2 _ problemas na transmissao de potencia e principios de compensacao

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  • 8/19/2019 2 _ Problemas Na Transmissao de Potencia e Principios de Compensacao

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    Transmissão de potência em corrente alternada.

    Para faciliar a compreensão da relevância da aplicação de dispositivos FACTS, é necessário

    rever alguns conceitos básicos sobre o funcionamento de um sistema eléctrico de energia em

    corrente alternada. Podemos resumir as limitações de um sistema AC em três tipos:-Limites de estabilidade estática

    -Limites térmicos

    -Limites de isolamento

    Apesar do foco principal ser sobre o limite de estabilidade estática, este nem sempre é a

    limitação preponderante. Por exemplo, geralmente nas redes de distribuição, as limitações

    devido aos limites térmicos das linhas de transmissão são mais frequentes do que nas redes de

    transporte. Pode também acontecer que os limites de isolamento das redes de transporte e

    de distribuição sejam mais limitativos que os limites de estabilidade estática. A razão principal

    para a atenção extra aos limites de estabilidade estático deve-se ao facto de poderem srdirectamente modificados com dispositivos FACTS, como veremos mais à frente. Os limites

    térmicos e de isolamento por norma não podem ser alterados com dispositivos FACTS, mas

    com tais dispositivos pode evitar-se que sejam atingidos. Por isso, em ultima instância, os

    limites maximos são respeitantes aos limites térmicos e de isolamento.

    A existência de linhas paralelas ou de sistemas emalhados possui também alguns problemas.

    Sabendo que a impedância série de uma linha condiciona os fluxos de corrente, pode ocorrer

    que a capacidade total de uma linha não possa ser aproveitada porque outra já se encontra

    congestionada ou no seu limite térmico, ou em risco de ultrapassar para valores de tensão

    inadmissíveis. Mais à frente veremos como contornar este problema regulando a reactância

    das linhas ou o ângulo de transmissão.

    Limites de estabilidade estática

    Comecemos por assumir o modelo da figura x.1 

    Figura x.1  – Modelo de uma linha sem perdas, interligando um gerador (modelizado por Vs) e

    uma rede de potência infinita (modelizado por Vr)

    Cl  representa a capacidade da linha e L l  a indutância da linha. Vs  representa um sistema

    gerador e Vr representa uma rede de potência infinita. A corrente na linha é representada por

    Is. A potência activa transmitida pela linha é dada pela equação (x.1), que não será

    demonstrada aqui.

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      (x.1) 

    Em que Z0  (dado pela expressão (x.2)) representa a impedância característica da linha, dada

    pela capacidade (c) e indutância (l) características da linha,   representa o ângulo detransmissão ou de carga (desfasamento entre Vs e Vr) e   (dado pela expressão (x.3))representa o comprimento da linha, em radianos, função do comprimento de onda () dafrequência fundamental, cujo valor é de 6000km para uma frequência de 50Hz e de 5000km

    para uma frequência de 60Hz, e do comprimento da linha (). Na expressão (x.3), ω é avelocidade angular (em radianos) e f é a frequência (em Hz).

       (x.2)  √   (x.3) 

    A linha considerada possui uma potência transmissível ideal característica, para uma dada

    carga, designada por carga natural. Nesta situação, a corrente e a tensão estão em fase ao

    longo da linha (mas variando ambas em fase em conjunto, ao longo da linha). Como tal, não

    faz sentido aqui considerar o ângulo de transmissão, pois a corrente e a tensão estão em fase,

    e por isso, a carga natural da linha não depende do comprimento da linha. Obtemos assim da

    expressão (x.1) a expressão da potência activa transmissível ideal característica da linha (x.4):

      (x.4)

    Nesta situação, as potências reactivas capacitiva e indutiva da linha são iguais, e neste caso a

    linha consegue compensar-se a ela mesma, o que faz com que a tensão ao longo da linha se

    mantenha constante em módulo (V0=Vr=Vs). Mas esta situação, claramente ideal, só raramente

    é possível, por razões de ordem económica e de operação. Na pratica são mais vulgares outras

    duas situações:

    1) Para cargas nulas ou muito baixas, a energia reactiva capacitiva da linha supera a energia

    reactiva indutiva da linha (a linha produz energia reactiva). Nesta situação, a energia reactiva

    flui da linha para os extremos, sendo absorvida pelos geradores ou sistemas que interliga, o

    que origina uma sobre-elevação da tensão com um máximo no ponto intermédio da linha, quediminui na direcção dos extremos da linha até aos valores Vr  e Vs  (nas respectivas

    extremidades). Diz-se nesta situação que a linha está sobrecompensada.

    2) Para cargas consideráveis, a energia reactiva capacitiva produzida na linha não consegue

    satisfazer a energia reactiva indutiva consumida pela linha. Deste modo, a energia reactiva tem

    de provir dos geradores ou sistemas que a linha interliga, levando a uma queda de tensão na

    linha que ocorre a partir das extremidades (com tensões Vs e Vr respectivamente) na direcção

    do ponto intermédio da linha, onde atinge um valor mínimo. Diz-se nesta situação que a linha

    está subcompensada.

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    Por outro lado, para a análise e modelização de FACTS num sistema eléctrico de energia, é de

    todo convenientes assumir que o comprimento das linhas em geral é muito inferior a 5000km

    (algumas centenas de km), o que permite aproximar   como sensivelmente igual a .Então, das expressões (x.2 e x.3) obtém-se a expressão (x.5), que nos sugere que a linha não

    tem reactância capacitiva, mas apenas uma reactância indutiva (X l), ou seja, é conveniente

    assumir a situação 2) descrita acima. Apesar da ausência de reactância capacitiva não ser

    inteiramente verdade, verifica-se na realidade que para linhas aéreas em alta tensão, com uma

    ou duas centenas de quilómetros, a reactância capacitiva é desprezável face à reactância

    indutiva da linha.

       √    (x.5)

    Substituindo (x.5)  em (x.1), obtém-se a expressão (x.6). Como consideramos uma linha sem

    perdas, podemos simplificar (x.6), obtendo a expressão (x.7). Assim, a potência máxima

    transmissível por uma linha é dada pela expressão (x.8), que ocorre para um angulo de carga  igual a 90o. Se a reactância capacitiva da linha fosse assumida, a potência activa transmissível

    teria um valor superior, pelo que o seu desprezo representa um caso mais desfavorável. Assim,

    as considerações que permitem assumirem a expressão (x.6), para além de não

    comprometerem a validade dos resultados obtidos (face ao seu valor comparativamente

    pequeno), fornece uma margem de segurança extra, evitando que se considerem fluxos de

    potência cujo ângulo de transmissão possam ultrapassar o valor máximo (δ=90o).

      (x.6) 

      (x.7) 

      (x.8) 

    Quanto à potência reactiva fornecida em cada extremo da linha, esta é dada por:

      (x.9) 

    A expressão (x.8) representa então o limite de estabilidade estático de uma linha de

    transmissão tendo em consideração as aproximações assumidas.

    Consideremos então agora a seguinte representação, cuja reactância série da linha é idêntica à

    apresentada na figura x.1, mas agora sem as capacitâncias, com o valor da tensão no ponto

    intermédio da linha designado por VM: 

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     Figura x.2 - Modelo de uma linha indutiva, interligando um gerador (modelizado por V s) e uma

    rede de potência infinita (modelizado por Vr), aplicável a linhas relativamente curtas.

    Tendo em conta o considerado anteriormente, e que a reactância da linha se distribui

    uniformemente ao longo do seu comprimento, a corrente na linha será constante em módulo

    e fase ao longo da linha. Convencionando que a corrente tem fase nula, então a tensão noponto intermédio da linha (VM) terá fase nula, e a tensão na linha varia continuamente em fase

    ao longo da linha, a partir do centro até às extremidades, em sentidos opostos, como descrito

    na figura x.3.

    Figura x.3-diagrama fasorial do modelo da figura x.2 

    Se a tensão do sistema for constante, para a mesma linha, pela expressão (x.7) fica evidente

    que quanto mais desfasadas forem Vs  e Vr de VM, maior é a potência activa transmitida pela

    linha, que é o mesmo que dizer que a potência activa transmitida pela linha depende somente

    do ângulo de transmissão, tal como a potência reactiva (ver expressão (x.9)). Podemos então

    concluir que, para uma tensão constante do sistema, não é possível alterar a potência activa

    transmitida sem alterar a potência reactiva na linha (alterando o ângulo de transmissão, ambas

    são alteradas). Também é possível observar que a potência máxima transmissível pela linha

    depende do seu comprimento, pois quanto mais comprida for, maior é a sua reactância série

    efectiva da linha. Isto é importante na medida que, uma vez atingido um ângulo de

    transmissão δ=90o, a única maneira de aumentar a potência transmitida pela linha passa pelo

    incremento da tensão do sistema, ou pela diminuição da reactância série efectiva da linha.

    Como se verá mais à frente, a compensação de uma linha de modo a aumentar a sua potência

    activa, passa precisamente pela manipulação das três variáveis presentes na expressão (x.7).

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    Limites térmicos

    O limite prático para a potência transmitida por uma linha pode ser imposto pela expressão

    (x.10), onde temos que as perdas activas do condutor (P joule), que o aquecem, são função da

    corrente que atravessa a linha (I) e da resistência total da linha (R). Se a temperatura do

    condutor for demasiada, pode alterar irreversivelmente as características físicas do condutor.

    Pode-se diminuir a corrente que percorre a linha de transmissão aumentando a reactância

    série efectiva da linha ou diminuindo o ângulo de transmissão, evitando-se desde modo que se

    atinjam os limites térmicos de uma linha de transmissão. 

        (x.10)

    Limites de isolamento

    As tensões do sistema não podem exceder limites bem definidos (normalmente +5% ou +10%e -10% relativamente à tensão nominal). Os limites práticos tornam ainda mais restritos (por

    natureza) em linhas radiais, e em linhas longas com cargas acopladas ao longo da linha.

    Controlo do fluxo de potência e compensação de linhas de transmissão: conceitos

    base 

    Pelo que foi dito anteriormente, podemos reconhecer que a potência transmissível de uma

    linha pode ser aumentada através de uma compensação reactiva adequada (injectada ou

    absorvida da linha). A ideia é alterar um ou varias variáveis da expressão (x.7), possibilitando

    também outras medidas, como o aumento do factor de potência, balancear a potência activa

    obtida dos geradores, compensar a regulação de tensão e eliminar flutuações nesta e

    eliminação de componentes harmónicas[14]. Existem três modos de compensar uma linha,

    que constituem a base de operação de todos os métodos de compensação abrangidos pelos

    dispositivos FACTS:

    -Compensação “shunt” 

    -Compensação série

    -“Phase Shifting” 

    As primeiras soluções de compensação “shunt” baseavam-se em bancos de condensadores,cujo objectivo é fornecer energia reactiva à linha nas situações em que a carga é volumosa, e

    evitar assim que a tensão na linha descesse demasiado, ou de reactâncias, cujo objectivo é

    absorver a energia reactiva excessiva que acontece em casos de cargas baixas ou com a linha

    desconectada, evitando assim sobretensões. Ambas as soluções podem ser fixas ou

    mecanicamente comutáveis. Os condensadores síncronos também foram desde cedo usados.

    As compensações série consistem em condensadores colocados em série com a linha, para

    anular artificialmente parte da reactância indutiva da linha.

    Um “phase shifter” é basicamente um transformador com tomadas com capacidade de alterar

    o ângulo de carga. Vejamos então o que acontece mais detalhadamente nestes três métodos

    de compensação, que como ja foi dito, constituem a base de operação dos dispositivos FACTS.

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    1)  Compensação “shunt”  ideal

    Como vimos anteriormente, a linha sem perdas assumida, não está sempre à sua carga

    natural. A tensão no ponto intermédio atinje um máximo ou um mínimo, consoante o regime

    de carga que lhe é imposto. Por isso, é lógico que a compensação seja feita precisamente no

    ponto intermédio da linha, tal como ilustrado na figura x.4.

    Figura x.4  –Modelo de uma linha de transmissão sem perdas, interligando dois geradores ou

    dois sistemas eléctricos de energia, com um compensador ideal conectado no seu ponto

    intermédio.

    Note-se que não existe qualquer troca de potência activa. Com a injecção de reactiva no ponto

    intermédio, é possível “quebrar” a linha ao meio, em que cada metade passa agora a ter uma

    impedância reactiva indutiva igual a X/2. O que torna isto possível é o facto de parte da

    energia reactiva indutiva da linha não necessitar de vir das extremidades da linha, que passa a

    ser proveniente do compensador “shunt”. Com efeito, se as tensões V M, Vs  e Vr  foremidenticas, em cada metade existirá um novo ponto mínimo de tensão no ponto intermédio de

    cada metade, mas agora, o desfasamento das tensões V s  e VM, e de VM  e Vr  em relação à

    corrente na metade respectiva (que estará em fase com a tensão nos pontos intermédios de

    cada metade) está reduzido a metade, e isto porque agora, toda a reactiva necessária para

    compensar a linha precorre apenas metade do comprimento anterior (Das fontes Vs, Vr e VM 

    para os pontos intermedios de cada uma das metades), que é o mesmo que dizer que precorre

    metade da indutância da linha, o que por si justifica o facto dos angulos de carga em cada

    metade da linha, serem apenas metade do angulo de carga verificado na linha sem

    compensação. É claro que, enquanto na linha sem compensação e sem perdas e apenas com

    reactancia indutiva, a corrente era constante ao longo desta em módulo e fase, na situação de

    compensação descrita (Vs=VM=Vr), as correntes das duas metades das linhas (Ism  e Imr, cada

    uma constante em módulo e fase na sua metade) estarão desfasadas entre si num angulo igual

    ao angulo de transmissão de cada metade, como pode ser observado na figura x.5.

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     Figura x.5  –Diagrama fasorial do modelo representado na figura x.4 

    A potência activa transmitida pela linha passa então a ser dada pela expressão (x.11), assim

    como a potência reactiva fornecida em cada extremo da linha é dada pela expressão (x.12),

    onde fica evidente que com apenas uma compensação “shunt” ideal no ponto intermédio da

    linha conseguimos duplicar o limite máximo da potência transmissível, que ocorre agora paraum ângulo de carga δ=180o, que tambem é o dobro do anterior angulo de carga possível. É

    claro que não é preciso que VM  seja igual a Vs  e a Vr  para que este fenómeno ocorra, mas

    tambem daí teremos uma compensação menor. Também é visível que teoricamente é possível

    dividir a linha infinitamente, que então passaria a ter um perfil de tensão constante ao longo

    do seu comprimento, sem limite estático de potência transmissível. Este método de

    compensação actua na tensão e no ângulo de carga da linha. Convém no entanto reparar que

    a equação (x.12) representa a energia reactiva injectada apenas numa extremidade da linha.

    Numa linha sem compensação temos apenas duas extremidades, mas numa linha compensada

    temos quatro: as duas extremidades físicas da linha, e as outras duas extremidades artificiais

    criadas pelo compensador “shunt”, em virtude de este “querbar” electricamente a linha em

    duas. Assim, neste caso, a potência reactiva total injectada na linha de transmissão é dada por

    (x.13). Por isso a compensação de uma linha através de um compensador “shunt” pode

    implicar grandes quantidades de energia reactiva, que no limite (para um angulo de

    transmissão de 180o) é oito vezes superior à potência activa.

      (x.11)

    ()

      (x.12)

    ()  (x.13) 

    2)  Compensação série

    A compensação série pretende essencialmente, anular parte da reactância indutiva da linha,

    ou de outro ponto de vista, aumentar a tensão aplicada à reactância da linha. Uma

    característica da utilização de condensadores em série com a linha, é que como a energiareactiva é directamente proporcional ao quadrado da corrente na linha, existe um efeito auto-

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    regulador. Como a energia reactiva produzida aumenta com o aumento de corrente, a

    compensação aumenta quando a carga na linha aumenta, e diminui quando a carga na linha

    diminui[14]. O resultado prático é identico e levará ao aumento do fluxo de corrente na linha.

    Tal pode ser feito com um banco de condensadores colocados em série com a linha, pois a sua

    reactância é oposta em fase à reactância indutiva da linha (diminuindo a reactância efectiva da

    linha, como se a linha fosse encurtada), e a tensão aos seus terminais é tembém ela oposta em

    fase à queda de tensão na reactância indutiva da linha (aumentando a tensão aplicada à linha,

    como se a tensão do sistema tivesse sido aumentada). Tal encontra-se ilustrado na figura x.6,

    onde a compensação é feita através de duas capacidades nos dois extremos da linha (Xc/2), e

    cuja disposição fasorial das grandezas em jogo está ilustrada na figura x.7. A potência activa

    transmitida, depende então da quantidade de impedância reactiva indutiva da linha que foi

    anulada, ou de quanto foi o incremento da tensão aplicada à reactância indutiva da linha, que

    é expresso mediante um factor k (onde k=Xc/X), obtendo-se assim a expressão (x.14). A

    potência reactiva na linha é dada pela expressão (x.15). Este método de compensação actua na

    reactância indutiva da linha na expressão (x.7).

    Figura x.6   –  Modelo de uma linha sem perdas interligando dois geradores ou sistemaselectricos de energia, com compensação série.

    Figura x.7  –Diagrama fasorial do modelo representado na figura x.6

      (x.14)

      (x.15)

    3)  “Phase Shifting”  

    A ideia de um “phase shifter” ideal é manter um dado valor de potência transmitida

    independentemente do angulo de carga existente. O método clássico consiste numtransformador com tomadas (com comutação mecânica ou electrónica), colocado entre o

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    barramento emissor e a linha de transmissão, que injecta uma tensão em série com a linha

    (designemos por Vσ), com um dado angulo e módulo, que se soma à tensão do barramento

    emissor (Vs). Deste modo consegue-se alterar o ângulo de transmissão efectivo da linha (ver

    figura x.8). Se idealmente o ângulo de transmissão é alterado e o módulo da tensão injectada

    em série com a linha permanece constante, então um “phase shifter” pode trocar potência

    activa com a rede, mas como não possui capacidade de produzir nem de absorver potência

    activa ou reactiva (considerando-o ideal, sem perdas), tem de as obter da própria rede. Basta

    observar as equações (x.7)  e (x.9)  em conjunto para perceber que alterando o angulo de

    transmissão (δ), que o valor da potência activa (P) e da potência reactiva (Q) são modificadas.

    Outro aspecto é que este método de compensação, não aumenta a capacidade máxima de

    potência transmissível pela linha. No entanto, é possível desta maneira manter a linha à sua

    capacidade máxima para ângulos de carga que, sem compensação, ultrapassariam o ângulo

    máximo, mas que graças a este método, pode ser mantido no ângulo máximo, sem o

    ultrapassar. Também é possível a sua utilização para diminuir a potência transmitida numa

    linha. A potência transmitida neste caso é dada pela expressão (x.16), onde  é o ângulo decarga sem compensação,   é a alteração de fase introduzida pelo “phase shifter” e V é atensão efectiva no barramento emissor. 

    Figura x.8  –  Diagrama fasorial onde se esquematizam somas vectoriais das tensões Vs  e Vσ,

    Onde Vx é a queda de tensão na linha e Vseff  é a resultante da soma de Vs e Vσ (tensão eficaz no

    barramento emissor).

      (x.16)

    Concluindo, este tipo de compensação baseia-se na alteração do desfasamento da tensão

    efectiva no barramento emissor. Esta capacidade é explorada principalmente no controlo dofluxo de potência em regime permanente, e na solução de problemas de trânsitos de potência

    em linhas paralelas como o controlo do fluxo de potência activa e malha circular.

    Limitações dinâmicas na transmissão de energia de um sistema eléctrico

    Os três métodos de compensação abordados anteriormente em condições ideais permitem

    ultrapassar grande parte das limitações dinâmicas que condicionam um sistema eléctrico.

    Melhorar a estabilidade transitória, melhorar e aumentar a estabilidade dinâmica do sistema,

    eliminar as oscilações de potência e evitar colapsos de tensão podem ser conseguidas através

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    da compensação das linhas de transmissão. O objectivo consiste em evitar que haja perda de

    sincronismo de algum gerador síncrono do sistema.

    a)  Melhorar a estabilidade transitória  – A estabilidade transitória do sistema caracteriza-

    se pela capacidade de um sistema voltar à sua operação normal após a ocorrencia de graves

    perturbações. Os fenómenos transitórios associados aos geradores síncronos, normalmente

    estão associados a curto-circuitos ou a falhas de equipamentos que implicam o corte de uma

    via de transmissão de potência, que causa um desequilíbrio imediato entre a potência

    mecânica fornecida ao gerador, e a potência eléctrica que é produzida e transmitida. Se a

    potência mecânica for superior à potencia eléctrica, o gerador irá acelerar. Se a potência

    eléctrica for superior à mecânica, a maquina irá abrandar. Se o gerador acelerar ou abrandar

    demasiado perderá o sincronismo com a rede e terá que ser desligado, o que pode trazer

    problemas ao sistema eléctrico em alimentar a carga que lhe é solicitada. Enquanto a linha

    com problemas não for reposta, o desequilibrio entre potências mantem-se e a maquina

    acelerará ou abrandará, e se a linha não voltar a ser reposta em breves instantes, os meiosde transmissão existentes (se existirem) terão que ser suficientes para que a maquina se

    aguente no sistema. É por esta razão que um sistema eléctrico de energia nunca opera nos

    seus limites de capacidade máximos, para que consiga aguentar este tipo de fenómenos,

    sendo a margem de segurança é bastante considerável (o angulo de carga por norma é

    relativamente pequeno). Se fosse possível explorar um sistema eléctrico de energia perto dos

    seus limites, seria economicamente vantajoso. Com compensação das linhas de transmissão,

    é possível aumentar o limite máximo de potência transmissível e diminuir o angulo de carga

    como ja foi visto anteriormente, o que permite aumentar a potência transmitida e aumentar

    as margens de estabilidade do sistema, rentabilizando assim as infraestruturas ja existentes,

    evitando novos investimentos mais avultados.

    b) 

    Melhorar e aumentar a estabilidade dinâmica do sistema e evitar oscilações de

     potência  – A estabilidade dinâmica do sistema caracteriza-se pela capacidade de um sistema

    voltar à sua operação normal após a ocorrencia de pequenas perturbações. Nos geradores

    síncronos podem aparecer devido à simples variação da carga diária e pequenas flutuações

    de potência, da manobra de aparelhagem de corte, ou até serem o prolongamento de um

    fenómeno transitório, e causam oscilações nos geradores, do seu angulo de carga e da

    potência em torno dos valores que seriam os verificados em regime estacionário. Se estas

    oscilações não forem amortecidas, a maquina não estabilizará e poderá perder o

    sincronismo. A ideia consiste em utilizar os três métodos de compensação desctitos para

    regular a potência transmissível pelas linhas de modo a que essa potência esteja em

    equilíbrio com a potência mecânica do gerador síncrono. Assim, quando o gerador síncrono

    acelera, a potência transmitida é aumentada, travando a máquina, e quando o gerador

    desacelera, a potência transmitida é diminuida, levando a maquina a acelerar, isto pode ser

    feito actuando no angulo de carga, na reactância das linhas ou na tensão da linha. Na tabela

    x.1  encontram-se resumidos os procedimentos efectuados nas situações possíveis para os

    varios tipos de compensação.

    Tabela x.1  - Amortecimento das oscilações de potência num gerador síncrono (P m  éconsiderado constante ao longo de um ciclo de oscilação)

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    Equilíbrio dePotência

    Aceleraçãodo Gerador

    Variação doAngulo de

    TransmissãoPrincipio de Compensação

    PotênciaTransmitida

    Ps-Pm  θg  dδ/dt Paralelo Série“Phase

    Shifting” P

    Ps-Pm0 dδ/dt>0 Q p>0 K>0,Xlinha diminui σ0 θg

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    intensidade e causar fadiga mecânica nos veios de ligação dos conjuntos turbina-gerador,

    diminuindo o seu tempo de vida útil, podendo mesmo ocorrer a sua quebra. Para além dos

    curto-circuitos que os podem potenciar, o que torna a SSR relevante quando estamos a falar

    de compensação de uma linha, é que a existência de grandes capacidades inseridas em série

    com a linha pode proporcionar e amplificar a ocorrencia da SSR. Na ocorrência de fenomenos

    transitórios e mesmo devido ao princípio de funcionamento de alguns compensadores, esses

    condensadores inseridos em série podem adquirir uma tensão de offset (componente DC)

    diferente de zero, com tendência a alimentar os binários subsíncronos. Portanto, este é um

    dos problemas que condiciona o dimensionamento da compensação shunt de uma linha,

    principalmente quando falamos da compensação tradicional como a colocação de

    condesadores fixos inseridos em série com a linha, ou bancos de condensadores comutados

    mecanicamente, que podem inadvertidamente agravar a ocorrência deste fenomeno.

    No entanto, como veremos mais à frente, os dispositivos FACTS oferecem soluções nesta

    materia, sendo possível a construção de compensadores série imunes à SSR e com capacidade

    de ajudar no seu amortecimento, mesmo através de compensação shunt baseada emdispositivos FACTS.

    Referencias:

    [1] - Song, Y. H. e Johns, A. T. (1999). Flexible AC transmission systems (FACTS). Londres, Reino Unido,The Institution of Electrical Engineers (IEE).

    [2] – Ferreira, J. M. T. (2005). “Projecto e Simulacao de um Controlador FACTS para Maximizacao da Controlabilidade e Capacidade de Transmissao do Sistema Electrico de Transmissao de Potencia”. Tese de Doutoramento, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal.

    [4] – Hingorani, N. G and Gyugli, L. (2000). Understanding FACTS. Piscataway, USA, IEEE Press.

    [15]- Hingorani, N. G., “FACTS Technology – State of the Art, Current Challenges and the FutureProspects”, IEEE, 2007, pp. 1-4