2. resenha biografia vinícius de moraes

28
“Algo eterno, apenas, enquanto dura” Resenha do livro de CASTELLO, José. Vinícius de Moraes: o poeta da paixão, uma biografia. 2º edição. SP: Cia das Letras, 1994. Ana Crhistina Vanali __________________________________________________________________ ______________ 1 Polêmico, boêmio e conquistador. Vinicius de Moraes, o "Poetinha", nascia há 100 anos em 19 de outubro de 1913.O biógrafo de Vinicius, José Castello 2 , autor do livro "Vinicius de Moraes: o Poeta 1 Foto do site http://www.viniciusdemoraes.com.br . Acesso em 16 de janeiro de 2014. 2 José Guimarães Castello Branco (Rio de Janeiro RJ 1951). Biógrafo, crítico literário, cronista, romancista e jornalista. De ascendência nordestina, seu pai, José Ribamar Martins Castello Branco vem de Parnaíba, Piauí, para viver no Rio de Janeiro. José Castello realiza seus estudos no Rio de Janeiro. Mestre em

Upload: ana-vanali

Post on 22-Dec-2014

626 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: 2. resenha biografia vinícius de moraes

“Algo eterno, apenas, enquanto dura”

Resenha do livro de CASTELLO, José. Vinícius de Moraes: o poeta da paixão, uma biografia. 2º edição. SP: Cia das Letras, 1994.

Ana Crhistina Vanali

________________________________________________________________________________

1

Polêmico, boêmio e conquistador. Vinicius de Moraes, o "Poetinha", nascia há 100 anos em 19 de outubro de 1913.O biógrafo de Vinicius, José Castello2, autor do livro "Vinicius de Moraes: o

1 Foto do site http://www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em 16 de janeiro de 2014.

2 José Guimarães Castello Branco (Rio de Janeiro RJ 1951). Biógrafo, crítico literário, cronista, romancista e jornalista. De ascendência nordestina, seu pai, José Ribamar Martins Castello Branco vem de Parnaíba, Piauí, para viver no Rio de Janeiro. José Castello realiza seus estudos no Rio de Janeiro. Mestre em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, inicia sua carreira jornalística na década de 1970. Na segunda metade da década de 1980, afirma-se como produtor de críticas, reportagens e resenhas literárias para o Jornal do Brasil e para O Estado de S. Paulo. Escreve livros sobre a vida dos poetas Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999). No livro sobre Cabral, Castello rompe os parâmetros da biografia tradicional, e entrelaça a pesquisa com o contato pessoal. Esse caminho é seguido também no livro Inventário das Sombras, em que o autor vai além das entrevistas, buscando um retrato intelectual dos escritores José Saramago (1922 - 2010), Clarice Lispector (1925 - 1977), Alain Robbe-Grillet (1922), Adolfo Bioy Casares (1914 - 1999), Manoel de Barros (1916) e Nelson Rodrigues (1912 - 1980), além de relatos dos encontros com o jornalista João Rath (1954) e o artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1909 - 1989). Tanto em suas resenhas críticas quanto em suas crônicas e retratos biográficos, apresenta como característica o

Page 2: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Poeta da Paixão - uma biografia" nos diz que o poeta foi um homem que viveu para se ultrapassar e para se desmentir. Para se entregar totalmente e fugir, depois, em definitivo. Para jogar, enfim, com as ilusões e com a credulidade, por saber que a vida nada mais é que uma forma encarnada de ficção. Foi, antes de tudo, um apaixonado — e a paixão, sabemos desde os gregos, é o terreno do indomável. Daí porque fazer sua biografia era obra ingrata.

Dele disse Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural".  "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes". Otto Lara Resende assim o definiu: "Manuel Bandeira viveu e morreu com as raízes enterradas no Recife. João Cabral continua ligado à cana-de-açúcar. Drummond nunca deixou de ser mineiro. Vinicius é um poeta em paz com a sua cidade, o Rio. É o único poeta carioca".  Mas ele dizia nada mais ser que "um labirinto em busca de uma saída".

O que torna Vinicius um grande poeta é a percepção do lado obscuro do homem.  E a coragem de enfrentá-lo. Parte, desde o princípio, dos temas fundamentais: o mistério, a paixão e a morte. Quando deixa a poesia em segundo plano para se tornar show-man da MPB, para viver nove casamentos, para atravessar a vida viajando, Vinicius está exercendo, mais que nunca, o poder que Drummond descreve, sem conseguir dissimular sua imensa inveja: "Foi o único de nós que teve a vida de poeta".

Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes aos nove anos de idade parece que pressente o poeta: vai, com a irmã Lygia ao cartório na Rua São José, centro do Rio, e altera seu nome para

abrandamento dos limites entre ficção e ensaio, conferindo aos documentos e testemunhos uma visão particular da literatura da pessoa retratada. Em 2001 aventura-se na ficção com Fantasma, inicialmente um projeto de perfil cultural da cidade de Curitiba, que se torna uma ficção de suspense ambientada na capital paranaense, onde Castello reside desde 1994.  Em 2007, publica A Literatura na Poltrona, resultado de suas experiências com oficinas literárias e de jornalismo cultural. Conforme http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/aliteraturanapoltrona/josecastello acessado em 17 de janeiro de 2014.

Obras do autor

(1993) Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão, Companhia das Letras

(1996) Na Cobertura de Rubem Braga, José Olympio

(1996) Vinicius de Moraes: Uma Geografia Poética, Relume-Dumará/Rioarte

(1996) João Cabral de Melo Neto: O Homem sem Alma, Editora Rocco

(1999) O Inventário das Sombras, Record

(2001) Fantasma, Record

(2003) As melhores crônicas de José Castello, Global Editora

(2004) Pelé: Os Dez Corações do Rei, Ediouro/Sinergia

(2007) A Literatura na Poltrona, Record

(2010) Ribamar, Bertrand Brasil

Page 3: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Vinicius de Moraes. Nascido em 19 de outubro de 1913, na Rua Lopes Quintas, 114 — bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, desde cedo demonstra seu pendor para a poesia. Criado por sua mãe, Lydia Cruz de Moraes, que, dentre outras qualidades, era pianista, e ao lado do pai, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário público e poeta, Vinicius cresce morando em diversos bairros do Rio, infância e juventude depois contadas em seus versos, que refletiam o pensamento da geração de 1940 em diante.

Em 1916, a família muda-se para a rua Voluntários da Pátria, 129, no bairro de Botafogo, passando a residir com os avós paternos, Maria da Conceição de Mello Moraes e Anthero Pereira da Silva Moraes. No ano seguinte mudam-se para a rua da Passagem, 100, no mesmo bairro. Nasce seu irmão Helius. Com a irmão Lydia, passa a frequentar a escola primária Afrânio Peixoto, à rua da Matriz. Em 1920, por disposição de seu avô materno, é batizado na maçonaria, cerimônia que lhe causaria grande impressão. Após três outras mudanças, em 1922 a família transfere-se para a Ilha do Governador, na praia de Cocotá. Faz sua primeira comunhão na Matriz da rua Voluntários da Pátria, no ano seguinte, em 1924, inicia o Curso Secundário no Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente. Começa a cantar no coro do colégio nas missas de domingo, criando fortes laços de amizade com seus colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este sobrinho de Raul Pompéia. Participa, como ator, em peças infantis. Torna-se amigo dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, em 1927, com os quais começa a compor. Com eles, e alguns colegas do colégio, forma um pequeno conjunto musical que atua em festinhas, em casas de famílias conhecidas.

Compõe, no ano seguinte, com os irmãos Tapajós, "Loura ou morena" e "Canção da noite", que têm grande sucesso.  Nessa época, namora invariavelmente todas as amigas de sua irmã Laetitia. A família volta a morar na rua Lopes Quintas em 1929, ano em que Vinicius bacharela-se em Letras no Santo Inácio. No ano seguinte entra para a faculdade de Direito da rua do Catete, sem vocação especial. Defende tese sobre a vinda de d. João VI para o Brasil, para ingressar no "Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais" (CAJU), tornando-se amigo de Otávio de Faria, San Thiago Dantas, Thiers Martins Moreira, Antônio Galloti, Gilson Amado, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe, Chermont de Miranda, Almir de Andrade e Plínio Doyle. Em 1931, entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Forma-se em Direito e termina o Curso de Oficial da Reserva, em 1933. Estimulado por Otávio de Faria, publica seu primeiro livro, O caminho para a distância, na Schimidt Editora. Forma e exegese, seu livro de poesias lançado em 1935, ganha o prêmio Felipe d'Oliveira.

Em 1936, substitui Prudente de Moraes Neto como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. Publica, em separata, o poema "Ariana, a mulher". Conhece o poeta Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo. Em 1938, é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford, para onde parte em agosto daquele ano. Trabalha como assistente do programa brasileiro da BBC. Conhece, então, na casa de Augusto Frederico Schmidt, o poeta e músico Jayme Ovalle, de quem se tornaria um dos maiores amigos. Instado por outro grande amigo, Otávio de Faria, a se tornar um poeta mais com os pés no chão, e não o " inquilino do sublime" como, então, o chamou, lança Novos Poemas. Seguindo esta mesma linha, são lançados, posteriormente, Cinco Elegias, em 1943, e Poemas, Sonetos e Baladas, escrito em 1946, que já começam a  mostrar o poeta sensual e lírico, mas, como ele próprio disse, um "poeta do cotidiano".

No ano seguinte, casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello (a Tati). No final desse ano, retorna ao Brasil devido à eclosão da II Grande Guerra. Parte da viagem é feita em companhia de Oswald de Andrade. O ano de 1940 marca o nascimento de sua primeira filha,

Page 4: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Suzana. Torna-se amigo de Mário de Andrade. Estreia como crítico de cinema e colaborador no Suplemento Literário do jornal "A Manhã", em companhia de Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Afonso Arinos de Melo Franco, sob a orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo, em 1941.

Em 1942, nasce seu filho Pedro. Favorável ao cinema silencioso, Vinicius inicia um debate sobre o assunto com Ribeiro Couto, que depois se estende à maioria dos escritores brasileiros mais em voga, e do qual participam Orson Welles e madame Falconetti. A convite do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, chefia uma caravana de escritores brasileiros àquela cidade, onde se liga por amizade a Hélio Pelegrino, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Otto Lara Resende.  Juntamente com Rubem Braga e Moacyr Werneck de Castro, inicia a roda literária do Café Vermelhinho, no Rio de Janeiro, à qual se misturam a maioria dos jovens arquitetos e artistas plásticos da época, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Reidy, Jorge Moreira, José Reis, Alfredo Ceschiatti, Santa Rosa, Pancetti, Augusto Rodrigues, Djanira e Bruno Giorgi, entre outros. Conheceu a escritora argentina Maria Rosa Oliveira e, através dela, Gabriela Mistral. Frequenta as domingueiras na casa de Aníbal Machado. Ainda nesse ano, faz extensa viagem ao Nordeste do Brasil acompanhando o escritor americano Waldo Frank, a qual muda radicalmente sua visão política, tornando-se um antifascista convicto. Na estada em Recife, conhece o poeta João Cabral de Melo Neto, de quem se tornaria, depois, grande amigo. No ano seguinte, ingressa, por concurso, na carreira diplomática. Publica Cinco Elegias em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Aníbal Machado e Otávio de Faria.

Dirige, em 1944, o Suplemento Literário de "O Jornal", onde lança, entre outros, Pedro Nava, Francisco de Sá Pires, Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Marcelo Garcia e Lúcio Rangel, em colunas assinadas, e publica desenhos de artistas plásticos até então pouco conhecidos, como Athos Bulcão, Maria Helena Vieira da Silva, Alfredo Ceschiatti, Carlos Scliar, Eros (Martin) Gonçalves e Arpad Czenes. Em 1945, um grande susto: sofre grave desastre de avião na viagem inaugural do hidro "Leonel de Marnier", perto da cidade de Rocha, no Uruguai. Em sua companhia estão Aníbal Machado e Moacyr Werneck de Castro. Colabora com vários jornais e revistas, como articulista e crítico de cinema. Escreve crônicas diárias para o jornal "Diretrizes". Faz amizade com o poeta chileno Pablo Neruda.

No ano de 1946, assume seu primeiro posto diplomático: vice-cônsul do Brasil em Los Angeles, Califórnia (EUA). Ali permanece por quase cinco anos, sem retornar ao seu país. Publica, em edição de luxo, com ilustrações de Carlos Leão, seu livro, Poemas, sonetos e baladas. Vinicius, amante da sétima arte, inicia seus estudos de cinema com Orson Welles e Gregg Toland.  Lança, com Alex Viany, a revista Filme, em 1947. Em 1949, João Cabral de Melo Neto tira, em sua prensa manual, em Barcelona, uma edição de cinquenta exemplares de seu poema Pátria Minha. Visita o poeta Pablo Neruda, no México, que se encontrava gravemente enfermo. Ali conhece o pintor Diogo Siqueiros e reencontra o pintor Di Cavalcanti. Morre seu pai. Volta ao Brasil, em 1950.

No ano seguinte, casa-se, pela segunda vez, com Lila Maria Esquerdo e Bôscoli. A convite de Samuel Wainer, começa a colaborar no jornal "Última Hora", como cronista diário e posteriormente crítico de cinema. Em 1952, é nomeado delegado junto ao Festival de Punta del Este, fazendo paralelamente sua cobertura para "Última Hora". Terminado o evento, parte para a Europa, encarregado de estudar a organização dos festivais de cinema de Cannes, Berlim, Locarno e Veneza, no sentido da realização do Festival de Cinema de São Paulo, dentro das comemorações do IV Centenário da cidade. Em Paris, conhece seu tradutor francês, Jean Georges Rueff, com quem trabalha, em Estrasburgo, na tradução de suas Cinco Elegias. Sob encomenda do diretor Alberto Cavalcanti, com seus primos Humberto e José Francheschi, visita, fotografa e filma as cidades

Page 5: 2. resenha biografia vinícius de moraes

mineiras que compõem o roteiro do Aleijadinho, com vistas à realização de um filme sobre a vida do escultor.

Em 1953, nasce sua filha Georgiana. Compõe seu primeiro samba, música e letra, "Quando tu passas por mim". Faz crônicas diárias para o jornal "A Vanguarda" e colabora no tabloide semanário "Flan", de "Última Hora". Parte para Paris como segundo secretário de Embaixada. Escreve Orfeu da Conceição, obra que seria premiada no Concurso de Teatro do IV Centenário da Cidade de São Paulo no ano seguinte, e que teve montagem teatral em 1956, com cenários de Oscar Niemeyer. Posteriormente transformada em filme (com o nome de Orfeu negro) pelo diretor francês Marcel Camus, em 1959, obteve grande sucesso internacional, tendo sido premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e com o Oscar, em Hollywood, como o melhor filme estrangeiro do ano. Nesse filme acontece seu primeiro trabalho com Antônio Carlos Jobim (Tom Jobim). Sai da primeira edição de sua Antologia Poética. A revista "Anhembi" publica Orfeu da Conceição, em 1954.

No ano seguinte, compõe, em Paris, uma série de canções de câmara com o maestro Cláudio Santoro.  Começa a trabalhar para o produtor Sasha Gordine, no roteiro do filme Orfeu negro. Volta ao Brasil em curta estada, buscando obter financiamento para a realização do filme. Diante do insucesso da missão, retorna a Paris em fins de dezembro. Em 1956, retorna à pátria, no gozo de licença-prêmio. Nasce sua filha, Luciana. A convite de Jorge Amado, colabora no quinzenário "Para Todos", onde publica, na primeira edição, o poema O operário em construção. A peça Orfeu da Conceição é encenada no Teatro Municipal, que aparece também em edição comemorativa de luxo, ilustrada por Carlos Scliar. As músicas do espetáculo são de autoria de Antônio Carlos Jobim, dando início a uma parceria que, tempos depois, com a inclusão do cantor e violonista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar  de bossa nova. Retorna ao posto, em Paris, no final do ano.

Publica Livro de Sonetos, em edição de Livros de Portugal, em 1957. É transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No final do ano é transferido para Montevidéu, regressando, em trânsito, ao Brasil. Em 1958, sofre um grave acidente de automóvel. Casa-se com Maria Lúcia Proença. Parte para Montevidéu. Sai o LP "Canção do amor demais", de músicas suas com Antônio Carlos Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco ouve-se, pela primeira vez, a batida da bossa nova, no violão de João Gilberto, que acompanha a cantora em algumas faixas, entre as quais o samba "Chega de saudade", considerado o marco inicial do movimento.

1959 marca o lançamento do LP "Por toda a minha vida", de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno. Casa-se sua filha Susana. No ano seguinte, retorna à Secretaria de Estado das Relações Exteriores. Em novembro, nasce seu neto Paulo. Sai a segunda edição de sua Antologia Poética, uma edição popular da peça Orfeu da Conceição e Recette de femme et autres poèmes, tradução de Jean-Georges Rueff. Começa a compor com Carlos Lyra e Pixinguinha. Aparece Orfeu negro, em tradução italiana de P. A. Jannini, em 1961. Dá início à composição de uma série de afro-sambas, em parceria com Baden Powell, entre os quais "Berimbau" e "Canto de Ossanha". Com Carlos Lyra, compõe as canções de sua comédia musicada Pobre menina rica. Em agosto desse ano, 1962, faz seu primeiro show, que obteve grande repercussão, ao lado de Jobim e João Gilberto, na boate "Au Bon Gourmet", iniciando a fase dos "pocket-shows", onde foram lançados grandes sucessos internacionais como "Garota de Ipanema" e "Samba da benção". Na mesma boate, faz apresentação com Carlos Lyra para apresentar "Pobre menina rica", ocasião em que é lançada a cantora Nara Leão. Compõe, com Ary Barroso, as últimas canções do grande mestre da MPB, como

Page 6: 2. resenha biografia vinícius de moraes

"Rancho das Namoradas". É lançado o livro Para viver um grande amor. Grava, como cantor, um disco com a atriz e cantora Odete Lara.

Em 1963, inicia uma parceria que produziria grandes sucessos com Edu Lobo. Casa-se com Nelita Abreu Rocha e retorna a Paris, assumindo posto na Delegação do Brasil junto à UNESCO. No início da revolução de 1964, retorna ao Brasil e colabora com crônicas semanais para a revista "Fatos e Fotos", ao mesmo tempo em que assinava crônicas sobre música popular para o "Diário Carioca". Começa a compor com Francis Hime. Com Dorival Caymmi, participa de show muito sucesso na boate Zum-Zum, onde lança o Quarteto em Cy. Desse show é feito um LP.

1965 marca o lançamento de Cordélia e o peregrino, em edição do Serviço de Documentação do Ministério de Educação e Cultura. Ganha o primeiro e segundo lugares do I Festival de Música Popular de São Paulo, da TV Record, em canções de parceria com Edu Lobo e Baden Powell. Parte para Paris e St. Maxime para escrever o roteiro do filme "Arrastão". Indispõem-se com o diretor e retira suas músicas do filme. Parte de Paris para Los Angeles a fim de encontrar-se com Jobim. Muda-se de Copacabana para o Jardim Botânico, à rua Diamantina, 20. Começa a trabalhar no roteiro do filme "Garota de Ipanema", dirigido por Leon Hirszman. Volta ao show com Caymmi, na boate Zum-Zum. No ano seguinte é lançado o livro Para uma menina com uma flor. São feitos documentários sobre o poeta pelas televisões americana, alemã, italiana e francesa. Seu "Samba da benção", em parceria com Baden Powell, é incluído, em versão do compositor e ator Pierre Barouh, no filme "Un homme... une femme", vencedor do Festival de Cannes do mesmo ano. Vinicius participa do júri desse festival.

Em 1967, sai a sexta edição de sua Antologia Poética e a segunda de Livro de Sonetos (aumentada). Faz parte do júri do Festival de Música Jovem, na Bahia. Ocorre a estreia do filme "Garota de Ipanema". É colocado à disposição do governo de Minas Gerais no sentido de estudar a realização anual de um Festival de Arte em Ouro Preto. Falece sua mãe, em 25 de fevereiro de 1968. Aparece a primeira edição de sua Obra Poética. Seus poemas são traduzidos para o italiano por Ungaretti.

Em 1969, é exonerado do Itamaraty. Casa-se com Cristina Gurjão, com quem tem uma filha chamada Maria. No ano seguinte, casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy. Inicia parceria com o violonista Toquinho. Em 1971, muda-se para Salvador, Bahia. Viaja pela Itália, numa espécie de autoexílio. No ano seguinte, com Toquinho, lança naquele país o LP "Per vivere un grande amore".

A Pablo Neruda é lançado em 1973. Trabalha, no ano seguinte, no roteiro, não concretizado, do filme "Polichinelo". Participa de show com Toquinho e a cantora Maria Creuza, no Rio. Confirmando os boatos de que o governo o perseguia, excursiona pela Europa e grava dois discos na Itália com Toquinho, em 1975. Em 1976, novo casamento, agora com Marta Rodrigues Santamaria. Escreve as letras de "Deus lhe pague", em parceria com Edu Lobo. Participa de show na casa de espetáculos "Canecão", no Rio, com Tom Jobim, Toquinho e Miúcha.  Grava um LP em Paris, com Toquinho, em 1977.

No ano seguinte, excursiona com Toquinho pela Europa. Casa-se com Gilda de Queirós Matoso. Em 1979, participa de leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), a convite do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. Voltando de viagem à Europa, sofre um derrame cerebral no avião. Perdem-se, na ocasião, os originais de Roteiro lírico e sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Page 7: 2. resenha biografia vinícius de moraes

No dia 17 de abril de 1980, é operado para a instalação de um dreno cerebral. Morre, na manhã de 09 de julho, de edema pulmonar, em sua casa na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher3.

A obra de José Castello sobre a vida de Vinícius de Moraes é dividida em dez partes. Cada parte recebe um título de acordo com a fase da vida do poeta, seguindo uma narrativa cronológica, o autor começa com o dia do nascimento do biografado e termina com o dia de sua morte (conforme resumo feito acima baseado nessa obra). Uma biografia com muitos detalhes, meu questionamento é a respeito de algumas passagens muito "pessoais" do poeta. Me indaguei no sentido de que maneira o biógrafo José Castello conseguiu captar detalhes dos mais íntimos? O texto final acaba tendo uma versão romanceada da biografia.

O texto biográfico, enquanto gênero caracterizado pela narrativa da vida e descrição do caráter de um indivíduo, busca a reconstituição de uma personalidade e a construção de um conhecimento acerca dessa personalidade. Não é oferecida nenhuma linha de abordagem crítica, todos os acontecimentos são apresentados como um trailer cinematográfico, o livro cita as pessoas que influenciaram o poeta em suas diferentes fases, as diferenças com Tom Jobim, a sua atuação como diplomata, os relacionamentos amorosos reconhecidos (e mais as incontáveis amantes) do poeta e compositor, versa ainda sobre a gestação da bossa-nova (na qual Vinícius teve participação primordial), e o porquê do governo militar ter implicado tanto com ele (e outros). A cronologia é um pouco confusa e dá a sensação de que o José Castello não conseguiu se decidir entre fazer uma biografia linear e um ensaio biográfico. Ele também parece muito preocupado em garantir um lugar para o Vinicius no Panteão da Literatura, mas não explica qual o legado de Vinicius em termos estritamente literários e o que faria merecer esse lugar no tal Panteão. E também não deixa claro qual a importância de Vinicius como homem de cultura "lato sensu". O livro parece se perder às vezes entre o anedótico e o desejo de traçar um perfil abrangente da complexa personalidade de Vinicius de Moraes. Mas, com todos os questionamentos que a obra levanta (e que vão se acentuando na medida em que avança a leitura), o personagem é fascinante e se sobrepõe a tudo.

Segundo o autor, o texto está todo centrado em pesquisa empírica e em entrevistas com pessoas que conviveram com o poeta. Essa pesquisa empírica4 ajuda a reconstituir os episódios de

3 O livro de José Castello vai até a data de morte de Vinícius de Moraes em 9 de julho de 1980. Segue alguns dados complementares após essa data. Em 1991 é publicado o Livro de Letras, onde estão mais de 300 letras de músicas de autoria de Vinícius, com melodias suas e de um sem número de compositores, ou parceirinhos, como carinhosamente os chamava. Em 1992, é lançado um livro que hibernou anos junto ao poeta: Roteiro Lírico e Sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde Nasceu, Vive em Trânsito e Morre de Amor o Poeta Vinicius de Moraes. No ano seguinte, uma coletânea de poesias é publicada no livro As Coisas do Alto - Poemas de Formação, mostrando a processo de formação do poeta, que é uma descida do topo metafísico à solidez do cotidiano. Em 1996, é lançado livro de bolso com o título Soneto de Fidelidade e outros poemas, a preços populares. Essa publicação fica diversas semanas na lista dos mais vendidos, o que vem mostrar que mesmo após 16 anos de seu desaparecimento, sua poesia continuava viva entre nós. Em 2001, a indústria de perfumes Avon lança a "Coleção Mulher e Poesia - por Vinicius de Moraes", com as fragrâncias "Onde anda você", "Coisa mais linda", "Morena flor" e "Soneto de fidelidade". Inconstante no amor (seus biógrafos dizem que teve, oficialmente, 09 mulheres), um dia foi questionado pelo parceiro Tom Jobim: "Afinal, poetinha, quantas vezes você vai se casar?". Num improviso de sabedoria, Vinicius respondeu: "Quantas forem necessárias." No dia 08/09/2006, é homenageado pelo governo brasileiro com sua reintegração post mortem aos quadros do Ministério das Relações Exteriores, ocasião em que foi inaugurado o "Espaço Vinicius de Moraes" no Palácio do Itamaraty - Rio de Janeiro (RJ). Acesso em 16 de janeiro de 2014 do site http://www.viniciusdemoraes.com.br.

4 Seu trabalho de pesquisa é notável e merecedor de forte aplauso. O livro pode ser descrito como um pouco denso e soturno até ao 1.º casamento do Vinicius, mas depois se transforma num romance da vida real bem encadeado e com

Page 8: 2. resenha biografia vinícius de moraes

vida do poeta, mas é realizado um processo de seleção dos momentos ou episódios que o autor julgou necessários para a construção do seu discurso biográfico. E em nenhum momento é apontado, seja em nota de rodapé ou no próprio corpo do texto, os documentos utilizados para aquela conclusão. As fontes das informações sobre a vida do poeta ficam ocultas, em detrimento de um texto romanceado. O poeta que, em meio a aristocráticos salões, estúdios de gravação, palcos de universidades, terreiros de macumba, botequins e nove casamentos, fez uma das mais singulares travessias da arte brasileira, unindo o mundo erudito da alta poesia à atmosfera lírica do que há de melhor na nossa música. Comenta sobre a bossa-nova, suas criações poéticas, os nomes importantes da área musical e do aficcionado por cinema. Ao poeta Vinícius de Moraes, contudo, é negada uma investigação mais afortunada do pai, uma vez que apenas cita o nascimento de seus cinco filhos e algumas participações que os filhos mais velhos tiveram na área artística.

O homem que encantou o mundo ao escrever "Garota de Ipanema", e que morreu vencido pelos excessos de sua vida atribulada (com papel especial reservado ao álcool), ganha um olhar carinhoso de José Castello que inicia o livro tentando entender criticamente o Vinicius poeta. Muitas vezes abandona a trajetória de Vinícius, para embarcar em interpretações um tanto acadêmicas de aspectos de sua obra. Felizmente, a partir da metade do livro, mais ou menos quando passa a abordar a opção definitiva do poetinha pela música, o texto ganha, e muito, em intensidade dramática compensando a primeira parte. Ainda que um certo apego ao "rigor histórico" pudesse torná-lo melhor, "Vinicius- O Poeta da paixão" cumpre bem o papel de fornecer um panorama importante da vida de Vinicius de Moares, que diga-se de passagem, de "poetinha" não tinha nada. Era um “poetão”.

Ao leitor desinformado, que pouco ou nada conhece de Vinícius, porém, a obra encerra a ideia de uma biografia detalhada. Por isso mesmo, tem seu mérito. Pois o Poetinha, sendo um sonetista peculiar, um lírico nato, um compositor original e libertador de amarras na música popular brasileira, e – sim, reconheçamos – um dândi carioca dado a flanar entre as mulheres, e que, vivendo 67 anos, parece ter existido o dobro do tempo, de tanto que criou, produziu, viveu – e, claro! – namorou; ainda assim nos surpreendemos com alguns que, mesmo repetindo versos seus a granel, não conhecem a sua obra. Por esse motivo, a obra acaba por adquirir ares de importância despertando uma vontade de conhecer melhor nosso Poetinha maior.

cuidado nos detalhes.

Page 9: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Vinicius de Moraes costumava dizer que o uísque era o melhor

amigo do homem. "O uísque é o cachorro engarrafado"5

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

- AUGUSTO, Sergio. Cancioneiro Vinicius de Moraes: Biografia e Obras escolhidas. Jobim Music. (edição bilíngue), 2007.

- CARNEIRO, Geraldo. Vinicius de Moraes por Geraldo Carneiro. RJ: Editora Espaço Cultural Toca do Vinícius, 1997.

- CHEDIAK, Almir. Vinicius de Moraes Songbook (3 Volumes). Lumiar Editora, 1993.

- CASTELLO, José. O Poeta da Paixão. SP: Cia. das Letras, 1994.

- CASTELLO, José. Vinícius de Moraes - Uma Geografia Poética. (Coleção Perfis do Rio).

RJ: Ed. Relume Dumará, 1996.

- CASTRO, Ruy. Chega de Saudade. SP: Cia das Letras, 1999.

- LYRA, Pedro. Vinícius de Moraes. Coleção Nosso Clássicos. RJ: Editora Agir, 1983.

- MARRACH, Sonia. A Arte do Encontro de Vinicius de Moraes. SP: Editora Escuta, 2000.

- MOTTA, Nelson. Noites Tropicais: Solos, improvisos e memórias musicais. RJ: Editora Objetiva, 2000

- PECCI, João Carlos. Vinícius sem ponto final. SP: Editora Saraiva, 1994.

- "Vinícius de Moraes - O múltiplo das paixões (biografia)”, Coleção “Gente do Século”, Revista “Isto É Gente” nº 1, de 29/11/1999.

5 Foto do site http://www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em 16 de janeiro de 2014.

Page 10: 2. resenha biografia vinícius de moraes

José Castello em foto de Matheus Dias. Gazeta do Povo, 6 de dezembro de 2012.

Page 11: 2. resenha biografia vinícius de moraes

ANEXOS

RELAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Do Autor:

Poesia/Prosa:

- O Caminho para a Distância, 1933 - Schmidt Ed, Rio (recolhida pelo autor)

- Ariana, a Mulher, 1936 - Pongetti – Rio

- Forma e Exegese, 1935 - Pongetti - Rio (Prêmio Felippe d'Oliveira)

- Novos Poemas, 1938 - José Olympio – Rio

- Cinco Elegias, 1943 - Pongetti - Rio (ed.feita a pedido de Manuel Bandeira, Aníbal Machado e Octávio de Farias)

- 10 poemas em manuscrito - 1945, Condé (edição ilustrada de 150 exemplares)

- Poemas, Sonetos e Baladas, 1946 - Ed. Gávea - São Paulo (ilustrações de Carlos Leão)

- Pátria Minha, 1949 - O Livro Inconsútil - Barcelona (ed.feita por João Cabral de Melo Neto em sua prensa manual)

- Orfeu da Conceição, 1956 - Editora do Autor - Rio  (ilustrações de Carlos Scliar)

- Livro de Sonetos, 1957 - Livros de Portugal – Rio

- Novos Poemas (II), 1959 - Livraria São José - Rio.

- Orfeu da Conceição, 1960 - Livraria São José - Rio (edição popular)

- Para Viver um Grande Amor, 1962 - Ed. do Autor – Rio

- Cordélia e o Peregrino, 1965 - Ed.do Serviço de Documentação do M. da Educação e Cultura – Brasília

- Para uma Menina com uma Flor, 1966 - Ed. do Autor – Rio

- Orfeu da Conceição, 1967 - Editora Dois Amigos - Rio (com ilustrações de Carlos Scliar)

- O Mergulhador, 1968 - Atelier de Arte - Rio (fotos de Pedro de Moraes, filho do autor. Tiragem limitada a 2.000 exemplares, sendo 50 numerados em algarismos romanos de I a L e assinados pelos autores, comportando um manuscrito original e inédito de Vinícius de Moraes;450 exemplares numerados em algarismos arábicos e 51 a 500 e assinados pelos autores; e,f inalmente, 1.500 exemplares numerados de 501 a 2.000)

- História natural de Pablo Neruda, 1974 - Ed.Macunaíma - Salvador.

- O falso mendigo, poemas de Vinicius de Moraes - 1978, Ed. Fontana – Rio

Page 12: 2. resenha biografia vinícius de moraes

- Vinicius de Moraes - Poemas de muito amor, 1982 - José Olympio, Rio (ilustrações de Carlos Leão)

- A arca de Noé - 1991, Cia. das Letras - São Paulo

- Livro de Letras, 1991, Cia. das Letras - São Paulo

- Roteiro lírico e sentimental da Cidade do Rio de Janeiro e outros lugares por onde passou e se encantou o poeta, 1992 - Cia. das Letras - São Paulo

- As Coisas do Alto - Poemas de Formação, 1993 - Cia. das Letras - São Paulo

- Jardim Noturno - Poemas Inéditos, 1993 - Cia. das Letras - São Paulo

- Soneto de Fidelidade e outros Poemas, 1996 - Ediouro - Rio (ed. bolso)

- Procura-se uma Rosa, Massao Ohno Ed. - São Paulo (peça de teatro em colaboração com Pedro Bloch e Gláucio Gil)

- A Arca de Noé, Cia. das Letras - São Paulo

- O Cinema de Meus Olhos, Cia. das Letras - São Paulo

- Nossa Senhora de Paris, Ediouro – Rio

- Teatro em Versos - 1995, Cia. das Letras - São Paulo

- Rio de Janeiro (com Ferreira Gullar), Ed. Record - Rio (edições em alemão, francês, inglês, italiano e português).

- Querido Poeta - Correspondências de Vinicius de Moraes (organização de Ruy Castro), Cia. das Letras, São Paulo, 2003.

- Samba falado, Azougue Editorial, 2008.

Francês:

- Cinc Elégies, 1953 - Ed. Seghers - Paris (trad. de Jean-Georges Rueff)

- Recette de Femme et autres poèmes, 1960 - Ed. Seghers - Paris (escolha e tradução de Jean-Georges Rueff)

Italiano:

- Orfeo Negro, 1961 - Nuova Academia Editrice - Milão (tradução de P. A. Jannini)

Antologias:

- Antologia Poética, 1954 - Editora A Noite - Rio de Janeiro

- Obra poética - Poesia Completa e Prosa, Editora Nova Aguillar, 1968

Page 13: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Teatro

- Procura-se uma rosa, 1962 (com Pedro Bloch e Gláucio Gil.)

Discos de poesias:

- Vinicius em Portugal, 1969, Fiesta, IG 79.034 – Rio

- Antologia Poética, 1977, Philips, 6641 708, Série de Luxo - 2 Long-Plays (com participação de Tom Jobim, Edu Lobo, Toquinho, Luis Roberto, Jorginho, Roberto Menescal e Francis Hime)

Homenagens:

- Ciclo Vinícius de Moraes - Meu Tempo é Quando, 05 de janeiro a 23 de fevereiro de 1990, Centro Cultural do Banco do Brasil - Rio de Janeiro.

Page 14: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Para Viver Um Grande Amor

Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Page 15: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

Page 16: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Ternura

Vinicius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos

Das horas que passei à sombra dos teus gestos

Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos

Das noites que vivi acalentado

Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo

Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.

E posso te dizer que o grande afeto que te deixo

Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas

Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...

É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias

E só te pede que te repouses quieta, muito quieta

E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar Aextático da aurora.

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e   prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.

Page 17: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Pátria Minha

Vinicius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntimaDoçura e vontade de chorar; uma criança dormindoÉ minha pátria. Por isso, no exílioAssistindo dormir meu filhoChoro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:Não sei. De fato, não seiComo, por que e quando a minha pátriaMas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a águaQue elaboram e liquefazem a minha mágoaEm longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátriaDe niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feiasDe minha pátria, de minha pátria sem sapatosE sem meias pátria minhaTão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenhoPátria, eu semente que nasci do ventoEu que não vou e não venho, eu que permaneçoEm contato com a dor do tempo, eu elementoDe ligação entre a ação o pensamentoEu fio invisível no espaço de todo adeusEu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemidoDe flor; tenho-te como um amor morridoA quem se jurou; tenho-te como uma féSem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeitoNesta sala estrangeira com lareiraE sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova InglaterraQuando tudo passou a ser infinito e nada terraE eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céuMuitos me surpreenderam parado no campo sem luzÀ espera de ver surgir a Cruz do SulQue eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minhaAmada, idolatrada, salve, salve!Que mais doce esperança acorrentadaO não poder dizer-te: aguarda...

Page 18: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para Rever-te me esqueci de tudoFui cego, estropiado, surdo, mudoVi minha humilde morte cara a caraRasguei poemas, mulheres, horizontesFiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostentaLábaro não; a minha pátria é desolaçãoDe caminhos, a minha pátria é terra sedentaE praia branca; a minha pátria é o grande rio secularQue bebe nuvem, come terra E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria temUma quentura, um querer bem, um bemUm libertas quae sera tamemQue um dia traduzi num exame escrito:"Liberta que serás também"E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisaQue brinca em teus cabelos e te alisaPátria minha, e perfuma o teu chão...Que vontade de adormecer-meEntre teus doces montes, pátria minhaAtento à fome em tuas entranhasE ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minhaTeu nome é pátria amada, é patriazinhaNão rima com mãe gentilVives em mim como uma filha, que ésUma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotoviaE pedirei que peça ao rouxinol do diaQue peça ao sabiáPara levar-te presto este avigrama:"Pátria minha, saudades de quem te ama...Vinicius de Moraes."

Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

Page 19: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Poemas para todas as mulheres

Vinicius de Moraes

No teu branco seio eu choro.Minhas lágrimas descem pelo teu ventreE se embebedam do perfume do teu sexo.Mulher, que máquina és, que só me tens desesperadoConfuso, criança para te conter!Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!Homem sou beloMacho sou forte, poeta sou altíssimoE só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.Ai! teus cabelos recendem à flor da murtaMelhor seria morrer ou ver-te mortaE nunca, nunca poder te tocar!Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braçosAnjo, sinto o calor do vento nas espumasPassarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...Correi, correi, ó lágrimas saudosasAfogai-me, tirai-me deste tempoLevai-me para o campo das estrelasEntregai-me depressa à lua cheiaDai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o [cântico dos cânticosQue eu não posso mais, ai!Que esta mulher me devora!Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

Poema extraído do livro "Vinicius de Moraes — Poesia completa e Prosa", Editora Nova Aguillar — Rio de Janeiro, 1998, pág. 262.

Page 20: 2. resenha biografia vinícius de moraes

Frases

“Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido„

(da crônica 'Amigos Meus')

“Que seja infinito enquanto dure„

(sobre o amor, no 'Soneto de Fidelidade')

“Fui salvo pela mulher„

(dizia sobre a melhora na qualidade de sua poesia)

“Sou um poeta, não um gramático„

(sobre as críticas recebidas do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda)

“Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível,

um só defunto – para não morrer de dor„

(da crônica 'Para Viver um Grande Amor')

“A solidão pior é a do ser que não ama. E os vira-latas amam„

(declaração para o amigo Antônio Maria)

Page 21: 2. resenha biografia vinícius de moraes

“A vida só se dá para quem seu deu„

(da música 'Como Dizia o Poeta')

“Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão„

(da música 'Como Dizia o Poeta')

“Não separo a poesia que está nos livros da que está nas canções„

(em entrevista a Clarice Lispector para a revista Manchete)

“Acho que sou um homem bastante sozinho. Ou pelo menos eu tenho um sentimento muito agudo

de solidão„

(em entrevista a Clarice Lispector para a revista Manchete)

“Eu odeio tudo o que oprime o homem, inclusive a gravata„

(em entrevista a Clarice Lispector para a revista Manchete)

“Quem de dentro de si não sai vai viver sem amar ninguém„

(da música 'Berimbau')

“A vida é arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida„

(da música 'Samba da Bênção')

Page 22: 2. resenha biografia vinícius de moraes

“Olha aqui, parceirinho. Essa é a letrinha para aquela sua musiquinha„

(ao entregar a letra de 'Minha Namorada' para Carlos Lyra)

“Prefiro uma pessoa sem caráter a uma pessoa sem senso de humor„

(dizia sobre a escolha de seus amigos)

“O melhor amigo do homem é o uísque; o uísque é o cachorro engarrafado„

(para expressar o amor pela bebida)

“Quem nunca amou não merece ser amado„

(da música 'Insensatez')

“E por falar em saudade onde anda você?„

(da música 'Onde Anda Você')

“Tomara que a tristeza te convença que a saudade não compensa e que a ausência não dá paz„

(da música 'Tomara')

“Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido„

(da crônica 'Amigos Meus')

Page 23: 2. resenha biografia vinícius de moraes

“Que seja infinito enquanto dure„

(sobre o amor, no 'Soneto de Fidelidade')

Acesso em 16 de janeiro de 2014 do site http://www.viniciusdemoraes.com.br.