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Março de 2006 • Número 306 Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa Jornal da ABI ALDO REBELO DÁ RAZÃO À ABI José Carlos Rego: um baque para a cultura popular Páginas 22 e 23 Em audiência que concedeu a dirigentes da ABI, o Presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB- SP), reconheceu que a entidade tem razão ao reivindicar o restabelecimento de seu registro de instituição beneficente de assistência social. Página 19 Graciliano, leitor severo de sua obra Um texto pouco conhecido de Peri- lo Galvão Peixoto revela a severi- dade com que Graciliano Ramos avaliava sua obra. “Para mim, nada presta”, disse ele a Perilo. Página 8 DEPOIMENTOS Na tela, os nossos 100 anos Em depoimentos nesta edição, Fer- nando Barbosa Lima diz que jorna- lismo de coragem é aquele que tem opinião e Luiz Garcia manda um recado: cuidado com os arapongas. Páginas 9, 10 e 11, 14, 15 e 16 A cobertura do Carnaval, lá na pista Habituados à farra, como no bloco Imprensa que eu gamo (foto), os jor- nalistas vibram mas também pade- cem na cobertura do Carnaval. Páginas 3, 4, 5, 6 e 7 João Cândido recebe Medalha Chico Mendes Foi uma homenagem póstuma do Grupo Tortura Nunca Mais. Seu filho Candinho, funcionário da ABI, chorou ao recebê-la. Página 20 Jornalismo corajoso é aquele que opina Produtor de cinema, Luiz Carlos Barreto (à esq.) anunciou ao nosso Diretor Jesus Chediak que vai fazer um documentário sobre os 100 anos da ABI. Página 16 J.BATISTA WWW.GRACILIANO.COM.BR ARQUIVO PESSOAL

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Março de 2006 • Número 306Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

Jornal da ABI

ALDO REBELO DÁ RAZÃO À ABI

José Carlos Rego: um baque para a cultura popularPáginas 22 e 23

Em audiência

que concedeu

a dirigentes da

ABI, o Presidente

da Câmara dos

Deputados, Aldo

Rebelo (PCdoB-

SP), reconheceu

que a entidade

tem razão ao

reivindicar o

restabelecimento

de seu registro

de instituição

beneficente de

assistência social.

Página 19

Graciliano, leitorsevero de sua obraUm texto pouco conhecido de Peri-lo Galvão Peixoto revela a severi-dade com que Graciliano Ramosavaliava sua obra. “Para mim, nadapresta”, disse ele a Perilo.

Página 8

DEPOIMENTOS

Na tela, os nossos 100 anos

Em depoimentos nesta edição, Fer-nando Barbosa Lima diz que jorna-lismo de coragem é aquele que temopinião e Luiz Garcia manda umrecado: cuidado com os arapongas.

Páginas 9, 10 e 11, 14, 15 e 16

A coberturado Carnaval,lá na pistaHabituados à farra, como no blocoImprensa que eu gamo (foto), os jor-nalistas vibram mas também pade-cem na cobertura do Carnaval.

Páginas 3, 4, 5, 6 e 7

João Cândido recebe Medalha Chico MendesFoi uma homenagem póstuma do Grupo Tortura Nunca Mais. Seu filhoCandinho, funcionário da ABI, chorou ao recebê-la. Página 20

Jornalismo corajosoé aquele que opina Produtor de cinema, Luiz Carlos Barreto (à esq.) anunciou ao nosso Diretor Jesus

Chediak que vai fazer um documentário sobre os 100 anos da ABI. Página 16

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Jornal da ABI

2 Março de 2006

NESTA EDIÇÃO

Jornal da ABI

Associação Brasileira de Imprensa

EDITORIAL

Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andarTelefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012Rio de Janeiro - RJ ([email protected])

Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício AzêdoProjeto gráfico, diagramação eeditoração eletrônica: Francisco UchaApoio à produção editorial: Ana Paula Aguiar,Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna,Maria Ilka Azêdo e Solange Noronha.Diretor responsável: Maurício AzêdoImpressão: Gráfica LanceRua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ.

As reportagens e artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião do Jornal da ABI.

DIRETORIA – MANDATO 2004/2007Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretora Administrativa: Ana Maria Costábile SoibelmanDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê)Diretora de Jornalismo: Joseti Marques

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira,Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura

CONSELHO FISCALJesus Antunes – Presidente, Miro Lopes – Secretário,Adriano Barbosa, Hélio Mathias, Henrique João Cordeiro Filho,Jorge Saldanha e Luiz Carlos Oliveira Chester

CONSELHO DELIBERATIVO (2004-2005)Presidente: Ivan Cavalcanti Proença1º Secretário: Carlos Arthur Pitombeira2º Secretário: Domingos Xisto da Cunha

Conselheiros efetivos (2005-2008)Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, AraquémMoura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, CarlosArthur Pitombeira, Conrado Pereira, Ely Moreira, FernandoBarbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata, Maurício Azêdo,Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

Conselheiros efetivos (2004-2007)Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin,Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel doAmaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, JoséRezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura,Sérgio Cabral e Teresinha Santos

Conselheiros efetivos (2003-2006)Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade,Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dosSantos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, GlóriaSueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins,Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga,Octávio Costa, Vitor Iorio e Yolanda Stein

Conselheiros suplentes (2005-2008)Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de PaulaFreitas, Geraldo Lopes, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz,José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone,Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedrodo Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J.Magalhães

Conselheiros suplentes (2004-2007)Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois,André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho,José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto,Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind,Marlene Custódio, Maurílio Ferreira e Yaci Nunes

Conselheiros suplentes (2003-2006)Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Calegari, AntônioHenrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, DomingosAugusto G. Xisto da Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, JoséCarlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Luiz Carlos de Souza,Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M. de Miranda,Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, RogérioMarques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira e RubemMauro Machado

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira – Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José ErnestoVianna, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio CândidoFerreira

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan AlvesFilho e Paulo Totti

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSArthur Cantalice, Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro,Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy MaryCarneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário AugustoJakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles,Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

Um evento totalmente hollywoodiano 3

Graciliano na intimidade 8

Depoimento-1: Luiz Garcia 9

Depoimento-2: Fernando Barbosa Lima 14

Barreto porá na tela os 100 anos da ABI 16

Um documentário sobre a vida de Saldanha 16

Ao vivo, os atores de JK 17

Comunique-se, nosso parceiro nos Cursos Livres 17

Obras sobre temas polêmicos na Biblioteca Bastos Tigre 17

Em Roraima até o Governo do Estado é silenciado 18

México elimina prisão por delito de imprensa 18

Destruída escultura de homenagem a Cláudio Abramo 18

Tropa do Exército que intervém no Rio agride jornalistas 18

Renan, Aldo e Sarney ouvem a ABI 19

Medalha Chico Mendes para João Cândido 20

Mais um acidente fatal na Cemig 20

Diligência apura grampo na Rede Gazeta 20

Reparação moral para mais 19 vítimas da ditadura 21

O dia de uma função que está sucumbindo 21

Vidas: José Carlos Rego, um amante da cultura popular 22

Nélson, o primeiro cineasta de fardão 23

Aqueles velhos bons tempos da Revisão 24

Sob o garrote vilEsta edição do Jornal da ABI ocupa-se mais uma vez de uma questão

essencial para a Casa, qual seja o restabelecimento do seu registro de

entidade beneficente de assistência social, cassado pelo Conselho

Nacional de Assistência Social, em decisão que ensejou o lançamentopelo Instituto Nacional do Seguro Social-INSS, a título de cobrança

de contribuição previdenciária patronal, retroativa a cinco anos, de

um débito que atualmente supera a cifra de 3 milhões de reais.

Apoiando-se em fundamentação especiosa, e até ridícula, como a de

que para merecer esse registro a ABI precisaria atender a todas as

pessoas em “situação de vulnerabilidade” –– a grande legião de des-

pojados da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro ––, o Conselho

Nacional de Assistência Social cometeu desalmada violência contra a

Casa, ignorando que há quase 90 anos, desde 1917, ainda no longín-quo Governo Venceslau Brás, a entidade foi reconhecida pelo Con-

gresso Nacional como de utilidade pública, para todos os efeitos. Ao

longo de mais de oito décadas, a ABI usufruiu dos benefícios que essa

condição lhe assegurava e que o CNAS resolveu cassar.

Desta vez o Jornal da ABI relata as gestões que promoveu em Brasília

com as mais altas expressões do Poder Legislativo, o Presidente do

Senado, Senador Renan Calheiros, o Presidente da Câmara, Deputado

Aldo Rebelo, e o Senador José Sarney, os quais manifestaram sua com-preensão de que é justo o pleito da ABI e que essa situação anômala

está a exigir correção. Ao receber dirigentes da ABI, o Senador José

Sarney salientou que esse desapreço fere não só a Casa, mas também o

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que é a mais antiga institui-

ção cultural do País, e a Academia Brasileira de Letras, ambas igual-

mente expostas ao garrote vil de imposições pecuniárias que podem

levar essas beneméritas entidades à derrocada, através do assalto ao

patrimônio que construíram com o sacrifício de inúmeras gerações.

A ABI confia em que as autoridades do Poder Legislativo e do PoderExecutivo serão tomadas de bom-senso e agirão no âmbito de suas

competências para garantir os direitos e a tranqüilidade das institui-

ções expostas ao cutelo que ameaça desabar inclemente sobre suas

carótidas. Até que tal aconteça, a ABI não esmorecerá na denúncia do

crime que se pratica contra ela e contra as veneráveis instituições

nacionais também alcançadas por tanta inconsciência.

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3Março de 2006

Jornal da ABI

OPERAÇÃO CARNAVAL ����� Por Rodrigo Caixeta

Oclima é de tensão nos dias de des-file das escolas de samba do Gru-po Especial do Rio de Janeiro.Minutos antes da primeira apre-sentação na Passarela da Marquêsde Sapucaí, os jornalistas correm

para suas posições, seja para entrar no ar aovivo em alguma emissora de rádio ou TV, sejapara conseguir entrevistar os integrantes decada agremiação e obter as informações maisimportantes que estarão no noticiário do diaseguinte. Os repórteres-fotográficos formamuma verdadeira muralha em torno de alas,carros alegóricos e celebridades que vão des-filar. Tudo isso para mostrar com todos osdetalhes como é o maior espetáculo popu-lar da Terra.

Leilane Neubarth é uma das jornalistas maisempolgadas na área da concentração. A repór-ter da TV Globo costuma chegar cedo e fazdiversas matérias e flashes, antes, durante edepois de cada desfile. Com a agitação carac-terística de quem trabalha em televisão, elaanda de um lado para o outro na Avenida, embusca de informações que possam ajudar noseu trabalho. Mas não é só o profissionalismoque a leva a cobrir com tanto entusiasmo aSapucaí. Sua história de amor com a Passarelado Samba começou com a inauguração doSambódromo, em 1984, quando desfilou pelaMangueira, sua escola predileta:

— Na verdade, eu estava fazendo umareportagem para falar sobre como uma pes-

Repórter do ABIOnline devassou osbastidores da coberturados desfiles do GrupoEspecial das escolasde samba do Rio deJaneiro, evento queo repórter-fotográficoNélson Perez, do jornalValor Econômico,descreve com estaimagem: “Isto aquié totalmentehollywoodiano”

Um evento totalmente

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IVO RIO

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Festejada como a escola do samba no pé,a Mangueira aderiu à monumentalidadedo principal desfile do Carnaval carioca.

hollywoodianohollywoodiano

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soa se sente ao desfilar numa escola de sam-ba. Houve uma segunda vez em que a televi-são foi homenageada num carro alegórico eeu também saí.

Leilane só não fez o desfile no ano em queengravidou e no período em que apresenta-va o Bom-dia, Brasil. Ela diz que bom mesmoé estar na pista e se orgulha de conhecer pes-soas como Jamelão e tia Surica:

— Para mim, é sempre uma emoção dife-rente. Por mais que eu pense que vai ser a mes-ma coisa, quando chego aqui e sinto esse fris-son, a adrenalina sobe e é muito emocionan-te. Ao longo desses anos, já vi histórias engra-çadas, curiosas, fascinantes e tristes, como ada Porto da Pedra (que teve o carro que home-nagearia mães brasileiras famosas quebradoantes mesmo de entrar na pista, obrigando adesfilar no chão a mãe de Cazuza, LucinhaAraújo, e Glória Perez, mãe de Daniela Perez).

Nathaly Ducoulombier, repórter do SBT,acumula 14 anos de cobertura na Sapucaí. Paraela, é sempre diferente e emocionante, aindaque as escolas sigam os padrões determina-dos pela Liga Independente das Escolas deSamba-Liesa: — Quando a bateria passa, es-quecemos até que estamos trabalhando; dávontade de acompanhá-la — diz, empolgada.

Cobrindo todos os dias de Carnaval — das19h até à última escola — Nathaly não sedeixa abater. E brinca: — Hoje (domingo)está movimentado. A chuva atrapalha nos-so trabalho, porque não conseguimos con-versar com as pessoas e, com o papel mo-lhado, a caneta começa a falhar. Mas isso tudoacaba virando pauta.

Como o SBT não tem direito de imagemsobre os desfiles, Nathaly faz matérias decomportamento e também sobre as escolas.O tempo é dedicado às anotações, a conver-sas com a equipe e atenção na concentração:— Lembro-me da primeira vez que vim paraa Avenida, ainda como produtora. Foi emo-cionante. Só aqui é possível ver o que realmen-te acontece.

Com a experiência de 20 de anos dedica-dos ao radiojornalismo, Fábio Tubino, comen-tarista da Rádio Carioca, diz que a emissoradesenvolve um trabalho de cobertura doCarnaval durante todo o ano. Desta vez, eleconta que as equipes dos programas Madru-gada guerreira e Carioca samba show se junta-ram para cobrir o desfile e que todo o seuconteúdo é transmitido simultaneamentepelo site Viva Rio: — Estou na cobertura desdeos ensaios técnicos. Há 12 anos faço o Car-naval carioca e a cada ano temos novas sur-presas e muitas emoções.

Para Fábio, a mecânica do rádio é mais atra-ente, pois trabalha com a informação imedia-ta e a prestação de serviço: — O melhor éretratar com riqueza de detalhes o momen-to na hora em que tudo acontece. Acompa-nhei muito sensibilizado o desfile da Rocinha,que fez um carnaval bonito e luxuoso, masfoi prejudicada pela desorganização. Vi o es-forço para que cada ala pudesse se recompor;transmitir isso acontecendo é muito compli-cado. No ano passado foi o mesmo com a Por-tela. Ao mesmo tempo, é muito bom trans-mitir um desfile coeso como o do Salgueiro.

Quem também se emociona transmitin-do ao vivo é Valéria Porto, da Rádio Carioca.Narradora dos desfiles da Sapucaí, ela se or-gulha de dizer que é a primeira e única locu-

tora de rádio a fazer cobertura de Carnavalno mundo: — Este é um universo interessanteque as mulheres não procuram. Nossa respon-sabilidade é transmitir a emoção da Avenidae, por isso, absorvemos a euforia que é trans-mitida pelo espectador daqui.

Ernâni Alves, da Rádio Itatiaia de MinasGerais, conta que a transmissão ao vivo daemissora pega os 20 minutos iniciais de cadaescola e os dez finais. Extrovertido e falantecomo a maioria dos profissionais de rádio, elediz que a adrenalina maior é no início do desfilee que a tensão vai baixando em seguida: —Nossa preocupação é a extensão do Sam-bódromo e os fatos que acontecem isolada-mente. Quatro repórteres ficam espalhadospela Avenida, fazendo entrevistas, correndoatrás dos fatos e é aí que se percebe o com-panheirismo dos colegas, porque há uma in-tegração entre os jornalistas, que estão sem-pre trocando informações. Acabei de ceder

uma sonora de dois governadores para umcolega de outra emissora.

A narração via rádio, diz Ernâni, deve ofe-recer ao ouvinte a visualização do espetácu-lo: — Em nossa cobertura, costumamos darnossas notas para as escolas, até mesmo paradar uma dinamizada.

Cobrindo Carnaval há seis anos, Ernâni,que desta vez também fez reportagens paraa TV do Portal Terra, analisa: — Depois deum certo tempo de experiência, conseguimosavaliar as escolas de forma técnica. No iní-cio, a emoção toma conta, até porque temosnossas escolas queridas, mas depois isso mu-da. Hoje eu torço apenas para a melhor, nãotenho mais predileção.

Mauro Sant’Ana, repórter da Rádio Livre,cobre Carnaval desde 2004, interagindo comos foliões no Terreirão do Samba, na Cine-lândia e na Lapa. Este ano, foi pautado paracobrir as escolas: — É um espetáculo gran-dioso, que exige muita concentração do pro-fissional. Procuro buscar informações paraembasar minhas matérias, fico na pista e pos-so ir para onde quiser. Não estou setorizadocomo alguns colegas, posso ir dos camarotesàs arquibancadas. Mas é preciso ter cara-de-pau para chegar nos locais e buscar pautas.

Assim como Fábio Tubino, Mauro como-veu-se com o drama da Rocinha, que desfi-lou quase todo o tempo embaixo de chuva,teve carros alegóricos quebrados e acabouestourando o tempo de desfile em seis minu-tos. Depois, Mauro entusiasmou-se com oSalgueiro: — Cobri as escolhas de sambas-enredo, a eleição das madrinhas de bateria...Então, já estou no clima das escolas, me en-volvo muito mais, porque é um trabalho lon-go, que não se restringe aos dias de desfile. Eé bom ver o sucesso das escolas na Avenida.

Hérica Marmo, repórter do Extra, tem oitoanos de experiência nesse tipo de cobertura efoi pautada para os desfiles do Grupo Especial:

— Não sinto a mesma emoção da estréia,mas é a maior adrenalina, não dá tempo deapreciar como o espectador. Tenho que ob-servar tudo o que está acontecendo e passarem tempo real para a Redação. Saindo daqui,vou para a Redação para escrever a matériaque sai no dia seguinte.

Vivianne Cohen, sua colega de Redação,avalia com entusiasmo a cobertura na Sapucaí:

— É legal porque nos dá a oportunidade

“É sempreuma emoçãodiferente. Pormais que eupense que vaiser a mesmacoisa, quandochego aqui aadrenalinasobe e é muitoemocionante.”Leilane Neubarth

“Quando a bateria passa, dá vontade de acompanhá-la”, diz Nathaly Ducoulombier, do SBT, que cobre o desfile do samba há 14 anos.Fábio Tubino (ao centro), da Rádio Carioca, está na pista há 20, enquanto Mauro Sant’Ana, da Rádio Livre, estreou lá no Carnaval 2006.

Leilane Neubarth, da TV Globo, chega cedo à pista da Sapucaí, que sempreoferece emoções diferentes. Ela cobriu o desfile inaugural do Sambódromo.

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de aprender muita coisa. No Extra, temos ocostume de dividir a tarefa entre os colegas,cada um faz três ou quatro escolas por dia,para não ficar cansativo. É sempre uma cor-reria, porque temos que apurar as informa-ções antes de a escola entrar na Avenida. Ficona concentração, mas há outra equipe nadispersão.

Denise Ribeiro, também do Extra e a maisexperiente do trio — 15 anos de Sapucaí —, não larga o rádio através do qual troca in-formações com a Redação, observa os acon-tecimentos ao redor e mantém o espírito dealegria da festa. Sorridente, diz que não se dei-xa abalar pelo nervosismo, a não ser pelo fe-chamento do jornal, pois é preciso cumprir ocronograma: — Quando o desfile transcorrenormalmente, é bem mais fácil, mas tudovaria de acordo comos acontecimentos danoite. Com a seto-rização, o trabalho fi-cou facilitado.

Para Denise, repór-teres sem experiênciana Avenida devem semunir de um mínimode conhecimento deCarnaval:

— E a cada ano éuma surpresa, caiuma chuvarada, car-ros se quebram...Nem sempre o desfi-le é perfeito como oesperado e temos queentrar em cena paraapurar o que gerou osimprevistos.

Fábio Silva, repór-ter do site Galeria do Samba, considera osdesfiles um trabalho gratificante para os jor-nalistas: — Você está participando do mai-or espetáculo da Terra e ainda desempenhaa sua função. E falar de Carnaval é muitobom. Há sempre uma adrenalina diferentequando você chega para trabalhar.

Em quatro anos, Fábio já testemunhoumuitas histórias engraçadas de colegas:

— No ano passado, por exemplo, uma re-pórter ia entrar ao vivo, entrevistando o dire-tor de Harmonia de uma escola. Devido aobarulho da bateria, ele não entendeu a perguntae começou a cantar o samba-enredo. Nem épreciso explicar a cara que a repórter fez.

Ernani Alves, da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte, exalta a colaboração entreos repórteres: ele cedeu a coleguinhas sonoras com dois governadores.

Ao lado dos repórteres que seag lomeramem busca danotícia estãosempre os re-

pórteres-fotográficos embusca do melhor clique — epara consegui-lo não bastater talento, é preciso ter ocolete que dá acesso à pistaou o crachá que permitesubir à torre de TV, de ondese tem uma visão privile-giada da Avenida.

Nélson Perez, repórter-fotográfico do Valor Econômi-co, cobre o Carnaval na Sa-pucaí há 16 anos e diz quepara quem nunca fez a fes-ta é maravilhosa:

— No entanto, para quem está na labutaanual, é muito estressante. Temos pouca es-trutura para fazer um bom trabalho, porqueesbarramos em um monte de coisas, comoos seguranças das escolas que não deixam vo-cê trabalhar direito e os limites físicos da Pra-ça da Apoteose, pois sem o colete é impossí-vel chegar a alguns lugares. É a estrutura doCarnaval, não adianta discutir que ela não se-rá mudada. E também é uma cachaça, mui-to legal de fazer. Gosto de ver o resultado pu-blicado, embora hoje trabalhe num jornal

não voltado para o desfile,mas para os empresáriosque estão desfilando.

Outro ponto relevante,diz Nélson, é a pressão dofechamento. Nos temposem que trabalhava no Jor-nal do Brasil, além de cor-rer atrás da melhor foto, erapreciso correr para revelaro filme e selecionar o ma-terial para a edição do diaseguinte: — Hoje, a dife-rença é que corremos como cartão de memória dascâmeras digitais, que, noentanto, facilitam o enviodesde que se tenha umcomputador conectado àinternet. O que eu obser-vo é que são centenas de fo-tógrafos, mas cada um de-

senvolve uma visão diferente sobre um mes-mo tema e o resultado é sempre diversificado.

Fotografando do alto da torre de TV, Nél-son diz que antigamente ia ali para se refugi-ar do estresse da Avenida e buscava a melhorfoto lá embaixo.

— Aqui em cima, se eu bobear perco a foto,porque os carros alegóricos passam muito ra-pidamente. Eles são mais bem fotografadosdaqui, mas as pessoas, não. Agora os desfilessão muito mais teatrais, espetacularizados.Isso aqui é totalmente hollywoodiano. Aca-bou a festa popular.

Alex Slaib, do jornal A Tribuna, de Niterói,cobre os desfiles na Sapucaí há nove anos e

Em busca do melhor ângulo

acha que o que varia a cada Carnaval é a expec-tativa em relação à escola para que torce, aViradouro — “aí, sim, a emoção é diferente”,diz. Ao contrário de Nelson, ele prefere foto-grafar da torre, “porque na Passarela rola mui-ta pancadaria”: — Aqui é mais light e pode-mos fazer fotos diferentes, além das panorâ-micas. Lá embaixo, já vi muitos colegas seremespancados pelos seguranças das escolas, quenão deixam a gente trabalhar, mas, felizmen-te, nunca sofri esse tipo de agressão. Na verda-de, é preciso gostar realmente do que se faz.

Acostumado a fazer fotos de publicidadee estreando na Avenida, Frederico Borba, daEmbratur, empolgava-se com seu primeirotrabalho fotojornalístico: — É um privilégioestar pertinho do que está acontecendo. É umespetáculo bonito de se ver, uma das manifes-tações da cultura brasileira, e o primeiro even-to grande que eu faço. No desfile das escolasdo Grupo de Acesso, fotografei lá de baixo,mas as especiais preferi registrar daqui de ci-ma. Cada um tem suas peculiaridades. Lá em-baixo é possível mostrar o sentimento daspessoas, a expressão de cada um, mas aqui fa-ço uma visão geral do que está acontecendo.

“São centenasde fotógrafos,mas cada umdesenvolveuma visãodiferentesobre ummesmo tema”

“É umprivilégioestar pertinhodo que estáacontecendo.”

Nélson Perez

Frederico BorbaFotógrafo de publicidade, Frederico Borba

estreou na pista agora. Adorou.

Nélson Perez, de Valor Econômico, conta que o trabalho na pista éestressante, tantas são as barreiras, como a dos seguranças das escolas.

Alex Slaib, de A Tribuna de Niterói, prefere fotografar da torre da Praçada Apoteose: lá embaixo, na pista, revela, rola muita pancadaria.

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Jornal da ABI

6 Março de 2006

Os jornalistas de revistas e sites decelebridades têm muito trabalhodurante os desfiles na Marquês deSapucaí. Os astros multiplicam-seao longo das alas e nos camarotese frisas que circundam a Avenida.

Para dar conta da cobertura de tudo o que en-volve os famosos, os repórteres se dividem portodos os setores do Sambódromo.

Alguns desses jornalistas, no entanto, ain-da conseguem encontrar tempo para se diver-tir e ajudar em outras funções além do queestá previamente pautado. É o caso de FláviaCirino, repórter da revista Conta Mais e dosite O Fuxico, casada e mãe de um meninode um ano. Além de cobrir toda a festa naAvenida, no sábado à noite ela desfilou noSalgueiro; no final, correu para a sala de im-prensa para redigir um release sobre a apre-sentação da escola e distribuí-lo aos veícu-los, sem descuidar do trabalho: — É uma cor-reria, mas muito prazerosa. Assisto um pou-co aos desfiles, vejo quem são os famosos, ob-servo-os e corro para o computador, para darnotícia em tempo real. Faço Carnaval a vidainteira e acabei unindo o útil ao agradável.

Ana Braga, repórter da revista Quem Acon-tece, está em seu quarto ano de Sapucaí. Já foipautada exclusivamente para cobrir o queacontecia nos camarotes, mas hoje prefere apista, principalmente a área da concentração:— Nesses dias é muito fácil encontrar os ar-tistas, principalmente porque eles estão sem-pre cercados pela imprensa, são alvos fáceis.Para estar aqui nessa correria, porém, é pre-ciso gostar de Carnaval e do trabalho, porquese não, no fim da noite, você está esgotado.

No domingo de Carnaval, antes de asegunda escola entrar na Avenida, Ana já ti-nha entrevistado Carol Castro, Luana Piovani,Adriane Galisteu, Luciana Gimenez, Angéli-ca, Luciano Huck e Sandra de Sá. Isso tudonum dia fraco, segundo ela: — A segunda-feiraé sempre o melhor dia, pois é quando aconte-cem os desfiles da Mangueira, da Mocidadee de outras escolas preferidas do público. Nossarevista tem equipes espalhadas nos camaro-tes e na concentração. Depois, juntamos todo

Atrás das celebridades

“O grandetermômetroé o Setor 1:a pessoa quelevanta aarquibancadaé quase sempreaquela maisprocurada pelasrevistas decelebridades.”

Com 23 anos de profissão — 20 deles de-dicados à cobertura da Sapucaí —, CarlosMagno, da revista Rio, Samba e Carnaval, dizque o trabalho é sempre diferente: — É umafesta vibrante, todos estão alegres, o queoferece um festival de imagens. Às vezes, ficoaté perdido com tanta riqueza. Podemos sem-pre testar um olhar novo, que vai sendoamadurecido ao longo dos anos.

Diz Carlos que a cobertura não tem mono-tonia — “pode ser um trabalho cansativo, masé sempre excitante”. Na torre ou na Avenida,ele diz que é possível fazer boas fotos. E avisa:— A dica é aproveitar ao máximo essa diver-sidade de imagens e deixar a imaginação fluir.

Único repórter-fotográfico entrevistadona Passarela, Onofre Veras cobre os desfilesde Carnaval há vários anos e desta vez traba-lhou para A Voz de Portugal, jornal que circulano Rio e na Europa. Analisando sua experiên-cia na Sapucaí, ele diz: — A cada ano aumen-ta o número de profissionais, mas a veloci-dade da internet ajudou. É preciso se moder-nizar, acompanhar a tecnologia, porque fa-zemos a foto e precisamos transmiti-la parao mundo. Hoje, em menos de dez minutosqualquer país vê o que está acontecendo.

Sobre os atropelos na Avenida, comenta:— É um pisa-pisa, um dando cotovelada nooutro, porque todos querem ter o primeiro pla-no. Mas depois todo mundo se cumprimen-ta, pede desculpas, porque todos se conheceme sabem que o trabalho é isso mesmo.

o material e sai a edição de Carnaval.Jornalista há quase 30 anos, Márcia Penna

Firme foi freelancer da Quem nos dias de Car-naval. Ela diz que a cobertura de celebrida-des tem muitos obstáculos, pois ao mesmotempo em que elas não querem falar, sentem-se também envaidecidas por serem procura-das: — No entanto, é sempre um encontromuito rápido, em que você tem muito poucotempo para explorar o que essas pessoas têma dizer. E a celebridade está muito vinculadaao espetáculo em si, seja o Carnaval, ou umshow etc. É uma cobertura muito pontual,porque não fazemos uma história da estrela,o gancho é que ela é uma celebridade naquelemomento.

Márcia diz que é um trabalho difícil ecansativo porque todos os repórteres cobremas pessoas de destaque. Assim, para obteralgum ponto diferencial na cobertura, é pre-ciso observar a celebridade: — Todos entre-vistam ao mesmo tempo. Fiquei fixada naconcentração, porque aqui é o único momentoem que você consegue falar com alguém commais tempo. Não dá para acompanhar cadaum a noite toda.

Para Márcia, o Carnaval é uma cachaça: —Parece que não sai da sua veia. Por mais quedigamos estar cansados, sempre voltamos esomos contagiados pelo clima de euforia.Quem faz Carnaval se empolga sempre, ain-da que o ritmo da cobertura seja sempre omesmo. É muita ralação, são muitas horas detrabalho, e quem cobre reclama, mas gosta.É o que permite que fiquemos aqui até o diaraiar. Do contrário, a gente pira.

Clarissa Monteagudo, repórter da IstoÉGente, diz que o trabalho em sua editoria ébasicamente prestar atenção em pessoas quedespertem o interesse do público, e não ne-cessariamente que sejam de TV: — É precisoprestar atenção em atletas, grandes ídolos,rainhas de bateria... O grande termômetro éo Setor 1: a pessoa que levanta a arquibanca-da é quase sempre aquela mais procurada pelasrevistas de celebridades.

Diz Clarissa que o diferencial desse tipo decobertura é perceber o inusitado do compor-

Às vezes o fotógrafo fica perdido diante de tanta riqueza de imagens, confessa Carlos Magno (à esq.), da revista Rio, Samba & Carnaval, Flávia Cirino (ao centro),repórter da revista Conta Mais e do site O Fuxico, cobriu o desfile e saiu no Salgueiro. Ana Braga, da revista Quem Acontece, prefere cobrir a pista.

Na cobertura de IstoÉ Gente, Clarissa Monteagudo buscava ídolos em geral,e não apenas da TV, e procurava frases inteligentes ou espirituosas.

Clarissa Monteagudo

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Jornal da ABI

Março de 2006

Omaior espetáculo da Terra atrai nãoapenas milhares de pessoas de todoo mundo, mas também um gran-de número de jornalistas, para co-brir o que acontece na Avenida —que tem 700 metros de extensão.

De acordo com informações da Riotur, siglafamosa da Empresa de Turismo do Municí-pio do Rio de Janeiro S.A., são mais de 2.300jornalistas credenciados: cerca de 1.300 de TV,324 de jornais, 265 de emissoras de rádio, 146de revistas, 49 de sites e 27 de associações e sin-dicatos — isto sem contar as equipes escala-das para a cobertura do Sábado das Campeãs.Dos profissionais credenciados, cerca de 200são de mais de duas dezenas de países de vá-rios continentes: Estados Unidos, Inglaterra,Alemanha, França, Argentina, Chile, Japão,China, Israel, Coréia do Sul, México, Canadá,

Uruguai, Suécia, Eslovênia, Rússia,Portugal, Espanha, Colômbia, Itália,Venezuela, Paraguai e Finlândia.

Para atender ao grande contin-gente de jornalistas, a Riotur organi-za uma ampla sala de imprensa, on-de veículos brasileiros e agências in-ternacionais podem acondicionarseus equipamentos para a produçãoe edição de conteúdo em tempo real.Para os profissionais cuja empresanão tem base na sala, são disponibi-lizados computadores com conexãoem banda larga e todos os recursos pa-ra a transmissão de dados. Agora em2006, foram cinco computadores.

De acordo com informações desua assessoria, a Rede Globo de Tele-visão, única emissora a ter o direito

de transmitir as imagens do Grupo Especial,preparou uma verdadeira operação de guer-ra para os dias 26 e 27. Na área da armação,montou um estúdio, batizado de Esquina dosamba, para transmissões ao vivo ancoradas

por Márcio Gomes.Do lado de fora, deze-nas de repórteres seposicionavam empontos estratégicospara fazer flashes ematérias da Avenida.Ao todo, 700 profis-sionais — o dobro doescalado para os des-files de São Paulo —revezavam-se na co-bertura. O número deequipamentos usa-dos também impres-siona: foram instala-das 22 câmeras aolongo da Marquês deSapucaí, além dascâmeras das equipesdo Jornalismo e doGlobocop, helicópte-ro da emissora.

Jornalista há 35anos, Jorge Perlingei-ro, apresentador de

TV, Diretor Social e Artístico da Liga Indepen-dente das Escolas de Samba e locutor oficialda apuração dos votos, explica como é o seutrabalho nos bastidores do sambódromo: —Além de organizar a entrada das escolas, cui-do dos informativos que serão lidos para os es-pectadores. Estou na Sapucaí há 22 anos, des-de a sua fundação, mas cubro Carnaval há 33.Tenho experiência nos dois lados, da impren-sa e do samba. Fui repórter e também Diretorda Unidos de Vila Isabel. Aqui no Sambódro-mo, lutamos para que o espetáculo transcorranum clima de amenidades, porque é sempreuma tensão muito grande e a adrenalina sobe.

Aroldo Machado, Diretor de Jornalismoda Rede TV! no Rio e coordenador da cober-tura na Sapucaí, diz que a emissora tambémescalou um grande número de profissionaispara os desfiles de domingo e segunda-feira:

— Há cerca de 50 profissionais da emisso-ra, entre jornalistas, técnicos e operadores. Éum trabalho intenso, que só acaba com o des-file da última escola.

Da Rádio Carioca, o locutor-apresentadorCésar Santos, coordenador das duas equipesda emissora que fizeram transmissões ao vivodiretamente do Sambódromo, diz que mais40 repórteres foram espalhados por todo o Es-tado do Rio para cobrir, simultaneamente, oscarnavais de rua e dos clubes:

— No desfile, procuramos detalhar comofoi desenvolvido cada enredo, falando sobrecada carro, cada ala, cada fantasia. O desfileda Sapucaí deixou de ser só cultura popular,está entre esta e a erudita, mas principalmentetornou-se uma cultura de massa. Há todo umtrabalho comercial e os veículos devem acom-panhar essa transformação. Não é só falar dasmulheres lindas, mas de todo o processo en-volvido no que é visto. É um espetáculo deabrangência universal e nós nos esforçamospara acompanhar o desenvolvimento cultu-ral dos desfiles. Fico fascinado com seu con-teúdo. Quanto à localização das cabines derádio, acho adequada, porque damos as in-formações sobre as escolas antes de elas en-trarem na Avenida ou serem vistas pela TV.

tamento do artista: — É preci-so saber tirar a frase divertida,trazer o espírito daquela pessoapara a cobertura. Muita genteacha um trabalho fútil, mas, sevocê tiver um olho bacana con-segue transformar aquilo emalgo interessante. É possívelconseguir uma boa frase sobrepolítica ou um comentáriobem-humorado que é tambémuma crítica ao comportamen-to das pessoas aqui. O ZecaPagodinho e a Suzana Vieira,por exemplo, são ótimos fra-sistas. Basta dar um tema queeles saem com uma boa frase,rendem matéria. A cada vez quea Suzana abre a boca sai umafrase divertida, característicado espírito dela.

Clarissa considera muitofácil encontrar artistas na Sapucaí, a não seros que estão passando por alguma situaçãoque não querem comentar. Depois de cobrirmuito camarote, este ano ela estreou na con-centração: — É muito mais gostoso, porquenos camarotes você tem o comportamentode uma festa à parte. Aqui, o artista está emfesta junto com o povo. Quando entrevisteia Luana Piovani, no domingo, ela estava nomeio da Presidente Vargas, sendo ovaciona-da pelo público e se aquecendo, fazendo vá-rias poses divertidas que renderam muitas fo-tos. São situações de muita espontaneidade.O bom repórter é aquele que tem um olhopara o que é diferente.

Com experiência em diversos segmentosdo jornalismo, Clarissa diz não ter preconcei-to contra nenhuma editoria, pois acredita queem todas se pode fazer um trabalho inteligen-te, “desde que não se persiga o óbvio”: — Existeuma relação de amor e ódio entre os artistase as revistas de celebridades, porque, ao mes-mo tempo que invadem a privacidade deles,elas também levantam a carreira de muitos.Não podemos mais ignorar a cultura de cele-bridades, ela existe. Agora a questão é discu-tir como ela será feita com qualidade.

Com quase 30 anos de ofício, Márcia PennaFirme fala da dificuldade de entrevistar

celebridades, que não querem falar masadoram quando são procuradas.

Mais de 2.300 credenciados

Os jornalistas que cobrem o Carnaval falam com um saber de experiência feito: eles próprios têm um bloco, oImprensa que eu gamo, um dos mais tradicionais do Rio, onde é crescente o fenômeno da criação de blocos.

Responsável pela leitura das notas dos desfiles,Jorge Perlingeiro tem experiência como jornalista

e como diretor de escola, a Vila Isabel.

César Santos, da Rádio Carioca, narra odesfile e coordena 40 repórteres

espalhados por todo o Estado.

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Jornal da ABI

8 Março de 2006

MEMÓRIA ����� Por Perilo Galvão Peixoto

Corria o ano de 1950 quando tivea honra de receber em meu consul-tório Graciliano Ramos, que ali foraa instância de seu cunhado, o colegae amigo dileto Luiz Augusto deMedeiros.

Frente a frente com insigne perso-nalidade, vieram-me de pronto à me-mória alguns antecedentes de suavida de que fui testemunha ocasio-nal: a prisão na capital alagoana, atransferência por via férrea paraRecife e, logo depois, a passagem porMaceió, a caminho do Rio de Janei-ro. De minha casa no Aterro doJaraguá contemplava-se o sinistroManaus, fundeado ao largo, com oporão entupido de presos políticos,revivescência hodierna dos navios ne-greiros de triste memória.

Anos mais tarde, avistava sempreo escritor, nos fundos da Livraria JoséOlympio, aonde o interesse me con-duzia, vez por outra, à cata de novi-dades livrescas expostas nos balcõese vitrines. Confesso, envergonhado,que até então, embora lhe conhecessede sobejo o mérito literário, jamaislera integralmente obra sua, excetoVidas Secas, adquirida numa livrariade Petrópolis.

Eis que se ensejava a oportunida-de ansiada: apertar-lhe a mão. E –– ócoincidência –– por causa damão é que ali se afrontava co-migo Graciliano Ramos. Foi di-zendo sem rebuços:

“Estou incapacitado para oofício de escrever. Malditas ver-rugas me impedem de exercê-lo.Não sei redigir à máquina”.

Tremi de medo. Que respon-sabilidade! Restituir à sua fai-na, para gáudio dos leitores, oromancista famoso!

O diagnóstico viera correto.À prescrição seguiu-se a conver-sa amena, como era de esperarda fidalguia do escritor, seuapanágio. Ao homem perspicaznão escapou a visão de peque-na carreta gaúcha em cima deminha mesa de trabalho. Afigu-rava-se-lhe destoante o nordes-tino não exibir um carro-de-boistípico da sua região. Expliquei-lhe que a carreta me fora presen-teada por gentil cliente.

Gracilianona intimidade

Autor deVidas Secasdizia quenada prestaem suasobras

Explorando a cordialidade, arris-quei uma pergunta. Onde adquirirum exemplar de Angústia, que não en-contrava na José Olympio. Veio dechofre a resposta generosa. Pessoal-mente me traria o livro.

Em verdade não demorou a cum-prir o trato. Na consulta subseqüenteofertou-me a obra tão em evidêncianaqueles dias, com a dedicatóriacircunspecta: “Ao Doutor Perilo Pei-xoto, com amizade e agradecimen-tos muito sinceros. Graciliano Ra-mos. Rio, 1950”.

Passaram-se poucos anos. Devo-rei tudo que de Graciliano se edita-ra. Reli guloso Vidas Secas, rude epo-péia nordestina constituída de umaseqüência de contos, à guisa de “su-íte” musical. Certa feita inquiri-lhe

A republicação deste artigo dePerilo Galvão Peixoto torna-seoportuna nesta edição porque a 20de março faz 53 anos que morreuo grande escritor, que foi jornalistae trabalhou como revisor no Correioda Manhã no tempo de PauloBittencourt. Enviado por seu filhoFernando Moura Peixoto, sócio da ABIque cultiva a sua memória, o textoreproduz a exposição que PeriloGalvão Peixoto fez na SociedadeBrasileira de Médicos Escritores-Sobrames em 1978, em sessãoque celebrou Graciliano no 25°aniversário de sua morte.

Perilo Galvão Peixoto foi médico,jornalista, crítico musical, escritor eornitólogo. Nascido em 8 denovembro de 1913 em Salvador,Bahia, morreu em 16 de março de2002 no Rio, com 88 anos. Ele foisócio da ABI durante 52 anos. Eramembro titular da Sobrames emembro fundador da AcademiaBrasileira de Médicos Escritores. Perilopublicou mais de 50 trabalhos sobretemas médicos. Por iniciativa daDeputada Heloneida Studart, sóciada ABI, a Assembléia Legislativaconcedeu-lhe postumamente o títulode Cidadão Benemérito do Estado doRio de Janeiro.

à queima-roupa qual a obra preferi-da, antecipando meu voto em favorde Vidas Secas.

A modéstia característica do escri-tor fê-lo revidar sem titubeio:

“Para mim, nada presta”.Que adiantava dizer-lhe da perfei-

ção de tudo que lhe caía da pena? Oestilo depurado, enxuto, levava-o, in-satisfeito, a refundir sempre as no-vas edições, escoimando aqui, podan-do ali, amputando acolá. Fascinava-lhe o corte. A tesoura impiedosa vi-sava à concisão da linguagem. Um diadiscreteou:

“Desta vez o livro acaba saindo embranco”.

Tornei a ver de mais perto o roman-cista combalido pela doença, marca-do de morte. Visitei-o algumas vezesem seu apartamento no Leblon. Van-glorio-me de haver contribuído paraminorar-lhe o sofrimento, prescre-vendo-lhe opiáceos, já que as doresatrozes esgotavam a capacidade dereceituário dos médicos assistentes.

Em ocasião que me pareceu opor-tuna, pedi a Heloísa conseguisse domarido, num momento de acalmia,a autenticação do meu exemplar deVidas Secas. Dias depois meus olhosdeparavam a dedicatória rogada. Amesma de Angústia. A cerimônia desempre, pois Gracialiano não era ho-mem de conceder, sem mais aquela,intimidade a ninguém. Só que, des-sa vez, o nome do homenageado veiocompleto: Doutor Perilo Galvão Pei-xoto. Nunca mais o avistei em vida.Mas levei-lhe o adeus saudoso novelório da Câmara Municipal.

Deve-se a imperativo de contribui-ção histórica o que aqui se narra. Cui-dei meu dever o depoimento pessoalsobre a grande figura humana que foiGraciliano Ramos. O maior escritorbrasileiro de sua época. Quando se co-memoram os 40 anos de Vidas Secase os 25 de morte do romancista, é maisdo que oportuna a homenagem.

Graciliano numa foto encontrada nos arquivos doDops, que o fichou por militância no PCB. Acima,

retrato com dedicatória feito por Portinari.

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Jornal da ABI

Março de 2006

DEPOIMENTO-1 ����� Entrevista a José Reinaldo Marques

Precisamos ter cuidado.Há muito araponga por aí.Guardião do estilo, da ética e da notícia, Garcia faz uma advertência:os arapongas ganham dinheiro vendendo matéria para jornal.

rimeiro editor-chefe da sucursal carioca da

revista Veja, em 1968, Luiz Garcia, hoje um

dos principais colunistas da página de

Opinião do Globo, fala, entre outros

assuntos, sobre o cuidado que os jornalistas devem

ter com a apuração de denúncias, a profissionalização

da imprensa nos últimos 40 anos e o prazer de dar

palestras e conselhos a estudantes de Jornalismo —

a começar pelo consumo de boa literatura.

Com 52 de anos de profissão, Luiz Garcia começou

a carreira numa época em que os

jornais eram verdadeiros guetos

de partidos políticos e pouco

profissionalizados. Estreou

como estagiário na Tribuna da

Imprensa, de Carlos Lacerda.

Mais tarde, após rápida

passagem por O Globo como

copidesque, dirigiu a sucursal carioca do

Estadão – “por intermediação do Odylo Costa, filho,

fui convidado pelo Prudente de Moraes, neto; fiquei

lá cinco anos” – e participou do lançamento da Veja,

em 1968. Chefiou a Redação da revista no Rio,

comandou o escritório da Abril em Nova York,

voltou ao Brasil e se manteve como um dos editores-

chefes da revista por quatro anos, até se transferir

para Visão. Quando esta foi vendida, em 1974, voltou

para O Globo, onde está até hoje.

Na opinião de Luiz Garcia, a boa

literatura ajuda o jornalista a usar as

palavras e fazer do texto algo que realmente fascine o

leitor. Até porque, na sua opinião, “escrever é sempre

um ato de presunção” e todo emissor de informações

deve estar muito atento à sua capacidade de

comunicação. A seguir, suas vivências e suas opiniões.

P

Luiz GarciaLuiz Garcia

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Jornal da ABI

10 Março de 2006

Jornal da ABI — Qual é a sua formaçãoacadêmica?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Completei o que na épo-ca se chamava de curso científico, masjá então trabalhava em jornal. Naque-le tempo não havia o registro profissio-nal, que veio muito tempo depois. Euentão completei o secundário comofoca na Tribuna da Imprensa, onde traba-lhei muitos anos. Depois conseguiuma bolsa na Universidade de Colum-bia (EUA), para um curso que é o equi-valente ao mestrado; como não tinhaa graduação formal, eu o completei co-mo uma espécie de estudante especial.

Jornal da ABI — Quando e como ingres-sou no jornalismo?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Comecei pelas relaçõesde amizade da minha família com o jor-nalista Carlos Lacerda, dono da Tribu-na. Fomos seus vizinhos em Copacaba-na. Meu pai era pediatra e tratava dosfilhos dele. Então, quando decidi come-çar a trabalhar, pedi-lhe uma oportu-nidade. Comecei em fins de 1953 e fuifoca na Reportagem cerca de um ano emeio, mas naquele tempo os estágiosnos jornais eram inteiramente amado-rísticos e eu então, como filho de ami-go, não tinha a menor remuneração.

Jornal da ABI — Era um procedimentocomum?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — No início da década de1950, os jornais eram muito mais veí-culos de projetos políticos do que deoutra coisa e funcionavam com pou-cas pessoas. É difícil para o jornalista eo leitor de hoje imaginar. Uma ediçãocompleta da Tribuna da Imprensa saíacom no máximo 18 páginas.

Jornal da ABI — Mas um estreante con-seguia aprender as técnicas do jorna-lismo?LLLLLuiz Garcia uiz Garcia uiz Garcia uiz Garcia uiz Garcia ————— Apesar da improvisação,naquele período já começava a se desen-volver a técnica de lide, que foi trazidaao Brasil por dois jornalistas brasileiros:o Lacerda, na Tribuna da Imprensa, ondequase não era notada por cau-sa da linha editorial extrema-mente política, e o Pompeu deSouza, no Diário Carioca.

Jornal da ABI — E quando aca-bou o estágio?LLLLLuiz Garciauiz Garciauiz Garciauiz Garciauiz Garcia — — — — — Fui contratadopara a Reportagem Geral e, aos25 anos, fui exercer a função de chefede Redação. Não tinha experiência paraexercer a função, mas essa bagunça eraentão uma característica dos jornais,que não eram empresarialmente orga-nizados. Mesmo assim, circulavam noRio cerca de 20 jornais diários. Fecha-va um, abria outro; e poucos foramaqueles de que a gente pode se orgu-lhar de terem dado uma grande contri-buição à imprensa.

Jornal da ABI — Quais eram estes?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Um era o Correio daManhã, ligado à UDN, pela sua tradi-

ção e o estilo literário das pessoas quetrabalhavam lá, como o Antônio Calla-do e o Otto Maria Carpeaux. Possoapontar também o Diário Carioca, pelainovação, a agilidade e o bom humor.

Jornal da ABI — Quandoos donos de jornais per-ceberam que era preci-so reformular, para nãoperder credibilidade eleitores?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Acho queno fim dos anos 50, com a reforma doJornal do Brasil, que iria se transformarno melhor de todos eles. Gradativa-mente, mudaram também a Tribuna ea Última Hora. O resto era estilo “ba-nho de sangue”.

Jornal da ABI — Como foi sua passagempela Veja?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Era muito amigo doOdylo Costa, filho, diretor da EditoraAbril no Rio, e ele me chamou para che-fiar a Redação da revista, que ia serlançada. Isso foi em 1968. Um ano de-pois, fui ser correspondente da Veja emNova York. Por isso até não sou teste-munha dos anos mais difíceis que a im-prensa passou sob a ditadura militar.

Jornal da ABI — Em que função fez suaestréia no Globo, em 74?LLLLLuiz Garciauiz Garciauiz Garciauiz Garciauiz Garcia — — — — — Cheguei sem ter umafunção definida, mas comecei comosubeditor-chefe, que era um cargo quepodia servir para tudo. Naquela épocaas Redações ainda não eram estrutu-radas por editorias. Então, um editor ouchefe de reportagem acumulava váriasfunções. No Globo, que era um jornalgrande, havia um chefe de reportagem,Alves Pinheiro, que mandava no jornalinteiro. Somente mais tarde, talvez porinfluência da imprensa norte-america-na e européia, é que os jornais passarama funcionar com a segmentação daseditorias, o que coincide também como surgimento da Veja, que era subdivi-dida por áreas de especialidades.

Jornal da ABI — Qual foi o impacto dessamudança na imprensa brasileira?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Começava ali a despe-dida do caráter amadorístico que elacarregava desde o início. Quando co-mecei, a grande maioria dos periódicosbrasileiros era a expressão das ambiçõesdos seus donos. Falar no Estado de S.Paulo era se referir ao jornal dos Mes-quita; no Globo, o veículo do RobertoMarinho; Última Hora, Samuel Wainer;e assim por diante. Com o desenvolvi-mento da imprensa em relação às suascomunidades, à indústria e à exigên-cia dos leitores, tudo ficou mais pro-

fissional. O empreendedor descobriuque ganhava mais dinheiro fazendo doseu jornal um instrumento a serviço dosinteresses dos leitores — que passariama se multiplicar e a contribuir com o au-

mento de anunciantes — do que sim-plesmente um instrumento de umavontade política, que funcionava comoauxiliar de uma atividade empresarial.

Jornal da ABI — Esta foi a grande des-coberta do empresariado da mídia noinício dos anos 60?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Exatamente. De repen-te se descobriu que o jornal podia seruma grande empresa economicamen-te bem-organizada e que, quanto maiscredibilidade tivesse juntamente aoleitor, mais iria faturar. Essa mudançade comportamento das empresasjornalísticas coincide com a conscien-tização da população em relação aosdireitos do consumidor e os jornaisperceberam que deveriam cumprir opapel de defensores desses direitos. Foiuma revolução na imprensa, porque di-minuiu brutalmente o número de jor-nais. Os picaretas foram todos jogadosno escaninho e os que buscavam acredibilidade começaram a ter vanta-gem, porque passaram a prestar umserviço social mais adequado. Essesforam os benefícios quando os empre-sários começaram a adquirir a consci-ência de que deveriam ser mais associ-ados ao bem-estar das comunidades.

Jornal da ABI — Esta linha de pensamen-to se mantém?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — O Globo pratica essesprincípios há muitos anos e é próspe-ro. Já o Jornal do Brasil, que deixou deagir dessa maneira, foi para o buraco

com uma rapidez ex-traordinária.

Jornal da ABI — Recen-temente, o senhor fezum alerta sobre astentativas de manipu-lação dos meios de co-municação. Por quê?

LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — A tentativa de chanta-gem é muito fácil de acontecer. Uma pes-soa chega e oferece dinheiro, em trocade uma vantagem qualquer. Mas ficamais complicado se aproximar do jor-nalista e ofertar uma notícia exclusiva,porque nesse caso o repórter, ou ocolunista, não se sente ofendido nos seusescrúpulos e acaba cedendo em funçãode contar com uma informação privi-legiada. Isto acontece sem que o profis-sional perceba que aquela nota exclusi-va atende aos interesses espúrios do gru-po A contra os do grupo B — e esse nãoé o papel do jornalista. Precisamos ter

uma vigilância extrema para saber quan-do aceitar ou rejeitar uma informação,especialmente hoje, quando há tantoaraponga por aí ganhando dinheiro ven-dendo matéria para jornal.

Jornal da ABI — OGlobo adotou algummecanismo para sedefender desse tipode assédio?LLLLLuiz Garciauiz Garciauiz Garciauiz Garciauiz Garcia — — — — — De unstempos para cá, ins-

tituímos o seguinte: qualquer informa-ção sensacional, espetacular, que che-gue de graça à Redação deve ser enca-rada como ponto de partida de umaapuração e não como matéria pronta.É claro que, para a imprensa de modogeral, às vezes a notícia é tão saborosaque escapa. Alguns editores são maisrigorosos que outros e há os que achamque se deve publicar tudo, deixando ojulgamento por conta do leitor. Eu souda escola do maior rigor, pois entendoque qualquer denúncia é o ponto de par-tida de uma apuração e incorre em gra-ve erro o jornalista que acha que resolveesse problema ouvindo os dois lados.

Jornal da ABI — É preciso ir mais além?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Com certeza, porqueescutar os dois lados é necessário, masnesse caso é a forma mais preguiçosado mundo de fazer jornalismo. O re-pórter tem que ouvir as duas fontes,mas deverá apurar muito bem quemestá com a verdade.

Jornal da ABI — Essa seria então a me-lhor linha de ação para se fazer jorna-lismo investigativo sem riscos e medode ameaças?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Devemos resistir a inti-midações até por questões de sobrevi-vência, mas é preciso também evitar astentativas de preencher a publicaçãocom acusações. O dever da imprensa édefender o interesse público quandoeste está em jogo e o fato é comprova-do. Pois notícia é: alguém disse, nósfomos checar e é verdade. O direito àprivacidade também deve ser respeita-do. No Brasil, os políticos raramenteenvolvem os parentes na campanhaeleitoral, ao contrário dos Estados Uni-dos. Lá, se o repórter descobre que o po-lítico que posava de chefe de famíliaexemplar bate na mulher e chuta o ca-chorro, isso é notícia legítima, porqueele transformou a vida particular emdomínio público.

Jornal da ABI — O senhor se lembra dealgum episódio ocorrido no Brasil?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Todo mundo respeitou,com uma única exceção, o fato de queo Fernando Henrique Cardoso tem umfilho com uma jornalista. Ninguémdava a notícia porque a moral pessoaldo ex-Presidente nunca fez parte de seucapital para conquistar votos. Agora,quando o Itamar Franco apareceu deporre num desfile de escola de samba,que é público, a coisa foi diferente.

“O empreendedor descobriu que ganhava maisdinheiro fazendo do seu jornal um instrumentoa serviço dos interesses dos leitores.”

“Qualquer denúncia é o ponto de partidade uma apuração e incorre em grave erroo jornalista que acha que resolve esseproblema ouvindo os dois lados.”

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Jornal da ABI

Março de 2006

Jornal da ABI — Quanto à questão dapreservação da fonte, a repórter do NewYork Times que foi presa agiu certo?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Ela está absolutamentecorreta e é muito curioso que isso te-nha acontecido nos EUA, onde a liber-dade de imprensa, de maneira geral,sempre foi respeitada. Esse caso mos-trou que eles têm uma lei muito retró-grada e só teve grande repercussão por-que a Judith Miller é famosa. Mas todoano vários jornalistas vão para a cadeiapor decisão judicial.

Jornal da ABI — O que o senhor acha dadecisão do Governo Bush de vetar umprojeto de lei que protege o jornalistada obrigação de revelar as suas fontes?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Está perfeitamente deacordo com a personalidade do Presi-dente dos EUA, que é autoritário e tentacontrolar os meios de comunicação e aopinião pública. É um governo de di-reita no sentido mais clássico e antigoque eu conheço.

Jornal da ABI — Ser articu-lista de um grande jornalfazia parte dos seus pla-nos?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Não, porqueeu morro de medo da faltade assunto. Há muito eufaço a crítica diária do jornal, mas jáestou pensando em deixar uma dasduas coisas.

Jornal da ABI — Por quê?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Porque ando meio can-sado. Mas fico na dúvida, porque o queme dá mais prazer é fazer o artigo, masé na crítica do jornal que tenho maisleitores.

Jornal da ABI — Suas críticas são bem-recebidas pelos colegas de redação?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Sim, porque tambémfaço elogios e, se erro, peço desculpas.Não sei de casos de irritação. Em geral,quem não gosta me fala e briga comi-go e, no fim, fazemos as pazes.

Jornal da ABI — Numa entrevista, o se-nhor disse que “escrever é sempre umato de presunção”. Por quê?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Porque você presumeuma capacidade de comunicação, queé uma coisa extremamente complica-da. Às vezes, entendemos o significa-do de algumas palavras quando as pro-nunciamos. Quando as escutamos,porém, elas podem ser interpretadas deoutra maneira. O valor de um texto estáno receptor e não no emissor. Então, aidéia de escrever um artigo assinado éuma demonstração de presunção do

autor, que acha que pode ser correta-mente entendido por todo mundo.

Jornal da ABI — O senhor sempre foi umbom redator?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Sempre fui muito tími-do e, nos primeiros anos da minha for-mação profissional, era uma porcariade repórter. Então, eu me refugiava notexto para compensar minhas defici-ências na apuração.

Jornal da ABI — Ficou mais fácil escre-ver com o computador e a fotocom-posição?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — As ferramentas aco-pladas à máquina, como dicionário esites de pesquisa, ajudam o jornalistaa escrever. Houve também uma mu-dança no estilo das matérias.

Jornal da ABI — Em que sentido?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Antigamente, como apaginação não era uma arte exata, os

dados mais importantes não podiamficar no pé da matéria, porque na ofi-cina, se os textos estivessem estourandona página, o paginador os cortava e acompreensão da notícia podia ficarcomprometida. Isso não existe mais.Hoje a tecnologia permite que vocêdeixe para o fim o que o texto tem demais surpreendente.

Jornal da ABI — E como ficam o lide eo sublide?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Hoje defino o lide comoaquilo que faz o leitor continuar len-do. Há poucos anos, um jornal norte-americano fez uma experiência: duran-te 15 dias publicou uma página con-tando uma história escrita em quatro

estilos di-ferentes.Somente opr imeirotexto foiconstruídono da pirâ-mide inver-tida, comlide e subli-

de. Quando os leitores foram consul-tados, o formato tradicional ficou emterceiro lugar na sua preferência.

Jornal da ABI — Qual é a sua opiniãosobre o ensino do Jornalismo nas uni-versidades brasileiras?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Imaginar que os jovensrepórteres estão sendo bem treinadosnas escolas de Jornalismo esconde umaarmadilha, pois isso não é verdade. Aquino Globo, abrimos a cada seis meses umconcurso para estagiários e entre 350,apenas 15 conseguem ser classificados

para o curso de traineeque criamos. Isso provaque o ensino do Jorna-lismo não é de alta qua-lidade. Inclusive, sofre-mos muito com a faltade pessoas de outrasprofissões na Redação.

Jornal da ABI — Como assim?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Gente formada em His-tória, Ciência Política e Literatura, porexemplo. É claro que 80% do corpo deuma redação devem ser montados comprofissionais de formação jornalísticabásica, mas precisamos de ajuda nessadifícil tarefa de administrar, escolhere editar informações muito variadas.

Jornal da ABI — O senhor é contra a exi-gência do diploma de Jornalismo?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Sim, mas sou a favorda exigência de um diploma universi-tário e de maior competitividade en-tre as faculdades de Jornalismo, dan-do-lhes a liberdade de ter currículosdiferenciados.

Jornal da ABI — Por quê?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Porque os veículos sãoobrigados a contratar pessoal com for-

“Bush é autoritário e tenta controlar osmeios de comunicação e a opinião pública.É um governo de direita no sentido maisclássico e antigo que eu conheço.”

“Nos primeiros anos da minha formaçãoprofissional, era uma porcaria de repórter.Então, eu me refugiava no texto paracompensar minhas deficiências na apuração.”

“O ensino do Jornalismo não é dealta qualidade. Inclusive, sofremosmuito com a falta de pessoas deoutras profissões na Redação.”

mação uniforme para uma profissãoque lida com uma grande variedade deconhecimento. O modelo tradicionaldiminui a capacidade de se prepararprofissionais que já viriam da univer-sidade com um certo grau de especia-lização, ou seja, em História para aeditoria de Política, ou em CiênciaNatural para atuar no noticiário cien-tífico.

Jornal da ABI — Em 1992 foi lançado oManual de Redação e Estilo de O Glo-bo, que o senhor ajudou a organizar. Eleé bem-utilizado no jornal?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — Creio que sim. Ele foicriado para ajudar o jornalista a desen-volver seu próprio estilo e não parapadronizar o estilo do jornal. No en-tanto, como numa grande Redação háum alto índice de rotatividade de pro-fissionais, é difícil saber o grau de im-portância dado ao manual. Muita gentegosta e também sou procurado poradvogados que recorrem ao manualpara criar seus textos.

Jornal da ABI — Em que estágio se en-contra o jornalismo brasileiro?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — No sentido da ética,melhorou, mas ainda apresenta algunsdefeitos. Os veículos ainda não sabemadministrar bem essa questão, não con-seguiram superar os preconceitos quesão da própria sociedade. Ao invés dereagir a eles, acabam absorvendo-os.

Jornal da ABI — Na sua opinião, as CPIsdos Correios e do mensalão têm sidonoticiadas com a devida isenção?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — A cobertura é boa, mas,como já disse, devido ao excesso dedenúncias prontas que chegam às Re-

dações, principalmente por causa deum mercado que se tornou altamentecompetitivo, nem sempre há tempopara administrar corretamente o flu-xo de informações. As revistas sema-nais, por exemplo, ao mesmo tempo emque são autoras de grandes revelações,cometem muitas gafes, porque publi-cam quase integralmente as denúnci-as que recebem.

Jornal da ABI — De que maneira essasgafes podem ser evitadas?LLLLLuiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia —uiz Garcia — É muito simples: é sótratar as denúncias como pautas e nãocomo matérias prontas. Esse mecanis-mo de tirar do fato a informação etransformá-la em notícia nós conhece-mos e executamos há muitos anos, coma melhor das intenções, mas ainda deforma deficiente. A sorte é que aindanão surgiu coisa melhor.

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14 Março de 2006

����� Entrevista a Rodrigo CaixetaDEPOIMENTO-2

FERNANDO BARBOSA LIMA

JORNALISMOCOM CORAGEMÉ TER OPINIÃO

Criador de váriosprogramas desucesso na históriada televisãobrasileira, Fernandorelembra o início desua trajetória noveículo, compara otelejornalismo atualcom o que era feitoantigamente e falasobre a influênciarecebida do pai,Barbosa LimaSobrinho.

Jornal da ABI — Como o senhor come-çou a militar no jornalismo?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Comecei atrabalhar aos 19 anos, logo depois deservir o Exército, como desenhista naStandard Propaganda. De lá, fui paraSão Paulo, onde trabalhei em O Tempo,dirigido pelo grande jornalista VladimirSacchetta. Hoje o jornal não existemais. Voltei para o Rio e criei uma pro-dutora de TV chamada Esquire. Foientão que comecei a dirigir programasna antiga TV Rio, no Posto 6, na praiade Copacabana.

Carioca do Leme, 72 anos de idade e 53 de carreira, Fernando Barbosa

Lima é definitivamente um homem de televisão. Sua estréia no veículo

teve início na TV Rio, na qual criou diversos programas de sucesso

como o Sem censura, numa época em que as transmissões eram ainda

em preto e branco. Foi autor também do Jornal de vanguarda, um dos

mais premiados telejornais da história da televisão brasileira, e do

Abertura, programa que desafiou o regime militar ao falar de política.

Nesta entrevista, Fernando diz que telejornalismo não é feito de

sensacionalismo e que a televisão precisa ser oxigenada pelas idéias

dos jovens para não ficar cada vez mais idiota, fala do seu propósito

de cultivar a memória histórica do Brasil e relembra de que forma o

pai, Barbosa Lima Sobrinho, influenciou sua trajetória profissional.

Jornal da ABI — Qual o fato do início desua trajetória profissional que consideramarcante?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Foi ter co-nhecido o Carlos Alberto Lofller, na TVRio, e trabalhado com ele. Juntos, rea-lizamos muitos programas; por sorte,todos fizeram grande sucesso.

Jornal da ABI — Um jornal paulistano queo entrevistou deu o seguinte título à ma-téria: “De TV, ele entende tudo”. Em quemedida essa afirmação é verdadeira?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Eu comecei

na televisão muito jovem, quando elaainda era em preto e branco e não exis-tia o videoteipe. Dirigindo programase emissoras, passei por todas as fases danossa TV. Hoje, vivo no mundo digital.

Jornal da ABI — O senhor acumula ex-periências na direção das emissorasExcelsior, Manchete e Bandeirantes,além da Presidência da TVE por duasvezes. O que mais?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Na Globo,realizei o Jornal de vanguarda e o Noitede gala. Depois, transformei a Esquire

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Março de 2006

em agência de publicidade — ela che-gou a ficar entre as dez maiores do Bra-sil. Trabalhei praticamente com todasas mídias.

Jornal da ABI — Com 21 anos, o senhorjá era diretor do Preto no branco — atualVerdade, exibido pela TVE —, criação suaque trazia Oswaldo Sargentelli entrevis-tando personalidades na TV Rio. A quese deve a permanência deste programano ar há tantos anos?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — O Preto nobranco foi um programa único, feito aovivo. Os outros, Advogado do diabo, Averdade e A voz do trovão, foram filhosdo Preto no branco. O Sargentelli come-çou a trabalhar comigo no Preto no bran-co, lendo as perguntas. Sua voz é in-substituível.

Jornal da ABI — O senhor é responsá-vel pela criação de programas de TVcom formatos importantes, como o Caraa cara (Band), Sem censura (TVE) eAbertura (Tupi), este considerado umprograma moderno demais para a dé-cada de 70.FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —O Cara a cara foi criado naBandeirantes com a MaríliaGabriela. Até hoje ela segueesse estilo de entrevista efaz sucesso, é uma ótimajornalista. O Sem censura foicriado na TVE e vive atéhoje; mais de seis apresen-tadoras já passaram por ele.O Abertura foi um grandedesafio à ditadura militar.Tinha apresentadores co-mo o Villas-Bôas Corrêa, oGlauber Rocha, o João Sal-danha, o Sérgio Cabral,Tarcísio Holanda, Antonio Callado,Vivi Nabuco, Marisa Raja Gabaglia,Oswaldo Sargentelli, Roberto D’Ávila.Foi quando a TV voltou a falar de polí-tica. Eu criei e pus no ar mais de cemséries de programas. Posso citar, porexemplo, Xingu, Conexão in-ternacional, Persona, Diálo-go e muitos outros.

Jornal da ABI — Não esque-çamos o Jornal de vanguar-da (TV Excelsior), premiadointernacionalmente.FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —O Jornal de vanguarda foiúnico. Imagine só oito anove grandes jornalistas eapresentadores no estúdio,ao vivo, dando um verdadei-ro show de notícias. Gentecomo Millôr (Fernandes),Sérgio Porto, Villas-BôasCorrêa, Borjalo, Appe, CélioMoreira, João Saldanha, CidMoreira, Luiz Jatobá, Tar-císio Holanda, FernandoGarcia, Newton Carlos etc.Acredito que ele seja o pro-grama de TV mais premia-do do Brasil.

Jornal da ABI — Como o senhor avalia asproduções de telejornalismo atuais? Oque mudaria e o que não mudaria nelas?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Acho quetelejornalismo não é só dar as manche-tes ou fazer sensacionalismo. Jornalis-mo com coragem é ter opinião, discu-tir os grandes assuntos com o público,esclarecer com profundidade e mostrar,acima de tudo, a verdade.

Jornal da ABI — O senhor diz que o ca-minho agora é a produção independen-te. Foi pensando nisso que criou suaprópria produtora, a FBL Produções Ar-tísticas?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Sou umprodutor independente há mais de 40anos. Tive a Esquire, fui sócio da Interví-deo e agora toco a FBL Criação e Produ-ção. Gosto de ter liberdade para criar.

Jornal da ABI — Através da sua produ-tora, o senhor tem feito documentáriossobre grandes personagens da históriabrasileira, como Tancredo Neves, Leo-nel Brizola e seu pai, Barbosa Lima So-

brinho. O que o motivou a fazer essasproduções?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Nosso povonão tem uma vasta memória históri-ca. Daí o meu projeto Os grandes bra-sileiros, que inclui distribuição dos

DVDs para bibliotecas,universidades, escolas,centros culturais e jornais.Neste momento estouproduzindo documentá-rios sobre Ziraldo, DarcyRibeiro e Sarney. Todosgrandes brasileiros.

Jornal da ABI — Falando emseu pai, em que ser filho deBarbosa Lima Sobrinho in-fluenciou sua carreira?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —Influenciou muito. Elesempre foi para mim umgrande exemplo de dignida-de, ética, honradez e cida-dania. Ele me levou a gos-tar de livros e do Brasil. Eleme ensinou a respeitar to-das as idéias, mesmo quenão concordasse com elas.Foi um grande pai e amigo.Sinto grande orgulho dele.

Jornal da ABI — Qual a sua definiçãopara Barbosa Lima Sobrinho?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Um homemque sempre lutou por suas idéias ar-riscando tudo.

Jornal da ABI — Em entrevista recenteao Jornal do Brasil, o senhor fala que“falta à televisão o fundamental: servirao povo brasileiro”, pois ela está maispreocupada em vender uísque, bancos,automóveis, do que em melhorar o nívelcultural do público. Como acha que issopode ser mudado?

FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Só o Con-gresso pode mudar. Um canal de TV éuma concessão pública. Daí ser impor-tante ter consciência disso e saber queo interesse público é mais importantedo que o interesse comercial.

Jornal da ABI — Nessa mesma entrevis-ta, o senhor falou que falta criatividadena TV. Como o senhor avalia essa ondade reality shows e programas copiadosde emissoras estrangeiras?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Faltacriatividade porque as nossas emisso-

Fernando Barbosa Lima com parceiros na criação e apresentação de ousados programas detelevisão: Cláudio Pereira e Roberto D’Ávila, seus antigos sócios na produtora Intervídeo.

Barbosa Limabrinca com a

neta deFernando, Maria

Paula: entre osdois, mais de100 anos de

diferença.À direita,

FernandaMontenegro

grava para oDVD sobre

Barbosa nasérie produzidapor Fernando, a

qual incluiTancredo e

Brizola.

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Jornal da ABI

16 Março de 2006

ACONTECEU NA ABI

O produtor Luiz Carlos Barreto re-velou em 28 de março na ABI que vairealizar um documentário histórico so-bre o centenário da Casa, a ser comemo-rado em 2008. O anúncio foi feito du-rante a abertura do evento ABI pensa ocinema, primeiro ciclo de palestras doProjeto Estação ABI. O Diretor Cultu-ral da ABI, Jesus Chediak, que criou oformato de palestra-entrevista para oprojeto, conta que todas as atrações doEstação ABI serão registradas para aprodução de um dvd.

— Depois de editado, esse materialirá para o Centro de Referência do Jor-nalismo Cultural que vamos criar na ABI, vinculado à Bi-blioteca Bastos Tigre. Estamos negociando ainda a exibi-ção dessas entrevistas em emissoras comprometidas comas atividades culturais que o projeto contempla. Essa é aidéia. E o próprio Luiz Carlos Barreto poderá ser um parcei-ro importante. Vamos botar essa nau para funcionar, comou sem vento.

A palestra de Luiz Carlos Barreto, prevista para 20 deabril, versará o tema O processo de produção e a estética doCinema Novo; na ocasião também será exibido o docu-

Barreto porá na telaos 100 anos da ABIMaior produtor docinema brasileiro,Luiz Carlos Barreto vairealizar um documentáriohistórico sobre ocentenário da Casa.

mentário Dez anos de CDI.— Este documentário foi feito no

Morro dos Macacos, mostrando o esfor-ço do Comitê para Democratização daInformática, liderado por RodrigoBaggio, para levar inclusão digital e so-cial às camadas mais pobres – dizBarreto.

As palestras de todo o mês de abrildo Estação ABI foram assim definidas:

No dia 4, Zelito Vianna fala da MapaFilmes e o cinema de autor. O cineasta di-rigiu Os condenados, Villa-Lobos - uma vidade paixão e JK - uma bela noite para voar,entre outros filmes.

No dia 11, a produtora e diretora AliceGonzaga discorre sobre o tema 75 anosde Cinédia. Alice é filha de AdemarGonzaga, criador da Cinédia, primeirainiciativa brasileira de implantação daindústria cinematográfica no País.

No dia 18, a convidada é a atriz e di-retora Ana Maria Magalhães, que falasobre A mulher no cinema nacional. Comoatriz, Ana Maria teve diversas passagens

pelo cinema — participou de Os sete gatinhos, Se segura, ma-landro, Lúcio Flavio, o passageiro da agonia e Como era gostosoo meu francês, entre outros. Como diretora, fez filmes comoAssaltaram a gramática, Mangueira do amanhã, O bebê e Lara.

No dia 25, a atriz Letícia Spiller — que atuou em O pulso,Oriundi, Villa-Lobos e A paixão de Jacobina — encerra o cicloABI pensa o cinema com a palestra O ator no cinema nacional.

Todas as palestras do Estação ABI serão registradas emfita de áudio ou vídeo ou, ainda, com câmara digital — paraa produção de um dvd. (Cláudio Carneiro)

ras não abrem suas portas para os jo-vens, gente com novas idéias, gente quepode oxigenar a TV, que fica, a cada dia,mais idiota.

Jornal da ABI — Por que o senhor afir-ma que a TV não se renova?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Basta ligara sua televisão.

Jornal da ABI — Quais são seus projetos?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Sempreque possível, ajudar o Brasil e o nos-so povo com uma televisão séria ecomprometida.

Jornal da ABI — O lançamento de Odiário da Júlia marca sua estréia na li-teratura infantil. Esta é uma nova áreade atuação?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — O diário daJúlia é um pequeno livro feito para ascrianças. É a história de uma cadelalabradora, a Júlia do título, tentandosalvar sua dona. Foi uma ótima expe-riência. Fiz todos os desenhos e a di-reção de arte foi do grande artista Ruide Oliveira. O livro ficou bom e ven-deu tudo.

Jornal da ABI — O senhor já publicououtros livros?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — Participei deum livro, juntamente com o GabrielPriolli Neto, sobre a TV e a ditaduramilitar. Agora, estou conversando coma Ediouro sobre um livro que conta aminha vida na televisão.

Jornal da ABI — Qual a sua relação atualcom a Associação Brasileira de Impren-sa, instituição que seu pai presidiu portantos anos?FFFFFererererernando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima —nando Barbosa Lima — No momen-to, faço parte do Conselho Deliberativoda ABI, com Maurício Azêdo, atualPresidente da instituição. Quando en-tro na ABI, é como se entrasse numadas casas do meu pai.

Fernando Barbosa Lima apóia suasinovações em forte cultura clássica. Aqui elecurte beirais e sobrados do Porto, Portugal.

Barreto: chamado a depor sobre o processode produção e a estética do Cinema Novo.

Um documentário sobre a vida de SaldanhaO filme vai mostraraventuras de Joãoque poucos conhecem.

Um documentário de título simplese conciso – João – vai revelar ao públicoa vida e as aventuras de João Saldanha,tema de um documentário que concen-tra a paixão de André Siqueira, autordo roteiro, Beto Macedo, que divide adireção com André, Maurizzio Grazi,italiano responsável pela fotografia, eSancha Amback, que fez a trilha sonorade 174 e Madame Satã e agora vai fazera de João. Algumas tomadas do filmeforam feitas na ABI, onde foi entrevis-tado um antigo companheiro deSaldanha na Última Hora – MaurícioAzêdo, Presidente da Casa.

O projeto do longa-metragem nas-ceu em 2003, quando André começoua pesquisar a vida do jornalista, com a

autorização da família: – Sempre tivea impressão de que João Saldanhamorreu sem o reconhecimento à altu-ra de sua trajetória como técnico e co-mentarista esportivo. Em torno de suafigura há muitas confusões, muitaslendas, e com isso se cristalizou naimagem dele um quadro de abandono.

Desde que foi levado pelo pai paraver uma eliminatória da Copa de 70entre Brasil e Venezuela, André nãoesquece a figura de João Saldanha. – Eutinha uns oito para nove anos de idadee me emocionei ao ouvir o Maracanãgritar o nome do João. Saí daquele par-tida impressionado com o que vi e ouvi.Daquele dia em diante, João Saldanha,cujo nome colei numa caixa de fósfo-ros que ficava na minha cabeceira, vi-rou o técnico do meu time de botão.Mais tarde, era inadmissível assistir auma partida de futebol sem, nos inter-valos, estar ligado no rádio para ouviros comentários do João.

No fim dos anos 80, após a anis-tia, André Siqueira entrou para o Par-tido Comunista Brasileiro e se apro-ximou mais do jornalista, que foi mili-tante e dirigente do PCB – “ele viroumeu ídolo.”

Agora tudo o que André quer é fina-lizar o documentário em julho. – Que-ria fazer o lançamento durante a Copa.Falar da vida do João Saldanha na lin-guagem do cinema é um trabalho difí-cil. O filme precisa estar próximo daaltura do personagem, que tem histó-rias interessantes, além da sua ligaçãocom o futebol.

O filme pretende revelar essas ou-tras facetas e reavivar lembranças paraquem o conheceu: – A cada dia me sur-preendo mais. A maioria das pessoasnão sabe, por exemplo, que ele falavavários idiomas e escrevia sobre diver-sos assuntos. Em minhas pesquisas,encontrei vários artigos dele sobre ar-quitetura.

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Jornal da ABI

Março de 2006

A ABI fez uma parceria com o Por-tal Comunique-se, que passou a divul-gar em suas páginas um banner anun-ciando os Cursos Livres de Jornalismoda Casa, programados para abril ten-do como objetivo a qualificação de es-tudantes e profissionais. No primei-ro semestre de 2006, serão realizadosos cursos de Jornalismo Investigativo,Assessoria de Imprensa, JornalismoCultural e Jornalismo Ambiental, mi-nistrados por professores que são tam-bém jornalistas e têm vasta experiên-cia em suas áreas.

A jornalista Anna Catharina Siquei-ra, Diretora de Operações do Comuni-que-se, disse que o anúncio vai ficarexposto no topo da página. Além dis-so, haverá uma chamada para os cur-sos no informativo enviado diariamen-te aos usuários do portal. Joseti Mar-ques, Diretora de Jornalismo da ABI eresponsável pelos cursos, convidouAnna Catharina para ministrar o cur-

Comunique-se, nossoparceiro nos Cursos Livres

Paulo Henrique Amorim, comseu Plim-plim: a peleja de Brizolacontra a fraude eleitoral, e NilsonLage, com seu A reportagem: teoriae técnica de entrevista epesquisa jornalística, quese encontra na quintaedição, figuram entre osautores de obras queacabam de serincorporadas ao acervoda Biblioteca da ABI(Biblioteca BastosTigre), por aquisição.Entre os novos volumescolocados à disposiçãodos sócios encontram-se trabalhosrecentíssimos, como AI-5, de Hélio Contreiras, eMídia controlada: ahistória da censura noBrasil e no mundo, deSergio Mattos, amboseditados em 2005.

Obras sobre temas polêmicosna Biblioteca Bastos TigreObras de Paulo Henrique Amorim e Nilson Lageincorporadas ao acervo da Biblioteca da ABI.

O Auditório Oscar Guanabarino, si-tuado no 9º andar do Edifício HerbertMoses, sede da ABI, serviu de locaçãopara cenas da minissérie JK, exibidapela TV Globo. Participaram da gra-vação, em 3 de março, os atores Joséde Abreu (Carlos Lacerda), PauloGoulart (Israel Pinheiro), Tadeu diPietro (Lúcio Costa) e DomingosMeira (Sérgio Sá), além de 120 figu-rantes que compuseram o plenário daABI. Na cena, Israel Pinheiro é convo-cado por Carlos Lacerda para prestaresclarecimentos aos jornalistas e de-putados sobre os custos polêmicos daconstrução de Brasília.

O diretor da gravação, CristianoMarques, revelou que as cenas repro-duziriam exatamente o que aconteceuno auditório da ABI naquele dia: –

AO VIVO, OS ATORES DE JK

1. Abreu, Alzira Alves de, e Rocha, Dora, org.Elas ocuparam as redações: depoimentosElas ocuparam as redações: depoimentosElas ocuparam as redações: depoimentosElas ocuparam as redações: depoimentosElas ocuparam as redações: depoimentos

ao CPao CPao CPao CPao CPDOCDOCDOCDOCDOC. Rio de Janeiro: FGV,2006.

2. Alzer, Luiz André BrandãoFrança. Almanaque anos 80Almanaque anos 80Almanaque anos 80Almanaque anos 80Almanaque anos 80.Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

3. Amorim, Paulo Henrique.Plim-plim: a peleja de BrizolaPlim-plim: a peleja de BrizolaPlim-plim: a peleja de BrizolaPlim-plim: a peleja de BrizolaPlim-plim: a peleja de Brizolacontra a fraude eleitoralcontra a fraude eleitoralcontra a fraude eleitoralcontra a fraude eleitoralcontra a fraude eleitoral. SãoPaulo: Conrad Editora do Brasil,2005.

4. Contreiras, Hélio. AI-5AI-5AI-5AI-5AI-5. Rio deJaneiro: Record, 2005.

5. Guirado, Maria Cecília.ReporReporReporReporReportagem: a artagem: a artagem: a artagem: a artagem: a arte date date date date dainvestigaçãoinvestigaçãoinvestigaçãoinvestigaçãoinvestigação. São Paulo: Arte eCiência, 2004.

6. Lage, Nilson. A reporA reporA reporA reporA reportagem:tagem:tagem:tagem:tagem:teoria e técnica de entrevistateoria e técnica de entrevistateoria e técnica de entrevistateoria e técnica de entrevistateoria e técnica de entrevistae pesquisa jornalística.e pesquisa jornalística.e pesquisa jornalística.e pesquisa jornalística.e pesquisa jornalística. Rio deJaneiro: Record, 2005.

7. Mattos, Sérgio. MídiaMídiaMídiaMídiaMídiacontrolada: a história dacontrolada: a história dacontrolada: a história dacontrolada: a história dacontrolada: a história dacensura no Brasil e nocensura no Brasil e nocensura no Brasil e nocensura no Brasil e nocensura no Brasil e nomundomundomundomundomundo. São Paulo: Paulus,2005.

SÃO ESTES OS NOVOS TÍTULOSÀ DISPOSIÇÃO DOS LEITORES:

obra de construção de Brasília. Em1956, ainda como deputado federal,foi convidado pelo então PresidenteJuscelino Kubitschek a assumir a Pre-sidência da Companhia Urbanizadorada Nova Capital do Brasil-Novacap.Após a inauguração do Distrito Fede-ral, Israel foi nomeado por Juscelino

primeiro Prefeito de Brasília, cargo queassumiu em 7 de maio de 1960. Asgravações terminaram na madrugadade sábado e foram cercadas de grandeinteresse dos funcionários da ABI, queexultaram com a oportunidade de verde perto personagens que apareciamna telinha de terça a sexta-feira.

Auditório é palco degravação de cena daminissérie, que atraio pessoal da Casa.

Lacerda pressionava Israel o tempotodo para falar sobre o dinheiro usa-do na construção da nova capital doPaís e achava que nesse encontro eleseria condenado. No entanto, comoserá mostrado no ar, Israel deu a voltapor cima.

Israel Pinheiro foi o responsável pela

Israel Pinheiro (Paulo Goulart, sem paletó) enfrenta Lacerda (José de Abreu) na cena dirigida por Cristiano Marques (à dir.).

so de Jornalismo Digital na próximaprogramação de cursos da ABI: — Acei-tei o convite, mas ainda é preciso acer-tar alguns detalhes.

Informou Anna Catharina que nãoserão medidos esforços para apoiar aABI e destacar sua atuação no meio jor-nalístico: — A atual gestão deu umamodernização na Casa. Hoje, ouve-sefalar muito mais da ABI do que há al-guns anos. E o nosso portal vai ofere-cer ainda mais visibilidade devido aogrande número de jornalistas cadas-trados em nosso banco de dados.

Além do Comunique-se, tambéma Central Globo de Comunicação asse-gurou colaboração aos Cursos Livres,como resultado dos entendimentosmantidos pela Diretora Joseti Marquescom o Diretor da CGC, Luiz Erlanger.A Central doou 11 computadores àABI, os quais permitirão a criação, embreve, de cursos de Jornalismo Digi-tal e Jornalismo Gráfico.

Erlanger disse que a Rede Globo temespecial interesse por esse projeto, porenvolver formação de jornalistas e setratar de iniciativa da ABI, entidade quedeve ser prestigiada por quantos se preo-cupam com a liberdade de expressão.

Também a Rede Globoassegura apoio edivulgação ao projeto.

ACONTECEU NA ABI

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Jornal da ABI

18 Março de 2006

A ABI expressou no dia 8 de março seuprotesto contra as violências de que fo-ram vítimas por parte de soldados doExército os jornalistas Daniel da Costa,Felipe Costa e Paulo Henrique Gomes,agredidos fisicamente e ofendidos comxingamentos na Rua Miguel Ângelo, nobairro do Jacaré, subúrbio do Rio, ondea tropa montara uma barreira.

Os jornalistas voltavam de uma fes-ta no Grajaú quando o Gol em que via-javam foi interceptado na barreira. As-sim que eles desceram do carro e antesmesmo de serem revistados, receberamchutes dos soldados, que passaram a xin-gá-los quando eles declinaram sua con-dição de jornalistas. Depois, ameaçaram-nos com mais violência e os mandaramcalar a boca. Adiante, o grupo parou numposto de gasolina para comprar cigarrose ali os três jornalistas foram mais umavez ofendidos por um suposto capitãoque seria o comandante da tropa.

A ABI reclamou a apuração do episó-dio e a punição dos militares agressores,integrantes da tropa que passou a agirem áreas populares da Cidade do Rio deJaneiro, em intervenção que em seu en-tendimento carece de embasamentoconstitucional, pois a Carta da Repúbli-ca não legitima ações como essas em de-senvolvimento no Rio, ainda que com oobjetivo justo de recuperar bens de suapropriedade: fuzis subtraídos de umaunidade do Exército. Ademais, a tropanão é treinada para ações de caráterpolicial, como as que estavam em cur-so, e pode cometer tropelias contra apopulação, como as que vitimaram ostrês jornalistas. Com isso, há risco deindesejável dano à imagem do Exércitojunto à comunidade carioca.

México elimina prisãopor delito de imprensa

A Anatel tirou do ar a emissora oficial, para atender, diz o Governador Ottomarde Souza (PSDB), ao interesse político do Senador Romero Jucá (PMDB).

Tropa do Exércitoque intervém no Rioagride jornalistas

Em Roraima até o Governo do Estadoestá sujeito à censura dos que controlamo principal meio de comunicação com aspopulações do interior: o rádio. A denún-cia foi formulada à ABI pelo Governadordo Estado, Ottomar de Souza Pinto, que,no expediente GAB/GOV/OF. n° 035/06,de 28 de março, pediu a intervenção daCasa junto ao Ministro das Comunica-ções, Senador Hélio Costa (PMDB-MG),para que fossem liberados os transmisso-res da rádio do Governo estadual, lacra-dos por agentes da Agência Nacional deTelecomunicações-Anatel. Disse o Gover-nador Ottomar de Souza Pinto em suacomunicação à ABI:

“É com pesar que levo ao conhecimen-to de Vossa Senhoria a volta da censuraà imprensa no Estado de Roraima emtempo de democracia e sob o patrocínio

do Governo Federal, conforme preten-do demonstrar a seguir.

Na última quarta-feira, dois agentesda Unidade Regional da Agência Na-cional de Telecomunicações-Anatel emBoa Vista, a capital de Roraima, lacra-ram os transmissores da rádio do Gover-no estadual. Os fiscais da Anatel cum-priram “determinação do Senhor Secre-tário de Comunicação Eletrônica doMinistério das Comunicações” e nãoapresentaram qualquer motivo plausí-vel para tirar a emissora do ar.

A Rádio Roraima AM é a única rádiode comunicação que chega a todo o Es-tado. Portanto, único meio de informa-ção das populações que vivem isoladasem meio à floresta amazônica, nos maislongínquos rincões.

O Governo de Roraima entende que

os maiores prejudicados são os morado-res do interior do Estado e cobra doMinistério das Comunicações uma jus-tificativa, sob pena de perdurarem sus-peitas de cunho político partidário.Como se sabe, o Ministro das Comuni-cações, Hélio Costa, é do mesmo parti-do do Senador Romero Jucá, o PMDB.O Senador é pré-candidato ao Governode Roraima contra o atual GovernadorOttomar de Souza Pinto, do PSDB.”

No último parágrafo de seu ofício,o Governador Ottomar pediu que a ABIintercedesse junto ao Ministro HélioCosta para que a Rádio Difusora deRoraima AM voltasse ao ar. Com essefim a ABI telegrafou ao Ministro Hé-lio Costa, que não respondeu à men-sagem nem sequer acusou o seu rece-bimento.

EM RORAIMA ATÉ O GOVERNODO ESTADO É SILENCIADO

A Comissão de Justiça e DireitosHumanos da Câmara dosDeputados do México decidiuexcluir do Código Penal do país asdisposições que puniam jornalistaspor crimes de injúria, calúnia edifamação, as quais poderão serobjeto de sanção apenas de carátercivil, sem impor privação daliberdade aos jornalistas no caso deabusos no exercício da liberdade deinformação e de expressão.

Com esse fim, a Comissãopropôs a revogação de nada menosde 14 artigos do Código PenalFederal – os de números 350 a 363 –e a inclusão de seis parágrafos noartigo 1.916 do Código CivilFederal, para regular osprocedimentos a serem adotados,na esfera cível, nos excessoscometidos por um comunicador ouqualquer outra pessoa no exercícioda liberdade de expressão.

Autor do projeto de revogaçãodessas disposições do Código Penal,o Deputado José Antonio CabelloGil, da bancada do Partido AçãoNacional, justificou sua proposiçãoassinalando que é reconhecidointernacionalmente que a proteção à

Abusos na liberdade de expressão devemsofrer sanções apenas na esfera cível.

honra e à reputação deve sergarantida somente através desanções civis, e jamais pela viapenal. “Os lugares onde aindaexistem casos de denúncias penaispor difamação e calúnia pordivulgação de temas de interessepúblico – disse Cabello Gil – sãoreflexo da velha doutrina queconsidera que os cidadãos nãodevem criticar os seus governantes.”

Constituído na Câmara dosDeputados, o Grupo de Trabalho deAcompanhamento de Agressões aJornalistas e Meios de Comunicaçãodeclarou que o exercício da atividadejornalística é uma das profissões demaior risco em vários Estados doMéxico, tantas são as ameaças eagressões registradas pelosorganismos de defesa dos direitoshumanos (ver quadro). Entre essasviolências figuram 19 homicídiosque abateram jornalistas nosúltimos seis anos. Apesar dessasviolências, concluiu o Grupo deTrabalho, as restrições legaisexistentes são o principal obstáculoinstitucional para o pleno e efetivoreconhecimento da liberdade deexpressão e informação.

LIBERDADE DE IMPRENSA

Alertada pelo jornalista Raul MartinsBastos, associado morador na capitalpaulista, a ABI pediu no princípio demarço ao então Prefeito José Serra quemandasse apurar os atos de vandalis-mo praticados contra uma escultura emhomenagem a Cláudio Abramo existen-te na praça pública do bairro de Pinhei-ros que tem o nome do jornalista, res-ponsável pelas reformas editoriais dosdois principais jornais de São Paulo, oEstado e a Folha, e destacado cronista earticulista da Folha.

A violência contra a escultura –uma pedra com inscrição em home-nagem a Abramo – começou com oequívoco de uma moradora do núme-ro 414 da Rua Itália, próxima à PraçaCláudio Abramo, a qual pediu a em-pregados da Construtora MarquiseS.A., que trabalhavam nas imedia-ções, que retirassem a pedra de gra-nito, danificada por um acidenteautomobilístico. Sem noção de que setratava de uma escultura, os operá-rios quebraram a pedra em pedaçospequenos. Restou, porém, um peda-ço maior, que desapareceu.

Na investigação realizada por de-terminação do Prefeito José Serra, aSubprefeitura de Pinheiros esclareceua participação no incidente da empre-sa Dória Associados, de propriedadedo publicitário João Dória Júnior, quemantinha termo de cooperação coma Prefeitura para conservação da Pra-ça Cláudio Abramo. É que, após a des-truição da escultura, a empresa deDória promoveu a colocação de ou-tra obra de arte na praça, sem aten-tar que o vazio existente resultara dadestruição da peça em homenagema Abramo. Em e-mail à Subprefeiturade Pinheiros, que cobrara esclareci-mentos sobre sua intervenção na Pra-ça, Dória Júnior negou que tivessequalquer envolvimento com a remo-ção da escultura, mas reconheceu quemandou pôr outra obra de arte no localsem obedecer às normas da Prefeitu-ra e, também, sem consultá-la acer-ca da situação da Praça.

Até o fim de março a Prefeitura ado-tava providências no âmbito da Se-cretaria Municipal de Cultura para orestabelecimento da homenagem aCláudio Abramo.

DESRESPEITO

Destruídaescultura dehomenagem aCláudio AbramoUma série de equívocosremove da praça como nome dele a lápideque exalta sua obra.

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REIVINDICAÇÃO

OPresidente do Senado Federal,Senador Renan Calheiros(PMDB-AL), o Presidente daCâmara dos Deputados, Depu-

tado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e o Sena-dor José Sarney (PMDB-AP) manifesta-ram no dia 22 de março sua disposiçãode apoiar os esforços da ABI para orestabelecimento de seu registro comoentidade beneficente de assistência so-cial, cassado pelo Conselho Nacional deAssistência Social. Com base na sone-gação desse registro, o Instituto Nacionaldo Seguro Social-INSS lançou a débitoda ABI, retroativamente, o correspon-dente a cinco anos de contribuiçãoprevidenciária patronal, num montan-te que alcança agora valor superior a R$3 milhões.

A decisão dos parlamentares foi anun-ciada em audiências que, em momentosdiferentes, os três concederam a umadelegação de dirigentes da ABI, represen-tada pelo Presidente e Vice-Presidente daCasa, Maurício Azêdo e Audálio Dantas,e pelo jornalista Tarcísio Holanda, asso-ciado da ABI e membro do Comitê deImprensa do Senado. Da audiência como Senador José Sarney participou o Se-nador Roberto Saturnino (PT-RJ), quesalientou a importância da contribuiçãoda ABI ao aperfeiçoamento das institui-ções democráticas no País e à defesa dopatrimônio e das riquezas nacionais.

Na audiência, o Senador José Sarneyfez questão de frisar que iniciou sua vidaprofissional como jornalista e que é de-tentor do número 1 no registro da ca-tegoria profissional em seu Estado, oMaranhão. “Orgulho-me de integraruma geração valorosa de jornalistas,muitos dos quais se transferiram para oRio de Janeiro e obtiveram especial rele-vo no meio profissional e na vida cultu-ral, como Ferreira Gullar, Lago Burnett,José Bandeira Filho e Joaquim Campelo,entre outros”, disse o Senador.

Sarney revelou que pediria à sua as-sessoria a realização de um estudo jurí-dico de matéria, a fim de assegurar efi-cácia à sua intervenção e, também, es-tender o alcance da decisão a duas ou-tras instituições que estão sendo afeta-das por ações de órgãos da União, como

Renan, Aldoe Sarneyouvem a ABIDelegação de dirigentes da instituição foi aBrasília pedir o restabelecimento de seuregistro de entidade beneficente, cassado peloConselho Nacional de Assistência Social.

o Instituto Histórico e Geográfico Bra-sileiro e a Academia Brasileira de Letras.“O Instituto Histórico e Geográfico é amais antiga instituição cultural do País,fundado que foi ainda no governo do Im-perador Dom Pedro II, e não pode ser tra-

ceió, de um congres-so nacional de jor-nalistas que defla-grou o processo demudança. À frentedessa luta estava oentão Presidente doSindicato dos Jorna-listas Profissionaisde Alagoas, FreitasNeto, corresponden-te de O Estado de S.Paulo e que faleceriano fim dos anos 90num acidente de avi-ação em Cuba.

“Freitinhas, comoo chamávamos, foidecisivo naquele mo-vimento”, lembrouAldo Rebelo. “Eramtempos ásperos, aponto de termos sido

ameaçados de prisão se elegêssemos parao Diretório Central dos Estudantes-DCEda Universidade Federal de Alagoas umachapa só com estudantes de esquerda eadversários da ditadura. Tivemos entãoa sensibilidade de recuar, oferecendo acabeça da chapa a um representante dadireita e assegurando a maioria para nos-sas correntes. Com isso escapamos daprisão coletiva com que nos ameaça-vam”, contou Rebelo, lembrando que ocandidato original à Presidência do DCEpelo grupo progressista era um jovemacadêmico de Direito: Renan Calheiros,que, em nome da liberdade do grupo,concordou com a retirada de sua candi-datura.

Rebelo informou que iria pleitear daMinistra Chefe do Gabinete Civil da Pre-sidência da República, Dilma Rousseff,a concessão de uma audiência para ex-por a postulação da ABI, instituição queno seu entender deve merecer respeitodo Poder Público, pois o Brasil muito de-ve à Casa, por sua participação nas gran-des causas nacionais, como a campanha“O petróleo é nosso”, e a luta pela res-tauração do Estado de Direito.

“Eu próprio muito devo à ABI, poisera Presidente da União Nacional dosEstudantes na época do atentado terro-rista do Riocentro, em 1980, e foi a ABIque acolheu a Une, em seu auditório, pa-ra um ato público de protesto contra aviolência terrorista”, disse o Presidenteda Câmara.

Também o Presidente do Senado ex-pressou o seu apoio à postulação da ABIe seu empenho em submeter a questãoà Ministra Dilma Rouseff e ao Ministrodo Desenvolvimento Social e Combateà Fome, Deputado Patrus Ananias, aoqual está vinculado o Conselho Nacionalde Assistência Social, órgão de que ema-nou a decisão adversa à ABI.

Além de determinar a conclusão doestudo jurídico que encomendaria a suaassessoria em atenção a apelo feito an-teriormente pela ABI, o Senador RenanCalheiros recomendou ao seu Gabineteque agendasse audiência com os doisministros, para exposição da matéria.

O Deputado Francisco Dorneles (PP-RJ) expressou à Diretoria da ABI seu apoio aorestabelecimento do registro de entidade beneficente de assistência social de que aentidade usufruiu até 1994 e que foi cancelado pelo Conselho Nacional de AssistênciaSocial-CNAS. Dorneles comunicou sua decisão ao visitar a sede da ABI em companhiado Deputado federal Vanderlei Assis (PP-SP), que já discursou sobre o problema naCâmara em dezembro passado.

Durante o encontro, em 10 de março, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo,entregou aos dois parlamentares o texto do pedido de reconsideração da negativa daconcessão do registro, feito pela ABI ao Conselho Nacional de Assistência Social. OPresidente da ABI mostrou a Dorneles o absurdo da alegação apresentada pelo CNAS,segundo o qual a Casa só poderia ser considerada entidade beneficente de assistênciasocial se atendesse a todas as pessoas em “situação de vulnerabilidade”. — Isto significa— disse Maurício — que a ABI teria de atender a milhões de pessoas em situação devulnerabilidade na cidade e no Estado do Rio de Janeiro.

Dorneles revelou também sua disposição de, além de expor a questão na tribunada Câmara, solicitar uma audiência com o Ministro do Desenvolvimento Social, PatrusAnanias, para expor-lhe de viva voz o pleito da ABI, cujo papel na vida nacional e nasgrandes causas de interesse do País foi por ele realçado.

Assis traz apoio de Dorneles

tado sem respeito à contribuição queprestou e presta à vida nacional”, disseo Senador.

O Presidente da Câmara, DeputadoAldo Rebelo, lembrou aos representan-tes da ABI que é também jornalista pro-fissional e que acompanha as atividadesda Casa desde o seu tempo de vida aca-dêmica, em Maceió, Alagoas. “Uma dasminhas grandes alegrias como estudan-te, no fim dos anos 70, foi ter recebidoda ABI um pedido de remessa de exem-plar do jornalzinho acadêmico que eu en-tão editava, o Boca do Povo, para integraro acervo de periódicos da Biblioteca daABI. Para mim, muito moço, aquele pedi-do da ABI era um título de honra”, disse.

Aldo Rebelo relembrou também queesse momento da sua vida universitá-ria coincidiu com a movimentação demembros da ABI e de segmentos da ca-tegoria profissional para sanear o movi-mento sindical dos jornalistas, então do-minado por setores direitistas e pelegosacumpliciados com o regime. Um dosmarcos da virada na representação sin-dical foi a realização em 1978, em Ma-

“Eu próprio muito devo à ABI”, disse o Presidente da Câmara, Aldo Rebelo, ao receber Maurício e Tarcísio.

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20 Março de 2006

DIREITOS HUMANOS

O funcionário da ABI Adalberto doNascimento Cândido, 68 anos, foi o pro-tagonista do momento mais emocionan-te da cerimônia de entrega da 18ª Me-dalha Chico Mendes de Resistência, re-alizada no dia 31 de março no auditó-rio do Arquivo Nacional, no Centro doRio. A medalha foi instituída pelo GrupoTortura Nunca Mais do Rio de Janeiroe é atribuída por um colegiado integradopor entidades representativas da soci-edade civil, entre as quais a ABI.

Ao receber a homenagem prestadaa seu pai, o marinheiro João Cândido,líder da Revolta da Chibata, de 1910,que passou à História como o AlmiranteNegro, Candinho, como é chamado, co-meçou a agradecer com um texto de-corado, mas foi dominado pela emo-ção e teve de recorrer à anotação queredigira. Também emocionada, a pla-téia — que lotou o auditório — aplaudiu-o de pé e entoou em coro os versos dacanção O mestre-sala dos mares, de JoãoBosco e Aldir Blanc, um dos grandessucessos da cantora Elis Regina, quecelebra a iniciativa histórica de João Cân-dido: “(...) Salve o navegante negro/quetem por monumento/as pedras pisa-das do cais”.

A Medalha concedida a João Cândi-do foi entregue pelo Presidente do Con-selho Deliberativo da ABI, Ivan Caval-canti Proença. Também presente à so-lenidade, o Presidente da ABI, Maurí-cio Azêdo, entregou a Medalha conce-dida ao Movimento dos Trabalhado-res Rurais Sem-Terra de Pernambuco.

Outro momento de grande emoçãoda cerimônia foi o da entrega da Me-dalha à líder indígena chilena JuanaCalfunao Paillalef, que revelou que elae sua irmã Ana Luiza, após terem sidoincriminadas sob a acusação de “desor-dem na via pública e ameaças a cara-bineiros em serviço”, foram espancadas,

MedalhaChicoMendespara JoãoCândido

Comenda foientregue aofilho Candinho,funcionário da ABI,em cerimônia noArquivo Nacional,no Rio de Janeiro.

expulsas de suas casas e mantidas numadelegacia, sendo libertadas quando che-gou ao Chile a notícia da homenagemdo Grupo Tortura Nunca Mais do Brasil.

Também foram entregues Medalhasem homenagem ao falecido cronista es-portivo e membro do Partido Comu-nista Brasileiro João Saldanha; a CléaLopes de Moraes, 81 anos, que teve afilha assassinada pela ditadura e é fun-dadora do Grupo Tortura Nunca Mais;e à também octogenária Erica BayerToth, assistente social que se dedicoua ajudar os perseguidos políticos du-rante o regime militar.

Da lista de agraciados constam tam-bém Frei Xavier Jean Marie Plassat, co-ordenador da Campanha contra o Tra-balho Escravo da Comissão Pastoral daTerra; Hélio Bicudo, Presidente da Fun-dação Interamericana de Defesa de Di-reitos Humanos; Mônica Cunha, do Mo-vimento de Mães pela Garantia dos Di-reitos dos Adolescentes no Sistema Sócio-Educativo (Degase), mais conhecidocomo Movimento Moleque, criado em2003; Marcos Nonato Fonseca, mem-bro da Ação Libertadora Nacional (ALN,criada em 1967) que foi morto com maistrês companheiros por agentes do regimemilitar, após denúncia em São Paulo; eKleber Lemos da Silva, militante doPartido Comunista do Brasil (PCdoB)que participou do movimento estudantile desapareceu na guerrilha do Araguaiaem junho de 1972.

A Medalha Chico Mendes de Resis-tência foi criada pelo Grupo TorturaNunca Mais em 1989, para honrar pes-soas e entidades que se destacam naluta contra as violações dos direitoshumanos no Brasil e no mundo. Desdeentão, anualmente pessoas e entida-des de setores diversos são homena-geadas, após terem sido escolhidas emreuniões abertas.

O Sindicato Intermunicipal dos Tra-balhadores na Indústria Energética deMinas Gerais-Sindieletro-MG denun-ciou à ABI mais um acidente de traba-lho envolvendo um funcionário da Com-panhia Energética de Minas Gerais-Cemig. O Sindicato voltou a alertar tam-bém que as irregularidades na empresasão ignoradas pela Agência Nacional deEnergia Elétrica-Aneel.

Em 26 de fevereiro, o eletricista DavidGomes, de 49 anos, não resistiu às con-seqüências de um acidente ocorrido seisdias antes — ele foi eletrocutado quan-do trabalhava numa rede trifásica emSanto Antônio do Amparo, no Sul doEstado. A mulher do operário denunciouque ele se queixava do excesso de horasextras, à noite e nos fins de semana.

Coincidentemente, na semana do aci-dente, trabalhadores daquela região envi-aram a seguinte denúncia ao Sindieletro:

“Amigos, estamos enfrentando umadifícil jornada de trabalho. Somos só

Mais um acidentefatal na CemigA ABI recebe mais uma denúncia de morte deeletricitário da empresa mineira e uma série deirregularidades que não são fiscalizadas pela Aneel.

quatro eletricistas para uma área muitogrande. Estamos exaustos, fazemos quasetodo dia 12 horas de trabalho. Além dis-so, a cidade de Estrela do Indaiá irá mediro índice de satisfação do cliente. Olhemsó o que está acontecendo: a Cemigmandou para lá o ‘Cemig na praça’ e oengenheiro para iludir o consumidor.Enquanto estamos no sufoco aqui, ou-tras duplas estão indo para Estrela paramanipular, mais uma vez, esta pesquisa.”

Em ofício enviado à ABI, o Coordena-dor-Geral do Sindicato, Marcelo Correiade Moura Baptista, lembra que desde quea empresa criou o programa Acidente Zero— em fevereiro de 2004 — 15 trabalha-dores morreram em acidentes de traba-lho, o que, segundo ele, comprova o fra-casso da iniciativa. Ainda segundo o sin-dicalista, a Cemig ameaça seus trabalha-dores com punições para evitar o vaza-mento de notícias sobre acidentes e fazgrandes investimentos em campanhas demarketing para iludir a opinião pública.

A ABI participou da diligênciaefetuada em Vitória, em 17 demarço, pelo Conselho de Defesados Direitos da Pessoa Humana,para apurar denúncias de violaçãodas liberdades individuais noexercício das atividadesjornalísticas pela Rede Gazeta deTelevisão, cujos telefones foramilegalmente grampeados porautoridades policiais do Estado. AABI foi representada pelo jornalistaJosé Ângelo da Silva Fernandes,Presidente da Associação Espírito-Santense de Imprensa.

Integrada pela ABI e pelosrepresentantes do MinistérioPúblico Federal, Procuradoras ElaWiecko Volkmer de Castilho, doConselho Nacional de ProcuradoresGerais de Justiça do Brasil, e IvanaFarina Navarrete Pena, e daComissão de Direitos Humanos daCâmara dos Deputados, Deputada

DILIGÊNCIAAPURA GRAMPONA REDE GAZETA

Irini Lopes, a delegação doConselho de Defesa dos Direitos daPessoa Humana ouviu a Presidentedo Sindicato dos Jornalistas doEspírito Santo, Suzana Tatagiba, eo Diretor-Geral da Rede Gazeta,Carlos Fernando Lindenberg, alémde autoridades. Após a tomada dedepoimentos, a comissãoconsiderou necessário proceder anova diligência no Estado, em facede contradições entre depoimentostomados.

Além de procuradores daRepública no Espírito Santo, acomissão ouviu o Secretário deEstado de Segurança, Evaldo FrançaMartinelli, e delegados de Políciaque atuaram no caso sobinvestigação, o Procurador MarceloZenkner, do Ministério PúblicoEstadual, e o Desembargador PedroValls Feu Rosa, do Tribunal deJustiça do Estado.

João Cândido: mais uma vez recebe justiça, quecomeçou depois que Edmar Morel fez sua biografia.

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TRABALHO

Em 28 de março, a imprensa brasilei-ra comemora o Dia do Revisor e do Dia-gramador. As duas atividades jornalísti-cas, regulamentadas pelo Decreto-lei 972,de 17/10/1969, que define o exercício daprofissão de jornalista, são consideradasimportantes e intimamente ligadas aojornal. Mesmo com o avanço das técni-cas e o planejamento de página feito como auxílio do computador, a diagramaçãonão sofreu maiores perdas, mas os revi-sores não têm muito o que comemorar,uma vez que a função — que deu em-prego a Machado de Assis, GracilianoRamos, Quintino Bocaiuva e OrestesBarbosa — está sucumbindo diante davelocidade industrial imposta pelasRedações, que obriga redatores e repór-teres a revisar o próprio texto.

Revisor do Globo, 56 anos, ManuelCorgo já trabalhou no Correio da Manhã,na Última Hora e na Revista Marítima Bra-sileira e avalia que a atividade sofreu comos avanços: — Atualmente, a revisão éfeita diretamente no micro. Até então,as composições eram feitas em fitas per-furadas e impressas por computador.Mais para trás, as correções eram mar-cadas manualmente em provas impres-sas das composições feitas em linotipo,sempre de péssima qualidade, com a tin-

����� Por Cláudio Carneiro

O dia de uma função que está sucumbindota ainda meio fresca. Apesar disso, a tec-nologia não tornou o trabalho menos im-portante. Qualquer trabalho escrito ne-cessita ser revisto, pelo próprio autor oupor outro. Independentemente de serfeito no computador ou manuscrito.

Já o diagramador Luiz Carlos de Oliveira, o Chester, de 58 anos, acha queseu trabalho só foi facilitado pelas novas tecnologias e destaca que nos diasde hoje é impossível “estourar” uma matéria com os recursos disponíveis: —Comecei diagramando no papel. O computador facilitou tudo. Jamais penseique uma máquina fosse substituir o lápis: o mouse fez isso. Mas a tecnologianos ajudou muito. Antigamente, havia dois riscos: ou “estourava” (a matériaultrapassava o espaço reservado para ela) ou “dava buraco” (faltava matériapara ocupar o espaço).

Com passagens por jornais como O Globo, Última Hora, Luta Democrática,Gazeta de Notícias, O Dia, Folha Dirigida e Estadão, Chester lembra que a BlochEditores foi a primeira empresa a utilizar a computação gráfica em suas edi-ções. Ele afirma que o mercado para o diagramador não encolheu: — Nin-guém perdeu o emprego. Todos se adaptaram e estão trabalhando. Eu mesmocomecei no chumbo (linotipo), passei pelo papel (composer) e terminei nocomputador. Que eu saiba, ninguém perdeu trabalhos com essas mudanças.

Sobre o futuro da profissão, Chester é otimista. Para ele, os periódicos se-manais, quinzenais e mensais até poderão usar o expediente de editar ediagramar ao mesmo tempo, “mas no jornalismo diário, com a pressão dohorário de fechamento, não tem pra ninguém”.

O diagramador sobrevive

Corgo admite, no entanto, que omercado para o revisor encolheu e queessa é a tendência: — Agora a versão finaldo texto é do próprio autor. Não existemais a composição do linotipista ou dodigitador. Conseqüentemente, foram

O calendário registra a existência do Dia do Revisor, mas só o dia resiste; este desapareceu.

Em reunião realizada em 28 demarço, a Comissão Especial de Re-paração da Secretaria de Direitos Hu-manos do Estado do Rio de Janeiroaprovou os pedidos de indenizaçãoformulados por 19 vítimas de prisãoe torturas físicas e psíquicas em de-pendências estaduais durante a di-tadura militar. A Comissão indefe-riu sete dos requerimentos apresen-tados, dois deles em grau de recurso.

Dentre os pedidos aprovados seisreferem-se a requerentes já falecidos,como a antiga líder sindical de alfaia-

eliminados os erros do compositor. É compena do leitor que reconheço que esta éuma atividade em extinção. Não existeescola de formação de revisor e os últi-mos bons profissionais estão sumindodo mercado.

Luiz Carlos Chester: Diagramação nãoacabou; mudou do tempo do chumbo

para o do computador.

DIREITOS HUMANOS

Reparação moral para mais19 vítimas da ditaduraComissão defereprocessos, seis delesrelativos a presospolíticos falecidos

tes e costureiras do antigo Estado daGuanabara, Maria Segóvia Jacobsen,que foi destacada militante do Par-tido Comunista Brasileiro. Dentre osdemais requerimentos deferidos fi-guram os dos Professores DanielAarão Reis Filho e Joel Rufino dosSantos e do jornalistaMaurício Azêdo, Pre-sidente da ABI.

Como registradoem edições anterioresdo Jornal da ABI, a re-paração moral por pa-decimentos em depen-dências estaduais pormotivo político foi ins-tituída pela Lei nº3.744, de 21 de dezem-bro de 2001, de auto-ria dos DeputadosCarlos Minc (PT),

Edmilson Valentim (PCdoB) e ChicoAlencar, atualmente deputado fede-ral e no Psol. A Lei previa que a inde-nização variaria de R$ 5 mil a R$ 50mil, mas a Comissão propôs que sefixasse um valor único nessa faixa,dado o constrangimento de se avali-

ar monetariamente aextensão das lesões so-fridas pelos requeren-tes durante sua prisão.Por proposta da Co-missão, o Governo doEstado estabeleceu emR$ 20 mil o valor da re-paração, que até mar-ço só fora paga a 140 re-querentes, dos mais de700 que postularam aindenização. Ao lado,a lista dos processosapreciados.

DEFERIDOSAntônio Rogério Garcia SilveiraCarlos Monteiro Valente (Falecido)Daniel Aarão Reis FilhoEvelyn EisensteinGenerino Teotônio de Luna (Falecido)Geraldo Barreto da Silva (Falecido)Gilson Ribeiro da SilvaJoel Rufino dos SantosLaerte Rezende BastosManoel Alves Albertino (Falecido)Maria de Lourdes Lemos Brito de MenezesMaria Segovia Jacobsen (Falecido)Maria Valderez Sarmento Coelho da PazNeuza Maria de Souza Netto LadeiraNilo Sérgio de Menezes MacedoOscar Maurício de Lima AzêdoSílvia Maria Rodrigues LeiteVânia Amoretty AbrantesWaldir Albuquerque (Falecido)

INDEFERIDOSEuclides da Silva MarinhoIgnácio José Gama Medeiros (Falecido)João Polycarpo de Lyra (Falecido)Maurício de Azevedo (Recurso)Nestor Cozetti Marinho (Recurso)Procópio de Alencar (Falecido)Waldir Nunes EscobarJoel Rufino: reparação após

prisão, tortura e exílio.

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Jornal da ABI

22 Março de 2006

VIDAS

Amigos e companheiros dojornalista José Carlos Regoparticiparam em 5 de mar-ço da cerimônia de seu se-

pultamento no cemitério Jardim daSaudade, na Zona Oeste do Rio. En-tre os presentes à cerimônia estavamos jornalistas Adail, Lênin Novaes,Maurício Azêdo, Presidente da ABI,Oriovaldo Rangel, Sílvio Paixão, ex-Presidente do Sindicato dos Jornalis-tas Profissionais do Estado do Rio deJaneiro, e Zilmar Basílio, o composi-tor Dalmo Castelo e a escritora e pes-quisadora de música popular MaríliaTrindade Barbosa. José Carlos faleceuna véspera de acidente vascular cere-bral que o acometeu na Quarta-Feirade Cinzas, o qual provocou logo a suamorte cerebral.

Fluminense de Miracema, 70 anos,José Carlos Rego começou sua carrei-ra em 1957 no diário Imprensa Popular,órgão do Partido Comunista Brasilei-ro-PCB, e nesse mesmo ano se transfe-riu para a Última Hora, onde se desta-cou como repórter de Geral e de cober-

JOSÉCARLOSREGO

Membro do Conselho Deliberativo da ABI, ele se destacou como estudiosoda cultura popular do Rio e especialmente das escolas de samba

tura da cidade e da vida cultural do Rio,especialmente da música popular e dasescolas de samba. Em 1994, lançou olivro A dança do samba, em que discor-re sobre as formas coreográficas dessegênero musical com fina capacidade dedescrição e análise. A obra é considera-da um clássico do tema.

Torcedor do Vasco da Gama, JoséCarlos era também apaixonado pelaescola de samba Império Serrano, so-bre a qual fez pesquisas de caráter an-tropológico que não chegou a exporem livro, como a de que a agremiaçãose formou e cresceu em torno das re-lações de casamento e parentescosangüíneo e afim entre as famílias San-tos e Oliveira, envolvendo mais de 250integrantes de ambas. Seu amor àImpério Serrano não impediu que,sobretudo a partir dos anos 60, divul-gasse as demais escolas de samba, con-tribuindo para que estas se projetas-sem e alcançassem o fastígio que ago-ra exibem. Um dos seus parceiros nessaobra foi o jornalista Waldinar Ranulfo,também repórter de Última Hora e já

“Ele sabia queestava chegandoa sua hora”

Um amante dacultura popular

Numeroso grupo de associados daABI assistiu em 10 de março à missade sétimo dia em intenção da alma deJosé Carlos, oficiada na Igreja de San-ta Luzia, onde a ABI realiza tradicio-nalmente seus atos religiosos. Entreos presentes encontravam-se os jorna-listas Antônio Carlos de Carvalho; An-tônio Nery; Araquém Moura Roulien;Jesus Soares Antunes, Presidente doConselho Fiscal da ABI; João DuqueEstrada Meyer; José Rezende; Mau-rício Azêdo, Presidente da ABI;Maurílio Cândido Ferreira; e ZilmarBorges Basílio.

Após a missa, a jornalista ZilmarBorges Basílio distribuiu cópias do textodo perfil de José Carlos Rego feito porseu filho, Rodrigo Ernesto de AndradeRego, que o lera durante a vigília queprecedeu ao seu sepultamento. O tex-to elaborado por seu filho RodrigoErnesto, intitulado originalmente Mis-são Cumprida, tem o seguinte teor:

“No dia 3 de junho de 1935 nasciana cidade de Miracema um homem demuita ambição. Com muita coragem,inteligência e força de vontade, veiopara a cidade grande, onde buscou,trilhou e conseguiu o seu espaço.Posicionou-se como jornalista e pas-so a passo conseguiu ser reconhecidono seu ambiente de trabalho. Desdeentão, neste jornalista passou a rolaruma paixão que o acompanhou emtoda a sua vida: o samba. Passou a sededicar a conhecer a música e estudá-la profundamente. Durante estesanos, fez muitas amizades e conquis-tou a admiração e o reconhecimentodentro do mundo do samba. Compôs,criou, participou de um grupo de com-positores e por final eternizou na for-

falecido, que se celebrizou na cober-tura das escolas de samba com o pseu-dônimo Meu Sinhô.

Como repórter, um dos trabalhosmais rumorosos de José Carlos Regofoi a reportagem que fez no começodos anos 60 com o jovem delinqüen-te Manguito, matador do também jo-vem Odylo Costa Neto, filho do es-critor Odylo Costa Filho, jornalista res-ponsável pelo começo da famosa re-forma do Jornal do Brasil nos anos 50e membro da Academia Brasileira deLetras. O então Governador CarlosLacerda lançou toda a Polícia no en-calço do matador do rapaz, transfor-mando sua prisão numa questão dehonra. José Carlos localizou Manguitoe o levou para a Redação da ÚltimaHora, que deu manchete com o assun-to, estampou gigantesca foto do ma-tador e declarou que ele estava à dis-posição do Governador, ao qual seriaentregue com a condição de que nãosofresse violências e fosse colocado soba proteção da Justiça. O episódio dei-xou Lacerda furioso: Última Hora lhe

fazia feroz oposição e lhe impôs nes-te caso uma derrota política de gran-de repercussão.

José Carlos Rego era membro doConselho Deliberativo da ABI e doConselho Superior de Música Popu-lar do Museu da Imagem e do Som doRio de Janeiro e integrou em caráterpermanente o júri do concurso Estan-darte de Ouro do jornal O Globo des-de a sua instituição, em 1972. Seunome não foi citado entre os 13 jura-dos do Estandarte do Carnaval 2006(O Globo, Caderno Especial Carnaval2006, página 21, 1 de março de 2006)presumivelmente por ausência moti-vada pelo problema de saúde que olevou à internação. José Carlos deixouviúva, dois filhos e uma neta.

(Maurício Azêdo)

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Jornal da ABI

Março de 2006

ma de um livro grande parte dos seusconhecimentos. Em Dança do samba,Exercício do prazer, reuniu grandes no-mes que, assim como ele, faziam e fa-zem do samba a sua vida.

Outra paixão que levou com mui-to orgulho por toda a sua existênciafoi o prêmio Estandarte de Ouro, dojornal O Globo; que desde a sua primei-ra edição tinha este jornalista no cor-po de jurados. O Carnaval era o ápiceanual desta paixão; ele não abria mãonunca de assistir pessoalmente aosdesfiles das escolas de samba. Mas, nãopor acaso, neste ano de 2006 não quisparticipar da festa, para surpresa dosseus familiares. Sentia-se cansado; mashoje nós vemos que ele sabia que es-tava chegando a sua hora. Estava sepreparando espiritualmente.

Agora falaremos um pouco do ladopessoal deste jornalista. Pessoa amá-vel e sempre com uma palavra de ca-rinho, uma mão sempre disposta a aju-dar. Não tinha quem o conhecesse ejá no primeiro encontro não o admi-rasse. Por onde passou, ajudou muitagente, mas como um bom espírita nãofazia questão de se vangloriar destasajudas. Um excelente pai, que criou,educou e deu o caminho certo para queseus filhos pudessem crescer e cami-nhar sozinhos. Viu e se orgulhou de

presenciar seus filhos se formarem;mas uma parte da missão estava sen-do cumprida. Sua obra não poderiaterminar sem um grande presente deDeus. E ele veio no mês de janeiro, deforma grandiosa e sublime: uma netalinda que a ele foi dado o prazer de daro nome. Luanda, assim como a capi-tal angolana, que ele se encantou aoconhecer nos anos 80.

Depois disso tudo, ele foi, desencar-nou, foi para um mundo melhor doque este em que nós aqui ficamos. Foiencontrar velhos amigos que ele tan-to amava, como o seu grande parcei-ro Manuel da Paixão Pires. Foi encon-trar seus pais e familiares que o aguar-davam de braços abertos. Agora nes-te momento nós não o vemos, mas elenos vê e tenho certeza de que está fe-liz e olhando por todos nós.

Este, homem, negro com orgulho,grande crítico musical, jornalista, é omeu pai, José Carlos Rego, de quemme orgulho muito.

Pai, que seguramente está aqui en-tre nós, te digo poucas palavras: Obri-gado! Até breve! Do seu filho que teama e sempre te amará.

A partir de agora, estaremos con-versando e trocando idéias no planoespiritual. (a) Rodrigo Ernesto deAndrade Rego, 5 de março de 2006.”

Zé Carlos deve ter sido recebidoDo outro lado, por muita gente boa...Pois em samba era autoridade!Pires, Waldinar, Haroldo Bonifácio, é sabidoQue lá, como cá, sempre soaO som das palmas da sinceridade!...

O gentleman jornalista partiuO comentarista do samba deixa saudadePois marcou muito bem seu espaço...Era espírita e isso certamente influiuEm seu caminho de autenticidade:Um bom retorno, amigo. E forte abraço!

Adail José de Paula

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CONSAGRAÇÃO

Nélson, o primeirocineasta de fardão

O jornalista e cineasta Nélson Pe-reira dos Santos foi eleito em 9 demarço para a cadeira número 7 da Aca-demia Brasileira de Letras, na qual vaiocupar a vaga do Embaixador SérgioCorrea da Costa, falecido em setem-bro. Nélson será o primeiro cineastaa vestir o fardão da Academia.

Concorrendo com o ex-Governadorda Paraíba Ronaldo Cunha Lima, osescritores Jorge Tannuri, Paulo Hirano,Waldemar Cláudio dos Santos e DárioCastro Alves, que retirou sua candida-tura antes da sessão de eleição, Nélsonfoi prestigiado pelo alto quórum veri-ficado: dos 38 acadêmicos, 34 compa-receram ao chamado Petit Trianon paraparticipar da votação. Estiveram pre-sentes, entre outros, os acadêmicosMarcos Vinícios Vilaça, Presidente daAcademia; Cícero Sandroni, Secretá-rio-Geral; Antônio Carlos Secchin,Tesoureiro; Ana Maria Machado, Pri-meira-Secretária; Evanildo Bechara,Ivan Junqueira, Alberto da Costa eSilva, Ledo Ivo, Eduardo Portela,Sábato Magaldi, Antônio Olinto,Arnaldo Niskier, Murilo Melo Filho,Carlos Nejar, Sérgio Paulo Rouanet,Afonso Arinos Filho, Moacir Scliar,Hélio Jaguaribe e Cândido Mendes.

Autor de Memórias do cárcere é eleitopara a Academia Brasileira de Letras.

Nélson Pereira dos Santos consa-grou-se como diretor de filmes, masseu currículo no cinema é diversifica-do, pois trabalhou também como ro-teirista, argumentista, editor (mon-tador), produtor e co-produtor, alémde assistente de direção, no começoda carreira, em São Paulo, onde nas-ceu e se formou em Direito. Ele levoupara a tela importantes obras da lite-ratura brasileira, como Vidas secas eMemórias do cárcere, de GracilianoRamos, A terceira margem do Rio, deGuimarães Rosa, Tenda dos Milagres,de Jorge Amado, e O Alienista, de Ma-chado de Assis, transformado no fil-me Azyllo muyto louco. Essa ligação coma literatura levou a Academia a lheprestar homenagem com um prêmioespecial, em 2005.

Em 1962, quando terminou Vidassecas, Nélson estava licenciado do Jor-nal do Brasil, do qual era redator copi-desque. Sob o comando de Jânio deFreitas como secretário de Redação e,depois, nessa função, de José RamosTinhorão e Nilson Lage, integravauma equipe formada por Décio VieiraOttoni, Hélio Pólvora, José BandeiraFilho, Lago Burnett, Maurício Azêdo,Sérgio Noronha e Waltensir Dutra.

A Academia premiara Nélson em 2005. Agora lhe deu o prêmio maior: a cadeira n° 7.

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Jornal da ABI

OOOOOutro dia fiquei sabendo, peloABI Online, que o nosso Mar-cos de Castro começou a car-reira como revisor, na Tribu-na da Imprensa. E me deu von-

tade de escrever algumas coisas sobreesta categoria de jornalistas pratica-mente extinta, substituída pelos re-cursos da informática, que permitemaos profissionais responsáveis pelofechamento revisar o texto na tela docomputador. Assim como o Marcos,também comecei na Revisão — em-bora sem ter, nem de longe, sua baga-gem cultural e, já naquela época, seuconhecimento do nosso idioma.

Meu querido e saudoso pai, Dia-mantino Marques, foi revisor de OGlobo durante muitos anos. Por suasmãos amigas fui levado a um estágiono Correio da Manhã, numa época emque ele tinha razões de sobra para sepreocupar com o meu futuro. Era 1968e eu, com apenas 17 anos, vivia umaadolescência turbulenta como aque-les tempos de ditadura, guerra fria,psicodelismo, contestação.

Com meu Português capenga, tiveque juntar forças para vencer a insegu-rança e entrar naquele jornal que era,então, um dos maiores e mais impor-tantes do País. Fui recebido com sim-patia pelo Dilo Potrik, um dos subchefes,morto precocemente em um acidentede carro. Naquele mesmo dia o Dilocomeçou a me dar alguns serviços, sem-pre supervisionados pelos mais expe-rientes. Era assim que, até o final dosanos 60, os jornalistas eram iniciadosna profissão — fosse como revisores, re-pórteres ou redatores.

A Revisão do Correio, no segundoandar do edifício da Avenida GomesFreire, era um time de craques. Jamaisme esquecerei daquela sala grande eenfumaçada, numa época em que jor-nalista e fumante eram quase sinônimos.Por volta das 20 horas, no fechamentodo jornal, com grande parte da equipepresente, uma névoa de nicotina e alca-trão baixava sobre todos nós. Tudo issoera novidade para mim: as discussões po-líticas inflamadas às vésperas do AI-5,os sinais de revisão que meu pai me en-sinou em casa e até mesmo o mobiliário— mesas pesadonas, de aço, com umameia lua de cada lado, onde a dupla de

HISTÓRIA ����� Por Rogério Marques

Uma evocação do trabalho no Correio da Manhãno fim dos anos 60, começo da década de 70.

revisores se encaixava para o trabalhodiário. E que trabalho importante! En-quanto um lia em voz alta a prova tipo-gráfica do linotipista, o outro acompa-nhava, atento, no original do redator.

Era preciso muito cuidado porque àsvezes o linotipista — outro profissio-nal que desapareceu dos jornais com ainformatização — saltava frases ou atémesmo parágrafos. Quantos erros erameliminados ali, naquele trabalho! Maso ofício do revisor nunca foi valoriza-do pelas empresas. Se repórteres e re-datores já naquele tempo ganhavammal, pior ainda os revisores. Não erampoucos os que trabalhavam em dois eaté três empregos com turnos de cincohoras cada um. Alguns lutavam con-

erro que um revisor pode cometer —,foi no dia em que transformei o certoem errado: alterei a palavra peripéciapara “peripércia”. Fui salvo pela expe-riência de um grande linotipista, oEsteves, que entrou na Revisão e entre-gou ao subchefe Anésio a prova tipo-gráfica com a minha “correção”. Anésiolevou-a até a mim e disse baixinho, emtom solene: “Há algo de podre no reinoda Dinamarca com esta emenda que osenhor fez”. Naquele momento me sen-ti mais infeliz que o próprio Hamlet,traído pela minha incúria.

Sobrinho-neto do ex-presidente Flo-riano Peixoto e também alagoano, JoséMaria de Sá Peixoto, ou simplesmentePeixoto, já falecido, foi amigo e profes-sor. Para desgosto de sua tradicionalfamília, era boêmio como tantos outrosjornalistas. Boêmio e eterno brincalhão.Quando bebia cerveja, já meio alto,gostava de dizer que era um “brâmane”e que seu aeroporto predileto era o deViracopos, em Campinas. Peixoto sa-bia Português como poucos. Às vezes,os colegas brincavam de desafiá-lo, pro-curando no dicionário as palavras maisestranhas, que ele “decifrava” tranqüi-lamente, uma a uma.

Não raro a política provocava divisõesinternas, naqueles tempos de GuerraFria. A ala esquerda, maioria, às vezes seestranhava com a direita. Algumas ve-zes saí com colegas para atravessar a Ave-nida Chile e acompanhar as passeatasdo movimento estudantil na Rio Bran-co — mais uma novidade para os meus17 anos. O Partido Comunista Brasilei-ro, com simpatizantes e filiados em to-das as Redações, estava presente tam-bém nas Revisões, e no Correio não eradiferente. Através de Derlan Navarro,que um dia me deu alguns exemplaresda Voz Operária — o jornal do PCB —,acabei me aproximando do Partido. Masdezembro também se aproximava, e comele o Ato 5. O resto é o que se sabe: nodia 9 de junho de 1974, sufocado pelatruculência da ditadura, o Correio daManhã deixou de circular. Acabava, as-sim, o jornal que 10 anos antes exigiu adeposição do presidente constitucional,João Goulart, nos famosos editoriais“Chega!” “Basta!” e “Fora!”.

Rogério Marques, jornalista, é sócio da ABI.

tra o sono e chegavam a cochilar namesa, sobre os papéis, na hora do servi-ço. A maioria morava no subúrbio. Equase todos se destacavam pelo profun-do conhecimento do Português: DerlanNavarro, José Fernandes, Carlos AlbertoMalcher, Olímpio Marques dos Santos,Hélio Barbosa Gomes, Bento HyarupCabral e José Maria de Sá Peixoto, en-tre tantos outros. A generosidade e a pa-ciência daqueles colegas foram funda-mentais para que eu seguisse em fren-te na vida profissional.

Lembro perfeitamente do momentoem que aprendi o significado ou a grafiacorreta de determinadas palavras, etambém de alguns erros que cometi.O mais grave, com certeza — e o pior

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Aqueles velhos bonstempos da Revisão