2009 pedagógico em busca de um idesp* positivoto pedagógico da escola. primeiramente, é preciso...

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Em busca de um IDESP* positivo: melhorando o rendimento dos alunos nas escolas estaduais. Luiz Gonzaga de Oliveira Pinto 1- Introdução Podemos argumentar, de muitas maneiras e com dados precisos, que nossas escolas estaduais care- cem de melhor estrutura funcional, de uma jornada de trabalho adequada para os professores; que existe muita rotatividade de docentes e diretores ao longo do ano; que os salários são ridículos e altamente desmotivadores; que a Progressão Continuada, en- tendida como promoção automática, tem causado sérios problemas na aprendizagem. Isso, entre outras distorções que, de muitos modos, desfavorecem um ensino de qualidade. Todavia, existe um momento no processo peda- gógico em que o gestor não pode se omitir, do qual professor algum pode se furtar, qual seja, aquele em que está frente aos seus alunos, em cada escola e em cada sala de aula, para oferecer-lhes um ensino mini- mamente qualificado. Pois não se pode imaginar algo diferente, no processo ensino-aprendizagem. E isso não é conversa de SEE (Secretaria Estadual de Edu- cação) e sim a parte que nos toca no interior de cada unidade escolar. O produto dessa relação deverá ser sempre o cres- cimento intelectual do alunado. Claro que, dentro de nossas possibilidades e das condições que nos são oferecidas. No entanto, esse axioma acaba muitas vezes anu- lado pelas avaliações externas, tais como as do SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Es- colar do Estado de São Paulo), ENEM (Exame Na- cional do Ensino Médio), SAEB (Sistema de Avalia- ção da Educação Básica), PISA (Programa Interna- cional de Avaliação de Aluno), Prova Brasil (Avalia- ção do Rendimento Escolar), que comprovam o bai- xo aprendizado de grande parte dos discentes, tanto do Ensino Fundamental quanto do Médio. Assim, ou desqualificamos essas avaliações exter- nas, por julgarmos que elas não revelam as profun- das defasagens no aprendizado dos alunos, e o "apro- veitamento deles vai muito bem, obrigado"; ou as consideramos válidas, e aí alguma coisa muito grave está ocorrendo nas salas de aula. Infelizmente, somos forçados a acreditar que tais pesquisas não estão equivocadas. Os resultados do SARESP não têm sido satisfatórios, conforme depoimento de quem o apli- ca, ou seja, a própria Secretaria da Educação. Tanto isso é verdade, que o governo acaba de propor um bônus para os profissionais das escolas estaduais que apresentarem uma razoável melhoria no IDESP (Ín- dice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo). Do ENEM, nem é bom falar. Essas avaliações têm sido catastróficas. Nas de 2006 e 2007, a maio- ria das escolas públicas estaduais de Ensino Médio (mais de 90% delas) não alcançaram média 5 em Ma- temática, Língua Portuguesa e Conhecimentos Ge- rais. Quem quiser ir à fonte e conhecer mais dados, basta acessar o site do Inep (www.inep.gov.br). Devemos lutar para termos a es- cola dos nossos sonhos. No entanto, enquanto não a temos, é necessário fazer a nossa parte, melhorando nos- so desempenho em sala de aula, in- dependentemente dos governos. Ali- ás, eles estão muito pouco interessa- dos em investir pesado em educação, tornando-a uma prioridade. *IDESP = Índice de Desenvolvi- mento da Educação do Estado de São Paulo.

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Page 1: 2009 Pedagógico Em busca de um IDESP* positivoto Pedagógico da escola. Primeiramente, é preciso que todos saibam o sig-nificado de Projeto Pedagógico. Ele é, fundamental-mente,

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Em busca de um IDESP* positivo:melhorando o rendimento dos alunos

nas escolas estaduais.Luiz Gonzaga de Oliveira Pinto

1- IntroduçãoPodemos argumentar, de muitas maneiras e com

dados precisos, que nossas escolas estaduais care-cem de melhor estrutura funcional, de uma jornadade trabalho adequada para os professores; que existemuita rotatividade de docentes e diretores ao longodo ano; que os salários são ridículos e altamentedesmotivadores; que a Progressão Continuada, en-tendida como promoção automática, tem causadosérios problemas na aprendizagem. Isso, entre outrasdistorções que, de muitos modos, desfavorecem umensino de qualidade.

Todavia, existe um momento no processo peda-gógico em que o gestor não pode se omitir, do qualprofessor algum pode se furtar, qual seja, aquele emque está frente aos seus alunos, em cada escola e emcada sala de aula, para oferecer-lhes um ensino mini-mamente qualificado. Pois não se pode imaginar algodiferente, no processo ensino-aprendizagem. E issonão é conversa de SEE (Secretaria Estadual de Edu-cação) e sim a parte que nos toca no interior de cadaunidade escolar.

O produto dessa relação deverá ser sempre o cres-cimento intelectual do alunado. Claro que, dentro denossas possibilidades e das condições que nos sãooferecidas.

No entanto, esse axioma acaba muitas vezes anu-

lado pelas avaliações externas, tais como as doSARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Es-colar do Estado de São Paulo), ENEM (Exame Na-cional do Ensino Médio), SAEB (Sistema de Avalia-ção da Educação Básica), PISA (Programa Interna-cional de Avaliação de Aluno), Prova Brasil (Avalia-ção do Rendimento Escolar), que comprovam o bai-xo aprendizado de grande parte dos discentes, tantodo Ensino Fundamental quanto do Médio.

Assim, ou desqualificamos essas avaliações exter-nas, por julgarmos que elas não revelam as profun-das defasagens no aprendizado dos alunos, e o "apro-veitamento deles vai muito bem, obrigado"; ou asconsideramos válidas, e aí alguma coisa muito graveestá ocorrendo nas salas de aula.

Infelizmente, somos forçados a acreditar que taispesquisas não estão equivocadas.

Os resultados do SARESP não têm sidosatisfatórios, conforme depoimento de quem o apli-ca, ou seja, a própria Secretaria da Educação. Tantoisso é verdade, que o governo acaba de propor umbônus para os profissionais das escolas estaduais queapresentarem uma razoável melhoria no IDESP (Ín-dice de Desenvolvimento da Educação do Estadode São Paulo).

Do ENEM, nem é bom falar. Essas avaliaçõestêm sido catastróficas. Nas de 2006 e 2007, a maio-ria das escolas públicas estaduais de Ensino Médio(mais de 90% delas) não alcançaram média 5 em Ma-temática, Língua Portuguesa e Conhecimentos Ge-rais. Quem quiser ir à fonte e conhecer mais dados,basta acessar o site do Inep (www.inep.gov.br).

Devemos lutar para termos a es-cola dos nossos sonhos. No entanto,enquanto não a temos, é necessáriofazer a nossa parte, melhorando nos-so desempenho em sala de aula, in-dependentemente dos governos. Ali-ás, eles estão muito pouco interessa-dos em investir pesado em educação,tornando-a uma prioridade.

*IDESP = Índice de Desenvolvi-mento da Educação do Estado de SãoPaulo.

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Projeto

Pedagógico

Visão da EscolaVisão da Escola

reflexõesPlanejamento

Diagnóstico MissãoObjetivos

Estratégicos

Escola que temosEscola que temosEscola queEscola que

queremos

Escola queEscola que

vamos construirvamos construir

Plano de APlano de Ação

Metas

Ações ouões ou

estratégias

Recursos

Projeto

Pedagógico

Visão da EscolaVisão da Escola

reflexõesPlanejamento

Diagnóstico MissãoObjetivos

Estratégicos

Escola que temosEscola que temosEscola queEscola que

queremos

Escola queEscola que

vamos construirvamos construir

Plano de APlano de Ação

Metas

Ações ouões ou

estratégias

Recursos

Projeto

Pedagógico

Visão da Escola

reflexõesPlanejamento

Diagnóstico MissãoObjetivos

Estratégicos

Escola que temosEscola que

queremos

Escola que

vamos construir

Plano de Ação

Metas

Ações ou

estratégias

Recursos

Projeto

Pedagógico

Visão da Escola

reflexõesPlanejamento

Diagnóstico MissãoObjetivos

Estratégicos

Escola que temosEscola que

queremos

Escola que

vamos construir

Plano de Ação

Metas

Ações ou

estratégias

Recursos

Mas, como proceder para atingir esse ob-jetivo, a melhoria da qualidade do ensinoem nossas escolas, a partir do trabalho decada gestor e de cada docente?

2- Da necessidade de aprofundar as reflexõessobre o trabalho em sala de aula. Do ProjetoPedagógico da Escola

A chave da questão está na construção do Proje-to Pedagógico da escola.

Primeiramente, é preciso que todos saibam o sig-nificado de Projeto Pedagógico. Ele é, fundamental-mente, o instituto que permite ao coletivo refletirsobre seu trabalho em sala de aula e a realidade decada unidade escolar, com vistas a dar-lhe um novorumo. Ou seja, passar da escola que temos para aescola que queremos.

O Projeto Pedagógico constitui, pois, uma sériede reflexões a respeito do que fazer para ter a escolaque queremos. O planejamento, por sua vez, será aconcretização dessas reflexões: como fazer e comochegar lá.

Num primeiro momento, é preciso realizar o diag-nóstico da escola. Ele mostrará os problemas e apon-tará as soluções e as mudanças necessárias, com vis-tas à qualidade que pretendemos alcançar, a partirde nossas reflexões e do fazer pedagógico de cadaprofessor.

Para um diagnóstico efetivo, cada professor, du-rante o planejamento e nas HTPCs, deve ter em mãosos resultados de suas avaliações do ano anterior eaquelas realizadas ao longo do ano em curso, paraverificar como se apresenta o aproveitamento de suasclasses.

Se muitos alunos estão demonstrando baixo ren-dimento, algo deve ser feito pelo professor, e enquantoé tempo de fazer.

Para corrigir o percurso, deve o professor estabe-lecer ações e metas em relação à sua disciplina, a fimde levar o aluno ao aprendizado. Aliás, esta-belecer metas e persegui-las é o primeiro pas-so para atingir os objetivos a que se propõe oprofessor.

De nada adianta"chorar sobre o leitederramado", no finaldo ano letivo, quandose constata que gran-de parte dos alunosapresentam-se defa-sados quanto ao quese esperava de seudesempenho.

Assim, ao fazer odiagnóstico da escola

e da disciplina, é preciso analisar os resultados doSARESP e do ENEM.

Nesse aspecto, é imprescindível que o professorcoordenador forneça aos professores os resultados eos conteúdos dessas avaliações.

Ter em mãos os resultados, para que os pro-fessores tenham informações sobre o bai-xo o rendimento dos alunos dos ensinos fun-damental e médio; ter em mãos os conteú-dos, a fim de que os professores tenhamuma idéia daquilo que não ministraram aosalunos, bem como as competências e ha-bilidades que o alunado deveria ter incor-porado ao longo do desenvolvimento dosconteúdos significativos.

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A análise dos conteúdosdas provas do SARESP e doENEM dará ao professorinformações sobre os con-teúdos a ser desenvolvidoscom seus alunos.

Os materiais pedagógicosenviados pela SEE aos pro-fessores, para aplicação emsala de aula, no ano de 2008,também devem mereceratenção especial, uma vezque, com certeza,eles serão usadospela SEE, em novasavaliações.

Esses conteúdos,uma vez ministrados pelos professores e incorpora-dos pelos alunos (juntamente com as habilidades ecompetências), farão com que o IDESP de cada uni-dade escolar melhore sensivelmente.

Mas, o diagnóstico é ainda a primeira etapa paramudar os rumos da aprendizagem dos alunos. Eleinforma aos professores que caminhos seguir paramelhorar a qualidade do trabalho em sala de aula. Eessas melhorias, por sua vez, dependem da mudançana postura pedagógica do professor.

Mudando os procedimentos do professorem suas aulas com vistas a uma verdadei-ra Progressão Continuada

Desde sua introdução nas escolas estaduais, a Pro-gressão Continuada, transformada em PromoçãoAutomática, foi responsabilizada por todos os desas-tres educacionais vinculados ao aproveitamento dosalunos, como se todos eles tivessem resolvido, apartir da inovação, deixar de estudar. É válidaessa afirmação?

Faz-se necessário, primordialmente, compreendero contexto no qual foi introduzida a Progressão Con-tinuada.

À época, 1997, grande parte das escolas públicasestaduais apresentava um índice de repetência e eva-são que beiravam os 40%. Tratava-se de uma situa-ção intolerável e insustentável, que pedia urgentesmedidas corretivas.

E elas vieram com a introdução do Sistema deCiclos e da Progressão Continuada sem, no entanto,as necessárias mudanças estruturais que tais inova-ções exigiam: nova jornada para o professor, e, fun-damentalmente, capacitações que permitissem aosdocentes e gestores o pleno entendimento das novi-dades.

O Sistema Seriado, que deveria ser abolido com

os Ciclos, permaneceu intacto, e a ProgressãoContinuada transformou-se em Promoção Au-tomática, inclusive contrariando o artigo 24,II, "a", da LDB, que estabelece que a pro-moção dos alunos só deve ocorrer com apro-

veitamento. Mas, como a LDB abre bre-chas para que os sistemas de en-

sino façam suas adequa-ções, a SEE e o Con-selho Estadual deEducação do Estadode São Paulo aborta-ram a idéia da promo-ção com aproveita-mento, admitindo aretenção apenas nasclasses terminais do

Ensino Fundamental.Mas, será que, mantida a promoção com apro-

veitamento, não teriam continuidade os altos ín-dices de evasão e repetência?

Apesar da ausência de capacitações oficiais, mui-tas escolas preocuparam-se em tentar compreendere pôr em prática essas inovações. E o fizeram, comrazoável êxito. Porque a Progressão Continuada ti-nha e tem um objetivo nobre, qual seja:

mudar, na consciência dos alunos, o con-ceito de estudar para passar de ano, para ode estudar para aprender.

Ora, o êxito da Progressão Continuada implicarianovas práticas pedagógicas e ênfase em certos pro-cedimentos diferenciados por parte dos professoresem sala de aula. Embora fosse obrigação aplicá-los,independentemente da Progressão, nem sempre issoocorria.

A partir da introdução da Progressão Continuada,o planejamento e as aulas deveriam ser desenvolvi-dos de forma bem diversa do que vinha ocorrendo,até então, em grande parte das salas de aula.

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Nesse novo contexto, algumas questões teriam queser levadas em consideração, para evitar que a Pro-gressão Continuada se transformasse em PromoçãoAutomática. Entre elas:

1 - a busca do bom relacionamento professor/aluno;2 - o meticuloso preparo das aulas;3 - a seleção de conteúdos significativos, tantoquanto possível, baseados na realidade do alu-no;4 - o trabalho coletivo dos docentes, fundadona interdisciplinaridade;5 - o desenvolvimento de competências e ha-bilidades entre os alunos, baseadas na premis-sa de que o discente demonstra que realmen-te aprendeu, no momento em que é capazde aplicar os conhecimentos adquiridos emsituações novas.

A busca do bom relacionamento professor/aluno

O bom relacionamento professor/aluno foi e serásempre, peça fundamental na aprendizagem. O con-trário dessa premissa é a eclosão de conflitos em salade aula que praticamente inviabilizam qualquer pro-

cesso pedagógicode qualidade, tor-nando um inferno avida do professor eprovocando agres-sões morais e atémesmo físicas, departe a parte, hojemuito comuns nasescolas públicas es-taduais (conformepesquisa da Udemode 2008).

Todavia, o bomrelacionamento está intimamente ligado à qualidadedas aulas ministradas pelos professores.

Os alunos adoram o professor dedicado e eficien-te que os trata com carinho e atenção. O aluno sabeexatamente com quem está tratando. Estamos falan-do de alunos indisciplinados, e não de "bandidos".Agredir fisicamente professores e professoras, ou osameaçar de morte, não são atos de indisciplina; é cri-me.

Para coibir a violência que hoje grassa numnúmero cada vez maior de unidades escolares,é necessária uma profunda reflexão dos educa-dores sobre essa distorção. Essa reflexão deve

levar a projetos específicos de combate a essapraga que tanto deseduca nossos jovens e ado-lescentes. Um exemplo de projeto de combate àviolência poderá ser visto na página 80 desteCaderno.

O meticuloso preparo das aulas

Há uma série de ações que podem ser desenvolvi-das pelo professor para tornar suas aulas agradáveis,atrativas e dinâmicas. Nessas aulas, a avaliação terápapel preponderante, pois é a sua constante aplica-ção que garantirá, ao docente, a constatação de queo conjunto da classe assimilou os conteúdos signifi-cativos e está aprendendo, realmente.

Portanto, a prática de sistemáticas avaliações, decaráter diagnóstico, visando detectar dificuldades deaprendizagem, e não para classificar os discentes,comparando-os com outros, mostra-se, de fundamen-tal importância nesse novo contexto.

Para isso, é necessária uma boa organização des-sas aulas que deve compreender as seguintes etapas:

1 - Definição do número de aulas no desenvolvi-mento de determina-do conteúdo;

2 - Estabeleci-mento de alguns ob-jetivos a serem alcan-çados ao final de cada

aula, e a divisão daaula em três momentos:

- o primeiro, dedicado aodesenvolvimento do conteúdo(mais ou menos 30 minutos)com o professor sempre dia-

logando com os alunos, buscando neles algum co-nhecimento que eventualmente tenha sobre o assun-to (unindo o rudimentar saber do discente com onovo, exposto pelo professor);

- o segundo momento (cerca de 20 minutos), de-dicado à avaliação, no qual o mestre verificará se osobjetivos dessa aula foram alcançados e o quanto osalunos assimilaram desses conteúdos significativos;

- o terceiro momento, em que o professor poderácolocar questões (situações/problemas) que permi-

tam ao aluno transfe-rir o conhecimento ad-quirido para situaçõesnovas. Se os alunos ofizerem, saberá o do-cente que esses con-teúdos foram, real-mente, aprendidos, oque permitirá ao pro-

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fessor perceber que discente está incorporando ha-bilidades e competências em seu aprendizado.

3 - De cada aula, com certeza, os alunos terão osregistros dos conteúdos apreendi-dos;

4 - Os procedimentos devemser os mesmos nas au-las subseqüentes e otrabalho deve ser con-cluído com uma sín-tese realizada com oconjunto da classe,com o docente sempredialogando com osdiscentes.

Mantida a sistemática, o professor poderá variaro tipo de aula ministrada, de acordo com a realidadede sua disciplina. O importante é garantir que os alu-nos aprendam. Mas, haverá alguns alunos, que poruma série de razões, apresentarão dificuldades maio-

res. Conhecendo-as, ficará maisfácil encaminhá-los a re-cuperação paralela, comenorme possibilidade deêxito.

Mas, queremostambém chamar aatenção para umfato que muito an-gustia o professor:"a pressa em termi-nar a matéria".

Deve ficar claro para todos os docentes queo importante não é finalizar os conteúdosnum prazo estipulado, mas, sim, garantira aprendizagem.

Trabalhando dessa forma, o professor terá perfei-to controle sobre os procedimentos que está reali-zando, não permitindo que esses conteúdos signifi-cativos se percam pela ausência de avaliação e regis-tros. Ao mesmo tempo, conferirá aos alunos a possi-bilidade de organizarem seus próprios registros.

A seleção de conteúdos significativosO professor deve ter sempre em mente que esses

conteúdos, tanto quanto possível, deverão estar vol-tados para a realidade que cerca o alunado, ainda quenem todos os temas abordados possam ter essa ca-racterística.

Nesse aspecto, é necessário que o professor refli-ta sobre a importância dos conteúdos que vai minis-trar, ou seja, "por que vou desenvolver determinadamatéria?" Isso, para poder esclarecer aos alunos aque-

le conhecido questionamento que, vez ou outra, eleslhe fazem, durante as aulas: " Professor, por que te-mos de estudar esse tema, e para que ele serve?"

O trabalho coletivo dos docentes baseadona interdisciplinaridade

Umas das bases na qual se apóia o Projeto Peda-gógico é o trabalho coletivo.

Escolas sem um Projeto Pedagógico acabam porprivilegiar o trabalho individual dos docentes,consubstanciado no fato de cada professor, duranteo Planejamento, organizar os conteúdos específicosa ser ministrados para suas classes, desenvolvendo-os sem relação alguma com os conteúdos de seuscolegas, ainda que dêem aulas para classes da mes-ma série.

Esse trabalho individualizado, ainda que possa teros seus méritos, quando ministrado por bons profes-sores, não dá aos alunos a idéia da unidade do conhe-cimento, dificultando, ou mesmo impedindo, a com-preensão da relação entre ciências e humanidades.

Os conteúdos intercruzados, e aquelesunificadores de temas, constituem a molamestra da interdisciplinaridade. O inter-re-lacionamento entre os conteúdos das dis-ciplinas configura a interdisciplinaridade.

Daí a necessidade da introdução dainterdisciplinaridade no Planejamento das escolas,que possibilita a todos os professores tomarem co-nhecimento, durante o Planejamento e as HTPCs,dos conteúdos que todos irão ministrar ou estão mi-nistrando, a fim de que busquem pontos de relaçãoentre eles.

A interdisciplinaridade pode ser desenvolvi-da de muitas formas:

- através de um tema específico, por meio do qualtodas as disciplinas, ou parte delas, se integrem, paradar ao aluno a idéia da unidade do conhecimento;

- através de Língua Portuguesa, na qual os pro-fessores das demais disciplinas demonstrem que a nor-ma culta é importante não somente no estudo do idi-oma pátrio, mas em todas as áreas do conhecimento;

- outras formas, a serem criadas pelos professoresnas HTPCs, tornando essa uma prática normal nasnossas escolas.

Assim, por meio da interdisciplinaridade, teríamosa integração dos professores em torno de temas, e aexistência de um verdadeiro trabalho coletivo, no qualcada professor saberia exatamente o que o colega estárealizando, o que elevaria, sobremaneira, a qualida-de do ensino.

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O desenvolvimento de habilidades e compe-tências

As competências e habilidades são inseparáveisda ação, mas exigem domínio de conhecimentos.

Competências se constituem num conjunto deconhecimentos, atitudes, capacidades e aptidões quehabilitam alguém para vários desempenhos da vida.

Habilidades se ligam a atributos relacionados nãoapenas ao saber/conhecer, mas ao saber-fazer, sa-ber-conviver e saber-ser.

As competências pressupõem operações mentais,capacidade para usar as habilidades, emprego de ati-tudes adequadas à realização de tarefas e conheci-mentos.

Exemplos de competências/habilidades:- respeitar as identidades e as diferenças;- utilizar-se das linguagens como meio de expressão,

comunicação e informação;- inter-relacionar pensamentos, idéias e conceitos;- adquirir, avaliar, e transmitir informações;- compreender os princípios das tecnologias e suas

relações integradoras;- entender e ampliar fundamentos científicos e

tecnológicos;- desenvolver a criatividade- saber conviver em grupo;- aprender a aprender

Então, qual é a diferença entre competênciase habilidades?

De acordo com o professor Vasco Moretto, daUniversidade Laval de Quebec- Canadá:

As habilidades estão associadas ao saber fazer:ação física ou mental que indica a capacidade adqui-rida. Assim, identificar variáveis, compreender fenô-menos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipu-lar, são exemplos de habilidades.

Já as Competências são um conjunto de habilida-des, harmonicamente desenvolvidas, e que caracte-rizam, por exemplo, uma função/profissão específi-

ca: ser arquiteto, médico, professor, etc. As habilida-des devem ser desenvolvidas na busca de competên-cias.

Segundo Vera Lucia Câmara F. Zacharias ( in Re-vista do Projeto Pedagógico/2005, pg 34):

"Cabe ainda observar, preliminarmente, que ascompetências não eliminam os conteúdos, pois quenão é possível desenvolvê-las no vazio. Elas apenasnorteiam a seleção dos conteúdos, para que o pro-fessor tenha presente que o que importa na educa-ção básica não é a quantidade de informações, mas acapacidade de lidar com elas, através de processosque impliquem sua apropriação e comunicação, e,principalmente, sua produção ou reconstrução, a fimde que sejam transpostas a situações novas" - PCN -Ensino Médio.

3- Considerações finais

Sabemos que são muitas as dificulda-des que se colocam diante do gestor edo professor que desejam realizar um tra-balho de qualidade em suas escolas.

Todavia, acreditamos que, refletindosobre os resultados das avaliações exter-nas, confrontando-as com o real aprovei-tamento dos alunos, poderão gestores ecorpo docente das escolas mudar os ru-mos do processo pedagógico.

Para isso, é necessário combater a ro-tina que se apossa de muitos profissio-nais, logo após o Planejamento, quandose esquecem de que se comprometeramcom a qualidade de suas aulas. Descui-dam da sistemática verificação da apren-dizagem dos seus alunos.

Para fazer um trabalho de quali-dade em sala de aula, não é necessá-ria muita sofisticação, mas, sim, odesejo de que todos os alunos apren-dam, mediante dedicação constantee sistemática avaliação.

Assim procedendo, os professores es-tarão sempre atentos ao crescimento deseus alunos, não permitindo que muitosdeles fiquem pelo caminho, abandona-dos à sua própria sorte, quando aparece-rem as temidas defasagens.

Mas, para isso, é preciso que os do-centes acreditem que todos os alunos sãocapazes de aprender.

Fonte: Revista do Projeto Pedagógico 2009