2011 - a introduÇÃo ao direito nos cursos jurÍdicos

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FACULDADE DE DIREITO DE FRANCA A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS NATUREZA DE SEU OBJETO IMPORTÂNCIA FINALIDADES ASPECTOS HISTÓRICOS ASPECTOS NORMATIVOS 1

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FACULDADE DE DIREITO DE FRANCA

A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS

NATUREZA DE SEU OBJETO

IMPORTÂNCIA

FINALIDADES

ASPECTOS HISTÓRICOS

ASPECTOS NORMATIVOS

ASPECTOS PEDAGÓGICOS.

2011

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A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS: NATUREZA, IMPORTÂNCIA, FINALIDADES, ASPECTOS HISTÓRICOS, NORMATIVOS E PEDAGÓGICOS.

1. NATUREZA DO OBJETO DA INTRODUÇÃO AO DIREITO

1.1. CARÁTER ENCICLOPÉDICOA Introdução ao Direito não é uma ciência específica, mas uma disciplina de

caráter enciclopédico, pois, apresenta conhecimentos científicos de natureza jurídica, sociológica, histórica, psicológica etc., conhecimentos filosóficos, envolvendo também, aspectos técnicos e artísticos, que introduzem o aluno no mundo da ciência jurídica. Não possui, no dizer de Maria Helena Diniz, “um prisma próprio para contemplar o direito, fazendo as vezes de filosofia jurídica, quando procura expor os conceitos universais do direito, que constituem os pressupostos necessários de quaisquer fenômenos jurídicos; de dogmática jurídica, quando discute normas vigentes em certo tempo e lugar e aborda os problemas da aplicação jurídica; de sociologia jurídica, quando analisa os fatos sociais que exercem influência na seara jurídica, por intervirem na gênese e desenvolvimento do direito; de história jurídica, quando contempla o direito em sua dimensão temporal, considerando-o como um dado histórico-evolutivo que se desenrola através dos tempos; de psicologia jurídica ou forense, quando coloca à disposição do jurista e do aplicador valiosos estudos sobre a natureza do comportamento humano, abordando problemas da psicologia normal e patológica; de política jurídica, quando estuda a organização do Estado, envolvendo a origem, a função e a atividade do Estado desenvolvida para a tingir os fins da coletividade. ” Não apresenta, portanto, um campo autônomo e próprio de pesquisa, carecendo de objeto e método próprios, não sendo, pois uma ciência na verdadeira acepção da palavra.

Em entrevista ao Jornal do Advogado, publicada em agosto de 2001, o advogado criminalista Waldir Troncoso Peres, já falecido, assim definiu a advocacia, realçando seus aspectos artísticos e técnicos: “a advocacia é a conjunção de uma sensibilidade estética, de uma capacidade de ser artista, de ter a eloqüência e a força do artista, além do conhecimento técnico”. Entendemos que tal opinião também se aplica aos demais operadores do Direito e realça os aspectos técnicos e artísticos, que envolvem a ciência jurídica.

1.2. CARÁTER PROPEDÊUTICOA Introdução ao Direito é um sistema de conhecimentos essencialmente

propedêutico ao ensino dos vários ramos do saber jurídico, introduzindo gradativamente o aluno egresso do Ensino Médio (antigo 2ºGrau), no mundo jurídico que se inicia no primeiro ano do Curso de Direito. Cabe ao professor desta disciplina, no dizer de Miguel Reale, compor artisticamente os dados dos diferentes ramos do saber, formando um todo organizado e unificado, atendendo a um objetivo de natureza pedagógica, ou seja, à unidade deste sistema de conhecimentos, logicamente ordenados.

1.3. CARÁTER EPISTEMOLÓGICOEsse sistema de conhecimentos, recebido de múltiplas fontes de informação,

compõe uma disciplina que além de apresentar caráter enciclopédico e propedêutico é também epistemo1ógica, por fornecer aos interessados uma visão sintética da ciência jurídica, por estudar sistematicamente:

a) o que é o Direito, definir e delimitar com precisão os conceitos jurídicos fundamentais utilizados pelos operadores técnicos do Direito;

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b) os pressupostos, objeto, método, natureza, etapas, limites e validade do conhecimento jurídico-científico, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível;

c) a evolução das escolas científico-jurídicas que predominaram na história, familiarizando o estudante com as correntes fundamentais do pensamento jurídico;

d) a verificação das relações do Direito com as demais ciências, ou seja, sua situação no quadro geral do conhecimento.

O vocábulo “epistemologia” advém do grego epistême que significa ciência e logos, ou seja, estudo, teoria. Assim, etimologicamente falando, Epistemologia significa teoria da ciência vista sob o prisma filosófico.

Lalande definia Epistemologia como “o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados de cada ciência”, esclarecendo que tal palavra é freqüentemente empregada para designar toda a “Teoria do Conhecimento” ou “Gnosiologia”.

A Epistemologia Jurídica nos informa que tanto na linguagem comum como na linguagem técnica, o vocábulo “direito” é empregado com significações diferentes, como demonstra as seguintes expressões:

a) O estudo do Direito requer método próprio – nesta expressão, direito significa ciência e o estudo filosófico dessa disciplina científica (ciência jurídica) é um estudo epistemológico. Como vimos, epistemologia é um termo de origem grega - epístême (ciência) e logos (teoria/estudo), que etimologicamente significa “teoria ou estudo da ciência”. Vimos anteriormente o sentido e o alcance deste termo.

Segundo a civilista Maria Helena Diniz, “a fundamentação filosófica da ciência, é tarefa da filosofia da ciência, ou seja, da epistemologia. Nenhum ramo da ciência pode viver sem filosofia, pois é nela que o cientista vai buscar as linhas mestras que orientam e norteiam o saber científico. Todas as ciências estão em estreito contato com a filosofia, uma vez que possuem princípios gerais, axiomas, supostos que não entram no objeto que investigam, daí a necessidade de uma consideração filosófica que permita justificá-los. Dentro desse teor de idéias, parece-nos útil salientar que uma explicação científica não é filosófica e vice-versa. Os problemas científicos não são idênticos aos da filosofia. Deveras, o encadeamento dos fenômenos, como a ciência os visa descobrir, deixa intacta a questão da natureza profunda do seu objeto, de seu método, de seus pressupostos. Uma explicação crítica sobre o conhecimento de seu método, de seu objeto de estudo, de seus pressupostos ou postulados não nos saberia dar a ciência. Tudo isso, portanto, é tarefa da teoria da ciência, ou seja, da epistemologia”.

Não confundir também filosofia ou ciência com doxa (do grego dóksa: opinião, juízo), conjunto de juízos que a sociedade elabora em um determinado momento histórico supondo tratar-se de uma verdade óbvia ou evidência natural, mas que para a filosofia não passa de crença ingênua, a ser superada para a obtenção do verdadeiro conhecimento. Segundo Leibniz (1646-1716), Doxologia se refere a uma compreensão meramente superficial da realidade, já que se restringe a uma reprodução irrefletida de sua aparência, como por exemplo, digo que o sol nasce ou se põe, a despeito da teoria de Copérnico.

b) A educação é direito da criança – aqui “direito” significa o “que é devido por justiça”, ou quando afirmo que “não é direito condenar um anormal”, estou querendo dizer que condenar um anormal não está de conformidade com a justiça.

O estudo do Direito como justo ou valor, pertence ao campo da Axiologia Jurídica (do grego axis: precioso, valioso e logos: estudo, teoria), significando Teoria Crítica dos Valores Jurídicos. Frederico Nietzsche (1844-1900) cunhou e fez circular na linguagem filosófica o termo “valor”. Na acepção de direito com justo, como vimos, distinguimos dois sentidos, ambos relacionados com o conceito de direito como justiça: a) direito designando o bem

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devido por justiça – Ex: O salário é direito do trabalhador (o salário é devido por justiça). Nesse sentido, o respeito à vida é devido a todo homem, o pagamento é devido ao vendedor, a aposentadoria é devida ao empregado, o imposto é devido ao Estado.

A definição de Santo Tomás de Aquino (1225-274), extraída de sua obra De Justitia se refere a esse sentido: “o direito é o que é devido a outrem, segundo uma igualdade”. Também se filia a esse sentido, o famoso conceito de Ulpiano (150-228), constante do Digesto, parte integrante do Corpus Iuris Civilis - trabalho legislativo de recompilação e reorganização das leis romanas, confiado a um colegiado de dez juristas dirigido por Triboniano, empreendido por Justiniano (Imperador Romano do Oriente – 483-565): “Justiça é a vontade constante e perpétua de dar a cada um o seu direito”. “Justitia est constans et perpétua voluntas jus suum cuique tribuendi”; b) direito com o significado de “conformidade com a justiça” – Ex: Não é direito discriminar os índios, condenar um anormal Nesta expressão verbal quero dizer que discriminar os índios ou condenr um anormal “não é conforme a justiça”.

Na definição de Liberatore, encontramos o direito com o significado ”de conformidade com a justiça”: “direito é tudo o que é reto, na ordem dos costumes”.

c) O direito não permite o duelo (3ª expressão) – na 3ª expressão apresentada, direito significa norma, lei, regra social obrigatória e tal estudo pertence ao campo da Dogmática Jurídica, que muitos autores denominam de “Direito Objetivo” em oposição ao “Direito Subjetivo” ou “direito-faculdade”, que é sempre uma prerrogativa do sujeito (subjectum), denominação imprópria, porque outras acepções do direito como justo ou fato social, são também objetivas e não apenas a lei.

Várias definições referem-se à acepção do Direito como lei e dentre elas, citamos a de Clóvis Beviláqua, que em sua Teoria Geral do Direito Civil, conceitua o Direito como: “uma regra social obrigatória”, a de Ihering, que considera o Direito como: “um conjunto de normas coativamente garantidas pelo poder público”ou a de Radbruch, que define o Direito como “o conjunto de normas gerais e positivas, que regulam a vida social dos indivíduos”.

Direito nesta acepção de norma ou lei, indica realidades diferentes, quando se refere ao Direito Positivo e ao Direito Natural; Direito Estatal e Direito não estatal; Direito Público, Direito Privado e Direito Misto.

Direito Positivo – constituído pelo conjunto de normas jurídicas (legais e consuetudinárias) vigentes, elaboradas por uma determinada sociedade, num espaço de tempo, para reger a sua vida interna, impondo às pessoas naturais ou jurídicas, através da força pública ou social, coação ou sanção.

Podemos conceituar o Direito Positivo como o direito efetivamente observado em uma comunidade, ou seja, o direito efetivamente aplicado pelas autoridades do Estado e pelas organizações internacionais, seja na forma legislada e voluntária, seja na consuetudinária, inconsciente e indeterminada, sem autoria, paternidade.

No dizer de Paulo Dourado de Gusmão, melhor precisando sua conceituação, é o “direito histórica e objetivamente estabelecido, efetivamente observado, ou então, passível de ser imposto coercitivamente”, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, resoluções, regulamentos, decretos, decisões dos tribunais, etc, cuja existência não é contestada por ninguém, segundo Ripert.

Maria Helena Diniz define o Direito Positivo como o conjunto de normas estabelecidas e garantidas pelo poder político que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada época.

O sentido que se dá ao termo positivo não é o de valor, mas sim o de existência material, isto é, o direito materialmente existente, regulando as relações intersubjetivas de natureza jurídica de um determinado povo, numa determinada época. É o direito que o Estado aplica, garante e confere coercibilidade.

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O Direito Positivo tem uma dimensão temporal, pois é promulgado, tem vigência a partir de determinado momento histórico, perdendo-a quando revogado e reflete valores, necessidades e ideais de seu tempo. Tem uma dimensão espacial ou territorial, pois vige e tem eficácia em determinado espaço geográfico próprio da autoridade que o estabelece, reconhece ou o apóia, sendo também possível a eficácia extraterritorial. Tem também uma dimensão formal, pois é instituído por meio de fonte formal (tratado, lei, decreto-lei, costume, precedente judicial, regulamento, etc), obedecendo a regras de elaboração legislativa, que controlam sua própria criação (autocontrole). Finalmente, apresenta-se hierarquizado (dimensão hierárquica) em suas normas, desde as superiores (constitucionais), mais ricas em conteúdo e generalidade e menos numerosas, até as inferiores, menos gerais e mais numerosas, com conteúdos mais particularizados. Alguns juristas colocam ainda, acima de todas as normas do Direito Positivo, os princípios gerais de direito e acima de todo o Direito Estatal, numa espécie de super constituição a Declaração Universal dos Direitos do Homem, estabelecida pela ONU e ratificada pelos Estados-membros. O Direito Positivo de desdobra em Direito Objetivo e Direito Subjetivo; Direito Público, Direito Privado e Misto. Segundo Maria Helena Diniz, o Direito Objetivo é o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento humano, prescrevendo uma sanção no caso de violação.

O Direito Objetivo restringe-se tão somente à norma escrita (direito legislado) ou não escrita (direito costumeiro), que como vimos anteriormente, é objetivamente representado pela norma agendi, reguladora da conduta humana intersubjetiva.

O Direito Objetivo (jus est norma agendi), ora se apresenta sob a forma codificada (Código Civil, Código Penal etc.), ora sob a forma consolidada (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT), ou em leis esparsas, como também sob a forma de normas do direito consuetudinário.

Direito Natural – constituído pelos princípios que servem de fundamento ao Direito Positivo, tais como “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é devido”, “a vida social deve ser conservada”, “os contratos devem ser observados”.

A idéia do Direito Natural vem da mais alta antiguidade, mas foram os filósofos gregos que a formularam com maior clareza, purificando-a dos elementos religiosos que a envolviam e a deformavam.

Os filósofos gregos (Sócrates, Platão e Aristóteles), através da observação acurada da natureza humana, concluíram que os homens são os mesmos em todos os tempos e lugares e obedecem às mesmas tendências e impulsos, possuindo os mesmos apetites e emoções. Há, assim, um fundo de humanidade comum a todos os seres humanos, que os levam a comportarem-se de maneira idêntica, a adotar as mesmas formas de conduta em face da vida social, originando daí, leis eternas e universais.

Apesar da infinita diversidade de leis, costumes e instituições no tempo e no espaço depreendem-se um elemento constante, alguns princípios fundamentais que permanecem idênticos para todos os povos. Assim, acima do Direito criado pelo homem (nomos) há um Direito Natural inerente à natureza humana (physis), que os gregos chamavam de “justo por natureza”, em contraposição ao “justo legal” do Direito Positivo elaborado pelos homens.

Desta forma, antigamente, entendia-se por Direito Natural, o conjunto de princípios atribuídos a Deus, à Razão ou à “natureza das coisas”, criados para reger a sociedade humana.

Heráclito de Éfeso, autor da tese de que tudo muda, contrariando Parmênides que afirmava que nada muda, conciliados séculos mais tarde por Lavoisier que estabeleceu a verdade científica de que na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, afirmava que a verdadeira sabedoria está na obediência à lei divina comum a

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todos. Filiando-se ao pensamento de Heráclito, Sófocles, em sua Antígona faz sua heroína insurgir-se contra um decreto de Creonte, que proibia o sepultamento de seu irmão, acolhendo a tese das leis eternas, não escritas, acima do tempo e do espaço. “Morto em uma batalha, acusado de traição à pátria, Polinice não pode ser sepultado por ordem de seu tio, o rei Creonte. Desobedecendo aquela ordem, Antígone é surpreendida quando sepultava seu irmão. Interpelada pelo tirano disse-lhe: as ordens que ditava não eram superiores às leis não escritas e imutáveis dos deuses” (Tragédia grega de Sófocles).

Ainda dentro do pensamento grego, o Direito Natural inspira e sobreordena o Direito Positivo, do qual é modelo perfeito, ainda que imperfeitamente copiado, no dizer de Platão, cuja única realidade é a idéia. Assim, Platão legou ao Direito Positivo, os princípios do Direito Natural, através dos romanos, que assimilaram seu idealismo.

Entre os romanos, o Direito Natural passou a compreender manifestações comuns à vida gregária, como entreviu Ulpiano, vindo posteriormente a denominar-se jus gentium, direito que compendiava as regras aplicadas por Roma aos estrangeiros, que se identificava com o jus naturale, conforme a expressão do jurista Gaio (século II), que definia o jus gentium como naturalis ratio inter omnes homines constituit.

Influenciados pelos gregos, os estóicos consolidam no mundo romano a crença de que o Direito encontra seu fundamento na natureza, repousando sobre idéias morais inatas, pois acreditavam que o primeiro dever do homem é seguir a natureza, que significa viver segundo a razão, uma vez que não há distinção entre lei natural e lei racional.

Ilustrando essa posição dos estóicos, Cícero em sua obra De Officiis assim se expressa: “Há de fato uma verdadeira lei denominada reta razão, que é conforme à natureza, aplica-se a todos os homens, é imutável e eterna. Ela não prescreve uma norma em Roma, outra em Atenas, nem uma regra hoje e outra diferente amanhã. Essa lei eterna e imutável abrange todos os tempos e todos os povos”. Percebe-se que os estóicos não faziam diferença entre as leis naturais e as que regem a conduta humana, o que torna compreensível a concepção do jurisconsulto Ulpiano, concebendo o jus naturale como sendo aquele que a natureza ensinou a todos os animais (quod natura omnia animália docuit ).

Santo Agostinho entende que há dois direitos naturais, um primário, antes do pecado original, quando o homem vivia em estado de pureza e graça e outro secundário, depois do pecado original, quando o homem passa a viver num mundo dominado pelo sensualismo e pelo egoísmo.

Na Idade Média (476-1453), com Santo Tomás de Aquino, o Direito Natural adquire maior prestígio e desenvolvimento. O Doutor Angélico afirma que há, acima de todas as leis, uma lei eterna, de essência divina, que ordena o universo e dela decorre a lei natural, pela qual participa o homem da razão eterna. A definição tomista de lei humana, enunciada no De Legibus, da Suma Teológica é ainda hoje cultuada – “ordenação da razão para o bem comum, promulgada pela autoridade competente”, já referida anteriormente.

Com o alvorecer do mundo moderno e o desmembramento da civilização teocêntrica, o Direito Natural laicizou-se, derivando-se apenas da razão e não de Deus, cujos princípios, descobertos pela razão, existiriam mesmo que Deus não existisse. Tal laicismo inicia-se com Francisco de Vitória, que encontra a sua fonte na natureza das coisas, que não pode ser alterada nem por Deus e tem continuidade com Grocio, fundador do Direito Natural.

Miguel Reale afirma que há duas maneiras fundamentais de conceber o Direito Natural: a transcendente e a transcendental. De acordo com a concepção transcendente, própria dos tomistas e neotomistas há, acima do Direito Positivo e independente dele, um conjunto de imperativos éticos, expressão não apenas da razão humana, mas também da

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razão divina. A exigência de ordem racional que Deus estabelece para o universo, que não é um caos, mas um cosmos se estende para a vida social, devendo a lei positiva criada pelo homem subordinar-se à lei natural, que independe do legislador terreno e se impõe a ele como um conjunto de imperativos éticos indeclináveis.

A concepção transcendental do Direito Natural distingue-se da anterior por só admiti-lo em função da experiência histórica. Os adeptos desta concepção, em geral, baseiam-se em Kant, que achava que todas as formas de experiência são condicionadas por certas formas e conceitos (categorias) que tornam a mesma experiência possível. Filiam-se a essa posição, os jusfilósofos como Stammler e Del Vecchio.

Miguel Reale, apesar de filiar-se à teoria transcendental do Direito Natural, não coloca o problema em meros termos lógico-formais, mas em termos axiológicos, pois acredita que há determinados valores, que uma vez trazidos à consciência histórica, se revelam ser “constantes éticas” inamovíveis, que,embora ainda não percebidas pelo intelecto, já condicionavam e davam sentido à práxis humana. Miguel Reale destaca, dentre todos esses valores, o valor primordial da pessoa humana, “cujo significado transcende o processo histórico, através do qual a espécie toma consciência de sua dignidade ética” (pessoa como valor fonte).

Ainda segundo Reale, “são essas constantes ou invariantes axiológicas que formam o cerne do Direito Natural, delas se originando os princípios gerais de direito, comuns a todos os ordenamentos jurídicos”.

Stammler é autor da conhecida teoria de um Direito Natural de conteúdo variável – o conteúdo varia no decorrer da história, sem prejuízo de uma forma constante, representada pela coordenação harmônica das liberdades iguais, segundo uma lei universal de liberdade. Em sua obra “A Doutrina do Direito Justo”(1902), expôs a idéia única de justiça aplicada às várias ordenações sociais dos diversos povos e tempos sucessivos, produzindo múltiplos direitos justos. Sua obra científica ficou marcada pela fórmula que o consagrou no campo do Direito Natural: “O direito justo é um Direito Natural de conteúdo variável”.

Na mesma linha de pensamento, Del Vecchio admite a existência de um critério absoluto, ideal, do Direito, independente de sua sanção positiva, como exigência da consciência humana. Assim, seria absurdo considerar o Direito dependente apenas da vontade de qualquer um, absurdo de que Cícero se deu conta ao perguntar se o homicídio ou o furto passariam a ser justos desde o momento em que fossem declarados como tais por qualquer legislador, tirano, etc.

Finalmente, como representantes máximos do chamado neotomismo tradicionalista, para os quais o Direito Natural não é apenas um direito ideal, como afirmam os positivistas, mas um direito real e válido, citaremos na França, Le Fur e Georges Renard; na Bélgica, Jean Dabin e Jacques Leclerc; na Alemanha, Helmut Coing e Rommen; na Itália o já citado Del Vecchio; na Espanha, Galán Y Gutierrez e no Brasil, Benjamim de Oliveira Filho, Rui Cirne Lima, Edgard de Godói Mata Machado e os nomes atuais de Paulino Jacques e Franco Montoro.

Em função de uma adequada racionalização do conceito de Direito Natural, destacaremos os neotomistas franceses Le Fur e Renard, para um breve estudo. Le Fur entende o Direito Natural como uma diretiva de justiça, de valor universal, porém, de realização variável. Segundo Le Fur, ao lado dos seus sentidos físicos, o homem possui cinco sentidos espirituais, a saber: sentido da verdade, do belo, do bem, do útil e do justo. É o sentido do justo que coordena as descobertas dos demais e constrói a noção do bem comum, que se conforma com uma ordem natural preexistente definida por seu conteúdo, que se reduz a três normas primordiais:

- respeitar os contratos livremente feitos; - reparar todo o prejuízo injustamente causado; - respeitar a autoridade pública.

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Fundamentando-se em tais princípios, podemos elaborar um direito justo, no espaço e no tempo.

Renard identifica o Direito Natural com a moral social que é o limite do Direito Positivo. Assegurando a unidade da ordem jurídica e moral, porém, Renard defende a perenidade das regras primárias de Direito Natural, mas a variabilidade das regras secundárias, criando na terminologia da matéria o que ele convencionou chamar de Direito Natural de conteúdo progressivo.

Afirma Renard a existência de dois fatores no Direito Natural: um metafísico, que é constante, e outro histórico, que é móvel. Assim, o Direito Natural é uno e diverso como a natureza humana e a própria sociedade. Enfim, Renard prega “um Direito Natural em perpétuo “devenir”, um Direito Natural com conteúdo progressivo; progressivo por assimilação dos dados históricos variáveis a uma substância racional imutável”.

Ainda segundo Renard, o Direito Natural está por toda parte, nas leis, nos costumes, na jurisprudência, nos contratos e sua inexistência significaria a supressão do Direito, pois, na verdade, ele é o único direito verdadeiro, sendo o Direito Positivo uma participação dele.

O Direito Natural justifica o Direito Positivo perante a razão e o Direito Positivo realiza o Direito Natural na sociedade.

Concluindo, podemos afirmar que no estado atual da doutrina, à parte a concepção tradicional da Igreja, fundada na filosofia tomista, a idéia dominante é a do Direito Natural de conteúdo variável e de função diretiva. Serve de modelo e inspiração para o Direito Positivo, que deve sempre esforçar-se em realizá-lo, em adaptar as relações sociais aos seus preceitos normativos; e é, por outro lado, um critério de valoração do Direito Positivo, cujo progresso e perfeição são estimados na medida em que se aproxima do Direito Natural. Em suma, escrevem os juristas contemporâneos, seja qual for a idéia que dele se tenha, como “direito” ou como “moral”, como “justiça” ou “ideologia”, não se pode negar haver um princípio moral que se sobrepõe ao legislador, orientando-o, julgando-o, criticando-o, condenando-o, fundamentando suas leis. Dê-se-lhe outro nome, mas não se lhe pode negar a validade, vigência e valor, pois, acima das leis e do poder, está a dignidade humana.

Goffredo Telles Jr.aborda o Direito Natural de uma forma totalmente diferente, afirmando que Direito Natural é o Direito que não é artificial, entendendo por Direito Artificial o Direito falsificado, ilegítimo, misturado com o Direito legítimo. Goffredo define o Direito Natural nos seguintes termos: “conjunto dos mandamentos autorizantes, emanados do poder constituinte e do poder legislativo, e harmonizados com a ordenação ética da coletividade”. Nesta linha de raciocínio, são Direitos Naturais todas as ordenações jurídicas autênticas ou legitimadas, isto é, todas as ordenações jurídicas harmonizadas com a ética vigente na sociedade. Desta forma, afirma Goffredo, o Direito Natural pode também ser definido nos seguintes termos: “Direito Positivo destinado a ser meio para a consecução dos bens soberanos do homem”

Conclui Goffredo, criticando outras posições doutrinárias, que os princípios gerais de Direito, tidos como Direito Natural, por não serem autorizantes, não são normas jurídicas, e não pertencem ao Direito Natural, apesar de exprimirem altíssimos princípios da moralidade. Atualmente, segundo Goffredo, há uma clara distinção entre norma jurídica e norma não jurídica. Segundo Kelsen, as normas do Direito Positivo, têm a estrutura de uma proposição hipotética condicional: Se o inquilino não pagar o aluguel, ele estará sujeito a uma ação de despejo; se o eleitor não votar, estará sujeito a uma multa. As normas de Direito Natural são, como vimos, proposições diferentes.

Direito Estatal – normas jurídicas obrigatórias elaboradas pelo Estado, para reger a vida social, como por exemplo, o Código Civil, a Constituição, o Código Comercial, as demais leis federais, estaduais e municipais, os decretos, etc... .

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Direito não-estatal – normas jurídicas obrigatórias elaboradas por diferentes grupos sociais e destinadas a reger a vida interna desses grupos. Exemplos: estatutos, regimentos, regulamentos e demais normas que regulamentam a vida de uma universidade, quando elaborados por esta, constituem um direito autônomo (direito universitário); normas e códigos esportivos que regulam, com força obrigatória, a atividade esportiva, inclusive, através de tribunais esportivos (direito esportivo); normas que disciplinam a atividade espiritual de milhões de criaturas católicas (direito canônico), muçulmanas (direito muçulmano), budistas (direito budista), fazem parte do direito religioso; normas trabalhistas derivadas de convenções coletivas, acordos e outras fontes não estatais, exceto a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que foi outorgada pelo Presidente Getúlio Vargas (Decreto-lei 5452, de 01/05/43).

d) O Estado tem direito de legislar, cobrar impostos, etc. – nesta quarta expressão “direito” significa a faculdade, o poder, a prerrogativa, que o Estado tem de criar leis e cobrar imposto. O direito-faculdade ou direito-poder pertence à Teoria dos Direito Subjetivos que se dedica a estudar a faculdade de agir de uma pessoa natural, física (individual) ou jurídica de direito público ou privado (coletiva) – a facultas agendi, em oposição ao direito-lei que é uma norma agendi. Exemplo: direito de usar um imóvel, cobrar uma dívida, propor uma ação, o poder familiar exercido pelo pai ou pela mãe (antigo pátrio poder do chefe de família), o direito de legislar ou de punir, de que o Estado é titular.

Quando o termo “direito” é utilizado no contexto de “direito brasileiro”, “direito civil”, estamos nos referindo à expressão “direito objetivo”, à norma agendi, externa e independentemente de atuação subjetiva. Ao contrário, quando o termo “direito” encontra-se impregnado de subjetivismo como nestas expressões “Elisiário tem direito às férias” ou “Virgínia tem direito à pensão alimentícia”, estamos nos referindo ao “direito subjetivo”, à facultas agendi (possiblidade do exercício do direito de agir).

Nesse sentido Ortolan define o direito como “a faculdade de exigir dos outros uma ação ou inação” e Kant define o direito como “a faculdade de exercer aqueles atos, cuja realização universalizada não impeça a coexistência dos homens”. Assim, conforme o pensamento Kantiano, não seria possível erigir o furto em regra universal, porque tornar-se-ía impraticável a coexistência entre os homens. O Direito Subjetivo, segundo Goffredo Telles Jr., é a permissão, dada por meio de norma jurídica válida, para fazer ou não fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo, ou, ainda, a autorização para exigir, por meio dos órgãos competentes do poder público ou através dos processos legais, em caso de prejuízo causado por violação de norma, o cumprimento da norma infringida ou a reparação do mal sofrido. As permissões para casar e constituir família; adotar pessoa como filho; ter domicílio inviolável; vender os seus pertences; usar, gozar e dispor de seus bens; exigir pagamento do que lhe é devido; mover ação para reparação de danos sofridos; prolatar uma sentença, na condição de juiz investido de função jurisdicional; educar seus filhos etc.,são direitos subjetivos. As permissões dadas por meio das normas jurídicas podem ser explícitas, se expressas no texto da norma jurídica ou implícitas, quando as normas não se referem a elas de modo expresso, mas regulam o seu uso, por não proibi-lo, tais como as permissões de fazer, de não fazer, de ter e de não ter. Como exemplos de permissões explícitas podemos citar o consentimento dado a maior de idade para praticar atos da vida civil; a permissão aos nubentes, para estipularem, antes da celebração do matrimônio, quanto a seus bens, o que lhes aprouver. Como exemplo de permissão implícita, a permissão de casar, implícita nos artigos do Código Civil, que dispõem sobre as formalidades, impedimentos, celebração, provas, nulidades e efeitos jurídicos do matrimônio, sem mencionar explicitamente a permissão para se casar. Goffredo Telles Jr. critica aqueles que afirmam que Direito Subjetivo é

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facultas agendi, entendendo que as faculdades humanas não são direitos, e sim qualidades próprias do ser humano que independem de norma jurídica para a sua existência, pois o seu uso é lícito ou ilícito, conforme for permitido ou proibido. A atividade legiferante, própria do poder legislativo, do poder normativo dos grupos sociais e do poder contratual dos particulares, cria a norma objetiva, de caráter abstrato e genérico, estabelecendo uma regra de comportamento ou de organização. Tal norma objetiva quando entra em vigor traz implicitamente no seu enunciado aquilo que convencionamos chamar de Direito Subjetivo, pois, não há norma de Direito Subjetivo no ordenamento jurídico. Assim, o Direito Objetivo está explicitado na norma e o Direito Subjetivo está implicitado na mesma norma.

O Direito Subjetivo, de conformidade com sua finalidade se subdivide em: direito-interesse – concedido ou reconhecido no interesse de seu titular, como meio de permitir-lhe a satisfação de suas necessidades materiais ou espirituais (direito à vida, à integridade física, à liberdade, direito de usar um imóvel ou reivindicar uma propriedade); direito-função – instituído em benefício de outras pessoas, como o poder familiar, que é conferido ao pai ou à mãe no interesse do filho, o direito de julgar atribuído ao juiz (função jurisdicional) ou de legislar, próprio do legislador (função legiferante), em benefício da coletividade.

Por fim, cumpre ressaltar que os demais aspectos e elementos do Direito Subjetivo serão abordados numa avaliação complementar, tendo como referencial a obra de André Franco Montoro, Introdução à Ciência do Direito, na parte dedicada à Teoria dos Direitos Subjetivos.

e) O direito constitui um setor da vida social – nesta última expressão, direito é considerado como fenômeno da vida coletiva, sendo estudado pela Sociologia Jurídica.

Ao realizar o estudo de qualquer sociedade, a Sociologia distingue diversas espécies de fatos sociais (religiosos, econômicos, artísticos, esportivos) e entre eles, o fato jurídico.

Algumas definições de Direito abordam o termo “direito” com mais de um significado. Sob esse aspecto, Gurvitch define o Direito como “uma tentativa para realizar num dado meio social (fato social – Sociologia), a idéia de justiça (Justiça – Axiologia), através de um sistema de normas imperativo-atributivas” (norma – Dogmática Jurídica). Tobias Barreto também se coloca nesta perspectiva, quando define o direito como “o conjunto das condições existenciais e evolucionais da sociedade (fato social – Sociologia), coativamente asseguradas” (norma – Dogmática Jurídica).

Usamos, também, o termo “direito” com outras acepções secundárias: Direito como reto (sentido geométrico – segmento direito) Direito como certo (cálculo direito) Direito como correto (homem direito – conduta moral) Direito como oposto à esquerda (lado direito). CONCLUSÕES Do conceito analógico de “direito” extraímos as seguintes conclusões:

a) Direito: conceito análogo – A palavra “direito” não designa apenas uma, mas várias realidades distintas e afins, não sendo possível formular uma única definição de “direito”, mas sim, diferentes definições correspondentes às diversas realidades – direito como ciência, como justo, como norma, como faculdade e como fato social. Desta forma, concluímos que o vocábulo “direito” não é unívoco (se aplica a uma única realidade – Ex: livro, homem), nem equívoco (se aplica a duas ou mais realidades radicalmente diversas – Ex: lente=professor e lente=vidro refratário), mas sim análogo, pois se aplica às diversas realidades afins situadas no mundo jurídico, que apresentam entre si, certa semelhança. Porém, se extrapolarmos o campo jurídico e aplicarmos o termo “direito”

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indistintamente, o mesmo se torna equívoco, em face das outras acepções secundárias acima descritas.

b) Diferentes posições não são contraditórias – representam pontos de vista sobre aspectos ou sentidos diferentes de um mesmo objeto e revelam, muitas vezes, a orientação doutrinária ou filosófica de cada autor e de sua época.

c) Sentido fundamental do Direito atualmente – o atual pensamento jurídico reconhece que o sentido fundamental do Direito, em qualquer de seus aspectos, consiste sempre em estar a serviço da justiça, como observa Gurvitch: “as normas jurídicas podem ser mais ou menos perfeitas, mas não serão “direito” se não estiverem orientadas no sentido da realização da justiça”.

CONCEITO FILOSÓFICO DE DIREITO – “Direito é uma ordenação

coercível, heterônoma, bilateral-atributiva, da conduta humana, na medida do bem comum”.

Ordenação – Todas as regras sociais ordenam a conduta, tanto as morais como as jurídicas e as convencionais ou de trato social, procurando colocar as coisas e os sujeitos nos seus devidos lugares, estabelecendo o equilíbrio e realizando uma convivência ordenada.

Coercível – Força organizada pelo Estado no sentido de compelir o cidadão ao cumprimento da norma (coercibilidade). Essa força só é chamada a agir quando é necessário, ou seja, quando o cidadão é inadimplente e neste caso a força coage e dá validade a uma norma jurídica, autorizando ou permitindo ao lesado,exigir do lesador que cumpra a sua parte.

Heterônoma – Capacidade de transferir ao Estado (povo) o poder de aplicar a força para compelir o cidadão ao cumprimento da norma. O Estado passa a ser detentor do poder de subjugar a vontade do destinatário da norma, no interesse social.

Excepcionalmente podemos fazer justiça com as próprias mãos, que são as excludentes ao monopólio do uso da força pelo Estado, manifestadas pelos exemplos clássicos de legítima defesa (CP, art. 25), estado de necessidade (CP, art. 24) e o desforço imediato (CC, art. 1.210, § 1º).

Bilateral-atributiva – Ninguém busca justiça de si para consigo mesmo. Há duas partes, com exigibilidade recíproca.

Atributividade significa exigibilidade recíproca no comportamento entre as partes, de direitos e obrigações. Ex: no contrato de compra e venda, quem compra deve pagar e quem vende, deve entregar a coisa vendida.

Conduta humana – Maneiras de agir de conformidade com a norma. Bem comum – Ordenação daquilo que cada homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, ou seja, uma composição harmônica do bem de cada um com o bem de todos. O bem comum é o resultado da harmonização da liberdade, paz, justiça, segurança, solidariedade e utilidade social feita pelo juiz ao aplicar a lei ao caso concreto. É a ordem jurídica, pois, como ensina Goffredo Telles Jr., é o único bem que todos participantes da sociedade política desejam necessariamente, uma vez que sem ordem jurídica não há sociedade. Enfim, é o fim da própria vida social, por ser a ratio formalis quae do Direito, que se obtém com a harmonização dos bens particulares com os da comunidade. Maria Helena Diniz define o Direito como uma ordenação heterônoma das relações sociais baseada numa integração normativa de fatos e valores, adaptando o conceito de Miguel Reale, onde o Direito é concebido como fato, valor e norma, na sua famosa Teoria Tridimensional do Direito. Por esta teoria o Direito engloba fenômenos sócio-axiológicos e normativos, como se depreende deste exemplo dado por Miguel Reale: ao se interpretar a norma que prevê o pagamento de letra de câmbio na data de

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seu vencimento, sob pena de protesto do título e de sua cobrança, goza o credor, desde logo, do privilégio de promover a execução do crédito. De modo que se existe um débito cambiário, há de ser pago, e se não for quitada a dívida, deverá haver uma sanção. Como se vê a norma de direito cambial representa uma disposição legal que se baseia num fato de ordem econômica e que visa a assegurar um valor – o valor do crédito – a vantagem de um pronto pagamento com base no que é formalmente declarado na letra de câmbio. Neste exemplo, tem-se um fato econômico que se liga a um valor de garantia para se expressar por meio de uma norma legal que atende às relações que devem existir entre aqueles dois elementos.

O grande poeta italiano Dante Alighieri, também apresenta o ordenamento jurídico como fundamento inarredável da sociedade, quando afirma: “O Direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que conservada, conserva a sociedade; corrompida, corrompe-a”.

2. IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA

A importância desta disciplina essencialmente preparatória ao ensino de vários ramos jurídicos, foi magistralmente justificada pelo eclético Victor Cousin, quando propôs sua criação como curso preliminar de admissão ao Curso de Direito, em 1814, na França, argumentando da seguinte forma: “quando os jovens estudantes se apresentam em nossas escolas, a Jurisprudência é para eles um país novo do qual ignoram completamente o mapa e a língua. Dedicam-se de início ao estudo do Direito Civil e ao do Direito Romano, sem bem conhecer o lugar dessa parte do Direito no conjunto das ciências jurídicas, e chega o momento em que, ou se desgostam da aridez desse estudo especial, ou contraem o hábito dos detalhes e a antipatia pelas vistas gerais. Um tal método de ensino é bem pouco favorável a estudos amplos e profundos. Desde muito tempo os bons espíritos reclamam um curso preliminar que tenha por objetivo orientar de algum modo os jovens estudantes no labirinto da Jurisprudência; que dê uma vista geral de todas as partes da ciência jurídica, assinale o objeto distinto e especial de cada uma delas e, ao mesmo tempo, sua recíproca dependência e o laço íntimo que as une; um curso que estabeleça o método geral a seguir no estudo do Direito, com as modificações particulares que cada ramo reclama; um curso, enfim, que faça conhecer as obras importantes que marcaram o progresso da ciência. Um tal curso reabilitaria a ciência do Direito para a juventude, pelo caráter de unidade que lhe imprimiria e exerceria uma influência feliz sobre o trabalho dos alunos e seu desenvolvimento intelectual e moral”. Trata-se de uma disciplina eminentemente formativa, criando no operador técnico do Direito, uma mentalidade científica que o torna capaz de elaborar cientificamente uma teoria jurídica.

3. FINALIDADES

3.1. FINALIDADE FUNDAMENTALEm função de seu caráter enciclopédico, propedêutico e epistemológico ,a

Introdução ao Direito tem por escopo fundamental, fornecer uma noção global ou panorâmica da ciência que trata do fenômeno jurídico,propiciando uma compreensão de conceitos jurídicos comuns a todos os componentes curriculares do Curso de Direito, familiarizando o aluno e o jurista na terminologia técnico- jurídica.

3.2. FINALIDADES SEGUNDO MIGUEL REALE

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Comungando do mesmo pensamento de Victor Cousin, Miguel Reale apresenta as seguintes finalidades da Introdução ao Direito:

Primeira finalidade: oferecer uma visão unitária e panorâmica dos diversos campos em que se desdobra a conduta humana segundo regras do Direito, como já havia afirmado anteriormente. Podemos agrupar o conjunto de disciplinas jurídicas que formam o campo do Direito, em duas grandes classes: Direito Público e Direito Privado. Mais tarde estudaremos os fundamentos dessa divisão clássica originária do Direito Romano, como se depreende da leitura do Digesto, onde o Direito Público era aquele emanado dos órgãos estatais e tinha por objeto a estrutura, a atividade, a organização e o funcionamento do Estado Romano e o Direito Privado, o que disciplinava interesses particulares. Digesto vem do latim digestus (de digere, por em ordem, classificar), sendo o nome que sempre se deu às compilações ou livros, que continham matéria de Direito, distribuída e posta por ordem. É o nome que se dá a um das partes do Corpus Juris Civilis, consolidado sob a coordenação do Imperador Romano do Oriente, Flávio Pedro Sabácio Justiniano (483-565), onde encontramos fragmentos de notáveis jurisconsultos, também denominada de Pandectas, que, derivado de pan (do grego pan, tudo e déchomai, encerrar, conter), daí o sentido de “que encerra tudo”, compilação universal ou que compreende tudo (compreensão total).

Entende-se por Corpus Juris Civilis, a reunião de várias leis promulgadas no Governo do Imperador Romano, já citado, complementadas com a adaptação de princípios anteriores, sistematizados num só corpo de Direito.

A corrente do pensamento que adota essa divisão é chamada dualista, e se atribui a Ulpiano, remontando aos tempos do Direito Romano. Hans Kelsen defende a corrente monista, afirmando que o Direito é uno e estatal. Atualmente está surgindo uma terceira corrente, ainda não aceita pacificamente pelos doutrinadores, denominada por alguns de trialista (público, privado e misto).

Os adeptos da corrente dualista entendem que o Direito Público regula relações em que o Estado é parte, regendo a organização e atividade do Estado considerado em si mesmo, em relação com outro Estado e em suas relações com particulares, que através de seu poder soberano, tutela o interesse coletivo. Subdivide-se em Direito Público Interno, compreendendo os seguintes ramos: Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Processual, Direito Penal e Direito Público Externo, abrangendo o Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado.

O Direito Privado disciplina as relações entre os particulares nas quais predomina, de modo imediato, o interesse de ordem privada, pois o homem não se relaciona apenas com o Estado, mas também e principalmente com seus semelhantes. Subdivide-se em Direito Privado Comum, que apresenta como ramo fundamental, o Direito Civil, e Direito Privado Especial, tendo como ramos, o Direito Comercial e o Direito do Trabalho.

Os defensores da corrente trialista entendem que há uma nova gama de direitos que não são plenamente privados e nem públicos, tutelando ao mesmo tempo os dois interesses. Um bom exemplo é o Direito do Trabalho, composto de normas cogentes, indisponíveis, impostergáveis ou de ordem pública, que ordenam ou proíbem de um modo absoluto, sem admitirem alternativas (piso salarial mínimo, repouso semanal obrigatório, registro obrigatório, férias etc.), e normas disponíveis que regem as relações particulares entre empregados e empregadores estabelecidas por via contratual, típicas do Direito Privado. Desta forma, só o contrato se formaliza sob as luzes do Direito Privado, tudo o mais se regendo por normas indisponíveis.

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Pelo exposto, o Direito do Trabalho nem é inteiramente estatal, porque suas normas não são elaboradas somente pelo Estado, mas também por entidades representativas das classes de empregados e empregadores, nem inteiramente privado, pela indisponibilidade das partes poderem acordar livremente. Semelhante discussão acontece com relação ao Direito de Família, com normas cogentes e indisponíveis.

Tais discussões, segundo alguns doutrinadores estariam ligadas aos seguintes critérios utilizados para situar um ramo do Direito no campo do Direito Público ou Direito Privado:

a) critério da utilidade ou do interesse – utilidade ou interesse preponderantemente do Estado, a norma jurídica será de Direito Público; utilidade ou interesse preponderantemente dos particulares, a norma jurídica será de Direito Privado. Esse critério não satisfaz a todos.

b) critério da forma da relação jurídica: de coordenação ou de subordinação.

Relação jurídica de coordenação é o vínculo entre as partes que se tratam de igual para igual, como por exemplo, entre o comprador e o vendedor.

Relação jurídica de subordinação é aquela em que uma das partes é o Governo da sociedade política (Estado) exercendo a sua função de mando, de imperium, provocando um desequilíbrio da balança em seu favor, como por exemplo, entre o Estado e os contribuintes dos impostos.

Em face destes critérios Direito Público é aquele que protege utilidades ou interesses predominantemente públicos e regula relações jurídicas de subordinação. Direito Privado é aquele que protege utilidades ou interesses preponderantemente privados e regula relações jurídicas de coordenação

Como os critérios não são absolutos, nem perfeitos, admitindo exceções, não satisfazem, pois há situações em que o interesse privado, mesmo sendo da essência do ato, cede lugar para o interesse social, como nas questões relacionadas ao Direito de Família e nos demais ramos tidos como mistos.

Igualmente, não se pode falar em subordinação ou imperium, em relações jurídicas que envolvam dois entes públicos da mesma hierarquia administrativa, o que seria relação jurídica de coordenação, bem como também, há outras relações de subordinação fora do Direito Público.

O momento histórico em que atravessa uma sociedade política é que geralmente determina a tendência ou para a publicização ou privatização do Direito. Concluindo, entendemos que se a norma tiver por objetivo organizar as atividades do Estado de natureza administrativa, negocial, política e jurisdicional, ela será de Direito Público, independentemente de ser de subordinação ou coordenação; porém, se objetivar disciplinar as relações envolvendo particulares, será de Direito Privado e se apresentar natureza híbrida, será de Direito Misto.

As normas originárias dos diversos ramos do saber jurídico asseguram condições de equilíbrio à convivência humana, havendo, em cada comportamento humano, a presença, embora indireta, do fenômeno jurídico.

As relações intersubjetivas jurídicas, por envolverem sempre dois ou mais sujeitos, estão sempre revestidas de normatividade jurídica, confirmando a sábia lição contida neste antigo brocardo latino: ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade está o direito) ou vice versa, ubi jus, ibi societas. Assim, existem tantas espécies de normas e regras jurídicas quanto são os possíveis comportamentos e atitudes humanos e como toda interação humana perturba os indivíduos em relação recíproca, para que a sociedade possa conservar-se é preciso delimitar as atividades das pessoas que a compõem, mediante normas jurídicas.

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Pelo exposto, devemos apreciar as diversas disciplinas jurídicas no seu conjunto unitário, pois são interdependentes, surgindo daí a multiplicidade e unidade do Direito.

Segunda finalidade: compreender a complementaridade das disciplinas jurídicas e o sentido unitário do fenômeno jurídico.

Podemos graduar os tipos de unidade da seguinte forma: unidade física ou mecânica, que é mais própria dos seres homogêneos, pela ligação de elementos da mesma ou análoga natureza, de cuja composição não resulta nenhuma ação ou função com base nos elementos constitutivos do todo, como por exemplo, a unidade molecular de uma pedra; unidade orgânica, onde as partes que compõem o todo estão organicamente em harmonia e muito embora cada parte tenha a sua função própria, todas estão voltadas para a consecução de um objetivo comum, irredutível às partes componentes, como acontece com o funcionamento do coração, por exemplo; unidade de fim ou finalística ou teleológica, como acontece com a Ciência Jurídica, onde as diferentes partes do Direito não se situam uma ao lado da outra, como coisas acabadas, estáticas ou mecânicas, mas se ordenam juridicamente com o objetivo comum de garantir a convivência social.

Por Teleologia (do grego téleios:completo e logos: estudo, teoria) se entende a doutrina das causas finais ou dos fins, ou em que tudo se explica pelos fins que aparentemente se destinam.. Teleologia Jurídica é a teoria que estuda o Direito em face de suas causas finais, como uma ordem jurídica dirigida a um fim, ou seja, à Justiça.

Observamos que a unidade física é própria dos seres brutos que se organizam ou se estruturam no plano molecular, pois a molécula é a unidade característica dos seres brutos. Já nos seres vivos a organização obedece a um plano celular, pois a célula é a unidade vital do ser vivo e se constitui também numa unidade orgânica.

Os seres brutos não atingiram o plano celular, pois ficaram no plano molecular. Se separarmos as partes de uma célula, não mais teremos matéria viva, desaparecendo a unidade orgânica, vital dos seres vivos. Os seres vivos, desde os mais simples, como, por exemplo, as amebas, já constituíam seres de matéria altamente desenvolvida, seres com estrutura molecular extraordinariamente complexa.

Se analisarmos a história do desenvolvimento da matéria no universo concluiremos, obviamente, que o aparecimento da vida e sua evolução estão intimamente relacionados com a evolução da matéria, composta de substâncias minerais. O surgimento das substâncias orgânicas, próprias dos seres que têm vida, com base nas substâncias minerais, próprias dos seres brutos e a transformação do primeiro protoplasma dando origem a vegetais e animais, são temas biológicos de grande interesse aos pesquisadores do campo biológico. Por ora, basta lembrar que todos nós somos descendentes da primeira célula do planeta e que por reprodução, apareceram as demais células que se evoluíram durante um bilhão de anos, até se unirem as outras células, formando tecidos orgânicos que se reuniram formando órgãos, sistemas e organismos.

Os primeiros organismos vivos eram organismos microscópicos (bactérias, algas e amebas), porém, como vimos, já complexíssimos, pois eram compostos de imensas cadeias de moléculas que se constituíram nos primeiros representantes do reino vegetal e animal, formando variedades incontáveis.

Os organismos animais evoluíram em duas linhas: na linha dos vertebrados, dotados de coluna dorsal, e dos invertebrados, sem essa coluna.

Os invertebrados foram evoluindo até chegar ao inseto que é o ser vivo soberano desta linha.

Os vertebrados evoluíram até as inúmeras espécies de animais vertebrados, hoje existentes, chegando até os animais dotados de cérebro. O cérebro representa uma

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enorme complexificação do sistema de comando. Com o aparecimento do cérebro, deu-se a eclosão da consciência sobre a Terra.

Há um milhão de anos, certo vertebrado mamífero, descendente dos antropóides, começou a executar movimentos até então desconhecidos. Tais movimentos eram, sem dúvida, reações de conservação e adaptação. A extrema complexificação de seu organismo deu-lhe curiosa versatilidade, pois era capaz de acumular lembranças de fatos variados e seu sistema de comando lhe habilitava a praticar atos de escolha.

O ato de escolha é complexo e está sempre na dependência das informações de que dispõe o ser que escolhe, ou seja, na dependência dos conhecimentos sobre o meio ambiente e sobre si próprio. O ato de escolha consiste, afinal, no ato de eleger o que melhor convém, em cada caso.

O ato de escolha é o ato de concluir o que deve ser feito e o ato de concluir é o ato que chamamos de ato de raciocinar, ato de decidir, de fundamental importância para o Direito. E assim surgiu, um novo reino, ou seja, o reino hominal e neste reino um novo animal que raciocinava - o homem. Esse homem passou por várias fases: 1ª fase: “homem símio” ou arcaico do tipo Pitecântropos (do grego pitekos = símio e antropos = homem); 2ª fase: “homem primitivo” do tipo Paleântropos (do grego palaios= antigo e antropos= homem); 3ª fase: homo sapiens, do tipo Neântropos (do grego neo=novo e antropos = homem) como o Homem de Neandertalen (vale do Rio Dussel, afluente do rio Reno, na Alemanha); finalmente, a 4ª fase, ou do homo sapiens sapiens, como o Homem Cromagnense, porque seu fóssil foi encontrado em Cromagnon, localidade francesa da Província de Dordon.

As pesquisas científicas tendem a comprovar que a matéria viva foi engendrada da matéria bruta e que a consciência foi engendrada da matéria viva. E que a consciência, saindo de seu estado primitivo e ainda instintivo, gradualmente se desenvolveu em formas sempre mais organizadas de matéria viva, até se transformar em inteligência. E que a inteligência, a princípio intuitiva, passou a inteligência racional, própria do homem pensante. A inteligência intuitiva não é específica do homem, pois existe em outros animais evoluídos; ela não raciocina, não explica, não propõe soluções, mas vê e adere ao que vê; no homem, acaba adorando o que vê. Tal inteligência, no homem arcaico e primitivo, atuava como fator de proteção, permitindo-lhe adivinhar os perigos e estabelecer prévias condições de defesa.

Até o advento do homem, a evolução era realizada no plano físico (unidade física ou molecular) e no plano celular (unidade orgânica). Com o aparecimento do homem, a evolução passou a ser um movimento da própria consciência e se identifica com a evolução do conhecimento humano, pois a história da consciência é a história do conhecimento e da cultura.

Com a evolução da consciência humana surgiu o Direito, e com ele um terceiro tipo de unidade, que não é a física ou orgânica, mas sim a unidade finalística ou teleológica.

A Teleologia é o estudo especulativo das causas finais e da essência, alcance, aplicação ou fim das normas legais.

Com o desabrochar da consciência humana, a inteligência, a princípio intuitiva, evolui para a inteligência racional, marca específica do homem, que o faz sujeitar os meios aos fins. Utilizando-se de sua razão, o homem ordenou as coisas de acordo com seus interesses e chegou a criar a extraordinária civilização em que vivemos.

Com grande propriedade, Goffredo da Silva Telles Júnior faz a apologia da razão quando afirma que “a razão é a grande responsável por todas as descobertas humanas, desde os primeiros instrumentos de pedra até a máquina, desde a roda até os foguetes interplanetários, desde suas incipientes noções científicas até as exatas demonstrações da ciência moderna. A razão é, sem dúvida, a responsável pela manutenção da vida humana sobre o nosso planeta, pela produção dos alimentos

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indispensáveis para a humanidade, pela preservação da saúde do homem. A razão é a responsável pelas engenhosas ordenações jurídicas, criadas para a defesa dos bens soberanos do homem. A razão deu às coisas criadas, uma nova ordem, uma ordem tipicamente humana, que melhor atendia aos altos interesses do ser humano. Foi a razão que reordenou o mundo e produziu uma cultura progressiva, e esta reordenação permanente das coisas foi a causa de um processo civilizatório ascendente.”

Com a razão, foi possível o conhecimento progressivo do homem pelo próprio homem e através desse conhecimento o homem compreendeu que ele próprio é feito e composto das mesmas micropartículas de que são feitos e compostos todos os corpos do cosmos, concluindo que ele próprio é produto da evolução da matéria.

O conhecimento do mundo e de si mesmo, bem como de sua situação dentro do universo, deu ao homem uma consciência mais clara de sua situação cósmica, uma consciência de seu lugar na hierarquia dos seres e, portanto, uma consciência de seu verdadeiro valor, dando-lhe também a percepção de pertencer à sociedade cósmica. A sociedade cósmica é constituída de todas as galáxias e de todos os átomos, de todos os corpos e de todas as energias, de todos os homens e de todas as inteligências, formando um só todo, ordenado e harmonioso.

A verdadeira cultura, segundo GOFFREDO, é a consciência da ordem universal, consciência da sociedade cósmica, que é a consciência do Universo e do homem. Quanto maior esse conhecimento, mais consciência terá o homem na escolha de seus bens e em conseqüência, mais ordem em seu comportamento, mais tranqüilidade interior. Assim, sua existência adquire sentido teleológico, pois sabe que vive e porque vive – vive para participar da sociedade cósmica e dela participa para aperfeiçoar-se e poder aperfeiçoar as coisas que lhe são dadas.

Viver para conhecer, conhecer para aperfeiçoar-se: eis o lema do homem evoluído.

Ainda parafraseando nosso ilustre jusfilósofo Goffredo, afirmamos também que “quem faz da vida uma viagem de cultura, faz da vida uma aventura de amor, porque conhecer é amar e amar é participar. A participação em todos os setores da vida (cultural, econômico, político) é grande sinal dos tempos atuais, a fascinante razão de ser da vida”.

A consciência do valor cósmico do homem conduz, forçosamente, a um respeito crescente pela pessoa humana, que se manifesta pela adesão da humanidade a certos bens culturais soberanos, quais sejam:

* reconhecimento, por parte de todos, da humanidade existente em cada ser humano, significando direito a tratamento condigno;

* igualdade de todos perante a lei;* liberdade de locomoção e de manifestar o pensamento;* direito à intimidade;* direito à ampla defesa;* legalidade das pessoas;* legitimidade das leis, etc.Os profissionais do Direito sabem que a luta atual é pela dignidade da pessoa

humana e que nosso tempo é marcado pela revolta universal contra todos os crimes, todas as penas bárbaras, todas as torturas e suplícios, todas as guerras injustas, toda injustiça, toda prepotência, todo aviltamento do homem. Tal revolta é a prova do progresso espiritual da humanidade, apesar da existência de flagrantes contradições internas em nossa civilização, porém, hoje temos também consciência de que todo desenvolvimento é uma luta dos contrários e de que há uma condenação universal da violência.

Após demonstrarmos a importância da racionalidade na história da humanidade, seria conveniente e oportuno esclarecermos que a consciência não se compõe apenas inteligência ou razão ou pensamento. O homem, além de pensar,

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sente, quer e age, fazendo com que a consciência humana seja composta de fenômenos cognitivos (pensamento), afetivos (emoções, sentimentos e paixões), volitivos (vontade), psicomotores (ação) e instintivos (comportamento inaprendido).

Com base nessa diversidade de fenômenos psicológicos, surgiram várias classificações de tais fenômenos, apenas para fins didáticos, pois inexiste fenômeno psíquico isolado – os fenômenos psíquicos são interdependentes e simultâneos, com predominância momentânea de uns sobre os outros.

A dimensão cognitiva da consciência representada pela inteligência compõe-se, por sua vez de pensamento, percepção, imaginação, atenção, motivação, memória, intuição, consciência moral e introspecção.

O pensamento compõe-se de idéia ou conceito, juízo e raciocínio. Assim, as operações do pensamento, objeto material da Lógica, são realizadas pela combinação de idéias, formando juízos, que se combinam, por sua vez, formando raciocínios, os quais são expressos verbalmente pelos termos (idéias), proposições ou premissas (juízos) e argumentos (raciocínios), fundamentando nossa argumentação jurídica, com vistas a convencer nossos julgadores ou interlocutores.

Observem que a Lógica e a Psicologia apresentam pontos em comum quanto ao objeto material, pois ambos se dedicam a estudar o pensamento; porém, a Psicologia tem um objeto material mais abrangente, se preocupando não somente com o pensamento, mas com a totalidade dos fenômenos da consciência. Entretanto, quanto ao objeto formal, a Lógica se preocupa em analisar o produto das operações do pensamento (verdadeiro ou falso), ao passo que a Psicologia, quanto ao objeto formal se preocupa em descrever o pensamento (como é, como se desenvolve). Conclui-se, portanto, que a Lógica é uma ciência normativa (como deve ser o pensamento) e a Psicologia é uma ciência especulativa (o que é o pensamento).

Como o pensamento é fundamental para as especulações filosóficas, a Lógica serve de introdução à Filosofia, tendo, portanto, uma função propedêutica: Lógica quer dizer razão, raciocínio, ciência e método e é justamente disso que ela se ocupa.

Para melhor compreensão do assunto, citaremos algumas definições de Lógica:

Aristóteles (seu fundador): “ciência da demonstração”;Bacon: “arte das artes”;Port-Royal: “arte de pensar”;Kant: “ciência das leis do pensamento”.Adotamos a seguinte definição de Lógica: “ciência da ordem em que

devemos dispor as operações de nossa inteligência para alcançarmos a verdade”. Esta definição é completa porque demonstra o objeto material e formal da Lógica. Objeto material: as nossas operações mentais. Objeto formal: a ordem em que devemos dispô-las (operações mentais) para alcançarmos a verdade.

A Lógica trata da razão, considerada nos seus atos e conceitos. Ela não tem por objeto uma realidade material, como as outras ciências. Vimos que o seu objeto material são as nossas operações mentais e os métodos empregados pelas diversas ciências. Ela nos ensina como se deve estudar as coisas e como raciocinar corretamente, sendo, pois, normativa. Seu objeto não é definir “o que é”, mas “como deve ser”, preocupando-se em estabelecer normas do pensamento correto. Bacon já dizia que da mesma maneira que a mão é o instrumento dos instrumentos, a Lógica é a “arte das artes”. Realmente, a Lógica é uma arte porque ao mesmo tempo em que define os princípios universais do pensamento, estabelece as regras práticas para o conhecimento da verdade. É arte porque dá as regras para a produção das operações do espírito e é ciência porque dá razão a essas regras.

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A Lógica trata da inteligência sob o ponto de vista do seu uso na elaboração do conhecimento. Abrange duas partes, como vimos: material-conteúdo (operações do pensamento) e formal: disposição das idéias (produto).

Através de sua normatividade, a Lógica é utilizada na construção do conhecimento. A Lógica nos fornece os princípios que devem reger o nosso raciocínio, daí a importância para a Filosofia que também se ocupa do raciocínio na atividade especulativa dos filósofos. Em relação ao raciocínio é que devemos dividir a Lógica. Num raciocínio ou em qualquer construção, consideramos duas coisas: matéria e forma. Assim, por exemplo, numa casa é preciso distinguir os materiais e a disposição que o arquiteto lhes dá. Se a disposição é ruim, a casa cairá, porque está mal construída; se os materiais de construção são ruins, mesmo que a disposição seja boa, a casa não ficará de pé, porque foi construída com material de péssima qualidade. O mesmo acontece com o raciocínio. No raciocínio também é preciso distinguir a matéria do raciocínio (os materiais ideais com os quais se raciocina) e a forma do raciocínio (a disposição, segundo a qual, esses materiais são reunidos na mente, de maneira a sustentar a construção mental). Dessa forma, a matéria do raciocínio pode ser verdadeira ou falsa e sua forma pode ser correta ou incorreta. Por exemplo, neste silogismo categórico, constituído por duas premissas (maior e menor) e uma conclusão, abaixo transcrito, o raciocínio está correto quanto à forma, mas a matéria é falsa:

Nenhum homem faz o mal (premissa maior).Ora, esse criminoso é homem (premissa menor).Logo, esse criminoso não faz mal (conclusão).A Lógica se ocupa, entretanto, tanto da matéria como da forma e em

conseqüência, se divide em: a) Lógica Material ou Maior – quando estabelece as condições materiais das ciências, definindo seus métodos, também chamada Metodologia, porque fornece a cada ciência o seu método, estabelecendo regras que asseguram o acordo do pensamento com os objetos estudados; b) Lógica Formal ou Menor – quando estabelece a forma correta das operações intelectuais que são compostas de idéia ou conceito, juízo e raciocínio, recebendo as seguintes expressões verbais: termo (idéia), proposição (juízo) e argumentação (raciocínio).

Para que o leitor possa acompanhar a seqüência lógica e unitária de nossa explanação a respeito das finalidades da Introdução ao Direito, iniciada páginas atrás, ao abordarmos a sua segunda finalidade, segundo Miguel Reale (compreender a complementaridade das disciplinas jurídicas e o sentido unitário do fenômeno jurídico), empreendemos uma longa viagem pelos caminhos da história da evolução da matéria, partindo da matéria bruta, passando pela matéria viva (orgânica), até ao aparecimento do primeiro ser de nossa espécie (homem). Para melhor compreendê-lo, estudamos a evolução da consciência humana, analisando os fenômenos psicológicos que formam a sua vida mental, enfatizando a evolução de sua racionalidade, representada pelos fenômenos psíquicos da representatividade ou inteligência (cognição), que possibilitaram o aparecimento do Direito e com ele a unidade teleológica.

Terceira finalidade: Complementando e retomando o estudo das finalidades de nossa disciplina, citaremos a linguagem do Direito como sua terceira finalidade, na esteira do pensamento de Miguel Reale. Graças à linguagem, construímos nosso saber jurídico (ciência jurídica) e o comunicamos aos interessados por esse tipo de conhecimento científico. Vimos também, quando estudamos os fenômenos do psiquismo humano, que a linguagem é o processo de expressão do pensamento e a condição básica para a elaboração e a divulgação do conhecimento humano, quer vulgar, científico ou filosófico, concorrendo para a socialização e humanização do homem.

A linguagem é um sistema de sinais por intermédio dos quais se exteriorizam nossos estados afetivos e, sobretudo, nossos processos intelectuais.

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Por sinal entendemos o fenômeno que, captado por nossos sentidos, representa outro fenômeno, que por algum motivo, no momento não está sendo percebido, ou em virtude de sua natureza, não pode ser diretamente percebido. A fumaça que paira no ar é sinal de fogo, que por uma circunstância qualquer não estamos vendo neste instante; as expressões fisionômicas (alegria, tristeza, terror, espanto) são sinais de sentimentos; uma palavra ou uma frase são sinais de uma idéia ou de um juízo.

Os sinais podem ser naturais quando provocados por certos estados afetivos, como é o caso do riso, das lágrimas, da palidez ou rubor do rosto e convencionais, quando dependem de uma convenção prévia e de invenção mais ou menos arbitrária para servirem de sinais, como é o caso das palavras faladas ou escritas.

Conforme os sentidos que recebem os sinais, a linguagem pode ser visual, auditiva, tátil (escrita dos cegos). Já a linguagem visual abrange a linguagem mímica (gestos), a linguagem por meio de movimentos de objetos materiais (linguagem semafórica) e a linguagem muito importante, que é a linguagem escrita. A linguagem auditiva, formada por diferentes sistemas de sons ou ruídos, ocorre com a linguagem oral ou falada, que é a mais importante para o desenvolvimento humano.

Na linguagem oral os vocábulos ou palavras (sinais auditivos) constituem o conjunto de sons articulados ou pronunciados pelo aparelho vocal ou fonador do homem.

O aparelho vocal compõe-se dos pulmões, que atuam como foles, da traquéia, que funciona como um tubo sonoro, das cordas vocais (órgãos vibrantes) situados na glote, e de diversos obstáculos à saída do ar, constituídos pela faringe, pelas fossas nasais, pela língua, pelos dentes e pelos lábios.

Desde nosso nascimento, temos capacidade de vocalizar, isto é, de emitir sons vocais, porém, para falar palavras e compreender seu significado, nós precisamos aprender.

Alguns autores explicam a aprendizagem da linguagem pelo condicionamento de respostas - o adulto fala o nome de um objeto ao mesmo tempo que o apresenta à criança Em outras ocasiões em que a criança vê aquele objeto, ouve a palavra que o designa. Ver o objeto e ouvir o som ao mesmo tempo, em diversas ocasiões, faz com que a criança, só ao ouvir a palavra, pense no objeto, mesmo na sua ausência.

Segundo vários pesquisadores, a linguagem tem duas funções básicas:1. Comunicação do pensamento e de nossos estados afetivos - servimo-

nos das palavras para transmitir nossas idéias, juízos, raciocínios e sentimentos a outras pessoas.

2. Construção do pensamento - empregamos as palavras na elaboração de nossas idéias, na formulação de nossos juízos e na construção de nossos raciocínios. Quando pensamos, falamos com nós mesmos ou com os outros, através de uma linguagem interna, por meio de “palavras silenciosas”.

O pensamento é grandemente auxiliado pela linguagem, porém alguns autores afirmam que o pensamento surge antes das palavras e pode mesmo, ser independente delas, como é o caso da criança que já pensa antes de aprender a falar, bem como do surdo-mudo de nascença que evidentemente pensa e não fala.

O desenvolvimento da linguagem na criança é progressivo e lento até apossar-se dos símbolos com facilidade para expressar seu pensamento e comunicar-se com o pensamento alheio. Tal desenvolvimento lingüístico é influenciado pelas pessoas de sua convivência permanente (pais, irmãos, colegas de brinquedo, empregados e professores). O modo como as pessoas com quem convive recebem seus esforços despendidos para comunicar seus pensamentos, pode ajudar ou prejudicar seu desenvolvimento verbal.

Finalmente reputamos de fundamental importância habituar a criança desde cedo a procurar interpretar os termos que emprega na elaboração de seu pensamento. Só assim sua inteligência poderá ser cultivada, afastando-a do psitacismo (linguagem de

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papagaio) quando, lamentavelmente, emprega vocábulos desconhecendo seus significados.

Sabemos que cada ciência tem o seu universo conceitual próprio, isto é, exprime-se numa linguagem específica e a ciência jurídica se orgulha de sua terminologia técnico-científica milenar, pois quanto mais antigo se apresenta determinado campo de conhecimento científico, mais segura e eficiente é a comunicação científica.

Sem linguagem não há como pensar a realidade. O homem cria signos para representar-se e representar a realidade. O mundo simbólico é o mundo construído pelo homem.

Quarta finalidade: A quarta missão ou finalidade da Introdução ao Direito, consiste em situar o Direito no mundo da cultura, estudando sua natureza e suas relações com os demais campos do conhecimento. O mundo construído pelo homem é o mundo da cultura. Cultura é a totalidade das produções humanas portadoras de significados. Neste empreendimento, o fenômeno jurídico, parcela do universo do saber humano, será analisado sob o prisma científico, técnico, artístico e filosófico, realçando suas relações com as demais ciências sociais (Sociologia, Antropologia, Economia, Psicologia, etc.), suas influências recebidas da técnica e das ciências físico-matemáticas e seus laços com os fenômenos artísticos, religiosos e filosóficos.

Segundo Miguel Reale “cultura é o conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, o homem constrói sobre a base da natureza, quer para modificá-la, quer para modificar-se a si mesmo”.

Cultura implica idéia de valor e de fim, pois a vida humana é sempre uma procura de valores e viver é uma realização de fins.

Quinta finalidade: Finalmente, como condição básica para a construção do conhecimento jurídico seguro e certo temos a necessidade de utilizarmos de um método que nos conduza a um resultado exato ou rigorosamente verificado, pois assim, como as demais ciências, a ciência jurídica se compõe também de um sistema de conhecimentos verificados. Desta forma, a aquisição de noções básicas do método jurídico para melhor conhecimento, compreensão e elaboração da ciência jurídica, constitui a quinta finalidade da Introdução ao Direito, que ao lado das demais já explicitadas, fornecem aos alunos que se iniciam no estudo do Direito, indicadores seguros para o início da viagem qüinqüenal pelo complexo mundo jurídico, de forma organizada e compreensiva.

Segundo Miguel Reale, “todo conhecimento científico ou filosófico pressupõe uma ordenação intencional da inteligência e da vontade capaz de permitir ao investigador alcançar um resultado, dotado pelo menos de relativa certeza” (problema metodológico).

Verificamos a verdade (ou relativa certeza) de forma analítica ou sintética. Verificação analítica – verdade (intuição intelectual) – Ex: “o todo é maior

que a parte” (não há necessidade de prova); ou verdade reconduzida por inferência a uma verdade evidente, ou a um pressuposto admitido como certo ou válido.

Verificação sintética – as hipóteses são subordinadas ao controle da experiência, graças a processos “experimentais” (experimentação) – a experiência é intencionalmente programada e dirigida, como acontece no campo da Física, Química, Biologia.O Direito, sendo uma ciência humana ou social, a aplicação de processos experimentais é reduzidíssima, o que não significa que seja destituído de certeza.

A certeza do Direito é obtida mediante o rigor do raciocínio, a objetividade da observação dos fatos sociais e a concordância de seus enunciados, estabelecendo princípios e leis de tendência, e não leis de causalidade como nas ciências exatas.

A ciência do Direito, investigando positivamente a realidade social que chamamos de “experiência jurídica”, obedece às regras da Lógica que estuda as relações de inferência entre as proposições e a validade dessas relações e segue métodos adequados às suas finalidades (verificações analíticas, com base na Lógica).

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O Direito se utiliza dos seguintes métodos: indução, dedução e analogia. Indução – parte de fatos particulares, até atingir uma conclusão de ordem

geral que explica o que há de constante e comum nos fatos particulares observados e em outros da mesma natureza.

Dedução – parte de uma verdade sabida ou admitida para se chegar a uma nova verdade, em virtude das leis que regem o pensamento em sua “conseqüencialidade” essencial, desdobrando-se em:

Dedução silogística (silogismo) – dadas duas proposições (premissa maior e premissa menor), delas resulta necessariamente uma conclusão esclarecedora. Alguns jusfilósofos, equivocadamente reduz a aplicação do Direito ao uso sucessivo de silogismos, afirmando, comodamente que uma sentença (juízo editado pelo juiz) é um silogismo, cuja premissa maior seria a lei, a premissa menor, os fatos e a decisão, a conclusão.

O ato de julgar não obedece a meras exigências lógico-formais, implicando sempre apreciações valorativas (axiológicas) dos fatos, e não raro, um processo de interpretação da lei, aplicável ao caso concreto, graças a um trabalho mental chamado “dedução amplificadora”.

Dedução amplificadora – da comparação lógica entre duas ou mais proposições podemos inferir (deduzir) uma nova verdade, que não se reduz propriamente às proposições antecedentes.

Analogia –raciocínio baseado em razões relevantes de similitude. Assim, quando a lei é omissa, a solução jurídica adequada deve ser buscada no processo analógico (vide art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil – LICC), muito utilizado nos países que adotam o sistema jurídico Common law , que se fundamenta nos precedentes judiciais (decisões anteriores)

Hoje sabemos que a Ciência do Direito não é indutiva, nem dedutiva ou analógica exclusivamente, mas predomina o pluralismo metodológico, onde dedução, indução e analogia se completam. Assim, por exemplo, na elaboração das leis – momento nomogenético – a indução predomina, através da observação dos fatos que o legislador pretende disciplinar. Elaborada e promulgada a lei, que do ponto de vista formal ou lógico é uma proposição hipotética condicional ou um conjunto de proposições normativas gerais e abstratas, prevalece a dedução, pois das leis inferem-se conseqüências disciplinadoras dos fatos sociais.

Concluindo, afirmamos que ao lado da indução, dedução e analogia, o jurista aprecia os fatos sob o prisma de valor, isto é, valora. Assim é que, enquanto as leis das ciências naturais são cegas para o mundo dos valores (não são boas, nem mais prudentes, belas ou feias, justas ou injustas etc), os princípios e leis das ciências humanas ou sociais vão além dos possíveis enlaces causais, havendo sempre uma tomada de posição através do ato valorativo ou axiológico do cientista social.

Não há “neutralidade valorativa” no estudo dos fatos jurídicos, daí Wilhelm Dilthey (1833-1911), filósofo, psicólogo e pedagogo alemão ter afirmado que “a natureza se explica, enquanto a cultura se compreende”.

Segundo Miguel Reale explicar “consiste em ordenar os fatos segundo nexos ou laços objetivos e de causalidade ou de funcionalidade”; ao passo que “compreender é ordenar os fatos sociais ou históricos segundo suas conexões de sentido, o que quer dizer, finalisticamente, segundo uma ordem de valores”.

As ciências da natureza explicam os fatos e estabelecem juízos de realidade, representados pela fórmula “S é P” onde “S” quer dizer “sujeito” e “P” indica o “predicado” da proposição. Se, por exemplo, afirmo que a terra é um planeta, estou ligando o sujeito terra a uma determinada qualidade: a de ser planeta e não estrela ou cometa. A ligação entre o sujeito e o predicado, sendo necessária, forma um juízo de realidade.

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Juízo de realidade é aquele que se refere às coisas, tais como elas são de fato (A terra é redonda. O sol é o centro de nosso sistema planetário). Tais juízos são intelectuais e correspondem a verdades científicas.

As leis da Física, Química, estabelecem conexões necessárias entre os fatos observados – juízos de realidade, mas não os situam segundo uma escala positiva ou negativa de valores, nem determinam que alguma coisa seja feita como conseqüência da verdade enunciada – a ligação é indicativa e causal.

Por outro lado, as relações que se passam entre os homens (relações jurídicas intersubjetivas), baseiam-se em normas que enunciam algo que deves ser, estabelecendo juízos de valor, transformando as relações em imperativas, obrigatórias, com previsão de diversas conseqüências pela ação ou omissão, obediência ou violação às normas, cuja fórmula e “S deve ser P” – expressão verbal “deve ser” (ciências da cultura).

Juízo de valor é aquele que resulta de uma apreciação individual e se refere às coisas tais como elas valem para aquele que as julga (A terra é um vale de lágrimas. Este juiz prolatou uma sentença justa).

4. ASPECTOS HISTÓRICOS DA DISCIPLINA

Analisando o currículo jurídico no tempo e no espaço, concluímos que nossa disciplina recebeu várias denominações, conforme as exigências da época e o enfoque pedagógico dos legisladores. Uns preferiram denominá-la de Enciclopédia Jurídica, outros de Filosofia do Direito, Sociologia Jurídica, Direito Natural, Introdução à Ciência do Direito, Introdução ao Estudo do Direito e Introdução ao Direito, após a vigência da Portaria MEC nº l886, de 30/12/94, revogada pela Resolução CNE/CES Nº 09, de 29 de setembro de 2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito e no seu art. 5º não mais se refere explicitamente a esta disciplina.

No Brasil, criados os cursos jurídicos aos 11 de agosto de 1827, o primeiro nome que teve esta disciplina (a primeira do 1º ano, cujo estudo continuava no segundo ano), foi Direito Natural, nome impróprio, pois não expressa as formas de direito (positivo, subjetivo, objetivo), bem como todas as partes da ciência jurídica. Entretanto, esta era a denominação encontrada no currículo jurídico das duas primeiras faculdades de Direito, quais sejam: Faculdade de Direito de São Paulo, mais tarde incorporada à Universidade de São Paulo (USP), funcionando no Largo de São Francisco e a Faculdade de Direito de Olinda (Pernambuco), transferida 26 anos depois para Recife (capital de Pernambuco), ambas criadas na memorável data de 11 de agosto de 1827. Com a Reforma de Ensino Rivadávia Correia, em 1912, a disciplina introdutória dos cursos jurídicos, passou a denominar-se Enciclopédia Jurídica, que teve vida efêmera, em face da supressão pela Reforma Maximiliano em 1915, que reputamos correta, pois Enciclopédia Jurídica, empregada pela primeira vez por Hennius em 1638, cujas origens remontam ao século. XVI, não se presta realmente para proporcionar uma noção geral da ciência jurídica como um todo unitário e sistemático, não atendendo, portanto, aos imperativos de uma disciplina de natureza propedêutica, apesar do caráter enciclopédico da mesma.

Suprimida em 1915 pela Reforma Maximiliano e sem outra disciplina introdutória que não fosse a Filosofia do Direito, existente no Curso de Bacharelado, ora no 1º ano, ora no 5º ano, permaneceu com essa denominação até 1931 quando, por ocasião da Reforma Francisco Campos, foi substituída no 1º ano pela disciplina Introdução à Ciência do Direito, continuando a vigorar em alguns cursos jurídicos a Filosofia do Direito no 5º ano.

Alguns estudiosos do Direito defenderam a Sociologia Jurídica, ao invés da Introdução à Ciência do Direito, para iniciação aos estudos jurídicos e dentre eles, relembramos o nome de Rui Barbosa, que na Comissão de Instrução Pública da Câmara

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dos Deputados, propôs a substituição da tradicional cadeira de Direito Natural pela de Sociologia.

Apesar da inegável importância da Sociologia como ciência auxiliar do Direito, levando legisladores a incluí-la no currículo da maioria dos cursos jurídicos, não podemos reduzir a disciplina propedêutica do Curso de Direito apenas aos conhecimentos científicos de natureza sociológica, razão pela qual rejeitamos a Sociologia como matéria introdutória.

Por força da Resolução Nº 03/72, do então Conselho Federal de Educação, atual Conselho Nacional de Educação, o título Introdução à Ciência do Direito foi substituído por Introdução ao Estudo do Direito, embora alguns autores continuam a nomearem suas obras no campo propedêutico do Direito de Introdução à Ciência do Direito, explicando que a preferência por tal designação se deve ao seu rigor técnico inquestionável.

A rigor, como vimos anteriormente, a Introdução ao Direito não é propriamente uma ciência, sendo de fato uma enciclopédia de conhecimentos científicos, abrangendo aspectos jurídicos, históricos, sociológicos etc e de conhecimentos filosóficos, com implicações artísticas e técnicas, formando um sistema de conhecimentos logicamente ordenados, artisticamente unificados (unidade), visando a um objetivo de natureza pedagógica.

Em 30 de dezembro de 1994 o Ministério da Educação – MEC, compreendendo a necessidade de repensar e orientar o ensino jurídico brasileiro, editou a Portaria Ministerial n.º 1886/94, fruto do trabalho de sistematização realizado por uma Comissão de Especialistas de Direito, fixando as diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso jurídico.. Nesta Portaria, alterada pela Portaria Ministerial n.º 1785/2001, de 09 de agosto de 2001, nossa disciplina recebe o nome de Introdução ao Direito.

Em 03 de abril de 2002, a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação aprovou o Parecer CNE/CES 0146/2002, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Direito, Ciências Econômicas, Administração, Ciências Contáveis, Turismo, Hotelaria, Secretariado Executivo, Música, Dança,Teatro e Design, que foi homologado por despacho da Ministra de Estado da Educação interina, Maria Helena Guimarães de Castro, publicado no Diário Oficial da União de 13 de maio de 2002. Neste Parecer, encontramos diretrizes comuns aos cursos relatados, abrangendo Projeto Pedagógico, Organização Curricular, Estágios e Atividades Complementares, Acompanhamento e Avaliação e Monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso, bem como também, diretrizes específicas por curso relatado.

Embora a Introdução ao Direito não recebesse esta denominação, estava presente neste Parecer e na sua minuta de Resolução nos Conteúdos de Formação Fundamental, que objetivavam integrar o estudante no campo do Direito, principal escopo da Introdução ao Direito.

Com a revogação do ato homologatório do Parecer CNE/CES nº 146/2002, conforme despacho do então Ministro da Educação, Cristóvão Buarque, publicado no Diário Oficial da União, Seção 1, em 02/6/2003, voltou a vigorar a Portaria MEC nº 1886, de 30/12/94, revogada pela atual Resolução CNE/CES nº 9, de 29/9/2004, anteriormente citada. Como vimos, na legislação em vigor atualmente (Resolução CNE/CES nº 9/2004), a expressão “Introdução ao Direito” não mais aparece de forma explícita, no rol das disciplinas que compõem o Eixo de Formação Fundamental, nem no Eixo de Formação Profissional, citado no Parecer CNE/CES nº 055/2004, aprovado em 18/02/2004 e reconsiderado no atual Parecer CNE/CES nº 211/2004, aprovado em 08/7/2004, que contemplava esta disciplina indevidamente, como profissionalizante.

5. ASPECTOS NORMATIVOS E PEDAGÓGICOS DA DISCIPLINA.

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INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior

UF: DF

ASSUNTO: Reconsideração do Parecer CNE/CES 55/2004, referente às Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Direito.RELATOR: Edson de Oliveira NunesPROCESSOS N.ºS: 23001.000074/2002-10, 23001.000303/2001-15 e 23001.000150/2003-60PARECER N.º:CNE/CES 211/2004

COLEGIADO: APROVADO EM:8/7/2004

I – RELATÓRIO

Trata o presente de pedido de reconsideração do Parecer CNE/CES nº 55/2004, encaminhado a este Conselho pela Associação Brasileira de Ensino de Direito (ABEDi) por meio eletrônico, em 4 de março e protocolado sob o n.º 021419.2004-37.

O Parecer supra citado se refere às Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Direito, relatado pelos Conselheiros José Carlos Almeida da Silva e Lauro Ribas Zimmer.

Mérito

No histórico do pedido de reconsideração, a ABEDi relata sua participação no processo de construção das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a graduação em Direito, como consta do texto do Parecer CNE/CES 55/2004 e descreve todos os fatos relacionados com a trajetória do debate que foi construída ao longo da elaboração das diretrizes. Neste item, destaca-se que em face da existência e das impugnações dos Pareceres CNE/CES 100 e 146/2002, o foco do debate entre a ABEDi e os Conselheiros , se concentrou em quatro itens específicos: carga horária e duração do curso; conteúdos curriculares; monografia e estágio curricular.

Em relação ao primeiro item, se verifica que tanto na primeira reunião, com a presença dos Conselheiros José Carlos de Almeida, Éfrem Aguiar Maranhão, Edson de Oliveira Nunes, Arthur Roquete de Macedo e Lauro Ribas Zimmer, além do Secretário Executivo, Raimundo Miranda, como na segunda, com a presença dos Professores Paulo Medina e José Geral de Souza Júnior, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ficou evidenciado que a carga horária e a duração do curso seriam objeto de regulamentação própria reforçada pela revisão do Parecer CNE/CES 100/2002, e, portanto não incorporada a sua deliberação nas diretrizes.

Quanto ao Estágio Curricular, item mais fácil de conciliação, segundo o documento da ABEDi, que insistia na necessidade de que ele fosse realizado no âmbito da própria IES, o que se tornou consensual em torno de seu caráter curricular na linha da proposta, durante a 2ª reunião.

Em referência aos Conteúdos Curriculares, foi sugerida a referida dos objetivos antes inseridos para os do Eixo Fundamental e discutido o Eixo Profissional, relativamente quanto à “Introdução ao Direito”, matéria pelos Conselheiros como mais próxima de disciplina e considerada impertinente no âmbito das diretrizes. De qualquer forma, o Conselheiro Relator da época, segundo o documento mostrou-se sensível à necessidade de se ter em corpo comum no ensino jurídico, com ampla margem para se ousar nos espaços possíveis.

O item Monografia foi objeto de defesa da manutenção de sua concepção, independente do nome que viesse a lhe ser atribuída, porque no entendimento da ABEDi há um momento concentrado em que o aluno é solicitado a demonstrar as habilidades e competências que lhes foram fornecidas ao longo do curso.

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Por todos estes argumentos, a ABEDi insistiu na necessidade de uma audiência pública para estender à comunidade condições de apresentar suas opiniões, o que foi reafirmado por ocasião do II Congresso Brasileiro de Ensino do Direito, organizado pela própria Associação e com a presença, à época, do Conselheiro-Relator.

Assim, no final de 2003, foram realizadas duas audiências, sendo que a primeira destinada à duração dos cursos da área de Ciências Sociais Aplicadas e, a segunda, específica para as DCN’s do curso de Direito, optando este relator por registrar somente os fatos relacionados à 2ª audiência, cujo tema é objeto deste Parecer. Nesta, por ser relativa ao Direito, o debate ficou à OAB e a ABEDi.

Transcrevemos abaixo a posição da ABEDi, centrada nos seguintes itens:

“(a) elogiar a existência de elaboração de um projeto pedagógico para os cursos jurídicos; (b) questionar o que significa a idéia de pós-graduação ‘lato sensu’ integrada, uma vez que o Eixo de Formação Concentrada (existente na proposta de 2000 encaminhada pela Secretaria de Educação Superior (SESu) fora suprimido; (c) sugerir que os conteúdos fundamentais não fossem adjetivados, mas mantenham o espírito da Portaria MEC 1.886/94; (d) instituir na necessidade de inclusão dos conteúdos profissionalizantes, recuperado a sugestão da proposta de 2000 para reunião de ‘Processo Civil’ e ‘Processo Penal’ em um conteúdo de ‘Processo’; (e) enfatizar a importância da monografia; e, (f) insistir na necessidade de se trabalhar o estágio como uma etapa curricular no âmbito da própria instituição de ensino.”

Ao término dos debates a ABEDi, em sua participação conclusiva, ressaltou a necessidade de se instituir na construção de um estágio curricular a ser realizado na própria IES sem se confundir com o estágio profissional, e na de realização de um exercício concentrado em que o aluno venha a demonstrar as habilidades e competências desenvolvidas ao longo do curso.

Segundo o documento da ABEDi, embora houvesse todo esse árduo trabalho de construção de consensos e superação de divergências, o Parecer CNE/CES 55/2004 não traduziu as expectativas construídas pela comunidade a partir do debate, o que justificou o presente pedido de reconsideração, a seguir explicitado na permanência dos pontos de divergência relacionados ao item conteúdos curriculares, com somente duas ponderações sobre a inclusão de Antropologia no Eixo de Formação Fundamental e, que poderia ser acompanhada de uma referencia à História e à Introdução ao Direito, que já tinha sido transformada de disciplina em matéria pela P.M 1.886/94 e que agora virou conteúdo.

Restaram, portanto, aos dois últimos itens: Monografia e Estágio Curricular, as divergências nas quais passaram a se concentrar as ponderações da ABEDi a favor de sua revisão.

Segundo a ABEDi, no momento inicial do debate foram identificadas duas disposições antagônicas: uma, favorável à monografia obrigatória e outra, contrária à sua própria existência, que se constavam da proposta das DCN’s, elaborada pela Comissão de Especialistas e no Parecer CNE/CES 1.070/99. Ainda, segundo o relato do documento da ABEDi, esse antagonismo seria resolvido pelo Parecer CNE/CES 146/2002 e respectiva proposta de Resolução, que tornava a monografia opcional para as IES. Entretanto, com as diversas contestações apresentadas ao Parecer citado e buscando a conciliação entre as três posições que constavam dos documentos: ausência, existente opcional e existência obrigatória -, foi apresentada proposta baseada no reconhecimento da necessidade de realização, preferencialmente em algum momento mais próximo do final do curso, de um exercício pedagógico concentrado em que o aluno fosse instado a

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exibir as habilidades e competências obtidas ao longo de sua formação, na qual se procurou flexibilizar e admitir outras modalidades, desde que mantido o seu caráter obrigatório. O Parecer CNE/CES 55/2004 não considerada que com a realização da monografia, os egressos demonstração autonomia intelectual e de conhecimento, crítica, raciocínio jurídico, etc, transferindo para a pós-graduação, onde, segundo os relatores se justifica pelo aprofundamento de estudos autônomos e continuados, enriquecidos pela experiência profissional e com a execução de projetos de pesquisa, tão necessários na continua perene construção da ciência jurídica. Finalmente a ABEDi registra que concorda com a proposta de um trabalho de curso, de caráter obrigatório.

Quanto ao Estágio Curricular, a ABEDi destaca que a P. M 1.886/94 trouxe nesse campo avanços para o ensino jurídico, permitindo a integração dos conteúdos teóricos com as atividades práticas, especialmente quanto à concepção do estágio curricular como Prática e não somente como Prática Forense. Entendem, que se o estágio for realizado fora da IES, haverá o esvaziamento do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) e estabelecerá novamente impasse, segundo ela, já superado pela P.M 1.886/99 e que diz respeito à mistura entre estágio curricular e estágio profissional. Reconhece a importância dos convênios somente para serem utilizados parcialmente, de modo a suprir as atividades que não são oferecidas na IES.

Finalmente, critica a constituição do Eixo de Formação Prática, constituído essencialmente pelo estágio supervisionado, pelas atividades complementares e pelo trabalho de curso, quando exigido.

-Considerações Finais

Tendo em vista o pedido de reconsideração em tela, as análises e debates subseqüentes, quanto aos itens: Conteúdos Curriculares (Introdução ao Direito), Trabalho de Curso e Estágio Supervisionado – este Relator submete à apreciação do Câmara de Educação Superior (CES) o texto adaptado do Parecer CNE/CES 55/2004 e do Projeto de Resolução anexo.

A Lei 9.131, sancionada em 24 de novembro de 1995, deu nova redação ao art. 9º, § 2º, alínea “c”, da então LDB 4.024/61, conferindo à CES do Conselho Nacional de Educação (CNE) a competência para “a elaboração do projeto de Diretrizes Curriculares Nacionais (DNC), que orientarão os cursos de graduação, a partir das propostas a serem enviadas pela Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação ao Conselho Nacional de Educação”, tal como viria a estabelecer o inciso VII do art. 9º da nova Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, publicada em Dezembro de 1996.

Para orientar a elaboração das propostas de DCN, o CNE/CES editou os Pareceres 776/97, e 583/2001. Por seu turno, a SESu/MEC publicou o Edital 4, de 4 de dezembro de 1997, convocando as instituições de ensino superior para que realizassem ampla discussão com a sociedade científica, ordens e associações profissionais, associações de classe, setor produtivo e outros envolvidos que resultassem proposta e sugestões para a elaboração das DCN’s dos Cursos de Graduação, contribuições essas, significativas, a serem sistematizadas pelas Comissões de Especialistas de Ensino de cada área.

A Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação aprovou também, Parecer CES 67, de 11 de março de 2003, contendo todo referencial para as DCN’s dos Cursos de Graduação, inclusive para o efeito entendimento da tradição entre o regime anterior e o instituído pela LDB 9.394/96, como preceitua o seu art. 90º, tendo, por razões de ordem metodológica, estabelecido um paralelo entre Currículos Mínimos Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Constata-se que, quanto aos Currículos Mínimos, o Referencial enfocou a concepção, abrangência e objetivo dos referidos currículos, fixados por curso de

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graduação, ensejado as respectivas reformulações de grades curriculares cujo atendimento implicava fornecer diplomas profissionais, assegurado o exercício das prerrogativas e o direito de cada profissão. No entanto, quanto às DCN’s o Parecer elencou os princípios que lhes embasam a formulação, disto resultando o nítido referencial entre o regime anterior e o proposto para a nova ordem jurídica.

Ainda sobre o referencial esboçado no Parecer CNE/CES 67/2003, verifica-se que existem diretrizes que poderiam ser consideradas comuns aos cursos de graduação, enquanto outras atenderiam à natureza e às peculiaridades de cada curso, desde que fossem contempladas as alíneas “a” a “g” do item II do Parecer CNE/CES 583/2001, “litteris”:

a- Perfil do formando/egresso/profissional – conforme o curso, o projeto pedagógico deverá orientar o currículo para um perfilprofissional desejado;b- Competência/habilidades/atitudes.c- Habilitações e ênfase;d- Conteúdo curriculares.e- Organização do curso.f- Estágios e atividades complementares.g- Acompanhamento e Avaliação.

É evidente que as DCN’s, longe de serem consideradas como um corpo normativo, rígido e engessado, para não se confundirem com os antigos currículos mínimos profissionalizantes, objetivam ao contrário “servir de referência para as instituições na organização de seus programas de formação, permitindo flexibilidade e priorização de áreas de conhecimento na construção dos currículos plenos. Devem induzir à criação de diferentes formações e habilitações para cada área do conhecimento, possibilitando ainda definirem múltiplos perfis profissionais, garantindo uma maior diversidade de carreiras, promovendo a integração do ensino de graduação com a pós-graduação, privilegiando, no perfil de seus formandos, as competências intelectuais que refletiam a heterogeneidade das demandas sociais”.

Assim, as DCN’s para o curso de graduação em Direito devem refletir uma dinâmica que atenda aos diferentes perfis de desempenho a cada momento exigido pela sociedade, nessa “heterogeneidade das mudanças sociais”, sempre acompanhadas de novas e mais sofisticadas tecnologias, novas e mais complexas situações jurídicas, a exigir até contínuas revisões do projeto pedagógico do curso jurídico, que assim se constituirá a caixa de ressonância dessas efetivas demandas, para formar profissionais do direito adaptáveis e com a suficiente autonomia intelectual de conhecimento para que se ajuste sempre às necessidades emergentes, revelando adequado raciocínio jurídico, postura ética, senso de justiça e sólida formação humanística.

Considerando que outros pareceres desta Câmara já enfatizaram as peculiaridades do currículo mínimo, no Brasil, como ponto de partida do efetivo entendimento da transição para diretrizes curriculares nacionais em cada curso de graduação, em face marco legal estabelecido a partir da Lei 9.131/95 e, em especial, da LDB 9.394/96, torna-se relevante realizar uma incursão na história da educação superior no Brasil, enfocando os diferentes momentos estruturais dos cursos de Direito, para que se verifiquem cinco principais mudanças nesse contexto:

a) “currículo único” para todos os cursos de Direito, no Brasil, de 1827 (Império) a 1889 (início da República), e até 1962;

b) mudanças de “currículo único”, vigente no período anterior, para “currículo mínimo” nacional e “currículo pleno”, por instituição de ensino, com a flexibilização regional, embora permanecesse rígido o “currículo mínimo”;

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c) de “currículo mínimo” em 1962, perpassando por 1972 com as Resoluções 3/72 e 15/73, mantendo-se as concepções simultâneas de “currículo mínimo” nacional e “currículos plenos” institucionais;

d) “currículo mínimo” nacional e “currículo pleno” das instituições com flexibilização para habilitações e especializações temáticas, em 1994, com a Portaria Ministerial 1.886/94, para implantação a partir de 1996 posteriormente deferido para 1998, ainda que a ementa da referida Portaria estivesse assim regida, com um equívoco ou contradição em seus termos: “Fixa as diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso jurídico”, posto que, se “diretrizes” fossem, amplas e abertas, não haveria a exigência expressa de determinado e limitado “conteúdo mínimo do curso jurídico” nacional, ainda que sem embargo dos “currículos plenos” das instituições; e,

e) de “currículo mínimo” / “conteúdo mínimo do curso jurídico”, para “diretrizes curriculares nacionais” da graduação em Direito, em decorrência das Leis 9.131/95, 9.394/96 e 10.172/2001, desse conjunto normativo resultado os Pareceres CES/CNE 776/97, CES/CNE 583/2001, 146/2002 (revogado), 67/2003, Edital 4/97, e, em particular, o Parecer CES/CNE 507/99, culminando com o presente Parecer ora submetido à deliberação da Câmara de Educação Superior.

Promovendo-se a incursão histórica para a identificação das peculiaridades de cada época, com repercussão no ensino jurídico brasileiro, até os dias atuais, verifique-se que os primeiros cursos de Direito no Brasil, de 1827 a 1962, tiveram um “currículo único”, nacional, rígido e invariável de nove cadeiras (cathedra), a ser cumprido em cinco anos, refletindo os aspectos políticos e ideológicos do Império (com a forte influência do Direito Natural e do Direito Público Eclesiástico), durante o qual, até a Proclamação da República, só foi possível uma alteração curricular, em 1854, com a inclusão das cadeiras de Direito Romano e do Direito Administrativo.

Durante o Império, portanto, com a inclusão, em 1854, das duas cadeiras supra citadas, o currículo único para os cursos de Direito, tinha a seguinte estrutura:

1º ano – 1ª cadeiraDireito NaturalPúblicoAnálise da Constituição do ImpérioDireito das GentesDiploma

2º ano – 1ª cadeiraContinuação das matérias do ano antecedente2ª cadeiraDireito Público Eclesiástico

3º ano – 1ª cadeiraDireito Pátrio Civil2ª cadeiraDireito Pátrio Criminal, com teoria do processo criminal

4º ano – 1ª cadeiraContinuação do Direito Pátrio Civil2ª cadeiraDireito Mercantil e Marítimo

5º ano – 1ª cadeiraEconomia Política

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2ª cadeiraTeoria e prática do Processo Adotado Pelas Leis do Império

Advindo a Proclamação da República, alterações curriculares foram introduzidas, decorrentes das modificações políticas e no campo das ciências, sob a influencia da corrente positivista. Com efeito, não prevalecendo a orientação decorrente do Direito Natural (o jus naturalismo) e desvinculando-se a Igreja do estado, especialmente sob a influência do período Pombalino, extingue-se o Direito Público Eclesiástico em 1890, logo após a Proclamação da República, criando-se também as cadeiras de Filosofia e História do Direito e de Legislação Comparada sobre o Direito Privado, até que, adveio, já no período Republicano, a Lei 314, de 30/10/1895, fixado em novo currículo para os cursos de Direito, assim constituído:

1º ano – 1ª cadeiraFilosofia do Direito2ª cadeiraDireito Romano3ª cadeiraDireito Público Constitucional

2º ano – 1ª cadeiraDireito Civil2ª cadeiraDireito Criminal3ª cadeiraDireito Internacional Público e Diplomacia4ª cadeiraEconomia Política3º ano – 1ª cadeiraDireito Civil2ª cadeiraDireito Criminal, especialmente Direito Militar e Regime Penitenciário3ª cadeiraCiências das Finanças e Contabilidade do estado4ª cadeiraDireito Comercial

4º ano – 1ª cadeiraDireito Civil2ª cadeiraDireito Comercial (especialmente Direito Marítimo, Falência e Liquidação Judiciária)3ª cadeiraTeoria do Processo Civil, Comercial e Criminal

4ª cadeiraMedicina Pública

5º ano – 1ª cadeiraPrática Forense2ª cadeiraCiência da Administração e Direito Administrativo3ª cadeira

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História do Direito e especialmente do Direito Nacional4ª cadeiraLegislação Comparada sobre Direito Privado

Com algumas poucas modificações decorrentes da influência do positivismo no período Republicano, o currículo se manteve com o mesmo núcleo fixado na Lei 314/1895 até 1962 quando o Conselho Federal de Educação avançou da concepção até então vigente de “currículo único”, rígido, uniforme, para todos os cursos, inalterado até em razão da Lei, para a nova concepção de “currículo mínimo” para os cursos de graduação, incluindo-se, portanto, o bacharelado em Direito, na forma e sob as competências previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 4.024/61.

Esses enfoques revelam, dentre outros motivos, como o curso de Direito esteve, durante o Império e no período republicano até 1962, sob forte e incondicional controle político-ideológico, constituindo-se “currículo único”, com as poucas alterações já apontadas, o que explica a enraizada resistência às mudanças, somente incentivadas, ainda que de forma tênue, a partir de 1962, com a implantação do primeiro currículo mínimo nacional, para o curso de Direito.

O estudo comparado desses marcos legais, incluindo o advento da LDB 4.024/61, revela que, embora “currículo mínimo nacional” e “duração do curso” ainda significassem dificuldades para alterações curriculares, as normas decorrentes da nova LDB, ao tempo em que instituíam “currículo mínimo”, ensejavam, por seu turno, que as instituições de ensino elaborassem seus respectivos “currículos plenos”, como forma de se adaptarem aos reclamos regionais.

Foi, certamente, em relação aos marcos pretéritos, um avanço significativo, em 1963, com o surgimento dos “currículos mínimos” para todo o País e “currículos plenos” das instituições de ensino, revelando importante passo na flexibilização curricular, ainda que mantida fixa a duração de cinco anos.

Sob a égide da LDB 4.024/61, o Conselho Federal de Educação, criado pela citada Lei em substituição ao até então existente Conselho Nacional de Educação, emitiu o Parecer 215, aprovado por aquele Conselho em 15/9/62 (publicada in Documenta nº 8 – Outubro de 1962, pág. 81/83, e republicano in Documenta nº 10 – Dezembro de 1962, pág. 16/19), propondo um currículo mínimo de Direito, bacharelado, com duração de cinco anos, a ser implantado a partir do ano letivo de 1963, constituído das quatorze matérias seguintes:1. Introdução à Ciência do Direito2. Direito Civil3. Direito Comercial4. Direito Judiciário (com prática forense)5. Direito Internacional Privado6. Direito Constitucional (incluindo noções de Teoria do Estado)7. Direito Internacional Público8. Direito Administrativo9. Direito do trabalho10. Direito penal11. Medicina Legal12. Direito Judiciário Penal (com prática forense)13. Direito Financeiro e Finanças14. Economia Política

Registre-se que o Parecer 215/62, com o respectivo projeto de resolução, contendo o primeiro “currículo mínimo” do curso jurídico, no Brasil, em substituição ao “currículo único”, e referencial para a elaboração de “currículo pleno” em cada instituição, foi homologado pelo então Ministro de Educação e Cultura, Prof. Darcy Ribeiro, de

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saudosa memória, nos termos da Portaria Ministerial de 1/12/62, publicada na Documenta 10 – Dezembro de 1962, às pág. 13/15, homologando, também, mais vinte e dois outros “currículos mínimos” decorrentes dos respectivos pareceres ali mencionados, fixado, assim, o “currículo mínimo” para vinte e três cursos de graduação, dentre eles o curso de Direito, que encabeça p elenco, naquele ato.

Apesar do estímulo que se continha no novo modelo, para que as instituições de ensino superior tivessem mais liberdade, porque a elas incumbia a formalização e operacionalização do seu “currículo pleno”, ainda assim o currículo de Direito se manteve rígido, com ênfase bastante tecnicista, sem a preocupação maior com a formação da consciência e do fenômeno jurídicos, não se preocupando com os aspectos humanistas, políticos, culturais e sociais, mantendo-se, assim, o citado tecnicismo, próprio do início e de boa parte do período republicano anterior.

Para o entendimento das mudanças entre o regime acadêmico sob o ordenamento jurídico anterior (Leis 4.024/61 e 5.540/68) e o instituído pela atual LDB (9.394/96), torna-se necessário refletir sobre os fundamentos, concepção e princípios que nortearam, no Império, o currículo de 1827, o subseqüente estabelecido pela Lei 314/1895, no início da Velha República, perdurando até 1962, quando o então Conselho Federal de Educação emitiu o Parecer CFE 215/62, homologado pela Portaria Ministerial de 4/12/62, e, depois, o Parecer 162/72, que ensejou a Resolução CFE 3/72, com os acréscimos da Resolução 15/73, fixando, a cada época, currículo único e currículo mínimo com duração do curso para o bacharelado em Direito, como forma de cotejar com o que se preconiza para a fixação das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Graduação em direito, à luz da nova ordem jurídica educacional brasileira.

Esses instrumentos normativos revelam a concepção dos cursos em cada época, como também ocorrera antes de 1961, quando ainda em funcionamento o então Conselho Nacional de Educação, transformado, a partir da LDB 4.024/61, em Conselho Federal de Educação, fixando-lhe competências, conforme art. 9º e seu § 1º, dentre outros transcritos nesse parecer, sem, contudo, nesses dois momentos, elas terem sido alteradas significativamente.

A partir da LDB supra mencionada, os seus arts. 66,68, parágrafo único, e 70, definem o objetivo da educação superior, a importância do diploma conferindo privilégio para o exercício das profissões e para admissão em cargos públicos, bem como a competência do então CFE para fixar currículo mínimo e duração dos cursos que habilitassem à obtenção do diploma, assim concebido, litteris:

Art. 66. O ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes, e a formação de profissionais de nível universitário

Art. 68 Parágrafo único – Os diplomas que conferem privilégio para o exercício de profissões liberais ou para a admissão em cargos públicos, ficam sujeitos ao registro no Ministério da Educação e Cultura, podendo a lei exigir a prestação de exame e provas de estágio perante os órgãos de fiscalização e disciplina das respectivas profissões.

(...)

Art.70. O currículo mínimo e a duração dos cursos que habilitem à obtenção de diploma capaz de assegurar privilégio para o exercício da profissão liberal...vetado...serão fixados pelo Conselho Federal de educação.

Parágrafo único. Vetado.A remissão e subseqüente transcrição do “parágrafo único vetado” são

valiosas para a contextualização dos elementos de controle a que estava submetida a educação superior, servido “as razões de veto” como alerta daquela época para nossos dias:

Art. 70 Parágrafo único (vetado) – A modificação do currículo ou da duração

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de qualquer desses cursos em um ou mais estabelecimentos integrantes de uma universidade, depende de aprovação prévia do mesmo Conselho, que terá a faculdade de revogá-la se os resultados obtidos não se mostrarem vantajosos para o ensino.

Assim as “razões do veto” do transcrito parágrafo único, contemplam, já para aquela época, restrições ao “rigorismo formal (...) que nada contribui para a elevação dos padrões de ensino e para a sua adaptação às condições locais”;

O art. 70 (caput) já exige currículo mínimo e anos previstos de duração fixados pelo Conselho Federal de Educação para os cursos cuja diplomação assegure privilégios, o que constitui o máximo de regulamentação admissível em face da autonomia universitária. Pelo parágrafo único as exigências atingem a extremos ao impor autorização prévia do mesmo Conselho para qualquer modificação no currículo ou na duração dos cursos. A experiência brasileira indica que nada ganhamos com a regulamentação rígida do ensino superior até agora vigente, pois dela só obtivemos um rigorismo formal no atendimento das exigências da lei em que nada contribui para a elevação dos padrões de ensino e para sua adaptação às condições locais.

O ato normativo, portanto, diferenciador ou caracterizador dos sentidos de época ou da contextualização do processo educacional brasileiro não pode transformar-se em um fim em si mesmo, mas deve ser concebido como o instrumento com que se atendem às peculiaridades e, conseqüentemente, o novo tempo em que vivemos, a exigir dos profissionais maior autonomia na sua capacidade de incursionar, com desempenhos científicos, no ramo do saber ou na área do conhecimento onde se situa a sua graduação, no ritmo célebre com que se processam as mudanças.

Isto significa que era plenamente possível, àquela época, cogitar-se de currículo mínimos nacionais, com os conteúdos determinados para todo o País, reservando-se às instituições de ensino uma margem muito limitada para agregar, na composição do seu currículo pleno, algumas disciplinas optativas, dentre as relacionadas pelo próprio Conselho, a fim de que, também dentre elas, o colegiado de curso e, a seguir, os alunos escolhessem uma ou duas, segundo suas motivações ou se as instituições de ensino pudessem oferecer ou estivessem empenhadas por fazê-lo.

De resto, na educação superior, em partícular nos cursos de Direito, inicialmente de currículo único nacional, os currículos mínimos representaram, no período Republicano, o perfil nacional de um determinado profissional, que se considerava habilitado para exercer a profissão em qualquer parte do País desde que portador do diploma registrado, decorrente da conclusão do curso de graduação reconhecido, o que implicava em prévia constatação de que o currículo mínimo nacional estabelecido pela via ministerial fora cumprido.

Em fase, portanto, do que dispunham os arts. 9º, § 1º, e 70, da LDB vigente, em setembro de 1962 o Conselho Federal de Educação editou o Parecer 215/62, fixado os currículos mínimos e duração dos cursos de graduação em Direito, homologado, como se disse, por ato ministerial de 4/12/62 acolhendo também o projeto de resolução anexa ao mencionado parecer.

Advindo, então, a Lei 5.540/68, foi alterado o currículo mínimo fixado em 1962, introduzindo mudanças nos termos das Resoluções 3/72 e 15/73, com flexibilizações relacionadas com a oferta de cursos de graduação em Direito, observadas, no entanto, sempre, as competências do Conselho Federal de Educação, estabelecidas no art. 9º, § 1º, ainda vigente, da Lei 4.021/61, e as constantes da 5.540/68, para fixação dos currículos mínimos nacionais e sua duração para os cursos de graduação.

Esses níveis de competência do Conselho Federal de Educação, portanto, não se modificaram com o advento da Lei de Reforma Universitária, ao contrário, foram reiterados como se observa dos arts. 26 e 27 da mencionada Lei 5.540/68, até porque estava mantido o art. 9º, § 1º, da LDB 4.024/61:

Lei 5.540/68:

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Art. 26. O Conselho Federal de Educação fixará o currículo mínimo e a duração mínima dos cursos superiores correspondentes a profissões reguladas em lei e de outros necessários ao desenvolvimento nacional. Art. 27. Os diplomas expedidos por universidades federal ou estadual nas condições do art. 15 da Lei nº 4.024, de 20 de Dezembro de 1961, correspondentes a cursos reconhecidos pelo Conselho Federal de Educação, bem como os de cursos credenciados de pós-graduação serão registrados na própria universidade, importando em capacitação para o exercício profissional na área abrangida pelo respectivo currículo, com validade em todo o Território Nacional.

§ 1º. O Ministério da Educação e Cultura designará as universidades federais que deverão proceder ao registro de diplomas correspondentes aos cursos referidos neste artigo, expedidos por universidades particulares ou por estabelecimentos isolados de ensino superior, importando o registro em idênticos direitos.

§ 2º. Nas unidades da Federação em que haja universidade estadual, nas condições referidas neste artigo, os diplomas correspondentes aos mesmos cursos, expedidos por estabelecimentos isolados de ensino superior mantidos pelo Estado, serão registrados nessa Universidade.

Mesmo vigente a Lei 5.540/68, o currículo mínimo anteriormente concebido, com duração de quatro anos, perdurou, em âmbito nacional, até o advento da Resolução CFE 3/72, decorrente do Parecer CFE 162/72, que fixou o novo currículo mínimo do curso de graduação em Direito, com duração de quatro anos, como se detalha, por época e pelo respectivo ato normativo, nos comentários aduzidos nos parágrafos pertinentes deste Relatório, convindo registra que nesse ínterim foi editada a Lei 4.215/63, instituído o exame de ordem para o exercício da profissão, ordenamento este alterado pela Lei 5.842/72, mantendo-se o disciplinamento da Resolução supra referida.

Pela Resolução CFE 3/72, decorrente do Parecer CFE 162, aprovado em 27/1/72, o currículo mínimo nacional do curso de graduação em Direito, bacharelado, compreendia as matérias consideradas básicas e as profissionais, incluindo-se nestas a Prática Forense, sob a forma de estágio supervisionado, Educação de Problemas Brasileiros e Educação Física, estas duas decorrentes de legislação própria, constituição os seguintes conjuntos curriculares obrigatórios:A- Básicas:1. Introdução ao Estudo do Direito2. Economia3. SociologiaA- Profissionais 4. Direito Constitucional (Teoria do Estado – Sistema Constitucional Brasileiro)5. Direito Civil (Parte Geral – Obrigações – Parte Geral e Parte Especial – Coisas – Família – Sucessão).6. Direito Penal (Parte Geral – Parte Especial)7. Direito Comercial (Comerciantes – Sociedades - Títulos de Crédito – Contratos Mercantis e Falências)8. Direito do Trabalho (relação do Trabalho – Contratado de Trabalho – Processo Trabalhista)9. Direito Administrativo (Poderes Administrativos – Atos e Contratos Administrativos – Controle de Administração Pública – Função Pública)10. Direito Processual Civil (Teoria Geral – Organização Judiciária – Ações – Recursos – Execuções)11. Direito Processual Penal (Tipo de Procedimento – Recursos – Execução)12. Prática Forense, sob a forma de estágio supervisionado.13. Estudo de Problema Brasileiro e a prática de Educação Física, com predominância desportiva, de acordo com legislação específica.

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14/15. Duas opcionais dentre as seguintes:a) Direito Internacional Públicob) Direito Internacional Privadoc) Ciências das Finanças e Direito Financeiro (Tributário e Fiscal)d) Direito da Navegação (Marinha e Aeronáutica)e) Direito Romanof) Direito Agráriog) Direito Previdenciárioh) Medicina Legal

Após o currículo mínimo nacional fixado pela Resolução CFE 3/72, foi constituída pelo MEC, sob critério da representação regional, uma Comissão de Especialista de Ensino Jurídico, em 1980, com a finalidade de refletir com profundidade a organização e o funcionamento dos cursos de Direito, no País, apresentado proposta de alteração do currículo implantado pela Resolução antes referida. É que se tornou assente, naquele curto período de 1972 até 1980, com a instalação, pelo MEC, da Comissão de Especialistas de Ensino Jurídico, que, por motivos diversos, o currículo até então introduzido não contemplava as necessárias mudanças estruturas que resolvessem os problemas em torno do ensino jurídico, no Brasil, considerado muito “legalista” e “tecnicista”, pouco comprometido com a formação de uma consciência jurídica e do raciocínio jurídico capazes de situara o profissional do direito com desempenhos eficientes perante as situações sociais emergentes.

Desta forma, a Comissão de Especialistas de Ensino Jurídico constituída em 1980 pelo MEC, alterada em 1981 com a substituição de dois de seus ilustres membros, apresentou proposta de currículo mínimo para o curso de graduação em Direito, bacharelado, constituído de quatro grupos de matérias, sendo o primeiro grupo pré-requisito para os três subseqüentes, como a seguir se detalha:1. Matérias BásicasIntrodução à Ciência do DireitoSociologia GeralEconomiaIntrodução à Ciência PolíticaTeoria da Administração2. Matérias de Formação GeralTeoria Geral do DireitoSociologia JurídicaFilosofia do DireitoHermenêutica JurídicaTeoria Geral do Estado3. Matérias de Formação ProfissionalDireito ConstitucionalDireito CivilDireito PenalDireito ComercialDireito AdministrativoDireito InternacionalDireito Financeiro e TributárioDireito do Trabalho PrevidenciárioDireito Processual CivilDireito Processual Penal4. Matérias Direcionadas a Habilitações Específicas

O último grupo proposto, direcionado para habilitações específicas constituídas de reconhecimentos especializados, deveria ser composto por disciplinas e

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áreas de conhecimento que atendessem à realidade regional, Às possibilidades de cada curso, à capacitação do quadro docente e à aptidões dos alunos, lembrando-se que estava ali prevista a implantação do Laboratório Jurídico, com carga horária mínima de 600 (seiscentas) horas/atividades, a serem cumpridas em até dois anos, substituindo o estágio curricular supervisionado e extracurricular, ensejado até a eliminação do Exame da Ordem, previsto na Lei 4.215/63, e mantidos nas Resoluções 3/72 e 15/73.

A proposta não teve tramitação regular no CFE e no MEC, jamais tendo sido objeto de deliberação daquele Colegiado, sobretudo porque a Resolução 3/72, apesar de enfeixar um currículo mínimo nacional, permitia às instituições de ensino certo grau de autonomia para definirem seus currículos plenos, desde que fossem respeitados aqueles mínimos curriculares contidos na Resolução.

Esta situação perdurou até 1996, prorrogada para 1998, com a implantação das “diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso jurídico” (sic), de âmbito nacional, fixados pela Portaria 1.886/94. O disposto no art. 15 daquele ato concedia o prazo de dois anos, contados daquela data, para o seu cumprimentos, revogando, em seu art. 17, as disposições em contrário, especialmente as Resoluções 3/72 e 15/73, do extinto Conselho Federal de Educação, embora a Resolução 15/73, que tratava da Prática Forense e Organização Judiciária, já se encontrasse revogada como o advento da Lei 8.906/94 – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.

A Portaria 1.886/94 trouxe inovações que se constituíam avanços para o ensino jurídico, especialmente pelo seu direcionamento à realidade social e integração dos conteúdos com as atividades, dando dimensão teórico – prática ao currículo e ensejado a formação do senso crítico dos alunos, além de contemplar mais flexibilidade na composição do currículo pleno, através de disciplinas optativas e diferentes atividades de estudos e de aprofundamento em áreas temáticas.

Dentre os avanços, poder-se-á citar a concepção do estágio curricular supervisionado como Prática Jurídica e não simplesmente como Prática Forense; a manutenção flexibilidade curricular, ensejando que as instituições de ensino adequassem seus currículos plenos às demandas e peculiaridades do mercado de trabalho e das realidades locais e regionais, ainda com a obrigatoriedade das atividades integradas das funções ensino, pesquisa e extensão.

A Portaria Ministerial supra indicada fixou o currículo mínimo nacional do curso jurídico e sua duração de, no mínimo, 3.300 (três mil e trezentas) horas de atividades, integralizáveis em, pelo menos cinco anos, ampliando-se desta forma a carga horária mínima de 2.700 (duas mil e setecentas) (Resolução 3/72) para 3.300 (três mil e trezentas) horas/atividades e majorando a duração mínima de quatro para cinco anos e a máxima de sete para oitos anos, parâmetros esses dentro dos quais cada instituição tem a liberdade de estabelecer a carga horária curricular e sua duração, para os controles acadêmicos relativo à sua integralização.

A semelhança dos atos normativos anteriores, a Portaria Ministerial também estabeleceu, em seu art. 6º, “o conteúdo mínimo do curso jurídico, além do estágio”, compreendendo as seguintes matérias, detalhadas denominadas, “que podem estar contidas em uma ou mais disciplinas dos currículos plenos de cada curso” (sic), assim distribuídas em dois grupos:I – Matérias FundamentaisIntrodução ao DireitoFilosofia (Geral e Jurídica)Ética (Geral e Profissional)Sociologia (Geral e Jurídica)Economia eCiência Política (com Teoria do Estado)II – Matérias Profissionalizantes

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Direito ConstitucionalDireito CivilDireito AdministrativoDireito TributárioDireito PenalDireito Processual CivilDireito Processual PenalDireito do TrabalhoDireito Comercial eDireito Internacional

Convém registrar que o parágrafo único do mencionado artigo assim estabelecia:As demais matérias e novos direitos serão incluídos nas disciplinas em

que se desdobrar o currículo pleno de cada curso, de acordo com as peculiaridades e com a observância da interdisciplinaridade.

Além desses conteúdos, exigiu também a prática de Educação Física com predominância desportiva (art. 7º), e permitiu que o curso, a partir do quarto ano ou do período letivo correspondente, desde que respeitado o conteúdo mínimo nacional contido no art. 6º transcrito, se direcionasse a “uma ou mais áreas de especialização segundo as vocações e demandas sociais e de mercados de trabalho” (sic.art.8º), retoma assim o que se concebia com as “habilitações específicas” nos atos normativos anteriores.

Certamente, o art. 8º continha uma respeitável proposta pedagógica, além do caráter metodológico, na medida em que enseja o atendimento à vocações e demandas sociais e de mercado de trabalho, equivalendo dizer que as instituições têm a liberdade e até a responsabilidade de flexibilizar o seu currículo pleno para ensejar a formação de profissionais do direito aptos a ajustar-se às mudanças iminentes, inclusive de caráter regional, de forma que o operador do direito possa, além do conhecimento geral da ciências do direito, aprofundar-se em uma determinada área ou ramo específico a que pretenda dedicar-se preferencialmente, sob forma de estudos de “especialização” integrados aos estudos da graduação, que podem culminar, posteriormente, com a pós-graduação lato sensu, de acordo com os componentes do Núcleo de Especialização temática, complementando a carga horária indispensável à citada pós-graduação.

Ocorre, porém, que essa flexibilização se esbarra em uma rigidez do currículo mínimo nacional par a graduação do bacharel em Direito, uma vez que tal procedimento somente é possível se for, primeiramente como um pré–requisito, “observado currículo mínimo previsto no art. 6º” (sic), o que descaracteriza a definição de “diretrizes curriculares” expressão essa adotada na ementa da Portaria e que não corresponde ao que as Leis 9.131/95 e 9.394/96, com os conseqüentes Pareceres do Conselho Nacional de Educação, entendem como “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Graduação” e “Diretrizes Curriculares para cada Curso de Graduação” como ora se relata para o curso de graduação em Direito, bacharelado.

Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação, através da Câmara de Educação Superior, aprovou o Parecer CES 507/99, contendo a Indicação para que o Senhor Ministro de Estado da Educação revogasse as Portarias 1.886/94 e 3/96, “para assegurar a coerência nas Diretrizes Curriculares” sob a nova concepção preconizada nas Leis supra referidas, pra todos os cursos de graduação, inclusive, portanto, para a graduação em Direito, bacharelado, cuja proposta já estejam em tramitação no âmbito do ministério e do próprio Conselho, em decorrência do Parecer CES 776/97 e do Edital SESu/MEC 4/97.

No Parecer CES 507/99, alertara-se quanto à necessidade de que se observasse toda a metodologia traçada pelo Edital remetido, de tal forma que a Câmara de Educação Superior pudesse, no momento oportuno, deliberar sobre as Diretrizes

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Curriculares para o Curso de Graduação em Diretrizes, de acordo com a nova ordem jurídica, de forma a permitir que as instituições definam “currículos adequados, capazes de se ajustarem à incessantes mudanças, não raro muito rápidas, a exigir respostas efetivas e mediatas das instituições educacionais”.

Aliás, outra não é o posicionamento definido no Parecer 776/97, que se acrescenta a seguinte orientação geral extraída do próprio Edital 4/97 para a sua organização, enfocada no Parecer 507/99, litteris:

As Diretrizes Curriculares têm por objetivo servir de referência para as IES na organização de seus programas de formação, permitindo uma flexibilidade na construção dos currículos plenos e privilegiando a indicação de áreas do conhecimento a serem consideradas, ao invés de estabelecer disciplinas e cargas horárias definidas. As Diretrizes Curriculares devem contemplar ainda a denominação de diferentes formações e habilitações para cada área do conhecimento, explicitando os objetivos e as demandas existentes na sociedade.

Já à época do Parecer 507/99, a Câmara de Educação Superior enfatizou queA Flexibilização enfocada induz maior nível de responsabilidade das

instituições de educação quando da ‘elaboração de sua proposta pedagógica coerente com essa nova ordem e com as exigências da sociedade contemporânea’. Nesse novo contexto, no entanto, não convivem bem a Portaria Ministerial n.º 1.886/94, com a alteração que lhe int5roduziu a Portaria n.º 3/96, como se constata pela análise de cada dispositivo do referido ato normativo, que esposou uma visão do currículo do curso jurídico bem diversa daquela que, cinco anos depois, resulta da nova política educacional brasileira contida na Lei de Diretrizes e Bases n.º 9.394/96, construída sobre os pilares da nova Ordem Constitucional de 1988.

Cotejando, portanto, o currículo constante da Resolução CFE 3/72 com o fixado pela Portaria 1.886/94, verifica-se que, em ambos os atos normativos, ficou prevista a oferta de habilitações especificas (registradas no anverso do diploma do bacharel em Direito), significando “intensificação de estudos em áreas correspondentes às matérias fixadas nesta Resolução (3/72) e em outras que sejam indicadas nos currículos plenos” (sic. art. 3º).

Desta forma, conquanto o currículo mínimo fixado para todos os cursos de Direito no País, tanto pela Resolução 3/72, como pela Portaria Ministerial 1.886/94, significasse evidente limite à autonomia, responsabilidade e liberdade das instituições de ensino superior, as “habilitações específicas”, a flexibilização da duração dos cursos, no primeiro ato, e a possibilidade dos “núcleos temáticos de especialização, sendo as vocações e demandas sociais e de mercado de trabalho”, a partir do quarto ano, na forma prevista no art. 8º do segundo ato, certamente revelam o esforço para inovar na elaboração e na operacionalização do currículo pleno, a cargo de cada instituição.

Diante desse quadro, como alertara a ABEDi, em outras ocasiões, nos subsídios encaminhados a estes Relatores e, sobretudo, no recente Congresso realizado em Florianópolis em 2003, os obstáculos do ensino jurídico somente serão superados se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a graduação em Direito, bacharelado, encontrarem do corpo docente e das administrações das instituições de ensino superior, o total compromisso de atender aos reclamos de uma nova época, constituindo-se efetivas respostas às novas aspirações e às novas concepções jurídicas, ajustadas às necessidades locais, regionais, nacionais, internacionais, que estão a exigir uma diversificação curricular, nas instituições, na proporção direta das mudanças e das demandas regionais, atuais e emergentes.

Nesse passo, importa conceber a graduação no ensino jurídico com uma “formação inicial” para o exercício da profissão, implicando, como reza a LDB, continuidade e aprofundamento de estudos, sempre renovados em decorrência dos

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avanços da ciência, da tecnologia e de novas escalas de valores, com implicações na constituição de novas e desafiadoras situações e relações jurídicas, que justificam e exigem especializações em diferentes áreas ou ramos jurídicos, atuais ou novos, e em núcleos temáticos específicos.

Assim, o Direito retomara o seu papel de controle, construção e garantia do desenvolvimento da sociedade, evitando que se repita a postura cômoda de nada inovar, dando-se as faculdades por satisfeitas com a simples execução do currículo mínimo em que já se transformara o “currículo pleno”, como continua ocorrendo, bastando a realização e aprovação da monografia.

O ensino jurídico não poder comprazer-se com a emissão de diploma de graduação para aqueles que concluíram com aproveitamento médio, regular, as matérias ou disciplinas jurídicas estabelecidas na norma, muitas vezes cursadas mediana e compulsoriamente, apenas porque a norma (grade curricular) o exigiu, no limite do quantum satis para a sua creditação acadêmica.

Não raro, também, matérias e disciplinas se justificam tão somente pela satisfação tecnicista, dogmática e personalista de grande contingente dos que atuam nos cursos jurídicos, sem o indispensável comprometimento com a nova ordem política, econômica , social, e com seus pluralismos políticos, jurídicos, regionais e axiológicos que caracterizam a contemporaneidade brasileira e a comunidade das nações. Com efeito, esse contexto está a exigir bastante autonomia intelectual e lúcido raciocínio jurídico, com as visíveis características de cientificidade e criticidade, epistemologicamente sedimentados, centrados também em uma escala de valor dignificante para o Brasil, para a pessoa humana e para os cidadãos, no pluralismo anteriormente remetido.

Outra, pois, é a atual concepção dos cursos de graduação, incluindo a graduação em Direito, bacharelado, a partir da Lei 9.394/96, incumbindo ao Conselho Nacional de Educação, através da Câmara de Educação Superior, fixar as diretrizes curriculares para cada curso de graduação, como, aliás, já estava estabelecido na anterior Lei 9.131/95, mantida no art. 92 da nova LDB, antes mesmo da implantação do currículo mínimo estabelecido pela Portaria Ministerial 1.886/94, diferida para 1996 e depois para 1998.

Aliás, alguns comentários sobre a Portaria Ministerial 1.886/94, feitos anteriormente na Câmara de Educação Superior, quando da aprovação do Parecer 507/99 e da Indicação que o ensejou, devem ser aqui reprisados e outros, aduzidos, para melhor reflexão, especialmente do ponto de vista jurídico.

As diretrizes curriculares, portanto, no curso de Direito, como nos demais, se voltam e se orientam pra o devir, para o vir-a-ser, sem prejuízo da imediata inserção do profissional no mercado de trabalho, como co-responsável pelo desenvolvimento social brasileiro, não se podendo direcioná-las a uma situação estática ou contextual da realidade presente.

Trata-se, pois, de um novo marco legal estabelecido a partir da LDB 9.394/96, e confirmado pelo Plano Nacional de Educação, de acordo com a Lei 10.172/2001. Com efeito, coerente com os princípios e finalidades constantes dos arts. 3º e 43 da LDB, sem prejuízo de outros, o art. 9º incisos VII e VIII, se coadunam com o disposto na Lei 9.131/95, que confere, como privativa, a atribuição à Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação para deliberar sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação, a partir das propostas que fossem encaminhadas ao Conselho Nacional de Educação pela Secretaria de Educação Superior.

Desta maneira, enquanto as precedentes Leis 4.024/61 e 5.540/68 atribuíram ao então Conselho Federal de Educação competência par definir “currículos mínimos nacionais e a duração dos cursos de graduação”, o marco legal estabelecido pelas Leis 9.131/95, 9.394/96 e 10.172/2001, apresenta nova configuração para as definições políticas da educação brasileira, coerentes com a Carta Política promulgada em 5/10/88.

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Para substituir os currículos mínimos obrigatórios nacionais, já neste novo contexto legal, advieram as Diretrizes Curriculares Nacionais, lastreadas pelo pareceres 776/97, 583/2001 e 67/2003, os quais informam o presente relato em torno de todas as propostas recebidas da SESu/MEC, dos órgãos de representação profissional e de outros segmentos da sociedade brasileira, de cujas contribuições resultarão, em final as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de graduação em Direito.

Este Parecer, portanto, contempla as orientações das comissões de Especialistas e as da SESu/MEC, as quais, na sua grande maioria, foram acolhidas e reproduzidas na sua totalidade, não só por haver concordância com as idéias suscitadas no conjunto do ideário concebido, mas também como forma de reconhecer e valorizar a legitimidade do processo coletivo e participativo, que deu origem à elaboração dos documentos sobre Diretrizes Curriculares Gerais dos Cursos de Graduação, cujas propostas foram encaminhadas pela SESu/MEC para deliberação deste Colegiado.

Foram também as contribuições da Ordem dos Advogados do Brasil, por sua Presidência, por seu Conselho Federal, por sua Comissão de Estudos Jurídicos, pelas Seccionais e Sub Seccionais dos Estados, de diversas entidades públicas e privadas, em particular da Associação Brasileira do Ensino do Direito – ABEDi, e de outras associações correlatadas, além da profunda discussão em congressos e audiências públicas. (grifo nosso)

Elas compõem o conjunto das propostas formuladas e permitiram a estes Relatores analisá-las de per si nos devidos aspectos constitutivos do roteiro adotado, culminando com a proposta de um projeto de resolução que contemple os anseios de todos os colaboradores e a coerência em relação ao entendimento da nova concepção educacional que contém, em seu cerne e como proposta nova, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Direito.

Em segmento próprio, portanto, todas as propostas e contribuições foram objeto de acurada reflexão, não significando desapreço algum àquelas eventualmente não contempladas, posto que o presente Parecer deve revelar-se harmônico com os princípios e finalidades que informam a legislação e a política educacional brasileira.

Cumpre agora, portanto, propor a Câmara de Educação Superior, o estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Direito, cujas especificações e detalhamento atenderam ao disposto nos Pareceres CES/CNE 776/97, 583/2001, 67/2003 e 55/2004, especialmente quanto à metodologia adotada, enfocando, pela ordem organização do curso, projeto pedagógico, perfil desejado do formando, competências/habilidades/atitudes, conteúdos curriculares, organização curricular, estágio supervisionado, atividades complementares, acompanhamento e avaliação e trabalho de curso.

Organização do Curso

A organização do curso de graduação em Direito, observadas as Diretrizes Nacionais e os Pareceres desta Câmara, indicará claramente os componentes curriculares, abrangendo o perfil do formando, as competências e habilidades, os conteúdos curriculares e a duração do curso, o regime de oferta, as atividades complementares, o sistema de avaliação, o estágio supervisionado e o trabalho de curso, ambos como componentes obrigatórios da Instituição, sem prejuízo de outros aspectos que tornem consistente o Projeto Pedagógico.

Projeto Pedagógico

As instituições de ensino superior deverão, na elaboração do projeto pedagógico do curso de graduação em Direito, definir, com clareza, os elementos que

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lastreiam a própria concepção do curso, com suas peculiaridades e contextualização, o seu currículo pleno e sua adequada operacionalização e coerente sistemática de avaliação, destacando-se os seguintes elementos estruturais, sem prejuízo de outros:

I – concepção e objetivos gerais do curso, contextualizados em relação às sua inserções institucional, política, geográfica e social;

II – condições objetivas de oferta e a vocação do curso, incluindo adequada e atualizada biblioteca;

III – cargas horárias das atividades didáticas e da integralização do curso;IV – formas de realização da interdisciplinaridade;V – modos de integração entre teoria e prática;VI – formas de avaliação do ensino e da aprendizagem;VII – modos da integração entre graduação e pós-graduação, lato sensu e

stricto sensu quando houver;VIII – atividades de pesquisa e extensão, como necessário prolongamento

da atividade de ensino e como instrumento para a iniciação científica;IX – regulamentação das atividades relacionadas com trabalho de curso,

de inclusão obrigatória;X – concepção e composição das atividades de estágio supervisionado,

de caráter obrigatório; ambiente e condições de realização, observado o respectivo regulamento, bem como a implantação, estrutura e funcionamento do Núcleo de Prática Jurídica; e

XI – concepção e modalidades das atividades complementares.

Perfil Desejado do Formando

O curso de graduação em Direito deverá assegurar, no perfil do graduando, sólida formação geral, humanística e axiológica, capacidade de análise, domínio de conceitos e da terminologia jurídica, adequada argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais, aliadas a uma postura reflexiva e de visão cr´tica que fomente a capacidade e a aptidão para a aprendizagem autônoma e dinâmica, indispensável ao exercício da Ciência do Direito, da prestação da justiça e do desenvolvimento da cidadania.

Competência e Habilidades

Os cursos de graduação em Direito devem formar profissionais que revelem, pelo menos, as seguintes competências e habilidades:

I – leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas;

II – interpretação e aplicação do Direito;III – pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e

de outras fontes do Direito;IV – adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias,

administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos;V – correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito;VI – utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de

reflexão crítica;VII – julgamento e tomada de decisões; eVIII – domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e

aplicação do Direito.

Conteúdos Curriculares

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Os cursos de graduação em Direito deverão contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que revelem inter-relações com a realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva histórica e contextualizada dos diferentes fenômenos relacionados com o direito, utilizando tecnologias inovadoras, e que atendam aos seguintes eixos interligados de formação:

I – Eixo de Formação Fundamental, que tem por objetivo integrar o estudante no campo do Direito, estabelecendo as relações do Direito com outras áreas do saber, abrangendo, dentre outros condizentes com o projeto pedagógico, estudos que envolvam conteúdos essenciais sobre Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia;

II – Eixo de Formação Profissional, abrangendo, além do enfoque dogmático, o conhecimento e a aplicação do Direito, observadas as peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer natureza, estudos sistematicamente e contextualizados segundo a evolução das Ciências do Direito e sua aplicação às mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil e suas relações internacionais, incluindo-se, dentre outros condizentes com o projeto pedagógico, conteúdos essenciais sobre, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito Internacional e Direito Processual; e

III – Eixo de Formação Prática, que objetiva a integração entre prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nos demais eixos, especialmente nas atividades relacionadas com o estágio curricular supervisionado, as atividades complementares e trabalho de curso, de caráter obrigatório, com conteúdo desenvolvido pelas IES, em fundação de seus Projetos Pedagógicos.

Organização Curricular

O Projeto Pedagógico do curso de graduação em Direito se reflete, indubitavelmente, na organização curricular, para qual a instituição de ensino superior exercitará seu potencial inovador e criativo, com liberdade e flexibilidade, e estabelecerá expressamente as condições para a efetiva conclusão do curso, desde que comprovados a indispensável integralização curricular e o tempo útil fixado para o curso, de acordo com os seguintes regimes acadêmicos que as instituições de ensino superior adotarem: regime seriado anual; regime seriado semestral; sistema de créditos com matrícula por disciplina ou por módulos acadêmicos, observado o pré-requisito que vier a ser estabelecido no currículo, atendido o disposto na Resolução decorrente deste Parecer.

Estágio Curricular Supervisionado

O Projeto Pedagógico do curso de graduação em Direito deve contemplar objetivamente a realização de estágios curriculares supervisionados, tão importantes para a dinâmica do currículo pleno com vistas à implementação do perfil desejado para o formando, não os confundindo com determinadas práticas realizadas em instituições e empresas, a título de “estágio profissional”, que mais se assemelham a uma prestação de serviço, distanciados e das características e finalidades específicas dos estágios curriculares supervisionados.

Voltado para desempenhos profissionais antes mesmo de se considerar concluído o curso, é necessário que, à proporção que os resultados do estágio forem sendo verificados, interpretados e avaliados, o estagiário esteja consciente do seu atual perfil, naquela fase, para que ele próprio reconheça a necessidade da retificação da aprendizagem nos conteúdos e práticas em que revelara equívocos ou insegurança de

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domínio, importando em reprogramação da própria prática supervisionada, assegurando-se-lhe orientação teórica prática para a melhoria do exercício profissional.

Dir-se-á, então, que estágio supervisionado é componente obrigatório diferenciado à consolidação dos desempenhos profissionais desejados, inerentes ao perfil do formando, devendo cada instituição, por seus colegiados próprios, aprovar o correspondente regulamento, som suas modalidades de operacionalização.

Convém ressaltar que o estágio, na graduação em Direito, deverá ser realizado, na própria instituição de ensino, através do Núcleo de Prática Jurídica, desde que este seja estruturado superior acadêmico competente, podendo, em parte, contemplar convênios com outras entidades ou instituições e escritórios de advocacia; em serviços de assistência judiciária implantados na Instituição, nos órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública ou ainda em departamentos jurídicos oficiais, importando, em qualquer caso, na supervisão e elaboração dos relatórios que deverão ser encaminhados à Coordenação de Estágio das Instituições de ensino, para a avaliação pertinente.

Atividades Complementares

As atividades complementares, por seu turno, devem possibilitar o reconhecimento por avaliação, de habilidades, conhecimentos, competências e atitudes do aluno, inclusive adquiridas fora do ambiente acadêmico, hipótese em que o aluno alargará o seu currículo com experimentos e vivências acadêmicas, internos ou externos ao curso.

Orientam-se, desta maneira, a estimular a prática de estudos independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, de permanente e contextualizada atualização profissional específica, sobretudo nas relações com o mundo do trabalho e com as diferentes correntes do pensamento jurídico, devendo ser estabelecidas ao longo do curso, sob as mais diversas modalidades enriquecedoras da prática pedagógica curricular, integrando-as às diversas peculiaridades regionais e culturais.

Nesse sentido, as atividades complementares podem incluir projetos de pesquisa, monitoria, iniciação científica, projetos de extensão, módulos temáticos, seminários, simpósios, congressos, conferências, além de disciplinas oferecidas por outras instituições de ensino ou de regulamentação e supervisão do exercício profissional, ainda que esses conteúdos não estejam previstos no currículo pleno de uma determinada Instituição, mas nele podem ser aproveitados porque circulam em um mesmo currículo, de forma interdisciplinar, e se integram com os demais conteúdos realizados.

Em resumo, as atividades complementares são componentes curriculares que possibilitam o reconhecimento, por avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, mesmo que adquiridas fora do ambiente escolar, incluindo a prática de estudos e atividades independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações com o mundo do trabalho e com as ações de extensão junto à comunidade.

Trata-se, portanto, de componentes curriculares enriquecedores e implementadores do próprio no perfil do formado, sem que se confundam com estágio curricular supervisionado.

Nesse mesmo contexto, estão as atividades de extensão, que podem e devem ser concebidas no projeto pedagógico do curso, atentando-se para a importante integração das atividades do curso de Direito com as experiências da vida cotidiana na comunidade, e nos diversos órgãos e instituições relacionadas ou envolvidas com a administração da justiça e com as atividades jurídicas.

Acompanhamento e Avaliação

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As Instituições de Educação Superior poderão adotar formas específicas e alternativas de avaliação, internas e externas, sistemáticas, envolvendo todos quantos se contenham no processo institucional e do curso, centradas em aspectos considerados fundamentais para a identificação e consolidação do perfil do formando, estando presentes o desempenho da relação professor x aluno, a parceria do aluno para com a instituição e o professor e a clara percepção das implicações sócio-econômicas do seu tempo, de sua região, da sociedade brasileira e das relações do Brasil com outros modelos e manifestações de economia mundial.

Importante fator para a avaliação das instituições é a produção que elas podem colocar à disposição da sociedade e de todos quantos se empenhem para o seu desenvolvimento econômico-social, valendo-se do crescimento e no avanço da ciência e da tecnologia. Com efeito, a produção que uma Instituição divulga, publica, socializa, certamente será um forte e ponderável indicador para o acompanhamento e avaliação sobre a Instituição, sobre o curso e para os alunos em particular que, durante o próprio curso, já produzem, como reflexo da consciência que possuem quanto ao desenvolvimento de suas potencialidades e de seu comprometimento com o desenvolvimento político, econômico e social.

Nesse passo, destacando-se, de logo, a exigência legal no sentido de que os planos de ensino, a serem fornecidos aos alunos antes do início do período letivo, deverão conter, além dos conteúdos e das atividades, a metodologia do processo de ensino-aprendizagem, os critérios de avaliação a que serão submetidos e a bibliografia básica.

Trabalho de Curso

É necessário que o Projeto Pedagógico do Curso de Direito contenha o trabalho de Curso como componente curricular obrigatório, ensejado ao aluno a oportunidade de revelar a sua apropriação, ao longo do curso, do domínio da linguagem cientifica na ciência do direito, com a indispensável precisão terminológica da referida ciência.

Desta maneira, o trabalho de curso deve ser entendido como um componente curricular obrigatório da Instituição que, poderá desenvolvê-lo em diferentes modalidades, e em caráter individual, a saber: monografia, projetos de atividades centrada em determinadas áreas teórica-prática ou de formação profissional do curso, ou ainda apresentação de trabalho sobre o desempenho do aluno no curso, que reúna e consolide as experiências em atividades complementar e teórico – práticas.

A IES deverá emitir regulamentação própria aprovada pelo seu respectivo conselho, contendo, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, além das diretrizes técnicas relacionadas com a sua elaboração.

II – VOTO DO RELATOR

Voto favoravelmente à aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Direito, na forma deste Parecer e do Projeto de Resolução em anexo, do qual é parte integrante.

Brasília-DF, em 8 de junho de 2004.

Conselheiro Edson de Oliveira Nunes

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III – DECISÃO DA CÂMARA

A Câmara de Educação Superior aprova por unanimidade o voto do Relator.Sala das Sessões, em 8 de julho de 2004.

Conselheiro Edson de Oliveira Nunes – PresidenteConselheiro Antonio Carlos Caruso Ronca – Vice-Presidente

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOCONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

RESOLUÇÃO Nº 9, DE 29 DE SETEMBRO DE 2004

Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA CÂMARA DE EDUCÇÃO SUPERIOR DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições legais, com fundamento no art. 9º §2º, alínea “c”, da Lei n.º 4,024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei n.º 9.131, de 25 de novembro de 1995, tendo em vista as diretrizes e os princípios fixados pelo Pareceres CES/CNE n.ºs 776/97, 583/2001, e 100/2002, e as Diretrizes Curriculares Nacionais elaboradas pela Comissão de Especialista de Ensino de Direito, proposta ao CNE pela SESu/MEC, considerando o que consta do Parecer CES/CNE 55/2004, aprovado na sessão de 18/02/2004, reconsiderado pelo Parecer CNE/CES 211, aprovado em 08/07/2004, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em 23 de setembro de 2004, resolve:

Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Direito, Bacharelado, a serem observadas pelas Instituições de Educação Superior em sua organização curricular.

Art. 2º A organização do Curso de Graduação em Direito, observadas as Diretrizes Curriculares Nacionais se expressa através do seu projeto pedagógico, abrangendo o perfil do formando, as competências e habilidades, os conteúdos curriculares, o estágio curricular supervisionado, as atividades complementares, o sistema de avaliação, o trabalho de curso como componente curricular obrigatório do curso, o regime acadêmico de oferta, a duração do curso, sem prejuízo de outros aspectos que tornem consistente o referido projeto pedagógico.

§1º - O Projeto Pedagógico do curso, além da clara concepção do curso de Direito, com suas peculiaridades, seu currículo pleno e sua operacionalização, abrangerá, sem prejuízo de outros, os seguintes elementos estruturais:

I – concepção e objetivos gerais do curso, contextualizados em relação às suas inserções institucional, política, geográfica e social;

II – condições objetivas de oferta e a vocação do curso;III – cargas horárias das atividades didáticas e da integralização do curso;IV – formas de realização da interdisciplinaridade;V – modos de integração entre teoria e prática;VI – formas de avaliação do ensino e da aprendizagem;VII – modos da integração entre graduação e pós-graduação, quando houver;VIII – incentivo à pesquisa e à extensão, como necessário prolongamento da

atividade de ensino e como instrumento para a iniciação científica;

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IX – concepção e composição das atividades de estágio curricular supervisionado, suas diferentes formas e condições de realização, bem como a forma de implantação e a estrutura do Núcleo de Prática Jurídica;

X – concepção e composição das atividades complementares; e,XI – inclusão obrigatória do Trabalho de Curso.§ 2º Com base no princípio de educação continuada, as IES poderão incluir no

Projeto Pedagógico do curso, oferta de cursos de pós-graduação lato sensu, nas respectivas modalidades, de acordo com as efetivas demandas do desempenho profissional.

Art. 3º O curso de graduação em Direito deverá assegurar, no perfil do graduando, sólida formação geral, humanística e axiologia, capacidade de análise, domínio de conceitos e da terminologia jurídica, adequada argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais, aliada a uma postura reflexiva e de visão crítica que fomente a capacidade e a aptidão para a aprendizagem autônoma e dinâmica, indispensável ao exercício da Ciência do Direito, da prestação da justiça e do desenvolvimento da cidadania.

Art. 4º O curso de graduação em Direito deverá possibilitar a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes habilidades e competências:

I – leitura, compreensão e elaboração de textos, atos e documentos jurídicos ou normativos, com a devida utilização das normas técnico-jurídicas;

II – interpretação e aplicação do Direito;III – pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de

outras fontes do Direito;IV – adequada atuação técnico-jurídica, em diferentes instâncias,

administrativas ou judiciais, com a devida utilização de processos, atos e procedimentos;V – correta utilização da terminologia jurídica ou da Ciência do Direito;VI – utilização de raciocínio jurídico, de argumentação, de persuasão e de

reflexão crítica;VII – julgamento e tomada de decisões; e,VIII – domínio de tecnologias e métodos para permanente compreensão e

aplicação do Direito.Art. 5º O curso de graduação em Direito deverá contemplar, em seu Projeto

Pedagógico e em sua Organização Curricular, conteúdos e atividades que atendam aos seguintes eixos interligados de formação:

I – Eixo de Formação Fundamental, tem por objetivo integrar o estudante no campo, estabelecendo as relações do Direito com outras áreas do saber, abrangendo dentre outros estudos que envolvam conteúdos essenciais sobre Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia.

II – Eixo de Formação Profissional, abrangendo, além do enfoque dogmático, o conhecimento e a aplicação, observadas as peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer natureza, estudados sistematicamente e contextualizados segundo a evolução da Ciência do Direito e sua aplicação às mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil e suas relações internacionais, incluindo-se necessariamente, dentre outros condizentes com o projeto pedagógico, conteúdos essenciais sobre Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito Internacional e Direito Processual; e

III – Eixo de Formação Prática objetiva a integração entre a prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nos demais Eixos, especialmente nas atividades relacionadas com o Estágio Curricular Supervisionado, Trabalho de Curso e Atividades Complementares.

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Art. 6º A organização curricular do curso de graduação em Direito estabelecerá expressamente as condições para a sua efetiva conclusão e integralização curricular de acordo com o regime acadêmico que as Instituições de Educação Superior adotarem: regime seriado anual; regime seriado semestral; sistema de créditos com matrícula por disciplina ou por módulos acadêmicos, com a adoção de pré-requisitos, atendido o disposto nesta Resolução.

Art. 7º O Estágio Supervisionado é componente curricular obrigatório, indispensável à consolidação dos desempenhos profissionais desejados, inerentes ao perfil do formando, devendo cada instituição, por seus colegiados próprios, aprovar o correspondente regulamento, com suas diferentes modalidades de operacionalização.

§ 1º O Estágio de que trata este artigo será realizado na própria instituição, através do Núcleo de Prática Jurídica, que deverá estar estruturado e operacionalizado de acordo com regulamentação própria, aprovada pelo conselho competente, podendo, em parte, contemplar convênios com outras entidades ou instituições e escritórios de advocacia; em serviço de assistência judiciária implantados na instituição, nos órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública ou ainda em departamentos jurídicos oficiais, importando, em qualquer caso, na supervisão das atividades e na elaboração de relatórios que deverão ser encaminhados à Coordenação de Estágio das IES, para a avaliação pertinente.

§ 2º As atividades de Estágio poderão ser reprogramadas e reorientadas de acordo com os resultados teórico-práticos gradualmente revelados pelo aluno, na forma definida na regulamentação do Núcleo de Prática Jurídica, até que se possa considerá-lo concluído, resguardando, como padrão de qualidade, os domínios indispensáveis ao exercício das diversas carreiras contempladas pela formação jurídica.

Art. 8º As atividades complementares são componentes curriculares enriquecedores e complementadores do perfil do formando, possibilitam o reconhecimento, por avaliação de habilidades, conhecimento e competência do aluno, inclusive adquirida fora do ambiente acadêmico, incluindo a prática de estudos e atividades independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações com o mercado do trabalho e com as ações de extensão junto à comunidade.

Parágrafo único. A realização de atividades complementares não se confunde com a do Estágio Supervisionado ou com a do trabalho de Curso.

Art. 9º. As Instituições de Educação Superior deverão adotar formas específicas e alternativas de avaliação, interna e externa, sistemáticas, envolvendo todos quantos se contenham no processo do curso, centradas em aspectos considerados fundamentais para a identificação do perfil do formando.

Parágrafo Único. Os planos de ensino, a serem fornecidos aos alunos antes do início de cada período letivo, deverão conter, além dos conteúdos e das atividades, a metodologia do processo de ensino-aprendizagem, os critérios de avaliação a que serão submetidos e a bibliografia básica.

Art. 10. O Trabalho de Curso é componente curricular obrigatório, desenvolvido individualmente, com conteúdo a ser fixado pelas Instituições de Educação Superior em Função de seus Projetos Pedagógicos.

Parágrafo Único. As IES deverão emitir regulamentação própria aprovada por Conselho competente, contendo necessariamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, além das diretrizes técnicas relacionadas com sua elaboração.

Art. 11. A duração e carga horária dos cursos de graduação serão estabelecidas em Resolução da Câmara de Educação Superior.

Art. 12. As Diretrizes Curriculares Nacionais desta Resolução deverão ser implantadas pelas Instituições de Educação Superior, obrigatoriamente, no prazo máximo de dois anos, aos alunos ingressantes, a partir da publicação desta.

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Parágrafo Único. As IES poderão optar pela aplicação das DCN aos demais alunos do período ou ano subseqüente à publicação.

Art. 13. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, ficando revogada a Portaria Ministerial nº 1.886, de 30 de dezembro de 1994 e demais disposições em contrário.

EDSON DE OLIVEIRA NUNES

(Publicação no DOU. nº 189, de 01/10/2004, Seção 1, páginas 17/18)

LEITURA COMPLEMENTAR

PLANO DE TRABALHO(MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 47).

O direito pode ser encarado sob duas perspectivas diferentes: como elemento de conservação das estruturas sociais, ou como instrumento de promoção das transformações da sociedade. Para os que defendem a função conservadora do direito, a concepção mais adequada a essa missão é a identificação do direito com a lei, e, por extensão, ao contrato, como a lei entre as partes. Nesse sentido, é significativa a advertência com que famoso professor de Paris iniciava seu curso: “Não vim ensinar o direito, vim expor o Código Civil”. Mas, principalmente nos países em desenvolvimento, o erro dessa posição é patente. Fazer do direito uma força conservadora é perpetuar o subdesenvolvimento e o atraso. Identificar o direito com a lei é errar duplamente, porque significa desconhecer seu verdadeiro fundamento e condená-lo à estagnação. Para fundamentar a missão renovadora e dinâmica do direito é preciso rever certos conceitos de base e afirmar, na sua plenitude, o valor fundamental, que dá ao direito seu sentido e dignidade: a justiça. Não se trata de um conceito novo, mas permanente, que deve ser afirmado, estudado e efetivamente aplicado, se quisermos dar ao direito sua destinação verdadeira, que é a de ordenar a convivência e o desenvolvimento dos povos. Nos textos clássicos de Aristóteles, Ulpiano, Cícero, S. Tomás e outros, encontramos formulada a doutrina básica da justiça, mas adaptada a uma realidade profundamente diferente da atual. Encontram-se aí as sementes para a elaboração ulterior de um pensamento jurídico-filosófico, que precisa ser desenvolvido e aplicado às novas condições da sociedade e ao direito moderno. A esse respeito, dois erros, a nosso ver, precisam ser evitados. Primeiro, a simples repetição daquele pensamento, como se o mundo não houvesse mudado. Segundo, a rejeição pura e simples dessa doutrina, como se a mudança das condições sociais destruísse as exigências fundamentais do respeito à pessoa humana.

GUIA DE ESTUDO

TEMA

A INTRODUÇÃO AO DIREITO NOS CURSOS JURÍDICOS – NATUREZA, IMPORTÂNCIA, FINALIDADES, ASPECTOS HISTÓRICOS, NORMATIVOS E PEDAGÓGICOS

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1. Justifique porque a disciplina Introdução ao Direito tem caráter enciclopédico.2. Justifique porque a disciplina Introdução ao Direito tem caráter propedêutico.3. Justifique porque a disciplina Introdução ao Direito tem caráter epistemológico.4. Qual é o escopo fundamental da disciplina Introdução ao Direito?5. Descreva sinteticamente os argumentos utilizados por Victor Cousin para demonstrar a importância da Introdução ao Direito.

6. Enumere as finalidades da Introdução ao Direito segundo Miguel Reale.7. Podemos agrupar o conjunto das disciplinas jurídicas que formam o campo do Direito em duas grandes classes, originárias do Direito Romano. Descreva-as.

8. Critique esse antigo brocardo latino: “ubi societas, ibi jus”.9. Por que afirmamos que as disciplinas jurídicas são complementares?10. Descreva os tipos de unidade.11. O que se entende por “sentido unitário do fenômeno jurídico?”12. Como ocorreu sucintamente a história do desenvolvimento da matéria no universo?13. Quais as principais conseqüências do aparecimento do cérebro para a ciência jurídica?14. Descreva sucintamente as várias fases que o homem passou em seu processo evolutivo.

15. Como se processou a evolução da consciência humana, suas formas de interagir e pensar (inteligência)?

16. O que se entende por Teleologia e por unidade teleológica?17. Quais os argumentos utilizados por Goffredo Telles Júnior para fazer a apologia da razão?

18. Quais as conseqüências no campo da Cultura e da Filosofia advindas do conhecimento do homem sobre o mundo, si próprio e de sua situação dentro do universo?

19. O que são bens culturais soberanos? Como surgiram?20. Como deve ser a luta atual dos operadores técnicos do Direito?21. Faça um paralelo entre a Lógica e a Psicologia tendo como referencial o objeto material e formal.

22. O que se entende por Lógica? Qual a sua natureza?23. Como podemos dividir a Lógica tendo por base o raciocínio?24. O que é um silogismo?25. O que se entende por linguagem?26. O que é um sinal? Como podem ser classificados?27. Como podemos classificar a linguagem com base nos sentidos que recebem os sinais?28. Do que se compõe o aparelho vocal?29. Como explicar a aprendizagem da linguagem pela resposta condicionada?30. Descreva as funções básicas da linguagem.31. Podemos pensar sem linguagem?32. Como desenvolver a linguagem na criança?33. Qual a terceira finalidade da Introdução ao Direito segundo Miguel Reale? Por quê?34. Qual a quarta finalidade da Introdução ao Direito segundo Miguel Reale? Por quê?35. Qual a quinta finalidade da Introdução ao Direito segundo Miguel Reale? Por quê?36. Quais as denominações que a atual disciplina Introdução ao Direito recebeu ao longo tempo?

37. Quando foram criados os cursos jurídicos no Brasil? Onde funcionaram?38. Qual o nome da disciplina que corresponde à Introdução ao Direito nestes cursos?39. Quais as denominações que a disciplina introdutória dos cursos jurídicos recebeu ao longo das reformas de ensino (Reforma Rivadávia Correia, Maximiliano e Francisco Campos)?

40. Qual a posição de Rui Barbosa quanto à disciplina introdutória dos cursos jurídicos? Quais as objeções a esta posição?

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41. Como os dispositivos legais (Resolução nº 03/72 do então Conselho Federal de Educação e Portaria MEC Nº 1886/94) cuidavam desta disciplina?

42. Como a disciplina introdutória dos cursos jurídicos foi tratada no Parecer CNE/CES nº 146/2002 e Resolução anexa?

43. Como a disciplina introdutória dos cursos jurídicos foi tratada no Parecer CNE/CES nº 055/2004 e Resolução anexa?

44. Como a disciplina introdutória dos cursos jurídicos está sendo tratada no Parecer CNE/CES nº 211/2004 e Resolução CNE/CES nº 9, de 29/9/2004?

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