2. transmissão e manutenção de agentes patogênicos · transmitida numa população; impacto das...

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2. Transmissão e manutenção de agentes patogênicos CURSO DE EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA, ACT Prof. Luís Gustavo Corbellini EPILAB /FAVET - UFRGS 23/09/2014 1

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2. Transmissão e manutenção de agentes

patogênicos

CURSO DE EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA, ACT

Prof. Luís Gustavo Corbellini

EPILAB /FAVET - UFRGS

23/09/2014 1

Ao final desta aula o aluno deverá

compreender

◦ Questões essenciais de como uma doença é

transmitida numa população;

◦ Impacto das diversas formas de transmissão

na dinâmica de espalhamento de uma doença;

◦ Entender o como a doença se mantém na

população.

23/09/2014 2

Epidemiologia Qualitativa

Trata de aspectos básicos fundamentais

para o entendimento de como uma

doença se comporta numa população.

23/09/2014 3

Para discussão 2 (5 minutos)

O que é necessário conhecer para controlar uma

doença infecciosa numa população animal de uma

região?

23/09/2014 4

Esquema construído para entender as

relações dos diferentes elementos que

levam ao aparecimento de uma doença

transmissível.

Cadeia Epidemiológica

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ALGUMAS TERMINOLOGIAS

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Animal ou artrópode que é capaz de ser infectado, abrigar,

e dar sustento a um agente infeccioso.

H. definitivo

H. intermediário

H. primário (ou natural)

H. reservatório (ou reservatório)

Hospedeiro incidental (final ou acidental)

Hospedeiros

Termos utilizados na protozoologia

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Protozoologia

H. definitivo

◦ Toxoplasma : gatos

◦ Plasmodium (malária): mosquitos

H. intermediário

◦ Toxoplasma: mamíferos

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Epidemiologia

Hospedeiro primário (natural)

◦ Cinomose em cães, Aujeszky em suínos.

Reservatório (Hospedeiro reservatório):

◦ O hospedeiro no qual o agente sobrevive normalmente e se

multiplica (fonte de infecção para os outros animais).

Ratos reservatórios de Leptospira icterohemorrhagiae

Hospedeiro final (incidental)

◦ Não transmite o agente

Homem e eqüinos - Vírus da Febre do Nilo

AC em 05 equinos na Região do Pantanal em 2011

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Vírus da Febre do Nilo

Reservatórios: Aves Hospedeiros finais Vetor: Culex sp.

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Vetores

Vetores

Veículo de transmissão indireta vivo.

Geralmente artrópodes:

◦ Carrapato, insetos (mosquitos, flebotomíneos).

Tipos de vetores

Mecânico: carreia fisicamente, não se multiplica.

Biológico: parte do ciclo de vida, se multiplica.

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Reservatórios - Influenza

Marrecos – RS. Foto: A. Becker

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Transmissão e manutenção de agentes patogênicos

“A continuidade da sobrevivência de um

agente infeccioso depende da sua transmissão

bem sucedida e multiplicação do agente para

manutenção do ciclo de vida na

população.”

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TRANSMISSÃO

Parte 1

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A agente infeccioso passa de um indivíduo

para outro indivíduo (mesma espécie ou

não).

1. Vias de infecção;

2. Aspectos relacionados a transmissão de um

agente.

Transmissão

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Locais por onde o agente penetra no hospedeiro e pode ser

eliminado.

Via oral;

Via respiratória;

Membrana mucosa, pele;

1. Vias de infecção

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Muito comum um indivíduo adquirir a infecção pela

inalação de uma partícula contento um agente.

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Trato respiratório

◦ Aerossóis

Trato digestório

◦ Secreções orais (saliva)

◦ Fezes contaminadas:

Vírus ou bactérias que se replicam/multiplicam no epitélio

intestinal

Trato urogenital

◦ Urina

◦ Sêmen

◦ Secreções uterinas, líquidos placentários

Secreções oculares

Patógenos podem ser eliminados de muitas formas dos indivíduos

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2. Aspectos relacionados a transmissão de um

agente

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Tipos de transmissão

1.Horizontal

• São aquelas transmitidas de qualquer

segmento da população para o outro.

2.Vertical

• Transmitidas de uma geração para outra por

ocasião da infecção in utero ou in ovo.

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1. Transmissão Horizontal

Transmissão direta

◦ Contato infectado (I) – suscetível (S)

Transmissão indireta

◦ Fômites

◦ Ar (aerossol)

◦ Vetores (carreador mecânico)

I S

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Transmissão direta: secreções

Febre catarral maligna

Febre Aftosa

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Transmissão indireta: fômites

Mercado de aves vivas, Ásia

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Transmissão indireta: ração contaminada

Corbellini

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Qual dos seguintes agentes é suspeito de ter sido introduzido na

América do Norte através de um ingrediente da ração animal

constituindo-se numa importante doença infectocontagiosa?

0%0%0%0%0%

1. 2. 3. 4. 5.

1. Príon BSE

2. Vírus da Diarreia Viral Bovina

3. Neospora caninum

4. Diarreia Epidêmica suína

5. Peste Suína Africana

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Fábrica de ração – controle de processos

Recepção

Dosagem

Balança

Moagem

Misturador

Expedidos

Peletização Resfriado Expedidos

OD

OC

PCC 1

PCC 2 PCC 3

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Métodos de transmissão horizontal

1. Ingestão • Água, ração contaminada com secreções-excreções, carcaças,

hospedeiros intermediários;

• Geralmente são excretados nas fezes;

2. Transmissão aérea • Meio usual de transmissão de esporos de fungos, vírus e bactérias

do trato respiratório (alguns não associadas ao trato respiratório);

• Ocorrem mais em alta densidade e ventilação deficiente;

• Aerossol: soluções na forma de aspersão fina (spray) formando

gotículas (1 -100nm) e partículas virais finas suspensas no ar.

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Métodos de transmissão horizontal

3. Contato

Doenças infectocontagiosas

Febre aftosa, PSC;

4. Inoculação

Carrapato, mosca, seringas contaminadas;

5. Transmissão venérea (doenças venéreas);

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Transmissão Influenza A (H5N1)

Observou-se, no início da pandemia, que a transmissão de influenza aviária (altamente patogênica H5N1) intra-granja foi maior em aves criadas em pisos do que em gaiolas. Porquê?

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Disseminação de uma doença

O modo de transmissão dos agentes

infecciosos têm muita influência na velocidade

disseminação.

◦ Agentes transmitidos pela rota fecal-oral e aérea

freqüentemente produzem epidemias súbitas

explosivas;

◦ Transmissão venérea se disseminam mais

lentamente.

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Transmissão a longa distância

Resultado do trânsito de:

◦ Animais;

◦ Vetores;

◦ Movimento de pessoas (regional, aviões, navios);

◦ Fômites (veículos, equipamentos);

◦ Vento: Gotículas núcleo – evaporação água do aerossol;

Vetores (moscas);

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Modelos de difusão aftosa

Importante:

◦ Suínos eliminam o vírus por aerossol 3.000 vezes mais do que bovinos e ovinos;

São menos suscetíveis a infecção por via aérea do que bovinos;

◦ 7 sorotipos (A, O, C, SAT 1, SAT 2, SAT 3 e ASIA 1) e inúmeros subtipos (RNA, fita simples).

Variam em virulência, capacidade de infectar hospedeiro específico e habilidade de espalhar por aerossol;

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Estima a dose acumulada de vírus inalada

por um bovino a uma determinada

distância (0,1, 1 ou 10km) do foco

primário utilizando como medida de

concentração TCID50/m3

Modelo da Pluma Gaussiana (Gloster, 1981)

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Parâmetros para o cálculo de transmissão pelo vento:

Eliminação de 102,9 TCID50 por suíno/hora;

100 metros foi estimado 5 TCID50 de vírus para cada 103 litros de ar;

100 km foi estimados 5 TCID50 de vírus dispersos em cada 107 litros de ar;

0,06 – 0,07 TCID50 por m3 de ar causa infecção em bovinos;

Parâmetros de infecção nos bovinos:

Bovino processa 2,5 x 107 litros (50hs);

Dispersão do vírus: umidade, mudanças de vento

Foi concluído que em 100km do foco primário tinha uma

quantidade suficiente para infectar um bovino;

Epidemia Aftosa, Inglaterra 1967 (Tipo C)

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Pluma Gaussiana

100km

Baixa concentração viral no ar

Alta concentração viral no ar

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Cenários de transmissão •Eliminam grandes quantidades por aerossol; •Menos suscetíveis a infecção aérea;

•Eliminam poucas quantidades por aerossol; •Mais suscetíveis a infecção aérea (capacidade respiratória);

•Comportamento similar ao bovino; •Lesões muito brandas e podem ser transportados infectados;

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Métodos de transmissão confirmados de FA

Saudável Doente Saudável

Contágio direto Contágio indireto

Doenças Contagiosas

Fômites Ar

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Epidemia Aftosa, Europa 2001

Suspeita de suíno infectado abatedouro

em 19 fevereiro 2001;

57 focos confirmados quando a doença

foi confirmada em 20 de fevereiro de

2001;

Setembro de 2001 ~6 milhões de animais

abatidos;

8 bilhões de libras de custo;

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Epidemia Aftosa, Europa 2001

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Epidemia Aftosa, Europa 2001

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As transmissões a longas distâncias da epidemia de

2001 foi decorrente principalmente de:

1. 2. 3. 4.

0% 0%0%0%

1. Difusão do agente em gotículas

núcleo pelo ar;

2. Trânsito de bovinos;

3. Difusão local pelo ar de suínos

para ovinos e trânsito de ovinos;

4. Difusão local pelo ar de suínos

para ovinos, trânsito de ovinos e

difusão local por fômites e

pessoas próximos a frigoríficos.

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Epidemia Aftosa, Europa 2001

Fonte:

◦ Granja de suínos na Inglaterra alimentados com restos de comida de restaurantes;

Tipo de vírus:

◦ Tipo O, sub-tipo Pan-Asia;

◦ Similar ao encontrado na Irlanda, Holanda e França (epidemiologia molecular);

Origem do vírus – investigação epidemiológica:

◦ Provavelmente carne, ou produto de origem animal contaminado usado na alimentação dos suínos

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Hipóteses para o espalhamento 1:

Movimento de suínos infectados, já recuperados

da infecção

Abatedouro (difícil identificar a lesão)

Difusão indireta, através de pessoas, fômites

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Hipóteses para o espalhamento II:

Transmissão aérea de suínos para ovinos

Época favorável sobrevivência do vírus ambiente

Período de intenso movimento de ovinos (mercado)

Ovinos naturalmente mais resistentes

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Febre Aftosa RS - 2001

ArcView

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Métodos de transmissão – doenças transmissíveis

Saudável Doente Saudável Saudável

Contágio direto Contágio indireto

Doenças Contagiosas

veículo

Doenças não contagiosas

vetor

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2. Transmissão Vertical

Transmissão que ocorrem da mãe para o filho:

Hereditária;

Congênita (adquiridas in utero):

◦ Influência do período de gestação;

◦ Imunidade materna durante a gestação;

◦ Imunidade fetal.

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K. Helms for M. McAllister 23/09/2014 51

Agentes infecciosos são introduzidos nas

propriedades/região por muitos caminhos

Transmissão direta: Contato, quando um animal contaminado é introduzido

Indireta: Fômites, vetores, água,

ração

Prevenção: BIOSSEGURIDADE

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Biosseguridade Programas de controle de doenças usado para:

Reduzir/prevenir a introdução de patógenos no rebanho.

Reduzir/prevenir a difusão de patógenos no rebanho.

Práticas de manejo que reduzem as chances de uma doença infecciosa entrar no rebanho através de animais e/ou pessoas/veículos.

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Manutenção de patógenos

PARA ONDE O PATÓGENO SE DESLOCA

QUANDO NÃO ESTÁ NO HOSPEDEIRO?

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Manutenção de patógenos

Dois tipos de patógenos:

Os que precisam de um organismo para

permanecer vivos (maioria dos vírus, algumas

bactérias e protozoários);

Patógenos que contém estágios resistentes,

conseguem sobreviver no ambiente;

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Manutenção da doença

1. Doenças de ciclo curto;

2. Doenças de ciclo longo;

3. Formas resistentes;

4. Persistência em reservatório;

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Manutenção da doença

1. Doenças de ciclo curto:

Vírus da Cinomose

Replicação

Morre Imune

Eliminação via respiratória,

fezes, urina

Manutenção da Infecção?

Infectar outro cão rapidamente

• Paramyxoviridae; • DNA, Envelope; • Período incubação (dias): 3-15

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Manutenção da doença

Cidades ≥ 250.000 habitantes, cinomose endêmica por 3 anos de estudo;

Quando populações suscetíveis (cães jovens) se tornar grande suficiente, epidemia cinomose ocorre;

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Manutenção da doença

2. Doenças de ciclo longo:

Persistência de patógenos em infecções crônicas ◦ Tuberculose: curso clínico longo, muito tempo eliminando

o agente.

◦ Brucelose bovina: fêmea, após aborto, com infecção subclínica, cronicamente infectada.

Persistência de patógenos em vírus de infecções lentas: ◦ Período de Incubação longo

Maedi-Visna (pequenos ruminantes): 2-3 anos

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Manutenção da doença

3. Formas resistentes ◦ Bactérias formadoras de esporos;

◦ Oocistos de protozoários, ovos de helmintos.

4. Perpetuação em reservatórios ◦ Leptospira spp.: espécie – específica

L. icterohaemorrhagiae: adaptada ao rato (reservatório), causando doença em seres humanos.

◦ Muitos vírus possuem uma série de hospedeiros, sem causar a doença em muitos deles (reservatórios).

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Fatores para manutenção da infecção

1. Evitar um estágio no meio ambiente (externo); ◦ Transmissão vertical, venérea, vetor.

2. Formas de resistência; ◦ Clostridium spp., Bacillus spp. (endosporo)

◦ Cistos de protozoários, ovos de helmintos;

3. Persistência dentro do hospedeiro; ◦ Imunodepressão;

◦ Latência;

◦ Infecção in utero antes da formação da imunidade fetal: imunotolerância (Vírus BVDV);

◦ Resistência intracelular (Mycobacterium tuberculosis);

4. Aumento do numero de hospedeiros suscetíveis;

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