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MÁRCIO CASTANHA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS COMO FATOR ESTRATÉGICO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO SETOR FARMACÊUTICO Dissertação apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Engenharia de Produção. Orientador: Prof. Dr. Fernando César Almada Santos SÃO CARLOS 2004

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2004D_MarcioCastanha CONTABEIS

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  • MRCIO CASTANHA

    GESTO DE RECURSOS HUMANOS COMO FATOR ESTRATGICO DA GESTO DO CONHECIMENTO: ESTUDO

    DE CASO EM UMA EMPRESA DO SETOR FARMACUTICO

    Dissertao apresentada Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de mestre em Engenharia de Produo.

    Orientador: Prof. Dr. Fernando Csar Almada Santos

    SO CARLOS 2004

  • minha me,

    pelo apoio durante toda minha vida.

  • Agradecimentos

    s pessoas de que de alguma forma contriburam para que este trabalho fosse

    concludo, como a amiga Mrcia que foi grande incentivadora desde o incio.

    Em especial ao Prof. Dr. Fernando Csar Almada Santos, que, alm de

    orientador, um exemplo de dedicao profissional a se seguir.

    Aos gerentes da empresa que trabalho que possibilitaram a realizao deste

    curso.

    minha namorada, Maria Teresa, pelo seu apoio em todos os momentos e

    tambm pela compreenso das abdicaes que tivemos.

    Aos professores e funcionrios do departamento de Engenharia de Produo.

  • RESUMO

    CASTANHA, Mrcio. Gesto de recursos humanos como fator estratgico da gesto

    do conhecimento: estudo de caso em uma empresa do setor farmacutico. So Carlos,

    2004. 146 p. Dissertao (Mestrado) Escola de Engenharia de So Carlos,

    Universidade de So Paulo.

    As mudanas no ambiente empresarial tm acontecido em uma freqncia cada

    vez maior e as organizaes buscam formas de aumentar suas capacidades de adaptao

    e, conseqentemente, sua competitividade no mercado. Neste sentido, tem se

    relacionado a obteno de vantagem competitiva com o tratamento que a empresa d

    aos seus funcionrios e aos seus ativos intelectuais, como o conhecimento. dentro

    deste enfoque, que as organizaes tm empregado ferramentas de gesto do

    conhecimento. A partir dessa constatao, este trabalho procura observar a gesto de

    recursos humanos como fator estratgico para a gesto do conhecimento. Para tanto, foi

    realizado inicialmente, uma reviso na literatura, que permitiu o desenvolvimento de

    questes para analisar a influncia da gesto de recursos humanos em iniciativas em

    gesto do conhecimento. tambm realizado um estudo de caso para observar na

    prtica as constataes da literatura. A pesquisa identificou que a rea de recursos

    humanos pode contribuir efetivamente, atravs de prticas e polticas, para que esforos

    em gesto do conhecimento sejam bem sucedidos.

    Palavras-chave: gesto do conhecimento, gesto de recursos humanos, competncias.

  • ABSTRACT

    CASTANHA, Mrcio. Gesto de recursos humanos como fator estratgico da gesto

    do conhecimento: estudo de caso em uma empresa do setor farmacutico. So Carlos,

    2004. 146 p. Dissertao (Mestrado) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade

    de So Paulo.

    The changes of the organizational environment have happened with a high

    frequency and the organizations search for ways to improve their capacities of

    adaptation and, consequently, their competitiveness in the market. In this way, the gain

    of competitive advantage is related to treatment that the company gives for their

    employees and for their intellectual assets, like the knowledge. Within this context the

    organizations have utilized tools of knowledge management. Following this argument,

    this work discusses the human resources management as strategic factor for the

    knowledge management. It was initially accomplished a literature revision, that allowed

    the development of subjects to analyze the influence of human resources management in

    the initiatives of knowledge management. This work also presents a case study that

    discusses in practice the observations from the literature. The research identified that the

    human resources department can effectively contribute, through policies and practices,

    for success of knowledge management implementation.

    Key words: knowledge management, human resources management, competencies.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 3.1 Componentes da gesto do conhecimento................................................. 35

    Figura 3.2 Dos smbolos ao conhecimento ................................................................. 37

    Figura 3.3 As competncias na organizao............................................................... 44

    Figura 3.4 As quatro formas de converso do conhecimento ..................................... 56

    Figura 4.1 Modelo conceitual sobre gesto do conhecimento na empresa ................. 71

    Figura 4.2 O fluxo das capacidades organizacionais .................................................. 74

    Figura 4.3 Circuito simples e circuito duplo de aprendizagem................................... 80

    Figura 4.4 Modelo do processo de aprendizagem organizacional .............................. 81

    Figura 5.1 Plataforma do projeto CLM..................................................................... 109

    Figura 6.1 O CLM no contexto organizacional ........................................................ 130

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 2.1 caractersticas-chave de quatro sociedades bsicas............................. 17

    Quadro 2.2 Alocao da fora de trabalho nas eras econmicas ........................... 28

    Quadro 3.1 Competncias individuais e organizacionais ...................................... 46

    Quadro 3.2 Transferncia do conhecimento: possveis atritos e solues ............. 58

    Quadro 3.3 Propsito e valores da empresa Merck ............................................... 63

    Quadro 3.4 Condies para a criao e transferncia do conhecimento................ 70

    Quadro 4.1 Os papeis da rea de recursos humanos na gesto do conhecimento.. 72

    Quadro 4.2 Arquitetura para o diagnstico organizacional ................................... 76

    Quadro 4.3 Ligando estratgia com prticas de recursos humanos. ...................... 78

    Quadro 4.4 Diagnosticando como as prticas de recursos humanos esto alinhadas

    com o contexto organizacional: cinco fatores..................................... 89

    Quadro 5.1 Organograma da empresa estudada................................................... 102

    Quadro 5.2 Organograma da rea de recursos humanos da empresa estudada.... 102

    Quadro 5.3 Utilizao do CLM............................................................................ 116

  • SUMRIO RESUMO

    ABSTRACT

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE QUADROS

    1 INTRODUO .................................................................................................... 10

    1.1 Justificativa e importncia do estudo .............................................................. 12

    1.2 Definio do problema da pesquisa ................................................................ 13

    1.3 Objetivo........................................................................................................... 13

    1.3.1 Objetivo principal .................................................................................. 13

    1.3.2 Objetivos secundrios ............................................................................ 13

    1.4 As hipteses do trabalho ................................................................................. 14

    1.5 Organizao do trabalho ................................................................................. 14

    2 EVOLUO HISTRICA .................................................................................. 16

    2.1 Eras histricas da economia. ........................................................................... 16

    2.1.1 A era pr-industrial ................................................................................ 18

    2.1.2 A era industrial....................................................................................... 19

    2.2 O desvendar dos mistrios dos artesos e a Revoluo Industrial .................. 19

    2.3 Taylor e a revoluo da produtividade............................................................ 21

    2.4 A era e a sociedade do conhecimento ............................................................. 25

    3 GESTO DO CONHECIMENTO ....................................................................... 30

    3.1 Gesto do conhecimento: uma delimitao..................................................... 31

    3.2 Dados, informaes e conhecimento. ............................................................. 36

    3.3 Conhecimento e competncias: o capital humano. ......................................... 42

    3.4 Elementos da gesto do conhecimento. .......................................................... 49

    3.4.1 Identificao do conhecimento. ............................................................. 50

    3.4.2 Codificao e transferncia do conhecimento........................................ 54

    3.4.3 Aquisio de conhecimento. .................................................................. 58

    3.4.4 Criao de conhecimento: as condies capacitantes. ........................... 59

    4 GESTO DE PESSOAS ...................................................................................... 71

    4.1 Recursos humanos como parceiro estratgico: a criao da clareza estratgica

    ...................................................................................................................... 72

  • 4.2 Recursos humanos e o aumento das competncias e do comprometimento dos

    funcionrios: a criao do capital humano................................................... 79

    4.3 Recursos humanos como agente da mudana cultural................................. 87

    4.4 Gesto de pessoas para a gesto do conhecimento: constataes da literatura

    ..................................................................................................................... 90

    5 ESTUDO DE CASO............................................................................................. 93

    5.1 Metodologia da pesquisa.............................................................................. 93

    5.1.1 Classificao do estudo.................................................................... 93

    5.1.2 O mtodo da pesquisa ...................................................................... 94

    5.1.3 O estudo de caso............................................................................... 95

    5.1.4 Seleo do caso para estudo............................................................. 97

    5.1.5 Fontes de dados e de informaes e procedimentos de campo........ 97

    5.2 Caracterizao da empresa........................................................................... 98

    5.2.1 A rea de recursos humanos no Brasil ........................................... 101

    5.2.2 As iniciativas em gesto do conhecimento .................................... 105

    5.4 O projeto estudado ..................................................................................... 108

    5.4.1 O que o projeto CLM? ................................................................ 110

    5.4.2 A percepo do projeto CLM pelos usurios................................. 113

    5.4.3 A percepo do projeto pela alta administrao ............................ 119

    5.5 Consideraes finais .................................................................................. 123

    6 CONCLUSES .................................................................................................. 126

    REFERNCIAS

    APNDICE A Roteiro de entrevistas com o gerente de recursos humanos

    APNDICE B Roteiro de entrevistas com o gerente de tecnologia de informao

    APNDICE C Roteiro de entrevistas com os gerentes de vendas, produto, pesquisa

    clnica e produo

    APNDICE D Roteiro de entrevistas com o diretor de unidade de negcios

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  • Referncias Bibliogrficas

    142

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  • 1 INTRODUO

    O mundo vem passando por uma srie de mudanas histricas polticas,

    econmicas e sociais e as organizaes que so sistemas abertos e tm direta relao

    com o ambiente externo, acabam por absorver muito destas alteraes e tendo, que

    assim, se ajustar s novas formas com que os processos de negcio passam a ser

    conduzidos.

    So diversos os itens sobre inovaes que as organizaes esto tendo que se

    ajustar, entre estes alguns podem ser destacados:

    o avano das tecnologias de produo; o avano nas tecnologias de informao; as inovaes na rea de telecomunicaes; a globalizao dos mercados; a formao de blocos econmicos; o aumento do uso da Internet; o aumento das exigncias dos consumidores; a fuso de grandes organizaes.

    Esses e outros diversos assuntos tm traado alteraes importantes na forma

    com que os administradores analisam e interpretam os fenmenos organizacionais,

    alterando assim o comportamento das organizaes e sua capacidade de resposta frente

    s contingncias que o mercado impe. Essa capacidade de adaptao s circunstncias

    da realidade mundial e local uma questo primordial e pode apontar a sobrevivncia

    das organizaes no processo de globalizao da sociedade.

    As empresas esto percebendo a necessidade de continuamente aperfeioarem

    seus produtos ou servios, para suportar as ameaas do ambiente e superar as

    expectativas dos seus clientes, que atualmente tm um nvel de exigncia bastante

  • Captulo 1 - Introduo

    11

    apurado devido grande oferta oferecida pelo mercado, que d prioridade a produtos e

    servios eficientes, que tragam solues inovadoras, com custo acessvel e que sejam

    providos de qualidade.

    Na busca de vantagem competitiva no s aquelas provenientes de liderana

    em custo, uso de tecnologia de ponta ou excelncia operacional um aspecto tem sido

    constantemente destacado: o conhecimento que uma organizao detm. A utilizao

    deste recurso tem se mostrado importante no combate s ameaas e maior

    aproveitamento das oportunidades internas e externas organizao, e como afirma

    Drucker (1999: XVI-XVII), a nova fonte de riqueza para uma sociedade chamada

    sociedade do conhecimento.

    No se fala aqui apenas do conhecimento gerado pelos laboratrios de pesquisa

    e desenvolvimento, que resulta em inovaes e novos produtos, mas tambm da grande

    importncia do conhecimento gerado e transmitido em processos dirios de trabalho por

    toda a organizao, da linha de produo alta administrao.

    Nesta questo h que se observar o aspecto relacionado s pessoas e como elas

    so gerenciadas nas organizaes, qual a valorizao que a empresa d ao seu capital

    humano que o detentor do conhecimento.

    Entende-se neste trabalho o capital humano como sendo toda capacidade,

    conhecimento, habilidades e experincias individuais dos empregados e gerentes

    (EDVINSSON E MALONE, 1998:17).

    Ento, como se mostra nos prximos Captulos, duas reas da administrao so

    consideradas para anlise neste trabalho, a gesto do conhecimento e a gesto de

    pessoas.

    De uma forma simples pode-se entender a gesto do conhecimento como

    estando intrinsecamente ligada ao conceito de capital humano: deve ser vista como um

    instrumento que possibilite identificar, mapear, medir, gerenciar e, principalmente

    explicitar estes ativos intangveis talento, criatividade, intuio, capacidade de anlise

    e contextualizao que existem na cabea das pessoas e que gera riqueza para as

    organizaes (SANTOS, 2002:21).

    J a gesto de pessoas, ou gesto de recursos humanos, vista como uma funo

    vital dentro deste novo conceito de competitividade baseada em competncias e

    conhecimento, assim, como se mostra neste trabalho, a gesto de pessoas observada

    em trs aspectos de possveis contribuies: a criao de uma clareza estratgica dentro

  • Captulo 1 - Introduo

    12

    da organizao, a criao e o aumento do capital humano e sendo um agente das

    mudanas culturais. O autor acredita que estas trs proposies so importantes em

    iniciativas na rea de gesto do conhecimento como se destaca nos Captulos

    posteriores.

    dentro deste contexto que est inserido o presente trabalho, que pretende

    identificar as possveis ligaes existentes entre prticas e polticas de gesto de

    recursos humanos e iniciativas em gesto do conhecimento. O objetivo genrico do

    estudo compreender como as aes enfocando a gesto de pessoal podem influenciar e

    facilitar as iniciativas da organizao na rea de gesto do conhecimento.

    1.1 Justificativa e importncia do estudo

    A transio da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento tem

    decorrido principalmente dos avanos tecnolgicos, da globalizao dos mercados e da

    desregulamentao das economias, tendo reflexo na organizao social, poltica e

    econmica das naes e, portanto, influenciando tambm a gesto das empresas.

    Nesta mudana pela qual o mundo vem passando, como j afirmado, o

    conhecimento que uma organizao detm considerado como recurso-chave.

    O potencial de criao do conhecimento inerente s pessoas que trabalham nas

    organizaes e o uso pleno do conhecimento dos profissionais tem sido referido

    constantemente na literatura como fator estratgico de sucesso.

    Os programas de qualidade juntamente com a propagao da experincia

    japonesa contriburam para o reconhecimento da importncia do fator humano no

    trabalho, mostrando o potencial que exerce no desempenho e na competitividade

    organizacionais.

    Porm, com a popularizao do uso de tecnologias de informao e do conceito

    de gesto do conhecimento as organizaes precisaram ir mais alm nas suas prticas e

    polticas de recursos humanos. Espera-se agora que esta rea contribua efetivamente

    para o resultado dos negcios, fazendo um diagnstico das necessidades de

    conhecimento da organizao e aumentando a competncia dos funcionrios e o seu

    potencial de aprendizagem.

    Em termos acadmicos, este estudo ser importante na medida que possa

    contribuir para uma melhor compreenso da teoria envolvendo gesto do conhecimento

  • Captulo 1 - Introduo

    13

    e gesto de recursos humanos e, em termos prticos propiciar o aperfeioamento do

    processo de planejamento dos sistemas de gesto de pessoas para organizaes que

    pretendam atuar ativamente com prticas de gesto do conhecimento.

    1.2 Definio do problema da pesquisa

    Considerando que o objetivo genrico deste trabalho compreender como as

    aes enfocando a gesto de pessoal podem influenciar e facilitar as iniciativas da

    organizao na rea de gesto do conhecimento e observando que, para Kerlinger

    (1980), um problema deve ser apresentado como uma pergunta na qual procura-se

    descobrir a relao entre duas ou mais variveis, sendo possvel testar estas relaes

    empiricamente, formula-se o problema deste trabalho da seguinte forma:

    Como as prticas e polticas relacionadas com a gesto de recursos humanos

    podem influenciar e facilitar os resultados esperados com a implementao de

    iniciativas em gesto do conhecimento?

    1.3 Objetivos

    Neste trabalho os objetivos so divididos em duas categorias: objetivo principal

    e objetivos secundrios.

    1.3.1 Objetivo principal

    analisar como as polticas e prticas de gesto de recursos humanos influenciam e facilitam as iniciativas na rea de gesto do conhecimento.

    1.3.2 Objetivos secundrios

    caracterizar, atravs de reviso bibliogrfica, o conceito de gesto do conhecimento e gesto de recursos humanos;

    estabelecer os elementos de ligao entre a gesto de recursos humanos e a gesto do conhecimento;

  • Captulo 1 - Introduo

    14

    identificar os aspectos que so apontados, em um estudo de caso, como sendo impactantes na gesto de recursos humanos e na gesto do

    conhecimento.

    1.4 As hipteses do trabalho

    As hipteses que orientam este trabalho so as seguintes:

    As prticas e polticas de recursos humanos influenciam a implementao de projetos em gesto do conhecimento;

    A rea de recursos humanos tem trs papis principais para contribuir com um ambiente favorvel gesto do conhecimento:

    o recursos humanos atua como parceiro estratgico alinhando sua atuao com a estratgia empresarial;

    o recursos humanos participa da formao das competncias e comprometimento dos funcionrios;

    o recursos humanos um agente da mudana cultural da organizao para que as iniciativas em gesto do conhecimento tenham mais

    aceitabilidade.

    A rea de recursos humanos deve participar ativamente das iniciativas em gesto do conhecimento.

    1.5 Organizao do trabalho

    O trabalho dividido em seis Captulos. No Captulo 1, faz-se uma introduo

    ao assunto expondo-se os objetivos e hipteses da pesquisa.

    Os Captulos 2, 3 e 4 trazem uma contextualizao terica do tema abordado na

    dissertao.

    O Captulo 2 mostra a evoluo ocorrida atravs das eras histricas da economia,

    abordando-se a era pr-industrial, que seguida pela era industrial e d bastante nfase

    ao que se convencionou chamar era do conhecimento. Traz caractersticas destas eras e

    tambm procura observar algumas mudanas ocorridas com a revoluo industrial e

    com a administrao cientfica colocada por Taylor.

  • Captulo 1 - Introduo

    15

    J o Captulo 3 trata da gesto do conhecimento em si, trazendo os conceitos

    mais relevantes para o seu entendimento. Faz-se uma delimitao do assunto o qual o

    trabalho pretende priorizar, mostra os aspectos que diferenciam os dados, informaes,

    conhecimento e competncias. Procura-se mostrar elementos da gesto do conhecimento

    como: identificao, converso, aquisio, criao e transferncia do conhecimento.

    O Captulo 4 aborda a gesto de pessoas, observando-se aspectos referentes

    rea de recursos humanos que contribuem para uma adequada implementao das

    iniciativas de gesto do conhecimento e mostra a importncia desta rea em trs frentes:

    (1) recursos humanos como parceiro estratgico, (2) recursos humanos na criao de

    capital humano e (3) recursos humanos como agente da mudana cultural.

    Os Captulos 5 e 6 trazem o estudo de caso e a concluso do trabalho. No

    Captulo 5 interpretam-se e analisam-se os dados resultantes da pesquisa emprica

    realizada. No Captulo 6 realizam-se as concluses em que se relaciona a reviso

    bibliogrfica com os resultados da pesquisa emprica. As referncias bibliogrficas e os

    apndices so colocados aps o texto.

  • 2 EVOLUO HISTRICA

    Este Captulo procura mostrar uma passagem da evoluo histrica em torno da

    qual as organizaes foram se desenvolvendo. O objetivo traar um panorama

    evolutivo at a era do conhecimento, como tem sido chamado o momento atual. So

    abordadas algumas caractersticas gerais de cada era histrica mencionada, sem, no

    entanto, ter-se pretenses de levantamento histrico minucioso.

    Este Captulo divide-se em:

    Eras histricas da economia: Era pr-industrial; Era industrial.

    O desvendar dos mistrios dos artesos e a Revoluo Industrial; Taylor e a revoluo da produtividade; A era e a sociedade do conhecimento.

    2.1 Eras histricas da economia

    Acredita-se que estamos vivendo uma nova era econmica baseada no

    conhecimento ou uma sociedade baseada no conhecimento. Antes disso, porm, a

    sociedade passou por alguns estgios evolutivos: da sociedade primitiva para a

    sociedade agrcola, desta para a sociedade industrial e passando, ento, para a sociedade

    do conhecimento. Antes de se observar as principais caractersticas dessa sociedade do

    conhecimento, so mostradas algumas caractersticas das sociedades antecessoras, em

    especial da sociedade industrial. O Quadro 2.1 til para que uma caracterizao maior

    dessas sociedades mencionadas seja visualizada.

  • Capital humano o recurso fundamental. Capital fsico e mo-de-obra so os recursos fundamentais A terra o recurso fundamental Fonte de Riqueza

    Cooperao global: instituies so modeladas com base na propriedade e no controle do conhecimento com organizaes supra nacionais/os governos locais/ as principais unidades do governo e a democracia participativa definem as normas

    Capitalismo e Marxismo: leis, religio, classes sociais e polticas so modelados de acordo com os interesses da propriedade e do controle do investimento de capital Nacionalismo: governos centralizados e fortes tanto na forma de governo representativo como na forma ditatorial

    Feudalismo: leis, religio, classes sociais e polticos atrelados ao controle das terras com autoridade transmitida hereditariamente (regras aristocrticas): a comunidade local a unidade poltica bsica.

    Tribo unidade poltica bsica na qual os ancios e o chefe governam

    Sistema Poltico

    Economia global integrada cuja atividade econmica central a proviso de servios de conhecimento com maior fuso e entre produtor e consumidor. Organizaes empreendedora de pequeno porte cujo meio tm um ganho diretamente

    Economia de mercado nacional, cuja atividade econmica a produo de bens padronizados, tangveis com diviso entre produo e consumo. Diviso complexo da mo-de-obra baseada em habilidades especficas, modo de trabalho padro e organizaes com vrios nveis hierrquicos

    Economia local descentralizada e auto-suficiente cuja atividade econmica central a produo e o consumo de alimentos, sem atividades de mercado significativas. Simples diviso do trabalho em funo da comunidade com poucos e bens definidos nveis de autoridades (nobreza, sacerdotes, guerreiros, escravos e servos)

    Coleta, caa ou pesca Economia

    Energia: natural (sol, vento), nuclear Materiais: recursos renovveis (biotecnologia), cermica, reciclagem Ferramentas: mquinas para ajudar a mente (computadores e eletrnica relacionada) Mtodos de produo: robs Sistema de transporte: espacial Sistema de comunicaes: comunicaes individuais ilimitada atravs de meios eletrnicos.

    Energia: combustveis fsseis (leo, carvo) Materiais: recursos no-renovveis (metais e etc). Ferramentas: mquinas para substituir a fora humana (motores) mtodos de produo: linha de montagem e partes intercambiveis Sistema de transporte: barco a vapor, ferrovia, automvel e avio Sistema de comunicao: imprensa, televiso

    Energia: natural (humana, animal, vento) Materiais: recursos renovveis (rvores, algodo, l) Ferramentas: Fora muscular humana ampliada (alavancas e guinchos) ou foras naturais dirigidas (navegao, roda dgua) Mtodos de produo: artesanato Mtodos de transporte: cavalo, carroa barco a vela Sistema de comunicao: manuscrito

    Energia: energia humana Materiais: pele de animais, pedras Ferramentas: mnimas para cortar e moer Cortar/moer (normalmente feitas de pedra). Mtodos de produo: nenhum Sistema de Transporte: caminhar Sistema de comunicao: vs humana

    Tecnologia

    Sociedade do Conhecimento Sociedade IndustrialSociedade AgrcolaSociedade Primitiva

    Fonte: Adaptado de Crawford (1993:18)

    Quadro 2.1 Caractersticas-Chave de Quatro Sociedades Bsicas.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica 18

    2.1.1 A era pr-industrial

    A economia pr-industrial, composta pelas economias primitiva e agrcola,

    tinha como base o extrativismo, ou seja, a extrao de recursos provenientes do meio

    ambiente. O principal recurso que movimentou essa economia foi a propriedade da

    terra; era rica a pessoa que detinha a sua plantao ou mina (CRAWFORD,

    1993:19).

    No mesmo perodo em que se passava a era pr-industrial, observava-se uma

    variao nos sistemas de produo. Cando (1987:10-25) oferece uma descrio

    desses sistemas provenientes, sobretudo, das evolues ocorridas no setor txtil at o

    sculo XIX.

    O sistema de produo familiar era a unidade industrial tpica do arteso

    independente, possuidor de sua oficina e de seus utenslios de trabalho. Contava com

    o auxlio de aprendizes sob a direo do chefe de famlia. Os trabalhadores numa

    oficina estavam organizados de forma hierrquica, indo do aprendiz ao mestre, em

    vrios nveis, at atingir o chefe. Todos viviam na mesma casa e participavam da

    vida do patro, at adquirirem tambm o grau de mestre, atravs de um trabalho

    considerado de alta qualidade. Notou-se, nessa poca, o surgimento das corporaes

    de ofcio ou guildas, que eram associaes daqueles que se ocupavam do mesmo

    ofcio. As guildas protegiam os conhecimentos de produo que seus associados

    detinham.

    O comrcio ampliou-se com as Grandes Navegaes. Com o aumento da

    procura por mercadorias, os artesos comearam a se ligar aos mercadores. Em

    seguida, formaram-se as manufaturas, grandes locais em que se reuniam diversos

    artesos que possuam as habilidades tcnicas para produzir as mercadorias, mas a

    gesto era reservada ao empresrio.

    Um outro sistema foi o da produo domiciliar, que se caracterizava pelo fato

    de que o arteso trabalhava em seu domiclio, para um patro, mediante salrio, sem

    estar submetido a ele no que dizia respeito direo das operaes tcnicas.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica

    19

    2.1.2 A era industrial

    No Quadro 2.1, pode-se notar a grande quantidade de descontinuidades

    ocorridas entre a era pr-industrial e a era industrial, sobretudo decorrentes da

    industrializao, em que novas idias de regras e responsabilidades foram impostas

    deslocando os modelos feudais, inerentes ao cultivo da terra.

    O incio da era industrial foi marcado pela obra A riqueza das naes,

    escrito em 1776, por Adam Smith. Havia, segundo ele, havia a necessidade de se ir

    alm do mercantilismo dos sculos XVI e XVII. Seu trabalho bastante amplo e

    diversas de suas contribuies fizeram com que muitas mudanas ocorressem neste

    perodo. Ele defendia que mais riquezas poderiam ser geradas atravs da aplicao

    adequada de trabalho na manufatura, utilizando-se do princpio da diviso do

    trabalho (AGOSTINHO, 2002:5).

    Adam Smith acreditava que a diviso do trabalho aumentaria a habilidade e

    destreza dos operrios de mo-de-obra no especializada, visto que eles repetiriam a

    mesma funo diariamente. Como conseqncia, perder-se-ia o contato com o

    processo como um todo, devido repetio da tarefa especfica. Com isso, seria

    eliminado o julgamento dos trabalhadores, um dos aspectos principais da sua

    definio de natureza do trabalho (AGOSTINHO, 2002:7).

    Na era industrial, o recurso econmico principal passa de propriedade da terra

    para capital e mo-de-obra, a produo industrial dos produtos a atividade principal

    e fundamental da economia e mais rico aquele que detm maior volume de capital

    fsico e financeiro (CRAWFORD, 1993:20).

    2.2 O desvendar dos mistrios dos artesos e a Revoluo Industrial

    Uma das primeiras iniciativas para que o conhecimento fosse formalizado foi

    a edio da Encyclopdie entre os anos de 1751 e 1772 pelos franceses Denis Diderot

    e Jean dAlembert. At ento, os artesos s passavam o conhecimento contido nos

    seus trabalhos, ou seja, os mistrios de como fazer as coisas, para seus aprendizes

    que, um dia, poderiam se tornar artesos. Com a Encyclopdie, os autores

    conseguiram organizar e sistematizar o conhecimento de diversas profisses

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica 20

    artesanais, de modo que um no-aprendiz pudesse vir a aprender como se tornar um

    arteso. Contaram com o apoio de pessoas como Voltaire e Rosseau, que

    contriburam com artigos, agindo como especialistas em informao, observando os

    artesos realizarem seus trabalhos para, depois, transferi-los para o livro

    (DRUCKER, 1999:13).

    Segundo Cando (1987:13), a Encyclopdie foi a obra cientfica mais

    importante do sculo XVIII, fazendo um balano dos conhecimentos tcnicos

    acumulados pela humanidade.

    Nesse mesmo perodo, surgiu uma grande inveno que faria com que o

    mundo passasse por uma das fases mais importantes da Histria. James Watt

    inventou o motor a vapor, dando origem ao que passou a se chamar revoluo

    industrial.

    Drucker (1999: 7-8) faz uma interessante anlise de como o motor a vapor

    mudou a histria do mundo e das organizaes. Entre 1765 e 1776, James Watt

    reprojetou o motor a vapor, focalizado por toda sua vida para um nico uso: bombear

    gua para fora de uma mina. Em seguida, o motor a vapor foi usado para bombear ar

    para dentro de um alto-forno; anos depois j estava sendo usado para diversos tipos

    de processos industriais, em especial para a indstria txtil. Logo surgiu o barco a

    vapor e, em seguida, a locomotiva.

    Sem dvida, o reprojeto do motor a vapor por James Watt foi um marco para

    as mudanas que o mundo e a sociedade vieram a sofrer, porm Drucker (1999:14)

    atribui os crditos da revoluo industrial Encyclopdie e s escolas tcnicas do

    sculo XVIII, que, apesar de no abordarem a criao de novos conhecimentos

    relacionados a ferramentas, processos e produtos, conseguiram sistematizar o

    conhecimento at ento existente.

    Elas (as escolas tcnicas e a Encyclopdie) reuniram, codificaram e

    publicaram a tchne*, o mistrio do artesanato, como havia sido

    desenvolvido ao longo de milnios. Elas converteram experincia em

    conhecimento, aprendizado em livro-texto, segredo em metodologia, fazer em

    * A palavra tchne de origem grega e significa o mistrio de uma habilidade, por volta de 1700 passou-se a utilizar a palavra tecnologia composta por tchne associada palavra logia que significa conhecimento sistematizado, organizado e significativo.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica

    21

    conhecimento. Esses so os fatores essenciais daquilo que chamamos de

    Revoluo Industrial a transformao, pela tecnologia, da sociedade e da

    civilizao do mundo inteiro (DRUCKER, 1999:14).

    Segundo Agostinho (2002:9), por volta de 1880, o tamanho, a complexidade

    e a extenso geogrfica das corporaes que provinham do incio da era industrial

    comearam a provocar o aparecimento de novas necessidades. As empresas passaram

    a ter hierarquias definidas e muito bem escalonadas. Observa-se que, aliado diviso

    do trabalho, houve a diviso do gerenciamento, a separao entre proprietrio e

    administrador e a separao entre pensar e fazer. Esse ltimo assunto, a separao

    entre pensar e fazer, o prximo tpico abordado.

    2.3 Taylor e a revoluo da produtividade

    Uma das primeiras contribuies para a teoria da administrao foi a obra de

    Frederick Winslow Taylor, Princpios da administrao cientfica em 1911

    (TAYLOR,1963), sem dvida, passados alguns anos, a administrao cientfica de

    Taylor, fez com que diversas outras teorias de administrao surgissem, muitas,

    como sabido, surgiram para se contrapor ao que Taylor pregava.

    natural que de uma idia derivem outras, como afirma Crawford (1993:16),

    os historiadores econmicos desenvolveram um modelo para entender a evoluo

    sofrida na economia e na sociedade nos ltimos 250 anos, o modelo diz que novos

    conhecimentos levam a novas tecnologias, que geram mudanas econmicas, que por

    sua vez acarretam mudanas sociais e polticas que conduzem a uma nova viso do

    mundo.

    Taylor contribuiu significativamente para a evoluo do pensamento

    administrativo, fazendo com que novas idias e preceitos fossem destacados a partir

    dos seus princpios. Este item do trabalho procura trazer uma abordagem da

    contribuio de Taylor observada por diversos autores, procurando mais a sua

    contribuio em termos de como ele influenciou as organizaes, da sua poca aos

    dias atuais.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica 22

    O destaque dado a alguns aspectos dos princpios defendidos por Taylor tem

    o intuito de mostrar algumas abordagens dadas ao conhecimento em outras pocas, j

    destacado neste trabalho, como por exemplo, a edio da Encyclopdie. Acredita-se

    que fatos como esse trouxeram impacto em pontos que so, mais adiante, defendidos,

    sem pretenso de defender uma corrente terica especfica.

    Drucker (1999:18) expe que a principal motivao de Taylor para

    desenvolver o estudo do trabalho (uma das tcnicas da administrao cientfica,

    composta pelo estudo do mtodo e da medio do trabalho) foi a sua indignao

    perante a falta de entendimento entre os proprietrios e os trabalhadores. Procurou

    desenvolver mtodos para que os trabalhadores pudessem ser mais produtivos, e com

    isso, receber mais pela produo alcanada, ter salrios melhores. At a sua morte,

    sempre procurou deixar claro que os principais beneficirios da produtividade

    deveriam ser os trabalhadores e no o patro. Queria ver uma sociedade em que

    houvesse interesse comum pela produtividade, com relacionamento harmonioso entre

    as partes, atravs da aplicao do conhecimento ao trabalho.

    As pessoas que chegaram mais perto de entender isso at hoje foram os

    empregados e os lderes sindicais do Japo ps Segunda Guerra Mundial

    (DRUCKER, 1999:18).

    Sampson (1996:59-60), contextualiza a administrao cientfica sua poca,

    porm, coloca a sua viso, procurando fazer justia a Taylor:

    Na verdade, Taylor era muito mais humano que a maioria dos donos de

    fbricas e preocupava-se muito com a harmonia no local de trabalho, tal

    como os industriais japoneses que vieram depois. Em sua obra clssica

    Principles of scientific management (Princpios da administrao cientfica),

    publicada em 1911, ele argumentava que trabalhadores e patres deveriam

    ter responsabilidades mais iguais e que os operrios deveriam ser

    estimulados a sugerir melhorias o que hoje parece muito japons. Insistia

    que os gerentes uma palavra de que no gostava deveriam estudar as

    caractersticas dos trabalhadores e ajud-los a progredir, e se tornarem

    servidores dele, no seus senhores.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica

    23

    Situando a importncia da contribuio de Taylor, Drucker relata:

    Quando o conhecimento mudou de significado h duzentos e cinqenta

    anos, ele comeou a ser aplicado a ferramentas, processos e produtos. Esse

    ainda o significado da tecnologia para a maioria das pessoas e tambm o

    que est sendo ensinado nas escolas de engenharia. Mas dois anos antes da

    morte de Marx j havia comeado a revoluo da produtividade. Em 1881,

    um americano, Frederick Winslow Taylor (1856-1915), pela primeira vez

    aplicou o conhecimento ao estudo do trabalho, a sua anlise e a sua

    engenharia (DRUCKER, 1999:18).

    Fortalecendo o pensamento de Drucker, Parker et al. (1997:27) afirmam que

    Taylor representou um marco crucial na evoluo das idias sobre produo,

    riqueza e relaes harmnicas entre empregados e empregadores. Foi o iniciador do

    estudo da eficincia industrial e, dessa forma, contribuiu para o desenvolvimento

    empresarial do sculo XX.

    Taylor acreditava que cada tarefa poderia ser cientificamente estudada

    chegando a uma forma nica e correta de ser feita. Agostinho (2002:13) destaca que

    o axioma de Taylor, pelo qual todo trabalho manual podia ser analisado e

    organizado pela aplicao do conhecimento, era um absurdo para seus

    contemporneos.

    A especializao das tarefas, grande preocupao de Taylor, e seu princpio

    de treinamento intenso, fizeram com que operrios desqualificados se tornassem, no

    prazo de sessenta a noventa dias, soldadores e construtores de navios de primeira

    classe. poca da Segunda Guerra, as tcnicas de Taylor foram imprescindveis para

    treinar operrios em diversos ramos da indstria, em linhas de montagens, chegando

    at a produzir instrumentos ticos de preciso, este fato foi ponto marcante na vitria

    americana frente aos japoneses e alemes (DRUCKER: 1999, 17-24).

    Uma outra questo colocada junto aos princpios da administrao cientfica

    era a distino entre pensar e fazer, fruto da alta especializao nas tarefas que

    Taylor desejava; Morgan (1996:32), ao se referir ao tema afirma que Taylor pregava

    que: os gerentes devem pensar a respeito de tudo o que se relaciona com o

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica 24

    planejamento e a organizao do trabalho, deixando aos trabalhadores a tarefa de

    implementar isso na prtica.

    Alm da separao entre pensar e fazer, a administrao cientfica contava

    com os seguintes princpios (SLACK et al., 1996: 292-293):

    o trabalho deve ser investigado de forma cientfica, com a finalidade de se estabelecerem leis e regras para determinar a melhor maneira de se

    executar uma tarefa, assim se estabeleceria o trabalho justo de um dia;

    para que os trabalhadores conseguissem realizar suas tarefas de forma mais produtiva, eles devem ser cientificamente selecionados, treinados e

    desenvolvidos com metodologia;

    deve haver um ambiente de cooperao entre empregadores e trabalhadores, visando benefcios comuns s duas partes.

    Nonaka e Takeuchi (1997:40-41) viram, como Drucker, a forma inovadora de

    tratamento dado ao conhecimento por Taylor: A administrao cientfica foi uma

    tentativa de formalizar as experincias e habilidades tcitas dos trabalhadores em

    conhecimento cientfico e objetivo. Criticam Taylor, ao qual faltou encarar as

    experincias e julgamentos dos trabalhadores como uma fonte de novos

    conhecimentos, ficando a criao de novos mtodos de trabalho apenas a cargo da

    gerncia.

    Morgan (1996:32) faz crticas veementes forma em que Taylor colocou a

    administrao cientfica, porm no deixa de aceitar a sua influncia at os dias de

    hoje:

    Taylor foi um engenheiro mecnico e um extravagante, ou ento algum

    com uma personalidade que pode ser considerada, de alguma forma,

    perturbada. Na poca de sua morte em 1915 havia ganho a reputao de o

    maior inimigo do trabalhador, tendo sido convocado em 1911 para defender

    o seu sistema de administrao perante um comit da Casa dos

    Representantes dos EUA. Embora seja um dos autores mais perniciosos e

    criticados de todos os tericos organizacionais, comprovou tambm ser um

    dos mais influentes. Os princpios de sua administrao cientfica ofereceram

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica

    25

    a base para o modo de trabalhar por toda a primeira metade deste sculo e,

    em muitas situaes, predominam at os dias de hoje.

    Drucker (1999:22) acredita que a aplicao do conhecimento ao trabalho,

    feita por Taylor, foi capaz de aumentar a produtividade das organizaes de forma

    impressionante, afirmando que as mquinas haviam criado mais capacidade

    produtiva, porm os trabalhadores eram to produtivos quanto os trabalhadores da

    Grcia antiga.

    Nem tudo aconteceu conforme as idias iniciais que Taylor pregou, pelo

    contrrio, muitos patres usaram seus princpios e benefcios alcanados com o

    aumento da produtividade exclusivamente para seus prprios ganhos, e no dos

    trabalhadores. Os gerentes no se tornaram servidores dos operrios, usavam as

    recomendaes de Taylor como forma de aumentar o seu status e poder, usando mais

    arbitrariedade. Taylor ficou inevitavelmente associado mecanizao do homem

    (SAMPSON, 1996:60).

    A contribuio de Taylor e seus seguidores destacada por Spender

    (2001:31) como precursora do interesse atual em gesto do conhecimento. Ele afirma

    que: Taylor e seus colegas viram que a estrutura da organizao e seus padres de

    autoridade e controle exerciam impacto significativo sobre o incentivo para a criao

    e compartilhamento do conhecimento, pilares essenciais das iniciativas em gerir

    conhecimento.

    2.4 A era e a sociedade do conhecimento

    Observou-se a transio de uma sociedade pr-industrial a sociedade

    primitiva e em seguida a sociedade agrcola para a sociedade industrial. Nesta, um

    grande nmero de mudanas e paradigmas foi observado e, a riqueza principal

    passou, primeiramente, da terra para o capital e mo-de-obra.

    A automao substituiu em muito a fora fsica do trabalho no processo

    produtivo, a economia est cada vez mais globalizada. A tecnologia, os meios

    eletrnicos e as telecomunicaes vm mudando muito as formas de comunicao e

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica 26

    o acesso s informaes. H uma alta exigncia dos consumidores ao adquirirem

    produtos e servios.

    Percebe-se que uma nova era pode estar surgindo, o que muitos esto

    chamando de era do conhecimento ou sociedade do conhecimento. A seguir,

    oferecida uma fundamentao de alguns autores sobre este conceito, bem como as

    suas caractersticas fundamentais (Quadro 2.1).

    Segundo Drucker (1999: XVI-XVII), o mundo est vivendo uma era

    intitulada por ele de sociedade do conhecimento, na qual as figuras principais so os

    trabalhadores do conhecimento, ou seja, pessoas que sabem alocar conhecimento

    para uso produtivo, assim como os capitalistas sabiam alocar capital para isso,

    destacando o valor do conhecimento como recurso chave:

    O recurso econmico bsico os meios de produo, para usar uma

    expresso dos economistas no o capital, nem os recursos naturais (a

    terra dos economistas), nem a mo-de-obra. Ele e ser o conhecimento.

    As atividades centrais de criao de riqueza no sero nem a alocao de

    capital para usos produtivos nem a mo-de-obra os dois plos da teoria

    econmica dos sculos dezenove e vinte, seja ela clssica, marxista,

    keynesiana ou neoclssica. Hoje o valor criado pela produtividade e pela

    inovao, que so aplicaes do conhecimento ao trabalho.

    Nonaka e Takeuchi (1997:51) acreditam ter sido Drucker um dos primeiros

    tericos da administrao a notar a transformao e o propor o termo sociedade do

    conhecimento e trabalhadores do conhecimento, por volta de 1960.

    Se antes o que gerava riqueza e poder era o domnio do capital, da terra e do

    trabalho, hoje a realidade outra (Cavalcanti et al., 2001:21). Escreve-se esta

    afirmao baseados em dados da OCDE Organizao para a Cooperao e

    Desenvolvimento Econmico de 1999 em que destacam que mais de 55% da

    riqueza mundial originada a partir da aplicao de conhecimento a bens e produtos

    intangveis softwares, patentes, royalties, servios de consultoria e bens culturais.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica

    27

    A transio de uma sociedade industrial para uma sociedade, em que o

    principal fator de riqueza passa a ser o conhecimento, tambm entendida por

    Crawford (1993:29) que aborda algumas caractersticas dessa mudana:

    crescente automao do trabalho, de manufatura a servios; aumento na indstria de servios, sobretudo em sade, educao e

    softwares;

    aumento de pequenas e mdias empresas; envelhecimento da populao; destaque para a pesquisa e educao, com centro geogrfico em

    informaes e conhecimento.

    Thurow6 (apud ANTUNES, 1999:29), concordando em alguns pontos com

    Crawford, acrescenta outros aspectos para explicar essa transio. Apresenta:

    o fim do comunismo, liberando terra e pessoas para se juntar ao capitalismo;

    a mudana tecnolgica faz com que o conhecimento seja a nica fonte de vantagem competitiva sustentvel;

    mudana demogrfica: o envelhecimento da populao; globalizao da economia, influenciada pela tecnologia, meios de

    transporte e telecomunicaes.

    O Quadro 2.2 auxilia no entendimento da transio da sociedade industrial

    para a sociedade do conhecimento, considerando, principalmente, a mudana na

    alocao da fora de trabalho, com destaque para amplitude alcanada no setor de

    servios, ocorrida, acredita-se, como decorrncia do aumento da automao da

    manufatura.

    6 THUROW, C.L. O futuro do capitalismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1997 apud ANTUNES, M.T.P. Contribuio ao entendimento e mensurao do capital intelectual. Dissertao (Mestrado). So Paulo: Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade FEA-USP, 1999.

  • Fonte: Crawford (1993:26)

    EEccoonnoommiiaa AAggrrccoollaa EEccoonnoommiiaa IInndduussttrriiaall SSoocciieeddaaddee BBaasseeaaddaa eemm CCoonnhheecciimmeennttooss

    Agricultura

    Casa/artesanato

    Servios

    Agricultura

    Casa/artesanato

    Servios

    Unidade Domiciliar

    Manufatura

    Agricultura

    Transportes, utilidades

    Construo

    Intermediao de

    Negcios

    Finanas e Imveis

    Sade e Educao

    Negcios e Lazer

    Manufatura

    Unidade Domiciliar

    Agricultura

    Transportes, utilidades

    Construo

    Intermediao de

    Negcios

    Finanas e Imveis

    Sade e Educao

    Negcios e Lazer

    Manufatura

    Unidade Domiciliar

    Agricultura

    Casa/artesanato

    Transportes, utilidades

    Construo

    Intermediao de

    Negcios

    Finanas e Imveis

    Manufatura

    Unidade Domiciliar

    Agricultura

    Transportes, utilidades

    Construo

    Intermediao de

    Negcios

    Finanas e Imveis

    Sade e Educao

    Manufatura

    Unidade Domiciliar

    Agricultura

    Transportes,

    utilidades

    Construo

    Intermediao de Negcios

    Finanas e Imveis

    Sade e Educao

    Negcios e Lazer

    Manufatura

    Unidade Domiciliar

    Pr-Industrial Jovem Desenvolvida Madura Jovem Desenvolvida Madura

    Servios:

    Servios:

    Servios:

    Servios:

    Servios:

    Quadro 2.2 - Alocao da Fora de Trabalho nas eras Econmicas.

  • Captulo 2 - Evoluo Histrica

    29

    Em outras partes deste trabalho, o tema sobre sociedade do conhecimento ou

    era do conhecimento retomado. O propsito desta passagem histrica

    contextualizar a importncia hoje dada ao conhecimento como recurso-chave nas

    organizaes.

    importante destacar que o autor concorda com as proposies de que o

    mundo atualmente vive uma fase de transio para uma era em que os recursos

    produtos e servios provenientes da aplicao do conhecimento ao trabalho so o

    diferencial competitivo.

    Em outros momentos do trabalho, enfatizado o tratamento dado ao

    conhecimento como recurso competitivo, considerando outras implicaes que so

    relacionadas oportunamente.

  • 3 GESTO DO CONHECIMENTO

    Conhecimento, bem como a iniciativa de tentar geri-lo, so, sem dvida,

    assuntos que poderiam ocupar pginas e pginas de qualquer trabalho que tentasse

    defini-los. Nesta dissertao, procura-se observar o conhecimento e a gesto do

    conhecimento como instrumentos que podem levar uma organizao a atingir uma

    vantagem competitiva e, sobretudo, uma vantagem competitiva sustentvel. No

    Captulo 4, observa-se a gesto de pessoas dentro desse contexto de competitividade; no

    presente Captulo a gesto do conhecimento recebe o mesmo tratamento.

    dada ateno aos aspectos conceituais referentes gesto do conhecimento,

    cujo objetivo chegar a uma sntese dos principais pontos que tm utilidade neste

    trabalho. O tema gesto do conhecimento tem sido muito explorado e discutido

    atualmente, tanto no meio acadmico como no empresarial, o que deixa mais difcil,

    pelo excesso de dados, a inteno de tornar o estudo abrangente. Desta forma, o

    Captulo comea com uma delimitao do que se pretende trabalhar, especificamente,

    dentro do assunto e, a partir de ento, inicia-se uma busca conceitual para que haja

    conexo entre gesto do conhecimento e os demais Captulos.

    O Captulo organizado da seguinte forma:

    3.1 Gesto do conhecimento: uma delimitao;

    3.2 Dados, informaes e conhecimento;

    3.3 Conhecimento e competncias: o capital humano;

    3.4 Elementos da gesto do conhecimento;

    3.4.1 Codificao e transferncia do conhecimento;

    3.4.2 Identificao do conhecimento;

    3.4.3 Aquisio de conhecimento;

    3.4.4 Criao de conhecimento e suas condies capacitantes.

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 31

    3.1 Gesto do conhecimento: uma delimitao

    No Captulo 2, foi mostrada uma evoluo histrica na sociedade e na economia,

    desencadeando uma srie de mudanas que tambm afetaram o ambiente

    organizacional. O mundo saiu de uma era primitiva, para uma era industrial e chegou ao

    que hoje se chama de era do conhecimento.

    A gesto do conhecimento tem sido, nos anos 90 e atualmente, tema de

    exaustivos estudos na literatura sobre administrao de empresas. Diversos artigos e

    livros existem nesta rea, as consultorias tm grande procura para os seus servios nesta

    rea (NONAKA e KONNO, 1998:40; SPENDER, 2001:27; VON KROGH et al.

    2001:11); dessa forma, existe uma relativa dificuldade em separar trabalhos que

    realmente trazem alguma contribuio, daqueles que apenas querem repassar o tema.

    A definio oferecida por Terra (2003), de gesto do conhecimento, mostra o

    entendimento que o trabalho d ao tema:

    Gesto do conhecimento significa organizar as principais polticas, processos

    e ferramentas gerenciais e tecnolgicas luz de uma melhor compreenso dos

    processos de gerao, identificao, validao, disseminao,

    compartilhamento e uso de conhecimentos estratgicos para gerar resultados

    para a empresa e benefcios para seus colaboradores.

    Dentro do emaranhado de questes que envolvem e podem envolver a gesto do

    conhecimento, por se tratar de um assunto polmico e de difcil entendimento, como

    sugere Fleury e Oliveira Jnior (2001:15), procura-se, neste trabalho, buscar uma linha

    em que haja relao entre o tema e a gesto de pessoas na busca da vantagem

    competitiva, passando-se abaixo, uma contextualizao de que rumo dentro da gesto

    do conhecimento o trabalho segue.

    Barclay e Murray (2002) observaram a amplitude do tema e procuraram

    estabelecer trs distines importantes gesto do conhecimento. Classificaram estas

    abordagens como: abordagem mecanicista, abordagem cultural/comportamental e

    abordagem sistemtica. Abaixo, segue um detalhamento das trs abordagens.

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 32

    Na abordagem mecanicista, existe uma maior preocupao com o uso de

    ferramentas de tecnologia da informao na gesto do conhecimento, cujas principais

    caractersticas so:

    a chave est na acessibilidade da informao, sua reutilizao e documentao (banco de dados, hipertexto, etc.);

    as solues-chave so encontradas em tecnologia de network, especialmente Intranet e Groupware.

    Esta abordagem de fcil implementao, as tecnologias so de fcil acesso,

    permitem rpida familiarizao pelas pessoas e, segundo os autores, pode trazer uma

    melhora importante, por tornar acessvel alguns ativos intelectuais da organizao.

    Porm, do mdio ao longo prazo, tende a gerar um nmero grande de informaes e

    dificuldade de relacionar os resultados com a performance da empresa.

    A abordagem cultural/comportamental tem suas origens principalmente nos

    programas de reengenharia dos processos e gesto de mudanas, tende para uma viso

    gerencial do problema do conhecimento e, concentra mais recurso na inovao e na

    criatividade, ou seja, nas organizaes que aprendem, do que no uso do conhecimento

    existente ou na sua explicitao. Suas principais caractersticas so:

    mudana dramtica na cultura e no comportamento organizacionais para atendimento de um maior nmero de informaes;

    consideraes que s a tecnologia incapaz de resolver o problema do conhecimento, invocando a necessidade de uma viso holstica da cultura e

    do comportamento organizacionais. O foco no processo e no na

    tecnologia;

    destaque da importncia dos gerentes em todos os nveis para que haja sucesso na iniciativa.

    A abordagem sistemtica gesto do conhecimento considera que necessria

    uma nova forma, para se entender o problema do conhecimento e acredita em uma

    viso racional. Suas principais caractersticas so:

    d importncia aos resultados sustentveis, no ao processo ou tecnologia;

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 33

    acredita que um recurso para ser utilizado deve ser modelado, percebe que muitos aspectos do conhecimento corporativo podem ser modelados como

    recursos explcitos;

    v a gesto do conhecimento como um matria interdisciplinar e d importncia ao exame da natureza do trabalho e do conhecimento;

    d importncia ao comportamento e cultura organizacionais sem, entretanto, pregar uma mudana dramtica nas pessoas. A tecnologia pode ser aplicada

    para gesto do conhecimento;

    d a devida importncia aos gerentes, porm estes no so os nicos responsveis pelo sucesso da iniciativa de gesto do conhecimento.

    Colocadas estas trs abordagens mecanicista, cultural/comportamental e

    sistemtica tem-se aberta uma ampla janela para observao do tema. Embora o

    estudo de caso realizado tenha grande ligao com tecnologia, para este trabalho,

    considerado um misto entre a abordagem cultural/comportamental com a abordagem

    sistemtica, acreditando-se em dois aspectos importantes para tratar o tema: tecnologia e

    pessoas.

    Quanto tecnologia, na poca atual desnecessrio afirmar que sua importncia

    de grande destaque, as ferramentas em tecnologia da informao capacitam uma

    organizao a operar sistemas de gesto do conhecimento capturando e fornecendo

    dados e informaes internos e externos organizao. Um grande recurso

    computacional, que tem muita contribuio em programas de gesto do conhecimento,

    so as redes de computadores. Atravs de recursos como correio eletrnico, Internet,

    Intranet e outros, pessoas podem se comunicar e trocar conhecimentos sem ter

    dependncia de sua localizao. Porm a tecnologia da informao no cria novo

    conhecimento, nem garantia de que o conhecimento seja devidamente compartilhado.

    H que se destacar que os inmeros exemplos de diversas corporaes que

    fazem uso intensivo de tecnologia de informao tm mostrado resultados muito

    positivos. Recursos de vdeo e teleconferncia, solues clssicas de groupware, como

    o Lotus Notes, ajudam a difundir o conhecimento por toda a empresa. Sistemas

    tridimensionais de projeto auxiliado por computador e manufatura auxiliada por

    computador, ajudam no desenvolvimento de novos produtos e prottipos (VON

    KROGH, 2001:39).

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 34

    Neste trabalho, so abordados alguns aspectos gerais sobre algumas iniciativas

    em tecnologia de informao para a gesto do conhecimento, sem, no entanto, querer

    chegar a um ponto exploratrio abrangente, visto que isso seria muito difcil dada a

    dinamicidade com que novos produtos neste segmento chegam ao mercado. So

    destacados alguns aspectos que a literatura de gesto tem considerado importante em

    relao ao assunto.

    Como afirmam Davenport e Prusak (1998:171):

    A tecnologia isoladamente no far com que uma pessoa possuidora do

    conhecimento o compartilhe com as outras. A tecnologia isoladamente no

    levar o funcionrio desinteressado em buscar conhecimento a sentar diante do

    teclado e comear a pesquisar. A mera presena da tecnologia no criar uma

    organizao de aprendizado contnuo, uma meritocracia nem uma empresa

    criadora do conhecimento.

    Desta forma, o trabalho d maior nfase aos esforos relacionados com as

    pessoas dentro da organizao para tratar o assunto gesto do conhecimento, ou seja,

    um foco maior nas questes culturais e comportamentais da organizao que possam

    capacit-la para obter retorno com o uso adequado do conhecimento, dando

    importncia, tambm, aos conceitos relacionados com a aprendizagem organizacional.

    Concorda-se, ento, com as afirmaes de Fleury e Oliveira Jnior (2001:16)

    que consideram a gesto do conhecimento um tema intrnseco aprendizagem

    organizacional e gesto da tecnologia:

    ... no adequado pensar a gesto de conhecimento com um tema

    essencialmente novo em administrao de empresas, mas como um tema que

    deve ser entendido como desdobramento e aprofundamento de linhas tericas

    que vm sendo desenvolvidas h mais tempo, notadamente pelos estudiosos da

    aprendizagem organizacional; tambm fortemente influenciado pelos temas da

    gesto tecnolgica e pelos estudos de cognio empresarial.

    Neste trabalho, a gesto do conhecimento tratada de uma forma no

    exclusivamente tecnolgica, sem claro, deixar de considerar essas importantes

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 35

    ferramentas. Porm, o trabalho tem como objetivo colocar a gesto do conhecimento

    como um ponto de apoio para que a empresa consiga obter e sustentar a sua vantagem

    competitiva. Entende-se a gesto do conhecimento como uma possibilidade de

    integrao entre os conhecimentos tcito e explcito que, quando compartilhados e

    transformados, podem possibilitar um aprendizado organizacional. O intuito desse

    aprendizado, que deve ser constante, fazer com que a organizao desenvolva

    capacidades organizacionais que levem seus processos e produtos/servios a serem

    continuamente questionados, considerando-se as escolhas estratgicas que a

    organizao tem de fazer.

    Neste entendimento dado gesto do conhecimento, importante uma

    integrao entre a aprendizagem organizacional e os conceitos de competncias ou

    capacidades organizacionais. Um dos pontos que a gesto do conhecimento pode ajudar

    sistematizao do que a empresa j sabe, ou seja, tornar propcia a troca de

    conhecimentos e a interao desses conhecimentos, gerando conhecimentos novos em

    processos e sistemas gerenciais e inovao para novos produtos e servios. O

    conhecimento , neste caso, visto como um ativo essencial da organizao. Essa

    abordagem tambm pretende suprir as lacunas de conhecimento ou competncia que a

    empresa tem e estabelecer metas de conhecimentos ou competncias a ser

    desenvolvidos. A Figura 3.1 ajuda a entender a dimenso desejada para a gesto do

    conhecimento.

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 36

    Um dos pontos primordiais do trabalho entender a gesto do conhecimento do

    aspecto humano, ou seja, como a contribuio do indivduo e do grupo que ele ajuda a

    formar so imprescindveis para o sucesso dessas iniciativas, isto gera a necessidade de

    envolver o assunto com outros temas, como por exemplo, cultura organizacional, que

    pode oferecer condies ambientais para uma efetiva gesto do conhecimento.

    So considerados como aspectos de grande relevncia, nos esforos para gesto

    do conhecimento, a viso e a misso da empresa, bem como o envolvimento da alta

    organizao, destacado em diversas partes deste trabalho.

    A definio de gesto do conhecimento, abaixo citada, contribui para o

    esclarecimento do tema:

    Em suma, a gesto do conhecimento est imbricada nos processos de

    aprendizagem nas organizaes e, assim, na conjuno desses trs processos:

    aquisio e desenvolvimento de conhecimentos, disseminao e construo de

    memrias, em um processo coletivo de elaborao das competncias

    necessrias organizao (FLEURY e FLEURY, 2000:33).

    Complementando o entendimento sugerido em que h direta relao entre a

    gesto do conhecimento e a aprendizagem organizacional, acredita-se ser corroborativa

    a definio dada por Garvin (1993:80):

    A organizao que aprende a que dispe de habilidades para criar, adquirir

    e transferir conhecimentos, e capaz de modificar seu comportamento, de modo

    a refletir os novos conhecimentos e idias.

    Para que este entendimento da gesto do conhecimento seja atingido, os

    prximos tpicos do trabalho abordam a questo dos dados, informaes,

    conhecimentos e competncias no ambiente organizacional.

    3.2 Dados, informaes e conhecimento

    Para uma correta contextualizao da problemtica a ser estudada, faz-se

    necessria uma diferenciao dos aspectos conceituais de dados, informaes e

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 37

    conhecimento, para que, nas prximas etapas do trabalho sejam compreendidos outros

    conceitos, como o de competncias organizacionais.

    Num primeiro instante, importante destacar que no se busca um entendimento

    filosfico para a questo do conhecimento, mas elementos teis para entend-lo no

    ambiente empresarial. Por acreditar que dados e informaes so componentes do

    conhecimento, entende-se que estas definies prvias so importantes. Outros autores,

    como citam Davenport e Prusak (1998:2), consideram outros componentes como

    sabedoria, insight, determinao e ao, porm, nesta dissertao, so considerados os

    trs aspectos j citados, por entender-se que so suficientes para que o contexto

    desejado seja explicitado.

    Na Figura 3.2 apresenta-se uma ilustrao dos conceitos que esto sendo

    abordados, na qual observa-se que, a partir de smbolos chega-se ao conhecimento.

    Quando as regras de sintaxe so aplicadas aos smbolos, eles se tornam dados.

    Os dados so passveis de interpretao dentro de um contexto especfico, fornecendo,

    desta forma, informaes ao receptor (PROBST et al., 2002:23).

    No contexto organizacional, segundo Davenport e Prusak (1998:2), dados so

    um conjunto de fatos distintos e objetivos, relativos a eventos. Os dados so os

    registros das transaes: a quantidade de itens que um cliente comprou so dados que,

    registrados corretamente, tm utilidade na organizao. Esses dados no so

    estruturados, portanto, no consideram o contexto em que esto inseridos, ou seja, no

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 38

    mostram porque o cliente procurou aquele local e no outro, nem porque comprou

    algumas unidades no lugar de uma apenas.

    As organizaes tm se preocupado, h algum tempo, em armazenar

    adequadamente os seus dados, que, em um panorama geral, trazem grandes benefcios a

    determinados segmentos empresarias como bancos, seguradoras e servios pblicos,

    entre outros. At recentemente muitas empresas tinham o seu centro de processamento

    de dados, os CPDs. A tendncia perseguida atualmente uma descentralizao dos

    bancos de dados, disponibilizando-os diretamente no computador pessoal de quem

    deseja obt-lo (DAVENPORT e PRUSAK, 1998:3).

    A partir dos dados, obtm-se as informaes e estas so frutos dos dados dentro

    de um contexto especfico. Com o aumento das iniciativas em gesto do conhecimento,

    observa-se que as palavras informao e conhecimento, muitas vezes, so tratadas como

    se tivessem o mesmo significado. importante fazer-se uma diferenciao entre estas

    duas palavras para que se consiga entender a origem do conhecimento e a tentativa de

    geri-lo.

    A confuso nas definies entre informao e conhecimento, traz uma

    preocupao potencializada nas organizaes que iniciam projetos em gesto do

    conhecimento. Essa confuso pode acabar gerando uma quantidade enorme de

    informaes, com as quais as pessoas no conseguem discernir o que til ou no, e a

    empresa, esperando que os usurios tomem suas decises com base nessas informaes,

    nem sempre obtm sucesso (VASCONCELOS, 2001:98-102), da mesma forma como o

    que foi comentado sobre questes relacionadas tecnologia.

    Para definir informao, Crawford (1993:21) recorre ao Webster, apontando-a

    como notcia ou inteligncia transmitidas por palavras ou na forma escrita; fatos ou

    dados.

    Davenport e Prusak (1998:4) entendem a informao como:

    ... uma mensagem, geralmente na forma de um documento ou uma

    comunicao audvel ou visvel. Como acontece com qualquer mensagem, ela tem um

    emitente e um receptor. A informao tem por finalidade mudar o modo como o

    destinatrio v algo, exercer algum impacto sobre seu julgamento e comportamento.

    Ela deve informar; so os dados que fazem a diferena.

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 39

    A partir dos dados, obtm-se uma informao relevante que est inserida em um

    contexto determinado, sendo, tambm passvel de interpretao pessoal e assim,

    situando-se num estgio anterior formao do conhecimento. Atualmente, com a

    tecnologia da informao e a Internet, o acesso s informaes tem sido cada vez mais

    fcil e abrangente, e grandes tambm tm sido os benefcios extrados das tecnologias e

    dos softwares empregados para tal. O uso, por exemplo, de correio eletrnico

    altamente difundido entre as organizaes, facilitando a comunicao e reduzindo

    custos.

    Dada a importncia e os critrios com que a tecnologia da informao deve ser

    tratada e implementada, a capacidade dos executivos para guiar e influenciar aes

    relacionadas com gerenciamento e uso destas tecnologias nas estratgias de negcios

    tem sido reconhecida como competncia crtica (MAADA e BECKER, 2001:88).

    De dados, obtm-se informaes e destas, obtm-se conhecimento. Parte-se,

    ento, para a difcil tarefa de tentar definir o que vem a ser o conhecimento, sem

    pretenses filosficas como j observado. Ao definir conhecimento, a literatura de

    gesto tem freqentemente observado o conhecimento tcito e explcito. A

    diferenciao entre esses dois tipos de conhecimento tratada ainda neste Captulo.

    Faz-se aqui uma tentativa de buscar a definio e responder pergunta o que

    conhecimento?. Acredita-se que, no ambiente empresarial, pode ser possvel defini-lo,

    porm seria pretenso enorme tentar obter um consenso geral sobre o assunto.

    Concorda-se com Grant6 (apud OLIVEIRA JNIOR, 2001:132) quando afirma que

    desde que esta questo tem intrigado alguns dos maiores pensadores do mundo, desde

    Plato a Popper, sem a emergncia de um claro consenso, essa no uma arena que eu

    escolho para competir, porm muitos autores tentaram e alguns deles so citados

    abaixo.

    Uma observao interessante colocada por Drucker (1999:205) que afirma que

    conhecimento no reside em um livro, em um banco de dados, em um programa de

    software; esses itens apenas contm informaes; o conhecimento de propriedade de

    6 GRANT, R.M. Toward a knowledge-based theory of the firm. Strategic Management Journal, v. 17, p.

    109-122, 1996 apud OLIVEIRA JUNIOR., M.M. Competncias essenciais e conhecimento na empresa.

    In: FLEURY, M.T.L. e OLIVEIRA JUNIOR., M.M. (Orgs.). Gerenciamento estratgico do

    conhecimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competncias. So Paulo: Atlas, p. 121-156,

    2001.

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 40

    alguma pessoa, transportado por uma pessoa, aplicado, ensinado e transmitido por

    uma pessoa e usado, bem ou mal, por uma pessoa.

    Ento, na tentativa de dar um significado ao conhecimento, encontram-se

    diversas fontes, das quais trs foram selecionadas para que o trabalho conte com uma

    terminologia especfica.

    Von Krogh et al. (2001:15-16) definem o conhecimento como sendo uma

    crena verdadeira e justificada, podendo ser explcito ou tcito e dependente de um

    contexto capacitante. O conhecimento inerente a um julgamento pessoal, uma

    construo da realidade, e no algo verdadeiro de maneira abstrata. Pode ser externado

    facilmente ou est intrnseco a um processo ou a uma pessoa. Por considerar e sofrer

    influncia do contexto, o conhecimento dinmico, relacional e baseado na ao

    humana; depende da situao e das pessoas envolvidas e no de verdades absolutas e

    fatos tangveis. Os autores alegam que o fato do conhecimento ser diretamente

    influenciado pelo contexto a principal diferena entre este e dados e informaes.

    Nonaka e Takeuchi (1997:63-64) adotam, em consonncia com Von Krogh et al.

    (2001), que o conhecimento crena verdadeira e justificada e um processo

    dinmico de justificar a crena pessoal com relao verdade e est essencialmente

    relacionado com a ao humana. Tambm tentam diferenciar o conhecimento de

    informaes em trs aspectos:

    o conhecimento est relacionado com as crenas e os compromissos, ao contrrio da informao;

    o conhecimento est relacionado com uma ao, uma atitude; o conhecimento tem de ter um significado, contextual e relacional.

    Sobre informao afirmam Nonaka e Takeuchi (1997:63-64), que um fluxo

    de mensagens, enquanto o conhecimento criado por esse prprio fluxo de informao,

    ancorado nas crenas e compromissos do seu detentor.

    Leonard-Barton e Sensiper (1998:113) tambm entendem que o conhecimento

    uma informao relevante, passvel de ao humana e baseado, ao menos parcialmente,

    em experincia.

    Crawford (1993:21) recorre, a exemplo do que fez para definir informao, ao

    Webster para definir conhecimento, assim o coloca como sendo os fatos, verdades ou

  • Captulo 3 - Gesto do Conhecimento 41

    princp