominação subjacente à película ilusio-nista. Na cadeia produtiva dos prazeresda sociedade consumista, o primeiro elo

Séculos de luta fratricida não civilizaram o ser humano, não trouxeram a paz. Não se distinguemfronteiras entre o narcotráfico, o agronegócio, os credos religiosos e as forças repressivas.

Fortaleceu-se a ditadura da burguesia, a do proletariado impossibilitou-se.

está encadeado nos interesses cumulati-vos da riqueza. A consciência ingênuaabsorve a auto-escravização inerente aoprocesso reificador como ato de liberda-de, como desabrochar da própria autono-mia. Crê ardentemente no exercício li-vre do arbítrio.

Mas a Arte evidencia o que Stendhalchamou de “promesse de bonheur” (apudStephen Eric Bronner, p. 230). Não seequipara ao que Sartre definiu como “pai-xão inútil” (espécie da “esperança cega”que Prometeu, segundo Ésquilo, inscre-veu no coração do homem).

VVVVVentos e tempestadesentos e tempestadesentos e tempestadesentos e tempestadesentos e tempestadesLidamos hoje com a eficácia históri-

ca da cultura imaterial e das informaçõesconsumistas, que modelam as mentes,as condicionam ao utilitarismo volátil eas afastam das questões básicas do ser.

Ventos e tempestades trazem novasidéias, convidam-nos a refletir sobre oimpasse da produção capitalista na hora

confusa das crises que se somam ao pédos governos e seus agentes assustados.

O diagnóstico de Karl Marx aindaopera na antevisão das aporias (situaçõesinsolúveis, sem saída) ou das contradi-ções (processo automaticamente cons-trutor de mercadorias e destrutivo da na-tureza). Riquezas são acumuladas e ren-das são concentradas, juntamente como crescente poderio bélico. Os equilíbriosambientais, sociais e econômicos são rom-pidos a cada momento, pois é impossívelconter as forças da dominação. A cobiçado poder é fatal para a Humanidade.

Fala-se na mudança de paradigma.Séculos de lutas fratricidas não civiliza-ram o ser humano, não trouxeram a paz.Com a massificação, desencadeou-se, nosconglomerados urbanos, a violência inu-merável. Não se distinguem fronteirasentre o narcotráfico, o agronegócio, oscredos religiosos e as forças repressivas.Fortaleceu-se a ditadura da burguesia, ado proletariado impossibilitou-se.

Cuida-se da civilização do saber. Para osagentes do poder, o “saber” confunde-secom a qualificação setorial da mão-de-obra. Eleva-se a taxa de exploração sob osigno da melhoria da vida do trabalhador.

Para o pensamento de cunho huma-nitário, o engajamento de todos no aper-feiçoamento e na elevação do processoprodutivo acelera a conscientização co-letiva na direção do novo paradigma. Oda associação cooperativa, baldados osprincípios da competição, excludentes,egocêntricos.

Antônio Resk, inspirado homem públi-co, analisou com acerto o declínio vertigi-noso da bioenergia (a energia física que setransforma em força de trabalho) nas tare-fas de produção e distribuição de alimen-tos, vestiário, instrução e lazer. A Robóti-ca trouxe as máquinas ao primeiro plano,capazes de substituir inúmeros trabalha-dores, desempregando-os, reduzindo ho-ras de trabalho e dignificando as pessoascom a possibilidade de programar o seulazer. A Informática, por sua vez, multi-plicou a velocidade do conhecimento,trouxe o saber para mais perto das pesso-as. Mas, advertem os humanistas da linhade Antônio Resk: a Tecnologia é meio,instrumento. Deve estar a serviço do serhumano, não das elites dominantes, paraperpetuar esquemas de dominação.

Antônio Resk ofereceu-nos A Revolu-ção do Homem - uma Introdução (S. Pau-lo: Textonovo, 2002), fundou com ou-tros companheiros, o MHD – Movimen-to Humanismo e Democracia –, uma res-posta política aos novos tempos.

Preparava outra obra, que ficou incon-clusa. Graças à contribuição de MarcoAurélio Fernandes Veloso e MarilúciaMelo Meireles, foi possível ordenar osescritos de Antônio Resk na publicaçãoRuptura -Anomia na Civilização do Traba-lho (S. Paulo: Plena Editorial, 2011), comintrodução de Levi Bucalem Ferrari.

Estudo memorável. Além de investi-gar a exaustão da apologia do trabalhocomo fator civilizatório, Antônio Reskanalisa a precariedade do trabalho hu-mano e a erosão do sistema que prega aqualificação. Isso porque o avanço daTecnologia e o adestramento da mão-de-obra agravaram o desemprego estru-tural e trouxeram a ambos – o trabalha-dor empregado e o desempregado – es-tados patológicos da mente, insusceptí-veis de cura. Não existe horizonte pos-sível para o pleno emprego nas econo-mias mais avançadas do capitalismo.Apóia-se Antônio Resk em reflexões deIstvan Mézáros, na obra Para Além doCapital (S. Paulo: Boitempo, 2002, trad.de P. Castanheira e Sérgio Lessa). Con-dena a sacralização do trabalho, pois estenão liberta o homem. O desempregodesgasta o trabalhador, e o faz consumirintensa energia psíquica.

Além do mais, verifica-se que tradicio-nalmente se fala no lazer, que seria ocupa-do pelas realizações artísticas e pelo es-porte. Mas a civilização moderna, neoli-beral e globalizada, nada mais ofereceuque a sociedade do espetáculo, na qual so-mente floresce o imaginário circense ouas práticas pseudo-esportivas com que sepoderia expandir a violência competiti-va, administradas pelas agências altamen-te lucrativas e exploradoras da capacida-de humana. Como assinala AntônioResk, perde consistência a relação do tra-balho humano com o sistema produti-vo, “degradando as regras da convivên-cia solidária”: “É o tempo da anomia a con-turbar a ordem da civilidade”.

A revolução do homem certamentevirá para concentrar as energias criado-ra e consumidora do ser humano, sepul-tando para sempre o paradigma que o in-felicita e degrada. Os artefatos da Tecno-logia devem ajustar-se à tarefa coletivade alimentar, vestir, instruir, proteger eentreter os sete bilhões de habitantes doglobo terrestre.

O fim último seria, para cada indivíduo,integrar-se harmoniosamente com a co-munidade, sem impulsos hegemônicos,nem cobiça de dominação. Assim se alcan-çaria o ser em estado de perfeição, a Ente-léquia, aquele estado em plenitude do serplenamente realizado, como quis Aristó-teles. Da Arte que apanhasse o ser huma-no na intensificacidade, desde que o menorfragmento evoque a totalidade da qual ésímbolo e representa intensivamente.

REFLEXÕES

POR FÁBIO LUCAS

A arte e seurepentino clarão

FÁBIO LUCAS é escritor e crítico literário.

RITA BR

AGA

Page 16: 2012__377_abril

16 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

scolha qualquer dia, basta assis-tir a uma edição dos telejornaisdas emissoras de tv aberta para

constatar a mesmice. A impressão que setem é que todos seguem a mesma pauta,exibem as mesmas matérias, dentro depadrões muito semelhantes de cobertura.Se você vê um é como se já tivesse vistotodos. E o pior, depois de alguns minutos,você sequer recorda das principais notí-cias, tamanha é a superficialidade comque os assuntos são abordados.

Esse padrão inventado e seguido háanos já não atende às necessidades deinformação do público que, na era dainternet e das mídias sociais, quer plura-lidade de fontes e diversidade de opiniõespara entender e tirar suas conclusõessobre o que se passa no País e no mundo.

Mas, justiça seja feita, há uma exceção.Para sair da vala comum e oferecer umanova opção de telejornalismo a seus es-pectadores, a TV Cultura de São Paulo –emissora pública da Fundação PadreAnchieta – mudou completamente oformato do Jornal da Cultura, em outubrode 2010. E deu certo. Hoje, o telejornal éconsiderado um dos melhores do País eacompanhado por fãs assíduos, que vêemnele uma fonte de informação e, sobretu-do, de conhecimento.

“A proposta é trilhar caminho próprio,praticando um jornalismo mais analíti-co e de interação com o espectador. Como

O Jornal da Cultura, daTV Cultura de São Paulo,busca inovar a linguagemdo telejornal, informandoe analisando os fatos dodia-a-dia na linguagem

do telespectador.

POR SERGIO LUCCAS

somos uma emissora de cobertura local,basicamente São Paulo, não pretendemosconcorrer em volume de notícias com asoutras emissoras. A abordagem é maisqualitativa, priorizando os fatos maisrelevantes do dia e traduzindo seu signi-ficado e repercussão na vida das pessoas”,explica o Gerente de Jornalismo da TVCultura, Celso Kinjô, jornalista experien-te que participou da equipe fundadora doJornal da Tarde nos anos 1960 e depoistrabalhou nas revistas Realidade, Manche-te, Geração Pop, Placar e Quatro Rodas, alémde ter sido editor na TV Globo.

O diferencial veio no formato de umabancada com a apresentadora Maria Cris-tina Poli, jornalista que regressou à emis-sora, onde apresentou e fez reportagensespeciais para o programa Vitrine, entre1993 e 1998, e dois convidados diários,selecionados de um grupo basicamente deprofessores universitários e pesquisado-res, capacitados para comentar as princi-pais notícias do dia das mais diversasáreas, como economia, política, meioambiente, saúde etc., mesmo fora de suasespecialidades.

Foram feitos vários programas-pilotopara testar o modelo até o telejornal ir aoar. O maior desafio era adequar a lingua-gem dos convidados ao público do noti-ciário, evitando jargões acadêmicos eexplicando os fatos de forma simples eobjetiva, o que acabou acontecendo.

É nesse ponto que contou muito aexperiência de apresentadora e repórterde Maria Cristina Poli. Ela conta que otelejornal evoluiu muito desde a sua es-tréia. “Conseguimos traduzir a notícia,explicá-la em uma linguagem que o te-lespectador entende e mostrar seus refle-xos e significado no dia-a-dia das pessoase do País. Somos analíticos ao mesmotempo em que buscamos a simplicidade”,sintetiza Poli.

Além da análise das principais notíciasdo dia e sua repercussão, ela cita comoexemplos dessa linha editorial os quadrosfixos Jornal da Cultura Explica, uma espé-cie de ABC da notícia, em que são escla-recidos para o público termos utilizadosno cotidiano, mas que não são compreen-didos pela maioria da população, comoinflação, funções de ministros, guerras,conflitos e leis; e Arquivo da Cultura, pre-ciosidades do rico acervo da TV Cultura,que resgatam fatos importantes relacio-nados com o que acontece hoje.

“Um dia o porteiro de um edifíciopróximo à minha casa me abordou e dis-se que assiste e gosta muito do Jornal daCultura porque a gente fala ‘brasileiro’. Mesenti realizada”, conta a jornalista.

Informal e espontânea, Poli faz inter-venções que ajudam na interpretação dosfatos do dia e busca o equilíbrio na parti-cipação dos convidados, para que o pro-grama não perca esse ritmo desejado.

“Meu lado de repórter fala mais alto, tan-to que também faço reportagens especi-ais para o jornal. Como âncora não soupadrão, fico indignada, me emociono,gaguejo às vezes, mas isso é bem aceito”.

Bancada qualificadaCom 50 minutos de duração e há um

ano e meio no ar às 21h10min, de segun-da a sábado, o Jornal da Cultura já rece-beu em sua bancada de convidados o so-ciólogo Demétrio Magnoli; o jornalistae professor da Escola de Comunicaçõesda Usp Eugênio Bucci; o historiadorMarco Antônio Villa; o escritor e rotei-rista Paulo Lins; o professor de Filosofiada Usp Vladimir Safatle; o economistaAlexandre Schwartsman; o advogado eex-Deputado federal Airton Soares; oprofessor da Faculdade de Medicina daUsp Paulo Saldiva; a professora de Direi-to Internacional da Usp Maristela Bas-so; o cientista político Carlos Novaes; ofilósofo e professor de Teologia da Puc deSão Paulo, Mario Sergio Cortella, e aprofessora de Direito Constitucionaltambém da Puc Flávia Piovesan; entreoutros que foram se revezando ao lon-go desse período.

“Formamos um elenco de pessoas qua-lificadas e em condições de comentarnotícias gerais, sejam de política, econo-mia, meio ambiente ou futebol, sem se-rem necessariamente especialistas. OPaulo Saldiva, por exemplo, é muitoeclético, além de médico patologista eprofessor da Faculdade de Medicina daUsp, é ciclista militante e pode falar atéde futebol. Concordâncias e divergênci-as na análise dos fatos entre os compo-nentes das duplas acabam refletindosuas visões e posições políticas, o queenriquece o debate e estimula a partici-pação dos espectadores. Aqui eles têmliberdade para manifestar suas opini-ões”, comenta Kinjô.

Um exemplo disso aconteceu em umprograma de fevereiro de 2010. Nele, ojornalista Eugenio Bucci e o sociólogoDemétrio Magnoli criticaram no aruma notícia do próprio telejornal sobrea proposta do Governo do Estado deSão Paulo – mantenedor da FundaçãoPadre Anchieta e da TV Cultura – pararegionalizar a saúde. Segundo Magno-li, a matéria exibida “era baseada em umadeclaração de intenções e não em umfato”, ao que Bucci concordou: “É impor-tante nós termos claro que o protagonis-ta de uma notícia de interesse público éo cidadão afetado por alguma medida doGoverno”, declarou.

A produção diária do jornalístico mo-biliza uma equipe de mais de trinta pes-soas, entre editores, chefes de reporta-gem, apresentadora, repórteres, pautei-ros, coordenador de rede, produção exe-cutiva e gerência geral. Às matérias cap-tadas na capital paulista somam-se ima-gens e informações de Brasília e de ou-tros Estados fornecidas pela TV Brasil,emissora pública da Empresa Brasil deComunicação-EBC, parceira da Cultu-ra, e material internacional da AgênciaReuters.

TELEVISÃO

CLEONES RIBEIRO

E

A apresentadoraMaria Cristina Poli:

“Conseguimostraduzir a notícia.”

Há vidainteligente notelejornalismo

brasileiro

Há vidainteligente notelejornalismo

brasileiro

Page 17: 2012__377_abril

17JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

cursinhos pré-vestibular, por recomenda-ção de seus professores; e por mulheresque estão entrando no mercado de traba-lho e buscam repertório, para estarembem informadas e atualizadas.

A média diária de um ponto de audiên-cia, registrada pelo Ibope – que representa60 mil domicílios na região da GrandeSão Paulo –, faz do Jornal da Cultura o líderda programação noturna da emissora. Épreciso considerar também a audiênciado público que utiliza antenas parabóli-cas (30 milhões de domicílios), muitonumeroso no interior do País e não con-siderado pelo Ibope, além da própria tvpaga, onde a Cultura está presente nocardápio de canais das mais diversas ope-radoras em todo o País.

Kinjô informa que o Jornal da Culturarecebe muitos e-mails de telespectadoresde diversas cidades e Estados do Brasil quesintonizam a emissora via antena para-bólica. “Claro que sempre almejamosatingir o maior número de pessoas possí-vel, tanto que nossa meta é dobrar essaaudiência até o segundo semestre de 2013,mas o índice de audiência Ibope não é oprincipal parâmetro de avaliação para aDiretoria da Casa”, diz ele.

Presença na internetUma ação que aumenta a interativida-

de do programa com o seu público é a suaforte presença na internet e isso tem sido

O sucesso do telejornal deu origem a no-vos programas jornalísticos e de prestaçãode serviços na TV Cultura. Alguns começa-ram como quadros do jornal até ganhar vidaprópria na grade da programação de 2012,outros foram concebidos para aproveitarnichos de mercado e oferecer novas opçõesaos espectadores em dias e horários poucoexplorados pela concorrência.

MATÉRIA DE CAPAPrograma semanal de 30 minutos sobre

um fato internacional de relevância. Sur-giu a partir da cobertura da Primavera Árabe,analisada durante uma semana por todos

jornal de prestação de serviços, focado noesclarecimento de assuntos que mexemcom a vida da maioria das pessoas. Oformato segue a linha de um bate-bolaentre especialistas convidados e o públi-co. A cada dia, um tema é discutido. Pla-nos de saúde, nutrição, saúde (prevenção),orçamento doméstico, direito do consumi-dor, alcoolismo, drogas, terceira idade e,principalmente, previdência social são al-guns deles. É exibido de segunda a sexta-feira, às 8h, com 30 minutos de duração.Estreou no dia 5 de março. Recebe diaria-mente mais de 100 e-mails e consultasonline de telespectadores e procura escla-recer suas dúvidas.

GUIA DO TRÂNSITONovo jornalístico de prestação de servi-

ço, dá um panorama detalhado em temporeal de como está o trânsito na cidade de SãoPaulo, informando o paulistano que se pre-

Os filhotes doJornal da Cultura

Um hora antes do telejornal ir ao ar,Maria Cristina Poli passa o script com adupla de convidados e acerta com eles oque desejam comentar. Durante o dia,esses comentaristas já mantêm contatocom a Redação para ter uma prévia dosfatos de destaque.

Penetração e aceitaçãoO Jornal da Cultura tem muita pene-

tração e aceitação na comunidade acadê-mica, entre estudantes, professores epesquisadores, pelas interpretações eanálises que faz das notícias. Mas suaaudiência não se restringe a esse público.Engana-se também quem imagina que otelespectador da Cultura é predominan-temente da classe A.

“Esse público migrou para a tv porassinatura. Desde 2005, o espectro depúblico da Cultura se cristalizou na classeC, a classe média baixa que está em ascen-são. Ela assiste sobretudo à programaçãoinfanto-juvenil da emissora, que respon-de por dois terços da programação. Ànoite nossa programação jornalística évista por essa classe, que busca informa-ção, entender melhor o que está ocorren-do no Brasil e no mundo, justamente oque oferecemos”, esclarece o Gerente deJornalismo Celso Kinjô.

Maria Cristina Poli acrescenta que oJornal da Cultura é muito assistido tam-bém por estudantes do segundo grau e de

os comentaristas do Jornal da Cultura, e deum especial de uma hora exibido às 19 horasde um domingo, que alcançou 1.5 pontono Ibope. Estreou em setembro de 2011 ese tornou líder de audiência entre os jorna-lísticos da Casa. Atende a um público quequer um programa alternativo aos domin-gos. Apresentado pelo jornalista Aldo Qui-roga, já abordou temas como A crise dosEUA e Eleições na Rússia.

PRONTO ATENDIMENTOComeçou como um quadro fixo sema-

nal de 15 minutos do Jornal da Cultura,exibido aos sábados às 12h30min. É um

para para sair de casa pela manhã. Tem umahora de duração, 7h às 8h, diariamente, desegunda a sexta-feira. Da CET (Companhiade Engenharia de Tráfego) são exibidasimagens dos cruzamentos mais importan-tes. As câmeras das concessionárias de ro-dovias mostram como está a ligação comoutras cidades e Estados. Já a TV Culturautiliza 15 câmeras próprias para áreas degrande fluxo, além de repórteres ao vivo,em vários pontos da metrópole. O públicopode participar postando online vídeos e fo-tos do trânsito nos locais em que está e elesvão ao ar durante o programa. Os repórte-res Cadu Cortez e Adriana Cimino, especi-alistas em “rotas de fuga” para sair dos usu-ais congestionamentos, apontam alterna-tivas para agilizar a locomoção pela cidade.Cerca de 10% da programação diária estãovoltados para a previsão do tempo.

LEGIÃO ESTRANGEIRAExibido aos domingos, às 20h30min

desde 11 de março, o programa traz cor-respondentes da imprensa estrangeira noBrasil para comentar os fatos da semanasob o ponto de vista da imprensa interna-cional. A participação do País em temasmundiais e os fatos do cenário nacionalsão focados no programa comandado pelajornalista Mônica Teixeira, que tem comoconvidados, a cada semana, quatro corres-pondentes. A conversa entre os convida-dos reflete diversos pontos de vista dosprincipais veículos e agências de notíci-as, dando uma compreensão melhor doque pensam do Brasil. Economia, espor-te, política, artes, cultura são alguns dostemas analisados e debatidos.

fundamental para avaliação de retorno eaceitação do telejornal. Para isso, a parti-cipação da audiência através das princi-pais ferramentas da rede mundial de com-putadores tem sido muito importante.Tanto é que o Jornal da Cultura começa emseu site alguns minutos antes da televisão(cmais.com.br/jornaldacultura), e quemo vê pela internet pode participar do pro-grama através do Twitter (twitter.com/jornal_cultura). Por esses canais, em tem-po real, o telespectador pode opinar, fazerperguntas, dar sugestões ou pedir mais in-formações sobre qualquer assunto apresen-tado no programa. O jornal também dis-põe de uma página no Facebook (face-book. com/jornaldacultura).

“Sentimos a reação do público e elatem sido boa, são dezenas de comentári-os e sugestões de pautas por e-mail e peloTwitter, demonstrando que estamos nocaminho certo. Essa é outra marca dotelejornal apresentado por Maria Cristi-na Poli: abrir espaço para que o público semanifeste em relação aos fatos, concor-dando ou discordando dos analistas. “In-terajo com o público durante o jornal otempo todo, de modo que ele tambémparticipe das análises das notícias comsua opinião”, diz Poli.

Séries especiaisA importância e repercussão de ma-

térias analisadas pela bancada do Jornal

da Cultura deram origem a matérias eséries especiais sobre temas como obe-sidade infantil, maternidade, crack,trânsito, Comissão da Verdade, tratadosem reportagens especiais exibidas e co-mentadas durante toda a semana. Se-gundo Kinjô, são assuntos que possibi-litam aprofundar as pautas, criando atécampanhas como “Paz no Trânsito”, queo jornal lançou após uma série de tragé-dias nas ruas de São Paulo. Durante 30dias, o Jornal da Cultura colocou no ardepoimentos de pessoas que contaramtragédias familiares e perdas de pesso-as queridas nas ruas das cidades. Cida-dãos, especialmente jovens, que muda-ram de atitude depois que perderamamigos no trânsito, também participa-ram da reportagem.

O especial apresentou declarações deespecialistas e pessoas comuns, que deramidéias e soluções para melhorar as condi-ções de deslocamento dentro das cidades.No final de cada semana, o público pôdeacompanhar um debate no estúdio, sem-pre ancorado numa reportagem especialproduzida pela equipe do telejornal.

Esse convite à participação e à refle-xão do público sobre o significado dosfatos que geram notícias é um dos prin-cipais diferenciais do Jornal da Cultura efaz dele um bom exemplo a ser seguido notelejornalismo brasileiro: afinal, o públi-co tem direito a ser bem informado.

O jornalista Aldo Quiroga apresenta o Matéria de Capa, jornalístico semanal exibido aosdomingos que faz uma análise mais aprofundada de grandes temas do Brasil e do mundo.

Madeleine Alves, do Pronto Atendimento:esclarecendo dúvidas dos telespectadores.

JAIR MAG

RI

REN

ATO N

ASC

IMEN

TO

Page 18: 2012__377_abril

18 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Aplaudido no Brasil e no exteriorcomo um dos grandes nomes da culturabrasileira, o jornalista, cineasta, pesqui-sador e escritor Jurandyr Noronha lançoudia 26 de abril, na Livraria da Travessa deIpanema, o livro Bravos Companheiros.Redator, roteirista, montador e diretor defilmes, Jurandyr Noronha, 96 anos, vemdedicando a sua consagrada trajetóriaprofissional, iniciada nos anos 1940, àvalorização e à preservação da cultura eda memória cinematográfica brasileira.

Autor de dezenas de filmes e livrossobre a sétima arte, Jurandyr realizou emBravos Companheiros – seu primeiro ro-mance – o acalentado projeto de relatarimpressões e experiências a partir dosacontecimentos que marcaram a Histó-ria do Brasil e do mundo.

“Este é um livro simples e direto comoo seu autor Jurandyr Noronha. Narra, semcomplicações, uma dupla estória que sedesenvolve na pacata Remanso, mas vemcontando, por outro lado, os fatos quemarcaram a história do Brasil. A revoltado Forte de Copacabana em 1922 e o te-nentismo que daria na Revolução de 30.Por aí passam Prestes, Plínio Salgado,Getúlio, a presença dos pracinhas na Itáliae vem até o sputinik e o nosso futebol de1958, campeão na Suécia”, relata o escri-tor Affonso Romano de Sant’anna, noprefácio da obra.

Nas palavras do jornalista e poeta CelsoJupiassu, autor do texto de apresentação,com a sua simbólica Remanso, JurandyrNoronha dá vida ao axioma de Tolstoi: “sequeres ser universal, começa por pintar atua aldeia”. Diz Japiassu:

“Ele testemunhou os fatos que lhe sãocontemporâneos e com eles compõe sua

Futebol frente ao Uruguai; a Guerra Fria;o suicídio de Getúlio; a construção deBrasília e o Brasil campeão mundial defutebol”, observa Japiassu.

O papel de Jurandyr Noronha comoincentivador e partícipe dos movimentosem defesa da cultura nacional e das liber-dades, é sublinhado por Affonso Roma-no de Sant’anna:

“Depois de ter visto, ter filmado e tervivido tudo o que viveu, Jurandyr Noro-nha decidiu, do alto de seus quase cemanos, entregar-se a essas recordações deum mundo antigo. Para usar uma lingua-gem cinematográfica, já que não se podepensar no cinema brasileiro sem Juran-dyr, ele faz uma espécie de trailer de seutempo. É o que comumente se chama de‘testemunha ocular da História’.”

Para ser fiel aos episódios históricos,Jurandyr Noronha conta que dedicou cer-ca de seis anos à pesquisa:

“Os fatos que marcaram o Brasil e omundo sempre foram objeto de minhaatenção, assim como a luta política no País,da qual participei. Contudo, o resgate his-tórico na feitura de uma obra é necessari-amente árduo e exige disciplina e dedica-ção. Tudo se torna mais difícil ainda aolançarmos o livro sem patrocínio. Nestesentido, tive a importantíssima colabora-ção de minha filha, Gilberta NoronhaMendes, e de meu genro, Júlio Helbron.”

POR CLÁUDIA SOUZA

LANÇAMENTO

Romancede JurandyrNoronha fazum passeio

pela HistóriaJornalista, cineasta e escritor, o autor de Panoramado Cinema Brasileiro faz uma incursão pela ficção,com um roteiro em que a cidadezinha de Remanso

contempla o que acontece no País e no mundo.

narrativa, o que lhe permite transmitir aexperiência de um observador privilegi-ado, capaz de prestar seu depoimento naqualidade de quem realmente viveu parapoder contar. Os fatos reais estão enrique-cidos pela criação literária, mas são ex-postos como realmente aconteceram.”

Personalidades históricas como Wa-shington Luiz, Getúlio Vargas, SantosDumont e Juscelino Kubitschek condu-zem a trama que entrelaça a narrativa dospersonagens ficcionais:

“Vultos marcantes da História recentedo Brasil estão ao lado do padre, do pre-feito, do operário comunista e de outrosanônimos moradores da pequena Re-manso, que da sua simplicidade obser-vam desenrolarem-se os acontecimentos,os dramas e as tragédias de todo um sécu-lo: do levante dos tenentes no Forte deCopacabana ao lançamento do primeirosatélite artificial da Terra; passando pelaRevolução de 1930; o surgimento doavião como meio de transporte; a popu-larização do rádio e da tv transformandoa comunicação de massa; o movimentoconstitucionalista de São Paulo; os levan-tes comunista e integralista de 1935 e1938, a Guerra Civil Espanhola e a Segun-da Guerra Mundial, com a participaçãoda Força Expedicionária Brasileira-Febnesse conflito; a criação do Estado deIsrael; a derrota da Seleção Brasileira de

“ELE TESTEMUNHOU OS FATOS QUELHE SÃO CONTEMPORÂNEOS E COM

ELES COMPÕE SUA NARRATIVA, OQUE LHE PERMITE TRANSMITIR A

EXPERIÊNCIA DE UM OBSERVADORPRIVILEGIADO. OS FATOS REAIS

ESTÃO ENRIQUECIDOS PELA CRIAÇÃOLITERÁRIA, MAS SÃO EXPOSTOS

COMO REALMENTE ACONTECERAM.”

AR

QU

IVO PESSO

AL

Page 19: 2012__377_abril

19JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais,em 1916, Jurandyr Noronha iniciou a car-reira no cinema pelas mãos de AdemarGonzaga, na Cinédia. Ao lado de Humber-to Mauro, outro pioneiro, trabalhou noInstituto Nacional do Cinema Educativo.Foi cinegrafista da extinta TV Tupi e doDepartamento de Imprensa e Propaganda-Dip, durante o Estado Novo. Atuou em di-versas entidades, como o Instituto Nacio-nal do Cinema e a Embrafilme, e em deze-nas de produtoras e estúdios.

Data do início da carreira o empenho deJurandyr Noronha na preservação de fonteshistoriográficas do cinema. Seus esforçosincluem a descoberta do filme, feito emParis, do vôo de Santos Dumont no 14 Bis;

O descobridor do filme deSantos Dumont voando no 14 Bis

Os personagensreais e inventados

Em entrevista exclusiva ao site ABI on-line, Jurandyr Noronha falou sobre os me-andros da narrativa de Bravos Companhei-ros e citou alguns trechos representativos:

“Ubiratan, personagem principal dolivro, morre poucos dias antes da epopéiados 18 do Forte. É quando um civil, Otá-vio Correa, no portão do velho quartel,pediu um fuzil para acompanhá-los. Se-riam todos, civis e militares, irmanados,companheiros, bravos companheiros, naluta pela libertação nacional. Daí o títu-lo Bravos Companheiros”.

Os fatos sucedem-se na obra, segundoJurandyr, marcando a História do País e domundo:

“A 7 de setembro de 1922 ocorre a pri-meira radiotransmissão; os brasileirosnunca haviam visto um rádio receptor. Eo que ouvem, estupefatos, são os acordesdo Hino Nacional e a palavra de EpitácioPessoa, Presidente da República. Em Re-manso, cidadezinha símbolo do interiordo Brasil, viviam muitas personagens:Doutor Vasconcelos; Seu Jacob com DonaBluma, cuidando de uma pequena loja;Maria Rosa, uma linda mulata que entre-gava as refeições preparadas por DonaQuitéria, sua mãe; Nicola, um ferroviárioe a sua enorme e lendária Fazenda BarQuerer; o padre Mozael, Lúcia, Evandro.Bravos Companheiros é um grande mural.

As idéias de esquerda haviam chegado aRemanso por intermédio de Donato, colegade Nicola, ferroviário como ele. Por ambossão impressos os primeiros panfletos doPartido Comunista, começando a aparecerpor todo o Município.

“Em 1925, sai o jornal A Classe Operária,clandestinamente distribuído. Ubiratan,aos 4 anos de idade, sua mãe ao lado, ensaiaos primeiros passos no Largo da Matriz. Éformada a Coluna Miguel Costa-Luiz Car-los Prestes: 1.600 homens percorrem 24 milquilômetros em guerrilha que enfrenta afalta de armamento e de munição. Inter-nam-se todos na Bolívia. Os jornalistasBarreto Leite Filho e Rafael Corrêa de Oli-

veira fazem reportagens com o líder daColuna e seus comandados. É quando As-trojildo Pereira oferece a Prestes umexemplar de O Capital, de Karl Marx.

Com o romance tórrido entre o fotógra-fo Isaac e Maria Rosa estreitam-se os dramaspessoais com o coletivo, lembra o autor.

“A essa época é promulgada a ‘Lei Cele-rada’, suspensas todas as garantias consti-tucionais e imposta censura à imprensa. Ocidadão Conrado Niemeyer, apontado pelaPolícia Política como implicado no forne-cimento de explosivos para atentadosterroristas, teria saltado por uma janela da4ª Delegacia e morrido. O Globo denunciouem detalhes o que constatara o médico-legista: costelas quebradas e a cabeça apa-rentando sinais de violência. E concluía:“A solução fora suicidar o preso?”

Em 1927, tem início a primeira linharegular de aviação comercial no Brasil,ligando Porto Alegre ao Rio de Janeiro,com influência marcante em Remanso:

“Padre Mozael, obscurantista e retróga-do, é substituído por Padre Flávio. Este per-tence à Ala Progressista da Igreja e debatecom Nicola, com citações de ambos de SãoFrancisco de Assis e Karl Marx. E havia tam-bém a imprescindível Gazeta de Remanso.

A sucessão presidencial empolga o País,ansioso por reformas, sob a influência dos18 do Forte, desde 1922. As chapas eramas de Washington Luís e de Getúlio Var-gas, explica Jurandyr:

“A 1º de março de 1930, a contagemdos votos. Fraudes às escâncaras. Com oprestígio advindo da Coluna convidamPrestes para o comando militar da revo-lução, ele lança o manifesto declarando-se comunista. A 3 de outubro eclode omovimento nas cidades de Porto Alegree Belo Horizonte. A 24 de outubro de1930, a capital do País amanhece sob inten-so canhoneio. A cidade do Rio de Janeiro,após uma morte prenunciadora de gravesacontecimentos, teve conhecimento deque ruíra a 1ª República. Também Reman-so amanhece sob o estrondar de foguetes.

Ubiratan, aos nove anos de idade, testemu-nha o acontecimento histórico.”

Como num caleidoscópio, os fatos trans-mudam-se incessantemente em BravosCompanheiros:

“Agora oficial do Exército, Evandro casa-se com Lúcia, e é transferido para São Pau-lo. Na Serra da Mantiqueira, no Túnel,com o sacrifício de ambos os lados, háimensa vigia. Emprego da aviação em lar-ga escala: bombardeio da usina da Light, naSerra do Cubatão. Bloqueio do Porto deSantos pelos governantes com o empregode destróieres e cruzadores. O Rio Gran-de do Sul com o fogo das baterias antiaé-reas fere de morte a aviação constitucio-nal, tornando-a mesmo inoperante. Guar-dadas as proporções, tudo lembrava a 1ªGuerra Mundial.

Assim como as idéias de direita, as deesquerda também chegavam a Remanso.Com Plínio Salgado e militares de váriascidades brasileiras, da Ação IntegralistaBrasileira-AIB, exemplo do clima quevivia o Brasil, ocorre a chamada Batalhada Praça da Sé, afirma o autor:

“A luta se estende pelo Largo João Men-des, Convento do Carmo, início da Aveni-da Rangel Pestana, Avenida Brigadeiro LuísAntônio, Largo de São Bento e Praça Ra-mos de Azevedo. Mário Pedrosa, intelectualtrotskista, ferido a bala, contorceu-se emdores em meio à praça. Com cerca de 10 milcamisas-verdes e seus paramilitares, a atrizLélia Abramo, de armas na mão e em posi-ção de perigo, atira sem cessar. Na ação, omilitante comunista Noé Gertel e a cronistaEneida. Quatro horas de tiroteio até que ces-saram o pandemônio que atemorizou a ci-dade de São Paulo. Feridos e sacrifícios devidas de ambos os lados.”

Outro episódio de destaque acontece a1º de setembro de 1939, quando a Alema-nha invade a Polônia, deflagrando a Segun-da Guerra Mundial. A Inglaterra e Françadeclaram guerra à Alemanha.

“Adolf Hitler lança-se à maior de suasinsanidades. Isaac, na Casa da Música, aoouvir um retrospecto dos fatos do dia,apressa-se a telefonar para Seu Jacob eDona Bluma, judeus como ele e poloneses.A 30 de setembro de 1939, o submarino GrafSpee, na altura de Pernambuco, afunda ocargueiro Clement. Em Remanso, Ubiratane Julieta resolvem fazer um piquenique,

corroborando o feito inédito, a localizaçãonos arquivos do Dip do filme sobre Lampiãorodado no sertão nordestino pelo mascateSebastião Abrahão, e o resgate dos negativosde Tesouro Perdido, de Humberto Mauro.

Estes e outras dezenas de filmes e frag-mentos originaram os longas Panorama doCinema Brasileiro, com 134 imagens fun-dadoras de filmes de ficção; 70 anos deBrasil (1974), com a recuperação dos do-cumentários, e Cômicos + Cômicos(1971),em celebração aos comediantes.

O rico acervo, que apresenta a evolu-ção da indústria cinematográfica no País,foi reunido no Museu do Cinema Brasilei-ro, mantido por Jurandyr em sua residên-cia, no Rio de Janeiro. A Coleção Jurandyr

Noronha, comprada pela Light em 1991 edoada ao Museu da Imagem e do Som-Misem 1997, continha documentários histó-ricos e filmes de ficção em 16 e 35 milíme-tros, cenas do cotidiano carioca (Cinelân-dia em 1920, a Avenida Rio Branco, a Praiado Flamengo, Copacabana e o Carnaval de1940), fotografias de filmes, de estúdios,de equipamentos, de salas de exibição e depersonalidades do cinema nacional e in-ternacional, além de estudos sobre indu-mentária para o cinema. Posteriormente,o material, dilapidado, foi transferido paraos estúdios da Cinédia.

Em reconhecimento ao legado do mes-tre da imagem, o acervo de arquivos sobreo cinema documentário brasileiro do

por que não dizer, uma ‘gazeta’. Sentiam-se extasiados. Era o Éden, segundo a Bíbliao paraíso terrestre. Amaram-se. Nossosnavios viajavam iluminados apesar da guer-ra nos mares. A 12 de fevereiro de 1942, oprimeiro torpedeamento: 54 mortos.”

Não tardou que, em grande número,começassem a aparecer cadáveres pelaspraias nordestinas, conta Jurandyr:

“Sem cessar os ataques, 574 mortos nomar: comoção popular em toda Remanso,em todo o Brasil. Ubiratan lidera o movi-mento estudantil. Cedendo ao clamor po-pular, a 22 de agosto de 1942 o Brasil declaraguerra à Alemanha e Itália. Ubiratan alista-se no Exército, incorporado ao ‘Sacrifício’.Às 7h da manhã de 29 de novembro de1944 tem início a ofensiva. Sob a chuva tor-rencial, durante todo o percurso do comba-te, sem cessar, o desfile comovedor dos pe-troleiros conduzindo mortos e feridos.”

Para tentar evitar um inverno ainda maisrigoroso, o 5º Exército norte-americano or-denou nova tentativa de conquista doMonte Castelo:

“Dez, quinze graus abaixo de zero. Con-gelado de frio, deitado na neve, numa de-pressão do terreno, Ubiratan vê os cami-nhos que deveria subir. Em primeiro planoo cano de seu fuzil e a baioneta calada. Vindoe voltando as lembranças de Remanso. Era24 de dezembro, véspera de Natal.”

Enquanto o 1º RI avança, descreve Ju-randyr, Ubiratan e seus companheiros sãoenvolvidos pelo sibilar dos projéteis, peloestrondo das granadas da 9ª Artilharia, sobo comando do General Osvaldo Cordeirode Faria:

“O barulho dos vôos rasantes do 10ºGrupo de Aviação de Caça é ensurdecedor.Todo o potencial brasileiro está emprega-do. É incoercível o avanço dos pracinhas.Ubiratan avança, avança, e à pequena dis-tância do topo é atingido por um tiro de fu-zil e morre. Seus companheiros continu-am. Nos postos de comando, na retaguar-da, os operadores de rádio emocionam-seao ouvir, por vozes brasileiras, que a bata-lha estava definitivamente terminada.”

“Mas esta história não pára por aí”, dizJurandyr Noronha. “Com Bravos Compa-nheiros tive a feliz oportunidade de revi-ver episódios tão importantes sempre como desejo de que a Humanidade não incor-ra mais em erros.”

Museu da Imagem e do Som do Rio de Ja-neiro leva o nome de Jurandyr Noronha.

A filmografia de Jurandyr inclui a dire-ção de curtas e média-metragens, como UmaAlegria Selvagem, A Medida do Tempo, O Ci-negrafista de Rondon, Oswaldo Cruz. Comocurador, organizou as exposições 75 Anos deCinema (1970), Pioneiros do Cinema Brasileiro(Frankfurt, Alemanha, – 1994), 200 anos deIndústria no Brasil (área de cinema, 2007/2008), e O Rio no Cinema – O Cinema noRio”(1988), esta última como co-curador.

A contribuição do cineasta estende-seao mercado editorial, com os títulos Notempo da manivela, Pioneiros do Cinema Bra-sileiro, A Longa Luta do Cinema Brasileiro, OMomento Mágico, Dicionário do CinemaBrasileiro, de 1896 a 1936 -Do Nascimento aoSonoro, o mais completo levantamento docinema silencioso brasileiro, com cerca de2.500 verbetes, além do cd-rom Pioneiros doCinema Brasileiro e o mais recente lança-mento, Bravos Companheiros .

Page 20: 2012__377_abril

20 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Jornal da ABI – O que você faziaantes de ingressar no rádio e nojornalismo e o que o levou a abra-çar essa carreira?

Washington – Foi tudo prati-camente por acaso. Eu jogava fu-tebol de salão e disputava o cam-peonato carioca dessa categoria.Era bancário e trabalhava no Ban-co Operador, em Copacabana, quenão existe mais. Um dia fui con-vidado pelo Vitorino Vieira, lo-cutor esportivo da Rádio Guana-bara, para fazer parte de um pro-grama na emissora.

Jornal da ABI – Quem mais faziaparte da equipe de esportes daRádio Guanabara na época?

Washington – Além do Vito-rino Vieira, faziam parte da equi-pe Doalcei Camargo, OduvaldoCozzi, João Saldanha e o MárioVianna.

FALA,APOLINHO!

Jornalista e radialista, Washington Rodrigues, o Apolinho, falou ao Jornal da ABI sobre os seus50 anos de atividade profissional, em que ofereceu grande contribuição ao rádio, sobretudo,

e à televisão. Ele relata aqui o que aconteceu em meio século de jornalismo esportivo.

DEPOIMENTO

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

Neste bate-papo, WNeste bate-papo, WNeste bate-papo, WNeste bate-papo, WNeste bate-papo, Washington Rodrigues fala doashington Rodrigues fala doashington Rodrigues fala doashington Rodrigues fala doashington Rodrigues fala doinício da carreira na Rádio Guanabara, onde ingres-início da carreira na Rádio Guanabara, onde ingres-início da carreira na Rádio Guanabara, onde ingres-início da carreira na Rádio Guanabara, onde ingres-início da carreira na Rádio Guanabara, onde ingres-sou fazendo a cobertura de futebol de salão, atésou fazendo a cobertura de futebol de salão, atésou fazendo a cobertura de futebol de salão, atésou fazendo a cobertura de futebol de salão, atésou fazendo a cobertura de futebol de salão, atéentão inédita naquela época. Fala de Seleção Bra-então inédita naquela época. Fala de Seleção Bra-então inédita naquela época. Fala de Seleção Bra-então inédita naquela época. Fala de Seleção Bra-então inédita naquela época. Fala de Seleção Bra-sileira, da polêmica envolvendo Ricardo Tsileira, da polêmica envolvendo Ricardo Tsileira, da polêmica envolvendo Ricardo Tsileira, da polêmica envolvendo Ricardo Tsileira, da polêmica envolvendo Ricardo Teixeixeixeixeixeiraeiraeiraeiraeirae João Havelange e da parceria entre ele e Denise João Havelange e da parceria entre ele e Denise João Havelange e da parceria entre ele e Denise João Havelange e da parceria entre ele e Denise João Havelange e da parceria entre ele e DenisMenezes, com quem formou a dupla de repórte-Menezes, com quem formou a dupla de repórte-Menezes, com quem formou a dupla de repórte-Menezes, com quem formou a dupla de repórte-Menezes, com quem formou a dupla de repórte-res esportivos mais famosa do rádio brasileiro, cores esportivos mais famosa do rádio brasileiro, cores esportivos mais famosa do rádio brasileiro, cores esportivos mais famosa do rádio brasileiro, cores esportivos mais famosa do rádio brasileiro, co-----nhecida como “Os Tnhecida como “Os Tnhecida como “Os Tnhecida como “Os Tnhecida como “Os Trepidantes”.repidantes”.repidantes”.repidantes”.repidantes”.

Carioca do Engenho Novo, Zona Norte do Rio,Carioca do Engenho Novo, Zona Norte do Rio,Carioca do Engenho Novo, Zona Norte do Rio,Carioca do Engenho Novo, Zona Norte do Rio,Carioca do Engenho Novo, Zona Norte do Rio,Apolinho nasceu em 1º de setembro deApolinho nasceu em 1º de setembro deApolinho nasceu em 1º de setembro deApolinho nasceu em 1º de setembro deApolinho nasceu em 1º de setembro de 1936. Ca-1936. Ca-1936. Ca-1936. Ca-1936. Ca-sado com Dona Maria Lúcia, com quem teve os fi-sado com Dona Maria Lúcia, com quem teve os fi-sado com Dona Maria Lúcia, com quem teve os fi-sado com Dona Maria Lúcia, com quem teve os fi-sado com Dona Maria Lúcia, com quem teve os fi-lhos Plhos Plhos Plhos Plhos Patrícia, Bratrícia, Bratrícia, Bratrícia, Bratrícia, Bruno e Wuno e Wuno e Wuno e Wuno e Washington, que deram aoashington, que deram aoashington, que deram aoashington, que deram aoashington, que deram aocasal três netos, João Pcasal três netos, João Pcasal três netos, João Pcasal três netos, João Pcasal três netos, João Pedro, Beatriz e Wedro, Beatriz e Wedro, Beatriz e Wedro, Beatriz e Wedro, Beatriz e WashingtonashingtonashingtonashingtonashingtonIII. “Somos uma família muito unida e feliz, toIII. “Somos uma família muito unida e feliz, toIII. “Somos uma família muito unida e feliz, toIII. “Somos uma família muito unida e feliz, toIII. “Somos uma família muito unida e feliz, to-----dos rdos rdos rdos rdos rubroubroubroubroubro-negros”, diz, referindo-negros”, diz, referindo-negros”, diz, referindo-negros”, diz, referindo-negros”, diz, referindo-se ao Flamengo,-se ao Flamengo,-se ao Flamengo,-se ao Flamengo,-se ao Flamengo,que é uma das suas grandes paixões.que é uma das suas grandes paixões.que é uma das suas grandes paixões.que é uma das suas grandes paixões.que é uma das suas grandes paixões.

SIMONE MARINHO/AGÊNCIA O GLOBO

Jornal da ABI – Como era o pro-grama?

Washington – Era um progra-ma que a cada dia da semana fa-zia comentários sobre uma mo-dalidade esportiva. Na segunda-feira, o Mário Derri falava sobreo boxe, na seção Luvas e Quimo-nos; o Honório Coutinho apre-sentava o Basquetebol em Foco; oBola na Rede, sobre futebol, etambém o Bola na Areia, sobre ofutebol de praia. Faltava alguémque dominasse o futebol de salão.

Jornal da ABI – Como é que o con-vite chegou até você?

Washington – Por meio do Vi-torino, os diretores da Rádio abri-ram uma conta comigo no banco.Eu tive uma fratura na perna jo-gando futebol e precisei ficar pa-rado um grande período. Eles mepediram que durante esse tempo

eu fizesse uma espécie de assesso-ria, para passar para a equipe deesportes informações sobre fute-bol de salão; informes sobre os clu-bes, dirigentes, as regras que elesnão dominavam bem, para quepudessem incluir no programa umquadro sobre futebol de salão.

Jornal da ABI – Como foi o seuingresso na Rádio Guanabara?

Washington – A Rádio Guana-bara lançou o programa Beque Pa-rado, cujo apresentador era o CidNeves. A assessoria que eu fazia ini-cialmente durou muito pouco,porque eu comecei a fazer comen-tários durante o programa que des-pertaram a atenção da equipe. Elesentão me colocaram como uma es-pécie de coadjuvante do Cid Neves.

Jornal da ABI – Em que ano issoaconteceu?

FALA,APOLINHO!

Page 21: 2012__377_abril

21JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

ram realizados na quarta, sába-do e domingo.

Jornal da ABI – Você teve outraschances de acompanhar o futebolprofissional?

Washington – O Amilcare deCaroles, que era o diretor da Rá-dio, ficou satisfeito com o meutrabalho. Quando o Bermuda re-tornou à emissora, ele me cha-mou e perguntou se eu não gosta-ria de integrar a equipe de futebolcobrindo as partidas de aspirantes,que eram disputadas como preli-minares dos jogos principais.

Jornal da ABI – Você sentiu mui-ta diferença da cobertura do fute-bol de salão para o profissional ?

Washington – Como só haviaum repórter, só havia um micro-fone volante disponível, sem fio,enorme, com uma antena idem,que em época de chuva atraía fa-ísca elétrica. Eu combinei com oBermuda que ao terminar a pre-liminar eu passaria o microfonepara ele no meio do campo, parachamar a atenção da galera.

Jornal da ABI – Quanto tempodurou essa sua parceria com oBermuda?

Washington – Trabalhamosassim um campeonato inteiro. Noseguinte ele saiu e eu fui promovi-do a repórter titular na Rádio Gua-nabara. Nesse período a Revista doRádio criou um concurso que pre-miava os melhores do ano do rá-dio e eu ganhei na categoria repór-ter esportivo.

Jornal da ABI – Qual foi o impactodessa premiação na sua vida pro-fissional?

Washington – O Jorge Cúri,que era também da equipe da Rá-dio Guanabara, voltou para a Na-cional e me convidou para traba-lhar como repórter titular no gru-po dele, do qual fazia parte o JoãoSaldanha. Isso aconteceu em 1966.

Jornal da ABI – Antes de falarmosda Nacional, gostaria de saber comoficou o seu emprego no banco.

Washington – Nessa época, euainda trabalhava no banco, e adireção da Nacional me fez umaproposta que me fez abandonara função de bancário. Foi quandoeu me tornei de fato profissionalde rádio no jornalismo esportivo.

Jornal da ABI – Como conseguiuconciliar o trabalho no banco como futebol?

Washington – Houve uma vezque um gerente me chamou e dis-se: “Washington você até que nãotrabalha tanto, mas o seu paletóestá sempre na cadeira” (risos).

Jornal da ABI – Até quando du-rou o trabalho na Rádio Nacional?

Washington – Até 1969, quan-do Waldyr Amaral me convidoupara a Rádio Globo, para traba-lhar com o Denis Menezes. Foi a

primeira dupla de repórteres dorádio, e essa parceria é que nostornou conhecidos.

Jornal da ABI – Vocês ficaram fa-mosos e eram chamados de “OsTrepidantes”. Quem lhes deu esseapelido?

Washington – Quem nos bati-zou como “Os Trepidantes” foi oCelso Garcia. Foi ele também queme apelidou de Apolinho. Essahistória eu conto depois.

Jornal da ABI – Quem era Wal-dyr Amaral?

Washington – O Waldyr Ama-ral foi melhor chefe de equipe queeu já tive. Não foi apenas excelen-te locutor; era um profissionalmuito atuante e detalhista. Eutenho muito a agradecer a ele, achoque o José Carlos Araújo e o LuizPenido também. Os dois são locu-tores forjados por ele.

Jornal da ABI – Estamos falando deum personagem que fez escola?

Washington – O Waldyr erauma pessoa de uma organizaçãofora do comum. Um senso dejustiça muito grande. Como elemesmo sabia das suas limitaçõescercava-se da nata do rádio es-portivo. A sua equipe era forma-da por Rui Porto, João Saldanha,Mário Vianna, Celso Garcia, JoséCarlos Araújo, entre outros. Eleestava sempre cercado por umgrupo forte, e se alguém não gos-tasse do modo como ele narravauma partida com certeza gostavade ouvir a sua equipe.

Jornal da ABI – A característicada narração do Waldyr Amaralé muito comentada até hoje.

Washington – O modo com queele fazia uma narração era dife-rente, que não tinha a mesma emo-ção, por exemplo, do Jorge Cúri.Ele desenvolveu a capacidade detransmitir os jogos com um peque-no atraso dos lances que já tinhamacontecido. Como tinha uma boamemória, quando a bola chegavana área e o gol saía, ele fazia umapausa e compensava o pequenoatraso na narração da jogada eemendava o grito de gol. O reco-nhecimento das suas próprias li-mitações significava que ele erauma pessoa muito especial.

Jornal da ABI – Quem foi o gran-de locutor esportivo da sua épo-ca como repórter?

Washington – O Jorge Cúri.Quando eu era pequeno gostavamuito do Raul Longras, o ho-mem do gol eletrizante. O JoséCarlos Araújo e o Luiz Penidosão muito bons também, mas oCúri foi o melhor de todos.

Jornal da ABI – E atualmentequem é o melhor?

Washington – Há uma gera-ção que trabalhou com o Cúri naTupi e depois foi para a Globo, querevelou nomes como o Celso Gar-

cia, Antônio Porto, Edson Mauroe vários outros locutores de pon-ta. Infelizmente não há renova-ção, o José Carlos Araújo está com71 anos e até hoje é o Garotinho.O Penido é um pouco mais novo,mas também é garotão (risos).

Jornal da ABI – Vamos falar ago-ra da sua primeira passagem pelaRádio Nacional.

Washington – Foi ótima, por-que o Cúri estava entusiasmadocom o meu trabalho e achava queeu teria um grande futuro no rádioe me deu muita força. Mas a Na-cional era muito conservadora.

Jornal da ABI – Como assim?Washington – Aos domingos

havia os programas de auditório,no qual os locutores eram obriga-dos a trabalhar de smoking. Elesanunciavam a Rádio Nacional car-regando no “erre”. Então quando oentão diretor da emissora, MárioNeiva, me ouviu no ar não gostoue perguntou: “Quem é esse caracom voz de taquara rachada tra-balhando na rádio?” E o Cúri foiobrigado a sair em minha defesa,dizendo que ele me contratara.

Jornal da ABI – E deu certo?Washington – Havia um locu-

tor chamado Aurélio de Andrade,que também era muito famoso naépoca, que também ficou a meufavor, o Saint Clair Lopes, Césarde Alencar, Manoel Barcelos, to-dos feras, que também me derammuita força. Eu então fiquei naRádio Nacional.

Jornal da ABI – Participando deque programa?

Washington – O Beque Paradoque eu fazia na Guanabara foitransferido para a Nacional. Maso primeiro programa de futebolque eu apresentei na Nacional foio Bacardi no Futebol, que tinha umaedição às oito e meia da manhã. Ecom isso eu comecei a ter uma vidaprópria no rádio. O Sérgio Bitten-court gostou de mim e me pediuque participasse do programa queele fazia chamado Fim de Noite,com notícias sobre futebol.

Jornal da ABI – Qual era a sua par-ticipação no programa do SérgioBittencourt?

Washington – Ele criou umquadro chamado Meninos, eu vi, noqual eu falava sobre um fato qual-quer do dia que não tinha tidorepercussão na imprensa. O Sér-gio gostou e começou inclusive ame chamar para participar das reu-niões da equipe dele. Um dia ele foiconvidado para ir para a RádioMundial, do Sistema Globo, e paraminha surpresa me indicou paraassumir o horário dele.

Jornal da ABI – Foi uma bela sur-presa.

Washington – Nós criamos oprograma Nacional Zero Hora, queinspirou o Show da Madrugada,

que depois eu fiz com muito suces-so nas emissoras por onde passei.Posteriormente o Sérgio Bitten-court voltou para a Nacional, e eume senti na obrigação de devolvero horário a ele. A emissora saía doar à uma hora. Mas o diretor-geralda rádio, Sérgio Vasconcelos, medeu um horário até às 2h. Só mepediu que eu arranjasse outronome para o programa.

Jornal da ABI – Você lançou oShow da Madrugada?

Washington – Foi assim quesurgiu o Show da Madrugada, queinicialmente ia ao ar de uma àsduas da madrugada.

Jornal da ABI – E a cobertura dosclubes de futebol continuou?

Washington – Sim, eu partici-pava do programa No Mundo daBola, que foi consagrado pelo An-tônio Cordeiro com sucesso ab-soluto de audiência. Naquela épo-ca não havia telefone celular, osrepórteres eram obrigados a saircom um gravador Ampex enor-me, de fita, movido a energia elé-trica. Eu ia para a rua com um ope-rador de áudio e o motorista. Che-gávamos ao clube, tínhamos queprocurar uma tomada, montartoda essa parafernália pegar o jo-gador no campo e levar até o lo-cal para fazer a entrevista.

Jornal da ABI – Não dava parafazer nada à beira do campo comoatualmente.

Washington – Não havia condi-ções e não havia gravador peque-no. O primeiro gravador portátilque apareceu tinha sido lançadopela Phillips. Mas a Rádio exigiaqualidade e esse tipo de gravadorportátil não atendia à exigênciatécnica da emissora. Éramos obri-gados a trabalhar com o Ampex.

Jornal da ABI – Levou muito tem-po para que a emissora resolves-se esse problema técnico?

Washington – Demorou mui-to até que concordassem que euusasse um minigravador. Entãoeu passei por essa fase na Nacio-nal, que durou até 1969, quandome transferi para a Rádio Globo.

Jornal da ABI – Quem o levou paraa Rádio Globo?

Washington – Fui convidadopelo Waldyr Amaral, que na épocafez um grande lançamento, por-que ele tinha comprado microfo-nes da Missão Apollo (projeto es-pacial da Nasa), usados pelos as-tronautas para se comunicarementre si.

Jornal da ABI – Esse equipamentoresolveu o problema que você ti-nha com o antigo gravador Ampex?

Washington – Sim, porqueeram revolucionários na época.Era um equipamento pequeno,com uma base, confortável e delongo alcance. Para chamar a aten-ção do ouvinte sobre a potência

Washington – Tudo isso acon-teceu em 1962. No mesmo ano,eu fui efetivado no programa epassei a trabalhar junto com oCid Neves. A Rádio Guanabara seempolgou tanto com a idéia queresolveu fazer transmissões dosjogos de futebol de salão compe-tindo com a Continental, que eraa grande emissora de jornalismoe esportes da época.

Jornal da ABI – Qual era a suafunção?

Washington – Eu passei a fazerreportagem de quadra, porque euconhecia todos os atletas comquem eu jogava, além dos dirigen-tes. E isso acabou virando umaatração, pelo fato de eles terem alium colega fazendo reportagem.

Jornal da ABI – Você então foi pi-oneiro e ajudou a difundir as no-tícias sobre o futebol de salão.

Washington – Talvez poucagente saiba, mas o futebol de sa-lão foi criado no Brasil. Começoua ser jogado na Associação Cris-tã de Moços-ACM, que era quemorganizava os jogos. A bola eramuito dura, feita de serragem,depois com cortiça, depois é quepassou a ser feita de couro e a tercâmara de ar. O futebol de salãonaquela época era muito poucodivulgado.

Jornal da ABI – Que veículo de im-prensa da época noticiava o fu-tebol de salão?

Washington – Na imprensa,somente o Jornal dos Sports pro-duzia alguma notícia sobre osjogos; no rádio, a Continental.A Rádio Guanabara entrou nessabriga e deu início a uma compe-tição que foi muito boa para o fu-tebol de salão.

Jornal da ABI – A emissora faziaalgum tipo de promoção?

Washington – Nós levávamosfaixas para as quadras que come-çaram a atrair muita gente, emfunção das transmissões que le-varam as pessoas a se interessarpelo futebol de salão.

Jornal da ABI – Por quanto tem-po você cobriu os jogos de fute-bol de salão?

Washington – Trabalhei nes-sa função de 1962 a 1963. Nes-sa época as equipes de esportesdas emissoras só tinham um re-pórter para fazer a coberturados clubes de futebol profissio-nal. Na Rádio Guanabara o titu-lar era o Espezim Neto, o Bermu-da, que era o grande nome daépoca na reportagem esportiva.Um belo dia ele teve um impedi-mento, e o diretor me ligou di-zendo que não tinha um repór-ter para cobrir o jogo de domin-go. Eu fui cobrir o jogo e a dire-ção da Rádio gostou. O Bermu-da ficou sem trabalhar durante15 dias. Eu então acompanheiuma seqüência de jogos que fo-

“Naquela época os repórteres eram obrigados a sair com um gravador Ampex enorme, de fita, movido a energia elétrica.”

Page 22: 2012__377_abril

22 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

desse equipamento eu saía do Ma-racanã, ia até à Praça Saens Peñaentrevistar alguém que estivesseindo ao cinema ao invés de estarno estádio para assistir ao Fla-Flu.

Jornal da ABI – A qualidade des-se equipamento era boa?

Washington – O gravador ti-nha uma qualidade maravilhosa. Eufui contratado pelo Waldyr para olançamento desses microfones.Um ficava comigo e o outro como Denis Meneses. Como em umadas faces do aparelho aparecia onome Apollo, o Waldir mandouretirar para não fazer propagandagratuita e substituiu por Apoli-nho, que passou a ser o nome doaparelho. Só que o Waldyr dizia noar “lá vai o Washington Rodriguescom o seu Apolinho”. O torcedorouvia aquilo e me chamava “SeuApolinho...” (risos)

Jornal da ABI – Foi assim que vocêfoi batizado como Apolinho?

Washington – Quem criou oapelido foi o Celso Garcia. A tur-ma da Rádio entrou na brinca-deira e a coisa pegou. E então pas-sei a ser chamado de Apolinho econtinuei fazendo dupla com oDenis até 1963.

Jornal da ABI – Dupla de repór-teres que ficou conhecida como“Os Trepidantes”.

Washington – Essa tambémfoi uma criação do Celso Garcia.

Jornal da ABI – Como era traba-lhar com o Denis Meneses?

Washington – Foi muito bomporque o Denis era um tremendoprofissional. Como apurador denotícia não conheço igual. Aocontrário de mim, que nunca fuimuito bom na apuração. Eu gos-tava mais de abordar o lado curi-oso dos fatos. Então ele dava umanotícia e eu fazia um comentáriosacana, engraçado. Nós acabamosalcançando uma audiência incrí-vel. Em jogos de grande público noMaracanã nós nos ouvíamos fa-lando, por causa do eco do rádio depilha dos torcedores no estádio.

Jornal da ABI – Que reportagensmarcaram esse seu período narádio?

Washington – A que deu maisrepercussão foi produzida na pe-núltima partida do CampeonatoCarioca de 1966, entre o Flumi-nense e o Bangu, que era candidatoao título e acabou inclusive sendoo campeão estadual naquele ano(A partida foi realizada no Mara-canã, em 9 de outubro de 1966.Bangu 1 x 0 Fluminense, gol de Nor-berto aos 37 minutos do 2º tempo).O Álvaro Bragança era o Diretorde Árbitros e informou que ojuiz que iria apitar o jogo seriasorteado no vestiário. Eu recebiuma informação de que não ha-veria o tal sorteio. A partidacomeçava às 17 horas. Eu fui parao Maracanã às 13h e me escon-

di no vestiário dos árbitros, paraouvir o que eles iriam conversar.

Jornal da ABI – Ninguém notoua sua presença?

Washington – Eu fiquei es-condido numa espécie de armá-rio, que na realidade era a caixade força. Na hora em que eu che-guei todos os aparelhos do vesti-ário estavam desligados. De re-pente, chegou um funcionário eacionou a energia. Os aparelhosforam ligados e dentro da caixade luz ficou um calor insuportá-vel. Como não tinha chegadoninguém eu saí dali e entrei nobanheiro, que tinha quatro reser-vados, e me escondi em um deles.Em um dado momento chega-ram o Álvaro Bragança e os ou-tros árbitros.

Jornal da ABI – O pessoal da rá-dio sabia onde você estava?

Washington – Ninguém naemissora sabia o que eu estavafazendo. O locutor ficou pergun-tando por mim no ar. Mas o ope-rador sabia que eu estava enfiadoem algum lugar, porque o micro-fone que eu usava não estava noestúdio.

Jornal da ABI – E você sem po-der falar nada para não ser des-coberto, não é mesmo?

Washington – No momentoem que o Bragança ia começar areunião, o José Gomes Sobrinho,que também era delegado de Po-lícia, resolveu usar o banheiro epara o meu azar entrou no reser-vado onde eu estava escondido.

Jornal da ABI – Um tremendo fla-grante e de um delegado. Ele odenunciou?

Washington – Eu o puxei paradentro, fechei a porta e disse noouvido dele: “Zé, pelo amor deDeus, estou aqui desde às 13h,não me denuncie. Eu estou comuma informação de que não ha-verá sorteio. Deixa eu fazer essamatéria”.

Jornal da ABI – Qual foi a rea-ção dele?

Washington – Ele cumpriu,saiu do banheiro, voltou para oencontro dos outros árbitros eeu continuei clandestino espe-rando pelo desfecho da reunião.

Jornal da ABI – O que aconteceudepois?

Washington – Eu estava como microfone aberto e o pessoalda rádio ouvindo tudo. O Bra-gança comunicou que não have-ria o sorteio e que o árbitro seriao Aírton Vieira de Morais. Os ou-tros se insurgiram, Eunápio deQueirós, que seria um dos ban-deirinhas, foi embora dizendoque não ia mais participar daque-le imbróglio.

Jornal da ABI – E o que você fez?Washington – Eu saí do meu

esconderijo anunciando pelomicrofone que não haveria sorteioe o que estava acontecendo no ves-tiário. O Bragança chamou a Polí-cia e eu fui preso. Essa matéria teveuma grande repercussão; a histó-ria foi publicada em todos os jor-nais. Foi um dos grandes furos dereportagem da minha época.

Jornal da ABI – Gostaria que vocêfalasse sobre o futebol dessaépoca.

Washington – Em 1962, quan-do eu comecei a trabalhar com jor-nalismo esportivo, o Brasil foi cam-peão mundial. A minha primeiraCopa do Mundo foi a de 1970, pelaRádio Globo. Então, eu vi jogaremGarrincha, Pelé, Nilton Santos. Apartir daí eu vi jogadores extraor-dinários no Brasil e no exterior. OPuskas foi um deles. Eu tenho aalegria de ter visto o futebol damais pura essência. No tempo emque o futebol era praticado commais talento do que outra coisa.Hoje é muito mais negócio, se pri-vilegia a parte física, bem mais doque a técnica.

Jornal da ABI – Bem diferente dofutebol praticado há pelo menosquatro décadas.

Washington – Antigamentese exigia mais habilidade, técni-ca, saúde e não havia como jogarfutebol se a pessoa não tivessetalento e habilidade. A saúde nemtanto, a exemplo do Heleno deFreitas, que morreu tuberculoso.

Jornal da ABI – Desse período paracá as coisas mudaram muito?

Washington – Vieram os pre-paradores físicos e o futebol ficoumuito mecanizado. Atualmente,um jogador de técnica razoávelacaba se transformando em umatleta de bom porte, jogando aténo cenário internacional sem tera habilidade dos jogadores daque-la época.

Jornal da ABI – Quem é o seugrande ídolo no futebol?

Washington – É o Evaristo deMacedo. Eu era fã desse jogador.Eu sou Flamengo e o vi chegar naGávea, vindo do Madureira, parainiciar sua carreira ainda comoreserva. Ele entrava nos jogos fal-tando sempre nove minutos parao término das partidas. Não seipor que o Fleitas Solich só o colo-cava em campo dessa maneira.Mas ele virava jogo, fazia gols eaquilo me fascinava. Ele virou ti-tular e o Flamengo ganhou o tri-campeonato (1953, 1954 e 1955),com um gol dele em cima do Amé-rica, com um chute de fora da área.

Jornal da ABI – Com esse gol o Eva-risto passou a ser o seu ídolo?

Washington – Ele era um jo-gador extraordinário. Na Sele-ção Brasileira ninguém até hojeconseguiu chegar à sua marca:cinco gols em uma só partida, emque o Brasil ganhou da Colômbia

em jogo pelas eliminatórias daCopa do Mundo de 1958.

Jornal da ABI – Mas por que, comtodo esse futebol, o Evaristo nãojogou a Copa de 1958?

Washington – Porque tinha setransferido para o Barcelona e na-quela época o jogador não podiaser repatriado para servir à Sele-ção. Então ele abriu uma brechaaté para o Pelé, que talvez não jo-gasse a Copa de 1958 se o Evaris-to estivesse no Brasil, porque eleera ainda muito jovem.

Jornal da ABI – O Pelé foi convo-cado para ocupar a vaga do Eva-risto na Seleção?

Washington – Não, quando oEvaristo saiu chamaram o Dida,que também jogava no Flamen-go, para ser o titular. O Pelé foi con-vocado para a reserva. O Dida co-meçou a Copa jogando e o Pelé nobanco.

Jornal da ABI – Chegou a conhe-cer seu ídolo pessoalmente?

Washington – Sobre esse aspec-to há um dado curioso, porque oEvaristo sempre foi mal-humora-do, falava duro com os jornalistas.Eu tinha tanta fascinação por ele,que eu me afastei dele como profis-sional com medo dele me dar umabandeira e eu me decepcionar.

Jornal da ABI – O Evaristo era oídolo que você curtia à distância.

Washington – Como já disse,eu tinha receio de levar um forado meu grande ídolo. Eu estava co-meçando a carreira e quando via oEvaristo me distanciava dele. Elevirou técnico consagrado e cadavez mais eu ia me afastando dele.

Jornal da ABI – Até quando du-rou esse dilema?

Washington – Um dia ele sequeixou com o Antônio Clemen-te, que trabalhava como supervi-sor e preparador físico do time:“Qual é a daquele cara chamadoWashington? Se eu estou perto elese afasta. Ele não gosta de mim?”O Clemente então respondeu:“Pelo contrário, ele lhe adora, nãose aproxima porque tem medo devocê. Se você lhe responder mal,vai ser uma decepção tão grandeque ele prefere não se aproximarde você”.

Jornal da ABI – A partir desse diahouve a tão esperada aproxima-ção com o Evaristo?

Washington – Aí o Evaristo meprocurou, e fizemos uma amiza-de que até hoje perdura. Inclu-sive quando eu estive no Fla-mengo como Diretor Técnico,acabei levando-o como treina-dor. Até hoje eu tenho por ele umcarinho fora do comum. No meutime de botão todo número10era o Evaristo.

Jornal da ABI – Até que ano vocêtrabalhou na Rádio Globo?

Washington – Saí de lá em 1973,para trabalhar na Continental nodia seguinte da minha saída daGlobo. Logo que cheguei, eu e aequipe fomos para a Europa e fi-camos 25 dias acompanhando aSeleção Brasileira, muito empol-gado. O meu contrato era de doisanos, com um bom salário, masseis meses depois a Continentalparou de transmitir futebol e eufiquei desempregado.

Jornal da ABI – Ficou muito temponessa situação?

Washington – Passei um perí-odo na Rádio Vera Cruz e depoisfui para a Rádio Guanabara. NaCopa de 1974, a Tupi me convocoue lá fiquei até 1976, quando a RádioNacional me chamou e montouuma equipe comigo, José CarlosAraújo e Denis Meneses. Lá fize-mos um trabalho muito bom até1984, quando eu voltei para aRádio Globo.

Jornal da ABI – Que programavocês faziam na Rádio Nacional?

Washington – Era o programaNo Mundo da Bola, de cinco àssete da noite, no mesmo horárioque eu apresento o meu progra-ma aqui na Tupi.

Jornal da ABI – E na Rádio Globo?Washington – Eu fazia o pro-

grama Show da Madrugada, demeia-noite às 5h, de sábado paradomingo. Ao meio-dia já estavano estádio para cobrir o futebol.Eu era uma máquina (risos).

Jornal da ABI – Sempre trabalhounesse ritmo?

Washington – O trabalho nun-ca me assustou. Atualmente, che-go aqui na Tupi às 6h30min e saioàs 20h, todos os dias. Como diziao Chacrinha, com quem eu traba-lhei na televisão, “o homem é co-mo a bicicleta: quando pára, cai”.

Jornal da ABI – Quando foi a es-tréia na televisão?

Washington – Eu fiquei na Rá-dio Globo até 1999. Mas por duasvezes a emissora me cedeu ao Fla-mengo. Foi quando eu me ausen-tei em 1995, para assumir o cargode técnico do time. Em 1998, eutambém ocupei o cargo de DiretorTécnico do clube.

Jornal da ABI – O que o levou aaceitar essa proposta de dirigiro Flamengo?

Washington – Porque o Fla-mengo é o meu clube. Estou com75 anos, mas se o Flamengo forjogar contra o Vasco num domin-go e o time estiver sem goleiro, seme convocarem eu vou. Posso le-var 200 gols, mas vou assim mes-mo, porque o Flamengo não meconvida, me convoca.

Jornal da ABI – Qual era a situa-ção do Flamengo na época?

Washington – Houve umagrande crise no Flamengo, por

“Eu tenho a alegria de ter visto o futebol da mais pura essência.No tempo em que o futebol era praticado com mais talento do que outra coisa.”

Page 23: 2012__377_abril

23JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

causa da perda do título para oFluminense, em 1995, com aque-le gol de barriga do Renato Gaú-cho, no final da partida. O climaestava muito quente entre o Van-derlei Luxemburgo e o Romárioe o zagueiro Jorge Luiz, que apare-ceu pouco na história, mas a rixaentre eles existia.

Jornal da ABI – O Vanderlei se de-mitiu?

Washington – O Vanderlei foiobrigado a sair e o Edinho foi subs-tituí-lo. O Flamengo foi fazer umaviagem ao exterior, o Edinho tinhapegado o bonde andando, acabouviajando sem tempo para conhecerdireito o grupo. Lá fora teve umabriga do Romário com o Sávio.

Jornal da ABI – Essa briga tevegrande repercussão na imprensa.

Washington – A TV Globo exi-biu as imagens, e a matéria te-veuma repercussão enorme no Bra-sil. Na volta o Edinho pediu de-missão. O Presidente do Flamen-go era o Kleber Leite, que ficoudesesperado porque o time já ti-nha perdido três ou quatro roda-das do Campeonato Brasileiro.Ia começar a Supercopa, que erauma competição só para os clu-bes campeões da Copa Libertado-res, e o Flamengo estava incluí-do nesse grupo.

Jornal da ABI – Então o KleberLeite lhe fez o convite para apa-gar esse incêndio?

Washington – Eu e o KleberLeite sempre trocávamos idéiasa respeito do clube. Uma noite euestava na minha casa jantandocom o Vanderlei Luxemburgo e eletelefonou me convidando parajantar. Como eu disse que não po-dia, ele pediu que após o jantarfosse encontrá-lo no restauranteAntiquarius, no Leblon.

Jornal da ABI – Como foi o en-contro?

Washington – Saí de casa porvolta da meia-noite e fui ao seuencontro. Eu já sabia que ele gos-taria de ouvir a minha opinião so-bre quem deveria ser o novo téc-nico do Flamengo. E fui prepara-do para lhe indicar o Telê Santana.

Jornal da ABI – Por quê?Washington – A crise no Fla-

mengo era muito grande. Entreo grupo de jogadores, a diretoriae alguns veículos de imprensa. Asituação estava difícil para o Kle-ber Leite.

Jornal da ABI – Na sua opinião oTelê seria a única opção para aca-bar com a crise?

Washington – O Telê era umgrande nome, cujo impacto eu ima-ginava que parasse a crise instala-da no clube e a paz voltasse a reinar.O Kleber Leite estava acompanha-do do Michel Assef. Eu cheguei, fizas minhas considerações, mas eleme disse: “Nós queremos é você”.

Jornal da ABI – Você aceitou deimediato ser o treinador do Fla-mengo?

Washington – Sim, mas haviaum problema. Na época das brigaseu fiquei do lado do Vanderlei. Es-culhambava o Romário e ele amim. Minha mulher chegou a meperguntar se eu achava mesmoque aquilo ia dar certo, porque seo Romário derrubava quem elegostava, o que ele não faria comi-go, já que não gostava de mim.

Jornal da ABI – Pelo visto nada ofez desistir.

Washington – Quando eu che-guei de manhã para assinar o con-trato, o primeiro telefonema querecebi foi do Romário, dizendoque tinha gostado da idéia. Eu apro-veitei e disse a ele que era hora de agente se entender, ele concordou.

Jornal da ABI – Isso o deixou con-fiante de que a paz poderia se res-tabelecer logo no clube e entre osjogadores?

Washington – A minha primei-ra atitude foi convidá-lo para par-ticipar da entrevista coletiva. Eledisse que não poderia, porque ti-nha que treinar. Eu então disse a eleque a partir daquele momento euera o chefe e o estava liberando dotreinamento para que me acompa-nhasse na entrevista.

Jornal da ABI – Qual foi a reaçãodo Romário?

Washington – Nós nos reuni-mos no auditório, onde se encon-travam vários jornalistas da im-prensa, tv e rádio. Eu tinha preve-nido a ele que iam surgir pergun-

tas sobre a nossa briga e que ele medeixasse responder, para matar oassunto assim que ele surgisse.

Jornal da ABI – E o que aconte-ceu na entrevista coletiva?

Washington – Logo de saídaum repórter da TV Globo me per-guntou como é que eu pretendiadirigir o time do Flamengo, ondejogava o Romário, jogador com oqual eu tinha brigado.

Jornal da ABI – Qual foi a sua res-posta?

Washington – Eu me virei parao Romário e disse que o repórtertinha razão, nós tínhamos umadiferença que precisava ser resol-vida antes de eu começar a traba-lhar. E falei: “Vamos resolver issoagora, você quer sair na porradacomigo aqui mesmo ou vai medar um abraço?” Nós nos abraça-mos e matamos o assunto (risos).

Jornal da ABI – Com esse climaentão ficou fácil trabalhar?

Washington – O Romário aca-bou sendo um grande colaboradormeu nesse período. Trabalhei comele em 1995 e 1998. Tinha tam-bém o Edmundo, Márcio Costa,Ronaldão, entre outros. Esse timedo Flamengo não era brincadeira.

Jornal da ABI – Essa sua passa-gem pelo Flamengo foi uma boaexperiência?

Washington – Nos dois perío-dos em que estive no Flamengoconsegui trabalhar sem nenhumaconfusão. Fomos vice-campeõesda Supercopa. Jogamos oito parti-das contra times de ponta, perde-

mos a disputa no saldo de gols.Para ser sincero, tenho até sauda-de da minha passagem pelo clube.

Jornal da ABI – Qual é a sua ava-liação sobre o jornalismo espor-tivo que se pratica atualmente?

Washington – Eu estou mui-to preocupado com duas coisasque interferiram demais no jor-nalismo esportivo, que são a in-ternet e o futebol-negócio. A in-terferência desses dois aspectosdeixou a cobertura esportiva mui-to distante daquela que eu apren-di e pratiquei.

Jornal da ABI – Explique por fa-vor o que é futebol-negócio.

Washington – Hoje em dia orepórter para falar com um joga-dor recém-saído do juvenil primei-ro tem que falar com um montede gente das assessorias. Eu soudo tempo em que o repórter, ain-da sob o clima do calor da parti-da, entrava em campo para en-trevistar os atletas. Ia para o ves-tiário e se visse uma briga saíalogo relatando.

Jornal da ABI – Essa era a grandeemoção do rádio?

Washington – O rádio passavauma emoção muito forte. Quan-do a televisão entrou nessa áreacomeçou a cercear, para dominaro ambiente esportivo.

Jornal da ABI – Qual foi o resul-tado desse comportamento da tv?

Washington – O jogador fazcinco gols na partida, um delesde bicicleta, e a tv determina quequem vai falar com os jornalis-tas é o goleiro reserva. Os treina-dores só falam na entrevista co-letiva. O repórter faz uma per-gunta e não tem direito de fazera segunda, nem tem como deba-ter com o técnico a visão que tevedo jogo.

Jornal da ABI – Até que ponto essainterferência vem modificando acobertura esportiva?

Washington – Ficou tudo mui-to frio. A televisão, especialmen-te a TV Globo, que, apesar de es-tar fazendo o papel dela, para orádio foi um desastre. O repórternão pode entrar no campo, nemaparecer ao lado do colega de tvquando este está entrevistandoalgum jogador.

Jornal da ABI – Funciona assimem todos os estádios?

Washington – Isso só aconte-ce aqui no Rio. Quando o repór-ter se desloca para outro Estadonão há esse problema. Aqui cria-ram essa imposição e o rádio acei-tou. Eu se fosse repórter teria umagrande dificuldade para aceitarpassivamente essa situação.

Jornal da ABI – Já teve algum pro-blema por causa disso?

Washington – Quando surgi-ram as placas publicitárias atrás

do gol, que era onde nós ficáva-mos posicionados, queriam que euficasse atrás delas. Eu não aceita-va. Eles tinham razão, comigo alina frente a placa não ia aparecerna televisão, mas eu os questiona-va. Afinal, foram muitos anos tra-balhando sem essa imposição.

Jornal da ABI – Como ficou o tra-balho do repórter de campo?

Washington – A CBF foi con-vencida e criou um regulamen-to que determinou que nenhumrepórter de rádio ia mais atuardentro de campo. Eu fui para Jus-tiça e ganhei esse direito.

Jornal da ABI – Quando foi isso?Washington – Isso aconteceu

no final dos anos 1970, quandoeu ainda estava na Rádio Nacio-nal. Eu deixei para dar entrada naação na véspera do primeiro jogodo campeonato. Ganhei uma li-minar e até o julgamento do mé-rito da ação eu cobria os jogos pra-ticamente sozinho. As outrasemissoras de rádio começaram aquestionar e a criticar a CBF, por-que só havia um repórter no cam-po fazendo as reportagens semconcorrência. Por causa das recla-mações, tiveram que afrouxar oregulamento para beneficiar todomundo.

Jornal da ABI – Se fosse atualmenteo resultado teria sido o mesmo?

Washington – Hoje em dia háuma empresa terceirizada que ficaacompanhando os jogos e se um re-pórter burlar a determinação im-posta pela tv e “sujar a imagem”,ou seja, entrar na frente da câme-ra, fica suspenso por uma ou duaspartidas. Não é a emissora de rádioque faz isso. Eu nunca tinha vistouma situação igual a essa. O repór-ter não trabalha e ninguém falanada. É um tremendo absurdo.

Jornal da ABI – Qual é o nomedessa empresa?

Washington – É a Approach,que eles (da televisão) colocampara atuar junto à Federação deFutebol do Rio de Janeiro. O pro-blema é que a associação de clas-se concorda e as emissoras tam-bém e o profissional acaba sendosuspenso das suas funções poruma entidade que não deveriaestar cuidando desse assunto.

Jornal da ABI – Qual é a responsa-bilidade da televisão nesse caso?

Washington – Eu já disse quenão condeno a televisão, pois elaestá fazendo o seu papel. Cadaveículo tem que cuidar do seuinteresse. Acho inclusive que aGlobo faz um trabalho fantástico.Mas verifico que as emissoras derádio aceitaram essa situação commuita passividade, e como estoudo lado de cá reclamo muito.

Jornal da ABI – Qual foi o impac-to dessa medida no trabalho dosrepórteres?

HIPÓLITO PEREIRA/AGÊNCIA O GLOBO

Page 24: 2012__377_abril

24 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Washington – Acho que no atu-al formato da cobertura do fute-bol o trabalho do repórter de rádioperdeu toda a emoção. O jogadora ser entrevistado acaba sendoaquele que a televisão impõe, in-clusive na hora que ela determina.

Jornal da ABI – Não existe outraopção?

Washington – Nós perdemoso direito de optar. Isso interferetambém em entrevistas nos pro-gramas de rádio. Esta semana eufiz uma entrevista exclusiva comJoel Santana aqui no meu progra-ma (Show do Apolinho), mas o bate-papo só aconteceu numa deferên-cia especial a mim.

Jornal da ABI – Os atletas, téc-nicos e dirigentes ficaram impe-didos de falar normalmente?

Washington – Eles são instruí-dos a só falarem com jornalistasem entrevistas coletivas. E nessetipo de entrevista eu não posso de-bater com ele um assunto impor-tante. Quando a gente liga paraum personagem do mundo espor-tivo ele alega que não pode falar,porque as outras emissoras vãocriticá-lo por ele não ter concedi-do entrevista para elas também.

Jornal da ABI – Isso tem a ver tam-bém com a tv?

Washington – Antigamente,eu ia à casa do dirigente, entrevis-tava técnico ou jogador em qual-quer lugar, até mesmo em um hos-pital. E as conversas às vezes eramlongas. Hoje não se pode fazernada disso. E isto tirou o charmeque tinha o futebol, que atual-mente está muito chato.

Jornal da ABI – Em que sentido?Washington – Na época em que

o Tomires e o Pavão jogavam, o paucomia em campo e juiz não tinhacartão para dar, a advertência eraverbal. Hoje o jogador encosta nooutro, é como se fosse uma faltadesproporcional, o juiz vem logocom o cartão amarelo, tira o atletado próximo jogo. Por isso, a coisaficou muita chata, por causa deum processo muito mecânico.

Jornal da ABI – Já que estamos fa-lando em televisão falemos sobrea sua experiência com essa mídia.

Washington – Eu comecei emtelevisão quando fui para a TVGlobo, no final dos anos 1960,para participar da Resenha Facit,que tinha Armando Nogueira,João Saldanha, José Maria Scas-sa, José Dias, Salim Simão, entreoutros. Trabalhei também na TVRio, Excelsior, Continental, Man-chete, Record, na antiga TVE ena CNT.

Jornal da ABI – Chegou a ter umprograma só seu na tv?

Washington – A minha parti-cipação era sempre em mesa-re-donda. Na TV Tupi eu cheguei afazer uma participação num

programa substituindo o FlávioCavalcânti, que teve uma brigacom a direção da emissora e saiue deixou um buraco aos domin-gos na programação.

Jornal da ABI – Qual era o nomedo programa?

Washington – Eles criaramum programa chamado Domingoé Dia de Show e colocaram cincoapresentadores para ir eliminan-do até ficar um só. Por último, fi-camos eu e o Albino Pinheiro, dis-putando o páreo final. Mas anossa atuação juntos ficou tãoboa que a direção da Tupi resolveu

nos deixar continuar a atuar emdupla. Infelizmente, em seguidaa emissora fechou. E nós perde-mos a chance de sermos o Faustãoou o Gugu da época.

Jornal da ABI – Como foi traba-lhar com o Abelardo Barbosa, ofamoso Chacrinha?

Washington – Eu fui juradodo programa dele e também ti-nha a missão de levar jogadoresde futebol para dar entrevistas.

Jornal da ABI – Gostaria de regis-trar alguma?

Washington – Houve uma pas-sagem interessante. O Vasco foicampeão e o Chacrinha disputa-va com o Flávio Cavalcânti a li-derança do horário. Ele era vas-caíno e me pediu que levasse otime inteiro ao programa, com ataça e tudo. Eu fui ao clube falarcom o então Presidente Agartino

Gomes sobre a proposta, mas elealegou que o Flávio Cavalcãntitinha feito o pedido primeiro. Eudisse ao Agartino que o Flávio eratorcedor do Fluminense e o Cha-crinha era vascaíno, por isso deve-ria ter prioridade. Como na épocaeu cobria o Vasco e ele gostava mui-to de mim, me propôs uma divi-são. Eu não aceitei e disse que oChacrinha queria a presença detodo o time, inclusive a dele.

Jornal da ABI – O Agartino acei-tou a sua proposta?

Washington – Eu disse que aparticipação do time no programa

do Chacrinha só ia demorar uns15 minutos, e depois ele poderialevá-lo para a Tupi para a entrevis-ta com o Flávio. Ele botou todosos jogadores no ônibus, como eutinha sugerido, e seguiu para a TVGlobo. A verdade é que o Chacri-nha não queria que o time do Vas-co fosse ao programa do Flávio.Mas eu tive que prometer ao Cha-crinha que seria dessa maneira,mas não podia dizer isso ao pes-soal do Vasco.

Jornal da ABI – Qual foi o desfe-cho dessa história?

Washington – Eu pedi ao pes-soal que tomava conta do estaci-onamento da TV Globo, que ti-nha uma passagem estreita, pararetirar todos os carros e deixá-lovazio até que o ônibus do Vascoestacionasse. Quando o veículoentrou, eu pedi para que os car-ros fossem colocados atrás dele

e o estacionamento foi fechadocom o ônibus lá dentro. Sem quesoubesse disso, o Chacrinha man-dou retardar a participação do ti-me do Vasco, que seria a atraçãomáxima do programa e demoroupara chamá-los ao palco.

Jornal da ABI – Isso não irritouo Agartino?

Washington – O Agartino es-tava zangado, mas o Chacrinhacomeçou as homenagens ao clu-be, cantou o hino do clube e tudomais. Na hora que o ônibus tinhaque ir embora, não conseguia sair,pois fiz com que ficasse preso noestacionamento para derrubar aida deles ao programa do Flávio.

Jornal da ABI – Isso também nãoirritou o Agartino?

Washington – O Agartino re-clamou, mas eu me desculpei di-zendo que não tinha como saberque o ônibus do clube tinha fica-do preso no estacionamento.

Jornal da ABI – Vamos falar deCopa do Mundo?

Washington – A Copa de 1970no México foi a minha primeiraCopa do Mundo, juntamente como Denis Menezes. A emissora ti-nha uma parceria com a Nacionalpara transmitir os jogos, porque osdireitos de transmissão eram muitocaros na época. O Jorge Cúri erao locutor da Nacional, e o WaldyrAmaral da Globo.

Jornal da ABI – Já tinha feito al-guma cobertura internacional?

Washington – Foi a primeiraviagem internacional que fiz pe-la Rádio Globo e a grande emo-ção da minha vida, porque eu vio Brasil ser campeão.

Jornal da ABI – Como foi o seu con-vívio com os jogadores da Sele-ção Brasileira tricampeã de 1970?

Washington – O contato comos jogadores era muito fácil. Tí-nhamos acesso inclusive aos reser-vas. Eu me lembro de que o DarioPeito de Aço assistia ao jogo na mes-ma posição em que eu e o Denis fi-cávamos. Toda tarde, após o treino,os jogadores se reuniam no varan-dão do hotel e organizavam um pa-gode, e as pessoas se aglomeravamna rua para assistir a esse outroespetáculo da Seleção Brasileira.

Jornal da ABI – Fale da sua parti-cipação em outros Mundiais.

Washington – Eu cobri dezCopas do Mundo. Não fui na daCoréia e Japão, porque a Tupi nãotransmitiu, por causa dos horári-os, que não compensavam econo-micamente para a emissora alte-rar a programação e fazer a trans-missão dos jogos.

Jornal da ABI – Qual a melhorSeleção Brasileira que você já viujogar?

Washington – A Seleção Bra-sileira de 1970 foi o melhor time

de futebol que eu já vi jogar. Omelhor técnico de Seleção foi oCláudio Coutinho; em clubes defutebol, o Tim.

Jornal da ABI – O que lhe cha-mava a atenção no Cláudio Cou-tinho?

Washington – Eu tinha muitoorgulho do Coutinho, porque eleera uma pessoa inteligente, culta,calmo, entre outras qualidades.As coletivas eram realizadas coma ajuda de intérpretes. Quandochegava a vez do Coutinho, eledispensava o serviço de traduçãoe respondia às perguntas no idio-ma dos repórteres de cada país.Aquilo me deixava orgulhoso. Aotérmino das entrevistas, os jorna-listas o aplaudiam de pé.

Jornal da ABI – Qual é a sua opi-nião sobre o trabalho de ManoMenezes?

Washington – Eu gosto muitodo Mano Menezes, mas estou pre-ocupado porque ele ainda não con-seguiu montar um time e dificil-mente terá um, porque não temtempo de treinar. Em 1970 eu co-bri todos os treinamentos e melembro de que a Seleção passouquatro meses fazendo trabalho deadaptação de altitude. O Brasilganhou aquela Copa no condicio-namento físico. No último jogo,entre o Brasil e a Itália, no segun-do tempo os italianos estavam pa-rados dentro de campo, o resulta-do foi aquela goleada de 4 a 1.

Jornal da ABI – Qual é a grandedificuldade do técnico da SeleçãoBrasileira atualmente?

Washington – Ele recebe o timenum dia e viaja logo em seguida.Não há tempo para treinar, nemconhece bem os jogadores. Na pró-xima Copa, como não terá que dis-putar a fase eliminatória, o Brasilvai enfrentar muita dificuldadepara montar um time.

Jornal da ABI – Qual a sua avali-ação da CBF e sobre a polêmicaenvolvendo o Ricardo Teixeira?

Washington – O Ricardo Tei-xeira teve uma administração comêxito, com a conquista de 112 títu-los. Pegou a CBF falida e a deixoucom R$ 300 milhões em caixa,mesmo assim enfrenta uma sériede denúncias. O que me irrita éque eu acho que a Fifa está fazen-do chantagem com ele. Diz quetem um dossiê que o incriminapor ter recebido propina, mas nãoo mostra. Estão jogando no aruma denúncia sem provas.

Jornal da ABI – As acusações en-volvem também o João Have-lange.

Washington – Fizeram issocom o João Havelange, que é umapessoa que o mundo todo reveren-cia. Dizem que ele pegou R$ 1 mi-lhão, o que para o Havelange énada, e acho que ele não pegaria.Eu ficaria decepcionado se isso

“A Seleção Brasileira de 1970 foi o melhor time de futebol que eu já vi jogar.”

RC

IO M

ERC

AN

TE/AG

ÊNC

IA O

DIA

Page 25: 2012__377_abril

25JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

fosse verdade. Até porque acho queseria o mesmo que o Eike Batistaroubar um saco de laranjas.

Jornal da ABI – Qual seria o mo-tivo do afastamento do RicardoTeixeira do comando da CBF?

Washington – Existem váriasdenúncias contra ele, que inclusi-ve já passou por CPI. Até agora nãoconseguiram provar nada. Ele seafastou porque tem uma doençaséria. Há muito tempo que ele sedesligou do contato com a impren-sa. Eu mesmo falava com o Ricar-do Teixeira quinzenalmente. Masnunca mais, nem por telefone,consegui conversar com ele. Sobreas denúncias só podemos acreditarquando mostrarem a prova. Tam-bém não temos como duvidar.

Jornal da ABI – O verdadeiromotivo da saída do Ricardo Tei-xeira seria para cuidar a saúde?

Washington – Na minha opi-nião ele se afastou por causa daCopa do Mundo no Brasil, se nãofosse isso não sairia. O RicardoTeixeira estava há 23 anos na CBF,mas agora tem uma disputa mui-to grande pela chave do cofre.Copa do Mundo é uma coisa ma-ravilhosa. Deixa um legado paraas cidades e para o País, mas mui-ta gente fica rica também.

Jornal da ABI – E os embates daFifa com o Brasil por causa noatraso nas obras?

Washington – Eu tenho vistocom muita preocupação esse du-elo. Primeiro, é que o Brasil é quefoi pedir à Fifa para sediar a Copa,e não o contrário. E assumimosum compromisso e o Lula assinouum papel concordando com todasas exigências, que agora queremmudar. Há tanta coisa sendo con-duzida da maneira errada, com odebate público cheio de ofensas.

Jornal da ABI – O Romário com-parou a saída do Ricardo Teixei-ra à extirpação de um câncer.

Washington – Ele deveria terdito isso quando foi convocado,ou quando foi pedir à CBF paracriar ingressos para os portado-res de deficiência. Essa atitudedele me surpreendeu, porque oRomário não é de chutar cachor-ro morto. Ele foi indelicado. Eunão absolvo o Ricardo Teixeira,mas não posso condená-lo se nãohouver provas de que ele fez al-guma coisa errada.

Jornal da ABI – O que você pen-sa de toda essa confusão?

Washington – A impressãoque tenho é que o Brasil se arre-pendeu e não está querendomais organizar a Copa do Mun-do. Além das dificuldades técni-cas com a Seleção, teremos pro-blemas também no relaciona-mento com a Fifa. O RicardoTeixeira, por exemplo, brigoucom as duas pessoas com quemele não deveria ter brigado: o Pre-

sidente da Fifa, Joseph Blatter, ea Presidente Dilma. Isso me dei-xa muito preocupado.

Jornal da ABI – O novo presiden-te da CBF, José Maria Marin, temperfil de quem irá contornar to-das essas crises rapidamente?

Washington – Eu tenho dúvi-das. Estatutariamente ele é o pre-sidente e não se pode mudar issoa não ser por meio de uma rebe-lião, que eu não gostaria queacontecesse, porque sou a favorda legalidade. Mas tenho dúvi-das se ele vai ter pulso para co-mandar a CBF. Ele não tem boaimagem como gestor para estarna linha de frente da entidade.

Jornal da ABI – Além do rádio e atelevisão você também trabalhouna imprensa.

Washington – Eu trabalhei naLuta Democrática, Diário de Notí-cias, Última Hora, Jornal dos Sports,Extra, atualmente trabalho noMeia Hora. Já atuei também nasrevistas Manchete e O Cruzeiro.

Jornal da ABI – Tem boas lembran-ças desse período?

Washington – Eu gosto muitode escrever. Trabalhei no Jornaldos Sports em uma época muitoboa. No primeiro número do Ex-tra eu estava lá como colunista,no Meia Hora também, onde es-tou até hoje. Agora, a minha ver-dadeira paixão é o rádio.

Jornal da ABI – Como nasceu a co-luna “Geraldinos & Arquibaldos”?

Washington – Quando eu co-mecei tinha muito medo de errarQuem fala de improviso erra mui-to. Então eu comecei a criar termosque eu pudesse levar o ouvinte ainterpretar se eu estaria falandoerrado ou não. Quem frequentavaa geral eu chamei de “geraldino”. Otorcedor de arquibancada passoua ser o “arquibaldo”. O funcioná-rio que carrega a maca eu transfor-

mei em “macário”, quando o cer-to seria maqueiro.

Jornal da ABI – Essa fórmula deucerto?

Washington – Eu falava erradoe ria em seguida, aí o ouvinte gos-tava da novidade. Assim eu fuicriando vários termos e expressõesque me tirassem de sinucas na ho-ra de entrar ao vivo no ar. Isso aca-bou sendo uma marca. Eu tenhomais de 100 expressões cataloga-das. Fizeram até um dicionáriocom essas palavras criadas pormim e algumas lançadas por ou-tras pessoas.

Jornal da ABI – Há quanto tem-po você está na Rádio Tupi?

Washington – Eu vim para aTupi em 1999 e há 13 anos que oShow do Apolinho está no ar. Quan-do eu cheguei, a rádio só tinhauma hora nesse horário de pro-grama de esportes. O Show do Apo-linho é um programa de notícias,não exclusivamente de futebol.

Jornal da ABI – Quantas pessoasestão envolvidas no programa?

Washington – Ao todo são 20pessoas. Além do pessoal de pro-dução, o programa tem uma equi-pe de jornalistas de esportes traba-lhando com a gente. Temos unida-des móveis que transmitem notí-cias da rua, de locais como a Pon-te Rio-Niterói, terminal das barcase informações sobre o trânsito.Tem o Brandão que está comigohá mais de 30 anos com o Apolo mó-vel, fazendo o noticiário policial.É um programa em que eu falopouco, a notícia é que é a vedete.

Jornal da ABI – A audiência do pro-grama é boa?

Washington – O programa estáhá sete anos na liderança absolu-ta do horário, derrotando concor-rentes muito fortes, mas nós con-seguimos essa proeza. Eu tenhomuito orgulho desse programa.

Jornal da ABI – Gostaria que vocêfalasse do Maracanã.

Washington – O Maracanã éa obra mais longa que eu já vi nahistória. Começou no final de1949, o estádio foi inauguradoprovisoriamente para sediar aCopa de 1950 e nesse estágio pro-visório ele está até hoje. Tanto éque o antigo Maracanã foi derru-bado para dar lugar a um novo. Oestádio já sofreu inúmeras inter-venções que nunca terminaram.Eu espero que no final ele nãoseja derrubado novamente porcausa das Olimpíadas.

Jornal da ABI – O Maracanã per-deu o charme como o templo dofutebol?

Washington – Eu acho que sim,inclusive eu não o derrubaria efaria um estádio em outro lugar edeixaria o Maracanã. Paramos oestádio quatro anos para fazernele uma partida da Seleção Bra-sileira, que é o que nos interessa,que poderá inclusive não aconte-cer se o Brasil não se classificarpara a final. Depois pára nova-mente por causa das Olimpíadas.Serão oito anos parado, com umalegião de torcedores se afastandodo estádio. Não tem cabimentofazer isso com o Maracanã.

Jornal da ABI – Qual é o misté-rio do Engenhão, que não conse-gue atrair público nem numa fi-nal entre Vasco e Flamengo?

Washington – Foi um erro noprojeto inicial. Eu me lembro queo Cesar Maia apresentou o proje-to de um estádio que deveria tersaídas e entradas por meio de vi-adutos, que facilitariam muito amobilidade do torcedor. Aconteceque o lugar onde o Engenhão estálocalizado é longe, e as pessoas têmmedo de ir até lá mesmo de carro.

Jornal da ABI – Por quê?Washington – Na saída de um

jogo de grande público, como as

ruas são estreitas, quase não so-bra espaço para os carros passa-rem por causa da massa humana.Se o motorista der o azar de es-barrar em alguém terá o carroquebrado à base de porrada. Éum perigo, as pessoas ficam apa-voradas. Para os jornalistas oestádio é ótimo, melhor até dese trabalhar do que no Maraca-nã. Mas o ir-e-vir para o torcedoré complicado.

Jornal da ABI – O que se pode es-perar do próximo CampeonatoBrasileiro?

Washington – Eu acho que odeste ano ainda vai ser bom, mepreocupo com o do ano que vem.A televisão perdeu os direitos daTaça Libertadores e para se preve-nir pediu, e a CBF atendeu, paraesticar a Copa do Brasil, que terá86 clubes jogando.

Jornal da ABI – Não é muita coisa?Washington – Teremos o Cam-

peonato Brasileiro sendo disputa-do próximo da Copa do Brasil,que é outro torneio longo. Isso semcontar a realização dos campeona-tos estaduais, Copa Sul America-na, Copa das Confederações, Li-bertadores e Seleção Brasileira. Oano só tem 365 dias. Vai ser umaoverdose de futebol, que poderáinclusive afastar o torcedor dosestádios e da poltrona.

Jornal da ABI – Que conselho dariapara alguém que deseja ingressarno jornalismo esportivo?

Washington – O que eu digosempre para eles, sobretudo paraas inúmeras moças que queremingressar na carreira, é que tem quegostar do que faz. Não se podeabraçar a profissão de jornalistapara agradar aos pais. O jornalis-ta é como o bombeiro; para se de-dicar a apagar incêndio tem queter vocação.

Jornal da ABI – Assim como você?Washington – Eu chego na rá-

dio às 6 e 30 e saio às 20h, porqueamo o que faço. E a minha equipefelizmente pensa igual a mim. Sea pessoa não tiver vocação, nãotente ser jornalista. Mas se tiver,venha, porque será muito bem re-cebido e vai gostar muito do queterá para fazer.

Jornal da ABI – Você disse queas mulheres estão crescendo nojornalismo esportivo. Há chan-ces de que um dia venham a nar-rar partidas de futebol?

Washington – O timbre devoz da mulher talvez não seja oideal para que ela consiga ser umaboa locutora esportiva, mas na re-portagem e nos comentários elasestão indo muito bem. Eu, porexemplo, sou fã da Marluce Mar-tins, que eu conheci em O Dia. Elaé uma profissional fantástica. Éuma mulher que se dedicou otempo todo à profissão, é infor-mada, conhece do ofício.

CARLOS MORAES/AGÊNCIA O DIA

O encontro de dois ídolos: Apolinho e Ronaldinho Gaúcho durante uma partida entre Flamengo x Boavista válida pelaFinal da Taça Guanabara de 2011. Na página anterior, o jornalista ergue a Taça Washington Rodrigues, durante uma

partida entre Olaria x Resende válida pela Final do Troféu Washington Rodrigues, criado em sua homenagem.

Page 26: 2012__377_abril
Page 27: 2012__377_abril
Page 28: 2012__377_abril

28 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

LIBERDADE DE IMPRENSA

O assassinato do jornalista Décio Sá nanoite de 23 de abril, em São Luís do Mara-nhão, evidencia as severas restrições aotrabalho dos profissionais de imprensa noPaís e o alto risco de vida que envolve oexercício do jornalismo. Décio foi o quin-to profissional assassinado no Brasil desdefevereiro de 2011, como assinalou a ABI nadeclaração em que manifestou sua indig-nação diante da morte do jornalista.

“Um crime como esse atemoriza e dei-xa mais estupefata a sociedade, não só amaranhense, como a brasileira. Ela vê nes-ses atos como o Brasil caminha para umadesordem. Fica tentada a recorrer ‘ao den-te por dente; olho por olho’. Sente que opoder público não consegue ter sintoniacom o que vai acontecendo diante dessaconvulsão social”, afirma Leonardo Mon-teiro, Presidente do Sindicato dos Jornalis-tas Profissionais da capital maranhense.

Décio Sá, de 42 anos, foi atingido porseis tiros à queima-roupa no Bar Estrelado Mar, localizado na Avenida Litorâneada capital, por volta das 23h30min, pou-co depois de deixar a Redação do jornalO Estado do Maranhão. Duas balas atin-giram a região do tórax e quatro a cabe-ça, segundo informações do jornal emque ele trabalhava. Décio estava sozinhono estabelecimento aguardando a che-gada do Vereador Fábio Câmara (PMDB),a quem tinha convidado para jantar.

Além do trabalho no jornal, onde atua-va na editoria de Política, Décio manti-nha um blog no qual fazia reportagensinvestigativas. De acordo com a impren-sa local, ele se auto-intitulava ‘o detona-dor’, tornando-se famoso na capital ma-ranhense por publicar denúncias contrapolíticos e órgãos públicos. O espaço Blogdo Décio era um dos mais acessados doEstado. Tamanha coragem no exercícioda profissão, sempre com grande reper-cussão nas redes sociais, colocou-o emevidência. E em risco.

“Ele foi um jornalista que se destacoudesde o início da sua vida acadêmica,quando fazia o curso de Jornalismo naUniversidade Federal do Maranhão, nadécada de 1990. Seus colegas de turma oachavam ‘inquieto e furão’. Ele tinha ointeresse por noticiar fatos e aconteci-mentos que envolviam os três Poderes. Eraempenhado e contundente no texto quetratava da notícia que colhia ou chegavade suas fontes. Por uma dessas agressões,procurou o Sindicato dos Jornalistas e foiorientado a registrar um boletim de ocor-rências, mas não chegou a dar continui-dade ao caso e nem quis mais tratar doassunto com o Sindicato, apesar de cobra-

do por nós. Deduzimos, na época, que eletenha se conciliado com o autor da ame-aça”, conta Leonardo Monteiro.

O Secretário de Segurança do Mara-nhão, Aluísio Mendes, compareceu aolocal do crime e, no dia seguinte, desig-nou três experientes delegados para co-brir o caso. Os trabalhos prosseguem comcampanhas pelo disque-denúncia, coma prisão de suspeitos. Jornalistas, radialis-tas e blogueiros uniram-se na cobrança

declarações o sentimento de pesar daequipe do jornal. “A dor é por conta de ojornalismo maranhense ter perdido umjornalista ímpar. Décio agitava a Redaçãocom o seu estilo polêmico, ousado, pro-vocador e destemido. Vivia para o jorna-lismo. Procurava sempre surpreendercom informações importantes e em pri-meira mão. A imprensa está de luto e,nós, jornalistas, indignados. Mataramum jornalista e com isso tentaram matara imprensa.”

Diversas entidades representativas doJornalismo divulgaram notas de repúdioà execução de Décio Sá, cobrando das au-toridades a devida investigação comapontamento e punição dos responsáveispelo crime. “A Ordem dos Advogados doBrasil – Seccional do Estado do Mara-nhão – manifesta sua consternação como assassinato de Décio Sá. Somente aapuração rápida e eficaz evitará que cri-mes como este continuem acontecendoem nosso Estado, sejam eles motivadospelas atividades profissionais das vítimasou não. Aguardamos que as autoridadespoliciais esclareçam rapidamente o assas-sinato do jornalista, com o encaminha-mento célere do caso à Justiça para queos responsáveis sejam punidos nos ter-mos do Estado Democrático de Direito”,diz o texto oficial, divulgado em 25 deabril e assinado pelo Presidente da OAB-MA, Mário de Andrade Macieira.

Em declaração no dia seguinte ao doassassinato do jornalista Décio Sá, a ABIexpressou em 24 de abril sua “extremadaindignação” diante do crime, cuja inves-tigação, sustentou, deveria ser acompa-nhada pela Polícia Federal, como pediu aCasa em telegramas à Presidente DilmaRousseff e ao Ministro da Justiça JoséEduardo Cardozo. A ABI manifestou essaopinião também à Secretária Chefe deDireitos Humanos da Presidência da Re-pública, Ministra Maria do Rosário, quese encontrava em Porto Alegre e telefo-nou para a Casa propondo a realização deuma reunião sobre medidas para garan-tir a integridade dos jornalistas, com a par-ticipação da ABI e de outras associações deprofissionais da área de comunicação.

Na declaração que emitiu, a ABI res-salvou que o acompanhamento docaso pela Polícia Federal far-se-ia semsacrifício da autonomia do Estado doMaranhão.

Diz a declaração: “É com extremada indignação que a

Associação Brasileira de Imprensa rece-

POR PAULO CHICO

A morte de Décio Sá, o 5º jornalistaassassinado desde fevereiro de 2011Sua execução, em São Luís do Maranhão, constitui um atentado contra toda a imprensa.

de providências. A Governadora do Esta-do, Roseana Sarney, o Presidente do Se-nado, José Sarney, e os Presidentes dosTribunais de Justiça e do Trabalho, alémde outras autoridades públicas, divulga-ram notas solidarizando-se e cobrandoque tudo seja apurado. Empresáriosamigos de Décio estão oferecendo R$100 mil para quem indicar informaçõesque levem aos autores do crime.

O que a morte de Décio revela sobre osriscos do exercício da profissão de jorna-lista no Maranhão? “Não se trata de ris-co só para a nossa profissão. A anarquia oudesordem é da ordem jurídica reinante noPaís, comandada pela legislação penal emvigor, que permite ou autoriza a práticade qualquer crime. Depois de praticado, alei manda pagar fiança e aguardar todasas instruções em liberdade. Em liberdade,como se sabe, o infrator ou criminosopode matar novamente”, afirma o Presi-dente do Sindicato. “Isto aí acaba tradu-zido como império da impunidade. Osbandidos, pistoleiros, mandantes, vão sepreocupar com punição do Estado? Elesmatam ou mandam executar em plenavia pública, em ambientes freqüentadospelo maior número de pessoas como seestivessem mandando recados para inti-midar a sociedade”, concluiu LeonardoMonteiro em entrevista ao Jornal da ABI.

O Diretor de O Estado do Maranhão,Ribamar Corrêa, destacou em diversas

O protesto indignado da ABI Pedrosa, morto em 9 de abril em Vitóriade Santo Antão, Pernambuco; EdnaldoFigueira, assasinado em 15 de julho noMunicípio de Serra do Mel, no Rio Gran-de do Norte, e Valério Nascimento, mor-to em 3 de maio no Município de RioClaro, também no Estado do Rio. Apesardos protestos e das exigências de entida-des de jornalistas, entre as quais a ABI, nãohá notícia de que os autores desses crimestenham sido identificados e responsabi-lizados penalmente.

Considera a ABI que, sem sacrifícioda autonomia do Estado do Maranhão,a Polícia Federal deve proceder ao acom-panhamento das investigações paraidentificação dos matadores de DécioSá, pois a impunidade desses criminososconstituirá estímulo a novos crimescontra jornalistas. Com esse fim a ABIdirige um apelo à Presidente DilmaRousseff e ao Ministro da Justiça JoséEduardo Cardozo, para que determinemà Polícia Federal que não permaneçaindiferente diante de tal brutalidade,que constitui grave lesão à liberdade deexpressão assegurada pela Constituição.

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2012.(a) Maurício Azêdo, Presidente.”

beu a notícia do assassinato do jornalistaDécio Sá, abatido com seis tiros de armade calibre 40 na noite de segunda-feira,23 de abril, em São Luís do Maranhão,depois de encerrar sua jornada de traba-lho no jornal O Estado do Maranhão.Décio Sá, de 42 anos, pai de um meninode oito anos, fazia um jornalismo com-bativo e esse foi por certo o motivo desua eliminação por sicários a serviço dosdenunciados por suas reportagens e suasopiniões.

Entristecida com esse episódio, quefere de forma grave e intolerável a liber-dade de expressão e a liberdade do exer-cício da profissão de jornalista, a ABIconsidera a morte de Décio Sá uma re-sultante da passividade do Poder Públicona apuração de crimes contra jornalis-tas em diferentes pontos do País. Em pou-co mais de um ano, foram assassinados ou-tros quatro profissionais que faziam umjornalismo independente: Mário Ran-dolpho Marques Lopes, abatido em 9 defevereiro no Município de Barra do Pi-raí, no Estado do Rio de Janeiro; Luciano

Décio Sá se auto-intitulava ‘o detonador’por publicar denúncias de corrupção.

DIVU

LGAÇ

ÃO

Page 29: 2012__377_abril

29JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

DIREITOS HUMANOS

Em e-mail enviado à ABI, o jorna-lista Boris Casoy contestou afirma-ções feitas pelo jornalista AlbertoDines em entrevista ao Jornal da ABI,que a publicou em suas Edições 374 e375, com datas de capa janeiro e feve-reiro de 2012. “Falecem qualidadeséticas e morais a esse senhor para fa-zer quaisquer consideração a meurespeito”, diz Casoy, cuja contestaçãofoi feita nos seguintes termos:

“Em recente entrevista ao Jornal daABI, o Sr. Dines, além de partir para ovitupério, faz acusações mentirosas.

Falecem qualidades éticas e moraisa esse senhor para fazer quaisquerconsiderações a meu respeito.

Posando de democrata, Dines, decaráter sobejamente conhecido, apon-ta o dedo aos demais, mas omite cuida-dosamente de sua biografia o fato de tersido interventor do governo militar –nomeado oficialmente – no Sindica-to dos Jornalistas Profissionais do Riode Janeiro. Nessa sua ‘honrosa missão’cassou um sem-número de jornalistasligados à antiga direção do Sindicato,sem a menor chance de defesa.

Ao contrário do que ele acusa ja-mais impedi a publicação de qualquerartigo de sua autoria. No episódio porele citado, a direção da empresa e euconsideramos o artigo impublicávelsob a sigla AD. Por decisão da empre-sa, propus a ele que publicasse o artigono alto da página 5, com sua assinatu-ra. Por razões desconhecidas, ele insis-tiu que o artigo fosse publicado apenascom as iniciais AD. E passou a enviardiariamente o mesmo texto. Não éverdade que o demiti pessoalmente,por telefone. Estava viajando. Quemo fez, por decisão minha, foi o entãosecretário de redação Odon Pereira.

Em outra ocasião, insistentemen-te cobrado por mim ante a ineficiên-cia da sucursal do Rio, que ele chefi-ava, Dines me fez um pedido surpre-endente: solicitou que eu ‘limpasse’ asucursal, pois ele estava sendo impe-dido de trabalhar corretamente devi-do à presença maciça de militantes doPartido Comunista. Perguntei por queele mesmo não fazia a tal ‘limpeza’.Respondeu que não tinha condiçõespolíticas de fazê-lo devido ao seu ‘pas-sado de lutas’. Dias depois, Dines in-sistiu na proposta.

Por fim, cabe lembrar que ao supracitado senhor, que ‘era e é um merda’,é aquele que vai a extremo de renegaro seu próprio nome. (a) Boris Casoy.”

A Comissão de Direitos Humanosda Câmara dos Deputados instalou aComissão Parlamentar da Verdade,Memória e Justiça, cuja finalidade écolher depoimentos de testemunhasque, na oposição ou na situação, tive-ram algum envolvimento com a dita-dura militar (1964-1985). A justifica-tiva dos deputados para a criação daComissão é de que a Presidente DilmaRousseff está demorando a indicar osnomes que irão compor a ComissãoNacional da Verdade.

A Comissão é coordenada pela De-putada Luiza Erundina (PSB-SP), au-tora de um projeto de lei que propõe arevisão da Lei de Anistia, e prevê apunição e prisão dos agentes da ditadu-ra que praticaram seqüestros e mata-ram militantes da esquerda, que luta-ram contra o regime do golpe de 64.

Os primeiros testemunhos obtidospela Comissão foram registrados nodia 3 de abril, quando foram ouvidosum ex-militar que serviu no Araguaia,participando da captura de guerrilhei-ros, e um mateiro que teria sido umdos responsáveis pela localização deintegrantes do PCdoB.

A Deputada Luiza Erundina disseque essas testemunhas deram infor-mações importantes, inclusive sobreos locais onde poderiam ser encontra-dos restos mortais de guerrilheiros. Elainformou também que as testemu-nhas disseram que estão sofrendoameaças de morte. Por causa disso, oPresidente da Comissão de DireitosHumanos da Câmara, Deputado Do-

O radialista Josimar Martins, daRádio Independência de Maués, Ama-zonas, vem sofrendo ameaças demorte em função das denúncias de ir-regularidades no Município. O Depu-tado Luiz Castro, líder do PPS na As-sembléia Legislativa do Amazonas,encaminhou moção de repúdio soli-citando providências às secretarias deEstado de Segurança Pública e de Jus-tiça e Direitos Humanos do Estado edeu ciência das ameaças ao Ministérioda Justiça – MJ, à ABI, à Ordem dosAdvogados do Brasil-OAB e à Acade-mia Amazonense de Letras – AAL.

O texto assinado pelo parlamentar,encaminhado à Presidência da ABI,tem o seguinte teor:

“Segundo informações de lideran-ças do Município de Maués, JosimarMartins, apresentador do programa,na Rádio Independência de Maués,vem recebendo telefonemas anôni-mos com ameaças de morte, desde odia 5 de novembro de 2011.

Conforme a informação, o radia-lista, através de seu programa de rá-dio, tem denunciado as irregularida-des que acontecem no Município ecobra providências das autoridades. Oprograma de rádio, aberto à participa-ção da população, aborda vários temase denúncias, que são levados ao conhe-cimento público. O programa está noar há um ano e tem boa audiência,não só nos Municípios vizinhos deBoa Vista do Ramos, Nova Olinda doNorte e Urucurituba.

Destarte, solicito que a Secretariade Segurança Pública e a Secretaria deJustiça e Direitos Humanos proce-dam a investigação no sentido de apu-rar as denúncias que aqui chegaram,a fim de garantir a integridade do jor-nalista e radialista Josimar Martins.

Solicito também da Chefia da CasaCivil do Governo do Estado do Ama-zonas e da Secretaria de Estado de Se-gurança Pública do Amazonas, nostermos do parágrafo 1º do artigo 11 daLei federal nº 12.527/2011, o relatóriodas medidas tomadas em atendimentoà solicitação constante deste docu-mento, em conformidade com os pra-zos e formas definidas no supracitadodiploma legal.

Com essas considerações, indicocom amparo no Regime Interno des-ta Casa, Assembléia Legislativa doEstado do Amazonas, na expectativade seu encaminhamento.

Manaus, 31 de janeiro de 2012, (a)Deputado Luiz Castro, Líder do PPS.”

Sob risco de morteno Amazonas

o radialista quefaz denúncias

Por apontar irregularidades noMunicípio de Maués, desde

novembro ele recebe ameaças.

Uma Comissão da Verdadejá em atividade na Câmara

Criada no âmbito da Comissão de Direitos Humanos,a Comissão ouviu um ex-militar e um mateiro queparticiparam da repressão à Guerrilha do Araguaia.

mingos Dutra (PT-MA), disse que vaipedir proteção policial para as pessoascompareceram ao Congresso. Um gru-po de parlamentares, informou, irá atéos locais indicados pelos depoentes.

Bolsonaro tumultuaUm dos mais ferrenhos opositores

da criação da Comissão da Verdade, oDeputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) criticou o formato de sessão secretaem que foram colhidos os depoimen-tos de ex-integrantes do Exército queparticiparam da repressão aos integran-tes da Guerrilha do Araguaia.

Bolsonaro tumultuou a reunião etentou obstruir os trabalhos da Comis-são Parlamentar da Verdade, Memóriae Justiça. Ele também é acusado de agre-dir verbalmente um funcionário da Co-missão de Direitos Humanos. Segundodepoimento do Deputado Chico Alen-car (PSol-RJ), Bolsonaro teria tentadotomar papéis e documentos das mãos deum servidor da Câmara, que se negoua entregá-los ao parlamentar, afirman-do que só o faria se fosse autorizado peloPresidente da Comissão.

A atitude de Bolsonaro foi criticadapelo Deputado Domingos Dutra, quedisse que o parlamentar “tentou intimi-dar os depoentes”. Por causa do inciden-te, o Presidente da Câmara, DeputadoMarco Maia (PT-RS), enviou para aCorregedoria Parlamentar, no dia 4 deabril, pedido da Comissão de DireitosHumanos para que seja aberto proces-so por quebra de decoro parlamentarcontra o Deputado Jair Bolsonaro.

POLÊMICA

Boris Casoycontesta

Alberto DinesUma réplica a afirmações

feitas por Dines ementrevista ao Jornal da ABI.

A Deputada Luiza Erundina é autora do projeto de lei que propõe a revisão da Lei de Anistia eprevê punição para agentes da ditadura que seqüestraram e mataram militantes de esquerda.

BETO

OLIVEIR

A- A

GÊN

CIA

MA

RA

Page 30: 2012__377_abril

30 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Anselmo Duarte já nasceu pecando: in-teriorano, pobre, filho de operário. Cresceue continuou a pecar: bonito, tornou-se “omaior galã do cinema nacional” (do finaldos anos 1940 e por toda a década de 1950),sonho de consumo de todas as mulheres bra-sileiras. Os pecados continuaram: não ba-julava, não entrava em panelas, não mediaas palavras. Até então, tudo lhe era perdo-ado. Afinal, galã é visto como um ser bo-nito, mas desprovido de inteligência; por-tanto, inofensivo. Em 1957, estreou atrásdas câmeras dirigindo a si mesmo em Ab-solutamente Certo. Essa pequena pretensãotambém lhe foi perdoada. Vem a década de1960, e Anselmo chega aos 40 anos de ida-de. Mais experiente e amadurecido, deve terpercebido que beleza não é algo que durapara sempre. Resolveu dirigir outro filme.Parecia querer enterrar de vez essa históriade galã. Foi aí que ele cometeu um pecadomortal: conquistou a Palma de Ouro, o maiscobiçado prêmio do cinema mundial, queninguém da “elite cultural brasileira”, “donosso cinema-cabeça”, havia conhecidonem conseguiria. Isso era imperdoável.

Desde que o Brasil é Brasil, sucesso só ébom se for o próprio ou de alguém que façaparte do seu grupinho, porque vai acabarsobrando para você. Também desde sempre,o olimpo da intelligentsia brazuca é muitorestrito, geralmente reservado aos bemnascidos, que se dizem defensores do povo,mas que não gostam de se misturar a este.Anselmo Duarte era galã, povão, era um Zé,

Foi a primeira vez que nossa liberdadecaiu por terra aos pés de um filme deGodard.

Em junho de 1969, a primeira edição deO Pasquim trazia um artigo de Odete Laraintitulado Glauber – O dragão de Cannes.Dragão que, sem qualquer maldade nestecomentário, nem com ajuda do Santo Guer-reiro conquistou o prêmio máximo. Algu-mas semanas depois, na edição de núme-ro 19, a entrevista principal foi com Ansel-mo. A primeira página já mostrava o tombem diferenciado da camaradagem costu-meira dispensada aos amigos da turma deIpanema: Hoje ele só anda com mercenárias –Você lembra do galã Anselmo? Ninguém o pou-pava. Todos queriam enterrá-lo vivo. Comoesquecer alguém que foi o galã do cinemapor uma década e meia quando o cinemaseria o equivalente ao que hoje é a noveladas nove? Como esquecer alguém que, ape-nas sete anos antes, havia ganhado a Palmade Ouro? Ninguém parecia disposto a per-doar o sucesso de Anselmo Duarte.

O ator e diretor ficou com fama de res-sentido e amargurado. Ainda que seja ver-dade, motivos não faltaram para que ficasseassim. Atuando e dirigindo, sua carreira se-guiu até 1979 (com raras e pequenas parti-cipações depois disso). Nos trinta anos se-guintes, eventualmente saía de sua reclusãopara receber alguma homenagem. Para asgerações pós-1970, já não se perguntaria selembram de Anselmo Duarte, mas se sa-bem quem foi Anselmo Duarte. Foi, não.Quem é. Anselmo Duarte é o nosso únicoPalma de Ouro.

No ano em que o Festival de Cannes completa 65 anos, o Brasil temmotivos de sobra para comemorar: foi há 50 anos que O Pagador de Promessas

conquistou a única Palma de Ouro concedida a um filme nacional.

MEMÓRIA

A Palma deAnselmo Duarte

POR SANDRO FORTUNATO como os personagens dos filmes roteiriza-dos por ele. Quem é esse Zé, que não faziaparte do “Clube Nacional da InteligênciaTupiniquim”, pensava que era para entrarem um clube frequentado por Malle, Fellinie Buñuel? Isso é o tipo de coisa que os in-telectuais brasileiros não perdoam.

Parece haver uma poderosa praga, dessasque amaldiçoam várias gerações, que costu-ma ser rogada por brasileiros que fazemsucesso internacional no cinema. Foi assimcom Carmem Miranda, acusada de ter setornado americanizada, que deve estar emalgum lugar gargalhando deste Brasil cadavez mais brazilian. Foi assim também, maisrecentemente, com Rodrigo Santoro, dequem todos riram por entrar mudo e sair ca-lado de sua estréia em Hollywood. Noveanos, vários filmes e muitas falas depois, eledeve rir de seus críticos, que assassinam oportuguês todos os dias e se esforçam, semsucesso, para falar em inglês.

A praga de Anselmo Duarte tem-semostrado poderosa e duradoura. Não atin-giu apenas seus contemporâneos e “rivais”do Cinema Novo, mas todos os outros cine-astas brasileiros que, cinquenta anos depois,ainda não conseguiram repetir a proeza deganhar o prêmio principal em Cannes.Glauber Rocha bem que tentou. Concorreuquatro vezes: com Deus e o Diabo na Terrado Sol (1964), Terra em Transe (1967), O Dra-gão da Maldade Contra o Santo Guerreiro(1969) e ainda com o curta Di Cavalcanti(1977). Bateu na trave nas três últimasvezes: ganhou o Prêmio da Crítica em 1967,Melhor Diretor em 1969 e Prêmio do Júri

de Melhor Curta em 1977. Mas campeão domundo, Palma de Ouro, só mesmo Ansel-mo Duarte. Inigualável há meio século.

O Pagador de Promessas (1962) não ga-nhou “só” a Palma de Ouro. Ganhou tam-bém os festivais de Cartagena e de São Fran-cisco, além de concorrer ao Oscar de Me-lhor Filme, em 1963. Mas a intolerância aeste pecado mortal não foi somente dos di-retores do movimento chamado CinemaNovo. A imprensa e o próprio Governo seposicionaram contra Anselmo e passarama menosprezá-lo e boicotá-lo. Todo cineastalaureado com a Palma de Ouro pode envi-ar um filme à competição sem participar deprocesso seletivo. Isto é, o Brasil poderiater dois filmes concorrendo em Cannes eaumentar sua chance de ganhar outra vez.Em 1965, Vereda de Salvação, de Anselmo,foi barrado pelo Itamarati e não participoudo festival. Não era a indicação brasileirapara concorrer nem impediria que o Paístivesse outro representante. Bastava enviaro filme. O Governo disse não. E repetiu oboicote no Festival de Berlim. Anselmoconseguiu mandar Vereda de forma clan-destina pela Embaixada da Alemanha.

Eram 11 jurados. Um brigou e saiu. Avotação ficou empatada: cinco votospara o filme de Anselmo, cinco para Al-phaville, de Godard. Como não podiahaver empate, o júri se reuniria outra vezpara decidir o ganhador. Entre os jurados,um brasileiro. Ele votou em Alphaville. Semudasse o voto, seria 6 a 4 em favor de An-selmo. Não fez isso. Alphaville ganhou e osintelectuais brasileiros comemoraram.

REPRODUÇÃO REPRODUÇÃO

Page 31: 2012__377_abril

31JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

“EU INVENTEI OCINEMA NOVO”

Numa das últimas entrevistas que concedeu,Anselmo Duarte explica como e o porquê dessa frase que ainda pode parecer uma bravata, mas faz muito sentido.

ENTREVISTA A SANDRO FORTUNATO E ROBERVAL LIMA

O senhor chegou a ser preso durante a dita-dura, acusado de ser comunista?

Anselmo - Eu entrei (para o Partido Comu-nista) não por convicção política. Entrei porum abaixo-assinado que fizeram para ins-crever (tornar legal) o Partido. Eu tinha umgrande amigo no Rio de Janeiro que eracomunista, Alinor Azevedo, um grandejornalista, que me disse “assina aí pra gen-te registrar o Partido”. Eu assinei. Mas nun-ca fui por convicção. Se fosse, eu diria.Nunca liguei para nada. Assinei. Tá regis-trado? Então, seja feliz. No dia em que ti-raram o Partido de circulação invadiram asede, no Rio, pegaram todas as fichas e eu fuichamado. Não eram chamados todos. Só aspessoas mais populares, os que têm comu-nicação com o povo: artistas, políticos,intelectuais, jornalistas. Esses eles prendem.São os primeiros. E eu fui. Chegou um cam-burão na porta de onde eu morava, só queeu não vi, morava em apartamento. E medisseram: “O senhor foi testemunha de umacidente de trânsito. Morreu uma pessoa eestão chamando o senhor para prestar de-poimento. É só chegar lá e dizer que nãoviu nada.” Eu me vesti e saí tranquilo. Naporta do prédio, ainda sem perceber nada,perguntei se iria no meu carro e disseramque não. Foram me empurrando, abrirama porta e me jogaram dentro do cambu-rão. E eu não sabia o porquê! Quando che-guei na Central, estavam prendendo todomundo. Quando eu entrei... “Olha, tá che-gando gente famosa! Comuna famoso!” e“pá!”. Começaram a dar umas bolachas.Bom! Eu já apanhei muito por ser galã. Todomundo queria bater. Então fui aprender alutar para me defender. Sou faixa-preta emjiu-jitsu. Fui aluno do Hélio Gracie, fiz de-monstrações com ele no Maracanãzinho.No segundo tapa, eu quase quebrei o braçodo cara. Segurei, dei um “balão” nele... e aí queeu apanhei muito mais, me arrebentaram!Apanhei bastante! Mas foi porque reagi.Fiquei como comunista. Nunca tive uma par-ticipação ativa. Mas saí no mesmo dia. Ligueipro meu advogado, ele foi pra lá com pesso-as importantes e me tiraram.

O senhor tem ressentimentos em relação àscríticas do pessoal do Cinema Novo?

Anselmo - Vou explicar como é que surgeuma onda dessas. Eu posso dizer algo paraum repórter, algo que não tenha a menorimportância. Mas também posso dizerpara outro que não simpatiza comigo, queestá me entrevistando por obrigação,porque é a profissão dele. Então ele põeaquilo que eu falei e mais o que ele queriafalar e não tinha coragem. E o troço vai au-mentando. Então um botou: “Todo o Cine-ma Novo falava...” O “pessoal do CinemaNovo” não falava nada. Um falou um dia.Outro aumentou e assim foi. Muita gentedo Cinema Novo se dava comigo. Uma vezsaiu algo e até hoje, 30, 40 anos depois, con-tinua. Sabe por que é tudo uma onda? Por-que quem inventou o Cinema Novo fui eu.Eu inventei o Cinema Novo. Como? Euestava fazendo o meu primeiro filme, o Ab-solutamente Certo, que foi saudado quandosaiu. Ninguém esperava nada do “galã”.Toda a imprensa acha que galã é burro. Esaiu que o Absolutamente Certo era o cine-ma novo brasileiro. Ainda não existia oCinema Novo. Depois veio O Pagador dePromessas. No livro do ano de Cannes tem

As lembranças sobre glórias, mágoas eperseguições se mantiveram, mas quemteve a oportunidade de entrevistá-lo depoisda poeira baixada, via um homem fasci-nante, charmoso, divertido e ótimo conta-dor de histórias. Foi assim em 2004, logoapós o lançamento de sua biografia – umadas primeiras da Coleção Aplauso –, quando,aos 84 anos, em seu apartamento em Salto,São Paulo, Anselmo Duarte falou por maisde três horas ao site Memória Viva. A seguir,os melhores momentos dessa conversa.

Como começou sua ligação com o cinemaainda em Salto?

Anselmo - É um caso único. Pouca gentesabe que se molhava a tela no cinema por-que é bem diferente hoje. Mas eu estou mereferindo ao cinema mudo. Aí dizem: “OAnselmo é mentiroso”. Quando não que-rem chamar de mentiroso, chamam de “cri-ativo”. Mas é verdade. O pior é que as tes-temunhas já morreram. Eu sou o cara maisantigo daqui. Mas o Cine Pavilhão era as-sim. O projetor de filme ficava atrás da tela,que era um pano. Quando batia luz, passa-va para o outro lado. Assim era o cinemamudo. Pelo menos aqui em Salto. Antiga-mente, era uma lente grande angular, naqual a imagem sai e já abre. Então ficavaperto da tela, a uns cinco, seis metros. Eraum só projetor e a cada dois rolos tinha umintervalo de dez minutos. Então tinha sem-pre dois garotos com uma seringa – feitanum gomo de taquara com um courinho naponta – que sugava e espirrava água. A genteficava com aquele troço molhando a tela.Você viu O Crime do Zé Bigorna? Não tem acena lá, eles molhando a tela? Eu reprodu-zi essa cena, só que não eram dois meninos,eu botei o Lima Duarte e o Stênio Garcia.

E como era o público do Pavilhão?Anselmo - Ah, tinha o diálogo com o pú-

blico! Era um cinema poeira. Então todomundo falava, gritava. Durante o filme, todomundo conversava. Jogavam coisas na tela.E, nos intervalos, a gente jogava água na tela,para esfriar. Conforme a água batia na tela,ficava escuro. Aí o público, que estava dooutro lado, fazia assim (colocando as mãosem concha na frente da boca): “Mais para ocentro, seu burro!” E a gente jogando água.“Mais no meio, eu falei!” Ninguém me co-nhecia por Anselmo, ninguém me chamavaassim porque achavam um nome meio“amanteigado” e eu era briguento. Eu era loiroe me chamavam de Russo Louco. Aí diziamassim: “Ô, Russo Louco, aqui embaixo, seuburro!” E eu: “É a puta que o pariu”. Porquea gente xingava também. E tinha outroamigo meu, o Zé Panela. Era aquele diálo-go de xingação, era uma briga gozada atra-vés da tela. E quando estava terminada, eudizia assim: “Agora vá todo mundo à putaque os pariu”. E o pessoal gritando: “É lou-co! É o Russo Louco!” Era uma pândega. Assessões eram concorridíssimas.

Já se falou muito sobre Cannes e O Pagadorde Promessas. O que aconteceu depois disso?

Anselmo - Quem é laureado em Cannesnão precisa entrar na seleção. É uma ou-torga que o Festival dá a todos os laurea-dos. Um dos privilégios é esse. Cannes temum regulamento: todo país pode concor-rer com um filme mais os dos diretoreslaureados. O Brasil é o único país da Amé-

rica do Sul que pode concorrer com doisfilmes. A única Palma de Ouro da Américado Sul é do Brasil. Um será o que ele temdireito, que será selecionado aqui. O outrovai sem seleção (que é o do diretor laureado).Mas o filme, para sair, precisa de um visto doItamarati, que é um órgão que deveria saberde todas essas coisas, mas não sabe. Entãoeu mandei o filme e disse para enviar paraCannes, que eles (os organizadores do Festi-val) estavam esperando. Eles estavam sele-cionando filmes no Itamarati e teve umcrítico desses, lá no Rio, que barrou meufilme, o Vereda de Salvação. Ele barrou, dis-se que não ia para Cannes. Um absurdo!Peguei um avião, fui para o Rio de Janeiro,cheguei lá e disse: “Eu mandei meu filme para

os senhores remeterem para Cannes porqueo Brasil tem o direito de remeter dois: o quevocês escolherem e o meu”. E eles: “É, maso problema é outro. Não é que sejamos igno-rantes. O problema é outro. Tem gente de pésdescalços, gente do campo – que seriam ossem-terra –, o senhor é comunista. O senhorsó não foi preso porque tem um nome...”Uma coisa absurda! Um negócio de louco!Aqui no Brasil, se você não é vencedor, “vocêé fantástico, é formidável, não tem chances,mas é ótimo”; mas se você ganhar... “não étanto assim”. Brasileiro tem isso de não gostarde quem vence. Tem gente que diz que o Pelénão sabia jogar futebol! Disseram que ofilme não iria por problema político, queeu era conhecido como comunista.

SAN

DR

O FO

RTU

NATO

Page 32: 2012__377_abril

32 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

EM O PASQUIM, N° 1930 DE OUTUBRO DE 1969Sobre Gláuber Rocha:“No Gláuber Rocha, mandar opau fica bem, porque ele nãofaz nada premeditado. É inatoisso nele. Ele nasceu assim. Éum baiano safado que jánasceu metendo o pau emtodo mundo, lá em Salvador.Ele só ataca, só atacou, desdeque nasceu. Como ele teve

sucesso, todo mundo achou que atacar eofender transforma as pessoas em centro deatração. Então, uma porção de mal-educadosfica atacando todo mundo.”

Ao ser perguntado o que valea Palma de Ouro no Brasil:“No Brasil, nada. Valeu no início, quandopegou o brasileiro desprevenido. Quando oBrasil levou o susto, foi um espetáculo. Depoiscomeçaram a analisar, a analisar, eles, numaintimidade, numa promiscuidade tão grandeque avacalharam não comigo, mas com aPalma de Ouro.”

Sobre o episódio do filme Veredada Salvação no Festival de Berlim:“(...) com a vitória de Godard, estavahomologada a decisão deles, do Itamarati.Então é uma luta muito pessoal – imagina semeu filme ganha e eu volto dizendo que osimbecis do Itamarati não o haviam enviadopara Cannes. Para vencer, a gente precisa sermuito bajulador.”

sempre a justificativa do porquê elesderam a Palma de Ouro para aquele filme.E lá dizia que “esse filme, sem dúvida, mar-ca um cinema novo do Brasil”. O pessoaldo Cinema Novo já estava fazendo um fil-me. Eram cinco diretores que estavam fa-zendo o Cinco Vezes Favela. Tinha um guruda imprensa, o Alex Viany, guru dos jo-vens. Escritor, jornalista, foi diretor tam-bém. Então, ele veio falar comigo: “Ansel-mo, tem uns garotos aí que eu estou lan-çando e que estão fazendo um filme quese chama Cinco Vezes Favela. E nós soube-mos que seu filme foi selecionado paraCannes e o do Ruy Guerra para (o Festivalde) Berlim. Nós queríamos assistir aos doisfilmes”. E daí passaram os filmes. Nessa ses-são estava toda a rapaziada que viria a sero Cinema Novo: Cacá Diegues, Leon Hir-szman, Gláuber Rocha – que já me conhe-cia de Salvador, de quando eu estava fil-mando O Pagador de Promessas –, GustavoBorges, uns 10 ou 12 diretores do início doCinema Novo. Quando terminou, aplau-sos e mais aplausos. E todo mundo falava:“Anselmo, você vai ganhar algum prêmio.É o melhor filme já feito no Brasil!” Todosfalavam a mesma coisa. Mas, na verdade,eles nunca poderiam imaginar que eu ga-nharia a Palma de Ouro. Achavam impos-sível ganhar em Cannes.

Quando isso ficou claro?Anselmo - Eu não voltei logo ao Brasil.

Quando você ganha a Palma de Ouro, é con-vidado para tudo quanto é festival, porqueo de Cannes é o mais importante do mundo.E todo festival em que eu ia, ganhava. Volteicom cinco prêmios. Antes de chegar aqui, jápercebi. De Cannes, fui para Paris. Lá, telefo-naram para mim e disseram: “Anselmo, sabequem está aqui em Paris? Um grande amigoseu: o Gláuber!” E eu: “Puxa! Fantástico!Então segura ele aí, vamos almoçar juntos”.Quando cheguei, achei ele meio triste, cha-teado. “Chateado quem está é todo aquelepessoal do Cinema Novo”, ele disse. “Mascomo? Faz uns dez dias que saí de lá e esta-va toda aquela festa! Chateados? Mas porquê?” E Gláuber: “Anselmo, eles não admi-tem que você tenha ganhado do Buñuel”.Que imbecilidade! Eles não admitirem queeu tenha ganhado do Buñuel?! Para mim,melhor do que o Buñuel tinha uns cinco lá.Quem gosta mesmo do Buñuel é comunis-ta, porque ele fala mal dos Estados Unidos,fala mal do capitão, fala mal do patrão. Eleé um diretor comunista. Os filmes dele sãoprimários. Eu tenho coragem de falar e pro-vo. Mas comunista acha ele um deus. (...) Ofilme do Buñuel era um que tem um mon-te de gente dentro de uma casa de portasabertas e que não consegue sair (O AnjoExterminador). Uma fita chata, imbecil,própria do Buñuel. Ele quer dizer que éuma sociedade milionária que não sabequal é a saída. Vá à merda! Vai sofrer as-sim nos quintos dos infernos! Cinema nãofoi feito pra isso...

E Hollywood?Anselmo - Eu estive em Hollywood. Fui

levado pelo Presidente e o Vice-Presiden-te da Universal. Eu tinha ganhado cincofestivais internacionais e os americanospegam diretores assim e levam para lá. Iamfazer isso comigo. Não que eu não quises-se. Quer fazer, faça. Iam pagar em dólar. Mas

é que eu briguei antes do tempo, antes de re-ceber o primeiro salário. O Presidente e oVice-Presidente da Universal me colocaramnuma limusine que parecia um ônibus e fuiconhecer os estúdios da Universal. Chegan-do lá, vi aquele portão largo, de ferro, muitoalto, trabalhado, escrito Universal Picturesem cima. Quando eu estava entrando, olheipara o porteiro, fardado, de quepe, um coi-tado de um velho, que abriu a porta. Eu pas-sei rente a ele e levei um susto quando vi acara dele. Gritei: “Stop! Stop the car! Stop!”O carro parou, eu abri a porta e saltei. Che-guei pro porteiro e falei: “Bernoudy, comovai você?” Ele foi meu diretor na Atlân-tida! O Luís Severiano Ribeiro, grandeexibidor do Rio, quando comprou aAtlântida, contratou o Bernoudy, que eraprodutor em Hollywood, para vir melho-rar a Atlântida. Ele veio pro Rio, traba-lhou, organizou a Atlântida. Dirigiu meuprimeiro filme lá, Terra Vi-olenta (1948). Ed (Edmond)Bernoudy adorava o Bra-sil, adorava o Rio. Ficoudois anos no Rio, já falavaportuguês. Foi assistentedo John Ford. Era um bomdiretor. Eu conversava mui-to com ele, aprendi muitocom ele. E aí, o vejo de far-da e de quepe na porta daUniversal. Saltei e pergun-tei: “Mas o que é que vocêestá fazendo com essa far-da aqui?” Meu professor, meu diretor,mas que coisa! A essa altura ele já estavacom uns 80 anos. Eu tirei o quepe dele,joguei fora e falei: “Você não vai ser por-teiro aqui, não! Mas que país é esse? Vocêfoi diretor e lhe jogam aqui?! Deviam lheaposentar pelo menos! Vamos embora!”Fiquei chateado. Daí eu cheguei no carro efalei para o tradutor: “Fala que esse ho-mem não vai mais trabalhar aqui na por-taria. Que ele vai ser o meu primeiro as-sistente. E ele vai no carro conosco”. OPresidente da Universal virava a cara paraele. Quando eu saí de lá, falaram que fica-va para depois o acerto do meu contrato.E sabe o que eles alegaram? “Mas como?!Nós estamos contratando um gênio” –porque, para eles, ganhar aqueles prêmi-os todos era ser gênio – “estamos contra-tando um gênio para melhorar nosso es-túdio e ele foi aluno do nosso porteiro?!”

Acabou. Não me contrataram. A minhacarreira foi a mais curta de um diretor emHollywood.

O senhor tem acompanhado as nossas pro-duções atuais?

Anselmo - Eu tenho visto bons filmesbrasileiros. Mas o cinema brasileiro passoua ser dirigido por pessoas que têm títulose são muito jovens. O que é ter título? Éo cara que vai para a faculdade cursar Co-municação e depois faz uma especializa-ção chamada Cinema. E geralmente é genteque tem posses. Então ele termina e mos-tra o diploma para os pais. E aí, porque temum diploma, ele vai dirigir. O pai, que tembons relacionamentos, arruma financia-mentos e tal. Geralmente, ele faz um filme.E não faz nunca mais nenhum. Porque não

sabe dirigir. A imprensa não quer saber se eleestá dirigindo, se demorou, se foi o pai delequem pagou, se até aquela data ele não ga-nhou nenhum centavo... Pega e esculham-ba: “É burro”, “Não sabe dirigir”. A maiorparte não faz o segundo filme.

O senhor gostou de alguma produção bra-sileira recente?

Anselmo - Central do Brasil.

Dirigido pelo Walter Salles...Anselmo - Eu acho que, no momento, ele

é o melhor diretor brasileiro. Eu já vi ou-tro filme dele de que também gostei. E sófui assistir porque era dele. Não o conhe-ço pessoalmente. Tenho um olho clínicobom. Eu estou correndo perigo de não sermais o único Palme D’Or do Brasil.

A língua sem freios de AnselmoEM O NACIONAL, N°115 DE JANEIRO DE 1987Temas sociais:“Gláuber disse que eu devia escolher temassociais para os meus filmes. E eu respondi queele dizia isso porque nunca tinha visto meusfilmes, que tinham, todos eles, problemas sociais.E sabe por quê? Porque eu não tenho culturade direita, que é a cultura da universidade. Aminha cultura é popular mesmo, venho defamília pobre, e minha cultura, sendo popular,se reflete no que eu fiz e no que eu faço.”

Críticos de cinema:“(...) fico fulo da vida com esses críticos que nãotêm coragem de apontar meus defeitos comocineasta e ficam citando coisas sem sentido:‘Ele foi o maior galã do cinema brasileiro.’ É sóum jeito de me desconsiderar como cineasta.”

“Quando eles (os críticos) analisam fatoshistóricos da nossa cinematografia, esquecem aépoca em que eles aconteceram. (...) Dizementão que os filmes em que eu trabalhei eramruins. Ora, só que, naquele tempo, ninguémfazia nada melhor.”

Sobre Anselmo Duarte:“Cinema é viver, não representar. Teatro é que érepresentar. Eu era tímido e isso foi fundamentalpara agradar ao público. Eu tinha 26 anos eparecia ter 18. Meu público eram as menininhasde colégio. (...) não sou o maior veado, nem omaior bandido, nem o maior canastrão. Vencinum campo honesto, no meio de estudantes.Fui, sim, o maior galã naquele período.”

MEMÓRIA A PALMA DE ANSELMO DUARTESANDRO FORTUNATO ACERVO ANSELMO DUARTE - REPRODUÇÃO

Anselmo Duarte mostra a Palma de Ouro que conquistou em Cannes. Ao lado, nos tempos da Vera Cruz, com o fotógrafo Edgard Brasil, em 1952.

Page 33: 2012__377_abril

33JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

As grandes revistas costumam nascerem épocas de efervescência e clamor pormudanças. Foi assim com O Cruzeiro, em1928, que deixava para trás o Rio do bota-abaixo e já encontrava, “ao nascer, o arra-nha-céo, a radiotelephonia e o correio aéreo:o esboço de um mundo novo no Novo Mundo”.Também com Realidade, em 1966, doisanos após o golpe militar, em um Brasilcheio de esperanças nas eleições e na con-quista do tri na Inglaterra, duas coisas queficaram somente no campo dos desejos.Entre uma e outra, apareceu Manchete, em1952. Vargas estava novamente no poder;Adhemar Ferreira da Silva bate o recordedo salto triplo na Olimpíada de Helsin-que; Francisco Alves, o Rei da Voz, morreem um acidente de carro e faz o Rio de Ja-neiro parar para acompanhar seu enterro;na Argentina, outra multidão se reúne paradar adeus a Eva Perón; os Estados Unidos ex-plodem a primeira bomba de hidrogênio.Foi neste mundo, com a morte de mitos eanúncios constantes de uma nova era, quenasceu a publicação de Adolpho Bloch.

“Manchete nº 1 saiu em 23 de abril de1952, um dia de meia-estação, a tempera-tura do Rio oscilando entre 28 e 22 graus,tempo nublado, passando a instável. EmSão Paulo chovia. A capa era a bailarina doTeatro Municipal Inês Litowski, posandoao lado de uma carruagem. Naquela quar-ta-feira era dia de São Jorge, o santo guer-reiro. Os jornais falavam de uma tentati-va de levar o Presidente Getúlio Vargas aum inquérito parlamentar. Já se perseguiaa estabilidade econômica. Sem esses pro-blemas, os franceses elegiam a atriz ColetteMarchand como dona das pernas mais lin-

tada e o mundo voltava seus olhos para osEstados Unidos, “o país que ganhou a guer-ra”, e seu ares de modernidade. Foi com esseespírito que Manchete surgiu, parecida coma Life, dando ênfase ao fotojornalismo.Entravam em decadência os longos e nove-lescos textos, e surgia um tipo de informa-ção mais veloz, com fotos para encher osolhos e um texto mais ágil. Saíam os textosquilométricos e entravam as crônicas.

A Redação, capitaneada por HenriquePongetti, reunia nomes como Carlos Drum-mond de Andrade, Rubem Braga, AntônioCallado, Fernando Sabino, Orígenes Lessa,Manuel Bandeira, Otto Maria Carpeaux,Olegário Mariano, Lígia Fagundes Telles,Silveira Sampaio e Ciro dos Anjos. Doisgrandes nomes da reportagem de O Cruzeirose transfeririam para Manchete: Jean Man-zon, desde o início, e, muito tempo depois,David Nasser.

Adolpho Bloch tinha um moderno par-que gráfico parado três dias por semana, umespírito empreendedor e a vontade de ti-rar Assis Chateaubriand da vaga de Cida-dão Kane brasileiro. Tinha tudo, menos umnome. Quem resolveu esse problema foiPedro Bloch, seu primo. Perguntando de quetipo seria a revista, Pedro ouviu de Adolphoque seria do “tipo Match” (Paris Match, lan-çada três anos antes, em 1949). “Pusemoso nome no papel”, contaria Pedro em umacrônica, “(...) e como quem resolve um pro-blema de combinação de letras, me sai, nahora: ‘Só pode ser Manchete’”.

Na década de 1950, o Brasil arrancapara o progresso. É criada a Petrobrás; OCangaceiro, de Lima Barreto, faz bonitoem Cannes; Juscelino Kubitscheck é elei-

POR SANDRO FORTUNATO

IMPRENSA

das do mundo; e os republicanos dos Esta-dos Unidos reconfirmavam a candidatu-ra presidencial de Eisenhower. Manchetefalava disso tudo. Em cores e a 5 cruzeiroso exemplar. Esgotou em três dias.”

Desta forma foi lembrado, na ediçãoespecial de 45 anos, o dia em que Manchetefoi às bancas. Em seu livro Aos Trancos e Bar-rancos – Como o Brasil Deu no que Deu (1985),Darcy Ribeiro registraria o seguinte sobreo ano de 1952: “Adolpho Bloch lança Man-chete, que deslumbra o público. Queria é des-bancar O Cruzeiro com um jornalismo foto-gráfico colorido, moderno, dinâmico e ou-sado. Desbanca.”

O Cruzeiro, que seguia o estilo das revis-tas européias, havia imperado, sem concor-rentes, por duas décadas. Agora, no novomundo pós-guerra, a Europa estava devas-

Sandro Fortunato é jornalista e editor do siteMemória Viva (www.memoriaviva.com.br).

Há 60 anos surgia a revista Manchete, a publicação semanal queAdolpho Bloch criou para conquistar o novo mundo que nascia.

Todas ascores danotícia

to Presidente; Brasília é cons-truída; surge a Bossa Nova; aSeleção Brasileira de Futebol écampeã do mundo pela primei-ra vez. Nova música, nova ca-pital e a nova revista registran-do tudo.

No início dos anos 1960,Manchete estava consolidada ejá superava O Cruzeiro em tira-gem. Com sua qualidade gráfica,ela era responsável por mostraro mundo em cores, algo que obrasileiro só veria pela tevê nadécada seguinte. Durante vinteanos, Manchete mostrou todo ocolorido que as imagens da tele-visão não tinham. O Cruzeiro atétentou acompanhar essa mu-dança e se livrar de suas “páginasimpressas com bosta” (como cos-tumavam se referir à tinta em cor

sépia), mas já era tarde. Enquanto o impé-rio dos Bloch se fortalecia, o de Chateau-briand desmoronava.

Em 1975, terminam duas guerras: a doVietnã contra os Estados Unidos e a de OCruzeiro contra Manchete. Em julho de 1975,há algum tempo sem conseguir manter aperiodicidade semanal e já sem quase ne-nhum de seus grandes nomes, O Cruzeiro saide cena depois de 46 anos e meio de ativi-dade. Manchete já estava quase chegando aoseu Jubileu de Prata e não estava na meta-de de sua história.

Manchete viu e noticiou o suicídio deVargas, as eleições de JK e Jânio Quadros, asua renúncia, o golpe militar, a reabertura,a morte de Tancredo Neves, a eleição e o im-peachment de Collor, a eleição e reeleição deFernando Henrique Cardoso. Foi a únicagrande revista semanal que viveu a era an-tes do golpe, atravessou os 21 anos de dita-dura e mais uma década e meia depois davolta ao regime democrático. Passou por 14Presidentes (sem contar os interinos e Tan-credo) e duas capitais federais.

Nascida em um Rio de Janeiro aindaglamoroso e quando se construía Brasília,a cidade-monumento, Manchete sempre sepreocupou em exportar as belezas brasilei-ras. As duas cidades dividiram as capas dasedições especiais internacionais. Várias eminglês, duas em francês e uma em russo. Nasedições nacionais, a campeã de capas foiXuxa, que apareceu em 37 delas. Depois,Luiza Brunet (35 capas), Lady Di (32),Roberto Carlos (31), Pelé (23) e JuscelinoKubitscheck (22). Foram estes os númerosaté a edição especial de 45 anos, lançada emoutubro de 1997, que tinha a capa comfundo dourado e um holograma centralcom uma vista do Corcovado, da Baía deGuanabara e do Pão de Açúcar.

A edição comemorativa dos 45 anosfazia um exercício de futurologia e apos-tava que até 2042 noticiaria a coroação doRei William, a canonização de Diana e areeleição de Fernando Henrique III, alémde sortear uma viagem à Lua entre seusleitores. No mundo real, Manchete acaba-ria menos de três anos depois, na edição2.519, de 26 de julho de 2000. Foram 48anos de atividade. O suficiente para dizerque durou mais que O Cruzeiro.

Adolpho Bloch queria desbancar O Cruzeiro edeslumbrou o público com a Manchete.

FERNAN

DO

ARELANO

-AE

Page 34: 2012__377_abril

34 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

ão sei se é verdade. Não presenciei pessoal-mente, nem assisti a nenhuma gravação a res-peito, mas atribui-se a Tom Jobim a frase “acoisa que o brasileiro mais detesta é ver outrobrasileiro ganhando dinheiro”. Se foi ou nãoo compositor de Garota de Ipanema o autor da

máxima, não importa. Importa, sim, que ela cai como umchapéu de palha em um dos brasileiros mais bem suce-didos na área do entretenimento nacional: Amácio Ma-zzaropi, cujo centenário de nascimento comemora-seem 9 de abril deste ano.

Muito se fala da fortuna que Mazzaropi acumuloucomo ator, diretor, roteirista, produtor e distribuidordurante as três décadas em que atuou no cinema brasi-leiro. Mas nem todos sabem que, ao ser contratado pelaCompanhia Cinematográfica Vera Cruz, em 1951, Ma-zzaropi já tinha quase 40 anos e era um homem rico.“Abílio Pereira de Almeida viu o Mazza no programaRancho Alegre, da TV Tupi, e imediatamente o convidoupara trabalhar na Vera Cruz. Na hora de discutir o con-trato, Franco Zampari teve uma surpresa enorme, por-que ele achava que Mazzaropi era um sujeito caipirão,meio simplório. Nada disso! Ele era fino, elegante, játinha uma bela casa no Itaim Bibi, carro do ano e umbom dinheiro no banco”, conta o ator João Restife, quecontracenou com Mazzaropi na Rádio e na TelevisãoTupi. O cinema só fez aumentar ainda mais seu já res-peitável patrimônio acumulado durante muitos anos emshows, circos, rádio e tv. “Um patrimônio estimado em400 milhões de dólares no momento de sua morte”, con-

tabiliza André Luiz de Toledo, um dos cinco filhos decriação do cineasta, o único ainda vivo.

Se é verdade o que Jobim disse (ou teria dito), não é dese estranhar que o caipira milionário tivesse muitos de-safetos. Entre eles, a imprensa, que escorraçava seus fil-mes na mesma proporção que o público os idolatrava.

“Eu não posso contentar a crítica e opovo, porque a crítica pensa de um jeitoe o povo pensa de outro. Então eu partipara o povo, porque para eu ter uma in-dústria de cinema eu preciso do povo. Opovo é quem traz o dinheiro para o cine-ma. Eu, tendo dinheiro, posso ter umaindústria de cinema, e só com a crítica eunão faço cinema. Com troféus eu nãofaço cinema porque o laboratório nãoaceita troféus em pagamento, e os artis-tas também não aceitam troféus em pa-gamento. Então todo mundo fala de arte,de arte, mas quando chega na hora do di-nheiro, todos preferem o dinheiro”.

Lúcido, objetivo e sem rodeios, essedepoimento faz parte de uma das raríssimas entrevistasconcedidas por Amácio Mazzaropi à televisão. Mais pre-cisamente para a então repórter Marília Gabriela. Aocontrário do falante e extrovertido personagem que en-carnava nas telas, o ator e cineasta era um homem de pou-cas palavras, avesso à imprensa, e evitava dar entrevistas.“Diferente de tudo o que falam, Mazzaropi era uma pes-soa introvertida, que não tinha relacionamento pessoal

com praticamente ninguém”, afirma Toledo. “O que explicaa enorme dificuldade que existe hoje em se encontrar ima-gens de arquivo de Mazzaropi, sem que ele esteja interpre-tando”, diz Cláudio Marques, diretor do Museu Mazzaropi,localizado em Taubaté, no interior de São Paulo.

Foi naquela cidade que Mazzaropi se estabeleceu emontou, em 1958, sua própria empresa,a PAM – Produções Amácio Mazzaropi,com recursos próprios, equipamentos deprimeira linha (comprados da Vera Cruz,que havia recém encerrado suas ativida-des), estúdios e alojamentos. “Ele medisse que resolveu fazer seus filmes emTaubaté por causa da luz da região do Valedo Paraíba, que é mais bonita que a luz deSão Paulo ou do Rio de Janeiro”, conta ocantor e compositor Renato Teixeira, quearremata sorrindo: “Ele era um caipirasofisticado, que sabia das coisas.” SelmaEgrei, atriz em filmes de Mazzaropi,discorda de Teixeira: “Se o cinema naci-onal por si só já era mais simples, o cine-

ma de Mazzaropi era ainda mais rústico, muito rudemesmo, de uma simplicidade absurda”.

Simplicidade que fica clara na entrevista que o cine-asta concedeu a Armando Salem e publicada na Veja de28 de janeiro de 1970. Ao ser questionado se ele tinharaiva de intelectuais, Mazzaropi respondeu: “Tenhomesmo. É fácil um fulano sentar numa máquina e escre-ver: Hoje estréia mais um filme de Mazzaropi. Não precisam

POR CELSO SABADIN

CENTENÁRIO

O jeca virou cult

Amado pelo público,execrado pela crítica, esse ator,roteirista, diretor, produtor e

distribuidor durante três décadasarrastou multidões para ver

o cinema brasileiro.

MAZZAROPIO jeca virou cult

N

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Page 35: 2012__377_abril

35JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

ir ver, é mais uma bela porcaria. Mas não explicam por quê.Talvez com raiva pelo fato de eu ganhar dinheiro, talvezpor acreditarem que faço as fitas só para ganhar dinheiro.Mas não é verdade, porque o maior de todos os juízesfugiria dos cinemas se isso fosse verdade – o público”.

Poucos parágrafos depois, ele admite que sua princi-pal restrição quanto à crítica era a destruição gratuita:“Se um crítico viesse a mim fazer uma crítica constru-tiva, mostrar uma forma melhor de eu ajudar o público,eu aceitaria e o receberia de braços abertos (...) E se oscríticos se preocupassem menos com o que eu ganho emais com as salas vazias do Cinema Novo entenderiamque cinema sem dinheiro não adianta”.

Não era uma raiva gratuita. Os críticos de fato pegavampesado com ele.Em 1965, na Última Hora, Ignácio deLoyola Brandão publica o artigo A Contribuição de Mazza-ropi para o Retrocesso, onde se lê: “Caberia aqui uma discus-são estéril, a fim de saber se Mazza é artista ou não. Dei-xemos pra lá! Bitolado, fora de época, ausente de tudo quese passa ao seu redor, a Mazzaropi interessa apenas explo-rar e fomentar o gosto equívoco, não possuindo o cine-ma, para ele, qualquer implicação cultural”. E prossegue:“Dentro do seu primarismo, do seu analfabetismo cine-matográfico, Mazzaropi contribui para o retrocesso docinema. Para o retrocesso cultural das platéias. Ele é o an-ticinema brasileiro, no ano de 1965. É a cartilha de tudoque não se deve fazer. (...) Falta imaginação, tudo é ob-vio, chavão, lugar-comum, chatice. Um amontoado deplanos narcisistas do mau cômico. Nada mais”.

A crítica é feita ao filme Meu Japão Brasileiro, sobre o qualo ator e produtor David Cardoso, que trabalhou vários anoscom Mazzaropi, conta um caso divertido: “Havia saído nojornal uma crítica negativa sobre o filme, dizendo inclu-sive que a câmera tremia em duas cenas.Fui mostrar o jornal ao Mazzaropi que, in-dignado, reclamou: Eu não entendo essescríticos! No meu filme a câmera tremeuduas vezes e eles falam que é defeito; nosfilmes do Glauber Rocha ela treme o tem-po inteiro e eles dizem que é arte!”

Ainda sobre o mesmo filme, críticaapócrifa do jornal O Estado de S.Paulo pu-blicada em janeiro de 1965 afirma que “oque prevalece é um entrecho totalmentecanhestro, com incidentes que se precipi-tam, não oferecendo a menor surpresa,visto estarem apoiados em chavões já ca-ducos no nosso cinema (e não só nele)como também na televisão. Além de gagspouco interessantes, para alongar inutilmente a fita, temosainda três números musicais. Mas não obstante a ausên-cia total de estrutura, o filme está alcançando boa recep-tividade por parte do público. É o caso de se afirmar que cadapaís tem a chanchada que merece”.

Em matéria publicada em 1977 na Folha de S.Paulo,mais pauladas. Orlando Fassoni não economizou pala-vras para arrasar com o filme Jecão, um Fofoqueiro no Céu:“Um monumento em primarismo, mau gosto e falta desensibilidade (...). Hoje, Mazzaropi não passa de uma ca-ricatura de si mesmo: um caipira que perdeu o únicoelemento que possuía para construir seu tipo, ou seja, anaturalidade. O resultado da persistência é este filme,que pode desde já ser nivelado ao que o cinema brasileirofez de mais absurdo e primário em todos os seus 80 anos(...) Mazzaropi acabou”.

Mas, segundo o ditado popular, “o tempo cura tudo”.Muitos anos depois, no média-metragem Mazzaropi – OCineasta das Platéias, que Luís Otávio de Santi dirigiuem 2002, Loyola Brandão teve a oportunidade de fazerum mea culpa: “Nós íamos assistir ao filme sabendo quenossa crítica seria no sentido de diminuí–lo, mas nós gos-távamos, achávamos divertidíssimo.”

E se neste ano em que se comemora o centenário denascimento de Mazzaropi o crítico Rubens Ewald Fi-lho escreveu, em seu blog no portal R7, “não tenhodúvidas em afirmar que Mazzaropi foi o maior humo-rista do cinema brasileiro”, uma pesquisa mais aprofun-dada mostra vieses diferentes. Em sua crítica ao filme A

Banda das Velhas Virgens, publicada em 1979 no jornalO Estado de S.Paulo, Ewald foi menos condescendente:“Quem viu um filme de Mazzaropi já viu todos. Sãosempre rodados nos estúdios do autor em Taubaté (umcampo técnico que absurdamente ele nunca utilizoupara produzir outros filmes), com som direto (que comosempre falha em externas), cenografia espantosamen-te ruim (a cena do baile da Princesa Isabel é uma catás-trofe), um inevitável número musical (desta vez, fazen-do a estética da pobreza) e uma trilha musical de taqua-ra-rachada. (...) O roteiro é muito fraco, ainda com rançode teatro mambembe. Está chegando o momento em queMazzaropi precisa se renovar ou acabar como uma de-

cadente peça de museu”.A marcante discrepância de opiniões

entre as diferentes épocas tem uma expli-cação simples, segundo o produtor culturalMoracy do Val, um atuante jornalista dosDiários Associados na época de Mazzaropi:“Naquele momento, nós, jornalistas, cobrá-vamos dos artistas brasileiros um engaja-mento que Mazzaropi não tinha. Era a épocade Juscelino, da modernidade, da BossaNova, do Cinema Novo, onde tudo o que eravelho precisava ser destruído. E, naquelecontexto, Mazzaropi representava o velho,o desengajado politicamente, coisa que nósnão admitíamos. Mas ao mesmo tempo,quando éramos crianças ou mais jovens,

nós morríamos de rir com ele. Ou seja, nós mesmos tínha-mos dentro da gente uma incoerência muito grande”.

“Eu mesmo era um daqueles que torcia o nariz para a obrade Mazzaropi, na minha época de estudante”, diz CláudioMarques. “Eu não aceitava que em plena época da ditadu-ra militar ele fizesse filmes desengajados. Só algumtempo depois eu fui perceber que os filmes deleeram, sim, políticos. Do jeito dele, Mazzaropisempre esculhambava com os poderes estabele-cidos, com a Igreja, com os fazendeiros, os po-derosos, os latifundiários, os políticos.”

É importante ressaltar que é impossível, den-tro da extensa filmografia de 32 longas-metra-gens que Mazzaropi atuou, escreveu, dirigiu e/ou produziu, estabelecer um “único” Mazza-ropi. Em sua carreira cinematográfica, que vaide 1952 a 1980, existem alguns “Mazzas”. Osmelhores são os primeiros, produzidos pelaVera Cruz e pela Brasil Filmes (empresa suces-sora da própria Vera Cruz), onde o primortécnico e a dramaturgia precisa de AbílioPereira de Almeida ditavam um ótimo padrãode qualidade. Depois vieram os filmes produ-zidos no Rio de Janeiro, nos quais Mazzaro-pi foi destituído de sua marcante personali-dade caipira paulista, com resultados bastantefracos. “Foram apenas três estes filmes cario-cas, mas eles ficaram tão ruins que o próprioMazzaropi quis comprá-los para destruí-los”,

informa Máximo Barro, professor de Cinema da FundaçãoArmando Álvares Penteado-Faap.

Num terceiro momento temos o Mazzaropi produ-tor de si mesmo, através da PAM, que alternou ótimose péssimos resultados. Entendendo-se, em todos estescasos, a palavra “resultado” do ponto de vista cinemato-gráfico, pois do ponto de vista financeiro, todos os 32longas foram sucesso de público.

Compreende-se, desta forma, que o julgamento histó-rico de Mazzaropi por parte da imprensa seja filtrado sobesta ótica da memória residual positiva, onde o ruimtende a ser esquecido e o bom tende a ser lembrado.

Tudo isso sem deixar de lado o histórico e arraigado pre-conceito contra a cultura caipira, que Monteiro Lobato tantodisseminou em cartas e artigos que escreveu no jornal oEstado de S.Paulo, desde 1912. Tais preconceitos acabavam porarranhar não apenas a imagem de Mazzaropi, como tambéma de quem com ele trabalhava. Ewerton de Castro, que foiator, figurinista, roteirista, continuísta e até coreógrafo emfilmes de Mazzaropi, diz que “a tal intelligentzia cinemato-gráfica brasileira, as pessoas ditas cultas, a elite do cinema,achava que era um lixo fazer filmes de Mazzaropi. Era con-siderado subproduto. As pessoas vinham me dizer: Nossa Se-nhora, Ewerton! Você faz filme com Mazzaropi!”.

Inácio Araújo fala sobre o preconceito com o conheci-mento de quem atuou nas duas frentes:

hoje é renomado crítico da Folha deS.Paulo, mas no início de sua car-reira foi montador de cinema. In-cluindo filme de Mazzaropi. “Euvou te falar a verdade, o primeirofilme de Mazzaropi que eu vi foi o

que eu mesmo montei”, confessa.

Mazzaropi e Geny Prado, aRainha do Cinema Caipira,

em Chofer de Praça, de1958: primeiro filme da

PAM Filmes.

Em Jeca Tatu,de 1959,Mazzaropicria seupersonagemmais famoso:com umalinguagemsimples eleconquista opúblico dointerior.

Page 36: 2012__377_abril

36 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

“Nunca tinha visto um filme de Mazzaropi antes porqueminha família não tem nada de rural, a gente não ia ver Ma-zzaropi no cinema, quando eu era criança. Quando íamosao cinema, víamos as chanchadas da Atlântida, nunca Ma-zzaropi. Depois, já adulto, imagina! Nem me passou pelacabeça ir ao cinema ver Mazzaropi”.

E o próprio Mazzaropi tinhaconsciência disso, conforme eleafirma em sua entrevista ao Fantás-tico: “Os intelectuais não podemme pichar porque o que eu faço écultura popular, e o intelectual quepicha a cultura popular e que nãogosta da cultura popular é um inte-lectual furado (...) Se eu fizer umafita sofisticada que ninguém vai aocinema, então eu não contribuícom nada porque ninguém viu oque eu fiz. Não deu dinheiro, por-tanto o Governo não recolheu im-postos. Logo, eu não fiz nada. E euajudo a cultura e muito, porque os impostos que eu pagoo Governo distribui inclusive para a Educação”.

Por outro lado, mesmo envoltos por filmes que, diga-se,estavam bem longe de ser maravilhas do cinema brasileiro,alguns críticos tiveram, na época, a ousadia de lançar sobrea obra de Mazzaropi um olhar menos imediatista. PauloEmilio Salles Gomes, referência da crítica paulista, escreveu:“Mazzaropi atinge o arcaico da sociedade brasileira e de cadaum de nós. Um inverso da redundância. Ele é estimulantequando repete e se repete incansavelmente e sem nos can-sar. De tanto repetir, de repente, uma inesperada poesia.Sucede quando ele não está fazendo nada de especial, ape-nas olhando, andando ou pondo o fumo no pito”.

Jean-Claude Bernardet, na Última Hora de 22 de ju-lho de 1978, levanta a questão que “as importantes dis-cussões que se desenvolvem atualmente sobre o que sejacinema popular não podem ignorar os filmes de Mazza.Não porque sejam produtos comerciais de grande audi-ência (..) mas porque esses filmes só têm um efeito ali-enante, na medida em que se comunicam com o públi-co a partir dos seus problemas, canalizando sua tensãodentro de uma sociedade de classe”. E conclui de formasurpreendente: “Há muitas outras maneiras de abordaro cinema de Mazzaropi, mas desde já fica essa afirma-ção: o cinema de Mazza é um cinema poIítico atuante”.

Menos de um mês depois, em agosto de 1978, o críti-co Flávio Ramos Tambellini abre seu coração em textopublicado no Jornal do Brasil: “Seria muito simples con-siderar Jeca e Seu Filho Preto um filme ruim. Ele realmen-te não preenche determinados padrões que o consensoconsidera bom. Contudo, gostaria de manifestar publica-mente minha impotência em lidar com verdades absolu-tas. Assisti ao filme, sem olhar para o relógio de cinco emcinco minutos, o que me acontece freqüentemente quan-do certos embustes culturais são projetados na tela”.

O mesmo jornal, no mesmo agosto de 1978, tambémalfineta os intelectualóides: “Os que se preocupam 365 diaspor ano, em horário integral, com a colonização cultural,deveriam ver Jeca e Seu Filho Preto, misturando-se com o povão,em vez de ficar teorizando em gabinetes ou nos saraus daalta burguesia. Está aí, mais uma vez, o chamado fenômenoMazzaropi, um dos poucos homens de cinema do mundoque continuaria milionário ainda que seus produtos fossemboicotados pelos exibidores fora das fronteiras de sua me-trópole comercial”. O autor do texto é Ely Azeredo.

Passados 100 anos de seu nascimento e 60 de sua estréiano cinema, Mazzaropi hoje tem seus filmes exibidos na TVCultura, na Cinemateca Brasileira e em sessões especiais deespaços alternativos. Toda a sua obra cinematográfica estádisponível em dvds que “não param de vender”, segundo oatendente de uma grande banca de jornais no Viaduto do Chá,Centro de São Paulo. Estudos e livros sobre ele se multipli-cam. E o que era jeca virou cult, o que era brega ficou chique.Depois de atrair para si a ira de boa parte da imprensa, hojeMazzaropi é um fenômeno a ser estudado. Ou, trocando emmiúdos, cada vez se confirma mais que, como se diz popu-larmente, o drama de ontem é a chanchada de amanhã.

Jornal da ABI – Você conheceuMazzaropi pessoalmente?

Renato Teixeira – Sim, conhe-ci, e foi numa situação tragicô-mica. Hoje eu dou risada, mas nahora foi assustador. Eu estava nasala da casa dele, quando de repen-te apareceram dois cachorros enor-mes, daqueles da raça fila brasilei-ro, gigantescos! Fiquei apavora-do! Um dos cachorros sentou bemdo meu lado e pegou meu braço,com aquela boca enorme dele. Ime-diatamente eu pensei: “Agora eutô morto. O cachorro do Mazza-ropi vai me matar aqui e já.” Masdaí o Mazzaropi chegou, disse queos cachorros eram bonzinhos,mansos, e nós conversamos umpouquinho.

DEPOIMENTO

Mazzaropi e Renato Teixeira têm vários pontos em comum.Além da grande identificação de ambos com a cultura caipira,tanto o cineasta como o cantor/compositor adotaram Tauba-té, a 130 quilômetros da capital paulista, como a cidade deseus trabalhos e de seus corações. Mazzaropi nasceu em SãoPaulo; Teixeira, em Santos.

Como músico e compositor, Renato Teixeira é conhecidíssi-mo por Romaria. Como publicitário, compôs o clássico jingle doanúncio da Bala de Leite Kids veiculado no final dos anos 1970,que poucos sabem que ele é o autor (“Roda roda roda o baleiro,atenção, quando o baleiro parar, ponha mão, pegue a bala maisgostosa do planeta, não deixe que a sorte se intrometa”). Mascertamente a sua faceta menos conhecida é mesmo a de jornalis-ta, que adotou há pouco mais de cinco anos e da qual ainda seconsidera um aprendiz. Um aprendiz, porém, combativo: “Umjornal nunca deve deixar de pegar no pé do Prefeito”, defende.

POR CELSO SABADIN

O autor de Romaria, que agora é também jornalista e tomou gosto pela novaatividade, expõe suas opiniões sobre imprensa e a vida no interior e faz revelações

que surpreendem, como a de que Mazzaropi, o protótipo do roceiro, era umhomem sofisticado que entendia demais sobre a sua grande paixão: o cinema.

RENATO TEIXEIRA

CENTENÁRIO MAZZAROPI, O JECA VIROU CULTM

ARIANA C

HIARELLA

Page 37: 2012__377_abril

37JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Jornal da ABI – Sobre o que vo-cês conversaram?

Renato Teixeira – Ah, eu nuncamais esqueci o que ele falou na-quele dia. Ele me disse: “Repara, euapareço muito nos meus filmes. Sevocê quiser me ver, você vai assistiraos meus filmes, mas se eu come-çar a aparecer na televisão tododia, você não vai mais querer pa-gar um ingresso de cinema pra mever. Pra quê? Se eu já apareço degraça na televisão, por que você vaipagar pra me ver no cinema?”. Eleme explicou que só aparecia na te-levisão se fosse para aparecer aolado de alguém importante. Na-quela época tinha vindo ao Brasilo ator americano Tony Curtis, eMazzaropi foi lá posar para asfotos ao lado dele. Ele sabia tudo!

Jornal da ABI – De caipira entãoele não tinha nada...

Renato Teixeira – Ele era muitochique, se vestia bem, a casa deleera bonita. Ele podia até ser caipi-ra, mas era um caipira sofisticado,um caipira chique, entendeu?Outra coisa muito interessanteque ele me falou foi sobre os mo-tivos que o levaram a fazer seusfilmes em Taubaté. Isso foi muitolegal! Ele me disse: “Olha,eu vimfazer filme aqui porque a luz aqui,a luz ambiente, a luz natural doVale do Paraíba, entre as serras, émuito mais favorável para o fil-me que a luz do Rio de Janeiro, oua de São Paulo”. Ou seja, Mazzaro-pi era uma pessoa que sabia deta-lhes técnicos sofisticados. Caipira,mas sofisticado.

Jornal da ABI – A letra de sua mú-sica mais famosa diz: “Sou caipi-ra, pira, pora...”. Mas, afinal, o queé ser caipira?

Renato Teixeira [passa a mãona cabeça, pensativo] – O que é sercaipira?... Ser caipira é ser do in-terior. A primeira definição soci-ológica do povo brasileiro dividianossa população entre caipiras ecaiçaras. É aí que começa o Brasil.De certa forma, todo mundo foicaipira. Depois, no Nordeste, vi-rou outro nome, no Sul virou ou-tro, mas se você pegar, por exemplo,a música caipira de Tonico e Tino-co – aquele formato de dupla quea gente conhece –, você vai perce-ber que o Brasil tinha programascom esse tipo de música em todasas rádios, de Porto Alegre ao Ama-pá. E de certa forma, até hoje tem.Mas o preconceito contra o cai-pira continua! Até que chegounuma hora que eu falei assim:‘Essa cultura caipira não podemorrer, precisa continuar de al-gum jeito, talvez não com o for-mato anterior, porque a músicaé dinâmica, mas ela precisa se re-pensar, ela precisa se reorganizar,buscar novas formas’. Então eufiz isso. Compus Romaria e come-cei a repaginar a música da cul-tura caipira. Não é só uma ques-tão da “música caipira”. A cultu-ra caipira é uma coisa maior, é

uma cultura maior! É uma cultu-ra que tem cinema com Mazzaro-pi, tem literatura com MonteiroLobato, e rock’n’roll, com Celly eTony Campello. Isso só pra falaraqui do Vale do Paraíba [risos]. Éuma coisa fantástica! Aqui nin-guém brinca em serviço. O Vale doParaíba sempre foi inovador. É da-qui que a música brasileira vira mú-sica moderna, com Celly e TonyCampello; aqui o cinema brasilei-ro começa com Mazzaropi; aquifoi feita a melhor literatura infan-til de todos os tempos, no plane-ta: Monteiro Lobato. Não é pou-co! Então quando eu defendo es-sas coisas, na verdade eu estou de-fendendo o lugar onde eu mecriei, o lugar que me deu régua ecompasso.

Jornal da ABI – Mas mesmo as-sim você afirma que o preconceitocontra o caipira continua...

Renato Teixeira – A primeirageração da música caipira, aque-la de Tonico e Tinoco, isso aca-bou faz pouco tempo. O que surgeagora é uma nova música da cul-tura caipira. O eixo da música bra-sileira sempre girou no litoral, ea partir de um determinado mo-mento, ele começou a girar pradentro, para o interior, o que me-lhorou muito a mpb. A mpb nãopodia viver à parte da cultura cai-pira, e mesmo assim alguns “for-madores de opinião” colocaramum preconceito estúpido emcima disso.

Jornal da ABI – Explique melhorisso...

Renato Teixeira – Vou te contarum dos piores momentos da tele-visão que vi na minha vida. Eu ti-nha acabado de comprar uma te-levisão nova, destas de tela gran-de, e estava em casa assistindo aoManhattan Connection. E o NélsonMota, que é um jornalista, estavafalando sobre Charles Chaplin. Aí,num determinado momento al-guém citou Cantinflas, e o Nél-son Mota vira e fala assim: “Pô, pe-raí, nós estamos falando de Cha-plin e vocês vêm falar de Cantin-flas? Daqui a pouco vocês vão que-rer falar de Mazzaropi!” Quandoele falou isso, a sola do meu pé es-quentou, e veio subindo um caloraqui... sabe quando você vai sairna porrada numa briga? Aí eu pe-guei o cinzeiro pra atirar na tele-visão, mas lembrei que tinha aca-bado de comprá-la, e não atirei.Essa estupidez dos chamados“formadores de opinião”, que nóstemos, é um crime cultural. Elespraticam crime cultural o tempotodo! Eu lembro que na televisãoantigamente tinha uns apresen-tadores que quebravam discos doTonico e Tinoco, dizendo queera porcaria. Isso é um absurdo!Só porque somos caipiras. Se nãofôssemos nós, os caipiras, o Bra-sil não seria o Brasil, não! Eu nãoquero que as pessoas quebrem amúsica do meu povo na televisão

e nem que o Nélson Mota fiquenervoso porque se falou de Mazza-ropi perto de Chaplin. Mesmoporque, pra mim, eu prefiro oMazzaropi. Prefiro mesmo, semmedo de errar. Lógico que Cha-plin era um gênio, que é umamaravilha, mas eu prefiro a filo-sofia do caboclo à dos filósofosalemães. Esta é a linguagem queeu entendo. No fundo, todos di-zem a mesma coisa, o caboclo e osgrandes filósofos. O ChiquinhoCorruíra fala a mesma coisa queo Freud, mas o brasileiro tende avalorizar somente aquilo que vemde fora. A gente precisa se reco-nhecer no nosso lugar, no nossochão, na nossa terra, e admirar, eamar. Amar!

Jornal da ABI – Dentro desta ques-tão do preconceito, não existe umaconfusão muito grande entre cai-pira, sertanejo e brega? Quaisseriam as diferenças entre eles?

Renato Teixeira – Eu não gostodeste tipo de nomenclatura, não.Eu acho que existe arte popular earte comercial. Antigamente, nosselos dos discos vinha escrito seera bolero, se era samba-canção, ehoje isso acabou. Mesmo dentrodo rock’n’roll, você vem me dizerque Rita Lee é rock’n’ roll? Não é.Rita Lee é Cely Campello. E oHeavy Metal é o quê? Vamos es-quecer esses nomes. Eu entendoque a arte no Brasil hoje é dividi-

da em dois tipos: a que vem debaixo pra cima, que é aquela queprocura cantar os costumes dopovo; e a que vem de cima pra bai-xo, que é a cultura dos gestores demercado, da economia, dos fabri-cantes de cervejas, celulares, es-sas coisas todas. São eles que di-zem o que o Brasil deve ouvir. Nãoque eles estejam errados. Fui pu-blicitário durante muitos anos eentendo que é assim que se mexecom o posicionamento do merca-do. Eles não estão errados, masfico muito triste porque entre as100 melhores universidades domundo não existe sequer uma queseja brasileira. Nem uma! Nem aUsp! O Brasil tem uma realidadecultural da pior qualidade, do mes-mo nível da saúde, da segurança.A mentalidade do povo brasilei-ro é a mesma de uma criança de12 ou 14 anos. Então, quem faztelevisão no Brasil e quer audiên-cia, precisa fazer uma programa-ção para um público de idade men-tal e cultural de 12 a 14 anos. Éisso que o Sílvio Santos faz. Issoé muito triste!

Agora, a música que vem debaixo para cima, esta tem pereni-dade. Eu mesmo, quando fiz Ro-maria, jamais poderia imaginarque o sucesso dela fosse durar tan-to. Tocando em Frente [“Ando deva-gar porque já tive pressa, trago estesorriso porque já sofri demais”], amesma coisa. Nunca poderia ima-ginar que isso fosse me acontecerna vida, porque nunca fui um caradelirante, nunca desejei ser umaestrela, não gosto disso, isso é bo-bagem. Mas de repente minhamúsica Amanheceu, Peguei a Vio-la que foi abertura do programaSom Brasil, foi selecionada pelaAcademia Brasileira de Letras-ABL entre as 17 melhores letras demúsica da História da mpb! Issome deu um prazer muito grande,não só por mim, mas pela respei-tabilidade da cultura caipira. Nóssomos caipiras, mas não somos cai-piras do jeito que eles acham.

Jornal da ABI – Mas não foi opróprio Monteiro Lobato quedisseminou o preconceito contrao caipira?

Renato Teixeira – Sim, por cau-sa de um problema na fazendadele, Lobato criou a figura pejora-tiva do Jeca Tatu e depois se arre-pendeu, logo em seguida. Ele atéescreveu uma carta para o Estadãopedindo perdão. Foi um sujeitoque escreveu para o Lobato aler-tando que o Jeca Tatu era um cri-me cultural. O Lobato percebeu epediu perdão imediatamente. Esseengano histórico, graças a Deus,vem sendo resolvido e neste sen-tido a gente deve muito, muito,muito a uma cantora chamada ElisRegina. Havia três anos que eu ti-nha composto Romaria e ninguémqueria gravá-la porque ela falava“sou caipira”. Muito cantor ou-viu, mas ninguém quis gravar. Masa Baixinha não tinha medo destascoisas, não. Ela foi, gravou, e real-mente ajudou a quebrar este pre-conceito.

Jornal da ABI – Como você vê hojeo papel e a atuação da imprensa?

Renato Teixeira – O que vejohoje na grande imprensa é umgrande congestionamento. A coi-sa congestionou muito. Acho queo bom jornalismo hoje é feito nointerior, onde as notícias real-mente repercutem. Se você dáuma manchete no Estadão, porexemplo, você vai atingir, diga-mos, 20% da população de SãoPaulo. Não é a maioria. Masquando você lança um furo aquiem Taubaté, a cidade toda ficasabendo. Enquanto o jornalismonão adquirir essa nova forma queestá vindo por aí, e que ninguémainda sabe qual será, ele continu-ará muito mais interessante nointerior. Escrevo para o jornalContato [de Taubaté] e devoro ojornal inteirinho, porque o achomuito mais interessante do queum jornal grande. Acho que re-gionalizar ao máximo o jorna-

lismo é uma tendência irreversí-vel. Isso para cidades com até500 mil habitantes, porque pas-sando disso o jornalismo regionaljá não consegue ser mais tão efi-ciente. É o tal negócio, se o Estadãopublicou que determinado sena-dor roubou, o senador não ligamuito pra isso, porque quem votanele não está lendo um jornalgrande. Agora, nas cidades peque-nas é outra coisa, aqui em Tauba-té é diferente. A repercussão dojornal regional é muito maiorpara a cidade. Outra coisa de quenão gosto é jornal que abaixa acabeça, que só diz sim. O jornaltem que sempre, sempre questio-nar. Um jornal não deve nuncajogar a favor! O jornal não deveser um lugar para elogiar pessoase sim para criticá-las. O Contatopega no pé do Prefeito. E esperoque continue pegando no pé dopróximo, do próximo e do próxi-mo, porque se ele deixar de fazerisso não estará mais cumprindo asua função jornalística.

Jornal da ABI – Mas como vocêcomeçou a escrever em jornal?

Renato Teixeira – Durante unstrês anos escrevi uma coluna nojornal Matéria Prima, que é umapublicação que fala de tudo e detodos, sem se preocupar muitocom a verdade. Tanto que o donohoje está pagando por isso.

Jornal da ABI – Por quê?Renato Teixeira – Ele tá preso!

Bom, mas aí o Paulo de Tarso Ven-ceslau [Diretor de Redação], que émeu amigo, me chamou paraescrever no Contato há uns cincoanos. E eu comecei sem a menornoção de como fazer. Mas agora,de uns meses para cá, já me sin-to bem seguro, peguei a mão parao negócio e começo a me sentirum cara bom pra fazer isso. Jádomino os tamanhos, os caracte-res... Eu tinha começado bem ama-doristicamente.

Jornal da ABI – Sobre o que vocêescreve?

Renato Teixeira – Escrevo sobretudo, mas gosto de entrar muitona questão política porque nãomoro aqui mas eu amo Taubaté, eumorro por Taubaté, e não gostoque as pessoas falem mal daqui,seja o prefeito, seja o quitandeiro.A cidade me deu tanto, mas medeu tanto!... Quando eu moravaaqui fazia show, dava entrevistaem jornal, tinha programa de rá-dio, me relacionava com músicos,com compositores, com cantores.Era a mesma coisa que em São Pau-lo... só que tudo pequenininho. Eutenho esse reconhecimento e umamor pela cidade que não sei expli-car. Eu me comovo aqui. Eu andopor Taubaté com um nó na gargan-ta de emoção, de felicidade. Eucostumo falar para os meus ami-gos: “Esta semana eu vou a Tauba-té, tomar um banho de civiliza-ção” [risos].

“A cultura caipira é uma coisa maior, é uma cultura maior! É uma cultura que tem cinema comMazzaropi, tem literatura com Monteiro Lobato, e rock’n’roll, com Celly e Tony Campello.”

“O Brasil tem umarealidade cultural da

pior qualidade, domesmo nível da saúde,

da segurança.”

Page 38: 2012__377_abril

38 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Um dos grupos mais representativos denossa música popular e considerado pelosestudiosos uma relíquia cultural brasileira,o conjunto Época de Ouro, criado em 1964,por Jacob do Bandolim, mas que existia semnome desde 1960, completou 50 anos em2010. Sua formação inicial, além de Jacob,no bandolim, contava com Dino, no violãode 7 cordas, César Faria e Carlos Leite, nosviolões, Jonas Silva, no cavaquinho, e Gil-berto D’Ávila, no pandeiro. Uma curiosi-dade é que três dos cinco integrantes, alémde excelentes músicos, eram também fun-cionários públicos: César Faria, oficial deJustiça; Carlos Leite, o Carlinhos, agentefiscal, e Jonas Silva, funcionário público emNiterói, o que certamente lhes permitia ummaior contato com Jacob, que também erafuncionário da Justiça.

Durante estes 50 anos, o Época de Ouroparticipou de centenas de espetáculos, gra-vou inúmeros discos e teve grande importân-cia no movimento de resistência do choro,na década de 1960. Com Jacob, o Época deOuro lançou os discos Chorinhos e Chorões,Primas e Bordões e Vibrações, este último pre-miado como o melhor disco instrumentalde 1967, passando ao largo da febre da Bossa

Nova que dominava os meios de comuni-cação. Sempre convivendo com o sucesso,o conjunto participou com Elizeth Cardosoe Zimbo Trio de um show memorável noTeatro João Caetano, gravado em disco,porém não relançado em cd no Brasil.

Depois da morte de Jacob, em 1969, ogrupo se desfez por alguns anos e voltoua atuar em 1973, sob o comando de CésarFaria, a convite de Paulinho da Viola, parao show Sarau, dirigido por Sérgio Cabral.Surgiu daí o Clube do Choro, que marcoua redescoberta deste gênero musical noPaís. No bandolim, Déo Rian, apontadopelo próprio Jacob do Bandolim como seusucessor. Em 1976, Ronaldo de Souza pas-sou a ser o bandolinista oficial do grupo.

Em atividade até hoje, o Época de Ourofoi presença obrigatória em shows e festivaiscomo o Free Jazz Festival, em 1985, e o Pro-jeto Pixinguinha. Em 1994, viajou por todoo Brasil com o espetáculo Brasil Musical, aolado do pianista Artur Moreira Lima, e emseguida embarcou para Frankfurt, na Alema-nha, para uma série de apresentações. Em1977, produzido por Jorginho do Pandeiro,o conjunto gravou mais um disco, Época deOuro interpreta Pixinguinha e Benedito La-cerda e obteve o prêmio de “Melhor Conjun-to Instrumental do Ano”, da revista Playboy.

Convite por todos os ladosAcostumados a trabalhar com os maio-

res nomes de nossa música popular e cadavez com uma técnica mais refinada, em1987 seus componentes homenageiam os50 anos de carreira do violonista Dino,gravando o lp Época de Ouro Dino 50 Anos,com participação de Paulinho da Viola,Cristóvão Bastos e Maestro Severino Ara-újo. Ao retornar de outra viagem à Alema-nha, em 1996 eles receberam convites deMarisa Monte, Elba Ramalho, Ivan Lins ePaulinho da Viola para participar das grava-ções dos seus cds. Café Brasil é título de maisum trabalho, lançado em agosto de 2001,compondo uma mistura aromática do Épo-ca de Ouro novamente com grandes intér-pretes como: Marisa Monte, Paulinho daViola, João Bosco, Martinho da Vila e Lei-la Pinheiro. Este cd foi lançado no Japãocom grande sucesso, chegando à marca de25 mil cópias vendidas.

Devido à enorme repercussão desseálbum, em 2002 o conjunto gravou o CaféBrasil 2, com a participação de Beth Car-valho, Zeca Pagodinho, Ney Matogrosso,Ivan Lins, Moska, Arlindo Cruz, Sombri-nha, Elba Ramalho, Nó em Pingo D’Águae Lobão. No ano seguinte, nova excursãoao Japão. Nesse ritmo, sem nunca deixar

Criado por Jacob do Bandolim, esse grupo de virtuoses há meio século se dedica àpreservação e difusão de um dos mais importantes gêneros da nossa criação musical.

MÚSICA

Conjunto Época de Ouro:50 anos promovendo o choro

POR ARCÍRIO GOUVÊA NETO

o pandeiro cair, o Época de Ouro já tevemais de 40 discos gravados. Em maio de2010, o conjunto brinda seus fãs com maisum cd, Feijão com Arroz, também lançadocom muito sucesso no Japão. Nesse mes-mo ano, no dia 25 de junho, reestréia seuprograma semanal na Rádio Nacional doRio de Janeiro, todas as sextas-feiras, apartir das 17h, com duas horas de duração.

Sucesso em MoscouCerta vez, o pianista e concertista russo

Serguei Dorenski, que esteve em Jacarepa-guá, na casa de Jacob, na década de 1960,assistindo aos saraus que lá eram realiza-dos, ao retornar a Moscou, ainda impres-sionado com a qualidade da música queouviu, encontra-se com Artur Moreira Lima,que estudava piano lá e relata o que vive-ra naquelas horas no dolente reduto de Ja-carepaguá. Moreira Lima se compromete,então, em fazer chegar às mãos de Do-renski os discos de Jacob.

Meses depois, na fria Moscou, um cho-rão carioca, o arquiteto e promotor cultu-ral Alfredo Britto, entrega ao pianista rus-so uma coleção de lps de Jacob. Em poucosdias, muito cariocamente, a Rádio Moscoutransmite programas sobre um gênero bra-sileiro desconhecido e distante, o choro,apresentando um virtuoso intérprete, quetirava sons incríveis de um instrumentoque lembrava a balalaika, espécie de bando-lim russo, e de nome complicado de se pro-nunciar: Jacob do Bandolim. Assim é a obrade Jacob, sem fronteiras.

Os sarausOs saraus, que tão boa impressão causa-

ram a Dorenski, começaram a se realizar em1949, na Rua Comandante Rubens Silva, 62,Freguesia, nova residência de Jacob. Conta-vam na platéia com a presença de grandesnomes da política, das artes e do jornalis-mo, que lá iam para ouvir artistas célebrescomo Dorival Caymmi, Elizeth Cardoso,Ataulfo Alves, Paulinho da Viola, Canhotoda Paraíba, Maestro Gaya, Darci Vila-Verde,Turíbio Santos, Oscar Cáceres, violonistauruguaio, e muitos outros.

Sobre esses encontros assim se manifes-tou o crítico e produtor musical HermínioBello de Carvalho, presença constantedessas reuniões: “(...) quem participou da-queles célebres saraus tornou-se não ape-nas um ouvinte privilegiado das noitesmais cariocas que esta cidade já conheceu,mas um discípulo sem carteira de um Mes-tre que não sonegava lições, que fazia ques-tão de repassá-las nas inúmeras atividadesque exercia, inclusive como radialista”.

Um coração rasgado pela emoçãoEm 19 de agosto de 1967, é concedida a

Jacob pelo Clube de Jazz e Bossa a Comendada Ordem da Bossa. Ao chegar ao TeatroCasa Grande, na Zona Sul do Rio de Janei-ro, para receber a medalha, Jacob se espan-ta ao ver um público de jovens, diferentedaquele que estava acostumado a ter emseus saraus em Jacarepaguá; chegou a pen-sar em não se apresentar. Convencido poramigos, muda de idéia e faz uma apresen-tação antológica. Tomado pela emoção dosaplausos após interpretar Lamentos, de Pi-xinguinha, e enquanto iniciava os primei-ros acordes de Murmurando, do compositorFon Fon, sofre seu primeiro enfarte.

Jorginho do Pandeiro, Celsinho Silva (produtor musical), Mike Quinn e Ronaldo Bandolim (em pé); Celso Faria, Dino (7 cordas) e Tony Azeredo (sentados).

LEON

ARDO

AVERSA/AGÊN

CIA O

GLO

BO

Page 39: 2012__377_abril

39JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Sobre o episódio, Jacob afirmaria: “(...)para mim foi uma grande felicidade ter sidoaplaudido pelos cabeludos, que compreen-deram naquele instante a minha arte (...)”.

No início de agosto de 1969, Jacob inter-rompe uma estada em Brasília, onde estavase tratando com o cardiologista Dr. Veloso,e retorna ao Rio de Janeiro para reassumirsuas funções no Conselho de Música Popu-lar do Museu da Imagem e do Som, ondeocupava a cadeira n° 22, e para retomar asgravações de seu programa de rádio na RádioNacional, Jacob e seus Discos de Ouro, um dospoucos programas especializados em cho-ro e samba no rádio brasileiro, sempre trans-mitido às onze e meia da noite.

Nesse período, após mais um enfarte, porprecaução, Adylia, sua esposa, não permi-te mais que Jacob saia sozinho. Porém, nodia 13 de agosto de 1969, uma quarta-feira,Jacob, que desde o retorno de Brasília insis-tia em ver Pixinguinha, pois soubera que oamigo estava também com problemas desaúde, resolve ir a Ramos de qualquer jeito.Adylia, adoentada, não pode acompanhá-lo; relutante, deixa-o ir. Entre outras coi-sas, Jacob quer acertar com Pixinguinha arealização de um velho sonho: a gravaçãode um disco só com músicas do velho mes-tre e com a renda revertida para ele.

Jacob passa a tarde com Pixinguinha e aoretornar para casa, ainda dentro do carro

No Japão, casas lotadasJorginho do Pandeiro, um dos primei-

ros componentes do Época de Ouro, gos-taria que no Brasil fosse dada a mesmaimportância que o conjunto alcançou noexterior: “No Japão, somos recebidos en-tusiasticamente. Nossos shows ficam su-perlotados e depois, quando compramnossos cd’s, vão ao camarim, querem au-tógrafos e conversar conosco, saber mui-ta coisa do grupo e tudo mais. É necessá-rio até os seguranças pedirem para eles seretirarem, senão ficam lá até de manhã.Na verdade, compreendem e valorizamnosso trabalho, sabem da nossa importân-cia, numa dimensão muito superior à dosbrasileiros, infelizmente. E não somen-te no Japão, mas também em outros pa-íses. É impressionante.”

Ronaldo do Bandolim pensa da mesmaforma: “O choro é coisa nossa, parafrasean-do Noel Rosa. Ninguém duvida disso. Sabe-mos que o choro é venerado nos meios uni-versitários e nosso trabalho reconhecidonessa área. Mas em nível oficial, de apoiogovernamental de incentivo por meio daLei Rouanet, aí a coisa muda de figura. Édifícil se conseguir patrocínio para pro-jetos importantes de resgate e preserva-ção de nossa cultura. Não existe essa com-preensão, como existe em outros países,de verdadeira idolatria por sua cultura, deamor por seus ídolos. Aqui no Brasil te-mos memória curta, esquecemos rápidoe costumamos valorizar mais o que vemde fora, em detrimento do que é nosso.Os caminhos para se conseguir patrocíniopara um projeto são tortuosos e lentos.

vamente na História de nossa música po-pular: “Um fato interessante é que, embo-ra tenha como data de fundação o ano de1964, o Conjunto Época de Ouro já existiahá pelo menos uns quatro anos. Ou seja, elefoi fundado aí por volta de 1960. Duranteesse período, se consolidou no cenário damúsica instrumental, principalmente porser comandado pelo incomparável Jacob doBandolim. Não tinha esse nome, na verda-de, não tinha nome, e creio que o nome veioda vontade que nele havia de homenageara fase áurea de nossa música popular, a faseem que apareceram nossos grandes intér-pretes e compositores e que consolidou de-finitivamente, com a ajuda de um surpre-endente veiículo que nascia, o rádio, nos-sas mais genuínas manifestações culturaisem todo o Brasil. Já completamos agoramais de meio século de existência.”

sofre o terceiro enfarte. Morre na varandade casa, nos braços de Adylia, por volta das19 horas. Naquela semana, Jacob havia gra-vado na Rádio Nacional três programas quenão chegam a ir ao ar. No último, o de nú-mero 244, que seria transmitido no dia 15,sexta-feira, a fala de abertura é dedicada aorelançamento pela gravadora Som da cole-tânea É Bossa Mesmo, com músicas de Ataul-fo Alves, então recentemente falecido.

Jacob saudava o lançamento, mas fezseveras críticas às gravadoras por não da-rem destaque aos artistas quando em vidae quererem faturar após a sua morte comcoletâneas. Tratou-se de um documentode incrível premonição, pois poucos diasdepois Jacob morreria. Aquilo que de-nunciara acerca da morte de Ataulfo emseu último programa viria a acontecercom ele mesmo.

Nos seus últimos cinco anos de vida,de 1965 até seu falecimento, em 1969, noauge da carreira, Jacob grava em estúdioapenas o lp Vibrações, considerado porunanimidade o seu principal disco e umdos melhores discos instrumentais de to-dos os tempos, porquanto Chorinhos e Cho-rões e Primas e Bordões haviam sido grava-dos ainda no início da sua carreira. Des-de seu falecimento foram lançados cercade 10 lps e 15 cds com o mestre do ban-dolim e sua música portentosa: o choro.

Quando se consegue, estão sempre aquémdo necessário. Parece que estão fazendoum favor e não apoiando e divulgando acultura nacional.”

“Um espetáculo bem feito sobre nos-sa música tem público, é casa cheia tododia. Eu mesmo tenho a idéia de montar umfestival internacional do choro; seriafantástico. Para quem acha inviável, res-pondo que existem conjuntos de choroespalhados em todos os continentes. Maspara a música instrumental tudo é difícil.Não só aqui, até nos Estados Unidos é as-sim. Se pensam que a vida é fácil para osmúsicos de jazz ou blues é puro engano.”

Jorge Filho, do cavaquinho, diz que omomento do choro é agora: “O choro éimortal, não vai morrer jamais. Acho quenunca esteve melhor. Tem tido bastantepresença na mídia e, como disse o Ronal-do, vem ganhando muito espaço nosmeios universitários. Músicos excelentessurgem a todo momento, o que é muitoanimador, pois eles se encarregam de le-var o choro à frente. Faço questão até deenaltecer aqui o trabalho da Rádio Nacio-nal, da TV Brasil, da Rádio Mec, da TVGazeta de São Paulo e tantas outras. Chegaa ser uma injustiça não citar os nomes depreservação de nossa cultura popular, atra-vés de programas que mostram como elaé maravilhosa e única.”

“Volta e meia jornais e revistas tambémfalam do choro, assim como centenas desites e blogs. O momento é excelente. Noentanto, volto a bater na mesma tecla,semtrocadilho, só para ficar no âmbito musi-

cal, da falta de incentivo dos Governos, dasSecretarias de Cultura e de tantos centrosculturais que poderiam dar mais espaçopara o choro, para manifestações culturaisbrasileiras. Dinheiro não falta, falta von-tade. Outro dia, fui acertar uma apresen-tação do Época de Ouro em uma casa bemconhecida e eles nos ofereceram um cachêirrisório. Eu disse que aquilo não era cachêpara o Época de Ouro; afinal, temos umahistória na música popular brasileira, to-camos com grandes mestres de nossamúsica, fomos fundados por Jacob do Ban-dolim, completamos 50 anos de existên-cia, e a resposta que ele me deu foi: ‘Isso éo que pagamos para todo mundo’. Ora, nósnão somos todo mundo. E o mínimo queexigimos é respeito.”

O violonista Tony Azeredo afirma queo conjunto já escreveu seu nome definiti-

FOLH

APRESS

Jacob do Bandolim, criador de uma relíquia cultural brasileira: o conjunto Época de Ouro.

Page 40: 2012__377_abril

40 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

VIDAS

O jornalista norte-americano MikeWallace, 93 anos, apresentador do pro-grama 60 Minutes, da rede CBS, duran-te cerca de quatro décadas, morreu nodia 7 de abril, em decorrência de pro-blemas cardíacos, em uma clínica emNew Haven, onde residia, localizadano Estado de Connecticut.

A morte do apresentador foi comu-nicada na manhã seguinte por BobScheiffer, apresentador do programa,também da CBS. Uma semana depois,a emissora exibiu um documentárioespecial sobre a trajetória pessoal eprofissional do jornalista, que, com seuestilo marcante, tornou-se referênciano jornalismo televisivo no mundointeiro, transformando o programa 60Minutes em uma das atrações maisprestigiadas da televisão norte-ameri-cana a partir dos anos 1960.

“A extraordinária contribuição deWallace como repórter televisivo nãotem medida, já que representou umaforça dentro da televisão desde suasorigens”, disse Leslie Moonves, Presi-dente da CBS Corporation.

Ao longo dos 38 anos à frente do 60Minutes, Mike Wallace atuou em cer-ca de 800 reportagens e conquistou 20prêmios Emmys. Entre os seus inúme-ros entrevistados estão todos os Presi-dentes dos Estados Unidos desde JohnF. Kennedy, com exceção de George W.Bush; Malcolm X, Martin Luther KingJr., Yasser Arafat, aiatolá Khomeini,Deng Xiao Ping.

Apesar de ter se aposentado em2006, Wallace participava de algumasedições especiais do programa. Deacordo com o site americano TMZ, aúltima entrevista de Wallace foi como jogador de beisebol aposentadoRoger Clemens, em 2008.

Antes da estréia no programa daCBS, em 1968, Wallace já havia atua-do em emissoras de rádio e tv nas fun-ções de locutor, repórter, âncora e tam-bém como ator.

Nascido no Brookline, em Massa-chusetts, em 9 de maio de 1918, MikeWallace, que se casou quatro vezes,deixa os filhos Pauline e Chris. O ter-ceiro filho, Peter, morreu em 1962.

Popularmente chamado de chorinho, o choro é um gê-nero musical, uma música popular e instrumental bra-sileira com mais de 140 anos de existência. Os conjuntosque o executam são chamados de rodas de choro ou re-gionais e os músicos, compositores ou instrumentistas,são chamados de chorões. Apesar do nome, o gênero é emgeral de ritmo agitado, alegre e ricamente sincopado, ca-racterizado por sutis modulações e pelo virtuosismo e im-proviso dos participantes, que precisam ter muito estu-do e técnica, ou pleno domínio de seu instrumento.

O choro é considerado a pri-meira música popular urbana tí-pica do Brasil e difícil de ser exe-cutado. O conjunto regional égeralmente formado por um oumais instrumentos de solo, comoflauta, violão e cavaquinho oubandolim, que executam a melo-dia; o cavaquinho ou o bandolimfazem o solo ou o centro do ritmocom um ou mais violões e juntocom o violão de 7 cordas formama base do conjunto, além do pan-deiro como marcador de ritmo.

Surgiu provavelmente emmeados de 1870, no Rio de Ja-neiro, e nesse início era conside-rado apenas uma forma abrasi-leirada de os músicos da épocatocarem os ritmos estrangeiros,que eram populares naqueletempo, como os europeus xote,valsa e principalmente polca,além dos africanos, como o lun-du. O flautista Joaquim Caladoé considerado um dos criadores do choro, ou, pelo menos,um dos principais colaboradores para a fixação do gêne-ro, quando incorporou ao solo de flauta dois violões e umcavaquinho, que improvisavam livremente em torno damelodia, uma característica do choro moderno, que rece-beu forte influência dos ritmos que no início eram so-mente interpretados, demorando algumas décadas paraser considerado um gênero musical.

Luís da Câmara Cascudo afirmou que “[...] os nossosnegros faziam em certos dias, como em São João, ou porocasião de festas nas fazendas, os seus bailes, que chama-vam de xôlo, expressão que, por confusão com a parôni-ma portuguesa, passou a dizer-se xôro e, chegando à ci-dade, foi grafada choro”. Ary Vasconcelos atribui a deri-vação à palavra choromeleiros, “corporação de músicosque teve atuação importante no período colonial brasi-leiro. Para o povo, naturalmente, qualquer conjunto ins-trumental deveria ser sempre os choromeleiros, expres-são que acabou sendo reduzida para os choros”.

“Conjunto instrumental boêmio, originário do Rio deJaneiro, por volta de 1870, executando músicas essenci-almente urbanas”, é como define Mário de Andrade a pa-lavra chorões. Ao conjunto original de ‘chorões’ (flauta,violão, cavaquinho...) foram acrescentando-se alguns ins-trumentos, inclusive a percussão (pandeiros, ganzás, reco-recos), que teve ingresso no choro através de Jacó Palmi-eri, pandeirista. Afirma Ary Vasconcelos (1984): “Em1921, o pandeiro é mencionado pela primeira vez em umselo de disco, como integrante do Grupo do Moringa (cla-rinetista), nas gravações de No Rancho e É Assim Que EuGosto (Odeon 121. 992/3)”.

O crítico José Ramos Tinhorão diz, analisando a obraA Família Agulha, de Guimarães Júnior, lançada em 1870:“Esse livro é espetacular, pois traça com imenso alento e

Um gênero commais de 140 anos

refinamento literário um retrato divertido e real das classeshumildes e seus divertimentos pela periferia do Rio deJaneiro, folguedos esses já agora acompanhados do vio-lão em lugar da viola e cavaquinho. Formação que jun-tamente com a flauta e o pandeiro seria a base dos conjun-tos de choro, tipicamente nacionais”.

Ainda existe a versão de Lúcio Rangel, de que os esque-mas modulatórios e tom plangente foram responsáveis pelaimpressão de melancolia que acabaria conferindo o nomede choro a tal maneira de tocar e a designação de chorões aos

músicos de tais conjuntos, por ex-tensão. E José Ramos Tinhorãocompleta essa análise apontando aorigem do termo choro como a sen-sação de melancolia transmitidapelas baixarias do violão – o acom-panhamento na região mais gravedesse instrumento.

Pixinguinhatransforma o choro

Foi com Pixinguinha, conside-rado o “Bach do Choro”, que onovo estilo musical ganhou matu-ridade, forma e orientação. Ele or-ganizou diversos grupos, tocoudurante seis meses em Paris, com“Os Oito Batutas”, e quando retor-nou ao Brasil introduziu o saxofo-ne e o trompete no repertório. Jun-tamente com Pixinguinha, outrosilustres nomes do choro, comoJoão Pernambuco, violinista ecompositor de choros para violãoe Donga, co-autor de Pelo Telefone,

primeiro samba já gravado, formavam o grupo “Os Oito Ba-tutas”. É nessa relação que o choro se aproxima do samba.

Entre 1927 e 1946, época em que surgiram as primei-ras vitrolas elétricas, que proporcionaram aos ouvintesuma audição bem mais natural, além de os grandes no-mes de gerações anteriores continuarem produzindo,outros nomes se revelaram, tais como Alberto Marino,Antenógenes Silva, Radamés Gnattali, Gastão BuenoLobo, Aníbal Augusto Sardinha (Garoto), Benedito Lacer-da e Dante Santoro.

Pode-se dizer que a segunda metade da década de1940, quando surge a quinta geração de compositoresde choro, é uma fase bem mais propícia para o gênero.Nela temos: Jacob Bittencourt, Jacob do Bandolim, Se-verino Araújo, Maestro Cipó, Carlos Lima do EspíritoSanto, Luís Bittencourt, Raul de Barros, Valdir Azevedo.Embora tivesse estreado anteriormente, começa a sedestacar nessa época, inicialmente em São Paulo, pos-teriormente no Rio de Janeiro, o compositor e instru-mentista Abel Ferreira.

O Nordeste também forneceu muitos músicos ao cho-ro; João Pernambuco, Luperce Miranda, Ratinho, Tia Amélia,Severino Araújo, Sivuca e, por fim, em 1959, chega ao Riode Janeiro o violonista e compositor Francisco Soares de Ara-újo, o Canhoto da Paraíba. Entre os compositores de apare-cimento posterior estão Altamiro Carrilho, Paulo Moura,Rafael Rabelo. A relação de compositores é, segundo AryVasconcelos (1984), “extensíssima”. Nomes célebres quecontribuíram para a divulgação e fixação do choro, dan-do-lhe a expressão que possui hoje, foram Ernesto Naza-reth, K-Ximbinho, Luiz Americano, Patápio Silva, Alta-miro Carrilho, Waldir Azevedo, Zequinha de Abreu, Chi-quinha Gonzaga, Abel Ferreira, Ademilde Fonseca, Garo-to e Benedito Lacerda.

Seu programa 60 Minutes foio paradigma do jornalismo

televisivo no mundo inteiro.

O longevo MikeWallace sai doar após 38 anos

MÚSICA CONJUNTO ÉPOCA DE OURO: 50 ANOS PROMOVENDO O CHORO

Page 41: 2012__377_abril

41JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSARua Araújo Porto Alegre, 71 - Castelo - Rio de Janeiro - RJ Cep 20030-010

Telefone (21) 2282-1292 Fax (21) 2262-3893www.abi.org.br • e-mail [email protected]

RELATÓRIO DA DIRETORIAEXERCÍCIO SOCIAL 2011-2012

CONTAS DE GESTÃO | ANO CIVIL DE 2011

Um ano de ações da ABI em defesa daliberdade e da ética na vida pública

1. INTRODUÇÃO

1.1. Em conformidade com as disposi-ções dos artigos 19 e 21 do Estatuto Social,submeto a esse digno colegiado o Relató-rio da Diretoria da ABI relativo ao exer-cício social 2011-2012 e as Contas deGestão do ano civil 2011, em comparati-vo com o ano civil 2010. Estas foramsubmetidas também à apreciação dos ilus-tres membros do Conselho Fiscal, para osfins estatutários.

2. NOSSOS ENGAJAMENTOS

2.1. Como se verá nos relatos a seguir,a ABI manteve durante o exercício soci-al atuação vigorosa em defesa dos princí-pios e causas que norteiam a sua existên-cia de 104 anos, completados no dia 7 deabril em curso: a inviolabilidade da liber-dade de expressão, a integridade dos direi-tos humanos e a observância de padrõeséticos na administração pública. Estaúltima questão adquiriu especial relevân-cia nos dias presentes, tantas são as lesõesimpostas ao interesse social nas diferentesáreas do poder e no mundo dos negócios.

2.2. Aos esforços despendidos nos cam-pos citados somaram-se ações e iniciativasdestinadas à valorização dos profissionaise dos veículos de comunicação, ao aperfei-çoamento técnico, cultural e ético da ati-vidade jornalística, à exaltação de eventose personalidades que merecem homena-gens do conjunto da sociedade pelo quefizeram ou fazem em diferentes campos.As preocupações que moveram a ABI nes-ses aspectos não a desviaram do cumpri-mento de suas obrigações para com o qua-dro social, através da melhoria dos progra-mas de assistência que desenvolve.

2.3. Como é da sua tradição, a ABI pro-moveu intercâmbio com outras entidadese instituições e colaborou com iniciativase realizações de interesse público, como oscertames Personalidades da Educação ePersonalidades da Cidadania, promovidopelo Grupo Folha Dirigida com a partici-pação da Casa e da Organização das Na-ções Unidas para a Educação, a Ciência e

a Cultura-Unesco. Na cerimônia dedicadaàs Personalidades da Cidadania de 2011, aABI foi distinguida com o convite paraentregar a placa e o diploma ao jornalistaAncelmo Gois, membro do nosso Conse-lho Consultivo, em cerimônia em que foiagraciado igualmente outro associado daCasa, o acadêmico Arnaldo Niskier.

2.3.1. Uma relação profícua da ABI sedeu com a Associação dos Cronistas Espor-tivos do Rio de Janeiro-Acerj, que propôsa criação pelas duas entidades do PrêmioJoão Saldanha de Jornalismo Esportivo, oprimeiro deles entregue no começo de 2011e o segundo agora neste mês de abril de 2012.Para honra da Casa, os vencedores do Gran-de Prêmio João Saldanha, principal láurea docertame, foram os jornalistas João Máximoe Marcos de Castro, ambos associados da ABI,por seu livro Gigantes do Futebol Brasileiro.

2.3.2. Entre as instituições com que aABI estabeleceu relação de colaboraçãofigura a União dos Advogados PúblicosFederais-Unafe, cujo Diretor-Executivo,advogado Luís Carlos Palácios, depois elei-to Presidente, visitou a Casa em agosto eexpôs uma das preocupações da entidade:o teor restritivo de disposições da LeiComplementar nº 73, de 1993, que insti-tuiu a Lei Orgânica da Advocacia-Geral daUnião. Pelo inciso 3 do artigo 28 da Lei, oadvogado federal só pode manifestar-sesobre causas em que intervém com auto-rização do Advogado-Geral da União oupor determinação deste. No entender daUnafe, essa disposição constitui umamordaça, uma grave restrição à Liberdadede expressão. Contra ela a Unafe e a ABIingressaram no Supremo Tribunal Federalcom argüição de Inconstitucionalidade.

2.4. Através do seu Presidente ou doVice-Presidente Tarcísio Holanda, a ABIfez-se presente em outros eventos damaior significação, como as sessões doConselho de Defesa dos Direitos da PessoaHumana, de que a Casa é membro desde acriação desse organismo, e em reuniõesdestinadas à defesa de outros bens sociaisrelevantes, como a preservação das flores-tas, objeto da criação do Comitê Brasil em

Defesa das Florestas, para o qual, a convi-te da ex-Senadora Marina Silva, a Casadesignou um representante, expert noassunto: o jornalista Silvestre Gorgulho,fundador e diretor do jornal especializa-do Folha do Meio Ambiente.

2.4.1. A ABI participou no Grupo Tor-tura Nunca Mais da escolha dos agracia-dos com a Medalha Chico Mendes, atri-buída anualmente a quantos se desta-cam nas lutas em defesa dos direitos hu-manos e dos direitos sociais. Entre os dezescolhidos por sua atuação nesses cam-pos em 2011 figurou o jornalista MárioAugusto Jakobskind, membro do Conse-lho Deliberativo da ABI, que recebeu aplaca com a distinção em ato realizadoem 2 de abril no salão principal da Ordemdos Advogados do Brasil-Seção do Estadodo Rio de Janeiro.

2.4.2. Na sessão em que Mário Augustorecebeu a Medalha, foram igualmente agra-ciados a médica Maria Augusta Tibiriçá, de94 anos, única sobrevivente da campanhaO petróleo é nosso e Presidente de Honra doMovimento de Defesa da Economia Nacio-nal-Modecon, a socióloga Moema Toscano,ambas na categoria Movimento de Mulhe-res; as militantes sociais Deize Maria deCarvalho e Márcia Fortunato, na categoriaViolência Urbana; a Comunidade Pinhei-rinhos, de São José dos Campos, São Paulo,na categoria Movimento pela Moradia; oadvogado e jurista Belisário dos Santos Jú-nior, de São Paulo; e dois desaparecidos daGuerrilha do Araguaia, Maria Célia Corrêae Osvaldo Orlando da Corte, cujos corposjamais foram encontrados.

2.5. Diversas iniciativas foram adota-das pela ABI no reclamo de práticas hones-tas na vida pública, como a sua participa-ção no Senado Federal, em 23 de agosto, daaudiência pública convocada pelo Presi-dente da Comissão de Direitos Humanose Participação Legislativa do Senado, Sena-dor Paulo Paim (PT-RS), em torno do temaAções Contra a Corrupção e a Impunidade noPaís,como proposto pelo Senador PedroSimon (PMDB-RS). Após exposições derepresentantes de várias instituições da

sociedade civil, os participantes da audi-ência concordaram em que são necessá-rias medidas que permitam eficácia nocombate à corrupção, como a vigência daLei da Ficha Limpa nas próximas eleições,a revisão do processo de elaboração da leiorçamentária anual, maior controle dasemendas individuais de parlamentares, aredução dos cargos em comissão da admi-nistração pública.

2.5.1. O elenco de instituições, órgãose entidades presentes à audiência demons-trou como são generalizados o sentimen-to e o clamor de maior limpidez no tratoda coisa pública. Manifestaram-se na au-diência o Conselho Federal da Ordem dosAdvogados do Brasil, a Controladoria-Ge-ral da União, a Conferência Nacional dosBispos do Brasil, o Movimento de Combateà Corrupção Eleitoral, a Associação dos Ju-ízes Federais, a Associação Nacional dosMembros do Ministério Público, a Associ-ação dos Magistrados do Brasil e a Associ-ação Nacional de Delegados da Polícia Fe-deral, além da ABI.

2.5.2. Na seqüência de troca de opiniõesacerca da defesa da ética na vida pública, aABI recebeu em 6 de setembro a visita dosSenadores Pedro Simon e Randolfe Rodri-gues (Psol-AP), que mantiveram durantevárias horas fecundo diálogo com direto-

AVA

NIR

NIK

O

O Senador Pedro Simon visitou a ABI paradebater a questão da ética na vida pública.

Page 42: 2012__377_abril

42 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

res e conselheiros da ABI, entre osquais o decano da crônica política doPaís, nosso Conselheiro Villas-BôasCorrêa, que manifestou suas pre-ocupações em relação ao tema ea um aspecto da vida urbana: asegurança pública. “Hoje eutenho medo de andar na rua”,disse Villas.

2.6. Atenta à vida socialem aspectos que transcen-dem a área de comunicação etêm relevante interesse pú-blico, a ABI participou em 10de novembro da manifesta-ção liderada pelo Governa-dor Sérgio Cabral em defesados royalties do petróleo atri-buídos ao Estado do Rio de Ja-neiro e ao Espírito Santo, cujaredução foi proposta pelo Sena-dor Vital do Rego (PMDB-PB)em emenda ao projeto de lei emtramitação no Senado Federal.Declaração lida pela atriz Fernan-da Montenegro no clímax da gigan-tesca passeata então realizada revelaque neste ano de 2012 a mudança propos-ta poderá diminuir em até R$ 3,2 bilhõeso montante dos royalties devidos ao Es-tado do Rio.

2.6.1. A ABI ofereceu apoio e solidari-edade aos proprietários e locatários desalas e andares do Edifício Liberdade, si-tuado na Avenida Treze de Maio, noCentro do Rio, e que desabou em janeiro,arrastando na queda dois edifícios vizi-nhos. A pedido de seu associado OctávioBlatter Pinho, a ABI cedeu espaço no Edi-fício Herbert Moses para a realização dereuniões da Associação das Vítimas doDesabamento do Edifício Liberdade, cons-tituída para a defesa dos interesses dosprejudicados pelo acidente. Após as reuni-ões, a Associação pôde instalar-se numasede para prosseguir na luta em defesa dosprejudicados pelo desabamento.

2.7. Um ponto destacado da atuação daCasa no período foi a criação e instalaçãoda Representação da ABI em Minas Ge-rais, em ato realizado em 1 de junho naAcademia Mineira de Letras com a presen-ça do Presidente da ABI. Confiada à dire-ção do jornalista José Eustáquio de Olivei-ra, conhecido no meio profissional deMinas pelo apelido carinhoso de Taqui-nho, a Representação conta com um Con-selho Consultivo integrado pelos jorna-listas Carla Kreft, Dídimo Paiva, DurvalGuimarães, Eduardo Kattah, GustavoAbreu, José Bento Teixeira de Salles, Lau-ro Diniz, Leida Reis, Luiz Carlos Bernar-des, Márcia Cruz e Rogério Faria Tavares.Seu Presidente de Honra é o ProfessorJosé Mendonça, de 92 anos, criador daFaculdade de Comunicação da Universi-dade Federal de Minas Gerais.

2.8. Pela tradição de seu renome e porsua representatividade, a ABI foi chamadaa integrar o júri de certames jornalísticos,como o Prêmio Longevidade Bradesco,instituído por essa instituição bancária,e o I Prêmio de Jornalismo da Indústriada Construção, criado pela Câmara Bra-sileira da Indústria da Construção. Emambos os casos a ABI designou para repre-sentá-la nos respectivos júris um profis-sional altamente qualificado, nosso Con-

3.3. Não menos grave é o cercoem que o Tribunal da Justiça do

Estado do Pará mantém o jorna-lista Lúcio Flávio Pinto, criadore editor do veículo alternativoJornal Pessoal, que ao longo deduas décadas respondeu a 33processos judiciais por prati-car um jornalismo indepen-dente e denunciar irregulari-dades e crimes de poderososempresários da região. Numdesses processos, movido pelofalecido empresário Cecílio R.de Almeida, em que recorreusem êxito ao Superior Tribunalde Justiça, como relatou o Jor-nal da ABI (Edição 375, feverei-ro de 2012), Lúcio Flávio foicondenado a pagar uma indeni-zação que excede suas posses:

seu Jornal Pessoal não tem recei-ta publicitária.

3.4. Numa confirmação do enten-dimento firmado há anos pela ABI de

que o Poder Judiciário, em sua primeirainstância, é atualmente o grande adver-sário da liberdade de imprensa no País,um juiz cível de Rondônia, José Jorge

Ribeiro da Luz, da 5ª Vara Cível de PortoVelho, capital do Estado, proibiu a RádioCultura FM de citar o nome da empresaEngecom Engenharia, relacionando-a comproblemas na construção das obras do Cen-tro Administrativo do Estado, paralisadasdiante de denúncias de irregularidades. “Ojuiz me amordaçou. Sinto-me aviltado nomeu direito de comunicador”, disse o radi-alista Arimar Souza de Sá após a decisão doJuiz Ribeiro da Luz, que em outro proces-so determinara a penhora dos bens de umsite de notícias, privando-o de computado-res e outros equipamentos. Neste caso suadecisão foi suspensa pelo Tribunal de Jus-tiça de Rondônia.

3.5. As disposições constitucionais re-lativas à liberdade de imprensa não têmimpedido que o exercício da atividade jor-nalística se faça com pesados riscos, sobre-tudo no interior do País e, excepcional-mente, até em capitais, como a ABI pôdearrolar e noticiar em seu jornal e no ABIonline. Esses riscos incluem o de morte,como no caso do jornalista Mário Randol-pho Marques Lopes, assassinado com a na-morada em 9 de fevereiro passado no Mu-nicípio de Barra do Piraí, no interior flu-minense. Editor do site Vassouras na Net,no qual publicava textos com denúnciasque envolviam autoridades locais, comacusações a um delegado, um juiz, um pro-motor, o prefeito e o secretário de Obras.Meses antes, em agosto, Lopes sofrera umatentado em Vassouras, onde morava: le-vou cinco tiros, mas sobreviveu.

3.5.1. Destinos trágicos foram impos-tos também ao radialista e apresentadorde programas de televisão Luciano Pedro-sa, de 46 anos, assassinado em 9 de abrilem um restaurante no bairro Bela Vista,em Vitória de Santo Antão, na Zona daMata de Pernambuco; ao jornalista e blo-gueiro Ednaldo Figueira, de 36 anos, mortoem 15 de julho na saída do trabalho noMunicípio de Serra do Mel, Rio Grandedo Norte; ao jornalista Valério Nascimen-to, diretor do jornal Panorama Geral, doMunicípio de Rio Claro, no interior flu-minense, morto no quintal de sua casa,

em 3 de maio. Pedrosa, que apresentava oprograma Ação e Cidadania na TV Vitó-ria, trabalhava também na Rádio Metro-politana FM. Ele fazia oposição ao Gover-no do Município e recebera várias amea-ças de morte por causa das denúncias quedivulgava. Figueira fazia um jornalismodesassombrado e era o principal opositordo Prefeito Josivan Bibiano de Azevedo(PSDB). Valério Nascimento tambémexercia um jornalismo crítico, denuncian-do políticos da região. Seu jornal aborda-va assuntos não apenas de Rio Claro, mastambém de Barra Mansa, Angra dos Reise Bananal, cidade paulista vizinha. Emtodos esses casos a ABI cobrou das auto-ridades providências para identificação,prisão e responsabilização criminal dosassassinos e vai insistir nesse reclamo.

3.5.2. Em Campo Novo dos Parecis, Ma-to Grosso, o repórter Alexandre Rolim foiagredido pelo Prefeito Mauro Berft (PMDB)por divulgar notícias com críticas à sua ad-ministração.

3.5.3. Na capital do Estado do Rio de Ja-neiro, o blogueiro Ricardo Gama foi alvo deum atentado a tiros, em represália às notíciase opiniões que divulga em seu blog. Os auto-res do atentado não foram identificados.

3.5.4. No interior do Paraná, a TV Ma-ringá, afiliada da Rede Globo, foi atacadaa tiros de armas de calibres 40 e 9 milíme-tros, presumivelmente como revide às de-núncias que fez de irregularidades no re-passe de verbas do Ministério do Turismopara a Prefeitura de Jandaia do Sul, tam-bém no interior do Estado. Um mês antesdesse atentado, o jornal Gazeta de Marin-gá, sediado no mesmo prédio, sofrera ata-que com as mesmas características.

3.5.5. No princípio de dezembro de2011, a Polícia Militar do Piauí prendeu noMunicípio de Parnaíba um suspeito deameaçar de morte o jornalista Daniel San-tos, da TV Costa Norte, como represália ànotícia de que Marcelo Alves Filho, essesuspeito, fora preso por porte de maconhae notas falsificadas. Daniel escapou da ame-aça por erro de Marcelo, que fora procurá-lo na TV Delta, onde supunha que ele tra-balhasse, e não o encontrou. Após prestardepoimento, Marcelo foi liberado.

3.5.6. Em São Luís, Maranhão, o fotó-grafo Diaman Prado, do jornal O Estadodo Maranhão, foi intimidado por polici-ais quando cobria na Assembléia Legisla-tiva do Estado um evento do movimen-to grevista na corporação. Os policiais oacusaram de manipular fotografias damanifestação. Ao deixar a Assembléia,Prado foi ameaçado por um major da PM,contra o qual ele apresentou queixa numadelegacia da capital.

3.5.7. Além de expostos à violência deautoridades civis e policiais, os jornalis-tas defrontam-se com aventureiros devariada espécie, como os integrantes dogrupo autodenominado de Merdtv, cer-tamente em alusão àquilo que costumamfazer, que agrediram a repórter da TVGlobo Monalisa Perrone quando ela co-bria a internação do ex-Presidente Lulano Hospital Sírio Libanês, na capitalpaulista, em 31 de outubro passado. De-seducados e grosseiros, os vândalos mal-trataram a jornalista e deram como na-

selheiro Sérgio Caldieri, 1º Secretário doConselho Deliberativo.

3. JORNALISMO,PROFISSÃO DE RISCO

3.1. Anotou a ABI que no período emrelato o País pôde desfrutar da amplitudede liberdade de imprensa assegurada pelaConstituição de 5 de outubro de 1988 erespeitada pelo Governo da União, que aesse respeito se definiu com uma frase pe-remptória da Presidente Dilma Rousseff noato de comemoração dos 90 anos da Folhade S. Paulo: “Devemos preferir os sons dascríticas ao silêncio das ditaduras”.

3.2. Não obstante a clareza da afirma-ção presidencial, a liberdade de impren-sa tem sofrido lesões de extrema gravida-de, como a que mantém há dois anos sobcensura prévia o jornal O Estado de S. Paulo,proibido desde 3 de julho de 2010 por umjuiz de Brasília, Dácio Vieira, de divulgarqualquer notícia sobre o inquérito da cha-mada Operação Boi Barrica, que envolveo empresário Fernando Sarney, filho doPresidente do Senado, José Sarney.

3.2.1. A ABI tem sustentado que essaaberração absolutamente inconstitucionalocorre com a condescendência da cúpulado Poder Judiciário, à frente o Presidentedo Supremo Tribunal Federal e Presidentedo Conselho Nacional de Justiça, MinistroCezar Peluso, que nada fez para, como se-ria do seu dever, proceder à correição des-se processo judicial e determinar o seu jul-gamento e a conformação nele decidido aodisposto na Constituição da República. AABI estima que o sucessor de Peluso, Minis-tro Ayres Britto, festejado democrata, res-tabeleça o império da Constituição, comopleiteia o advogado do Estadão, ProfessorManuel Alceu Ferreira.

RELATÓRIO DA DIRETORIA

Desenho de Marco Jacobsen ilustra a matéria“O injustiçado pela Justiça”, sobre a censura

imposta pelo judiciário ao jornalista LúcioFlávio Pinto, publicada no Jornal da ABI 375.

Page 43: 2012__377_abril

43JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

turais as violências que contra ela come-teram.

3.5.8. A leviandade com que se age combrutalidade contra jornalistas teve exem-plo também na reação dos freqüentado-res da chamada cracolândia, na Rua dosGusmões, na capital paulista, os quais, em15 de dezembro, agrediram os fotógrafosEduardo Anizelli, da Folha de S. Paulo,Maurício Lima, free-lancer do New YorkTimes, e Daniel Kfouri, também da Folha.Após a agressão, os três buscaram prote-ção policial para recuperação de equipa-mento tomado pelos viciados, mas a guar-nição localizada próximo alegou que semautorização superior não podia deixar seuposto e por isso nada fez.

3.5.9. Também mereceu protesto da ABIa violência praticada contra o jornalista Vic-tor Boyardjian, da Rádio Bandeirantes, peloSenador Roberto Requião (PMDB-PR), quearrebatou o microfone do repórter e, do altode seus dois metros de altura, ainda o ame-açou: “Já pensou em apanhar, rapaz?” Aexemplo da direção do Comitê de Impren-sa do Senado, que tomou posição em defe-sa de Boyardjian, a ABI protestou contraa violência junto ao Presidente do Sena-do, José Sarney.

3.6. Entre os que pereceram no exercí-cio da atividade profissional estava o jor-nalista e cinegrafista Gélson Domingos daSilva, da TV Bandeirantes, morto com umtiro de fuzil na favela de Antares, na ZonaOeste do Rio, por um dos bandidos que aPolícia perseguia.

3.6.1. Além de se solidarizar com a famí-lia de Gélson, a ABI promoveu em 8 de de-zembro, por iniciativa do repórter-fotográ-fico Alcyr Cavalcanti,membro do seu Con-selho Deliberativo, o seminário O jornalis-ta no meio do tiroteio, de que participaram aolado dele os jornalistas Jorge Antônio Bar-ros e Guillermo Planel e os Professores Leo-nel Aguiar, da Pontifícia Universidade Ca-tólica do Rio de Janeiro, também jornalis-ta, e Edna Del Pomo, da Universidade Fede-ral Fluminense, com mediação da Direto-ra de Jornalismo da Casa, jornalista e Pro-fessora Sylvia Moretzsohn.

3.6.2. A morte de Gélson gerou uma mo-bilização de repórteres-fotográficos, queem 24 de janeiro se reuniram na ABI paradiscutir medidas que assegurem melhoriasnas condições de trabalho. O encontro reu-niu profissionais de O Globo, O Dia, O Es-tado de S. Paulo e de agências fotográficas,que decidiram pedir a atenção da Associ-ação dos Repórteres-Fotográficos e Cine-matográficos do Rio de Janeiro-Arfoc paraas atuais demandas do exercício do foto-jornalismo.

4. PELA ABERTURA DOSARQUIVOS DA DITADURA

4.1. Tal como em relação à liberdade deexpressão, a defesa dos direitos humanosfigurou com destaque na agenda de preo-cupações da ABI, que desde o Governo Lulademonstrou firme engajamento na exigên-cia de abertura dos arquivos da ditaduramilitar, de criação da Comissão Nacional daVerdade e de instituição da lei de acesso ainformações públicas. Em 18 de novembropassado, a Presidente Dilma Rousseff sanci-onou os projetos com esse fim aprovados

pelo Congresso Nacional. O engajamento daABI nessa questão fundamental está expli-citado em caráter permanente na faixa es-tendida entre duas colunas do hall térreo dasua sede, o Edifício Herbert Moses: “A ChapaPrudente exige a abertura dos arquivos da di-tadura”.

4.2. Assim como outras instituições dasociedade civil, a ABI participou ativa-mente de iniciativas voltadas para a afir-mação dos direitos humanos, como o lan-çamento, em 15 de agosto passado, na sededa Ordem dos Advogados do Brasil-Seçãodo Estado do Rio de Janeiro, do ColetivoRJ Verdade, Memória e Justiça, destinado,a exemplo de órgãos do mesmo fim criadosem outros Estados, a impulsionar a lutapela abertura dos arquivos da ditaduramilitar. Em sua publicação oficial, o Jornalda ABI, a Casa deu o relevo devido à pro-clamação contida no documento de lan-çamento desse Coletivo: É possível apurarjá os crimes da ditadura.

4.3. A ABI tomou como emblemático daluta pela descoberta da verdade sobre oscrimes da ditadura o chamado Caso RubensPaiva, assassinado pela repressão em janeirode 1971, depois de preso em sua casa, noRio, ao voltar da praia. Paiva foi apresentadocomo vítima de uma tentativa de fugaquando era conduzido por agentes da dita-dura de uma prisão para outra; segundo seuscaptores, teria sido morto num tiroteio comestes. Também neste caso o Jornal da ABIfez-se intérprete de uma verdade que pre-cisa ser revelada por inteiro: Há pistaspara chegar aos matadores de Rubens Paiva,proclamou manchete da primeira página daEdição 366 da publicação da Casa, com datade capa março de 2011.

4.4. Ainda como expressão do empenhoda ABI na defesa dos direitos humanos fo-ram realizados atos na Casa, como o lança-mento do Ano Marighella, em homena-gem ao fundador da Ação LibertadoraNacional, assassinado pela repressão emSão Paulo em 4 de novembro de 1969. Foium ato concorrido e com momentos degrande emoção, como aquele em que ofilho de Marighella, Carlos Augusto, vin-do especialmente de Salvador, Bahia, ondemora, relatou que a ditadura só permitiuo sepultamento dele com a condição de queseu corpo não fosse visto.

4.4.1. Após esse ato, realizado em 15 dedezembro, o fotógrafo Sérgio Vital TafnerJorge revelou em entrevista à revista IstoÉ

que cobriu a cena final de uma farsa mon-tada pelo Delegado Sérgio Fleury, um dosmais cruéis matadores da repressão em SãoPaulo: Marighella foi fuzilado em outrolocal e seu corpo levado para a AlamedaCasa Branca, para a simulação de que eleteria sido morto num tiroteio. Tafner dis-põe-se a relatar o episódio à ComissãoNacional da Verdade.

4.4.2. Também comovente foi a home-nagem prestada em 22 de julho ao jorna-lista David Capistrano da Costa pela Fun-dação Dinarco Reis, organismo do PartidoComunista Brasileiro-PCB, que lhe confe-riu a Medalha Dinarco Reis, cujo nome ce-lebra destacado membro do Partido, par-ticipante de Brigada Republicana na Guer-ra Civil Espanhola e também da Resistên-cia francesa contra a ocupação alemã du-rante a Segunda Guerra Mundial. Comba-tente contra duas ditaduras, a do EstadoNovo (1937-1945) e a do regime militar(1964-1985), eleito deputado estadual dePernambuco nas eleições realizadas emjaneiro de 1947, Capistrano era membrodo Comitê Central do PCB e atuava naclandestinidade. Numa viagem entre oUruguai e o Brasil, em março de 1974, elee o motorista que o conduzia, Célio Gue-des, foram presos pela repressão e nuncamais foram vistos. A Medalha foi entregueà sua viúva, Maria Augusta Oliveira daCosta, de 92 anos, que participou comCapistrano da resistência ao Estado Novoe das demais lutas que ele travou.

4.5. Desde o primeiro momento a ABIconsiderou uma farsa o inquérito e oprocesso instaurados pela Polícia do Esta-do do Rio contra os 13 participantes doprotesto realizado diante do Consulado-Geral dos Estados Unidos no Rio, em 19de março de 2011, contra a visita do Pre-sidente Barack Obama ao Brasil. A ABIsediou um ato de solidariedade aos parti-cipantes do protesto e participou depois,na Faculdade de Direito da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, de outra mani-festação de solidariedade ao grupo, cons-tituído sobretudo por jovens. A Justiçarejeitou a denúncia contra o grupo.

4.6. Uma causa em que a ABI não teveêxito foi em seu esforço para o reconhe-cimento do direito à anistia do seu asso-ciado Antônio Idaló Neto, demitido nosegundo semestre do ano letivo de 1979,por motivo político, do emprego de pro-fessor do antigo Departamento de Comu-nicação da Pontifícia Universidade Cató-lica do Rio de Janeiro.

4.6.1. O processo de Idaló na Comis-são de Anistia do Ministério da Justiçaentrou na pauta e chegou a ser votado;quando a votação indicava seu possíveldeferimento, pelo acolhimento do votoda relatora, uma das conselheiras da Co-missão, Suely Bellato, pediu vista do pro-cesso. Quando retornou à pauta, o pro-cesso foi indeferido por seis votos a três.Como admitido na legislação, Idaló for-mulou Pedido de Reconsideração aoMinistro da Justiça da época, Tarso Gen-ro, mas sua petição chegou ao Ministériono dia em que ele o deixava, para concor-rer ao Governo do Rio Grande do Sul naeleição de novembro de 2010. Os Minis-tros que lhe sucederam, Luiz EduardoBarreto e, agora, José Eduardo Cardozo,não examinaram sua petição, apesar dos

apelos da ABI, que vai insistir no pedido:Idaló foi punido, tem de ser anistiado.

4.7. Pela primeira vez em muitos anos aABI foi chamada a se pronunciar sobre aobservância da ética no exercício da ativi-dade jornalística, para a qual instituiu, noâmbito do Conselho Deliberativo, umorganismo especializado, a Comissão deÉtica dos Meios de Comunicação, integra-da pelos associados Alberto Dines, ArthurJosé Poerner, Cícero Sandroni, Ivan AlvesFilho e Paulo Totti. A manifestação da ABIfoi requerida pelo ex-Deputado José Dir-ceu (PT-SP), que se considerou ofendidopor uma reportagem e vítima de compor-tamento reprovável de um repórter darevista Veja, que teria tentado, entre outrosprocedimentos, entrar sem permissão emaposentos em que ele, Dirceu, esteve hos-pedado em Brasília.

4.7.1. A Presidência da ABI submeteua denúncia à apreciação dos membros daComissão de Ética e aguarda uma mani-festação dos acusados, no exercício docontraditório e do direito de defesa, paraum opinamento conclusivo a respeito.

5. JORNAL E SITE,AS VOZES DA ABI

5.1. No período em relato a Casa publi-cou 12 edições do Jornal da ABI, cuja regu-laridade mensal foi proporcionada peloapoio publicitário captado pela Coorde-nação de Publicidade e Marketing, confi-ada à competente direção do associadoFrancisco Paula Freitas. Ao longo de 2011e nestes primeiros meses de 2012 a ABIcontou com apoio publicitário no mon-tante líquido de R$ 984.484,00. Seu prin-cipal veículo publicou anúncios de presti-giosas empresas, como a Petróleo BrasileiroS.A.-Petrobras, a Construtora Odebrechte a Coca-Cola.

5.1.1. Além do jornal, a Casa mantémum informativo de edição diária, o ABIonline, que publicou 994 textos de reporta-gens, entrevistas e informações destinadasa público diversificado: foram 115 notíci-as sobre cursos e concursos, 148 sobreempregos e estágios e 112 sobre variadoseventos. O Site contou com a colaboraçãode dois profissionais, José Reinaldo Mar-ques e Cláudia Souza, que também produ-zem reportagens e entrevistas para o Jornalda ABI, e do estagiário Renan de CastroAguiar, estudante de Comunicação daUniversidade Federal do Rio de Janeiro.

5.1.1.1. Mês a mês, foi este o movimen-to de produção e publicação de reportagense entrevistas do ABI online no exercíciosocial em relato: março de 2011, 73; abril,81; maio, 79; junho, 52; julho, 66; agosto,71; setembro, 52; outubro, 39; novembro,31; dezembro, 18; janeiro de 2012, 27;fevereiro, 31.

5.2.Editado pelo Presidente e pelo as-sociado Francisco Ucha, que faz a progra-mação visual, a diagramação e a editora-ção eletrônica da publicação, para a qualtambém produz reportagens, entrevistase desenhos, o Jornal da ABI causa excelen-te impressão por sua qualidade e tem re-colhido elogios como o feito em seu blogpelo escritor e novelista Aguinaldo Silva,autor da celebrada novela Fina Estampa, oqual apontou a publicação como o melhor

Page 44: 2012__377_abril

44 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

RELATÓRIO DA DIRETORIA

veículo alternativo do País. Referênciasigualmente elogiosas são feitas pelo jorna-lista e cartunista Ziraldo, com uma reco-mendação: “Vocês precisam chegar às ban-cas de jornais”.

5.3.Voltado para temas da área de comu-nicação e aspectos da vida cultural, bemcomo sobre as opiniões, iniciativas e rea-lizações da Casa, o Jornal da ABI dá ênfaseem sua pauta à História da imprensa e aperfis de jornalistas, como fez na EdiçãoEspecial número 370, de setembro passa-do, em que publicou reportagens e entre-vistas de Júlio Cortazar, esta com declara-ções por ele feitas no Canadá em 1977 aojornalista Rodolfo Konder, então exilado,Eliakim Araújo, Lan, Nélson Rodrigues,Roberto Mendes, André Toral e José Ro-berto Whitaker.

5.3.1. Outras das preocupações da ABIestão relacionadas com os direitos huma-nos e a liberdade de expressão, bens jurí-dicos que ganharam ênfase em inúmerasedições e foram o tema principal da pri-meira página, como em março de 2011:Há pistas para chegar aos matadores deRubens Paiva (Edição 364); em abril: Ahora da verdade (Edição 365); em maio:Riocentro: farsa e dívida (Edição366); emjunho: A prova dos crimes (Edição 367); emoutubro: A Anistia deixa Idaló morrer semlhe fazer justiça (Edição 371); em novem-bro: O Brasil no caminho da verdade (Edi-ção 372); em dezembro: Pressões ameaçama Comissão (Edição 373); em fevereiro de2012: Justiça para Herzog (Edição 375).

5.3.2. Nas edições publicadas ao longode 2011 e neste começo de ano, o Jornalda ABI publicou amplas reportagens eentrevistas com os jornalistas Ruy Pereirada Silva, Fernando Foch, atualmentedesembargador do Tribunal de Justiça doEstado do Rio de Janeiro, Juca Kfouri,

Heródoto Barbeiro, Luiz Cláudio Cunha,Álvaro de Moya. Luiz Lobo, LaurentinoGomes, autor de 1808 e 1822, José LuizMilhazes, que trabalhava no Correio daManhã quando foi editado o Ato Institu-cional nª 5, em 13 de dezembro de 1968,Ignácio Ramonet, editor de Le MondeDiplomatic, Alberto Dines, Luiz MárioGazzaneo e Silvaldo Leung, autor dafotografia da cena com que a repressãoprocurava apresentar Herzog como sui-cida, e não morto durante as torturas a quefoi submetido, todos citados na ordem emque foram publicados os textos produzi-dos. A entrevista de Dines, feita peloEditor Francisco Ucha, foi tão abrangen-te e minuciosa que sua publicação se des-dobrou pelas Edições 374 e 375.

5.4.O Jornal da ABI cobriu e publicoutextos com destaque sobre eventos pro-movidos pela Casa, como as sessões emhomenagem ao centenário do escritor eex-associado João Felício dos Santos, au-tor de fecunda obra, como Chica da Silva,

sobre o qual o pesquisador Ricardo CravoAlbin fez aplaudida conferência; aos cen-tenários do Brigadeiro Francisco Teixeira,comandante da Força Aérea Brasileirapunido com cassação pelo golpe militar delº de abril de 1964; do historiador NélsonWerneck Sodré; do jornalista Raul Ryff edo jornalista e escritor Edmundo Moniz;aos 80 anos do jornalista Zuenir Ventura;aos 60 anos de criação do diário ÚltimaHora pelo jornalista Samuel Wainer.

5.4.1. A trajetória de Última Hora en-sejou a realização do seminário Os Sobre-viventes, de que participaram antigos in-tegrantes da equipe do jornal, como An-tônio Theodoro de Barros, Milton Coe-lho da Graça, Pery Cotta, Presidente doConselho Deliberativo, Domingos Mei-relles, Diretor Econômico-Financeiro daABI, Pinheiro Júnior, Benicio Medeiros,ambos membros do Conselho Delibera-tivo, e Alcyr Cavalcanti, que organizoutambém este evento, no qual Pinheiro Jú-nior lançou seu livro Última Hora (Como

Ela Era), no qual relata momentos signi-ficativos da história do jornal. Entre ospresentes, antigos repórteres-fotográfi-cos de Última Hora, como Antônio Nery,Avanir Niko, Hélio de Moraes, IgnácioFerreira e Joaquim Morel. Na platéia,além do associado Baleixe Filho, que fize-ra 90 anos, dois netos de Samuel: Gabri-el Wainer, de 27 anos, e Felipe Wainer, de33. Estudante de Cinema na Puc, ondefreqüentou um período de ComunicaçãoSocial, Gabriel fez um lamento: “Pouco seouve falar sobre Samuel Wainer. A histó-ria dele é uma grande aventura, de darinveja a qualquer Indiana Jones”.

5.5. Coube ao Jornal da ABI, assim comoao ABI online, o desagradável encargo denoticiar o falecimento de jornalistas ecomunicadores, aqui mencionados emordem alfabética com a data de seu passa-mento: Abdias Nascimento, em 23 demaio; Al Rio (Álvaro Araújo Lourenço),em 31 de janeiro de 2012; Arlindo Silva,em 24 de julho; Ayrton Baffa, em 22 dejulho; Benoni Alencar, em 27 de setem-bro; Daniel Piza, em 30 de dezembro;Edison Cattete, em 1 de junho; CláudioMelo e Souza, em 13 de agosto; DejeanMagno Pellegrin, em 6 de fevereiro de2012; Francisco Ribeiro de Mattos (Chi-co Mattos), em 25 de junho; GustavoDahl, em 20 de junho; Hélio FernandesFilho, em 28 de outubro; João Bittar Neto,em 18 de dezembro; José Meirelles Passos,em 31 de agosto; Leon Cakoff, em 14 deoutubro; Linduarte Noronha, cineasta,autor do documentário Aruanda, em 30 dejaneiro de 2012; Loureiro Neto, em 5 de fe-vereiro de 2012; Luiz Mendes, em 27 deoutubro; Marcos Santarrita, em 4 de ou-tubro; Moacir Scliar, em 27 de fevereiro de2012; Orlando Batista, em 5 de fevereirode 2012; Oséas Carvalho, em 17 de maio;Paulo Roberto Viola, em 29 de abril; Pro-cópio Mineiro, em 24 de julho; Reali Jú-

Page 45: 2012__377_abril

45JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

nior, em 9 de abril; Riomar Trindade, em 25de agosto; Roberto Paulino, em 24 de ju-nho; Rodolfo Fernandes, em 27 de agosto;Rogério Marinho, em 25 de julho; SílvioPaixão, em 2 de setembro; Ulisses Alves deSouza, em 27 de maio; Walter Abrahão, em8 de agosto; Zé Grande (José Cortes dosSantos), em 23 de janeiro de 2012.

5.5.1. O Jornal da ABI registrou tam-bém o passamento do ex-jogador Sócra-tes, o líder da chamada Democracia Co-rintiana nos anos 1970-1980 e colabora-dor de publicações, como a revista Placar,do ex-Vice-Presidente José Alencar, querepresentou o então Presidente Lula nacomemoração do centenário da ABI, em7 de abril de 2008, no Teatro Municipaldo Rio de Janeiro, e distinguiu a Casacom expressões elogiosas, e do ex-Presi-dente Itamar Franco, exaltado pela ABIem declaração de pesar como exemplo depolítico republicano.

5.5.2. Além dos articulistas habituais,como Rodolfo Konder e Paulo RamosDerengoski, o Jornal da ABI publicou tex-tos de eminentes colaboradores eventu-ais, como os escritores Lygia FagundesTelles, da Academia Brasileira de Letras,Fábio Lucas e Ivan Alves Filho, historia-dor e sócio da ABI.

6. A GESTÃO DA CASAE SEUS DESAFIOS

6.1. No exercício social em relato, a ABImanteve em dia o cumprimento de todasas suas obrigações tributárias, fiscais e tra-balhistas, sem precisar recorrer a créditosbancários para saldá-las. Tal se deu atémesmo no fim do exercício, quando a Casatem de quitar três folhas de pagamento numperíodo de pouco mais de 30 dias: a de no-vembro, a do 13º salário e a de dezembro.

6.1.1. A receita da ABI é composta pelacontribuição dos associados, paga de umavez, com direito a duas mensalidades comobonificação, ou mensalmente; a locação deespaços de salas ou andares mediante con-tratos comerciais; a locação de espaçospara implantação de equipamentos deoperadoras de telefonia (Oi-Telemar eClaro); a inserção de publicidade em seusveículos (Jornal da ABI e ABI online); a lo-cação de seus auditórios (Belisário de Sou-za e Oscar Guanabarino) para utilizaçãopor determinado número de horas.

6.1.2. A receita da ABI no exercício so-cial situou-se em R$ 3.093.341,20, enquan-to a despesa totalizou R$ 2.680.903,86. Aexecução orçamentária registrou um supe-rávit de R$ 663.460,69. O principal item dedespesa foi o relativo a pessoal, que totali-zou R$ 1.024.585,18.

6.1.3. A segurança econômica de que aCasa desfruta atualmente decorre da cau-tela com que são geridos os recursos e daprudência com que estes são aplicados. Arealização das despesas correntes é prece-dida sempre de pesquisa de preços junto adiferentes fornecedores e prestadores deserviço, de modo que se possa fazer a esco-lha do melhor preço segundo a qualidadedos bens a serem adquiridos e dos serviçosa serem pactuados. O levantamento de pre-ços é feito pela funcionária Marina Nova-es Rodrigues, também responsável pelocontrole do almoxarifado.

6.2. No item da receita relativo à loca-ção de andares, a ABI tem enfrentado gra-ves dificuldades, em razão da inadim-plência de locatários, um dos quais, oCurso Fraga, de preparação de candidatospara o chamado exame de ordem da Or-dem dos Advogados do Brasil-OAB, nãopaga desde abril de 2010 os aluguéis dedois andares que ocupa. O calote por eleimposto à ABI totalizava em fevereiropassado o montante de R$ 527.450,69(R$ 339.716 pelo terceiro andar e R$187.734,48 pelo segundo andar), sem con-tar os juros, que são diários.

6.3. A ABI ajuizou contra esse inquili-no ação de cobrança de aluguéis e, depois,ação de despejo, sem que a lentidão doPoder Judiciário tenha permitido a recupe-ração do espaço ocupado pelo dono doCurso Fraga, advogado José Carlos Fraga,e por sua ex-esposa, Senhora Maryse Hor-ta, em nome da qual foi firmado um doscontratos há tanto tempo descumpridos.Em despacho no processo relativo a essalocatária apenas nominal, a juíza titular da45ª Vara Cível determinou que a SenhoraMaryse Horta seja substituída no pólopassivo do processo pelo locatário real, ocitado Senhor José Carlos Fraga.

6.4. Dificuldades foram encontradaspela ABI também na relação com outrolocatário, o Touring Club do Brasil, ocu-pante do oitavo andar do Edifício HerbertMoses, o qual devia à Casa até marçopassado os aluguéis de dezembro de 2011e janeiro e fevereiro de 2012, no montan-te de R$ 75.262,14, sem contar as despe-sas comuns de obrigação de todos os lo-catários da sede da ABI.

6.4.1. Ao contrário do que acontece emseu relacionamento com o Curso Fraga,em que a Casa tem sido vítima de repeti-das manifestações de má-fé, o TouringClub informou que se depara com dificul-

6.1.4. O item mais oneroso da Casa, afolha de pagamento e os encargos sociaisque sobre ela incidem, que vencem todomês, é acompanhado com zelo e a mesmaprudência, a fim de não se elevar o custocom pessoal. Atualmente conta a ABI com42 funcionários e uma estagiária de His-tória, admitida sem vínculo trabalhista,nos termos da legislação que rege a progra-mação de estágios do Centro de Integra-ção Empresa-Escola/CIEE, instituição vin-culada à Federação das Indústrias do Esta-do do Rio de Janeiro-Firjan. No exercíciosocial 2011-2012 a ABI procedeu ao des-ligamento de cinco funcionários e à ad-missão de apenas dois. Na Tesouraria e nosetor de pessoal atuam as funcionáriasSimone Romeu, Silvana Velloso e RenataNatal de Oliveira.

6.1.5. Na gestão de pessoal os eventosmais significativos foram estes:

6.1.5.1. Em 2011 os salários do pessoalda ABI foram reajustados em 6% a partirde 1 de maio, em conformidade com oacordo coletivo firmado com o Sindicatodos Trabalhadores em Entidades Culturais-Senalba; além desse reajuste de 6%, osempregados vinculados ao Sindicato dosCabineiros do Rio de Janeiro tiveram umacréscimo salarial de 1,8871%, nos termosdo acordo coletivo dessa entidade;

6.1.5.2. Em cumprimento à legislaçãodo salário-mínimo, na mesma data de 1de maio foram reajustados de R$ 590,00para R$ 640 os salários dos empregadosdas categorias Auxiliar de Serviços Geraise Servente;

6.1.5.3. O 13º salário de 2011 foi pagono dia 9 de dezembro com o valor acres-cido do correspondente à média mensaldas horas extras trabalhadas durante oano; além do 13º, a ABI concedeu aos fun-cionários uma cesta de Natal;

6.1.5.4. Em prosseguimento ao estabe-lecido pela Chapa Prudente de Morais des-de o seu primeiro mandato (2004-2007),os salários são depositados na conta ban-cária dos funcionários até o último dia útilde cada mês, quando também são entre-gues os carnês do vale-transporte.

6.1.5.5. A Diretoria tem desenvolvidotrabalho permanente de diminuição dainadimplência de sócios, através da con-cessão de anistia àqueles que se encon-tram em débito. Esse esforço elevou deforma significativa o número de sóciosadimplentes (871), atenuando o impac-to negativo causado pelo grande contin-gente de sócios remidos (361) ou isentos(121). A admissão de novos sócios (61,entre 1 de março de 2011 e 29 de fevereirode 2012), porém, ainda não se situa emnível expressivo, como desejável e tam-bém necessário, até mesmo para amplia-ção da representatividade da Casa.

6.1.5.6. Em relatório encaminhado àDiretoria, o Presidente da Comissão deSindicância da ABI, órgão que tem a res-ponsabilidade, entre outras competênci-as, de opinar sobre as propostas de filia-ção à Casa, Conselheiro José Pereira daSilva (Pereirinha), informou que foramanalisadas, discutidas e aprovadas duran-te o exercício social 73 propostas, dasquais 27 para sócio da categoria Efetivo,

dades geradas pela entrada em seu setor deatividade – a assistência a proprietários deveículos – de poderosas seguradoras, queao longo dos anos estabeleceram umaconcorrência desfavorável para institui-ções tradicionais, como o Touring. A ABImantém entendimentos com o Presiden-te do Touring, Leonardo França, visandoà desocupação negociada do citado andar.

6.5. Apesar da retidão com que encarae cumpre suas obrigações, a ABI vive háanos sob o cerco do Poder Público em di-ferentes níveis, como a União e o Muni-cípio do Rio de Janeiro, que a sufocam comimposições ilegítimas e altamente onero-sas, como faz sobretudo a União, que des-respeita direitos conferidos à Casa há quaseum século, como o reconhecimento de suautilidade pública, fixado pelo CongressoNacional no Decreto nº 3.297, de 11 dejulho de 1917, sancionado pelo PresidenteVenceslau Brás e subscrito por seu Minis-tro da Justiça, Carlos Maximiliano. A esseato somou-se, anos depois, a declaração dautilidade pública da ABI conferida peloDistrito Federal, então capital da Repúbli-ca, pelo Decreto nº 1.897, de 10 de novem-bro de 1937. Nessa data implantava-se aditadura do Estado Novo, desfecho de umacrise que não impediu que a Casa do Jorna-lista merecesse a atenção do Poder, ao con-trário do que acontece atualmente.

6.5.1. A ABI foi favorecida por esse re-conhecimento até que o Governo Fernan-do Henrique Cardoso, no auge de uma de-magógica campanha de suposto combate às“entidades pilantrópicas”, expressão cunha-da pelo então Ministro José Serra, decidiucassar o registro no Conselho Nacional deAssistência Social de inúmeras instituiçõesbeneficentes de assistência social, entre asquais figurava a ABI. A decisão confiscado-ra de direitos, contra a qual a ABI apresen-tou repetidos recursos, todos indeferidos,foi seguida de um torpedo disparado con-tra a ABI pelo Instituto Nacional do Segu-ro Social-INSS, que decidiu lançar a débi-to da Casa, numa cobrança de caráter retro-ativo, o valor da contribuição previdenci-ária patronal relativa aos cinco anos prece-dentes ao ato de cassação, baixado em 8 deagosto de 2003. Com juros e multa, istogerou um passivo que o INSS decidiu co-brar através de ação de execução fiscal emtramitação na 5ª Vara da Justiça Federal noEstado do Rio de Janeiro (Processo nº 2007.51.01.519224-0). Ao ajuizar o processo, em26 de junho de 2007, o INSS pretendiahaver da ABI o exorbitante valor de R$3.238.357,90. A ABI está contestando essacobrança através do Escritório Sérgio Ber-mudes, mas foi obrigada a indicar à penhoravários andares de seu edifício-sede, comogarantia de pagamento da suposta dívida.

6.5.2. O agravo imposto à ABI peloGoverno Fernando Henrique Cardosoconstitui a maior fonte de dor-de-cabeçapara a ABI, que, além de assistir à penho-ra do Edifício Herbert Moses, primeiromarco da moderna arquitetura brasileirae patrimônio material e afetivo constru-ído por várias gerações de jornalistas, voltae meia se vê diante de cobranças e exigên-cias da Secretaria da Receita Federal e doINSS, que tratam a Casa com malqueren-ça, como diria Darci Ribeiro.

6.5.2.1. No fim do primeiro e em partedo segundo semestre de 2011, a Casa foi de-

PE - Para Efetivo; PC - Para Colaborador; T - Transferência

20112011201120112011

Março 1 6 2 9Abril – – – –Maio 1 5 2 8Junho – 4 – 4Julho – – – –Agosto 4 4 1 9Setembro 5 4 1 10Outubro 3 1 1 5Novembro 4 5 1 10Dezembro – – – –

20122012201220122012

Janeiro 3 4 1 8Fevereiro 6 4 1 11TOTAIS 27 36 10 73

MÊS PE PC TR TOTAL

36 para a de Colaborador e 10 de transfe-rência de categoria, da de Colaboradorpara a de Efetivo. Para exame e decisãoacerca desses pedidos a Comissão de Sin-dicância realizou 11 reuniões mensais,com a presença dele, Pereirinha, e dosassociados Carlos Di Paola, Marcus Mi-randa e Maria Ignez Duque Estrada deBastos. A Comissão contou com a colabo-ração dos funcionários Eliana Amaral eMarcelo Farias Cardoso de Moura.

6.1.5.7. Ao longo do exercício social foiassim o movimento de propostas aprova-das pela Comissão:

Page 46: 2012__377_abril

46 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

vassada e esquadrinhada por um fiscal da Re-ceita Federal, Leonardo Amaral da SilvaSant’Anna, que começou em maio uma ins-peção em toda a escrituração e documenta-ção contábil da ABI e terminou sua tarefaem 29 de setembro, deixando pesados ônuspara a Casa: quatro autos de infração, nosvalores de R$ 1.216.753,24, R$ 814.570,86,R$ 235.643,65 e R$ 153.244,44, inflacio-nados pela incidência de juros e multa deofício e, em dois casos, também de multade mora. Além desses autos, o fiscal Leo-nardo Sant’Anna firmou outro auto deinfração, impondo à ABI uma multa deR$ 150.918,57. Num dos autos, o valorprimitivo de R$ 456.458,42 foi elevadopara R$ l.215.753,24.

6.5.2.2. Também neste caso o funda-mento da sanção programada contra a ABIfoi a perniciosa cassação de seu registrocomo entidade beneficente de assistênciasocial, que não pode mais ser recuperada, atémesmo porque no Governo Lula houvealteração essencial, por lei, dos requisitospara que uma instituição possa ser conside-rada como tal nas áreas de educação, saúdee assistência social. E as pilantrópicas cas-sadas? Vão bem, obrigado graças ao reco-nhecimento de seus direitos pela Justiça.

6.5.2.3. Através do Escritório GouvêaVieira Advogados, a ABI apresentou tem-pestivamente impugnação dos cinco au-tos de infração lavrados pelo fiscal Leonar-do. A Casa abriga a esperança de conseguirimpedir que a Receita Federal acabe coma ABI e entregue seu patrimônio ao INSS.

6.6. Entre os resultados estimulantesobtidos pela ABI no campo das obrigaçõesfigura a aprovação do parcelamento re-querido pela Casa para o pagamento dovalor atualizado das apropriações indébi-tas de contribuições previdenciárias pra-ticadas por administrações anteriores àposse da Chapa Prudente de Morais, emmaio de 2004. Após prolongada porfia ecom base na Lei federal nº 11.941/2009, aABI conseguiu o parcelamento do paga-mento em 120 prestações de R$ 3.852,70,as oito primeiras liquidadas até fevereirode 2012, data fixada para o fechamentodeste Relatório. O montante original foiagravado pela incidência de juros e multase poderia ter redução expressiva se a ABItivesse capacidade econômica para liqui-dar de uma vez o valor cobrado.

6.7. Vitória também importante nocontrole do passivo de obrigações da Casafoi o pagamento, em fevereiro passado, da77ª prestação do parcelamento contrata-do com a Companhia Estadual de Águas eEsgotos-Cedae do Estado do Rio de Janei-ro para liquidação em 80 parcelas mensaisde dívida deixada por administrações an-teriores. Negociado com a Cedae em 2006pelo Diretor Econômico-Financeiro Do-mingos Meirelles, o parcelamento chegaráa seu termo em maio próximo, quandovencerá a derradeira prestação, o que cons-tituirá um alívio para a ABI. Fixada emUnidade Fiscal de Referência-Ufir, a pres-tação tinha valor crescente a cada ano. Emfevereiro a prestação se situou em R$4.113,84, à qual se acrescia o valor da contamensal de água e esgoto. Neste caso, ire-mos respirar, enfim.

6.8. Outro contencioso que preocupa aABI é constituído pela tentativa do Muni-

cípio do Rio de Janeiro, através de sua Pro-curadoria-Geral, de cobrar da Casa o mon-tante R$ 347.741.45 relativo à Taxa deColeta de Lixo e Limpeza Pública-TCLLPe da Taxa de Iluminação Pública-Tip deexercícios pretéritos (1985, 1988, 1992,1993, 1994, 1995, 1996, 1997 e 1998) mes-mo depois que o Supremo Tribunal Fede-ral declarou inconstitucional a cobrançadesses tributos, por terem como base decálculo a mesma do Imposto Sobre a Pro-priedade Predial e Territorial Urbana.

6.8.1. Contra o propósito da Prefeitura aABI ajuizou através do Escritório de Advo-cacia Rômulo Cavalcante Mota 23 ações deexceção de pré-executividade, distribuídasà 12ª Vara de Fazenda Pública da Comarcada Capital do Estado do Rio de Janeiro, cujotitular acolheu o pleiteado pela Casa emnove desses processos, derrubando a pre-tensão do Município. Os outros processoscontinuam tramitando e serão julgadospelo mesmo magistrado. Como todas asexceções têm o mesmo fundamento, a ABIalimenta a esperança de que também nes-tes casos o Município será derrotado.

6.8.2. Em busca de uma solução nego-ciada para esse litígio, a ABI dirigiu em 16de fevereiro passado um ofício ao Procu-rador-Geral do Municípío, Fernando dosSantos Dionísio, pleiteando uma audiên-cia para discussão da matéria. Enviado porSedex, para garantia de que o expedien-te chegaria ao seu destinatário, a solicita-ção não foi atendida. Não houve tambémindicação de que ela foi recebida peloProcurador-Geral.

6.8.3. Agora em abril a ABI voltou àcarga, desta feita fazendo um apelo aoVice-Prefeito Carlos Alberto Muniz, queé também Secretário Municipal de MeioAmbiente, solicitando sua mediação juntoao Prefeito Eduardo Paes e ao Procurador-Geral para que o pleito da ABI seja pelomenos examinado. A escolha de Munizpara mediador teve uma razão especial: aocontrário de outros membros do Governodo Município– entre eles o próprio Prefei-to Eduardo Paes, que ascenderam ao Poderdepois das vitoriosas lutas travadas pelosque resistiram à ditadura –, o Vice-Prefei-to conhece a atuação da ABI em favor doretorno ao Estado de Direito.

6.8.4. A indiferença demonstrada atéagora pela Procuradoria-Geral do Municí-pio em relação a esse litígio é altamenteprejudicial à Casa, cujas postulações juntoa órgãos do Poder Público, como as relaci-onadas com a recuperação do EdifícioHerbert Moses, dependem da apresentaçãode documentos que a ABI não consegueobter, como a Certidão Negativa da DívidaPública do Município do Rio de Janeiro.

6.8.4.1. A necessidade de recuperaçãode sua sede é uma das grandes preocupa-ções da ABI, que com freqüência é chama-da a atender emergências de variada na-tureza, desde o reboco que desce de seus15 andares sobre veículos estacionadosno pátio comum a outras edificações atéimprevistos no sistema de abastecimen-to de água e energia, pane no funciona-mento de elevadores e problemas do gê-nero. No caso da queda de reboco, a ABIexpõe-se a ser acionada em Juizados dePequenas Causas, como se deu num casoneste exercício social 2011-2012.

6.8.4.2. Para enfrentar esses problemas,a Diretoria mobilizou o concurso de umprofissional especializado, o arquiteto Fer-nando Krüger, que fez minuciosa vistoriatécnica no Edifício Herbert Moses, desdeo pavimento do subsolo até o último an-dar, o terraço do prédio. Com base nas con-clusões dessa vistoria, a ABI vai iniciar umprograma de recuperação da sede compa-tível com a sua disponibilidade de recur-sos, que são modestos.

6.9. O desconforto imposto à Casapelos fatos relatados foi atenuado no fimde 2011 pela aprovação do Projeto de Leinº 191/2006, de autoria do Senador JoséSarney, que concede isenção fiscal e remis-são de obrigações tributárias à AcademiaBrasileira de Letras, ao Instituto Históri-co e Geográfico Brasileiro e à ABI. Apro-vado com caráter terminativo pela Comis-são de Assuntos Econômicos do Senado,sem necessidade de votação no Plenário,o projeto foi imediatamente encaminha-do à Câmara dos Deputados, onde tomouo número 2.713/2011 e receberá parecerestambém com caráter terminativo.

6.9.1.Na Comissão em que se encontraatualmente, a de Finanças e Tributação,o Projeto recebeu uma emenda do Depu-tado Stepan Nercessian (PPS-RJ), quepropôs a extensão da isenção e do perdãofiscal também à Sociedade Brasileira deAutores Teatrais, como lhe pedira o Pre-sidente da Sbat, diretor teatral Aderbal-Freire Filho. Nercessian retirou a emen-da após ouvir uma ponderação da ABI: seemendado na Câmara, o Projeto teria devoltar para o Senado, com risco de pro-longada tramitação, como a que se encer-rou no fim de 2011.

6.9.2. A ABI cumpriu acidentada ma-ratona até à aprovação do PLS 191/2006.Através de contatos pessoais ou pelo tele-fone, durante quase cinco anos a Casa seempenhou pela aprovação da proposição,fazendo pedidos ao autor e aos presiden-tes e relatores das diferentes Comissõespelas quais o Projeto tramitou. O Presiden-te e o Vice-Presidente Tarcísio Holanda fa-laram – em alguns casos algumas vezes –com os Senadores Aloísio Mercadante (PT-SP), Renan Calheiros (PMDB-AL), Demós-tenes Torres (Dem-GO), Garibaldi Alves(PMDB-RN) e Valdir Raupp (PMDB-RO),entre outros, de todos recebendo a garan-tia de que o Projeto seria aprovado, comoaprovado foi.

6.10. A ABI também trava uma batalhajudicial com a empresa Cap Ferrat, do em-presário boliviano Sánchez Galdeano, quese apossou com a cumplicidade da Prefeitu-ra de um terreno doado à Casa nos anos1920 pela viúva Rita Ludolf. Como a glebase situa em área não edificável na parte doMorro do Vidigal conhecida como Cháca-ra do Céu, a Prefeitura fez uma sinuosatransação com Galdeano para troca do ter-reno por outro situado em área em que estepudesse construir sem limitações. A ação(Processo nº 2006.001.078.967) tramita na2º Vara da Fazenda Pública, por ter nopólo passivo também o Município do Riode Janeiro, e já impôs pesado ônus à ABI,que pagou à perita designada pelo juizadoo valor de R$ 21.212,00 em quatro presta-ções de R$ 5.303,00, depositadas em no-vembro e dezembro de 2011 e janeiro efevereiro de 2012.

7. ESPAÇOS PARA OAVANÇO DAS LUTAS SOCIAIS

7.1. Como é da sua tradição desde asmemoráveis lutas da campanha O petró-leo é nosso, iniciada com um ato público noAuditório Oscar Guanabarino em 4 deabril de 1948, o edifício-sede da ABI con-tinua a ser importante ponto de referên-cia e centro de reuniões e eventos da vidacultural e das lutas sociais da Cidade doRio de Janeiro. Ao lado dessa tradição,militam em favor do realce obtido pelaABI a localização privilegiada do atualEdifício Herbert Moses, situado numponto central da Cidade, servido por nu-merosas linhas de ônibus e por importanteestação do metrô, a Estação Cinelândia, eo fato de a Casa contar com um auditóriocom capacidade para 600 pessoas.

7.2. No exercício social 2011-2012 aABI não destoou dessa linha e sediou 111eventos da Casa e de outras instituições eentidades, dos quais 47 realizados no Au-ditório Oscar Guanabarino e 64 na SalaBelisário de Souza, no sétimo andar doedifício Herbert Moses. Entre essas insti-tuições estava o Conservatório Brasileirode Música, para cuja solenidade de forma-tura, realizada em 3 de fevereiro passado,a Casa franqueou o Auditório Oscar Gua-nabarino e seu saguão monumental, semcobrança de qualquer taxa, oferecendoassim uma contribuição à educação musi-cal na Cidade. Com o mesmo propósito aABI concedeu desconto especial na loca-ção à Casa do Compositor Musical, pre-sidida por devotado líder dos músicos,Benedito Barbosa, de 90 anos, para a co-memoração, em 7 de outubro, do Dia doCompositor Musical.

7.3. Foi no Auditório Oscar Guanaba-rino que atuantes organizações sindicaisdo Rio realizaram assembléias e reuniõespara definir o caminho adequado parasuas lutas e, com estas, para o progressosocial. Entre as categorias que ocuparamesse espaço da ABI figuraram a dos profis-sionais da educação do Rio de Janeiro,reunidos por seu sindicato, o combativoSepe, que nele realizou quatro assembléi-as; a dos pensionistas e aposentados daPolícia Militar e do Corpo de Bombeirosdo Estado do Rio, que fez duas reuniões naCasa; os professores do ensino privado doMunicípio; os membros dos sindicatos dosprevidenciários e dos petroleiros. O Audi-tório recebeu também líderes e trabalha-dores de instituições de ensino e de saúde,mobilizados pelo Sindicato dos Médicosdo Rio de Janeiro-SinMed e pela Comis-são de Defesa da Liberdade de Imprensa eDireitos Humanos da ABI, em 18 de janei-ro, para programar a luta contra as demis-sões promovidas na Universidade GamaFilho e na UniverCidade pelo Grupo Ga-lileo, formado por mercadores da educa-ção e da saúde.

7.4. A Sala Belisário de Souza, um dosauditórios da ABI, sediou ao longo doexercício a programação do Movimento deDefesa da Economia Nacional-Modecon,fundado sob a liderança de Barbosa LimaSobrinho e Henrique Miranda, um dosmais destacados ativistas da campanha Opetróleo é nosso, falecido em 2005, e presidi-do nos últimos anos pela médica MariaAugusta Tibiriçá, que assumiu a Presidên-cia de Honra da entidade. Agora sob a li-

RELATÓRIO DA DIRETORIA

Page 47: 2012__377_abril

47JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

derança do Professor Lincoln de AbreuPena, seu novo Presidente, o Modecon pro-move às segundas-feiras conferências edebates sobre temas vinculados à econo-mia, sob um viés patriótico: a defesa dosinteresses nacionais.

7.5. Na mesma Sala Belisário foi apre-sentada a cada 15 dias a programação cine-matográfica da Casa da América Latina,constituída por películas que dificilmen-te chegarão ao circuito comercial de cine-ma, salvo uma ou outra exceção, como ofilme A Culpa é do Fidel, que, após suaexibição na rede comercial, foi apresen-tado em dvd numa das sessões. A progra-mação incluiu filmes de nada menos dedez países da América Latina: Argentina,Bolívia, Brasil (documentários Zuzu An-gel e Cidadão Boilesen), Chile, Colômbia,Cuba, México, Paraguai, República Domi-nicana e Uruguai. Dentre os filmes exibi-dos chamaram a atenção O Assassinato deTrotsky, produção mexicana; O Ditador(Anastasio Somoza), produção da Repú-blica Dominicana; A Dignidade dos Nin-guém, produção argentina.

7.5.1. Com apoio do Sindicato dos Pe-troleiros e a colaboração dos funcionáriosda ABI Neílson Lopes Paes, que se apo-sentou em dezembro, e, agora, Robson deAlmeida Ramos, operadores do equipa-mento de projeção, essa programação nãotem encontrado a freqüência desejável,embora sejam favoráveis o dia e a hora(quinta-feira, às seis e meia da tarde) emque é apresentada. Acredita a ABI queuma campanha de divulgação poderá atra-ir o público potencial desse tipo de pro-dução cinematográfica. Com esse fimmanterá um entendimento com a Casa daAmérica Latina.

7.5.2. Por iniciativa do Diretor deCultura e Lazer, a Sala Belisário sediou em23 de agosto outro evento de grande va-

lor afetivo: a comemoração do centená-rio do jornalista, escritor e historiadorNélson Werneck Sodré, no qual sua filha,Professora Olga Sodré, destacou os pon-tos principais da trajetória intelectual emilitar do autor de História da Imprensano Brasil.

7.6. Além de atos culturais, realiza-ram-se no Auditório sessões de significa-do político e grande impacto afetivo,como a de exibição, em 17 de janeiropassado, do dvd Roberto Marinho – O Se-nhor do Seu Tempo, de Rozane Braga, quedebateu a obra com a platéia; a de come-moração do centenário do escritor JoãoFelício dos Santos, em 29 de março; doBrigadeiro Francisco Teixeira, criador doslogan O petróleo é nosso, em 25 de julho;do jornalista Raul Ryff, em 24 de agosto;de Carlos Marighella, em 15 de fevereiro,quando foi declarado aberto o Ano Mari-ghella. Também de grande valor afetivo, eesta na Sala Belisário de Souza, foi a home-nagem prestada em 1 de junho, Dia daImprensa, aos 80 anos do jornalista Zue-nir Ventura, em ato que reuniu na mesa dehonra, nesta ordem, seus companheiros eadmiradores Domingos Meirelles, CíceroSandroni, Ziraldo e Pery Cotta.

7.6.1. Nos dias 22 e 23 de março, eneste caso por locação desses espaços, oPartido Comunista Brasileiro-PCB pro-moveu na ABI a comemoração dos seus90 anos, da qual constaram um debate naSala Belisário de Souza com convidadosestrangeiros e um ato político no Audi-tório Oscar Guanabarino. Presente cominúmeros integrantes, a União da Ju-ventude Comunista impressionou porseus cânticos e palavras de ordem: aocontrário da Velha Guarda do Partidão,que entoava apenas a primeira estrofedo célebre “De pé, ó vítimas da fome...”,os jovens comunistas sabem cantartodas as numerosas estrofes do hino AInternacional.

7.7. Já o saguão do Auditório foi o ce-nário de concorrido evento em 23 dejaneiro: a homenagem aos 90 anos dofalecido Governador Leonel Brizola e olançamento do livro Leonel Brizola - A le-galidade e outros pensamentos conclusivos,organizado por Osvaldo Maneschy, ÁpioGomes, Paulo Becker e Madalena Sapu-caia e prefaciado pelo jornalista Paulo

Henrique Amorim. Além de cidadãoscomuns e eleitores de Brizola, comoMaria Prestes, viúva de Luís Carlos

Prestes, participaram da noite de au-tógrafos antigos colaboradores dosGovernos de Brizola no Estado do

Rio de Janeiro, como o médicoEduardo Costa, o advogado e ju-

rista Carlos Roberto Siqueira Cas-tro e o jornalista Carlos Alberto Caó.

7.8. A pedido do Presidente da As-sociação dos Engenheiros da Petrobras-Aepet, Fernando Siqueira, a ABI patro-cinou, na Sala Belisário de Souza no dia29 de março, uma conferência do Embai-xador do Irã no Brasil, Mohamad AliGhanezadeh, acerca da posição de seupaís diante das questões palpitantes queo envolvem. Tendo como intérprete oAdido Cultural da Embaixada, Ghaneza-deh manteve mais de três horas de diá-

logo com o numeroso público queacorreu ao evento.

7.8.1. A conferência do Embaixadorfora programada originalmente para oClube de Engenharia, mas divergênciaspolíticas e ideológicas no Clube impedi-ram a sua realização lá. Antes de se diri-gir à Sala Belisário, Ghanezadeh expôs aoPresidente da ABI aspectos da comunica-ção no Irã.

7.8.2. As complexas questões da polí-tica internacional foram o tema da expo-sição seguida de debates que o Embaixa-dor da Líbia no Brasil, Salem Omar Zubei-dy, fez em 24 de maio na mesma Sala Be-lisário, quando chegava ao clímax a opera-ção montada pelos Estados Unidos paraa deposição do Governo de MuammarKhdafi. A exposição de Zumbeidy, quefalou em inglês e contou com o auxílio deum intérprete, foi promovida pela Co-missão de Liberdade de Imprensa e Direi-tos Humanos, por iniciativa do Conse-lheiro Mario Augusto Jakobskind.

7.9. Entre os eventos programados pelaDiretoria de Cultura e Lazer, de que é titu-lar o Conselheiro Jesus Chediak, teve re-levo o lançamento na Sala Belisário, em 14de junho, do livro Palestina – La Llave Entrelas Piedras, do jornalista paraguaio MárioCasartelli, cronista e chargista do princi-pal jornal de seu país, o ABC Color.

7.9.1. Foi também na Sala Belisário quea Diretoria de Cultura e Lazer promoveuo seminário A ABI Pensa a Dança, de queparticiparam como expositoras a coreó-grafa Dalal Achcar, a Professora BeatrizCerbino, da Universidade Federal Flumi-nense, e a jornalista e pesquisadora Gise-lle Ruiz, da Escola de Belas-Artes da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro. Aconvite de Chediak, atuou como mediadoro Diretor Econômico-Financeiro Domin-gos Meirelles, jornalista e historiador.

8. NO ONZE, SOMBRA,CAFÉ E JORNAIS

8.1. Embora sem a intensa freqüênciacom que esse espaço da ABI era procuradono tempo em que grande parte das Reda-ções da imprensa do Rio estava localiza-da no Centro da Cidade e em suas imedi-ações, o espaço do 11º andar do EdifícioHerbert Moses, no qual o Maestro HeitorVila-Lobos, sócio da Casa, desafiava adver-sários para disputas de bilhar-francês,oferece de segunda a sexta-feira aos asso-

ciados um bálsamo contra as dificuldadesdo dia-a-dia: cafezinho, água gelada, sinu-ca, o citado bilhar-francês, os jornais dodia (O Globo, O Dia, Jornal do Commercio,Monitor Mercantil e Lance!) e um televisorcom a programação da Sky Directv. Paraos que gostam, uma atração especial: àsterças-feiras, entre 17 e 19 horas, o asso-ciado Jorge Paulo Mesquita, conhecidocomo Mestre Don Jorge Paulo, dá aulas detango, em curso com desconto especialpara os sócios da ABI e aberto a outros in-teressados.

8.2. Aberto de segunda a sexta-feira, das10 da manhã às 7 da noite e confiado aofuncionário Antônio Figueira da Silva, quedesde junho passado substitui seu colegaArlindo Medeiros de Souza, deslocado paraa função de vigia, o Onze é cuidado comcarinho pela equipe de manutenção daABI, que zela pelo bom estado dos móveis,das janelas, dos ventiladores, da varandae seus ralos, dos banheiros, da sala doConselho Fiscal, da Sala de Redação e dobalcão de recepção, onde Antônio Figueirarecobre os sócios de gentilezas. Na barbe-aria, de preços camaradas, o barbeiro Ales-sandro atende os sócios e fregueses exter-nos, estes mediante marcação de horário.

8.3. No fundo do imenso salão, umafotografia ampliada presta homenagemao seu mais ilustre freqüentador, que dánome a esse espaço: Vila-Lobos empu-nhando o taco com que derrotava os queaceitavam seus desafios.

8.4. Em mais de uma ocasião o Onze foio palco de lançamento de obras de asso-ciados, com noite de autógrafos. NeleMário Augusto Jakobskind lançou seumais novo livro, Líbia, Barrados na Frontei-ra, e Luiz Carlos de Souza autografou anova edição de Mar Alto, prolongada repor-tagem que fez em alto mar com o repórter-fotográfico Almir Veiga. Mário Augustotambém viveu uma grande aventura: noauge do movimento contra Khadafi ele nãopôde entrar no território líbio, através daTunísia. Fez então uma retrospectiva doexercício do poder por Khadafi e umaanálise dos interesses em confronto noOriente Médio.

9. ESCLARECIMENTOS FINAIS

9.1. Durante o exercício relatado aPresidência da ABI expediu l.268 ofícios,229 cartas, 112 memorandos internos,l.417 e-mails e 49 telegramas. Os arquivosda Presidência contam com 120 pastascom títulos de assuntos relacionados comos diferentes setores da Casa e 616 títulosde documentos diversos arquivados em371 pastas. Atuam na Presidência os asses-soes Guilherme Povill Vianna e Mario Luizde Freitas Borges e a estagiária Lainne DiasTeixeira da Silva, aluna de História da Uni-versidade Federal Fluminense.

9.2. As informações relativas às dife-rentes Diretorias da Casa estão expostasao longo deste texto, que é complemen-tado pelos Relatórios Setoriais da Direto-ria de Assistência Social e da BibliotecaBastos Tigre, em razão da especificidadede ambas.

Rio de Janeiro, 12 de abril de 2012.Maurício AzêdoPRESIDENTE

Zuenir Ventura:homenagem

pelos 80 anos.

MU

NIR

AH

MED

Page 48: 2012__377_abril

48 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

1. INTRODUÇÃO

1.1. A Diretoria de Assistência Social(DAS) apresenta o seu Relatório Anualdas atividades, entre março de 2011 a fe-vereiro de 2012, de acordo com os artigos54, 55 e 56 do Estatuto da ABI. Nesseespaço de tempo, a realização de maiorrelevância da Diretoria Social continuasendo a boa parceria com o Sesi/Senai. OPosto de Enfermagem Dr. Paulo Roberto,localizado no 6º andar, continua a pres-tar ao quadro associativo, funcionários edemais pessoas serviços nas áreas de saú-de e educação, entre outras.

1.2. A DAS prossegue na tarefa deapoiar as diretrizes da Casa. A organiza-ção não-governamental Médicos Solidá-rios, sediada na sala 603 do Edifício Her-bert Moses e presidida pelo médico Hen-

RELATÓRIO DA DIRETORIA

6º andarPoliclínica do RJClínicas IntegradasRichet LaboratórioMárcia Mª Ribeiro – AngiologiaHospital de Clínicas Dr. Aloan

MARÇO324–9––

ABRIL352–1––

MAIO311–31–

JUNHO341–2––

JULHO57414––

AGOSTO40212––

SETEMBRO342–4––

OUTUBRO25––1––

NOVEMBRO38––1—–

DEZEMBRO2231––1

JANEIRO58314––

FEVEREIRO262–3––

RELATÓRIOS SETORIAIS

Diretoria de Assistência SocialTITULAR: CONSELHEIRA ILMA MARTINS DA SILVA

rique Peixoto, retomou o seu trabalho nascomunidades carentes intermediadaspela ABI. A organização continua prestan-do seus serviços na sede da Associação deMoradores Parque da Cidade, na Gávea.No exercício social 2011-2012, o atendi-mento aos moradores locais chegou aototal de 1.305, conforme as guias médicasapresentadas.

1.3. A DAS está empenhada na execu-ção do Plano de Atividades programadopara o exercício, contando com a rede dosexto andar da sede e o apoio dos segmen-tos privado e público de assistência mé-dico-hospitalar. Sobressaíram-se, maisuma vez, neste apoiamento, o HospitalGeral da Santa Casa da Misericórdia doRio de Janeiro, o Instituto Nacional deCardiologia de Laranjeiras e o InstitutoNacional do Câncer-Inca.

1. Manteve-se a Biblioteca Bastos Tigrecomo a principal base permanente da ofer-ta de serviços culturais pela Casa, à dispo-sição dos associados e franqueados ao públi-co, como estabeleceram os fundadores daABI há 104 anos. Durante o exercício social,a Biblioteca recebeu 933 usuários, entre osquais pesquisadores de assuntos ligados àimprensa e à comunicação em geral para aprodução de textos jornalísticos, monogra-fias de cursos de pós-graduação e trabalhosde conclusão de cursos de Jornalismo eComunicação Social. Situada no 12º andardo Edifício Herbert Moses, a Bibliotecafunciona de segunda a sexta-feira das 8 às17 horas, mantém serviço de empréstimode obras aos associados da Casa e atende aconsultas e pedidos de informações pelo te-lefone (2282-1292, ramal 215) e por e-mail([email protected])

1.1. O desempenho da Biblioteca foiafetado no exercício social pela falta deaquisição de obras para a atualização deseu acervo, que carece de novos títulos,sobretudo os relacionados com a área decomunicação. O surgimento e avanço denovas tecnologias dos sites de procura nainternet contribuem para a diminuiçãoda freqüência de leitores, exceto aquelesque buscam conhecimentos nos livros eperiódicos antigos.

1.2. Tal insuficiência foi atenuada pelacolaboração de doadores, como o associ-

1.4. Foram realizados durante esseexercício 927 procedimentos gerais, inclu-indo expedição de guias para consultasmédico-odontológicas, exames de labora-tório e atendimentos de enfermagem nasede e por profissionais conveniados.

1.5. Além desse resultado, a DAS tam-bém prestou atendimento aos procedi-mentos médico-cirúrgicos e hospitalaresdas redes privada e pública, que realizaramexames e diagnósticos mais elaborados.

1.6. Com base em comunicações de fa-miliares e pessoas próximas sobre ocorrên-cias de falecimentos, missas e internaçõeshospitalares de associados durante o exer-cício, registramos e afixamos nos quadroscorrespondentes o total de 33 comunicados.

1.7. Inúmeras ações foram desenvol-vidas em suporte às outras Diretorias e noatendimento a associados, familiares,candidatos a filiação, estudantes de Co-municação Social (em razão da criação dolink Associe-se no ABI online), profissio-nais e empreendedores do setor em bus-ca de informações sobre legislação deimprensa, mecanismos e meios de obten-

ção do registro profissional e organiza-ção/legalização de empresas.

2. AÇÕES

2.1. ASSISTÊNCIAMÉDICO-ODONTOLÓGICA

2.1.1. No período março-2011 a feverei-ro-2012, as atividades de assistência médi-co-odontológica da DAS foram distribuídasem três frentes de atuação, através da expe-dição de 495 guias para atendimentos pelosprofissionais do sexto andar e conveniadosde fora da sede. A segunda frente envolveuas ações de atendimento apoiado e mais osencaminhamentos para exames laborato-riais, clínicos e exames dirigidos à PoliclínicaGeral do Rio de Janeiro. Outra frente auxi-liar de assistência foi coberta pelo Posto deEnfermagem Dr. Paulo Roberto, no sextoandar, que realizou 432 atendimentos,incluída a distribuição gratuita de medica-mentos, mediante apresentação de receitu-ário médico.

2.1.2. É a seguinte a relação, mês a mês,das atividades de assistência médico/odontológica da DAS:

ado Adalberto Diniz; autores, como Síl-vio Henrique Vieira Barbosa, Kepler T.Borges, J.R. Botelho, Francisco Fiori Neto,Antero de Macedo, Nilson Mello, Francis-co Luiz Noel, Maruza Bastos Oliveira, LuizCarlos de Souza, Reis de Souza, ambos tam-bém associados; Editora Galluppo; Môni-ca Milani; como a associada Ana Arruda;a Fundação Alexandre de Gusmão, do Mi-nistério das Relações Exteriores.

2. Como nos anos precedentes, a Bibli-oteca empenhou-se com especial aplica-ção na conservação e restauração de seuacervo, que conta com coleções de impor-tantes periódicos, como as revistas Eu SeiTudo dos anos 1920, l930 e 1940, O Cru-zeiro e Manchete, e publicações de criaçãomais recente, como Pasquim, Opinião, Mo-vimento e jornais alternativos. Estes são,aliás, os títulos mais consultados porpesquisadores. Com esse fim, a Bibliote-ca procedeu à encadernação de 155 volu-mes de publicações,cujos títulos são enun-ciados a seguir: Amaral Netto: O Repórter;Boletim da Federação Nacional dos Jornalis-tas Profissionais; Bravo!; Cadernos de Tea-tro; Cadernos Rio Arte; Carioquice; CarosAmigos; Carta Capital; CEI Suplemento;Comunicación América Latina; Comunicar-te; Cult; Cultura; Época; Esfera: Revista deLetras, Artes e Ciência; Eu Sei Tudo; Dados;Folha de S. Paulo-Jornal de Resenhas e Revistada Folha; O Globo Razão Social; revistaImprensa; Jornal da ABI; Jornal do Brasil –

Tudo sobre a queda de Allende; Mamulengo;Metaxis: Revista do Teatro do Oprimido;Manchete; Meio & Mensagem; Mundo Eco-nômico, Político & Social; Percevejo; Placar;Realidade; Revista Civilização Brasileira;Revista da ESPM; Revista de Comunicaci-ón y Comunicaciones Culturais Latinas; Re-vista de Domingo; Revista Globo; Rumos; Re-vista Novos Rumos; Saúde, Sexo & Educa-ção; Teatro Brasileiro; Tradução & Comuni-cação; Veja; Veja Rio; Zoom.

3. Mereceu igual atenção da Bibliote-ca a restauração de livros sob risco de de-perecimento se não fossem adotadas me-

didas para a sua conservação e, em inúme-ros casos, restauração. Os títulos e autoresde algumas das 132 obras alcançadas pelotrabalho de recuperação dão idéia de suaimportância para o acervo da Casa. Nototal, pois, a Biblioteca procedeu a enca-dernação de 287 volumes, 155 de periódi-cos e 132 de livros.

3.1. Entre esses autores encontram-seJoão Etcheverry (Apontamentos de um Re-pórter) e Paulo Magalhães (Antes Que eu meEsqueça), jornalistas que narram suas ex-periências profissionais; Afrânio Peixoto(Missagens), Cornélio Penna (Dois Roman-ces de Nico Horta), Lúcia Miguel Pereira(Amanhecer), Gastão Pereira da Silva (Al-meida Júnior, Sua Vida, Sua Obra), Diler-mano de Assis (A Tragédia da Piedade),Lima Barreto (O Triste Fim de PolicarpoQuaresma), novamente Paulo Magalhães(Viva o Palavrão). Affonso de EscragnoleTaunay (História Geral das Bandeiras Pau-listas). Oswald de Andrade (Marco Zero),Machado de Assis (Contos Selecionados;Relíquias de Casa Velha), Monteiro Loba-to (Mr. Slang e o Brasil e Problema Vital; OPoço do Visconde), Arnaldo Magalhães deGiácomo (Villa-Lobos: Alma Sonora do Bra-sil), Fernando da Cruz Oliveira (OliveiraLima – Uma Biografia), Jorge Jobim (Vis-conde de Taunay), José Lins do Rego (Usi-na), Lafayete Silva (João Caetano e SuaÉpoca),Gilberto Amado (Sabor do Brasil),Dalcídio Jurandir (Marajó), GasparinoDamata (Antologia da Lapa), Plínio Salga-do (A Voz do Oeste), Paulo Setúbal (A Ban-deira de Fernão Dias), M. Cavalcanti Pro-ença (Roteiro de Macunaíma), Eloy Pontes(Arranha-Céu), Inglês de Souza (O Missi-

Biblioteca Bastos TigreCHEFE: BIBLIOTECÁRIA VILMA OLIVEIRA

D.Quixote, publicação criada por Bastos Tigre, euma das edições raras de Os Lusíadas, de Luisde Camões (na página ao lado), são exemplos

de obras raras disponíveis para consulta.

Page 49: 2012__377_abril

49JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

tos dos Publicitários, dos Jornalistas Pro-fissionais do Município do Rio de Janei-ro, dos Jornalistas Liberais e da Associa-ção dos Cronistas Esportivos do Estado doRio de Janeiro-Acerj.

6. APOIO JURÍDICOE INFORMAÇÕES

6.1. A Consultoria Jurídica convenia-da com a ABI vem dando atendimentoaos pedidos de informação de associados,dependentes, profissionais de imprensanão associados, empreendedores e outraspessoas físicas e jurídicas da área de comu-nicação social interessadas na legislaçãodo setor. As solicitações são feitas pesso-almente, por telefone e por e-mails. Asconsultas e pedidos de apoio vêm de vá-rios Estados, da capital e de Municípiosdo Estado do Rio de Janeiro.

6.2. Coube-nos, como sempre, a missãode dar suporte às necessidades da Presidên-cia e das Diretorias, em especial a Adminis-trativa e a Econômico-Financeira, além doConselho Deliberativo. Casos fora da legis-lação de comunicação social, com associa-dos ou não, foram encaminhados aos escri-tórios dos advogados conveniados.

6.3. O voluntariado do engenheiroRoberto A. Motta, conforme carta-pesso-al em nosso poder, continua sendo umafrente de apoio aos pedidos de informa-ções sobre busca e localização de docu-mentação perdida pelos associados e fun-cionário de baixa renda. Além disso, elese dispõe a dar orientação e tirar dúvidasem casos relacionados com a PrevidênciaSocial, incluídas as questões de aposenta-dorias e pensões do INSS.

7. CONCLUSÕES

7.1. Em razão do que realizamos e re-latamos, concluímos que:

7.1.1. Cumprimos, na medida do pos-sível, a execução do Plano de Atividades;

7.1.2. Entregamos no prazo legal o Pla-no de Atividades previstas para 2011,cumprindo exigência do Conselho Nacio-nal de Assistência Social;

7.1.3. Reiteramos que a nossa presen-ça no Site está carecendo de nova e desta-cada configuração, a fim de oferecer maisfacilidade e clareza para os associados nasconsultas de informações sobre os servi-ços médicos, convênios e parcerias;

7.1.4. Damos prosseguimento ao le-vantamento e atualização de todo o ca-dastro dos convênios firmados com aDAS, para posterior divulgação pelo nos-so Site e pelo Jornal da ABI.

7.1.5. Continuamos a receber repre-sentantes de empresas de seguro-saúde.Entretanto, as planilhas e propostas apre-sentadas por esses agentes são incompa-tíveis com a renda média e, principal-mente, com a faixa etária dos associadosda ABI. Infelizmente, durante esse exer-cício não conseguimos compatibilizar ospreços com a qualidade dos serviços.

Rio de Janeiro, 19 de março de 2012.Ilma Martins da SilvaDIRETORA DA DAS

3. CONVÊNIOS E PARCERIAS

3.1. De acordo com a parceria feita coma Legião da Boa Vontade (LBV), encami-nhamos, regularmente, associados aposen-tados com renda modesta e pessoas caren-tes e funcionários da Casa, segundo nos-so Estatuto, para recebimento de cestas-básicas e atendimento odontológico peloCentro Educacional e Comunitário Joséde Paiva Netto, localizado na AvenidaDom Hélder Câmara, 3.059, Del Castilho.O encaminhamento dos candidatos parao tratamento dentário, após avaliaçãosocial, é feito por meio de guias de atendi-mento expedidas pela Diretoria de Assis-tência Social. No decorrer de 2011, atravésdo convênio ABI/LBV, 480 (quatrocentose oitenta) cestas-básicas foram fornecidasa jornalistas, funcionários e outras pessoasem estado de necessidade.

3.2. Foi renovado automaticamente oconvênio firmado pela ABI com o Sesi/Senai do Rio de Janeiro, beneficiando osassociados, dependentes e funcionárioscom a prestação de numerosos serviços nasáreas médico-odontológica, educacional,cultural e artística, esporte e lazer. Duran-te o exercício, o Sesi/Senai prestou 15 aten-dimentos médicos aos nossos funcionári-os e associados. Para utilizar os serviços doSesi/Senai, basta a pessoa ter o cartão dematrícula atualizado, que poderá ser obti-do gratuitamente na unidade da AvenidaCalógeras, nº 15, 5º andar, no Centro. Oconvênio prevê a utilização de serviçosmédico-odontológicos, exames laboratori-

ais, cursos educacionais de até o uso de casasde veraneio das citadas instituições porpreços módicos e com desconto de até 30%.

3.3. Para complementar os serviçosmédico-hospitalares da Casa, em abril de2011 firmamos convênio com o Hospitalde Clínicas Dr. Aloan. Na área da educação,em setembro passado firmamos convêniocom a Universidade Veiga de Almeida–UVA. Continua em vigor o nosso convêniocom a Universidade Santa Úrsula (USU).Além disso, a Diretoria da DAS está fazendogestões junto à administração da Faculda-de Hélio Alonso (Facha), objetivando con-seguir mais uma instituição qualificadapara oferecer aos nossos associados.

4. PROCEDIMENTOSDE ENFERMAGEM

4.1. O Posto de Enfermagem Dr. PauloRoberto realizou 432 atendimentos geraisna área de sua atuação, além da rotina deavaliação dos níveis tensionais, curativos,emergências e outros procedimentos, comoacompanhamento de pacientes a hospitaise pronto-socorro. Houve distribuição gra-tuita de medicamentos, mediante a apre-sentação de receita médica. Demos conti-nuidade ao sistema de listagem de remédi-os e pesquisa de preços para baixar o custode aquisição desses produtos.

5. ASSISTÊNCIA SOCIALE FILANTROPIA

5.1. A DAS continua empenhada na

execução do Plano de Atividades na áreade assistência social. Além de expedircorrespondência às famílias, os membrosda Comissão Diretora não se descuidaramde fazer visitas aos doentes nas residên-cias e nos locais de internação. O apoioque a ABI recebeu temporariamente, atra-vés das Secretarias Estadual e Municipalde Ação Social do Idoso e da TerceiraIdade, deixou de ser prestado por essesórgãos devido às mudanças ocorridas naatual gestão Administrativa.

5.2. Enviamos para o contador da ABI asplanilhas mensais geradoras de dados sobrenossa ação assistencial, que permitem esti-mar valores da cessão de uso do imóvel –sexto andar – e das consultas médico-odon-tológicas gratuitas, a fim de atender aosrequisitos do exercício da filantropia, comapuração de valores gastos com a gratuida-de nas atividades de saúde. Este procedi-mento foi buscado para compatibilizarexigências da fiscalização do INSS e doConselho Nacional de Assistência Social-CNAS. Mantivemos contato com o Con-selho Municipal de Assistência Social, a fimde iniciar entendimentos para inscrição daABI nesse Órgão. O objetivo é criar condi-ções para, entre outras providências, reque-rer a volta do instituto da filantropia jun-to ao Conselho Nacional.

5.3. Em termos de manutenção, con-tinuamos prestando assistência médico-odontológica aos associados de entidadesco-irmãs conveniadas. São mais freqüen-tes as consultas solicitadas pelos Sindica-

onário), Manuel Bandeira (Estrela da VidaInteira; Mafuá do Malungo; Poesias Escolhi-das), Edison Carneiro (Antologia do NegroBrasileiro), Júlio Ribeiro (Cartas Sertane-jas), Ramalho Ortigão (Em Paris), ÉricoVeríssimo (Gato Preto em Campo de Neve;A Volta do Gato Preto), Bastos Tigre (As Pa-rábolas de Christo e Outras Poesias); Álva-ro Lins (Jornal de Crítica), João Ribeiro(Críticas: Os Modernos), José Veríssimo (Le-tras e Literatos), Graciliano Ramos (Memó-rias do Cárcere). Muitos dos volumes cita-dos são preciosidades que não se encon-tram em importantes bibliotecas, nemsão passíveis de aquisição mesmo nossebos mais eficientes na localização deobras raras.

3.2. Foram igualmente recuperados eencadernados volumes de obras de impor-tantes autores estrangeiros, como ThomasMorus (A Utopia), Romain Rolland (AVida de Miguel Angelo; O Pensamento deRousseau), A. J. Cronin (A Árvore de Judas),Herman Hesse (O Lobo da Estepe), CurzioMalaparte (A Pele), Emilio Salgari (O Pri-sioneiro dos Pampas), Emile Zola (Naná),Stefan Zweig (Dostoiévsky; Pasteur), Tho-mas Mann (Sua Alteza Real), KatherineMansfield (Cartas), George Sand (Elle etLui), Alexandre Dumas (A Tulipa Negra;The Vicomte de Bragelone), William Shakes-peare (Otelo), Bernard Shaw (Santa Giova-na), H. G. Wells (O Homem Invisiível), Os-car Wilde (Poema em Prosa, Salomé).

4. Dirigida pela Bibliotecária VilmaSantos de Oliveira e contando com acolaboração da Bibliotecária Alice Barbo-sa Diniz, da Auxiliar de Biblioteca Ival-

deci Abreu de Souza e do Auxiliar de Ser-viços Gerais Annagê de Saulo MarquesFilho, a Biblioteca retomou no exercíciosocial o trabalho de digitação dos títulosde seu acervo, a fim de colocá-lo à dispo-sição do público no Site da Casa.

O resultado desse trabalho, de queparticipa o Assessor da Presidência Gui-lherme Povill Vianna, será brevementereproduzido no ABI online,para facilitaro acesso dos interessados e contribuirpara o crescimento do número de consul-tas e o aumento da presença de usuáriosna Biblioteca.

5. A Diretoria da ABI considera que omovimento e o nível de utilização da Bi-blioteca Bastos Tigre não correspondemà qualidade de seu acervo, que é particular-mente valioso em numerosos aspectos,como os relacionados com publicações

antigas e atuais e, como visto, em clássicosda literatura nacional e estrangeira.

5.1. Para a reversão desse quadro a Dire-toria dispõe-se a elaborar e executar umprograma de ação que compreenderá a aqui-sição de obras; a requalificação dos espaçosda Biblioteca; a realização de exposições depeças de seu acervo; a publicação de textossobre a Biblioteca e seu acervo no Jornal daABI e no ABI online; a intensificação dointercâmbio com bibliotecas e instituiçõesde ensino de Biblioteconomia, Comunica-ção Social, História e Arquivologia; o trei-namento de estagiários de Bibliotecono-mia e Arquivologia; a reativação do Cen-tro de Pesquisa e Documentação do Jorna-lismo e da Vida Contemporânea (Centrode Memória) e a melhoria das condiçõesde aeração, ventilação e temperatura doespaço ocupado pela Biblioteca.

Page 50: 2012__377_abril

50 JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

PAULO ROBERTO DAYUBE CRUZCONTADOR – CRC RJ 072164/O-0

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA

OSCAR MAURÍCIO DE LIMA AZÊDOPRESIDENTE

RELATÓRIO DA DIRETORIA

NOTAS EXPLICATIVASÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEISEM 31 DE DEZEMBRO DE 2011 (EM REAIS)

CONTEXTO OPERACIONAL

A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA –ABI, sediada na Rua Araújo Porto Alegre, 71 –Castelo – Rio de Janeiro – RJ, CEP 20.030-12,legalmente constituída e registrada comsituação ativa no cadastro da Secretaria daReceita Federal do Brasil, CNPJ nº 34.058.917/0001-69, é uma entidade sem fins lucrativos.Reconhecida como de utilidade pública noGoverno de Venceslau Brás P. Gomes em 14de julho de 1917, através do Decreto nº 3.297.A ABI vem atuando há um século na assistênciasocial dos jornalistas e suas famílias, napromoção cultural de seus associados e nadefesa dos interesses do País e do povobrasileiro, promovendo, inclusive, a filantropiaconforme o estabelecido em seu estatuto.

A APRESENTAÇÃO DASDEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

As demonstrações financeiras foram elaboradasem obediência às práticas contábeis adotadasno Brasil e aos Princípios de Contabilidadeemanados do Conselho Federal deContabilidade.

SUMÁRIO DAS PRINCIPAIS PRÁTICASCONTÁBEIS

As principais práticas adotadas pela ABI naelaboração das demonstrações contábeis sãoas seguintes:

a) Determinação do ResultadoO resultado é apurado em obediência aoregime de competência de exercícios.

b) Ativo ImobilizadoEstá registrado ao custo de aquisição. Adepreciação é calculada pelo método linear,com base em taxas determinadas em funçãodo prazo de vida útil estimada dos bens.

c) Isenção de TributosA ABI tem isenção dos seguintes tributos,conforme legislação em vigor:Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJContribuição Social sobre o Lucro Líquido –CSLLContribuição da Seguridade Social – CofinsImposto sobre Serviços - ISS

d) Pis sobre a Folha de PagamentoHá incidência de 1% sobre a folha depagamento salarial, sendo que a ABI efetua opagamento mensal dentro do vencimento.

e) Contribuições Previdenciárias– Cota PatronalA isenção previdenciária da cota patronal é apermissão de não recolher ao Instituto Nacionaldo Seguro Social (INSS) contribuição de 20%sobre a folha de salários da entidade sem fins

lucrativos. A ABI possuía esta isenção, que foicancelada em 18/08/2003. Tramita noCongresso Nacional o PLS - Projeto de Lei doSenado nº 191/2006, remetido à Câmara dosDeputados em 17/11/2011, de AssuntosEconômicos, que concede isenção tributária àAssociação Brasileira de Imprensa e cancela osdébitos fiscais desta instituição.

f) Demais Ativos e PassivosOs demais ativos e passivos, classificados emcirculantes e não circulantes, estãoapresentados pelo valor de custo ou realização.

g) Apuração do ResultadoO resultado apurado foi um superávit deR$ 663.460,69 (seiscentos e sessenta e trêsmil, quatrocentos e sessenta reais e sessenta enove centavos). Neste exercício houve umaumento de cerca de 8,63% no total dasreceitas e uma redução de 1,49% nasdespesas, além de uma melhora significativa naarrecadação da receita patrimonial, 14,43%maior em relação ao exercício de 2010.

DISPONIBILIDADES

Representam os valores das contas Caixa eBancos, as quais foram analisadas e conciliadas.

ATIVO NÃO CIRCULANTE – CRÉDITOSA RECEBER

O valor de R$ 125.665,45 (cento e vinte ecinco mil, seiscentos e sessenta e cinco reais equarenta e cinco centavos), s.m.j., resulta devários direitos que continuam merecendoprovidências jurídicas para o seu recebimento.

ATIVO NÃO CIRCULANTE – DEPÓSITOSJUDICIAIS

A ABI tem, por decisão judicial, desde 2006bloqueado o montante de R$ 92.228,74 nosBancos:Bradesco conta nº 1010266-9 valorR$ 34.591,45Bradesco conta nº 1011882-4 valorR$ 57.637,29

IMOBILIZADO

Os valores do balanço patrimonial não retratamo preço real dos bens móveis e imóveis.Quanto aos valores dos imóveis, torna-senecessário proceder a uma reavaliação porperito ou empresa especializada, de modo aajustar seu valor contábil ao de mercado.

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

INSS Empregador a RecolherOs valores apurados até abril de 2004 eatualizados até dezembro de 2007 são deR$ 3.460.100,64 (três milhões, quatrocentos esessenta mil, cem reais e sessenta e quatrocentavos) e não foram reconhecidos nopassivo em função das informações constantesda Nota 3e. Mesmo assim, o INSS está dando

andamento ao processo de cobrança com aconseqüente execução do débito. O Projeto deLei do Senado nº 191/2006 visava anular osdébitos fiscais e agora se encontra emtramitação na Câmara dos Deputados .

INSS Empregados e Autônomos a RecolherOs valores históricos das retenções dascontribuições à previdência social dosempregados e dos autônomos feitas pela ABI enão recolhidas ao INSS, prática de gestõesanteriores, estão em processo de execução.Cabe ressaltar que a administração atual, a partirde maio de 2004, passou a adotar oprocedimento de efetuar a retenção e orecolhimento mensalmente no vencimento. Ovalor retido atualizado até dezembro de 2007totaliza R$ 375.785,61 (trezentos e setenta ecinco mil, setecentos e oitenta e cinco reais esessenta e um centavos). A atual administraçãorequereu à Secretaria da Receita Federal oparcelamento do débito conforme o disposto naLei nº 11.941/2009. No mês de julho de 2011 aReceita Federal processou a consolidação dosdébitos em 120 prestações para pagamento atéjunho de 2021. A ABI efetua mensalmente,dentro do vencimento, o devido pagamento.

FORNECEDORES

Os valores desta conta representam asobrigações de curto prazo com fornecedoresde materiais e prestadores de serviços.

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO SIMPLIFICADA - 2011EM R$

BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADO - 2011

EMPRÉSTIMO

A ABI captou recursos de curto prazo no anode 2009 junto ao Banco Itaú, atual ItaúUnibanco S.A., para reforço do Capital de Giro,sendo o término da quitação no mês de janeirode 2011.

PASSIVO NÃO CIRCULANTE – JUROS EMULTAS A PAGAR

O valor representa a multa e os juros relativosao passivo com o INSS, não atualizado porestar aguardando orientação jurídica quanto àAção de Execução Fiscal 2006.51.01.526985-1,em curso na 5ª Vara Federal de Execução Fiscaldo Rio de Janeiro e considerando a informaçãoda nota explicativa 3e. A ABI espera obtersucesso com a Ação Ordinária Tributária movidacontra a União para anular os débitos fiscais.

PASSIVO NÃO CIRCULANTE – CEDAE

A ABI renegociou a dívida junto à CEDAE em 80(oitenta) parcelas de R$ 2.901,85 (dois mil,novecentos e um reais e oitenta e cincocentavos). O montante da divída era de144.649,5751 UFIR, em outubro de 2005,totalizando R$ 232.148,00 (duzentos e trinta edois mil, cento e quarenta e oito reais). A ABIestá efetuando os pagamentos em dia e otérmino do pagamento previsto no contratoocorrerá em junho de 2012.

Page 51: 2012__377_abril

51JORNAL DA ABI 377 • ABRIL DE 2012

Page 52: 2012__377_abril