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Série Relatórios de Pesquisavolume 1 número 3 2012
AVALIAÇÃO DO PLANO DE AÇÕESARTICULADAS (PAR) NO CONTEXTO DO
PLANO DE METAS E COMPROMISSO TODOSPELA EDUCAÇÃO -
PESQUISA NA REGIÃO NORTE
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
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2Organizadoras:
Cibele Maria Lima RodriguesMaria das Graças Corrêa de Oliveira
Rosângela Tenório de Carvalho
Ministério da EducaçãoAloísio MercadanteMinistro da Educação
Fundação Joaquim NabucoFernando José FreirePresidente
Julia Kumi KaneyasuChefe de Gabinete
Mônica MonteiroAssessora Institucional
Luís Henrique Romani de CamposDiretoria de Pesquisas Sociais
Silvana Lumachi MeirelesDiretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte
Ceres Duarte Guedes Cabral de AlmeidaDiretoria de Formação e Desenvolvimento Prossional
Marcelo Mário de MeloAssessor de Comunicação
Rebeca Vidal A. de CarvalhoProjeto Gráco / Capa
URL: http://www.fundaj.gov.br
FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
A Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), fundação pública, vinculada ao Ministério da Educação, instituída por meio deautorização contida na Lei no 6.687, de 17 de setembro de 1979, tem sede e foro na cidade do Recife, Estado de Pernambuco.Sua área de atuação é constituída pelas regiões Norte e Nordeste do País, tendo por nalidade promover estudos e pesquisasno campo das ciências sociais.
Relatórios de PesquisaA série Relatórios de Pesquisa foi criada em 2012 e tem por objetivo difundir as pesquisas realizadas pela Fundação JoaquimNabuco de forma sistemática.
________________________________________________
Série Relatórios de Pesquisa. - v.1, n.3, 2012 -Recife: Fundação J oaquim Nabuco, 20 12
IrregularISSN 2316-5332 (versão imp ressa)1. Ciências Sociais – Periódicos. I. Fundação Joaquim
Nabuco. Diretoria de Pesquisas Sociais.
CDU 3(05)__________________________________________________
Série Relatórios de Pesquisavolume 1 número 3 2012
AVALIAÇÃO DO PLANO DE AÇÕESARTICULADAS (PAR) NO CONTEXTO DO
PLANO DE METAS E COMPROMISSO TODOSPELA EDUCAÇÃO -
PESQUISA NA REGIÃO NORTE
Recife2012
Organizadoras:Cibele Maria Lima Rodrigues
Maria das Graças Corrêa de OliveiraRosângela Tenório de Carvalho
Equipe da Pesquisa Cibele Maria Lima Rodrigues (Coordenação) Rosângela Tenório de Carvalho (Coordenação) Ana de Fátima Pereira de Sousa Abranches Flávio Cireno Fernandes Henrique Guimarães Coutinho Janirza Cavalcante da Rocha Lima Juceli Bengert Lima Manoel Zózimo Neto Maurício Antunes Tavares Nara Maria de Maia Antunes Patrícia Maria Uchoa Simões Verônica Soares Fernandes Equipe da Pesquisa de Campo Ana Eliza Medeiros Vasconcelos Lima Cibele Maria Lima Rodrigues Ivone de Aquino Medeiros Janirza Cavalcante da Rocha Lima Maria Cristina Pino do Couto Manoel Zózimo Neto Verônica Soares Fernandes Assistentes de Pesquisa - Bolsistas PIBIC Danilo Manoel Farias da Silva Gleiciane Vieira de Souza Isabelle dos Santos França
Ricardo Carvalho Andrade LimaSmirna Albuquerque dos SantosEquipe de Apoio Edson Augustinho da SilvaIêda Maria de Barros PiresJoão Carlos Ferraz CintraManoel Nascimento BarbosaVandete de Oliveira de MedeirosEquipe RelatórioCibele Maria Lima RodriguesDanilo Manoel Farias da SilvaGleiciane Vieira de SouzaRaul Vinícius Araújo Lima
ConsultoriaMaria das Graças Corrêa de Oliveira
RevisãoSolange Carlos Carvalho
Raul Vinícius Araújo Lima
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
CE Conselho Escolar
CGEE Coordenação Geral de Estudos Educacionais
CGU Controladoria Geral da União
CME Conselho Municipal de Educação
CNE Conselho Nacional de Educação
DIPES Diretoria de Pesquisas Sociais
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Fundeb Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IES Instituição de Ensino Superior
IFET Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC Ministério da Educação
PAR Plano de Ações Articuladas
PCC Plano de Cargos e Carreira
PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola
PDE Plano de Desenvolvimento da Educação
PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
PME Plano Municipal da Educação
PNATE Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar
PNFC Programa Nacional de Fortalecimento de Conselhos
PP Projeto Pedagógico
PPP Projeto Político Pedagógico
PRADIME Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação
SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica
Senac Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
Senai Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SME Sistema Municipal de Ensino
UNCME União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação
UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO
PARTE I ASPECTOS GERAIS DA PESQUISA
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
PARTE II CARACTERIZAÇÃO DAS REDES
INTRODUÇÃO
2.1 CONTEXTO DA PESQUISA
2.2 PERFIL DOS GESTORES EDUCACIONAIS
Secretários Municipais de Educação
Gestores Escolares
2.3 PERFIL DAS REDES: INFRAESTRUTURA
a) Infraestrutura física das escolas
b) Condições das salas
c) Quadra poliesportiva
d) Mobiliário
e) Condições das bibliotecas
f) Computadores
g) Laboratório de Ciências
PARTE III DEMOCRATIZAÇAO DA GESTAO EDUCACIONAL
INTRODUÇÃO
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3.1 Participação na definição e no controle da política educacional
a) Conselhos Municipais de Educação
b) Planos Municipais de Educação
3.2 As escolas e a gestão democrática
a) Escolha de Diretores
b) Conselhos Escolares
c) Projeto Político-pedagógico
d) Participação no Plano de Desenvolvimento da Escola
3.3 Relação da escola com a comunidade
PARTE IV – PROFESSORES: CONDIÇÕES DE TRABALHO E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO
INTRODUÇÃO
4.1 Perfil dos professores
4.2 Formação continuada dos professores
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1) Investimento em Infraestrutura
2) Planejamento e democratização da gestão
3) Valorização da carreira do magistério
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APRESENTAÇÃO
Este documento corresponde ao terceiro e último relatório da Pesquisa
de “Avaliação do Plano de Ações Articuladas (PAR) no contexto do Plano de
Metas Compromisso Todos pela Educação”, desenvolvida pela Coordenação
Geral de Estudos Educacionais (CGEE), da Diretoria de Pesquisas Sociais da
Fundação Joaquim Nabuco, com apoio da Secretaria de Educação Básica, do
Ministério da Educação1.
Essa pesquisa teve início em 2008 e tem por objetivo analisar como a
política educacional, inscrita no PAR, tem se materializado nos municípios das
regiões Norte e Nordeste, segundo a percepção de alunos, pais, professores,
gestores, secretários de educação e conselheiros municipais de educação. O
presente documento reporta-se especificamente aos resultados da pesquisa
realizada no segundo semestre de 2010, sobre a execução do Plano de Ações
Articuladas (PAR) em dez municípios dos estados do Acre, Amazonas, Pará e
Roraima2.
A análise aqui apresentada, embora com inflexões em razão das
especificidades identificadas no recorte regional adotado, guarda certo grau de
continuidade com que vem sendo apresentado nos relatórios anteriores,
assegurado pela manutenção do referencial teórico-metodológico baseado no
Ciclo de Políticas, desenvolvido por Stephen Ball (2001; 2004), e na
perspectiva de avaliação de políticas públicas com foco na “apropriação efetiva
das ações das políticas ou dos programas, pelos seus beneficiários”
(OLIVEIRA, 2009, p. 10). A discussão teórica que permeará a análise, portanto,
não será objeto de capítulo específico e as semelhanças e diferenças desta
1Conforme previsto no Plano de Trabalho, a pesquisa foi desenvolvida em etapas e ao término
de cada uma delas foram elaborados relatórios específicos: Relatório da Pesquisa Exploratória, (2009); Relatório da Pesquisa Survey Nordeste (2011). Com o presente relatório concluí-se a pesquisa. Ao mesmo tempo, decidiu-se que a região Norte não estará mais área da atuação da Fundaj, dadas as impossibilidades de ordem técnica. Difundiu-se os resultados em Seminário destinados às secretarias municipais alvo da pesquisa do Nordeste, como forma de auxiliar no processo de implementação do PAR. 2 Por questões operacionais, relatadas no Relatório Gerencial de Campo (2011), o estado de
Rondônia não foi pesquisado. Os demais estados da região (Tocantins e Amapá) foram excluídos em virtude do pouco tempo de adesão ao PAR, em relação ao período da pesquisa. Os dados foram considerados apenas com fins comparativos, mas não serão detalhados.
6
etapa da pesquisa em relação às anteriores, serão explicitadas na primeira
parte do documento, dedicada aos aspectos metodológicos da pesquisa.
A partir do referencial adotado e dos resultados obtidos foi possível
identificar uma variável importante para análise da política, qual seja, o estilo
de gestão municipal. Sendo assim, buscou-se fazer uma breve caracterização
das redes municipais, com destaque para os aspectos de infraestrutura escolar
e o perfil dos secretários de educação, precedido dos elementos políticos
contextuais e das expectativas dos atores em relação ao objeto da pesquisa.
Em seguida são abordados os temas da infraestrutura física, a democratização
da gestão educacional e as condições de trabalho dos professores, aspectos
que mais se destacaram nas falas dos entrevistados, dentre os eixos principais
do PAR, em sua primeira fase.
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Introdução
A avaliação das políticas públicas no Brasil remonta à década de 1970,
embora somente a partir de meados dos anos 1980, com o processo de
redemocratização do país e particularmente na década de 1990, sob a
influência da Reforma do Estado, passou a ser incorporada como prioridade de
política de governo, sob o ponto de vista da garantia de eficiência da gestão
pública, sobretudo visando diminuir os investimentos em políticas sociais.
No que se refere à produção científica sobre o tema, os trabalhos ainda
se mostram incipientes e por isso ainda não foram capazes de estruturá-la
como uma subárea da Ciência Política, pois na visão de Faria (2003, p.22),
eles constituem uma “Babel de abordagens, teorizações incipientes e vertentes
analíticas”, situação que parece estar relacionada com “a sua proximidade com
a burocracia governamental”, levando os pesquisadores a percebê-la durante
um longo período, como instrumentalização gerencialista (FARIA, 2005, p. 101)
que poderia conformar a agenda da pesquisa acadêmica (TREVISAN e
BELLEN, 2008, p.554).
No Brasil, até os anos 1950, a avaliação no campo educacional se
desenvolveu sob influência dos estudos norte-americanos com forte base na
psicologia, pelo que privilegiavam a perspectiva de “medida, voltada para os
resultados da aprendizagem do aluno”, sendo a avaliação educacional tarefa
de psicólogos e psicopedagogos. Somente entre as décadas de 1960 e 1970 a
avaliação se voltaria para os programas educacionais e seu contexto, tendo à
frente “profissionais do campo das Ciências Sociais como avaliadores”,
segundo Barreto et al. (2001, p. 76).
Nas duas últimas décadas, entretanto, a avaliação educacional voltou-se
para o âmbito das políticas e programas educacionais, sob a influência da
Ciência Política, embora ainda predominasse um “viés comportamentalista e de
neutralidade” (idem). A partir de meados da década de 1980, no contexto das
exigências feitas pelos organismos multilaterais para financiar as políticas de
educação, as pesquisas de avaliação externa experimentaram forte
crescimento (ibid).
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Os estudos de Azevedo e Aguiar (2001), Barreto et al. (2001), Sousa
(2003), Sousa Záquia (2005), Yazbeck (2007) e Coelho (2008), entre outros,
mostram que a tradição das pesquisas de avaliação no campo da educação se
conformou a avaliações de sistema de ensino ou de resultados, enquanto são
relativamente escassos os estudos voltados para a investigação do uso dos
resultados das avaliações na execução das políticas educacionais, como fez
Yazbeck (2007).
Faria (2005, p.100), por sua vez, enfatiza que o atual interesse pela
avaliação educacional está relacionado com os temas da qualidade e das
oportunidades de ensino, decorrente da preocupação do governo com políticas
de educação para os pobres, o que teria ensejado a busca de indicadores
confiáveis a respeito da educação no Brasil. Tudo indica, entretanto, que haja
uma relação entre avaliação e democratização da educação no país, cujo
debate vem se dando sob distintas concepções de qualidade da educação,
associada ao reconhecimento de que a acelerada democratização do acesso à
escola e o fracasso dos que nela chegam, tornou-se, nos tempos recentes,
uma ameaça ao processo de consolidação da democracia no Brasil e ao seu
desenvolvimento econômico.
A multiplicidade de enfoques de avaliação no campo da educação levou
Barreto et al. (2001, p. 50-51) a analisarem o tema a partir dos principais
periódicos acadêmicos e a agrupá-los em quatro categorias: a) referenciais e
modelos (sobre questões teóricas e metodológicas, modelos e tendências da
avaliação); b) avaliação na escola e da escola (propostas curriculares,
orientações, normas legais e sua repercussão na prática da avaliação; estudos
empíricos sobre resultados de aprendizagem dos alunos, realizados no âmbito
da escola; avaliação da prática docente, das representações da comunidade
escolar e análise o contexto escolar em que ocorre a avaliação); c) avaliação
de sistema (aferição padronizada do rendimento escolar aferição padronizada
do rendimento escolar dos alunos, realizada no âmbito do sistema nacional ou
dos sistemas estaduais de avaliação do ensino básico); d) avaliação de
políticas educacionais (avaliação de programas educacionais e análise de
políticas, agendas e propostas de governo).
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A perspectiva do presente estudo se insere na última categoria,
associado à abordagem de Ball (2004, 2006; 2007) em relação à pesquisa em
políticas educacionais, mais especificamente usando a concepção de ciclo de
políticas. Para ele, o estudo das políticas emerge como um subcampo da área
(2006, p.11), em particular no ciclo da produção de textos (que envolve o poder
do “poder central” de formular textos voltados para o direcionamento das ações
na prática) e no da análise do contexto da prática (espaço onde os textos do
“poder central” são reestruturados, reinterpretados).
Do ponto de vista conceitual, o estudo igualmente se associa ao
discurso de Foucault (da qual também se vale Ball), para quem o enunciado se
apresenta como série de formulações distintas e dispersas que forma em seu
conjunto, o domínio da memória discursiva (Foucault, 2002, p. 36-7), de forma
que um enunciado “é sempre um acontecimento que nem a língua nem o
sentido podem esgotar inteiramente” (idem, 2002, p. 32). Ou seja, o discurso -
no caso, as políticas públicas -, pode se expressar de várias formas e em
variados meios: nos contextos de influência, do texto e da prática. O discurso
está relacionado com o que Foucault denomina de vontade de verdade, que é
a forma dominante institucionalizada em práticas, textos e rituais. Tal discurso
embora seja contingente, aparece como verdade absoluta (e imutável). Em
outras palavras, é o que Gramsci (1984) define como o fetiche das instituições,
muito embora não use o termo discurso, mas se refira à ideologia. Ambos
(Gramsci e Foucault) tratam dos processos políticos de sedimentação e
naturalização de ideias enredadas em relações de poder e dominação. Esses
elementos fazem com que as mudanças sejam difíceis de serem efetivadas.
A partir desse arcabouço teórico, a abordagem de Ball (2004, 2006;
2009) nos oferece um caminho teórico e metodológico, partindo do pressuposto
que a leitura que os sujeitos fazem de um texto da política é diferenciada
gerando diferenças na execução do que está nas diretrizes centrais. Essa
diferenciação ocorre porque a interpretação da realidade é feita a partir de
valores culturais que vãos sendo elaborados ao longo de suas vivências. Essa
leitura do mundo orienta sua prática política. A interpretação varia de acordo
com condicionantes históricos, sociais e políticos a que estão ou foram
submetidos os sujeitos.
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Metodologia
A pesquisa buscou mapear elementos dessa diversidade de
interpretação aludida por Ball (2004) em relação à execução do PAR por meio
de um estudo qualitativo, de caráter descritivo. Com esse estudo, buscou-se
delinear nuanças de atitudes e comportamentos em meio aos processos
políticos. Nessa perspectiva, foram utilizadas entrevistas estruturadas e
observação, com registro em “diário de campo”. A escolha de tal estratégia se
assemelha aos argumentos de uma pesquisa exploratória tendo em vista o
pouco conhecimento ou domínio sobre as condições específicas da região por
parte da equipe da pesquisa. Segundo Richardson (1999 p. 146), a pesquisa
exploratória é “um meio de busca, quando o pesquisador está começando o
estudo de determinado tema” ou objeto.
Sendo assim, a pesquisa abordou 169 atores sociais dos diferentes
segmentos da estrutura educacional, quais sejam: 51 alunos, 49 pais, 37
professores, 20 gestores de escola, 10 secretários de educação e 2
conselheiros do CME. Eles foram entrevistados com questionários de cunho
qualiquantitativo, cujos conteúdos assemelhavam-se em relação a alguns
temas, mas com foco em questões específicas segundo os atores, o que
explica a variedade do número de questões: pais (38 questões), alunos (36
questões), professores (61 questões), gestores escolares (62 questões),
secretários de educação (67 questões) e conselheiros municipais (41
questões). Tais instrumentos foram os mesmos utilizados na pesquisa
quantitativa realizada no Nordeste.
O questionário foi compreendido como entrevista estruturada, valendo-
se do que afirma Richardson (1999). Além disso, no presente estudo, as
anotações e observações in loco registradas em “diário de campo”, foram
também usadas como (importante) complementação às informações dos
questionários. Mais do que uma simples técnica de pesquisa destinada a
registrar observações e vivências dos pesquisadores em sua atividade, o
“diário de campo” constitui um instrumento que pode revelar aspectos não
previstos no cenário da pesquisa, estimulando “a reflexão sobre o contexto
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onde as coisas acontecem” e propiciando a leitura crítica sobre a realidade
(DAL PAI e LAUTERT, 2007). Para Souza (2009), inclusive, o diário de campo
não apenas propicia a “análise dos dados produzidos ao longo da pesquisa”,
vai mais além: “é um produtor de dados da pesquisa, capaz de complementar o
texto acadêmico” pela quebra de sua “estrutura rígida”. Em reforço a sua
posição sobre o tema, vale-se de Jacques Gauthier para quem:
Não se deve falar de ‘coleta de dados’, uma vez que os dados não aparecem espontaneamente na realidade vivenciada, mas são produzidos pela ação dos pesquisadores e pela sua aceitação, mais ou menos ampla, pelos pesquisados (GAUTHIER, 1999, p. 45).
A análise dos dados foi norteada por três dos principais eixos do PAR,
quais sejam: a infraestrutura, a democratização da gestão educacional e as
condições de trabalho dos professores. Estas foram escolhidas por
apresentaram dados mais significativos para os objetivos do estudo.
Semelhanças e diferenças encontradas foram denominadas de diferenciação
quanto ao “estilo de gestão” ou conduta de governo (BASSI E CAMARGO,
2010), elas serão retratadas com vistas a contribuir para avaliação do processo
de implementação do PAR.
Assim, a metodologia utilizada para a pesquisa Avaliação do Plano de
Ações Articuladas em municípios com baixo Ideb, no Norte do Brasil,
caracteriza-se como uma avaliação do processo de execução do PAR nos
municípios, à luz, de categorias que identificam cada grupo educacional, em
sua função-autor e no coletivo que representa o contexto da prática, em âmbito
da política pública nacional.
Esse tipo de pesquisa, na área de políticas públicas, tem como objetivo
central elevar o conhecimento acerca de uma determinada política
proporcionando maiores condições de se compreender as principais ações, as
dinâmicas, os impactos e os efeitos resultantes do programa no nível local.
E, nesse sentido, a presente pesquisa não tem pretensões de
generalização para toda a região, sua contribuição reside na descrição de
aspectos elencados pelos sujeitos entrevistados e observados pelos
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pesquisadores e, como os trabalhos dessa natureza, apresenta resultados
circunstanciados e parciais (MINAYO, 2004).
O projeto original desta etapa da pesquisa previa a realização da
pesquisa de cunho quantitativo em 128 municípios da Região Norte, em que a
coleta de dados seria terceirizada. Entretanto, diante da necessidade de
conhecer tal realidade, optou-se por uma amostra intencional (RICHARDSON,
1999), composta por 10 municípios de quatro estados da região: Acre
(Brasiléia, Epitaciolândia e Sena Madureira); Amazonas (Iranduba e Presidente
Figueiredo), Pará (Bujaru e Santa Izabel do Pará) e Roraima (Bonfim, Iracema
e Mucajaí). Os municípios foram selecionados a partir da amostra original que
foi sorteada com base na lista de prioritário atendimento, devido aos mais
baixos IDEBs, em sua primeira fase. Além disso, foram escolhidos em função
da facilidade de acesso. As escolas foram escolhidas somente as urbanas e de
IDEBs diferenciados. No entanto, mesmo escolas consideradas urbanas, no
censo escolar, eram de difícil acesso e necessitaram ser substituídas.
A proposta inicial era fazer esse levantamento das condições de
possibilidade para se aplicar um estudo posterior e mais aprofundado, e, ao
final, concluiu-se que as atuais condições técnicas impedem tal desdobramento
visto que a instituição deliberou por excluir a região da sua área de atuação.
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Introdução
Segundo Ball (2006), em cada contexto, as políticas são interpretadas
de forma diferenciada. E, como propõe a análise de discurso, as ações também
estão enredadas em relações de poder que definem o que pode ser
considerado legítimo e verdadeiro, nos diferentes contextos (ORLANDI, 1999;
FOUCAULT, 1995). Nesse sentido, entrevistamos os atores sociais que
possuem funções destacadas nessas relações, desde a gestão municipal até a
gestão escolar, incluindo também a família.
Os resultados não devem ser encarados como descrição dos municípios
ou pessoas em si mesmos, mas devem ser considerados como em seus
contextos e em suas funções enunciativas. Não é o fato em si que interessa,
mas o que se diz, pois a forma e os sentidos possuem força de verdade nos
cenários em tela. O que se apresenta são as condições históricas e os
discursos ou campo discursivo em que determinadas ações estão sendo
executadas. Por outro lado, o fato de algumas ações não estarem sendo
desenvolvidas deve ser compreendido a partir das condições históricas, pois
não existe uma verdade absoluta. O foco também não pode ser o que alguém
falou ou fez, mas a rede discursiva e os discursos com maior adesão. As falhas
e contradições são constitutivas dos campos discursivos.
A partir desse arcabouço o que chamou mais atenção nas respostas dos
sujeitos “secretários de educação” foi a forma diferenciada com que encaram
sua função e como conduzem as políticas, confirmando as teses de Ball, de
que em cada contexto há uma re-interpretação do texto prescrito na “política
oficial”.
Esse aspecto também foi observado por Bassi e Camargo (2010), mas
usando o conceito de “estilo de gestão” ou conduta de governo. Em sua
pesquisa enfatizaram os “aspectos relativos à definição e implementação de
políticas educacionais específicas de cada período e de cada governo”. Eles
analisaram as práticas do Conselho do Fundef em meio a diferentes
orientações políticas na prefeitura (e secretaria de educação) de um município,
ao longo do tempo, considerando ainda as condições socioeconômicas do
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município. Na presente pesquisa, foram encontrados resultados diferenciados
em que a gestão municipal pode ser destacada como uma variável relevante.
Nesse caso, os estilos de gestão estão relacionados com a forma como
os secretários municipais de educação interpretam e conduzem as políticas.
Muito embora as políticas envolvam os demais atores envolvidos no sistema
educacional a posição ocupada pelos secretários permite maior autonomia
para tomar decisão quando comparado aos outros atores. Mesmo eles
encontram-se subordinados ao poder executivo e suas relações políticas.
Nessa perspectiva no presente capítulo são contemplados não apenas o perfil
dos atores e as condições de funcionamento das redes, mas igualmente o
ambiente no qual se processou a pesquisa.
2.1. Contexto da pesquisa
Como já foi assinalado, anteriormente, a pesquisa foi realizada em
quatro estados da Região Norte, abarcando dez municípios, vinte escolas e
cento e sessenta e nove atores da comunidade educacional3. O registro das
entrevistas em diário de campo revelou não somente o contexto político em
que se processou a pesquisa, mas também questões de ordem
socioeconômica específicas da região que respondem, em parte, por alguns
dos problemas enfrentados pelos sistemas educacionais em nível local. Vale
ressaltar que, por se tratar de municípios de pequeno porte, predominam as
escolas públicas ou até inexiste a rede privada. Nesse sentido, a rede
municipal torna-se ainda mais relevante para o desenvolvimento da educação.
Cabe um registro geral acerca das condições socioeconômicas,
constatou-se que a maioria dos pais está recebendo o auxílio do programa
Bolsa Família. Além disso, foi citado o desemprego (e consequente processo
migratório) como fator que influencia diretamente a evasão, tendo, por sua vez,
impacto direto no Ideb.
3 Os dados foram coletados no final do ano de 2010, também naquele ano foram coletados os
dados da pesquisa (survey) do Nordeste que tiveram prioridade para análise.
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Outros fatores de ordem climática também foram citados como
impactando esse indicador, visto que, as constantes inundações, fazem com
escolas paralisem suas atividades ou mesmo fiquem sem acesso à água
potável e merenda. Essas intempéries atingem escolas tanto nos núcleos
urbanos como no campo.
De uma forma geral, houve problemas com o agendamento porque
algumas secretarias de educação não possuíam telefone. Registre-se que em
todos os municípios, a equipe da pesquisa foi recebida em clima amistoso. A
maioria dos entrevistados mostrou preocupação em responder às questões e
em saber qual o destino das suas respostas. Os professores demonstraram
seu interesse em que a pesquisa pudesse contribuir para a implantação dos
Planos de Cargos e Carreira visto que, em alguns casos, estes só existiam
formalmente. Por outro lado, os secretários viram na pesquisa uma
oportunidade de enviar suas reclamações ao Ministério da Educação como
será posteriormente comentado.
Alguns dos professores (em dois municípios) tiveram bastante
dificuldade para compreender o questionário. Pais e alunos julgaram que os
questionários eram extensos e cansativos, sobretudo devido a sua dificuldade
em compreender certos termos técnicos. As questões direcionadas à área da
gestão da educação, tais como, conselho escolar; conselho de classe;
conselho municipal de educação; contraturno e outros termos relativos à
administração escolar dificultaram a compreensão dos questionamentos
proferidos.
Nos estados do Amazonas e do Pará foram pesquisados dois municípios
e seis escolas em cada um deles. No Pará, uma delas estava localizada em
uma comunidade quilombola (mesmo sem estar na seleção original foi incluída
por esta peculiaridade em substituição a uma das escolas escolhidas que
apresentou dificuldade de acesso). Em Roraima, o levantamento dos dados
realizou-se em três municípios e três escolas, um deles localizava-se na
fronteira com a Guiana. No Acre, foram três municípios e cinco escolas, sendo
dois deles vizinhos e localizados na fronteira com a Bolívia. Nesses municípios,
ocorrem situações de alunos (de nacionalidade brasileira) que moram no país
vizinho e estudam nas redes escolares brasileiras.
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Em relação à gestão dos sistemas municipais, um dos entraves
apontados é a grande rotatividade de secretários ocasionando a
descontinuidade de processos técnico-administrativos. As mudanças estão
vinculadas, sobremaneira, às disputas políticas locais e são mais profundas
quando há fragilidades do corpo técnico, composto em sua maioria por
pessoas indicadas. Esse fator deve ser ressaltado visto que, em alguns
municípios, o corpo técnico permanente propiciou o suporte para a
continuidade das ações, sobretudo do PAR. Eles foram consultados para
complementar as respostas aos questionários. É patente a fragilidade
institucional das secretarias na formação de seus técnicos, sobretudo nos
municípios menores.
Outrossim, a intrínseca relação entre o cargo e as relações de poder que
envolvem o governo municipal é uma das razões citadas (pelos próprios
secretários) como explicação para grande rotatividade de secretários
municipais, encontrada na pesquisa. Por outro lado, tal rotatividade torna ainda
mais relevante a atuação dos outros atores do campo educacional no processo
de efetividade das ações, sobretudo técnicos e gestores escolares. Em meio a
mudanças no cargo de secretário, os outros atores tentam garantir a
continuidade de determinadas ações em curso. Em cada contexto, há um modo
diferente de operacionalizar e lidar com essas mudanças.
Observa-se então que há um alto grau de dependência da conjuntura
política municipal o que tem levado a descontinuidades nos processos, tal
como apontaram os próprios secretários4. Isso não significa que todas as
mudanças são, necessariamente, negativas.
O que parece ser comum aos discursos é a imagem do cargo que deve
ser ocupado por políticos “profissionais”, embora, nos casos analisados, a
formação de quase todos os secretários seja no campo da educação. Um
secretário interino, que é coordenador pedagógico, verbalizou não se sentir
com perfil adequado para atuar no cargo – segundo ele, por não possuir essa
4 Nesse contexto político, uma informação relevante refere-se ao fato que, em pelo menos dois
casos, a descontinuidade estava relacionada à interrupção de mandatos de prefeitos, por via judicial, a partir de denúncias de corrupção. Esse cenário demonstra, em certo sentido, que existe uma mudança em curso em relação à prática de desmandos políticos generalizados, sem punições.
19
vocação política, apesar de ter conhecimento sobre políticas e práticas
pedagógicas e demonstrar interesse que as políticas sejam efetivadas. Por
essa razão, segundo avalia, o lugar (ou função) não deixa à vontade todos os
que teriam um perfil técnico adequado.
De uma forma geral, há mudanças abruptas e paira um clima de
instabilidade entre os funcionários, secretários e gestores, embora
eventualmente elas possam provocar renovações positivas. Nesse sentido, a
pesquisa detectou alguns secretários que tinham realizados mudanças, tais
como, a implantação de conselhos, formação e plano de carreira.
Em relação ao PAR, alguns secretários pretendiam dar continuidade às
ações propostas por gestões anteriores, mesmo não concordando com o que
foi estabelecido em seu preenchimento. Naturalmente, nem todos possuem a
mesma atitude diante do PAR, apontando dificuldades em executar o que foi
previsto por gestões anteriores, alegando falta de conhecimento sobre a forma
de operacionalização.
O que é comum a muito dos entrevistados é a consciência do controle
que o MEC está fazendo e a necessidade de se cumprir as metas propostas.
Nesse sentido, o PAR tem funcionado como um instrumento de permanência,
frente a contextos de mudanças constantes. Um parâmetro para as gestões
poderem implementar determinadas políticas.
Em termos positivos, destacam-se entre as ações do PAR, a criação e
fortalecimento de políticas para formação de professores que, em alguns
municípios, é uma atividade recente, que está posta em prática a partir do
PAR.
Um programa bastante elogiado pelos secretários foi o Transporte
Escolar, nesse caso, percebe-se que as prefeituras estão aproveitando a
oportunidade e já se pôde constatar a existência de veículos novos em
funcionamento.
Em relação às ações propostas pelo PAR, chamou atenção o fato de
alguns secretários se mostrarem interessados em obter mais informação sobre
o Programa Mais Educação, por desconheceram o que deveria ser feito.
20
Alguns secretários aproveitaram o momento da pesquisa para apontar
críticas ao MEC. Entre elas, a falta de assessoria especializada para realizar as
ações propostas, a exemplo da criação de conselhos.
Reclamaram ainda que o atendimento do MEC, em Brasília, não se dá
de forma satisfatória, devido à dificuldade de obterem respostas aos problemas
específicos. O Simec também foi alvo de críticas devido às dificuldades em seu
preenchimento e problemas em seu funcionamento.
Uma reclamação constante, que não depende do MEC, mas se trata de
relações estabelecidas no âmbito do poder local, é sobre o gerenciamento dos
recursos que, geralmente, não estão sob a responsabilidade da secretaria, mas
do setor responsável pelas finanças da prefeitura, dificultando a execução das
metas e os processos administrativos da secretaria (citado expressamente em
Bonfim e Epitaciolândia). Nesse âmbito, outro problema assinalado por um dos
secretários foi a inadimplência com o MEC, muitas vezes, herança de outras
gestões, mas que inviabiliza a execução de algumas ações.
Conforme já aludido anteriormente, pela pesquisa de Bassi e Camargo
(2010), há uma diferenciação do estilo de gestão como preponderante na
condução das políticas. As realidades encontradas nos municípios são
diferenciadas no sentido que existem gestores extremamente ativos que
desenvolvem o maior número de atividades e investimentos. A diversidade de
forma de condução das políticas indica que o perfil de cada gestor produz
diferenças no desenvolvimento das atividades. Há casos em que, mesmo em
municípios próximos, há posturas diferenciadas em relação à mesma ação
proposta, a exemplo do tratamento dado à formação de professores.
2.2. Perfil dos gestores educacionais
A nomenclatura gestores embora se generalize em substituição
especialmente a diretor de escola, sinalizando uma inflexão democrática em
substituição ao modelo burocrático de administração escolar que pontificava
até a década de 1980, no presente Relatório é extensivo também aos
secretários municipais de educação.
21
Secretários Municipais de Educação
Apenas dois secretários de educação entrevistados não eram titulares
do cargo. Com idade entre 28 e 50 anos, metade deles eram homens
(Iranduba, Bonfim, Iracema, Sena Madureira e Epitaciolândia) e, em relação à
formação acadêmica, seis, dos dez secretários entrevistados, têm graduação
em Pedagogia e os demais em Licenciatura, sendo que em Presidente
Figueiredo possui o Normal superior. Eram pós-graduados, em nível de
especialização, os secretários de Iracema, Sena Madureira, Presidente
Figueiredo, Iranduba, Bujaru, Mucajaí e Brasiléia. Enquanto os dois primeiros
possuem pós-graduação na área de gestão escolar, os demais concluíram a
pós-graduação, respectivamente, em História, Geografia, Língua Portuguesa,
Alfabetização e Metodologia do Ensino.
De modo geral, percebe-se que todos possuem formação na Área de
Educação, em seu sentido amplo. Esses dados são positivos e indicam que
mesmo se tratando de cargo eminentemente político, o perfil técnico também
tem influenciado as escolhas.
Gestores Escolares
Dos vinte gestores entrevistados, a maioria era titular da função de
diretor (15), apenas em quatro casos os vice-diretores e coordenadores
pedagógicos foram os entrevistados. Os gestores/diretores têm entre 35 e 44
anos, e desses, a maioria está com 38 anos: em Iranduba/AM encontra-se o
mais novo, com 27 anos, e em Santa Izabel/PA, o mais velho, com 77 anos. A
grande maioria desses gestores/as é do sexo feminino (18 dos 20
entrevistados).
A maior escolarização entre os gestores é de pós-graduação em nível de
especialização (14 deles), mas há gestores somente com ensino
médio/magistério, nos municípios do Estado do Pará e no município de
Brasiléia/AC. Os cursos da Área de ciências humanas predominam entre os
entrevistados, sendo Pedagogia a formação básica da maioria dos gestores. Já
a pós-graduação mais frequente entre eles é a especialização em Gestão
22
Escolar, em quase todos os Estados, menos no Amazonas, onde são
mencionados outros cursos.
Em termos de vínculo de trabalho, a grande maioria é servidor efetivo
(16 dos 20 entrevistados), e não tem vínculo com outra rede de ensino, são
ligados à da rede municipal. Os que possuem ligação com outra rede citaram a
estadual. Por se tratarem de municípios de pequeno porte, é comum que em
tais localidades não haja rede privada.
Em relação à experiência em gestão escolar, a maioria tem entre um e
dois anos de experiência, mas tem dois casos em que o gestor possui menos
de um ano de experiência: em Presidente Figueiredo/AM e Bujaru/PA; e um
caso com seis anos de experiência, em Sena Madureira/AC.
A moradia dos gestores é, em sua maioria, na área urbana da cidade, e
eles/as se locomovem para a escola por conta própria (sem transporte da
prefeitura), a pé, de bicicleta ou de moto, mas também há uma pequena
parcela que vai de carro.
2.3. Perfil das redes: infraestrutura
Os municípios de Roraima possuem rede de pequeno porte, como
mostram os dados sobre o número de escolas dos municípios de: Iracema (4
escolas); Bonfim (17 escolas) e Mucajaí (15 escolas).
Nos municípios do Acre, as redes possuem tamanhos diferenciados:
Epitaciolândia (25 escolas); Brasiléia (78 escolas) e Sena Madureira (92
escolas), sendo que em Brasiléia, 93,5% escolas são multisseriadas, fato que
se repete em Sena Madureira (com 82,6%) e em Epitaciolândia (com 56%.)
No Pará, as redes são de tamanho inverso ao porte do município: o
menor deles, Bujaru, possui 83 escolas e o maior, apenas 52 escolas. Mas, a
maioria das escolas de Bujaru se situa na zona rural, sendo 79.5% (66
unidades) das mesmas multisseriadas. Já em Santa Izabel, o percentual de
escolas multisseriadas é de 21%.
No Amazonas, enquanto Presidente Figueiredo possui 34 escolas (56%
multisseriadas), Iranduba tem 72 escolas (57% das quais, multisseriadas).
23
Quanto às condições das redes e os investimentos realizados nos
últimos dois anos em infraestrutura das escolas, a percepção dos atores
sociais varia conforme a sua situação na hierarquia do sistema educacional,
conforme pode ser conferido a seguir.
Infraestrutura física das escolas
Em relação às escolas foram avaliados alguns itens de infraestrutura
física e equipamentos, como também se tentou verificar aspectos da
manutenção e uso destes. Nessa perspectiva, a ideia foi traçar um quadro dos
investimentos realizados, do ponto de vista dos gestores, mas também da
avaliação da comunidade escolar e da observação dos pesquisadores.
As escolas selecionadas para realização da pesquisa são de Ensino
Fundamental e estão localizadas na área urbana.
a) Condições das salas
Na maioria dos estados, havia problema com ventilação, e quando
existiam ventiladores, estes quase sempre estavam quebrados. E aparelho de
ar-condicionado praticamente não existia nas escolas. Com as altas
temperaturas, típicas da região Norte, os atores entrevistados reclamam por
maior investimento em ventilação, pois tanto as condições de trabalho dos
professores quanto dos alunos não são satisfatórias.
Em algumas escolas, houve relatos de que nos períodos mais quentes
ano, é organizado um espaço improvisado fora das salas de aula, com lonas,
pois os professores não conseguem controlar as crianças que sofrem com a
falta de ventilação, tornando a estadia na escola um “martírio”, nas palavras
dos professores.
24
O Estado do Acre destacou-se dos demais no tocante à infraestrutura5.
A maioria das escolas contava, em média, três anos de construção ou passou
por reformas recentes.
Além do Acre, o investimento em reformas de salas foi feito em dois
municípios (Bonfim/RR e Iracema/RR), sobretudo em escolas do campo.
Para servir a merenda, muitas escolas necessitam construir espaços
específicos, mas essa prática foi identificada no discurso dos secretários de
Bujaru/PA e Bonfim/RR. A reforma em refeitórios só foi mencionada em Santa
Izabel/PA e Epitaciolândia/AC.
b) Quadra poliesportiva
Foi quase unânime a reclamação expressa pelos alunos de ausência de
quadras esportivas. Também faltam os pátios e espaços permitidos para
atividades de lazer. Em alguns casos, existiam, mas não podiam ser utilizados
pelos alunos como área de lazer6. Mesmo diante dessa lacuna, na fala dos
secretários, não há menção a reforma ou construção de quadras. Tal resultado
denota que esse item ainda não é visto como necessário ao desenvolvimento
das crianças e à qualidade da educação.
c) Mobiliário
A compra de mobiliário para educação especial, para alunos canhotos,
para salas de aula em geral, para sala dos professores e investimento em
segurança, ocorreu apenas no município de Iracema.
Os alunos reclamaram das instalações sanitárias e de sua manutenção
e limpeza. Houve investimento em instalação sanitária no município de Bujaru-
5 A pesquisa de campo foi realizada em três municípios e cinco escolas municipais do estado
do Acre, sendo dois municípios na região do Alto Acre e duas localizadas em um município na
região do Purus (ao Norte).
6 Visitou-se uma escola estadual, com o maior Ideb de Roraima, nela havia quadra coberta,
equipamentos tecnológicos, recreativos, pátio amplo, limpeza e regras de comportamento claras. Muito diferente da realidade das escolas da rede municipal.
25
PA. Para os professores, a construção das instalações sanitárias tem sido uma
prática comum (ocorreu nos municípios do Amazonas, em Bujaru/PA,
Mucajaí/RR e Epitaciolândia/AC).
d) Condições das bibliotecas
Há uma confusão dos conceitos e termos educacionais básicos entre os
profissionais. Percebeu-se uma confusão entre o que vem a ser uma biblioteca,
confundida com sala de leitura – em uma escola, alguns entrevistados
disseram que havia biblioteca, enquanto outros negaram sua existência.
Os secretários têm investido, prioritariamente, na ampliação do acervo
bibliográfico das bibliotecas e salas de leitura, exceto as secretarias municipais
do estado do Pará e de Sena Madureira, no Acre. Embora Epitaciolândia e
Brasiléia sejam municípios vizinhos, apenas este último fez melhorias em
bibliotecas. Os municípios do Amazonas se destacam já que reformas e
ampliação dos espaços foram realizadas em Presidente Figueiredo/AM e
houve informatização das bibliotecas em Iranduba/AM.
No entanto, nem sempre esse investimento se traduz em práticas de
incentivo à leitura, sobretudo considerando que, na maioria das escolas
visitadas, as bibliotecas, quando existiam, se encontravam em condições
precárias quanto à estrutura física. Algumas escolas possuíam acervos
bibliográficos, no entanto não dispunham do espaço para fazê-la funcionar. A
gestão da escola proibia o empréstimo de livros e até mesmo o uso pelos
estudantes, com o discurso de que essa prática resultava na deterioração dos
materiais por parte dos alunos. Dessa forma, em várias escolas as estantes de
livros dividiam espaço com laboratórios, sala de professores, coordenação,
porém o mais impressionante era o fato de que esses livros pareciam novos, já
que não apresentavam vestígios de manuseio.
Nesse contexto, os professores não fazem uso de bibliotecas como um
espaço utilizado por eles para desenvolver sua prática docente. Os alunos, por
seu turno, têm aproveitado as bibliotecas disponíveis nos municípios, quer
sejam municipais ou de outras escolas, como é o caso das escolas de
26
Roraima. Entre as atividades desenvolvidas pelos alunos nas bibliotecas foram
mais citadas as pesquisas e trabalhos em grupo (exceto em municípios de
Iracema/RR e Epitaciolândia/AC). Os alunos também usam o espaço para
estudar (exceto em Bujaru/PA, Bonfim/RR e Mucajaí/RR). Para trabalhos
individuais o uso somente não acontece em Bujaru/PA, Iracema/RR e
Epitaciolândia/AC. As bibliotecas não são ainda massivamente utilizadas para
incentivo à leitura, visto que os itens como empréstimos e leitura foram os
menos citados nos municípios, a exceção está em ações de empréstimo em
Presidente Figueiredo/AM.
De uma forma geral, conclui-se que as bibliotecas têm funcionado como
espaços importantes de sociabilidade e incentivo ao estudo, mas é necessário
não apenas ampliar e melhorar os espaços físicos, como também o acervo das
bibliotecas. Ainda não espaços reconhecidos pelos professores nas suas
práticas pedagógicas. O incentivo à leitura não tem se dado no âmbito do uso
das bibliotecas, nesses municípios.
e) Computadores
Por outro lado, é quase total a abrangência da presença de
computadores conectados à internet (exceto em Bujaru/PA e
Epitaciolândia/AC), demonstrando que essa política tem chegado aos
municípios. De uma forma geral, os depoimentos demonstraram aprovação do
uso dessa tecnologia. As reclamações, por parte dos alunos, são apenas por
não poderem utilizar plenamente os laboratórios de informática.
Outros recursos tais como projetor multimídia e retroprojetor foram
encontrados em quase todos os municípios (exceto em Bujaru/PA e
Iracema/RR). No tocante a esses recursos audiovisuais e computadores as
maiores reclamações vieram dos gestores em relação aos problemas de
manutenção. Nos municípios faltam técnicos que resolvam os problemas que
são comuns a esse tipo de tecnologia o que faz com que seu uso seja limitado.
Um exemplo inovador é a criação de uma estrutura de praça digital, com
wifi acessível aos moradores, em um município no Amazonas.
27
f) Laboratório de ciências
Embora seja um item importante para despertar o interesse pelas
ciências “naturais e exatas” este item só está presente nos municípios de
Presidente Figueiredo/AM e Sena Madureira/AC. Esse tem sido um item ainda
pouco presente nas escolas, como também foi revelado na região Nordeste
(percentual em torno de 5%). Esse item está entre os indicadores de qualidade
no documento que define os padrões mínimos de funcionamento da escola
(MORAES, 2006), soma-se a isso a necessidade de especialistas na área das
ciências biológicas, “exatas” e congêneres. Constata-se a necessidade de
ampliar o investimento na criação de laboratório de ciências nas escolas
públicas.
29
Introdução
No campo da educação, o discurso da construção da qualidade da
educação tem se apresentado como uma “vontade de verdade” no sentido de
Foucault (1995), nos vários contextos em que a política educacional está
sendo posta em prática. Apesar do aparente consenso em torno da
necessidade de se investir na qualidade da educação, há divergências em
torno da definição de qualidade. Nesse contexto, o direito à educação ainda
não está sedimentado nas práticas e políticas sociais, em que pese os
constantes investimentos nesse sentido. Os maiores obstáculos que estão
relacionados com o processo de constituição do estado brasileiro, em que os
“direitos sociais” não foram amplamente reconhecidos. A cidadania é definida
como privilégio de classe7 e a “vontade privada” (em termos de privilégio das
elites) é a “medida de todas as coisas” (Telles, 2006, p.88). Como
singularidade da nossa modernidade “em que o inferior que tem o dever da
obediência, que merece apenas o favor e proteção, mas jamais direitos”
(idem)8.
A política de democratização da gestão vem sendo reforçada a partir da
crença de que a articulação entre escola, comunidade e entidades da
sociedade civil tem impactos positivos na qualidade da educação, esse é o
modelo que está sendo colocado na agenda pública, como afirma Silke Weber
(2008). O modelo republicano, proposto no PAR, está atrelado à necessidade
de planejamento das políticas, com participação popular, visando amenizar os
efeitos das práticas patrimonialistas e tornar as políticas cada vez mais
universais.
No Brasil, a democratização é uma reivindicação (antiga) que inclui a
presença dos pais, criação de conselhos, entre outros (CURY, 2000;
BORDIGNON, 2009). São propostas gestadas nas lutas dos movimentos
sociais que tem por finalidade institucionalizar a participação da sociedade civil
7 Cf. José Murilo de Carvalho (2002) sobre os obstáculos à cidadania no Brasil. 8 Esse aspecto é considerado por Carvalho (2002) como fruto do imaginário português que
associava pobreza e caridade, além de uma hierarquização dada como natural (da natureza),
com origens no pensamento cristão medieval. Outra análise sobre a cultura política e a
desigualdade (ou hierarquização) é de Tereza Sales (1994).
30
nas escolas. Embora a gestão democrática esteja prevista na Constituição
Federal e na LDB “como um dos princípios da educação brasileira”, essas
propostas enfrentam dificuldades de efetivação como ressaltam alguns autores
(CÓSSIO, HYPÓLITO, LEITE, DALL´IGNA, 2010). Esse discurso ganhou mais
força a partir da chamada “redemocratização”, dos anos 1980, mais ainda
esbarra na tradição hegemonicamente autoritária (CARVALHO, 2002).
O debate da criação de conselhos e democratização da gestão escolar
diz respeito ao processo de “publicização” que se dá na relação entre o Estado
e à sociedade civil na constituição de uma esfera pública como mediação
institucional. Segundo Raquel Degennszajh (2000), a estratégia da esfera
pública consiste em ações de: a) visibilidade social/transparência; b) controle
social c) representação de interesses coletivos; d) democratização de decisão
política; e) construção de uma cultura pública.
O discurso da ampliação da participação como qualidade da educação
também está no PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação (Lei nº
10.172, de 9 de janeiro de 2001), cujos objetivos são a elevação da
escolaridade da população; a melhoria da qualidade de ensino; a redução das
desigualdades sociais e regionais e a democratização da gestão no ensino
público, a partir dos princípios da elaboração do projeto pedagógico e criação
de conselhos (CARVALHO, 2010). Ainda segundo Rosângela Carvalho, para o
MEC, essas ações se concretizam através da legislação educacional e através
das ações do PAR- Plano de Ações Articuladas.
3.1 Participação na definição e controle da política educacional
A exigência constitucional de democratização da educação, em todos os
níveis da estrutura educacional, requer a participação representativa dos atores
sociais nas instâncias coletivas de decisão, ao nível das escolas, como
também a interlocução com a sociedade, na definição das políticas locais da
área. Nesse sentido, a organização e o funcionamento do Conselho Municipal
de Educação (CME), na condição de espaço institucionalizado de
representação das forças sociais em presença, significa a possibilidade de a
sociedade influir nos rumos do projeto educacional do município. É desse ponto
31
de vista que serão analisados os resultados da pesquisa em relação à
existência de CME e do Plano Municipal de Educação (PME).
Nesse âmbito se inclui a criação do Sistema Municipal de Ensino. Ele
ainda não existe em Iranduba (AM), nos três municípios visitados em Roraima
e nos três municípios do Acre.
a) Conselhos Municipais de Educação
A criação e o funcionamento de Conselhos Municipais de Educação,
embora não seja uma exigência legal, já é realidade em 71% dos municípios do
país (GUIMARÃES, 2009, p.57). Nos dez municípios pesquisados, entretanto,
apenas dois (Santa Izabel/PA e Iranduba/AM) possuíam conselho municipal de
educação em funcionamento. Coincidentemente, os titulares da pasta de
educação fizeram o curso de graduação em Pedagogia e possuem
especialização na área.
Vale ressaltar que, em outros municípios (Presidente Figueiredo/AM,
Sena Madureira/AC e Bujaru/PA), segundo os respectivos secretários de
educação, existe lei de criação dos respectivos CME, embora o conselho ainda
não estivesse em funcionamento. Inclusive no caso de Sena Madureira/AC, o
CME estava previsto para funcionar integrado ao conselho do Fundeb. Em
Bujaru/PA, o conselho estava em processo de implantação.
Os dois conselheiros apresentaram respostas comuns em relação às
ações dos conselhos no que se refere área de planejamento e política,
sobretudo no acompanhamento do Plano Municipal de Educação. Além disso,
ambos afirmaram que já emitiram parecer sobre ano letivo, bem como, já
elaboraram normas para autorização do funcionamento de novas escolas.
Atuaram ainda no processo de cadastramento de novas instituições
educacionais. Ambos possuíam assessoria técnica e administrativa (pelo
menos um de cada). Em suas estruturas, os dois conselhos possuíam
computadores, sala e algum material de apoio administrativo, mas não
possuíam recursos próprios. Apenas para os conselheiros em Iranduba houve
algum treinamento (promovido pela UNCME). Segundo o presidente daquele
32
conselho, havia uma forte articulação com a UNCME e os Conselhos (Nacional
e Estadual).
Em Iranduba, o CME foi criado em 2003, possuía regimento interno, e
estava estruturado com Pleno, Plenário e Câmaras. Os conselheiros eram
eleitos pelos seus respectivos segmentos, havendo representante do Conselho
Tutelar, de escola indígena, de ONG, sindicato dos servidores públicos e
escolas rurais. Uma prática democrática diferenciada é a existência de
reuniões entre os representantes de diferentes conselhos.
Na política educacional, segundo o secretário de Iranduba, o CME
acompanha as ações do PAR e os resultados do Ideb, mas não está integrado
ao conselho do FUNDEB. Apenas em Iranduba houve participação do conselho
na apresentação de critérios para avaliação das escolas do município, bem
como na sugestão de medidas para melhorar o rendimento escolar. Além
disso, houve sugestões no processo de formação continuada e promovendo os
seminários.
Em Santa Izabel/PA, verificou-se um contexto com singularidades,
próprias das contradições do recente processo de democratização. De um
lado, a criação do conselho está vinculada a experiências de uma cidade
vizinha. O surgimento do CME foi fruto de reivindicações dos professores, mas
o processo foi descrito como difícil devido à resistência da gestão municipal.
Para se fortalecer o Conselho se articulava com o sindicato dos professores,
participando diretamente das negociações com o poder público. O presidente
era representante das escolas públicas (professor). Alunos e pais foram eleitos
pelos seus segmentos. Por outro lado, existe um clima de perseguição política
em que o CME é “visto como inimigo”, nas palavras do seu presidente. Nesse
contexto, o CME não tem sido chamado para discutir as ações do PAR. Essas
práticas demonstram a hegemonia da tradição autoritária, comentada
anteriormente.
Sendo assim, o CME atua num contexto adverso, mas isso não impede
de ter grande atuação no acompanhamento do investimento dos recursos
públicos, participando das reuniões do Conselho do Fundeb, e estando atento
aos informes do município e às informações do Tribunal de Contas. Para o
presidente do Conselho, a criação do Sistema Municipal de Ensino já pode ser
33
considerada uma realização do Conselho, pois surgiu da pressão deste. Esse
processo foi acompanhado da realização de um Fórum e da Conferência
Municipal para discussão do Plano.
A pesquisa constatou que a gramática da participação vem causando
impactos, visto que alguns dos secretários demonstraram preocupação e
interesse em implantar o CME, sobretudo em Roraima. Em uma das cidades, a
decisão de criar o CME está relacionada com as exigências do PAR e,
sobretudo, com a postura política da gestora (que tem um perfil de militância
política). Em outro município, o secretário interino afirmou que a ação esbarra
na tradição autoritária, “por mais que existam imposições do governo para
acontecer audiências públicas, não é tradição no município desenvolver essa
atividade”. Inclusive, foi citado que o MEC enviou material, mas era necessária
uma assessoria técnica específica, pois há dificuldades (tendo em vista a falta
de instâncias de participação indicam que não sabem exatamente o que fazer).
O pouco tempo no cargo foi apontado pelos secretários como obstáculo
à efetividade na criação dos conselhos, nesse aspecto, o problema da
rotatividade de secretários persiste. O argumento de Bassi e Camargo (2010),
é que muito da inoperância dos conselhos (em geral) se deve aos estilos de
gestão tradicional e conservador preponderante em governos municipais. Os
dados da presente pesquisa indicam que esse fator influencia, mas nem
sempre é preponderante. A cultura política pode ter mais influência no estilo de
funcionamento dos conselhos. A falta de referências (exemplos) em termos de
“participação” é apontada como uma variável importante para impulsionar o
processo. Nesse sentido, os processos participativos nas escolas e no
município, envolvendo desde estudantes até pais e professores, é um caminho
possível para impulsionar esse aprendizado.
b) Planos Municipais de Educação
O Plano Municipal de Educação (PME) é uma realidade em quatro (dos
dez) municípios pesquisados. Eles foram regulamentados depois do PAR, o
que já se pode avaliar como influência concreta deste.
34
Fato digno de nota é a falta de registro sobre o processo de elaboração
do Plano, elencada por uma secretária para explicar porque não sabia quais as
estratégias que haviam sido usadas para elaboração do Plano. Ela ressaltou
que os técnicos da secretaria possuíam informações sobre o processo, mas o
fato é que não havia nenhuma documentação disponível ou de conhecimento
dela. O Plano existia e teve a participação de gestores (que mencionaram o
processo).
Houve grande confusão entre pais, professores e gestores quanto à
compreensão do que seja o Plano. As respostas eram discrepantes em relação
ao que era dito pelos secretários. Por exemplo, há municípios em que os
secretários afirmam que não há PME e os gestores os contestam (Presidente
Figueiredo; Iracema; Mucajaí e Brasiléia). Uma situação típica foi encontrada
em Bonfim e Sena Madureira, quando os pais entrevistados afirmam que
participaram da elaboração do PME, enquanto foi negado pelos secretários.
Para os professores e pais de Presidente Figueiredo também existe PME. Essa
confusão generalizada demonstra que não há uma informação unificada por
parte do conjunto dos segmentos. Isso indica que o Plano ainda não é
amplamente discutido na comunidade escolar.
Uma informação é relevante: nos municípios onde existe Conselho
Municipal, o Plano foi citado pelo secretário e há confirmação nas respostas de
pais e professores. Ainda mais, somente nestes municípios (Iranduba e Santa
Izabel) há professores que conhecem o Plano (PME). Em Santa Izabel todos
disseram que o município tem plano, em Iranduba, um terço dos entrevistados.
Mais do que a existência de um Plano, o processo de sua elaboração
define o grau de democratização da gestão local, assim, a realização de
reuniões com as escolas e a organização de Conferências Municipais, citado
por secretarias que elaboraram o plano (Santa Izabel; Epitaciolândia). Esse
conjunto de dados aponta para uma difusão do discurso democrático,
principalmente por serem práticas consideradas inovadoras. Outras atividades
tais como audiências públicas, a formação da equipe para mobilizar a
sociedade civil e a realização de diagnóstico da educação foram atividades
citadas apenas em Iranduba e Epitaciolândia.
35
Além do processo, também foi perguntado sobre quais atores
participaram de sua elaboração. Nesse aspecto, há unanimidade entre os
secretários em relação à participação dos seguintes segmentos: pais, alunos,
diretores, professores (e sindicato da categoria), diretores e representantes da
Câmara de Vereadores. Escolas privadas e sindicato de trabalhadores rurais
são citados somente em Santa Izabel. Escolas conveniadas só aparecem em
Epitaciolândia. Novamente em Iranduba e em Epitaciolândia, a informação dos
segmentos coincide em relação ao processo de participação na elaboração do
Plano: Conselhos Tutelar e Conselho do Fundeb. Em Santa Izabel e
Epitaciolândia é citada a participação da equipe técnica na elaboração do
plano. No Acre, segundo a secretaria de Epitaciolândia, o Plano foi elaborado
com orientação da secretaria estadual, que incluiu a realização de diagnóstico
(duas vezes por ano).
Os presidentes dos Conselhos de Santa Izabel e Iranduba afirmaram ter
participado da elaboração do Plano. O presidente do CME de Iranduba ainda
afirmou que houve reuniões com a comunidade, sobretudo nas áreas rurais e a
formação de comitê gestor.
Além da elaboração, o processo de acompanhamento da execução do
Plano é tema de fundamental importância para que este não se torne um mero
documento formal. Nos municípios onde há Conselho Municipal, os presidentes
afirmaram que têm acompanhado a execução do Plano por meio de reuniões
com a secretaria. Enquanto o CME de Iranduba monitora a obtenção das
metas, em Santa Izabel, o Plano é citado pelo presidente do Conselho como
realização desta instituição.
Os secretários, por sua vez, foram unânimes em citar a existência de
monitoramento da execução das metas. Novamente Iranduba e Epitaciolândia
assinalaram a maioria das opções oferecidas (reuniões com professores e
diretores). Fóruns de discussão somente em Epitaciolândia. Esse é um dos
indicadores que caracteriza um estilo de gestão, sobretudo em Iranduba, um
dos municípios que possui o conselho. O que na perspectiva de Ball, indica
uma interpretação que vem sendo dada à política. Nesse caso, pode se aludir a
um estilo de gestão mais democrático. Em Bujaru, também foi percebida essa
preocupação em democratizar a gestão, mas se tratava de uma gestão
36
recente. Foi o único município em que a secretária afirmou que fez reuniões da
equipe da secretaria para discussão do plano.
Da mesma forma que o Conselho, o PME é visto como uma ação de
difícil execução, devido à falta de experiência na área, por parte das gestões.
Inclusive, nos dois municípios nos quais há o Conselho Municipal, o Plano
existe e foi elaborado em processos participativos. As duas exceções estão no
Pará (Bujaru) e no Acre (Epitaciolândia), em que o Plano existia, mesmo sem o
conselho. Podemos inferir que o Conselho tem um papel crucial como instância
de controle e gestão. Sua existência tem provocado um diferencial na forma
como o planejamento é realizado e monitorado.
3.2 As escolas e a gestão democrática
a) Escolha de Diretores
Nos municípios pesquisados, de maneira geral, prevalece a prática da
“indicação de diretores” pela Secretaria Municipal de Educação, segundo
quase todos os secretários entrevistados (nove). Tal fato foi confirmado por
diretores e professores entrevistados, sendo exceção o município de Sena
Madureira/AC, no qual o Secretário afirmou que ocorria eleição direta,
informação que foi corroborada pelos outros atores.
Registrou-se ainda um processo distinto que ocorreu na única escola
com Ensino Fundamental na área urbana do município de Iracema/RR. Mesmo
o secretário tendo confirmando a “indicação política”, a comunidade escolar
afirmou que fez eleição direta. Segundo relatos, a equipe escolar e a
comunidade se juntaram para eleger uma antiga professora da escola
(segundo os pais e professores) e o secretario a nomeou. Essa prática
demonstra uma situação em que o discurso da gestão democrática teve mais
influência do que a decisão política da gestão, demonstrando como pode haver
inovações a partir de interpretações diferenciadas.
Esse contexto, marcado pela indicação de diretores, contraria os
princípios democráticos de participação postulados nos textos do MEC. É
37
sintomático constatar que uma das escolas estava sem direção, esperando a
indicação do prefeito.
Sabe-se que essa é uma forma que os políticos encontram para manter
relações poder de cunho patrimonialista e clientelista. A estratégia para
escolha, segundo os secretários, baseia-se na escolha de “pessoas que
tenham perfil para o cargo”. Constatou-se que essa prática está naturalizada a
ponto de não haver demonstração de interesse em modificá-la9.
b) Conselhos Escolares
O Conselho Escolar (CE) aparece como elemento fundamental no
debate sobre democratização da gestão (das escolas) representando um
vínculo entre os diferentes atores que compõem a comunidade escolar. Nesse
sentido, a concepção é de uma gestão colegiada, com participação de toda a
comunidade escolar, como aprendizado para a democracia e autonomia. A
realidade encontrada nos estados pesquisados, todavia, é distinta em cada
município.
Nos municípios do Acre e do Pará foi apontada a existência do conselho
escolar. Em Roraima quase não existe, embora exista um processo de
articulação. No estado do Amazonas, em Iranduba, a presença é mais
marcante do que em Presidente Figueiredo. Algumas singularidades podem ser
destacadas.
No discurso dos gestores escolares, em Epitaciolândia e Brasiléia, há
uma “grande preocupação da administração em manter vínculos entre a escola
e a comunidade”, com o objetivo de estabelecer “elos de pertencimento entre a
comunidade e a escola” que incluem desde reuniões de pais e alunos até feiras
de conhecimento e festividades. Destes, destaca-se o município de
Epitaciolândia, pois foi justamente nesse município que houve um processo
participativo na elaboração do Plano Municipal. Essa instância desempenha um
papel importante como a elaboração do Projeto Pedagógico, bem como no
9Vale ressaltar que foi encontrada a prática de eleição em uma escola indígena, da rede
estadual, no município do Cantá/RR.
38
acompanhamento dos indicadores educacionais, aprovação do plano
administrativo financeiro anual da escola e ainda na proposição de alternativas
administrativas e socioeducativas. Em Sena Madureira, existe maior dificuldade
de mobilização, nesse caso, tem sido utilizada a estratégia de mencionar o
Programa Bolsa Família para garantir a não só a frequência dos alunos, mas
também a presença dos pais nas reuniões.
No Pará, uma parcela dos entrevistados afirmou haver pouca
participação e problemas na execução prática das ações. Também houve
queixas sobre a falta de tempo para as reuniões. Segundo uma professora, as
reuniões que ocorrem na escola são somente entre a direção e os pais. A
mesma pessoa indicou que os professores estão sujeitos à perseguição caso
se coloquem contrários à direção10.
Em Roraima, destacou-se o município de Iracema, onde o secretário
apontou algumas estratégias para criação dos conselhos: capacitações do
MEC para os técnicos da secretaria, reuniões com as associações de pais e
mestres. No caso de Bonfim/RR, a estratégia tem sido participar das
“capacitações da Secretaria de Educação de Boa Vista” e do MEC, pois afirma
que a prefeitura tem dificuldades para executar essa ação.
Destaca-se que mesmo nos municípios onde não há os conselhos já
aparece no discurso dos gestores a “necessidade de criá-los”. E nos
municípios em que há conselho municipal os conselhos escolares são mais
reconhecidos pela comunidade escolar, como é o caso de Santa Izabel e
Iranduba. Os dados sugerem que o conselho escolar adquire um significado
diferenciado que lhe dá mais legitimidade em contextos onde o discurso da
democratização está mais presente.
Pode-se concluir que da mesma maneira que em relação ao Plano
Municipal de Educação, os conselhos escolares são mais fortes quando existe
conselho municipal. Esta vinculação confirma a tese de que a cultura política
democrática cria horizontes de participação em suas mais distintas formas.
10
O discurso da Professora mostra por um lado a quebra da “naturalização da dominação” já
que ela levantou a crítica às práticas autoritárias, por outro lado, demonstra a permanência
dessas práticas nas escolas. Tal fato é importante porque demonstra o “conflito” entre a lógica
tradicional autoritária e a lógica da democratização da participação dentro do campo escolar.
39
c) Projeto Político Pedagógico
Em termos de definição dos rumos da autonomia escolar, o Projeto
Político Pedagógico (PPP) é de grande relevância na gestão educacional.
Constatou-se que ele existe em quinze escolas das vinte pesquisadas. No caso
do Amazonas, há uma diferença entre os municípios, visto que em Presidente
Figueiredo não foram encontradas escolas com PPP.
Foi verificado que todos os diretores e a maior parte dos professores
participaram da elaboração do PPP. Do ponto de vista da gestão municipal, as
principais ações de incentivo ao PPP, desenvolvidas pelas secretarias, são a
assessoria pedagógica e capacitação dos coordenadores pedagógicos,
conforme afirmaram os secretários de educação de todos os municípios
pesquisados (de todos os Estados).
Também se constatou que tais projetos pedagógicos não têm sido
apenas criados formalmente, mas têm influenciado a prática docente. Em sua
maioria, apontaram que o PPP vem influenciando a realização do planejamento
escolar, a participação da comunidade, a avaliação do desempenho dos alunos
(segundo os diretores e professores do Acre e Pará). Os professores
apontaram, de forma unânime, que o PPP tem sido importante na definição dos
procedimentos e instrumento de avaliação escolar, no acompanhamento do
desempenho dos alunos e no planejamento escolar.
E, em alguns casos (especificamente em Brasiléia e Epitaciolândia, no
Acre), também na reflexão sobre a qualidade do trabalho da escola. Destoa
dessa avaliação o município de Sena Madureira-AC, cujos professores
disseram que não há influência na escolha e organização dos instrumentos de
avaliação dos alunos.
O Amazonas foi o único estado pesquisado onde diretores e professores
(de duas escolas) não souberam responder sobre a influência do PPP nas
práticas pedagógicas.
Em Roraima chama atenção o fato de que o PPP só existe em Bonfim,
dos três pesquisados, segundo a direção (das escolas). De acordo com uma
coordenadora pedagógica de Bonfim/RR e uma professora de Mucajaí/RR, a
40
secretaria municipal de educação procura fazer reuniões para contornar as
dificuldades, mas não consegue reunir todos os atores para se envolver no
processo.
d) Participação no Plano de Desenvolvimento da Escola
Segundo os secretários municipais de educação, todos os municípios
pesquisados aderiram ao Plano de Desenvolvimento da Escola, mais
conhecido como PDE- Escola. O referido plano existe na grande maioria das
escolas (13 das 18, segundo suas direções). Apesar de existir em menor
quantidade em relação ao PPP, vale ressaltar que PDE-Escola foi encontrado
em escolas em que o PPP não existe.
Para os diretores, os recursos (do PDE-Escola) se destinam à melhoria
de infraestrutura, à aquisição de equipamentos e material didático, à formação
continuada e à promoção de eventos. Mais da metade dos professores
entrevistados participaram (15 de 29) na sua elaboração e desses, a grande
maioria participou da sua execução e planejamento. Não foi citada a
participação de pais e muito menos de alunos na sua elaboração.
Outra informação relevante veio de uma diretora de Sena Madureira/AC:
a escola teria deixado de receber os recursos do PDE, em 2009, porque atingiu
os índices do MEC. Porém esses recursos têm provocado uma lacuna no
orçamento, justamente pelo fato de assegurar maior autonomia financeira à
escola, propiciando ações para a sua manutenção e execução de obras e
reformas. Com esses recursos ela conseguiu construir rampas, instalar um
laboratório de informática e fazer reformas estruturais para atender a um maior
número de crianças.
Em todas as secretarias municipais é comum a prática de capacitar as
equipes escolares para a elaboração do referido Plano. Em relação ao
acompanhamento do PDE-Escola, ele se dá na maioria dos estados via
internet, mas também ocorrem por meio de reuniões com diretores e análise de
prestação de contas. Em alguns municípios, como em Bujaru/PA, o Secretário
afirmou que o acompanhamento era feito pelo técnico. Em Bonfim/RR, por sua
41
vez, é o chefe de gabinete que acompanha. Conclui-se que cada secretaria
municipal estabelece uma forma própria de acompanhamento das ações do
PDE-Escola.
3.3 Relação da escola com a comunidade
Em todos os municípios pesquisados, foi encontrado o discurso sobre a
“importância da participação dos pais”. Provavelmente esse discurso já está se
tornando consensual entre os agentes que atuam na gestão (municipal e
escolar), conformando assim o que Ball chama de ciclo de políticas. Desde o
governo central até os executores da política há uma “concordância” sobre
esse princípio. Os textos atuais do MEC, sobretudo no PAR, ao que tudo
indica, têm contribuído para indução de tais práticas.
Sendo assim, quase todos os gestores afirmaram que convocavam
reuniões com os pais. Inclusive, uma diretora do Estado do Acre afirmou fazer
um trabalho constante tentando criar “elos de pertencimento entre a
comunidade e a escola”. A presença dos pais é mais comum em reuniões, feira
de Ciências e festividades da escola. Também se percebe que os pais
procuram a escola quando existe algum problema específico, tal como o
relacionamento entre professores e alunos.
No entanto, em quase todos os municípios, os pais entrevistados, em
sua maioria, não participam das instâncias formais de tomadas de decisões,
como os conselhos. O único município em que a maioria dos pais entrevistados
afirmou participar do Conselho Escolar foi Epitaciolândia/Acre.
Segundo os pais, os assuntos tratados nas reuniões geralmente são o
calendário escolar, regras da escola, comportamento, festividades, avaliação
do desempenho, dificuldade de aprendizagem. Já os assuntos mencionados
pela escola são: notas, calendário de prova e período de recuperação. É
mencionada em menor escala, a informação sobre os assuntos das provas.
Em relação à participação dos alunos na escola, é ainda mais incipiente
que a dos pais, e praticamente não aparece nos discursos dos agentes
escolares, o que mostra que essa lógica ainda não está internalizada pelos
agentes. A maioria dos alunos entrevistados desconhece os mecanismos de
42
participação da escola, e não sabem da existência do Conselho Escolar
(especificamente 30 alunos de um total de 51).
Pode-se concluir que há um processo, em curso, de expansão do
discurso do planejamento e gestão democrática que articula conselhos e
planos municipais de educação. Ainda não há, no entanto, generalização de
tais práticas, devido a dificuldades de compreensão da sua utilidade, bem
como dos procedimentos para fazê-lo.
44
Introdução
A centralidade do papel exercido pelos “profissionais do magistério”11 na
melhoria da qualidade do ensino teve amplo reconhecimento da Conferência
Brasileira de Educação de 2010, que, nesse sentido, advoga a “garantia de um
padrão de qualidade na formação dos/das que atuam na educação básica e
superior” (CONAE 2010, p.78).
Por outro lado, constitui consenso, no campo da educação, a adoção de
uma política nacional de formação dos professores associada à sua
valorização profissional, no sentido de garantir também um plano de carreira e
remuneração compatíveis com a importância da função, ou seja, que
contemple tanto uma jornada de trabalho adequada como uma remuneração
condigna.
Vale ressaltar que a política nacional da educação, ao longo do período
de 2008-2009, respondeu a essas questões instituindo a Política Nacional de
Formação e Valorização dos/das Profissionais da Educação (Decreto nº 6.755,
de 29 de janeiro de 2009) e o piso salarial profissional nacional para os
profissionais do magistério público da educação básica (Lei nº 11.738 de 17 de
julho de 2008).
A situação identificada pela pesquisa em relação ao tema deve ser vista,
portanto, com base nesse novo cenário apontado pelas políticas nacionais em
curso.
4.1. Perfil dos Professores
Os 37 professores entrevistados têm entre 30 e 47 anos, tendo o mais
novo 26 anos (professor de Bonfim-RR) e o mais velho, 54 anos (professor de
Iranduba-Pa). No total, 26 são mulheres e 11 homens.
11
Ver p. 7 do Documento Final da CONAE, 2010: “Vale notar, ainda que, no contexto dos
profissionais da educação, são classificados como profissionais do magistério os/as docentes
que atuam diretamente no ensino e que devem ser habilitados para tal, como condição para
ingresso na carreira profissional”.
45
Em relação às condições de trabalho, apenas quatro não ingressaram
por concurso público. A maioria deles não tem vínculo com outra rede (pública
ou privada). Entre os que lecionam em outras escolas, a rede estadual é a mais
citada. Há casos de professores que trabalham em mais de um município,
muito embora a maioria more na área urbana, próximo às escolas.
Vale destacar que há professores que, embora trabalhem no núcleo
urbano, moram na área rural das cidades. Muito embora essa quantidade não
seja significativa, demonstra as condições a que podem estar sujeitos por não
disporem de incentivos em relação à dedicação exclusiva. Essa proposta tem
sido amplamente discutida no atual ciclo de políticas, e esteve presente na
Conae (2010), como uma das sugestões apresentadas para melhorar as
condições de trabalho dos docentes da educação básica.
Em relação à formação, dos 37 entrevistados, ainda foram encontrados
7 professores que concluíram somente o ensino médio; entre os demais, 16
possuem graduação e 14 professores possuem especialização (a maioria, em
gestão escolar). Apenas um professor (do município de Santa Izabel do Pará-
PA) possui mestrado. A maioria é formada na área de humanas, mas, no
município de Presidente Figueiredo, existem mais professores formados na
área de exatas e um único professor formado em Letras/inglês. Essa
informação demonstra o interesse dos profissionais pela formação. O fato de
terem obtido o título de especialistas está vinculado à grande oferta desse tipo
de curso em todo o país.
Nesse contexto, as prefeituras têm adotado diversas medidas de
incentivo à participação em cursos, sendo maior a ênfase aos cursos de
graduação em detrimento da pós-graduação. Para estes é mais comum a
política de liberação parcial de suas atividades. Ainda assim, existe uma
parcela deles (em torno de um terço dos professores) que não possui
informação sobre a existência desses incentivos.
Vale ressaltar que tais incentivos abrangem não apenas os professores,
mas é extensivo a outras pessoas e, geralmente, ocorrem em municípios que
não dispõem de Instituições de Ensino Superior. Nesse caso, foi possível
identificar que as prefeituras concedem incentivos que vão desde transporte
até o financiamento de curso. Este último pode ser considerado diferenciado
46
porque ocorre apenas no Estado do Amazonas. Nos municípios deste estado
há maior gama de incentivos (desde material didático até acesso à internet
para cursos à distância). Nos outros estados, há discrepâncias entre os
municípios, podendo-se destacar dois tipos extremos: os que oferecem um
amplo leque de formas de apoio e aqueles que disponibilizam uma ou duas
opções (de apoio). Destacam-se os municípios de Bujaru-PA e Sena
Madureira-AC que fizeram convênio com instituições ensino superior públicas.
Em contextos de pequenas cidades, as iniciativas como auxílio para
moradia e transporte são importantes quando há necessidade de deslocamento
para obter formação. Por outro lado, convênios com Instituições de Ensino
Superior, acesso à internet ou ainda cessão de salas para cursos são práticas
que tem facilitado esses processos de formação.
Essa busca por formação também pode estar relacionada com a
definição dos planos de carreira. Nesse ponto, uma informação positiva é que
os planos de cargo e carreira já são uma realidade em todos os municípios,
pelo menos em termos formais. Alguns professores, no entanto, reclamaram a
falta de cumprimento ou da morosidade para implantá-los, sobretudo no que
diz respeito ao estabelecimento de processo de ascensão por titulação, apesar
de já constar dos textos oficiais. Também se destaca o fato de todos os planos
já contemplarem o ingresso por concurso público para a carreira docente.
Alguns aspectos recebem menos destaque nos PCC, tais como: 1) o direito à
licença remunerada para curso (graduação ou pós-graduação); 2) a adequação
entre a formação do docente e as disciplinas ministradas; 3) a formação
continuada.
4.2 Formação continuada dos professores
Embora a formação continuada não esteja nos planos de carreira, ela
tem se tornado uma prática cada vez mais comum, apenas em Brasiléia/AC
não aconteceu esta ação. Também é positivo o fato de sete municípios (do
total de dez) possuírem um setor responsável pela formação continuada dos
professores. O maior número de professores indicou que a atividade de
formação foi organizada pela secretaria municipal de educação.
47
No que tange à articulação entre as redes, as secretarias municipais têm
buscado parcerias com as secretarias estaduais de educação para atividades
de formação continuada (presente em quase todos os municípios).
Também está presente a articulação com as instituições de ensino
superior, sobretudo as públicas. Elas não estão presentes nas respostas dos
professores do Acre e do município de Mucajaí, em Roraima. No caso do Acre,
houve cursos de aperfeiçoamento promovidos por instituições privadas. Em
menor proporção, a escola foi citada como organizadora da formação
continuada presencial (em Roraima e em um município do Amazonas).
Em que pese o investimento em informática e nas plataformas de ensino
a distância essa modalidade está presente em menor quantidade em relação à
modalidade presencial. De um total de 37 professores entrevistados, 30
participaram da formação presencial enquanto e 14 tiveram acesso à formação
a distância. Embora esses números não sejam estatisticamente significativos,
eles expressam, em certa medida, condições materiais e institucionais
existentes nos municípios.
Naturalmente, a existência dos processos per si não garante sua
qualidade e sua eficiência em termos práticos, na visão dos professores. De
uma forma geral, os processos de formação continuada, seja presencial seja a
distância, têm sido aprovados pelos professores, que identificam influências
positivas destes em sua prática pedagógica. A influência é menor nos temas
referentes ao uso de recursos tecnológicos e de bibliotecas.
As dificuldades giram em torno da relação entre o conteúdo oferecido e
as necessidades, cada vez mais complexas, que exigem dos professores uma
formação multidisciplinar. Um exemplo é o caso da formação em Educação
Especial, em que muito embora quase todos tenham recebido formação em
Educação Especial (exceto os entrevistados no município de Bonfim/RR), uma
parte dos professores assinala que essas formações ainda não atendem de
maneira satisfatória à prática (da assistência aos alunos com necessidades
especiais).
Essa informação corrobora os resultados de pesquisas analisadas por
Adriana Duarte (2011), em que identifica as mudanças no trabalho docente,
entre outros aspectos no tocante à heterogeneidade sociocultural do público
48
atendido atualmente pela educação pública, frente a uma instituição pensada
em função da uniformização. Os professores se sentem pouco preparados para
enfrentar questões que historicamente não estavam presentes na sala de aula.
Nesse contexto, os programas de formação tentam abarcar temáticas
específicas em relação às questões culturais que tangem à formação da
população brasileira. Segundo os professores, nas formações específicas há
mais conteúdos relacionados à educação indígena, embora também seja
mencionada a educação para comunidades quilombolas, nas cidades com este
tipo de escola.
Foi identificada uma parcela (um terço) dos professores que recebeu
formação sobre história e cultura afro-brasileira. Os alunos, por sua vez,
também apontaram que os conteúdos sobre as culturas indígenas estão mais
presente em seus livros (53 deles afirmaram) em comparação com temas
relativos aos quilombos (45 respostas) e história da África (35 alunos).
Curiosamente, nas respostas dos 63 alunos entrevistados, é maior a discussão
sobre o preconceito em relação aos negros (37 alunos) em detrimento do
preconceito em relação aos indígenas (25 alunos). Essa informação é positiva
se for levado em consideração todo o esforço ideológico construído em torno
da miscigenação em que se tentou construir a (falsa) ideia de que não existe o
preconceito entre negros e brancos, a famosa democracia racial, defendida por
Gilberto Freyre (ORTIZ, 1985).
Por fim, em termos de mudanças, observou-se que, em alguns
municípios, foram criados espaços específicos e datas regulares para formação
continuada. De uma forma geral, esta prática ainda é considerada uma
novidade em determinadas localidades e, como todo processo de mudança,
esse aspecto provoca transformações e impactos na cultura organizacional, o
que não ocorre sem obstáculos e contradições.
49
Considerações Finais
O primeiro ponto a ser ressaltado é o desafio de pesquisar a região
Norte para aqueles que não tiverem experiência prévia. Foi possível superar
esse óbice por meio de uma escolha metodológica que possibilitou esse
conhecimento, em certo sentido, exploratório. Para a equipe da pesquisa foi de
suma importância o trabalho não apenas como forma de aproximação da
região, mas também pela riqueza dos resultados obtidos. E, dessa forma,
concluímos com êxito a pesquisa de Avaliação do Plano de Ações Articuladas.
Os resultados aqui apresentados mostram semelhanças e diferenças
com o que foi visto na região Nordeste. E, alguns pontos, merecem destaque e
serão retomados de forma sintética.
1) Investimento em Infraestrutura
Conforme observado na presente pesquisa (considerando este relatório
e os anteriores) persistem problemas relativos à infraestrutura das escolas.
Alguns aspectos são os mais desafiadores: as instalações físicas em geral e os
equipamentos necessários às práticas pedagógicas. Sendo assim, o
investimento em melhoria da infraestrutura mesmo tendo aumentado ao longo
dos anos, ainda é insuficiente (ou aplicado de maneira inadequada).
Ventilação, mobiliário, instalações sanitárias e congêneres são itens a serem
considerados prioritários. Nesse aspecto, o aumento da oferta e a melhoria das
condições do transporte escolar já demonstram ter produzido impacto positivo
no funcionamento das escolas, sobretudo no campo.
Instalações imprescindíveis à qualidade ainda são ausentes, tais como
áreas de lazer e esporte, pátios e quadras cobertas. Também não se verificou
existência de hortas, mesmo em casos em que as escolas possuíam terrenos
baldios. Espaços indispensáveis como laboratórios de ciências e bibliotecas
também inexistem ou são subutilizados.
50
No caso das bibliotecas, também ainda não estão presentes de forma
significativa, mas a política de criação e manutenção de bibliotecas municipais
tem sido aproveitada pelos alunos, nos municípios de pequeno porte.
No tocante aos laboratórios de ciências sua importância reside na
necessidade de investimento na formação dos saberes relativos às ciências
exatas e da natureza. A existência de tais laboratórios pode ser encarada como
uma política de incentivo à formação de profissionais nessas áreas, como parte
da estratégia de um projeto de nação desenvolvida, sobretudo quando se tem
uma carência generalizada, apontada pelos especialistas.
Uma grande oportunidade que tem sido propiciada pelo governo federal,
em parceria com os municipais, é disponibilidade de equipamentos de
informática. Em algumas localidades eles têm propiciado práticas
diferenciadas, como uma praça com acesso à rede. Esses equipamentos
também poderiam ser mais bem utilizados nas práticas pedagógicas e,
inclusive, para preencher as lacunas dos outros laboratórios, por meio de
pesquisas. O desafio é a manutenção de tais equipamentos e a formação que
deve ser dada aos professores para melhor aproveitar essa oportunidade.
2) Planejamento e democratização da gestão
Os secretários ressaltaram a importância do reforço que deve ser dado
às assessorias especializadas e ao investimento em formação. Alguns pontos
foram mais citados, quais sejam:
a) Planejamento e gestão
Devido às dificuldades encontradas pelos técnicos, esse tema deve
ser reforçado, sobretudo as formas de operacionalização e
concepções sobre políticas educacionais e suas especificidades, com
ênfase no Plano Municipal de Educação para que este não se torne
apenas um documento formal sem utilidade prática. Reforça-se o
argumento de definições de uma equipe mínima, bem como o reforço
à necessidade de ingresso por concurso público para os técnicos das
51
secretarias. Cabe reforçar a política de formação de dirigentes, tais
como o Pradime, bem como a política de formação para os técnicos.
Essa defesa está embasada nas observações em campo, onde se
pode constatar que técnicos das secretarias assumiram as funções
do gestor, além serem detentores da memória “institucional”.
b) Democratização da gestão
Nesse contexto, deve-se incluir como temática específica, o incentivo
à participação dos alunos, compreendida como parte de sua
formação enquanto cidadãos. Já se constata a participação dos pais
em reuniões e ações promovidas pela escola. Segundo os gestores
municipais, a falta de experiência nessa temática requer formações e
assessoria específicas que forneçam o máximo de detalhamento,
conforme requisitaram os gestores (municipais e escolares). Os
estudiosos da área sugerem ainda que sejam acrescentadas horas
remuneradas para realização de reuniões sistemáticas, inclusive dos
órgãos colegiados (sem prejuízo dos horários de planejamento de
aulas) para que se ofereçam condições de trabalho para realização
de atividades desse tipo (DUARTE, 2011). No caso específico da
eleição de gestores escolares como forma de escolha, o desafio
parece maior devido ao fato de não ter sido questionada pelos atores
sociais, o que indica sua ausência no universo dos discursos e
práticas institucionalizadas. A indicação política é totalmente
naturalizada indicando que, nesse quesito, o investimento deve ser
aumentado caso se tenha o objetivo de criar, em longo prazo, uma
cultura democrática.
c) A concepção de educação integral
O Programa Mais Educação tem despertado o interesse dos
gestores, e, por isso, precisam ser ainda mais reforçados tendo em
vista sua importância, conforme as metas discutidas na Conferência
Nacional de Educação, previstas também na LDB e no Plano
Nacional.
52
3) Valorização da carreira do magistério
A discussão sobre a importância da efetividade do Plano de Carreira e
do Piso Salarial não pode ser restrita aos debates acadêmicos e sindicais,
principalmente porque a reivindicação dos diversos atores é que os técnicos
das secretarias e gestores devam ser inseridos e sensibilizados no sentido de
tornar efetivas medidas para a execução dos Planos de Carreira. Nesse
ínterim, chamou a atenção a existência de documentos como Plano de Carreira
e Plano Municipal de Educação, e, ao mesmo tempo, o desafio de colocá-los
em prática, reforçando o que já acontece com outros instrumentos de gestão (e
legislação), como parte de nossa cultura política que preza o formalismo em
detrimento da prática12.
Nessa dimensão, a formação dos profissionais de educação aparece
como uma oportunidade que tem sido aproveitada pelas secretarias, em
parceria com as redes estaduais. O desafio, contudo, é disseminar essa ação
de parceria para que outros municípios (que ainda não estejam implementando
a política) possam tentar aproveitar essa possibilidade. Além disso, devido ao
fato de os dados demonstrarem que essas formações têm influência positiva na
prática docente, deve-se socializar essa informação para incentivar as
secretarias em que já existe, e criar essa cultura onde ainda não existe. Os
professores sugerem que haja processos de avaliação dessas atividades,
tendo em vista que foram encontrados professores que acreditaram ser a
formação dada pelo município ainda incipiente e de pouca valia para sua
prática. Em muitas das instituições, porém, os profissionais (da educação)
alegaram não possuir nenhum tipo de capacitação para trabalhar com pessoas
com deficiência.
De uma forma geral, gestores municipais e comunidades escolares
também poderiam ser contemplados com formações específicas sobre as
12
Ainda persiste no Brasil cultura do que ficou conhecido com a lei “para inglês ver” que se
referia à lei do ventre livre.
53
condições sociais, políticas e econômicas, sobretudo no que tange às
desigualdades sociais e sua relação com a educação. As mudanças no perfil
do corpo discente e a heterogeneidade sociocultural muitas vezes são
aspectos incompreendidos pelos profissionais da educação (DUARTE, 2011).
Persiste o discurso da “educação como matéria de salvação nacional”
segundo o qual a escola tem uma missão de resolver os problemas que as
sociedades e as famílias não conseguem. Sendo assim, o conhecimento
acerca de dados da realidade pode, muitas vezes, gerar maior compreensão
acerca da educação e das suas limitações diante de problemas sociais mais
amplos, bem como das possibilidades que ela oferece em termos de
mobilidade social.
A principal constatação da pesquisa, como um todo, é que o Plano de
Ações Articuladas tem cumprido seu papel de ser um instrumento de
planejamento e gestão, tendo sido incorporado de diferentes maneiras que
estão relacionados com as interpretações dadas nos diferentes contextos,
atravessados por condições materiais e políticas. Pode-se falar de um
momento de transição para uma política de estado, incluindo um sistema
nacional articulado. Sendo assim, no atual contexto da política já foram
produzidos alguns consensos sobre patamares mínimos de qualidade, como os
que estão presentes no novo Plano Nacional de Educação. Mesmo que nem
tudo tenha se materializado em práticas concretas já se mudou o patamar do
ideal a ser perseguido. Naturalmente, essas mudanças convivem com práticas
antigas e sedimentadas, por isso, a ideia de transição pode ser uma imagem
para definir melhor esse contexto.
54
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ANEXO RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS E DAS ESCOLAS DA AMOSTRA Região NORTE UNIVERSO DA PESQUISA - 2010
Estados Municipios Escolas Alunos Pais Professores Gestores TOTAL
Acre Brasiléia Escola Valério Bispo Sabala
2 2 2 1 7
Escola José Rui da Silveira Lima
2 2 2 1 7
Epitaciolândia Escola Raimundo Cunha Aires
2 2 2 1 7
Sena Madureira
Escola Raimundo Hermínio de Mello
1 1 2 1 5
Escola Euclides Feitosa Cavalcante
2 2 2 1 7
Total Acre 9 9 10 5 33
Amazonas Presidente Figueiredo
Escola Engenheiro Nelson Dornelas
4 4 2 1 11
Escola São Miguel
4 4 2 1 11
Escola Municipal de Balbina
4 4 2 1 11
Iranduba Escola Ana Barbosa de Castro
4 4 2 1 11
Escola Creuza Abess Farah
4 4 2 1 11
Escola Professora Ervila Souza de Assis
4 4 2 1 11
Total Amazonas 24 24 12 6 66
Pará Santa Izabel do Pará
Escola Agrícola Maurício Machado
1 1 0 1 3
Escola Antônio Lemos
2 2 2 1 7
Escola 2 0 2 1 5
59
Francisca Felix de Souza
Escola Municipal Joaquim Silva
2 2 2 1 7
Bujaru Escola Isabel Braga de Souza
1 1 2 1 5
Escola Dom Ângelo Frosi
2 2 2 1 7
Total Pará 10 8 10 6 34
Roraima Iracema Escola Municipal Giovanei Souza dos Santos
2 2 2 1 6
Bonfim Escola Maciel Ribeiro Vicente da Silva
4 4 1 1 10
Mucajaí Escola Jesus de Nazaré
2 2 2 1 7
Total Roraima
8 8 5 3 24
REGIÃO NORTE
51 49 37 20 157