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72 Thomas Hobbes Leviatã Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 Hardwick Hall, 4 de Dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social. De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, para que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém no essencial as ideias de suas duas obras anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).

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Notas sobre o Leviatã de Hobbes, falando sobre a Política e Contrato Social. Extremamente interessante. Livro em si é crucial para entender a natureza humana e da sociedade.

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Thomas Hobbes

Leviatã

Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 — Hardwick Hall, 4 de Dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651).

Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social.

De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, para que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém no essencial as ideias de suas duas obras anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).

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Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o monarca.

Sua filosofia política foi analisada pelo estudioso Richard Tuck como uma resposta para os problemas que o método cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes argumenta, assim como os cépticos e como René Descartes, que não podemos conhecer nada sobre o mundo exterior a partir das impressões sensoriais que temos dele. Esta filosofia é vista como uma tentativa para embaçar uma teoria coerente de uma formação social puramente no fato das impressões por si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o homem agir em sentido de preservar sua própria vida, e construir toda sua filosofia política a partir desse imperativo.

Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros assuntos, oferecendo uma descrição da natureza humana como cooperação em interesse próprio. Ele foi contemporâneo de Descartes e escreveu uma das respostas para a obra Meditações sobre filosofia primeira, deste último.

Leviatã é o livro mais famoso do filósofo inglês Thomas Hobbes, publicado em 1651. O seu título se deve ao monstro bíblico Leviatã. O livro, cujo título por extenso é Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil, trata da estrutura da sociedade organizada.

Hobbes alega serem os humanos egoístas por natureza. Com essa natureza tenderiam a guerrear entre si, todos contra todos ("Bellum omnia omnes"). Assim, para não exterminarmo-nos uns aos outros será necessário um Contrato Social que estabeleça a paz, a qual levará os homens a abdicarem da guerra contra outros homens. Mas, egoístas que são, necessitam de um soberano (Leviatã) que puna aqueles que não obedecem ao contrato social.

Notar que um soberano pode ser uma pessoa tanto quanto um grupo, eleito ou não. Porém, na perspectiva de Hobbes, a melhor forma de governo era a monarquia — sem a presença concomitante de um Parlamento, pois este dividiria o poder e, portanto, seria um estorvo ao Leviatã e levaria a sociedade ao caos (como na guerra civil inglesa).

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Índice

1 Parte 1: A respeito do Homem

o 1.1 Capítulo 3: Sobre a consequência serie de imaginações o 1.2 Capítulo 4: Sobre a linguagem o 1.3 Capítulo 10: Sobre o poder, valor, dignidade, honra e

merecimento o 1.4 Capítulo 11: Sobre as diferenças de costumes o 1.5 Capítulo 12: Sobre a religião o 1.6 Capítulo 13: Sobre a condição natural da humanidade

relativamente à sua felicidade e miséria o 1.7 Capítulo 14: Sobre a primeira e segunda leis naturais e

sobre os contratos o 1.8 Capítulo 15: Sobre outras leis da natureza o 1.9 Capítulo 16: Das pessoas, autores e coisas

personificadas o

2 Parte 2: Do Estado

o 2.1 Capítulo 17: Sobre as causas, geração e definição de um Estado

o 2.2 Capítulo 18: Sobre os direitos dos soberanos por instituição

o 2.3 Capítulo 19: Sobre as diversas espécies de governo por instituição e sobre a sucessão do poder soberano

o 2.4 Capítulo 21: Sobre a liberdade dos súditos o 2.5 Capítulo 23: A respeito dos ministros públicos do poder

soberano o 2.6 Capítulo 24: Sobre a nutrição e procriação de um

Estado o 2.7 Capítulo 25: Sobre o conselho o 2.8 Capítulo 26: A respeito das leis civis o 2.9 Capítulo 29: Das coisas que enfraquecem ou levam à

dissolução de um Estado

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o 3 Parte 3: Do Estado cristão e Parte 4: Do Reino das

Trevas

o 3.1 Capítulo 38: Do Significado, nas Escrituras, de Vida Eterna, Inferno, Salvação, o Mundo por vir, e Redenção

5 Ligações externas

Parte 1: A respeito do Homem

Hobbes faz um esforço de análise da sociedade partindo da dissecação dos seus componentes básicos, o Homem e as suas sensações. Ele trabalha inicialmente com uma série de definições, em uma tentativa de criar axiomas da humanidade à semelhança dos que existem na geometria. Define as várias paixões e sentimentos de maneira impessoal e com base em princípios científicos (da época, lembremos que Hobbes viveu no século XVII).

Hobbes descreve o Homem em seu Estado Natural como egoísta, egocêntrico e inseguro. Ele não conhece leis e não tem conceito de justiça; ele somente segue os ditames de suas paixões e desejos temperados com algumas sugestões de sua razão natural. Onde não existe governo ou lei, os homens naturalmente caem em "discórdia". Desde que os recursos são limitados, ali haverá "competição", que leva ao medo, à inveja e a disputa. Semeada a "desconfiança", perde-se a segurança de confiar no próximo. Na busca pela "glória", derruba-se os outros pelas costas, já que, para Hobbes, os homens são iguais nas capacidades e na expectativa de êxito, nenhuma pessoa ou nenhum grupo pode, com segurança, reter o poder. Assim sendo, o conflito é perpétuo, e "cada homem é inimigo de outro homem". Nesse estado de guerra nada de bom pode surgir. Enquanto cada um se concentra na autodefesa e na conquista, o trabalho produtivo é impossível. Não existe tranquilidade para a busca do conhecimento, não existe motivação para construir ou explorar não existe lugar para as artes e letras, não existe espaço para a sociedade só "medo contínuo e perigo de morte violenta". Então a vida do homem nesse estado será "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta".

Em contrapartida ao estado de guerra descrito acima, os próprios homens almejariam uma ordem ansiando pela garantia de paz, assim, um Estado que garantisse essa paz, essa vida "acordada".

Apesar da Parte 1 da obra tratar primordialmente do homem, é possível observar que o autor aborda diversas questões relacionadas com o Estado.

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Alguns excertos que retratam o pensamento do autor:

Capítulo 3: Sobre a consequência serie de imaginações

A defesa da monarquia é recorrente na obra. Hobbes compara a deposição de Carlos I de Inglaterra pelos puritanos com a entrega de Jesus Cristo aos romanos por 30 moedas. Mas quando se estuda a filosofia de Hobbes, o problema da dominância do racionalismo ou do empirismo pode ser colocado em outros termos. É possível perguntar, por exemplo, se não havia um secreto intercâmbio entre ambos, apesar das diferenças; se não estavam constantemente voltados um para o outro, à espera de um terreno comum em que pudessem exercer acção conjunta. A obra de Hobbes abriu justamente este espaço de convivência entre esses extremos, manifestando assim, um campo de conciliação entre eles.

Capítulo 4: Sobre a linguagem

"(...) nada mais é do que um abuso da linguagem ofendê-lo com a língua, a menos que se trate de alguém que somos obrigados a governar, mas então não é ofender, e, sim, corrigir e punir."

Capítulo 10: Sobre o poder, valor, dignidade, honra e merecimento

"Dos poderes humanos o maior é aquele composto pelos poderes de vários homens, unidos por consentimento numa só pessoa, natural ou civil, que tem o uso de todos os seus poderes na dependência de sua vontade. É o caso do poder de um Estado."

Hobbes questiona a dignidade e a honra como valores atribuídos. A estima pública de alguém apareceria aos homens como dignidade tomando forma em nomeações públicas, por exemplo; ser considerado valoroso é ser honrado, e quanto mais difíceis forem as tarefas a lhe serem confiadas mais honroso será este homem.

Capítulo 11: Sobre as diferenças de costumes

"(...) assinalo como tendência geral de todos os homens um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a vida."

Capítulo 12: Sobre a religião

Uma das origens das acusações de ateísmo contra Hobbes tem origem neste capítulo, onde o autor descreve como os primeiros líderes das sociedades primitivas criaram crenças e religiões para manter o povo em obediência e paz.

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Capítulo 13: Sobre a condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria

Neste capítulo se encontra a mais famosa citação da obra: "E a vida do homem, solitária, pobre, sórdida, brutal e curta", situada no seguinte contexto:

"Tudo, portanto, que advém de um tempo de guerra, onde cada homem é inimigo de outro homem, igualmente advém do tempo em que os homens vivem sem outra segurança além do que sua própria força e sua própria astúcia conseguem provê-los. Em tal condição, não há lugar para a indústria; porque seu fruto é incerto; e, consequentemente, nenhuma cultura da terra; nenhuma navegação, nem uso algum das mercadorias que podem ser importadas através do mar; nenhuma construção confortável; nada de instrumentos para mover e remover coisas que requerem muita força; nenhum conhecimento da face da terra; nenhuma estimativa de tempo; nada de artes; nada de letras; nenhuma sociedade; e o que é o pior de tudo, medo contínuo e perigo de morte violenta; e a vida do homem, solitária, pobre, sórdida, brutal e n."

A busca pela “condição natural do homem” é orientação básica para o trabalho de Hobbes em O Leviatã, pois é arguindo sobre a mesma que o autor fundamenta sua teoria sobre a necessidade de um Estado, as formas ideais deste Estado e sobre a relação sociedade/homem/Estado. Assim, a organização política permite que a rivalidade natural entre os homens não tenham como consequência “a miséria que acompanha a liberdade de seus indivíduos isolados”. Afirma o autor neste capítulo que os homens são iguais nas faculdades do corpo e do espírito, porém, o seu estado de natureza é um estado de guerra de todos contra todos. Se dois homens, portanto, desejam a mesma coisa e esta não pode ser gozada pelos dois ao mesmo tempo, eles se esforçam para subjugar um ao outro. No estado de natureza dos homens, também chamado em O Leviatã de “estado de guerra”, não existem as noções do que é justo ou injusto assim como não há a noção de propriedade (diferença do que é “meu” e do que é “teu”; cada homem tem apenas aquilo que for capaz de conseguir e apenas pelo tempo em que for capaz de manter), já que são noções produzidas em sociedade. Esse estado e guerra é eminente quando não há um poder maior que limita as acções dos homens, deixando que os apetites pessoais sejam a própria medida do que é bem e do que é mal. Para se conservar deste estado de natureza frente aos outros homens, Hobbes diz que o homem precisa de valer de duas disposições: a desconfiança e a antecipação. A antecipação seria uma atitude sensata que acompanharia a desconfiança, ou seja, um homem subjuga o outro antes de ser subjugado. Esse acto deve ser executado de tal maneira que não haja a possibilidade de reacção da parte de quem foi prejudicado, pois, se este possuir chance para a reacção, certamente agirá de maneira muito pior com quem tentou mutilá-lo;,

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quem se contenta somente com a sua própria defesa não dura muito tempo.

Ainda sobre o estado de natureza do homem, Hobbes alega que são três as fontes de discórdia entre os homens:

1. Competição: buscar controlar os outros, lucros, conquistas. 2. Desconfiança: gera o desejo de segurança, de defesa de posses. 3. Glória: reputação, sensação de superioridade que desqualifiquem outras pessoas.

O homem, contudo, tem paixão que seria o medo da morte e a esperança de paz. Assim, o que o leva a buscar escapar deste estado natural é o desejo de conservação e conforto, e assim, dotado de razão, o homem sugere normas de paz, acordos para alcançar esta finalidade.

Capítulo 14: Sobre a primeira e segunda leis naturais e sobre os contratos

Primeira lei natural: "procurar a paz, e segui-la". Segunda lei natural: "Faça aos outros o que queres que te façam a

ti".

Usufruindo da razão, o homem estabelece normas para promover a si condições de conservação e conforto. A Razão estabelece regras gerais, obrigações que se opõem à liberdade do direito de natureza. Assim, temos neste capítulo XIV algumas definições propostas por Hobbes: § Jusnaturale (Direito de Natureza): liberdade de o indivíduo fazer o que estiver em seu poder para preservar sua vida, ausência de impedimentos para usar o próprio poder.

§ Lex Naturalis (Leis Naturais): preceito ou regra geral estabelecida pela razão, ditam a paz como meio de conservação: “a paz é uma coisa boa”, os seus meios o serão, por conseguinte. Consiste em obrigações, opondo-se à liberdade do direito de natureza, proíbem o homem de fazer qualquer coisa que possa destruir a vida. Seguindo sua construção teórica acerca da formação de uma ordem social guiada pela razão e desejo de auto-conservação dos homens, Hobbes postula as duas primeiras Leis de Natureza, a partir das quais se desdobram outras “leis fundamentais de natureza”:

1ª Lei Natural: procurar a paz; Esforçar-se pela paz como artifício de segurança; caso não se obtenha a paz pelo esforço prévio, utilizar dos meios disponíveis de guerra (usufruir destes meios consiste em um Direito de Natureza).

2ª Lei Natural: renúncia ao direito sobre todas as coisas; o pacto. É necessário que os homens transfiram seus direitos a um soberano ou assembleia com o fim de alcançar a paz e a segurança. Quando os

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homens não têm um poder maior que lhes obriga a cumprir o contrato, o pacto é nulo, um juramento, simplesmente, não assegura a obrigação.

Capítulo 15: Sobre outras leis da natureza

Terceira lei natural: "Os homens têm de cumprir os pactos que celebrarem. (...) Nesta lei natural assenta-se a fonte e a origem da justiça."

As leis naturais é que propiciam a vida em sociedade. Em resumo, elas querem dizer: faça aos outros o que gostarias que fizessem a ti. Seguem as outras “leis fundamentais de natureza” apontadas por Hobbes no capítulo XV:

3ª Lei Natural: justiça; garantia de cumprimento do pacto. Quem rompe com o pacto é culpado pela guerra, está assumindo contar apenas com as próprias forças, deverá ser punido. Uma vez que o homem não cumpre um pacto, ele gera a injustiça e estimula outros a fazerem o mesmo com ele; logo, a justiça segue a razão, e é uma lei natural. É necessário haver um poder coercitivo para obrigar os homens que cumpram com suas palavras, um poder civil, o Estado. Onde este não existe, entende-se que não há a injustiça, e, logo, não há propriedade.

4ª Lei Natural: Gratidão; quem recebeu benefício de outro por simples graça deve esforçar-se para que o doador não tenha motivos para arrepender-se, pois, quem doa voluntariamente algo, espera algo em troca; caso isso não ocorra, não haverá como sair do estado de guerra. 5ª Lei Natural: esforçar-se para acomodar-se aos outros (diversidade de afecções); quem é resistente a essa lei, deve ser expulso da sociedade. 6ª Lei Natural: perdão (garantia de paz) 7ª Lei Natural: na vingança, i.e., na retribuição do mal com o mal, os homens não devem dar importância ao mal passado, somente ao bem futuro; trata-se de uma lei consequente à anterior. 8ª Lei Natural: não demonstrar ódio ou desprezo por outrem; no caso de infracção, a punição é a humilhação. 9ª Lei Natural: reconhecer os outros como iguais por natureza, pois todos os homens são iguais e tentar se mostrar superior não cabe às leis naturais; a infracção desta lei é o orgulho. 10ª Lei Natural: Ao se iniciar as condições de paz, ninguém pretenda reservar para si um direito que não aceite também ser admitido a outros, não impor que abram mão dos direitos que também não quer se privar. Quem aceita essa lei é modesto, quem não a acata é arrogante. 11ª Lei Natural: um juiz eleito tem que tratar as partes equitativamente (equidade ou justiça distributiva), a infracção dessa lei é a acepção de pessoas.

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12ª, 13ª e 14ª Leis Naturais: Tudo aquilo que não pode ser dividido deve ser gozado em comum. O que não pode nem ser divido e nem ser gozado em comum deve ser sorteado. O sorteio pode ser feito de maneira arbitrária de maneira a conceder em acordo a um dos indivíduos, como ocorre a concessão a um primogénito de uma herança. 15ª Lei Natural: Os mediadores da paz devem ter salvo-conduto porque esse é o meio para a intercessão. 16ª e 17ª Leis Naturais: Mediante controvérsia deve se estabelecer um árbitro e a este devem se submeter os indivíduos. Quando uma causa não é mediada por um árbitro e causou guerra: trata-se de uma guerra contra a lei de natureza. 18ª Lei Natural: Posto que cada um procura o seu próprio benefício, ninguém pode ser o seu próprio juiz. 19ª Lei Natural: No caso de uma controvérsia, um juiz deve ouvir o testemunho de uma terceira, quarta ou até mais pessoas pois não pode ser parcial.

Capítulo 16: Das pessoas, autores e coisas personificadas

Considerações acerca deste capítulo: Duas palavras são utilizadas em latim para indicar "pessoas", são elas prósopon e persona. Esta segunda se refere à pessoa como um actor, não como representante dela mesma.

Uma pessoa que emite as palavras de outrem é o actor do autor das palavras que fala, trata-se, portanto, de uma pessoa artificial que responde a autoridade concedida pelo autor, uma representante. As coisas inanimadas podem, geralmente, ser representadas; um supervisor ou director, por exemplo, pode representar uma igreja ou um hospital. Um ídolo não pode ser representado, somente o Deus verdadeiro o pode, como o foi por Moisés e por Jesus Cristo. Uma multidão pode ser representada por alguém que fale em seu nome, neste caso, é como se a multidão fosse uma só pessoa, sendo assim, trata-se de vários autores que atribuem ao representante comum sua autoridade particular.

Parte 2: Do Estado

Capítulo 17: Sobre as causas, geração e definição de um Estado

"A única forma de constituir um poder comum, capaz de defender a comunidade das invasões dos estrangeiros e das injúrias dos próprios comuneiros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio trabalho e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade."

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"Esta é a geração daquele enorme 'Leviatã', ou antes - com toda reverência - daquele deus mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa."

Para Hobbes, o fim último dos homens é a sua conservação e o cuidado com uma vida mais satisfeita, ou seja, o sair do estado de guerra. Segundo o autor, a realização desta finalidade é impossível quando não há um poder coercitivo que obrigue os cidadãos, por meio do medo e de castigos, a cumprir os pactos sociais.

Caso haja somente os pactos e não a força, em nada poderá confiar o cidadão senão em sua própria força para proteger-se contra os outros. Se houvesse como os homens se associarem pacificamente sem um poder comum, não haveria a necessidade da existência de um poder superior, pois haveria a paz sem sujeição. Para pautar a necessidade de um Estado coercitivo, Hobbes faz uma comparação da natureza humana às sociedades políticas de Aristóteles: por que o homem não é capaz de, como as formigas e abelhas, viver socialmente sem outra direcção que não a deles mesmos?

A resposta de Hobbes é a seguinte: a humanidade está envolvida em competições pela honra. Para abelhas e formigas não há distinção entre o bem comum e o individual, elas não dispõem do uso da razão. Essas criaturas não conseguem usar as palavras para convencer umas as outras de o que é mau, na verdade, é bom (o que significa atribuição de valores constitutivamente sociais). Por fim, o acordo vigente existente em comunidades de formigas e abelhas é natural, enquanto que os existentes nas sociedades humanas são artificiais (via pacto).

A única forma de constituir um poder comum é conferir toda força e poder a um homem ou assembleia como representante dos próprios cidadãos, reconhecendo-se como autores dos actos que aquele que os representa praticar, submetendo-se às suas vontades e decisões. Feita esta transferência de direitos, o Estado que se instaura é, então, o civil, chamado de “Leviatã” (paralelo traçado pelo autor entre a figura bíblica do Leviatã e o poder do Estado: este seria, então, um poder irresistível, mas com o fim de salvaguardar os interesses da população que se submete a ele.) A pessoa a quem foram confiados os direitos se torna a soberana e todas as demais lhe são súditos.

Capítulo 18: Sobre os direitos dos soberanos por instituição

Uma desvantagem apontada na existência de um Contrato Social é a impossibilidade de desfazê-lo: "(...) portanto nenhum dos súditos pode se libertar da sujeição, sob qualquer pretexto de infracção." Assim, acontece a passagem do estado natural, onde não há regra, para o

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estado civilizado, onde os homens depositam em um representante que resguarde os interesses de todos e cada um.

Todos os que concordaram ou discordam da escolha de um soberano deverão autorizar as decisões do mesmo. Não há a possibilidade legítima de se obedecer a outrem sem licença do soberano (mesmo se for com a licença de Deus). Não há autoridade superior ao soberano, nem pacto anterior às suas próprias decisões. Sendo assim, não há juiz capaz de acusar um soberano de injustiça, portanto, ele nunca quebrará um pacto. Ele é o juiz das acções e opiniões de todas as pessoas, e a finalidade de seu poder segue a primeira lei de natureza: a paz e a defesa de todos. Como não há quem possa julgar o soberano e sua existência política significa por si só a representação da segurança em oposição ao estado natural de guerra, qualquer ato de rebeldia frente ao poder soberano tem como consequência a discórdia, que significa o retorno à condição de guerra. Assim, Hobbes defende o não direito à insurreição e propõe formas ideais da organização do poder soberano:

§ A propriedade: organizada mediante submissão às leis civis, não há, pois, como havê-la sem essa submissão. § Nos quesitos de guerra e paz com outros Estados: o soberano é o que comanda a política, é ele o general. § Cargos políticos: pessoas e cargos escolhidos pelo soberano. § As recompensas e punições são previamente estabelecidas por lei. § O soberano deve criar leis de honra: elas servem para que sejam atribuídos valores diferenciados para os súditos que bem servirem e estabelecer os sinais de respeitos diferenciados entre os súditos em cada espaço. O soberano tem a honra maior.

Capítulo 19: Sobre as diversas espécies de governo por instituição e sobre a sucessão do poder soberano

Hobbes redige uma longa defesa do sistema monárquico absoluto e ressalta suas vantagens sobre os sistemas que incorporam Parlamentos:

"De outra maneira, não há qualquer grande Estado cuja soberania resida numa grande assembleia que não se encontre, quanto às consultas da paz e da guerra e quanto à feitura das leis, na mesma situação de um governo pertencente a uma criança."

Segundo o autor, há apenas três tipos de governo: monarquia, aristocracia e democracia; as formas de tirania e oligarquia representam respectivamente os dois primeiros quando em um estado detestável, a anarquia é o nome que se dá quando se sente prejudicado pelo governo democrático.

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Na monarquia, o interesse pessoal é o mesmo que o interesse público, nesta forma de governo não há como o soberano ser rico ou glorioso senão com os súditos. A democracia e a aristocracia já propiciam uma forma de corrupção que restrinja as riquezas do governo. Hobbes defende que a monarquia é menos inconstante, mais sensata com relação à admissão de conselhos, privilegia menos alguns em relação aos demais, em suma, a melhor forma de governo.

Capítulo 21: Sobre a liberdade dos súditos

Hobbes permite uma pequena brecha para que o súditos rompa o Contrato Social:

Liberdade, para Hobbes, significa ausência de oposição. Logo, a liberdade do homem indica que ele pode fazer o que tiver vontade, naquilo que é capaz de fazer.

O medo e a liberdade são compatíveis. Todos os actos praticados pelos homens no Estado por medo da lei são acções que seus autores têm liberdade de não praticar. Assim como a necessidade e a liberdade também são compatíveis: utilizando-se de suas liberdades e de suas necessidades, os homens instituíram o Estado e as "cadeias" das leis civis. A liberdade dos súditos está somente vinculada àquilo que o soberano lhes permitiu ao regular suas acções; isso, contudo, não quer dizer uma limitação do poder do soberano, uma vez que os súditos são autores dos actos dele, tudo o que o rei fizer estará em seus direitos. A liberdade do Estado consiste em cada um fazer o que quiser. Trata-se de uma situação análoga ao que ocorre com os indivíduos no estado natural, assim, os Estados vivem em estado de guerra em iminência de batalhas.

Hobbes permite uma pequena brecha para que o súditos rompa o Contrato Social: "A obrigação dos súditos para com o soberano dura enquanto, e apenas enquanto, dura também o poder mediante o qual ele é capaz de protegê-los. O direito que por natureza os homens têm de defender-se os si mesmos não pode ser abandonado através de pacto algum"."

Então, há a liberdade do súdito de resistir ao soberano de maneira justa quando se trata de um direito que o primeiro não cede ao segundo na execução do pacto. Todo súdito tem direito de defender sua vida, tem liberdade de não testemunhar algo que possa prejudicá-lo e de fazer aquilo que a lei mantém silêncio. A obrigação dos súditos dura enquanto dura também o poder mediante o qual o soberano é capaz de protegê-los: “o fim da obediência é a protecção”.

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Capítulo 23: A respeito dos ministros públicos do poder soberano

Aqui é traçado um perfil da actividade burocrática do Estado, notadamente do Poder Judiciário.

Capítulo 24: Sobre a nutrição e procriação de um Estado

Em defesa de um Estado forte:

"Os Estados não podem suportar uma dieta, eis que não sendo suas despesas limitadas por seu próprio apetite, mas sim, por acidentes externos e pelos apetites de seus vizinhos, a riqueza pública não pode ser constrangida por outros factores senão os que forem exigidos no momento."

Neste capítulo, Hobbes diz que a nutrição de um Estado se resume na quantidade e na distribuição de materiais necessários à vida. A abundância desses materiais depende de Deus e do trabalho.

Concepção de Estado forte que está ligada ao valor do trabalho de um súdito e à propriedade individual: o trabalho de um homem é um bem que pode ser trocado por benefícios e a distribuição dessa nutrição estatal é que constitui a concepção de propriedade. A propriedade de um súdito indica que daquilo que a ele pertence nenhum outro súdito possui direito de usufruir senão ele e, quando julgar necessário, o soberano.

Capítulo 25: Sobre o conselho

Hobbes, à semelhança de Nicolau Maquiavel, atribui destacada importância ao uso que o soberano deve fazer dos conselheiros.

Capítulo 26: A respeito das leis civis

Entre outras considerações, cabe destacar a visão do autor de que o "O único legislador é o soberano em todos os Estados", seja o Monarca ou o Parlamento. "O soberano de um Estado não se encontra sujeito às suas próprias leis civis", pois tem o poder de fazê-las e revogá-las quando lhe convém. Além disso, a prática e o costume só têm validade enquanto o soberano não se manifesta.

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Capítulo 29: Das coisas que enfraquecem ou levam à dissolução de um Estado

Hobbes traça alguns pontos que levariam ao enfraquecimento de um Estado, pontos que chama de enfermidades, são elas:

1. Contentar-se com menos poder do que é necessário para a manutenção da paz e da segurança do mesmo. Quando isso ocorre, os súditos, ao exigirem que o soberano cumpra suas promessas, podem ser apoiados por países estrangeiros. Isso pode levar que estes se fortifiquem em relação ao fragilizado Estado em questão 2. Crer que todo indivíduo é juiz de boas e más acções, e, assim, não instituir leis civis que as determinem. Os homens, neste caso, tenderão a discutir as ordens do Estado e, logo, as obedecerão ou desobedecerão conforme julgar conveniente. 3. O soberano estar submetido às leis civis Isso é fazer de um juiz o soberano do soberano, logo, deverá existir um juiz do segundo e assim infinitamente, gerando confusão. 4. Todo indivíduo ter propriedade particular a ponto de excluir o poder do soberano sobre ela 5. O poder soberano ser dividido

Parte 3: Do Estado cristão e Parte 4: Do Reino das Trevas

Segundo Richard Tuck, professor da Harvard University, aqui a intenção de Hobbes era, no contexto da Revolução Puritana, estabelecer a supremacia do soberano em questões de fé e doutrina.

Capítulo 38: Do Significado, nas Escrituras, de Vida Eterna, Inferno, Salvação, o Mundo por vir, e Redenção

A manutenção da Sociedade Civil, dependendo da Justiça; e Justiça no poder da Vida e Morte, e outras Recompensas e Punições, residindo nelas que têm a Soberania da Commonwealth (Comunidade de Nações); É impossível que a Commonwealth permaneça, onde qualquer coisa, além do Soberano, tenha o poder de dar recompensas maiores do que a Vida; e de infligir punições maiores do que a Morte. Ora, vendo que a Vida Eterna é uma recompensa maior do que a vida presente; e o tormento Eterno uma punição maior do que a morte da Natureza; Esta é uma coisa digna de receber consideração, de todos os homens que desejem (por obedecer à Autoridade) evitar as calamidades da Confusão, e guerra Civil, que as santas Escrituras querem dizer com Vida Eterna, e Tormento Eterno; e por quais ofensas, e contra quem cometidas, os

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homens devem ser eternamente atormentados; e por que acções obterão vida Eterna.

O lugar onde Adão teria Eternidade se não tivesse pecado, era o Paraíso terrestre. No início descobrimos que Adão foi criado em tal condição de vida que, não transgredindo o mandamento de Deus, ele teria usufruído dela no Paraíso do Éden para Sempre. Pois havia a Árvore da Vida; da qual ele teria sido permitido comer se deixasse de comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal; que não lhe era permitida. E portando, assim que ele a comeu, Deus o expulsou do Paraíso, para que ele não estendesse a mão e tomasse também da árvore da vida, e vivesse para sempre. Pelo que me pareceu (submetendo, contudo, ambos nisso, e em todas as questões, de onde a determinação depende das Escrituras, à interpretação da Bíblia, autorizada pela Commonwealth, de quem sou súdito) que Adão, se não tivesse (Gen. 3. 22) pecado, teria a Vida Eterna na Terra: e que a Mortalidade entrou nele, em sua posteridade, pelo seu primeiro Pecado. Não que a Morte em si entrasse então; porque neste caso Adão nunca teria podido ter filhos; ao passo que viveu muito tempo após, e viu numerosa descendência até morrer. Mas onde diz, No dia em que comeres, positivamente morrerás, deve querer dizer sua Mortalidade, e certeza de morte. Vendo então que a vida Eterna estava perdida pelo erro de Adão, em cometer pecado, aquele que devia cancelar este erro recuperaria, com isso, aquela Vida novamente. Ora, Jesus Cristo compensou pelos pecados de todos os que crêem nele; e assim recobrou para todos os crentes, aquela Vida Eterna, que foi perdia pelo pecado de Adão. E é neste sentido que entendemos o que São Paulo ensinou, (Rom. 5. 18, 19.) Como, pela ofensa de um, sobreveio Julgamento sobre todos os homens para condenação, assim mesmo, pela rectidão de um, a dádiva gratuita sobreveio a todos os homens para Justificação da Vida. O que é novamente (1 Cor. 15. 21, 22.) entregue com mais perspicácia nestas palavras, Pois visto que pelo homem veio a morte, pelo homem também veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, assim em Cristo deverão todos ser vivificados. Textos concernentes o lugar da Vida Eterna, para Crentes. Concernente ao lugar onde os homens usufruirão esta Vida Eterna, a qual Cristo tinha obtido para eles, os textos a seguir parecem dar a entender que será na Terra. Pois se em Adão todos morrem, isto é, perderam o Paraíso, e Vida Eterna na Terra, assim em Cristo todos serão vivificados; então se fará com que todos os homens vivam na Terra; caso contrário, a comparação não seria apropriada.

O egoísmo ético de Hobbes

O autor defendeu nesta obra que a única obrigação moral com a qual os agentes estão comprometidos é a satisfação do seu próprio interesse. Nota-se que Hobbes não defendeu que agimos "sempre" por interesse próprio: por exemplo, pelo fato de sermos "naturalmente" egoístas. Ele defendeu algo consideravelmente mais "forte": mesmo que seja possível agir de forma "não egoísta", pura e simplesmente não devemos fazê-lo.

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Daí que, segundo Hobbes, o único princípio ou norma de comportamento seja a persecução dos interesses particulares de cada agente.

Conclusão:

. Contexto

1. Concepção do homem

1.1 Sujeito é racional quando é capaz de adequar os meios aos fins. 1.1.1 Desejo não se limita à necessidade. Envolve apetites, variedade de intensidade, é sujeito a mudanças; é uma paixão. 1.1.2 A razão é um instrumento para satisfazer a paixão 1.2 Igualdade fundamental entre os homens: todos possuem poder de satisfazer desejos e capacidade de serem violentos. 1.2.1 Perspectiva da escassez e da acumulação. 1.3 Só poderão ser detidos por uma força que se mostre superior à sua

2.Estado de Natureza

2.1 Estado onde o homem disputa de todas as coisas por direito natural e absoluto. 2.2 Direito de Natureza: é o direito e a liberdade de cada um para usar todo o seu poder inclusive a força para preservar a sua natureza e satisfazer os seus desejos. 2.3 Lei Natural: é a regra geral, ditada pela razão, que obriga cada um a preservar a sua própria vida e o proíbe de destruí-la 2.3.1 Primeira Lei da Natureza: todo homem deve esforçar-se para que a paz exista e seja mantida desde que haja expectativas reais de consegui-lo. 2.3.2 Violação da Primeira Lei da Natureza: faz com que passe a vigorar apenas o Direito de Natureza: todos recorrem ao livre uso da força para aumentar seu poder ou para impedir que o seu poder seja controlado por terceiros = Estado de Guerra. 2.4 Estado de Natureza = Estado de Guerra 2.4.1 Mesmo que não exista estado de batalha 2.4.2 Plena liberdade e total terror: a violência é iminente e pode ocorrer da forma mais imprevisível, sem qualquer causa aparente 2.4.3 Homens: Não podem gerar riqueza: ocupam-se durante todo o tempo em atacar outros ou em protegerem-se da possibilidade de serem atacados.

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3. Sociedade política (Estado) é a única alternativa que a razão mostra existir ao estado de guerra

3.1 Segunda Lei da Natureza: para que haja paz e segurança, os homens devem concordar conjuntamente em renunciar ao direito de natureza (uso individual e privado da força) 3.1.1 Todos renunciam absoluta e simultaneamente 3.1.2 Ao renunciar, os homens transferem esse direito para outra pessoa, externa ao pacto: como todos os homens pactuam, esta pessoa não é um ser humano 3.1.3 Trata-se de um ser artificial, que se origina do pacto e que recebe os direitos e poderes naturais de todos os indivíduos: é o soberano = Estado 3.1.4 O pacto cria o soberano: todos os membros se tornam seus súditos, logo, todos devem obedecer ao soberano 3.1.5 A ordem política resulta do cálculo racional dos homens 3.2 Obrigação política (obediência) resulta da Terceira Lei da Natureza: os homens devem cumprir os pactos que fazem 3.2.1 É lei exigida pela razão e garantida pelo soberano: inclui a noção de consentimento (razão) e a noção de coerção (poder do soberano) 3.3. Soberania: poder do soberano é ilimitado 3.3.1 Por não participar do pacto, o soberano não tem nenhuma obrigação ou compromisso para com ele 3.3.2 Além disso, o soberano concentra em si toda a força à qual renunciaram todos os homens. 3.3.3 Mas o soberano, como pessoa artificial, não deverá manifestar as mesmas falhas dos homens naturais 3.3.4 Por isso o soberano deverá actar às leis da natureza: este é o seu limite 3.3.5 Função do soberano: é fazer valerem as leis da natureza: garantir a paz e a segurança dos súditos 3.3.6 A obrigação dos súditos: rua enquanto o soberano cumprir a sua obrigação 3.3.7 Leviatã é um monstro mortal: morre se não realizar a sua missão: segurança dos súditos e as liberdades privadas que justificam a sua criação e que serão expressas na lei civil. 3.4 A liberdade dos súditos é resguardada em tudo o que não se refere ao pacto e em tudo aquilo que a lei não se pronuncia 3.4.1 O pacto institui o soberano: é isto que garante condição de paz e segurança para o exercício da liberdade na esfera privada. 3.5 Igualdade: natureza faz homens iguais nas faculdades do corpo e da mente: igualdade factual e natural 3.5.1 Igualdade política: igualdade de forma perante a lei 3.6 Estado de Natureza: todos têm direito a tudo: não há como definir pretensões justas ou injustas 3.6.1 Não há qualquer critério da natureza para estabelecer a propriedade: não há lei sem autoridade que estabelece o que é que pertence a cada um; então não pode existir justiça 3.6.2 Justiça: significa dar a cada um o que lhe pertence: baseada na

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ideia de propriedade 3.6.3 Se a propriedade não existe no estado de natureza, tampouco pode-se esperar que exista justiça 3.6.4 Justiça e propriedade: só podem existir na sociedade política 3.6.5 É o soberano que atribui a cada homem uma parcela conforme o que ele próprio considera compatível com a equidade e o bem comum 3.6.6 Propriedade: é um conjunto de direitos artificiais sobre algo, impedindo o seu desfrute não autorizado por parte de outros mas sem impedir que o soberano o faça.

4. Estado: soberania ilimitada e indivisível: soberano controla tudo

4.1 Três formas de governo soberano: modelo clássico 4.1.2 Monarquia, aristocracia e democracia 4.1.3 Hobbes: prefere monarquia, mas não está preocupado com a forma de governo e sim com a soberania plena

5. Conceito de representação política: pelo pacto, cada indivíduo reconhece-se como sendo o autor legítimo de todos os atos do soberano, que passa a ser o actor o que age em nome dos súditos

5.1 Representação autoritária: mandato independente uma vez autorizado, o actor é livre para decidir em nome dos interesses do autor 5.1.1 Soberano: representa todos os súditos no que diz respeito à paz e à segurança colectiva 5.1.2 Todos submetem suas decisões à decisão do soberano porque não há oposição entre súditos e soberano.

6. Concepção individualista da sociedade e da política: a instituição do soberano deixa intacta a individualidade dos contratantes

6.1 Não há noção de totalidade: povo, vontade geral, etc. 6.1.1 Cada homem é uma unidade no momento anterior ao pacto, no momento dos pactos e posterior ao pacto

7. Não existe direito à rebelião

7.1 Fora do Estado a vida não é possível 7.2 Não há distinção entre Estado (soberano) e governo: típico do pensamento absolutista

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8. Relações Internacionais

8.1 Estados soberanos vivem em contínua vigília de armas: perpétuo estado de guerra 8.1.1 Cada Estado é livre para buscar o que for mais favorável ao seu próprio interesse 8.2 Não existe direito positivo acima do Estado 8.2.1 A única coisa que os contêm é o cálculo racional e o temor da destruição recíproca 8.2.2 Contradição: aparentemente o Estado soberano não está tão sujeito quanto os homens às paixões humanas 8.3 Soberano: comanda exércitos, controla comércio externo, celebra acordos e contratos com outros Estados.

9. Método de Hobbes

9.1 Resolutivo compositivo 9.1.2 Reduz a realidade às suas partes mínimos para depois recompô-las em um “todo” significativo 9.2 Lógica racional dedutiva 9.2.1 Rejeita a história e a exemplificação 9.2.2 Seu estado de natureza não tem base empírica: é o exercício contrafactual: sendo os homens o que são, como seria a vida coletiva se não houvesse Estado? 9.3 Trabalha com antinomias: estado de natureza vs sociedade política; razão vs paixão (desejos e aversões) 9.3.1 Antinomias: não permitem trânsito natural: criação da pessoa artificial é que torna a ordem positiva. 9.4 Rejeita a história 9.4.1 Não tem base empírica

II. Leviathan

1.Introdução

Em sua obra “Leviathan”, Thomas Hobbes reflecte sobre a impossibilidade do retorno dos homens ao estado de natureza, quando, entre outras coisas, afirma que os homens foram feitos iguais. Argumenta que sua natureza leva à discórdia (competição, desconfiança e desejo de glória). Sem um poder comum, os homens estarão sempre nesse estado de natureza, ou seja, em constante estado de guerra uns contra os outros, havendo, assim, a necessidade de um poder comum que os ordene, pois não existe um equilíbrio entre atritos e a estabilidade sempre que não houver a paz, necessariamente se travará a guerra.

Nessa guerra de todos contra todos, nada pode ser injusto. Não existe distinção entre bem e mal, justiça e injustiça. Onde não há bem

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comum, não há lei, e onde esta não existe, certamente não haverá justiça. No estado de guerra, força e fraude são consideradas virtudes.

É de fundamental importância, também, destacar-se que nesse estado não há definição de propriedade. Consequentemente, será de cada um o que seus próprios esforços conceder adquirir e só clamará direitos sobre isso enquanto puder mantê-lo.

O medo constante leva os homens a entrar em guerra. Por isso, é também em virtude do desejo de confronto e esperança de uma boa vida através do trabalho, o homem tende à paz. Assim, surgiram as leis, as normas estabelecidas para chegar-se a esse fim. Os homens renunciam aos seus direitos em troca de estabilidade e boas condições de vida e, uma vez feita essa troca, em forma de pacto, encontram-se diante da impossibilidade e voltar ao estado em que primeiramente se encontravam. Em uma sociedade, não se disporá a renunciar a todas as suas regalias e voltar a um estado primitivo de vida repleto de inseguranças.

2. Concepção do homem

Sob a visão de Thomas Hobbes, o homem é uma máquina natural submetida a estrito encadeamento de causas e efeitos, o qual envolve apetites e aversões. Seus desejos têm objectos distintos, variam de intensidade, e são sujeitos a mudanças (podem perder sua importância).

Nesse contexto, subjectivizam-se os conceitos de bem e mal, afirmando-se ser o bem o que satisfaz os apetites de glória, dinheiro e poder, e o mal, o que conteria os apetites e geraria aversões.

Faz parte da natureza humana agir deliberadamente, visar sempre a satisfação de seus desejos, e a ganância. Devido à possibilidade de variação na intensidade dos seus desejos, uns almeja porções maiores que os outros, o que não interfere no propósito comum a todos: a busca do poder.

3. Visão no Estado de Natureza

Estado de natureza é a condição em que se encontram os homens fora de uma comunidade política (ou sociedade), em que os homens disputam todas as coisas por direito naturais e absoluto.

Nesse estado, possuem o chamado direitos de natureza, o qual consiste na liberdade dos homens de unirem-se a fim de preservar suas vidas e, consequentemente, fazer tudo a quilo que seu julgamento e razão mostram adequar-se a isso. Em outras palavras, é o direito à sobrevivência.

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Assim, o homem deve esforçar-se para que exista a paz e que esta seja mantida, mas, no entanto, não deve renunciar aos seus direitos em favor dos outros deve garantir a sua própria existência acima de qualquer princípio. Se o estado de harmonia em que se encontrar for violado, é digno de recorrer ao livre uso da força se não para aumentar seu poder, para impedir que ele seja controlado.

Uma consequência do que foi acima descrito é a dificuldade do homem em gerar riquezas: ocupa-se primordialmente em atacar os outros ou proteger-se contra ataques alheios.

Na concepção de Thomas Hobbes, estado de natureza é sinónimo de estado de guerra.

4. Características do pacto

A fim de estabelecerem-se a paz e a segurança Thomas Hobbes diz que os homens devem, absoluta e simultaneamente, renunciar ao direito de natureza (uso individual e privado da força) e transferi-lo a alguém externo ao pacto. Destaca-se, porém, que esse “alguém” não poderia ser um ser humano, já que todos desta espécie são vinculados ao pacto. O meio encontrado para concentrar esse pode central foi o estabelecimento do Estado político, cujos interesses são defendido pelo soberano. É considerado um ser artificial, de categoria divina. Ele não age de acordo com sua vontade; sua autoridade foi consentida pelos membros de seu governo. Portanto, todos os seus actos constituem, necessariamente, os desejos da colectividade. Como consequência, tem-se que contestar a ele seria o mesmo que se opor a si mesmo.

5. Bases do poder absoluto

Por ser externo ao pacto, o soberano possui poder ilimitado e não contrai, portanto, obrigações. Concentra todas as forças a que renunciaram os homens. Sua função é fazer valerem as leis da natureza. Mediante isso, podem ser destacar os direitos do soberano:

# 1: feito um pacto, qualquer fato ou contrato anterior que o contrarie deve ser suprimido; # 2: nenhum súdito pode libertar-se da sujeição ao sobrano o soberano representará a vontade geral do início ao fim e renunciar a ele seria uma contradição; # 3: se a maioria, por voto de consentimento, escolher um soberano, os que tiverem discordado devem passar a consentir juntamente com os restantes; # 4: nada que o soberano faça pode ser considerado injúria contra qualquer um de seus súditos; # 5: aquele que detém o poder do soberano não pode ser punido por seus súditos; # 6: compete à soberania ser juiz de quais as opiniões e doutrinas que

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são contrárias à paz, e quais as que lhe são propícias; # 7: pertence à soberania do poder de prescrever as regras de propriedade; a autoridade judicial; direito de fazer guerra e paz com outras nações e Estados; escolher os conselheiros, ministros, magistrados e funcionários, tanto na paz como na guerra; e direito de recompensar com riquezas e honras, e o de punir com castigo corporais ou pecuniários, ou com a ignomínia, a qualquer súdito, de acordo com a lei que previamente estabeleceu.

6. Liberdades dos súditos

As liberdades dos súditos abrangem somente que não se refere ao pacto e ao que a lei não se pronuncia. É o princípio do direito privado: tudo que não é proibido é permitido.

Mais especificamente, constituem liberdades dos súditos:

Submeterem-se ao soberano (visando o bem comum); Não se matar, ferir ou mutilar quando pelo soberano ordenado Não confessar crime que não tenha cometido; Não se matar a si ou a outrem por causa de suas próprias

palavras Defender seus direitos face ao soberano em questões de posse

de terras ou bens como se fosse contra outros súdito e perante os juízes que o soberano houver designado;

Aceitar ser prisioneiro de guerra se sua vida e sua liberdade corpórea lhe forem oferecidas.

Thomas Hobbes diz que é importante observar-se, neste ponto, que se um monarca renunciar à soberania, tanto para si mesmo como para seus herdeiros, os súditos voltam à absoluta liberdade de natureza.

Diante dos pontos já relatados e analisados, chega-se à conclusão da infinidade de vantagens (em relação às desvantagens) da vida em sociedade. Renunciar à essa convivência pacífica com os outros seres seria como renunciar à liberdade e segurança e voltar a um mundo primitivo em que o nascer de um novo dia constitui sempre um novo desafio.