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2 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

CIDADE NO ALÉM

Ditado pelos Espíritos: André Luiz e Lucius Psicografado por: Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha

Publicação original (1999): Editora IDE Instituto de Difusão Espírita Edição digital

© 2012 – Brasil

3 – CIDADE NO ALÉM

Sumário

Apresentação — pág. 4

Anotações em torno de "Nosso Lar"— pág. 5

Explicação Necessária— pág. 11

I - Cidade "Nosso Lar"— pág. 16

II - Plano Piloto— pág. 19

III - Detalhes da cidade extraídos das obras de André Luiz— pág. 22

IV - Localização de "Nosso Lar" - Esferas Espirituais— pág. 35

Índice das Ilustrações

I - A Governadoria— pág. 38

II - Pavilhão de repouso e magnetização para espíritos em processo de

encarnação, no Ministério da Regeneração— pág. 39

III - Templo, no Ministério da União Divina— pág. 40

IV - Primeiro desenho, incompleto do Plano Piloto— pág. 41

V - Salões Verdes da Irmã Veneranda— pág. 42

VI - Planisfera com a localização da cidade— pág. 43

VII - Planisfera, com as suas divisões— pág. 44

VIII – Plano Piloto da cidade— pág. 45

4 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

Apresentação

A autora desta obra, através de desdobramento espiritual durante

o sono, amparada pelo Espírito Lucius, visitou por várias vezes a cidade

espiritual "Nosso Lar", bastante conhecida dos leitores espíritas através da

leitura dos livros do Espírito André Luiz, psicografados pelo médium

Francisco Cândido Xavier.

E esta obra nos oferece vários dos desenhos a cores efetuados pela

médium logo após o retorno desses seus desdobramentos, bem como

explicações a respeito, baseadas em trechos de André Luiz. Também inclui

um Plano Piloto, ou seja, uma prancha desdobrável medindo 36 x 51 cm de

uma planta baixa da cidade "Nosso Lar".

Trata-se de um trabalho mediúnico revestido de total confiabilidade

e seriedade pois, além do grande estímulo pessoal de Francisco Cândido

Xavier, recebeu, através de sua incontestável mediunidade, esclarecedor

preâmbulo do próprio Espírito André Luiz.

Após a leitura desta obra, o prezado leitor certamente terá uma

visão mais aprofundada a respeito dessa tão importante cidade do Plano

Espiritual.

5 – CIDADE NO ALÉM

Anotações em torno de

"Nosso Lar"

1 - O irmão Lucius fez quanto pôde, a fim de trazer, aos amigos domiciliados

no Plano Físico, alguns aspectos de Nosso Lar, a colônia de trabalho e

reeducação a que nos vinculamos na Espiritualidade, especialmente o plano

piloto que lhe diz respeito.

Para isso, encontrou a dedicação da médium Heigorina Cunha, na

cidade de Sacramento, em Minas Gerais, no Brasil.

*

2 - Terá conseguido transmitir, minuciosamente, toda a imagem do vasto

contexto residencial a que nos referimos?

Decerto que não, mas estamos à frente de uma realização válida

pelas formas e ideias básicas que o mencionado amigo alinhou,

cuidadosamente, através do intercâmbio espiritual.

*

3 - Justo lembrar aqui os mapas que Cristóvão Colombo desenhou, por

influência de Mentores e Amigos Espirituais, antes de desvelar a figura da

América.

Semelhantes esboços não continham a realidade total, no entanto,

demonstram, até hoje, que o valoroso navegador apresentava a

configuração do Novo Continente, em linhas essenciais.

*

6 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

4 - Convém esclarecer que Nosso Lar é uma colônia idade, habitada por

homens e mulheres, jovens e adultos, que já se desvencilharam do corpo

físico.

Outras colônias-cidade espirituais, porém, existem, às centenas, em

torno da Terra, obedecendo às leis que lhe regem os movimentos de

rotação e translação.

*

5 - Em toda parte, depois do berço, o homem, no centro da Natureza, é

defrontado pelos princípios de sequência.

Depois da morte também.

*

6 - Atendendo aos ditames da reencarnação e da desencarnação, nascem

na experiência física e liberam-se dela milhares de criaturas humanas, no

estado mental em que se comprazem.

*

7 - Quantos abordam o mundo material, através do renascimento,

evidenciam-se na condição em que se achavam, no Plano Espiritual, e,

consequentemente, quantos regressam ao Plano Espiritual, procedentes do

mundo, lá se revelam tal qual se encontram, seja em matéria de evolução

ou seja ante a contabilidade da lei de causa e efeito.

*

8 - Ninguém é constrangido a pensar dessa ou daquela forma, por força dos

princípios universais que nos governam. Cada consciência, encarnada ou

desencarnada, é livre, em pensamento, para escolher o caminho que lhe

aprouver, ainda que esteja, transitoriamente, nos resultados infelizes de

opções que haja feito, no passado, resultados nos quais a criatura pode

amenizar ou agravar a própria situação, na pauta da conduta que adote.

7 – CIDADE NO ALÉM

*

9 - Compreensível que os seres humanos transfiram para a Vida Espiritual,

quando lhes ocorra à desencarnação, os ideais nobilitantes e as paixões

deprimentes, os desgostos e as alegrias, a convicção e a descrença, os

valores do entendimento e os desmandos da inteligência, o conhecimento

deficitário e a ânsia de elevação de que se vejam possuídos.

*

10 - Renascendo na Terra, a personalidade espiritual permanece internada

no veículo físico, cercada de testes que lhe aferem o valor alcançado, com

alicerces na assimilação do que já tenha realizado de melhor, em si mesma;

e, desencarnando, essa mesma personalidade patenteia, claramente, o que

é, como está e em que degrau evolutivo se acomoda, irradiando de si

própria o clima espiritual em que se lhe apraz viver e conviver.

*

11 - No berço terrestre, a pessoa se reassume na família ou no grupo social

em que deva reaprender lições e conclusões do pretérito, com o resgate de

débitos que haja contraído, ou em que possa prosseguir nas tarefas de

amor e cooperação às quais livremente se empenha.

*

12 - Na desencarnação, essa mesma pessoa retoma a companhia do grupo

espiritual com que se afina, de modo a continuar mentalmente estanque,

como deseja, ou de maneira a colher os resultados felizes no esforço de

autossublimação que haja desenvolvido no Plano Físico, seja pelo

aperfeiçoamento realizado em si mesma ou seja pelas tarefas

enobrecedoras que tenha iniciado, entre os homens, entrando

naturalmente no grupo de elevação a que se promoveu.

*

8 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

13 - Todo espírito é livre, no pensamento, para melhorar-se, melhorando o

campo de vivência em que esteja, ou para complicar-se, complicando o

campo de experiências a que se vincule.

*

14 - Nas colônias-cidades ou colônias-parques que gravitam em torno do

Plano Físico, para domicílio transitório das inteligências desencarnadas, é

natural que a luta do bem para extinguir o mal ou o desequilíbrio da mente,

continue com as características que lhe conhecemos na Crosta da Terra.

*

15 - A morte não opera milagres. O ser humano, além dela, prossegue no

trabalho do autoburilamento ou estacionário, enquanto não aceite a

obrigação de renovar-se e evoluir.

*

16 - As religiões, a filosofia e a ciência continuam, por necessidade das

criaturas desencarnadas, crendo, estudando e experimentando na

sustentação do progresso e do aprimoramento humano, oferecendo vastos

domínios de serviço nobilitando aos seus intérpretes, cultivadores e

expoentes.

*

17 - Considerando a densidade das multidões de Espíritos desencarnados,

desvalidos de orientações, vítimas de paixões acalentadas por eles próprios,

analfabetos da alma, desvairados pelos sentimentos possessivos,

portadores de enfermidades e conflitos que eles mesmos atraem e

alimentam, Espíritos imaturos e desinformados, de todas as procedências, é

necessário que o lar de afinidades, o templo da fé, a escola e a predicação,

a prece e o reconforto, o diálogo e a instrução, o hospital e a assistência, o

socorro e os tratamentos de segregação, funcionem, nas comunidades do

9 – CIDADE NO ALÉM

Mais Além, com extremada compreensão de quantos lhes esposam as

tarefas salvadoras.

*

18 - Para o esclarecimento gradativo dos Espíritos desencarnados, que se

revelam necessitados de apoio e de instrução (e contam-se por milhões), a

palavra articulada, falada ou escrita, irradiada ou televisada, ainda é o

processo mais rápido de comunicação, embora a telepatia e a sublimação

contêm, além da morte, com círculos de iniciados, cada vez mais amplos,

em elevados níveis de entendimento.

19 - Justo que a didática, no Mais Além, utilize a lição, o exame, a exposição

prática, os cursos vários de introdução ao conhecimento superior, a

disciplina, o apólogo, a fábula, os exemplos da história e todos os recursos

outros, das artes e da literatura, que sirvam de auxílio aos companheiros

necessitados de conhecimento e motivação pira o bem deles próprios.

20 - Nos planos imediatos à experiência física, os felizes estão sempre

dispostos ao trabalho em favor dos infelizes, os mais fortes a benefício dos

mais fracos, os bons em socorro dos desequilibrados e os mais sábios em

apoio dos desorientados e ignorantes.

*

21 - Nas comunidades de criaturas desencarnadas, a afinidade é o clima

ideal para a união dos seres, o interesse pela ascensão do Espírito aos

planos superiores é a marca de todos aqueles que já despertaram para o

respeito a Deus e para o amor ao próximo, o trabalho do bem é incessante,

a religião não tem dogmatismo, a filosofia acata os melhores pensamentos

onde se manifestem, a ciência é humanitária e o esforço pelo próprio

aperfeiçoamento íntimo é impulso infatigável em todas as criaturas de boa

vontade.

10 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

22 - Além da morte, a vida continua e, com mais clareza, aí se vê a realidade

da teologia simples que rege a evolução, em tudo o que a evolução possua

em comum com a Natureza: "A cada um segundo as suas próprias obras".

André Luiz

Uberaba, 17 de junho de 1983.

(Anotações recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier,

em Uberaba, Minas Gerais).

11 – CIDADE NO ALÉM

Explicação Necessária

Desconhecida que sou da grande família espírita, e do público em

geral, a quem é destinada à mensagem deste livro, vinda do Mundo Maior,

com a minha pequena parcela de cooperação, gostaria de contar, neste

limiar, um pouco da minha vida para que os queridos leitores se inteirem da

precariedade de recursos dos quais os Espíritos dispuseram para se

manifestarem por meu intermédio, o que pode explicar as falhas técnicas e,

às vezes, elementares de desenho, principalmente tendo em vista a

qualidade da matéria a ser retratada, que envolve aspectos, paisagens e

coisas do Mundo Espiritual.

*

Nasci em 16/4/1923, uma criança normal e, por algum tempo gozei,

como qualquer outra, de grande robustez. Certa manhã, acordei tristonha e

abatida. Mamãe dispensou-me todo o cuidado, empregando, desde logo, os

recursos necessários para tirar-me daquele estado, quase inesperado de

prostração. Contudo, atendendo à harmonia das Leis do Universo, iniciava-

se naquele dia, 23/4/1924, um processo de renovação que deveria atingir a

mim e a toda a comunidade de apoio terreno de que desfrutava, num

desdobramento de lições inesquecíveis e sumamente proveitosas. É que se

iniciava ali, naqueles dias tranquilos do passado, um processo de

regeneração que nos chegava através da paralisia infantil.

*

Desde pequenina, já era uma enamorada do céu, que exercia sobre

mim uma atração fora do normal. Durante o dia, acompanhava o passeio

das nuvens e a sua metamorfose contínua de formas nas quais procurava

descobrir figuras de pessoas e coisas; à tarde, tinha encontro certo com o

12 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

pôr-do-sol para extasiar-me no seu espetáculo de cores e, à noite, deixava-

me fascinar pelas estrelas distantes sem poder, contudo, decifrar-lhes o

significado e a grandeza. É que, imobilizada pela paralisia, presa a uma

cadeira ou à cama, sempre pedia à Mamãe que me pusesse à janela, para

que eu pudesse vislumbrar o mundo exterior. E, através daquela abertura

iluminada, até hoje, sinto-me presa à contemplação do firmamento.

Nos devaneios que nasciam nessa contemplação sublime,

invariavelmente surgiam perguntas: como poderia andar? Onde encontrar

forças e recursos inabituais para vencer os impedimentos gerados pela

enfermidade? Como poderia Deus, Nosso Pai, me ajudar mais de perto?

Foi quando, com a vontade de vencer as dificuldades e confiante

em Deus, comecei a sentir a presença de Benfeitores Espirituais junto a

mim, ganhando a convicção de que, com o auxílio deles, haveria de

encontrar solução. Adquiria certeza de que o pensamento é força criadora e

que essa força, pela vontade de Deus, com o apoio dos Amigos Espirituais,

poderia dar vida à minha perna paralítica, e poderia andar.

Depois de longos anos de esforços para pôr em prática os exercícios

físicos e mentais recomendados pelos Espíritos que me ajudavam, alcancei

minha mocidade andando com o apoio de abençoada bengala e

agradecendo a bênção da vida ao lado de meus Pais queridos, Ataliba José

da Cunha e Eurídice Miltan Cunha (Sinhazinha).1

A dedicação e a sensibilidade de Mamãe ajudaram-me a isentar-me

de complexos psicológicos que costumara acompanhar os processos de

regeneração aos quais muitas criaturas devem se submeter, como eu, nos

desdobramentos das lições da vida, e, moça, sentia-me uma pessoa normal,

como outra qualquer, com a vida sorrindo ao meu derredor e com a alegria

de levar de vencida a paralisia.

*

Os anos de felicidade juvenil, no entanto, se desfazem a partir do

dia 2 de novembro de 1961, quando Mamãe, meu apoio maior, e a

verdadeira bengala a sustentar-me na luta, regressa ao Mundo Maior,

1 Irmã de Eurípides Barsanulfo, trabalhou com ele na Farmácia muitos anos, e toda a sua vida dedicou aos necessitados. No Plano Espiritual, junto do esposo, continuou na Seara de Jesus.

13 – CIDADE NO ALÉM

deixando aos meus cuidados, juntamente com uma irmã solteira, Papai

imobilizado na cama já há seis anos, em razão de um acidente. Órfão, como

nós, pela partida física daquele coração generoso que nos tutelava a

existência, Papai passou a se apoiar em nós, seus filhos, que o cercavam até

que, em 1971, também retornasse ao Mundo Maior.

Conto estes lances de minha vida sem qualquer ideia de valorização

pessoal, mas para demonstrar aos queridos leitores que a Doutrina Espírita

é manancial inesgotável de força criadora e vivificante, no qual poderemos

banhar nossa alma para livrar-nos das feridas que costumam abrir-se nos

corações desalentados antes os fatos naturais da vida.

*

Foi em 1962, quase um ano após a partida de Mamãe, em uma

tarde amena, quando contemplava, melancólica, o pôr-do-sol, que senti

mais nítida a sua presença, e, a partir daí, comecei a penetrar os dois planos

da vida com mais frequência.

Mas foi no dia 2 de março de 1979, quando vivi a mais fascinante

experiência de minha vida. Vi-me saindo do corpo, conduzida por um

Espírito que não pude identificar, seguindo para uma cidade espiritual que

depois soube tratar-se da cidade "Nosso Lar", da qual André Luiz, no livro

que leva o mesmo nome2 traça-lhe um perfil magnífico e esclarecedor.

Via a cidade com alguns detalhes, guardando, ao despertar, toda a

recordação da experiência daquela noite maravilhosa que se interrompeu,

em pleno amanhecer, quando o Espírito que me acompanhava convidou-

me a regressar a Terra.

Não podia perder a visão de tão belo acontecimento e, assim,

resolvi desenhar, retratando o que me foi possível conhecer naquela rápida

visita.

Esclareço que não sou desenhista, por isso, os desenhos que

elaborei, procurando retratar o que vi, não podem ter pretensão técnica

nem bastarem para refletir inteiramente a beleza das formas, gravadas no

papel. Apesar disso, fiz o desenho e guardei-o sem revelar nada a ninguém.

2 "NOSSO LAR", Espírito de André Luiz, Francisco Cândido Xavier, Ed. FEB, Rio, RJ.

14 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

*

Depois de três anos, repetiu-se a experiência, com mais nitidez, e

pude ver além do que havia visto, enquanto volitava sobre a cidade,

embebendo-me nos detalhes de sua paisagem.

O Amigo Espiritual que me conduzia deixou-me num

Departamento, na cidade, e foi para outro, atender a tarefas que lhe

competiam. Permaneci à sua espera e, algum tempo depois, chamaram-me

através de um aparelho de comunicação interna, à feição de telefone, para

informar-me que deveria ficar naquela seção, uma vez que não convinha ir-

me para onde ele estava, nas Câmaras, onde havia muito sofrimento,

prevenindo-me que me buscaria para o regresso.

Acordei com um encaixamento brusco no corpo, sentindo ainda

uma espécie de tontura da volitação, mas com a consciência integral de

tudo o que havia visto.

Dessa viagem, saiu o segundo desenho ou planta baixa da cidade

"Nosso Lar" e que corresponde ao Plano Piloto, segundo esclareceu depois

Francisco Cândido Xavier (nosso querido Chico).

Devo esclarecer, no entanto, que, embora a forma seja a

verdadeira, a cidade não se circunscreve ao número de casas e de quadras

indicadas no desenho apenas para efeito ilustrativo, uma vez que se trata

de uma cidade de vastas dimensões, que abriga cerca de um milhão de

habitantes.

Entusiasmada com o segundo desenho, mostrei-o a algumas

pessoas mais íntimas e de minha confiança. Uma delas foi um primo, que

levou a notícia a Francisco Cândido Xavier. O bondoso médium de Uberaba

se interessou e pediu-me que lhe levasse os desenhos, e qual não foi a

minha surpresa quando me afirmou se tratar da cidade "Nosso Lar",

correspondendo-lhe exatamente à forma.

Sob o estímulo de seu carinho e compreensão, procurei grafar

outros detalhes da cidade, que estão oferecidos neste livro.

Depositei nas mãos de Francisco Cândido Xavier, que se incumbiu

generosamente dos detalhes complementares e do encaminhamento do

material para o Instituto de Difusão Espírita, de Araras, que, afinal o editou.

Na oportunidade, devo agradecer a Deus e aos Bons Espíritos pela

15 – CIDADE NO ALÉM

participação que tive neste trabalho, rogando escusas, inclusive aos

leitores, pelas deficiências naturais impostas pelas minhas limitações

pessoais.

Heigorina Cunha

Sacramento, 4 de fevereiro de 1983.

16 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

I A Cidade "Nosso Lar"

Na vasta bibliografia mediúnica do médium Francisco Cândido

Xavier, a cidade espiritual conhecida como "Nosso Lar" foi à primeira

sociedade urbana da Vida Maior retratada com detalhes. Foi no livro do

mesmo nome, editado pela Federação Espírita Brasileira, que o Espírito de

André Luiz, relatando suas experiências, forneceu descrições

pormenorizadas acerca da organização da sociedade comunitária e das

edificações que lhe servem de apoio material.

Conta o abnegado médium que se surpreendeu pelo inusitado das

revelações e que André Luiz, a fim de que ele desse livre curso aos seus

relatos, certa noite, levou-o, em desprendimento espiritual, até a cidade

"Nosso Lar" para que se inteirasse da sua existência e conhecesse,

pessoalmente, alguns recantos retratados no livro.

Realmente, o citado livro abria campos amplos e novos à indagação

daqueles estudiosos que se sentissem dificuldades para entender como a

vida poderia prosseguir, normalmente e sem saltos, após o desenlace físico.

Difícil imaginar, ante a diversidade aparente das condições de

encarnado e desencarnado, que o Espírito pudesse habitar cidades

edificadas e organizadas de modo semelhante às expressões terrenas.

Os Espíritos disseram a Allan Kardec3 que no mundo espiritual

viviam em “espécies de acampamentos, de campos para se repousar de

uma muito longa erraticidade, estado sempre um pouco penoso”.

Não se podia,é verdade, dar largas a imaginação para especular

acerca do que seriam, realmente, essas espécies de acampamentos, por

falta de referências mais claras que induzissem a idealização de

comunidades de Espíritos habitando cidades estruturadas em edifícios de

natureza sólida, sobre terreno fértil a vegetação, e em tudo com estreita

3 Questão nº 234 de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS".

17 – CIDADE NO ALÉM

semelhança ao que conhecemos na Crosta. Mas, a partir das informações

veiculadas por André Luiz, passado o espanto natural que as revelações

causaram, reconheceu-se que não podia ocorrer de forma semelhante.

Habituado, durante muitos séculos, a idealizações do Céu e do

Inferno, em termos sem correspondência com as expressões humanas,

ainda mesmo diante das revelações contidas nas obras da Codificação, nos

recusamos a aceitar o óbvio. Se o Espírito sobrevivia ao corpo, e provas

dessa sobrevivência foram abundantes a partir do surgimento da Doutrina

Espírita, e se, por outro lado, os Espíritos nos asseguravam que nos

reuniríamos em famílias e em agrupamentos, e que a vida continuava sem

grandes mudanças depois da morte física, por que haveria de ser tão

discrepante em relação aos moldes da vida moderna?

Pelas recordações da vida espiritual, organizamos a vida terrena, e

André Luiz nos mostra que esta é uma copia imperfeita daquela.

A partir da edição do livro, a cidade “Nosso Lar” ganhou o coração e

a imaginação de todos os espíritas, que identificaram nela um modelo

alentador das organizações e situações que aguardam o ser humano, após a

desencarnação, e — por que não dizer? – um estímulo físico para conviver,

depois, em comunidades idênticas ou melhores.

Se a revelação trazida por André Luiz esperou oitenta e seis anos,

após a edição de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS", agora, quase quarenta anos

depois do surgimento do livro "NOSSO LAR", o Alto nos permite mais

algumas informações, ensejando-nos receber, através do trabalho

mediúnico de nossa irmã Heigorina Cunha, de Sacramento, o plano piloto

da cidade espiritual que é o objetivo deste livro.

*

A cidade "Nosso Lar", segundo informações veiculadas por André

Luiz, foi fundada por portugueses distintos, desencarnados no Brasil, no

século XVI, a partir de onde se localiza; atualmente, a Governadoria.

Conta que, naquele trato de terra, onde se veem edifícios de fino

lavor e onde se congregam vibrações delicadas e nobres, os fundadores

encontraram "as notas primitivas dos silvícolas do país e as construções

infantis de suas mentes rudimentares", devendo, à custa de "serviço

18 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

perseverante, solidariedade fraterna e amor espiritual", conquistá-los e

integrá-los para conseguirem seus objetivos.

À época em que se pronunciou o Amigo Espiritual, a cidade contava

com cerca de um milhão de habitantes.

*

Tendo em vista que a cidade se divide segundo as necessidades de

sua organização administrativa, permitimo-nos informar, aos que ainda não

leram o livro "NOSSO LAR", que a Governadoria, órgão central, está

assessorada pelo trabalho e organização de seis Ministérios, a saber:

Ministério da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento,

da Elevação e da União Divina, que atuam nas áreas que os próprios nomes

definem, sendo, cada Ministério, dirigido por doze Ministros.

Esclarecidos esses detalhes, passemos a considerar o plano piloto

da cidade.

19 – CIDADE NO ALÉM

II Plano Piloto

Mencione-se, desde logo, que existem dois desenhos: o primeiro

que abrange apenas a estrela, onde se localiza a Governadoria e os

conjuntos habitacionais, inscritos dentro dela, destinados aos trabalhadores

de cada Ministério; o segundo já engloba, mais além, os conjuntos

residenciais que, conquanto ainda afetos aos trabalhadores do Ministério,

podem ser adquiridos por estes, através de "bonus-horas" e são suscetíveis

de transmissão hereditária. Também nele se vê a grande muralha protetora

da cidade.

*

A cidade tem a forma de uma estrela de seis pontas, localizando-se

a Governadoria no centro do círculo em que está inscrita a estrela.

Da Governadoria partem as coordenadas que dividem a cidade em

seis partes distintas, afetas, cada uma, ao mesmo número de organizações

especializadas, em que se desdobra a administração pública, representadas,

como já se disse, pelos Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da

Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina.

Assim, a cidade está dividida em seis módulos, cada um deles

partindo da Governadoria, junto à qual se eleva à torre de cada Ministério,

configurando-se como o centro administrativo.

À frente deles, está a grande praça que os circunda e que, para que

se avalie o seu tamanho, está apta para receber, comodamente, um milhão

de pessoas. A médium descreve-a como belíssima, com piso semelhante ao

alabastro, com muitos bancos ao seu redor, sendo que, nos espaços em que

se vê o encontro dos vértices das bases dos triângulos, por detrás dos

bancos, existem fontes luminosas multicoloridas e, em torno delas, flores

20 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

graciosas e delicadas.

Além da praça temos os núcleos residenciais em forma de triângulo

e que, como já se disse, se destinam aos trabalhadores de cada Ministério,

sendo que os mais graduados residem mais próximos à praça e, portanto,

ao centro administrativo. Essas casas pertencem à comunidade e se um

trabalhador se transfere para outro Ministério, deve mudar-se também

para residir junto ao seu local de trabalho. Os quadros que se veem

desenhados dentro do triângulo, e junto à muralha, são quadras onde se

erguem as residências.

Nos espaços que medeiam entre um núcleo habitacional e outro,

seja em direção à muralha seja em direção ao núcleo correspondente ao

Ministério vizinho, existem grandes parques arborizados onde se erguem

outras construções que não foram detalhadas na planta, destinadas ao

lazer ou serviços aos habitantes. Vê-se, por exemplo, no parque do

Ministério da Regeneração, a locação do seu Parque Hospitalar; no

Ministério da União Divina, o Bosque das Águas e, no Ministério da

Elevação, o Campo da Música, todos referidos no livro Nosso Lar.

Cada núcleo residencial é cortado, no centro, por ampla avenida

arborizada que o liga à praça principal e a Governadoria, e que se inicia

junto à muralha.

Entre os núcleos em forma de triângulo e a muralha, estão os

núcleos residenciais destinados aos Espíritos que, por seus méritos, podem

adquirir suas casas mediante pagamento em bônus-horas, que é a unidade

monetária padrão, correspondente à uma hora de trabalho prestado à

comunidade. Estas casas, pertencendo aos que as adquirem podem ser

objeto de herança.

Na planta aparecem umas poucas quadras, mas, na verdade, são

muitas quadras, a perderem-se de vista e que se alongam até a muralha.

Circundando toda a cidade, está a grande muralha protetora, onde

se acham assestadas às baterias de projeção magnética, para defesa contra

as arremetidas dos Espíritos inferiores, o que não deve estranhar porque,

como sabemos, a cidade está situada numa esfera espiritual de transição,

abrigando Espíritos que ainda devem se reencarnar.

Por fora da muralha, estão os campos de cultivo de vegetais

destinados a alimentarão pública.

21 – CIDADE NO ALÉM

*

A planta da cidade, no entanto, carece de medidas que nos

propiciem uma exata compreensão do seu tamanho. Mas, poderemos

imaginar sua magnitude pelas referências que André Luiz nos faz. È uma

cidade, amplamente disposta, para um milhão de habitantes.

O "aeróbus", correndo numa velocidade que não permite fixar os

detalhes da paisagem, e com paradas de três em três quilômetros, demora

quarenta minutos para ir da Praça da Governadoria até o Bosque das

Águas, que está localizado na planta.

*

Em síntese, é o que nos mostra o plano piloto da cidade,

configurado na planta que nos veio ao conhecimento por intermediação de

nossa irmã Heigorina Cunha.

22 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

III Detalhes da cidade extraídos das

obras de André Luiz

O livro "NOSSO LAR", principalmente, é rico em detalhes acerca da

cidade, de seus logradouros e de suas edificações. Passamos a reproduzi-

Ias, na ordem em que se apresentam, citando, ao final, o número da página

do livro:4

"Embora transportado à maneira de ferido comum, lobriguei o quadro

confortante que se desdobrava à minha vista.

"Clarêncio, que se apoiava num cajado de substância luminosa, deteve-se

à frente de grande porta encravada em altos muros, cobertos de trepadeiras

floridas e graciosas. Tateando um ponto da muralha, fez-se longa abertura, através

da qual penetramos, silenciosos.

"Branda claridade inundava ali todas as coisas. Ao longe, gracioso foco de

luz dava a ideia de um pôr-do-sol em tardes primaveris. À medida que

avançávamos, conseguia identificar preciosas construções, situadas em extensos

jardins.

"Ao sinal de Clarêncio, os condutores depuseram, devagarinho, a maca

improvisada. A meus olhos surgiu, então, a porta acolhedora de alvo edifício, à

feição de grande hospital terreno. Dois jovens, envergando túnicas de níveo linho,

acorreram pressurosos ao chamado de meu benfeitor, e quando me acomodavam

num leito de emergência, para me conduzirem cuidadosamente ao interior, ouvi o

generoso ancião recomendar, carinhoso:

"— Guardem nosso tutelado no pavilhão da direita. Esperam agora por

mim. Amanhã cedo voltarei a vê-lo.

"Enderecei-lhe um olhar de gratidão, ao mesmo tempo em que era

conduzido a confortável aposento de amplas proporções, ricamente mobiliado,

onde me ofereceram leito acolhedor." (págs. 26/27).

*

23 – CIDADE NO ALÉM

"Aquela melodia renovava-me às energias profundas. Levantei-me

vencendo dificuldades e agarrei-me ao braço fraternal que se me estendia.

Seguindo vacilante, cheguei a enorme saião, onde numerosa assembleia meditava

em silêncio, profundamente recolhida. Da abóbada cheia de claridade brilhante,

pendiam delicadas e flóreas guirlandas, que vinham do teto à base, formando

radiosos símbolos de espiritualidade superior. Ninguém parecia dar conta da

minha presença, ao passo que mal dissimulava eu a surpresa inexcedível. Todos os

circunstantes, atentos, pareciam aguardar alguma coisa. Contendo a custo

numerosas indagações que me esfervilhavam na mente, notei que ao fundo, em

tela gigantesca, desenhava-se prodigioso quadro de luz quase feérica. Obedecendo

a processos adiantados de televisão, surgiu o cenário de templo maravilhoso.

Sentado em lugar de destaque, um ancião coroado de luz fixava o Alto, em atitude

de prece, envergando alva túnica de irradiações resplandecentes. Em plano

inferior, setenta e duas figuras pareciam acompanhá-lo em respeitoso silêncio.

Altamente surpreendido, reparei Clarêncio participando da assembleia, entre os

que cercavam o velhinho refulgente.

"Apertei o braço do enfermeiro amigo, e, compreendendo ele que

minhas perguntas não se fariam esperar, esclareceu em voz baixa, que mais se

assemelhava a leve sopro:

"— Conserve-se tranquilo. Todas as residências e instituições de "Nosso

Lar" estão orando com o Governador, através da audição e visão à distância.

Louvemos o Coração Invisível do Céu." (págs. 28/29).

*

"Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às

janelas espaçosas. Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza.

Quase tudo, melhorada cópia da Terra. Cores mais harmônicas, substâncias mais

delicadas. Forrava-se o solo de vegetação. Grandes árvores, pomares fartos e

jardins deliciosos. Desenhavam-se montes coroados de luz, em continuidade à

planície onde a colônia repousava. Todos os departamentos apareciam cultivados

com esmero. À pequena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se a

espaços regulares, exibindo formas diversas. Nenhum sem flores à entrada,

destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde

rosas diferentes desabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes

variados. Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em

quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas,

lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu.

"Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque.

Extremamente surpreendido, identificava animais domésticos, entre as árvores

frondosas, enfileiradas ao fundo." (págs. 45/46)

4 25ª edição, 1982.

24 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

*

"Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, saí, pela primeira vez,

em companhia de Lísias.

"Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de

árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranquilidade espiritual. Não

havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas

estavam repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a

mente em lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores.

Incumbia-se o companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiam

ininterruptas. Percebendo-me as íntimas conjeturas, esclareceu solícito:

"— Estamos no local do Ministério do Auxílio. Tudo o que vemos,

edifícios, casas residenciais, representa instituições e abrigos adequados à tarefa

de nossa jurisdição. Orientadores, operários e outros serviçais da missão, residem

aqui. Nesta zona, atende-se a doentes, ouvem-se rogativas, selecionam-se preces,

preparam-se reencarnações terrenas, organizam-se turmas de socorro aos

habitantes do Umbral, ou aos que choram na Terra, estudam-se soluções para

todos os processos que se prendem ao sofrimento." (págs. 50/51)

*

"A essa altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos,

ostentando extensos jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de

magnificente beleza, encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu."

"— Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a

que me referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma

triangular.

"E, respeitoso, comentou:

"— Ali vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos,

utiliza ele a colaboração de três mil funcionários; entretanto, é ele o trabalhador

mais infatigável e mais fiel que todos nós reunidos." (...)

"Calara-se Lísias, evidenciando como vida reverência, enquanto eu a seu

lado contemplava, respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam

cindir o firmamento..." (págs. 52/53)

*

"Enlevado na visão dos jardins prodigiosos, pedi ao dedicado enfermeiro

para descansar alguns minutos num banco próximo. Lísias anuiu de bom grado.

"Agradável sensação de paz me felicitava o espírito. Caprichosos repuxos

de água colorida ziguezagueavam no ar, formando figuras encantadoras." (pág. 54)

25 – CIDADE NO ALÉM

*

"Dado o meu interesse crescente pelos processos de alimentação, Lísias

convidou:

"— Vamos ao grande reservatório da colônia. Lá observará coisas

interessantes. Verá que a água é quase tudo em nossa estância de transição.

"Curiosíssimo, acompanhei o enfermeiro sem vacilar.

"Chegados a extenso ângulo da praça, o generoso amigo acrescentou:

"— Esperemos o aeróbus.5

"Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do

solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros. Ao

descer até nós, à maneira de um elevador terrestre, examinei-o com atenção. Não

era máquina conhecida na Terra. Constituída de material muito flexível, tinha

enorme comprimento, parecendo ligada a fios invisíveis, em virtude do grande

número de antenas na tolda. Mais tarde, confirmei minhas suposições, visitando as

grandes oficinas do Serviço de Trânsito e Transporte.

"Lísias não me deu tempo a indagações. Aboletados convenientemente

no recinto confortável, seguimos silenciosos. Experimentava a timidez natural do

homem desambientado, entre desconhecidos.

"A velocidade era tanta que não permitia fixar os detalhes das

construções escalonadas no extenso percurso. A distância não era pequena,

porque só depois de quarenta minutos, incluindo ligeiras paradas de três em três

quilômetros, me convidou Lísias a descer, sorridente e calmo.

"Deslumbrou-me o panorama de belezas sublimes. O bosque, em

floração maravilhosa, embalsamava o vento fresco de inebriante perfume. Tudo

em prodígio de cores e luzes cariciosas. Entre margens bordadas de grama viçosa,

toda esmaltada de azulíneas flores, deslizava um rio de grandes proporções. A

corrente rolava tranquila, mas tão cristalina que parecia tonalizada em matiz

celeste, em vista dos reflexos do firmamento. Estradas largas cortavam a verdura

da paisagem. Plantadas a espaços regulares, árvores frondosas ofereciam sombra

amiga, à maneira de pousos deliciosos, na claridade do Sol confortador. Bancos de

caprichosos formatos convidavam ao descanso.

"Notando o meu deslumbramento, Lísias explicou:

"— Estamos no Bosque das Águas. Temos aqui umas das mais belas

regiões de "Nosso Lar". Trata-se de um dos locais prediletos para as excursões dos

amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas promessas de amor e fidelidade, para

as experiências da Terra.

"A observação ensejava considerações muito interessantes, mas Lísias

não me deu azo a perguntas nesse particular. Indicando um edifício de enormes

proporções, esclareceu:

5 Carro aéreo, que seria na Terra um grande funicular.

26 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

"— Ali é o grande reservatório da colônia. Todo o volume do Rio Azul,

que temos à vista, é absorvido em caixas imensas de distribuição. As águas que

servem a todas as atividades da colônia partem daqui. Em seguida, reúnem-se

novamente, abaixo dos serviços da Regeneração, e voltam a constituir o rio, que

prossegue o curso normal, rumo ao grande oceano de substâncias invisíveis para a

Terra." (págs. 59, 60 e 61)

*

"Passados minutos, eis-nos à porta de graciosa construção, cercada de

colorido jardim." (pág. 96)

*

"— O nosso lar, dentro de "Nosso Lar". Ao tinido brando da campainha

no interior, surgiu à porta simpática matrona." (Pág. 96)

*

"Entramos. Ambiente simples e acolhedor. Móveis quase idênticos aos

terrestres; objetos em geral, demonstrando pequeninas variantes. Quadros de

sublime significação espiritual, um piano de notáveis proporções, descansando

sobre ele grande harpa talhada em linhas nobres e delicadas. Identificando-me a

curiosidade, Lísias falou, prazenteiro:..." (pág. 97)

*

"Em seguida, chamou-me Lísias para ver algumas dependências da casa,

demorando-me na Sala de Banho, cujas instalações interessantes me

maravilharam. Tudo simples, mas confortável." (pág. 98)

"— Como se encara o problema da propriedade na colônia? Esta casa,

por exemplo, pertence-lhe?

"Ela sorriu e esclareceu:

"— Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas

aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o

nosso dinheiro. Quaisquer utilidades são adquiridas com esses cupons, obtidos por

nós mesmos, a custa de esforço e dedicação. As construções em geral representam

patrimônio comum, sob controle da Governadoria; cada família espiritual, porém,

pode conquistar um lar (nunca mais que um), apresentando trinta mil bônus-hora,

o que se pode conseguir com algum tempo de serviço. Nossa morada foi

27 – CIDADE NO ALÉM

conquistada pelo trabalho perseverante de meu esposo, que veio para a esfera

espiritual muito antes de mim. Dezoito anos estivemos separados pelos laços

físicos, mas sempre unidos pelos elos espirituais. Ricardo, porém, não descansou.

Recolhido ao "Nosso Lar", depois de certo período de extremas perturbações,

compreendeu imediatamente a necessidade do esforço ativo, preparando-nos um

ninho para o futuro. Quando cheguei, estreamos a habitação que ele organizara

com esmero, acentuando-se nossa ventura. (...)" (págs. 115/116)

*

"— E o problema da herança? — inquiri de repente.

"— Não temos aqui demasiadas complicações — respondeu a senhora

Laura, sorrindo. — Vejamos, por exemplo, o meu caso. Aproxima-se o tempo do

meu regresso aos planos da crosta. Tenho comigo três mil Bônus-Hora-Auxílio, no

meu quadro de economia pessoal. Não posso legá-los a minha filha que está a

chegar, por que esses valores serão revertidos ao patrimônio comum,

permanecendo minha família apenas com o direito de herança ao lar; no entanto,

minha ficha de serviço autoriza-me a interceder por ela e preparar-lhe aqui

trabalho e concurso amigo, assegurando-me, igualmente, o valioso auxílio das

organizações de nossa colônia espiritual, durante minha permanência nos círculos

carnais. Nesse cômputo, deixo de referir-me ao lucro maravilhoso que adquiri no

capítulo da experiência, nos anos de cooperação no Ministério do Auxílio. Volto a

Terra, investida de valores mais altos e demonstrando qualidades mais nobres de

preparação ao êxito desejado.

*

"E, enquanto os jovens se despediam, convidava-me, solícito:

"— Venha ao jardim, pois ainda não viu o luar destes sítios.

"A dona da casa entrava em conversação com as filhas, enquanto

acompanhando Lísias fui aos canteiros em flor.

"O espetáculo apresentava-se soberbo! Habituado à reclusão hospitalar,

entre grandes árvores, ainda não conhecia o quadro maravilhoso que a noite clara

apresentava, ali, nos vastos quarteirões do Ministério do Auxílio. Glicínias de

prodigiosa beleza enfeitavam a paisagem. Lírios de neve, matizados de ligeiro azul

ao fundo do cálice, pareciam taças, de caricioso aroma. Respirei a longos haustos,

sentindo que ondas de energia nova me penetravam o ser. Ao longe, as torres da

Governadoria mostravam belos efeitos de luz. Deslumbrado, não conseguia emitir

impressões. Esforçando-me para exteriorizar a admiração que me invadia a alma,

falei comovidamente: (...)". (págs. 126/127)

28 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

*

"Segui Tobias resolutamente.

"Atravessamos largos quarteirões, onde numerosos edifícios me

pareceram colmeias de serviço intenso. Percebendo-me a silenciosa indagação, o

novo amigo esclareceu:

"— Temos aqui as grandes fábricas de "Nosso Lar". A preparação de

sucos, de tecidos e artefatos em geral, dá trabalho a mais de cem mil criaturas, que

se regeneram e se iluminam ao mesmo tempo.

"Daí a momentos, penetramos num edifício de aspecto nobre. Servidores

numerosos iam e vinham. Depois de extensos corredores, deparou-se-nos

vastíssima escadaria, comunicando com os pavimentos inferiores.

"— Desçamos — disse Tobias com tom grave.

"E notando minha estranheza, explicou, solícito:

"— As Câmaras de Retificação estão localizadas nas vizinhanças do

Umbral. Os necessitados que aí se reúnem não toleram as luzes, nem a atmosfera

de cima, nos primeiros tempos de moradia em 'Nosso Lar'." (pág. 145)

*

"Nunca poderia imaginar o quadro que se desenhava agora aos meus

olhos. Não era bem o hospital de sangue, nem o instituto de tratamento normal de

saúde orgânica. Era uma série de câmaras vastas, ligadas entre si e repletas de

verdadeiros despojos humanos." (pág. 146)

*

"Logo após as vinte e uma horas, chegou alguém dos fundos do enorme

parque. Era um homenzinho de semblante singular, evidenciando a condição de

trabalhador humilde. Narcisa recebeu-o com gentileza, perguntando:

"— Que há, Justino? Qual é a sua mensagem?

"O operário, que integrava o corpo de sentinelas das Câmaras de

Retificação, respondeu, aflito:

"— Venho participar que uma infeliz mulher está pedindo socorro, no

grande portão que dá para os campos de cultura. Creio tenha passado

despercebida aos vigilantes das primeiras linhas..."

"Curioso, segui a enfermeira, através do campo enluarado. A distância

não era pequena. Lado alado, via-se o arvoredo tranquilo do parque muito

extenso, agitado pelo vento caricioso. Havíamos percorrido mais de um

quilômetro, quando atingimos a grande cancela a que se referira o trabalhador." (págs. 168/169)

29 – CIDADE NO ALÉM

*

"Agora, que penetrara o parque banhado de luz, experimentava singular

fascinação.

"Aquelas árvores acolhedoras, aquelas virentes sementeiras reclamavam-

me a todo o momento. De maneira indireta, provocava explicações de Narcisa,

enunciando perguntas veladas.

"— No grande parque — dizia ela — não há somente caminhos para o

Umbral ou apenas cultura de vegetação destinada aos sucos alimentícios. A

Ministra Veneranda criou planos excelentes para os nossos processos educativos.

"E observando-me a curiosidade sadia, continuou esclarecendo:

"— Trata-se dos "salões verdes" para serviço de educação. Entre as

grandes fileiras das árvores, há recintos de maravilhosos contornos para as

conferências dos Ministros da Regeneração; outros para Ministros visitantes e

estudiosos em geral, reservando-se, porém, um de assinalada beleza, para as

conversações do Governador, quando ele se digna de vir até nós. Periodicamente,

as árvores eretas se cobrem de flores, dando ideia de pequenas torres coloridas,

cheias de encantos naturais. Temos assim, no firmamento, o teto acolhedor, com

as bênçãos do Sol ou das estrelas distantes.

"Devem ser prodigiosos esses palácios da natureza — acrescentei.

"— Sem dúvida — prosseguiu a enfermeira, entusiasticamente — o

projeto da Ministra despertou, segundo me informaram, aplausos francos em toda

a colônia. Soube que tal se dera, havia precisamente quarenta anos. Iniciou-se,

então, a campanha do 'Salão natural'. Todos os Ministérios pediram cooperação,

inclusive o da União Divina, que solicitou o concurso de Veneranda na organização

de recintos dessa ordem, no Bosque das Águas. Surgiram deliciosos recantos em

toda a parte. Os mais interessantes, todavia, a meu ver, são os que se instituíram

nas escolas. Variam nas formas e dimensões. Nos parques de educação do

Esclarecimento, instalou a Ministra um verdadeiro castelo de vegetação, em forma

de estrela, dentro do qual se abrigam cinco numerosas classes de aprendizados e

cinco instrutores diferentes. No centro, funciona enorme aparelho destinado a

demonstrações pela imagem, à maneira do cinematógrafo terrestre, com o qual é

possível levar a efeito cinco projeções variadas, simultaneamente. Essa iniciativa

melhorou consideravelmente a cidade, unindo no mesmo esforço o serviço

proveitoso à utilidade prática e à beleza espiritual.

"Valendo-me da pausa natural, interpelei:

"— É o mobiliário dos salões? Tal como dos grandes recintos terrenos?

"Narcisa sorriu e acentuou:

"— Há diferença. A Ministra ideou os quadros evangélicos do tempo que

assinalou a passagem do Cristo pelo mundo, e sugeriu recursos da própria

natureza. Cada 'salão natural' tem bancos e poltronas esculturados na substância

do solo, forrados de relva olente e macia. Isso imprime formosura e disposições

30 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

características. Disse à organizadora que seria justo lembrar as preleções do

Mestre, em plena praia, quando de suas divinas excursões junto ao Tiberíades, e

dessa recordação surgiu o empreendimento do 'mobiliário natural'. A conservação

exige cuidados permanentes, mas a beleza dos quadros representa vasta

compensação.

"A essa altura, interrompeu-se a bondosa enfermeira, mas, identificando-

me o interesse silencioso, prosseguiu:

"— O mais belo recinto do nosso Ministério é o destinado às palestras do

Governador. A Ministra Veneranda descobriu que ele sempre estimou as paisagens

de gosto helênico, mais antigo, e decorou o salão a traços especiais, formados em

pequenos canais de água fresca, pontes graciosas, lagos minúsculos, palanquins de

arvoredo e frondejante vegetação. Cada mês do ano mostra cores diferentes, em

razão das flores que se vão modificando em espécie, de trinta a trinta dias. A

Ministra reserva o mais lindo aspecto para o mês de Dezembro, em comemoração

ao Natal de Jesus, quando a cidade recebe os mais formosos pensamentos e as

mais vigorosas promessas dos nossos companheiros encarnados na Terra e envia,

por sua vez, ardentes afirmações de esperança e serviço às esferas superiores, em

homenagem ao Mestre dos Mestres. Esse salão é nota de júbilo para os nossos

Ministérios. Talvez já saiba que o Governador aqui vem, quase que semanalmente,

aos domingos. Ali permanece longas horas, conferenciando com os Ministros da

Regeneração, conversando com os trabalhadores, oferecendo sugestões valiosas,

examinando nossas vizinhanças com o Umbral, recebendo nossos votos e visitas, e

confortando enfermos convalescentes. À noitinha, quando pode demorar-se, ouve

música e assiste a números de arte, executados por jovens e crianças dos nossos

educandários. A maioria dos forasteiros, que se hospedam em "Nosso Lar",

costuma vir até aqui só no propósito de conhecer esse "palácio natural", que

acomoda confortavelmente mais de trinta mil pessoas.

"Ouvindo os interessantes informes, eu experimentava um misto de

alegria e curiosidade.

"— O salão da Ministra Veneranda — continuou Narcisa, animadamente

— é também esplêndido recinto, cuja conservação nos merece especial carinho.

(...)"' (págs. 175 a 178)

*

"Poucos minutos antes de meia-noite, Narcisa permitiu minha ida ao

grande portão das Câmaras. Os Samaritanos deviam estar nas vizinhanças. Era

imprescindível observar-lhes à volta, para tomar providências.

"Com que emoção tornei ao caminho cercado de árvores frondosas e

acolhedoras. Aqui, troncos que recordavam o carvalho vetusto da Terra; além,

folhas caprichosas lembrando a acácia e o pinheiro. Aquele ar embalsamado

figurava-se-me uma bênção. Nas Câmaras, apesar das janelas amplas, não

31 – CIDADE NO ALÉM

experimentara tamanha impressão de bem-estar. Assim caminhava, silencioso, sob

as frondes carinhosas. Ventos frescos agitavam-nas de manso, envolvendo-me em

sensações de repouso." (pág. 180)

*

"Estacaram as matilhas de cães ao nosso lado, conduzidas por

trabalhadores de pulso firme.

"Daí a minutos, estávamos todos enfrentando os enormes corredores de

ingresso as Câmaras de Retificação. (...)" (pág. 185)

*

"Chegada à hora destinada à preleção da Ministra, que se realizou após a

oração vespertina, dirigi-me, em companhia de Narcisa e Salústio, para o grande

salão em plena natureza.

"Verdadeira maravilha o recinto verde, onde grandes bancos de relva nos

acolheram confortadoramente. Flores variadas, brilhando a luz de belos

candelabros, exalavam delicado perfume.

"Calculei a assistência em mais de mil pessoas. Na disposição comum da

grande assembleia, notei que vinte entidades se assentavam em local destacado

entre nós outros e a eminência florida onde se via a poltrona da instrutora." (pág.

201)

*

"Nosso Lar, portanto, como cidade espiritual de transição, é uma bênção

a nós concedida por 'acréscimo de misericórdia', para que alguns poucos se

preparem à ascensão, e para que a maioria volte a Terra em serviços redentores.

Compreendamos a grandiosidade das leis do pensamento e submetamo-nos a elas,

desde hoje." (pág. 205)

*

"Reunidos na formosa biblioteca de Tobias, examinamos volumes

maravilhosos na encadernação e no conteúdo espiritual. A senhora Hilda convidou-

me a visitar o jardim, para que pudesse observar, de perto, alguns caramanchões

de caprichosos formatos. Cada casa, em 'Nosso Lar', parecia especializar-se na

cultura de determinadas flores. Em casa de Lísias, as glicínias e os lírios contavam-

se por centenas; na residência de Tobias, as hortências inumeráveis

32 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

desabrochavam nos verdes lençóis de violetas. Belos caramanchões de árvores

delicadas, recordando o bambu ainda novo, apresentavam no alto uma trepadeira

interessante, cuja especialidade é unir frondes diversas, à guisa de enormes laços

floridos, na verde cabeleira das árvores, formando gracioso teto." (págs. 205/206)

*

"Regressando ao interior das Câmaras, tive a atenção atraída para

enormes rumores provenientes das zonas mais altas da colônia, onde se

localizavam as vias públicas."

"Chegados aos pavimentos superiores, de onde nos poderíamos

encaminhar à Praça da Governadoria, notamos intenso movimento em todos os

setores. Identificando-me o espanto natural, o companheiro explicou: (...)" (pág. 227)

*

"Decorridos longos minutos, em que observávamos a multidão espiritual,

atingimos o Ministério da Comunicação, detendo-nos ante os enormes edifícios

consagrados ao trabalho informativo.

"Milhares de entidades acotovelavam-se, aflitamente. Todos queriam

informações e esclarecimentos. Impossível, porém, um acordo geral.

Extremamente surpreendido com o vozerio enorme, vi que alguém subira a uma

sacada de grande altura, reclamando a atenção popular. Era um velho de aspecto

imponente, anunciando que, dentro de dez minutos, far-se-ia ouvir um apelo do

Governador.

"— É o Ministro Esperidião — informou Tobias, atendendo-me a

curiosidade." (págs. 229/230)

*

"Em meio da geral alegria, ganhamos a via pública. As jovens faziam-se

acompanhar de Polidoro e Estácio, com quem palestravam animadamente. Lísias, a

meu lado, logo que deixamos o aeróbus numa das praças do Ministério da

Elevação, disse carinhoso:

"— Finalmente, vai você conhecer minha noiva, a quem tenho falado

muitas vezes a seu respeito.

"Havíamos alcançado as cercanias do Campo da Música. Luzes de

indescritível beleza banhavam extenso parque, onde se ostentavam

encantamentos de verdadeiro conto de fadas. Fontes luminosas traçavam quadros

surpreendentes: um espetáculo absolutamente novo para mim."

"Ri-me, desconcertado, e nada pude explicar replicar.

33 – CIDADE NO ALÉM

"Nesse momento, atingimos a faixa de entrada, onde Lísias pagou

gentilmente o ingresso.

"Notei, ali mesmo, grande grupo de passeantes, em torno de gracioso

coreto, onde um corpo orquestral de reduzidas figuras executava música ligeira.

Caminhos marginados de flores desenhavam-se à nossa frente, dando acesso ao

interior do parque, em várias direções. Observando minha admiração pelas

canções que se ouviam, o companheiro explicou:

"— Nas extremidades do Campo, temos certas manifestações que

atendem ao gosto pessoal de cada grupo dos que ainda não podem entender a

arte sublime; mas, no centro, temos a música universal e divina, a arte santificada,

por excelência.

"Com efeito, depois de atravessarmos alamedas risonhas, onde cada flor

parecia possuir seu reinado particular, comecei a ouvir maravilhosa harmonia

dominando o céu. Na Terra, há pequenos grupos para o culto da música fina e

multidões para a música regional. Ali, contudo, verificava-se o contrário. 0 centro

do campo estava repleto. Eu havia presenciada numerosas agregações de gente,

na colônia, extasiara-me ante a reunião que o nosso Ministério consagrara ao

Governador, mas o que via agora excedia a tudo que me deslumbrara até então.

"A nata de 'Nosso Lar' apresentava-se em magnífica forma.

"Não era luxo, nem excesso de qualquer natureza, o que proporcionava

tanto brilho ao quadra maravilhoso. Era a expressão natural de tudo, a

simplicidade confundida com a beleza, a arte pura e a vida sem artifícios. O

elemento feminino aparecia na paisagem, revelando extremo apuro de gosto

individual, sem desperdício de adornos e sem trair a simplicidade divina. Grandes

árvores, diferentes das que se conhecem na Terra, guarnecem belos recintos,

iluminados e acolhedores.

"Não somente os pares afetuosos demoravam nas estradas floridas. (...)" (págs. 248 a 251)

*

Há referências, ainda, quanto às edificações de "Nosso Lar", em

outros livros de André Luiz, que passamos a transcrever.

"Na véspera da partida, o Assistente Jerônimo conduziu-nos ao Santuário

da Bênção, situado na zona dedicada aos serviços do auxílio, onde, segundo nos

esclareceu, receberíamos a palavra de mentores iluminados, habitantes de regiões

mais puras e mais felizes que a nossa.

"O orientador não desejava partir sem uma oração no Santuário, o que

fazia habitualmente, antes de entregar-se aos trabalhos de assistência, sob sua

direta responsabilidade.

34 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

"À tardinha, pois, em virtude do programa delineado, encontrávamo-nos

todos em vastíssimo salão, singularmente disposto, onde grandes aparelhas

elétricos se destacavam, ao fundo, atraindo-nos a atenção." ("OBREIROS DA VIDA

ETERNA", 12ª ed. FEB, pág. 25)

*

"No dia seguinte, após ouvir longas ponderações de Narcisa, demandei o

Centro de Mensageiros, no Ministério da Comunicação. Acompanhava-me o

prestimoso Tobias, não obstante os imensos trabalhos que lhe ocupavam o

círculopessoal.

"Deslumbrado, atingi a série de majestosos edifícios de que se compõe a

sede da instituição. Julguei encontrar universidades reunidas, tal a enorme

extensão deles. Pátios amplos, povoados de arvoredos e jardins, convidavam a

sublimes meditações.

"Tobias arrancou-me do encantamento, exclamando:

"— O Centro é muito vasto. Atividades complexas são desempenhadas

neste departamento de nossa colônia espiritual. Não creia esteja resumida a

instituição nos edifícios sob nossos olhos. Temos, nesta parte, tão-somente a

administração central e alguns pavilhões destinados ao ensino e à preparação em

geral." ("OS MENSAGEIROS", 14ª ed. FEB, pág. 21)

*

"No Templo do Socorro6, o Ministro Clarêncio comentava a sublimidade

da prece, e nós o ouvíamos com a melhor atenção." ("ENTRE A TERRA E O CÉU", 8ª. ed.

FEB, pág.9).

6 Instituição da cidade espiritual em que se encontra o Autor — Nota do Autor espiritual.

35 – CIDADE NO ALÉM

IV Localização de "Nosso Lar"

- Esferas Espirituais

A ilustração da página 447 nos mostra o campo magnético da Terra

dividido em sete esferas, seguindo a tradicional concepção dos sete céus de

que nos falam os antigos estudiosos das coisas espirituais. Na realidade,

cada uma dessas divisões compreende outras, conforme asseguram os

Espíritos.

A primeira esfera comporta o Umbral "grosso", mais materializado,

de regiões purgatoriais mais dolorosas e de cujas organizações

comunitárias, conquanto estejam tão próximas, temos poucas notícias.

A segunda esfera abriga o Umbral mais ameno, onde os Espíritos do

Bem localizam, com mais amplitude, sua assistência, e onde estão situadas

as "Moradias". Cada desenho, semirretangular, que está assinalado nessa

região, representa uma "Moradia".

A terceira esfera, a rigor, ainda faz parte do Umbral, pois, sendo de

transição, abriga Espíritos necessitados de reencarnação. Nessa terceira

esfera se localiza a cidade "Nosso Lar", num ponto situado sobre a cidade

do Rio de Janeiro e com uma altura que não podemos definir, mas que se

encontra na ionosfera.

Sobre estas três esferas, os livros de André Luiz nos dão notícias,

retratando edificações e organizações mantidas pelos Espíritos do Bem,

tendo em vista o socorro e a assistência a Espíritos mais atrasados, bem

como nos dizem das condições em que vivem os Espíritos sofredores fora

do amparo dessas organizações.

*

7 Desta obra, nesta versão digital — Nota do digitador.

36 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

Ao que se deduz das narrativas do citado Mensageiro, as esferas

espirituais se distinguem por vibrações distintas, que se apuram à medida

que se afastam do núcleo.

Sabemos que a Terra é um grande magneto que se projeta no

Espaço, mantendo um campo magnético ativo e diferenciado que comporta

as esferas espirituais, de modo que, por exemplo, quando se

contrabalançam os magnetismos da Terra e de Marte, tocando-se, os dois

mundos se interpenetram, pelas suas esferas extremas.

Mas, da Crosta até esse limite, os continentes e os mares se

projetam, e onde o Espírito estiver situado pela sua identidade vibratória,

seja onde for nesse vasto espaço magnético, sob seus pés terá terra firme e

sobre sua cabeça céu aberto, já que seus sentidos não estarão aptos para

perceberem as esferas que lhe estão acima. Nessa posição terá a mesma

geografia planetária que nos corresponde e o mesmo horário nosso, pois

estará sob o mesmo fuso horário.

Lendo André Luiz, quando descreve a segunda e a terceira esferas,

percebemos que, em ambas, há chão firme, sólido, terra fértil que se cobre

de vegetação. Se assim é, fácil é perceber-se que, para seus habitantes, nós

estamos vivendo no interior da Terra.

Percebe-se, também, nos livros de André Luiz, que os Espíritos que

estão acima podem transitar pelas esferas que lhe estão abaixo, mas os

Espíritos que estão nas esferas inferiores não podem, sozinhos, passar para

as esferas superiores.

O trânsito entre as esferas se faz por maneiras diversas. Por

"estradas de luz", referidas pelos Espíritos como caminhos especiais,

destinados a transporte mais importante. Através dos chamados "campos

de saída", que são pontos nos quais as duas esferas próximas se tocam.

Pelas águas, de se supor as que circundam os continentes.

Na página 50, de "LIBERTAÇÃO", 9ª edição, encontramos referências

aos "campos de saída". Quando relata a maneira pela qual, em sonho,

passou para uma esfera superior8, André Luiz se refere a uma embarcação,

com um timoneiro sustendo o leme, e com movimento de ascensão, indo

sair à frente de um porto, tudo indicando que a passagem se deu através

8 "NOSSO LAR", página 196, 25ª edição.

37 – CIDADE NO ALÉM

das águas do oceano.

Claro que se tratam de alguns aspectos rudimentares dessa questão

importantíssima que é a das esferas espirituais da Terra. No futuro, por

certo, os Espíritos, sobre essa e outras questões importantes, farão mais

luz, ensejando-nos compreender mais um pouco o mundo que se encontra

acima de nossa fronteira vibratória. É o que se deduz da afirmação contida

à página 85 do livro "OS MENSAGEIROS", 14ª ed., e que transcrevemos,

encerrando este capítulo:

"(...) Há, porém, André, outros mundos sutis, dentro dos mundos

grosseiros, maravilhosas esferas que se interpenetram. O olho humano sofre

variadas limitações e todas as lentes físicas reunidas não conseguiriam

surpreender o campo da alma, que exige o desenvolvimento das faculdades

espirituais para tornar-se perceptível. A eletricidade e o magnetismo são duas

correntes poderosas que começam a descortinar aos nossos irmãos encarnados

alguma coisa dos infinitos potenciais do invisível, mas ainda é cedo para

cogitarmos de êxito completo. Somente ao homem de sentidos espirituais

desenvolvidos é possível revelar alguns pormenores das paisagens sob nossos

olhos. A maioria das criaturas ligadas à Crosta não entende estas verdades, senão

após perderem os laços físicos mais grosseiros. É da lei que não devemos ver senão

o que possamos observar com proveito."

38 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

1 - Edifício da Governadoria, "entabuado de torres soberanas que se

perdem no céu". No alto, o aeróbus. Desenho concluído em 11/10/1981.

39 – CIDADE NO ALÉM

02 - Pavilhão de Restringimento, no Ministério da Regeneração, onde os

Espíritos são preparados para reencarnação sofrendo o restringimento do

corpo espiritual para o tamanho adequado ao processo.

40 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

3 - Um dos templos de iniciação, no Ministério da União Divina,

construído em estilo egípcio.

41 – CIDADE NO ALÉM

4 – Primeiro desenho, incompleto, do Plano Piloto.

42 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

5- Nos parques de educação do Esclarecimento.

“Um verdadeiro castelo de vegetação, em forma de estrela, dentro do qual

se obrigam cinco numerosas classes de aprendizados. No Centro, funciona

enorme aparelho destinado a demonstração pela imagem, a maneira do

cinematógrafo terrestre, com o qual é possível levar a efeito cinco

projeções variadas, simultâneas.”

43 – CIDADE NO ALÉM

6 - A cidade Nosso Lar, assinalada com uma estrela, está localizada na

terceira esfera acima da Crosta, sobre uma extensa região do Estado do Rio

Janeiro (entre as cidades do Rio Janeiro e Campos/Itaperuna), em faixa que

pode ser definida como a periferia do Umbral.

44 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)

As Esferas Espirituais

1 - Núcleo Interno. 2 - Núcleo externo. 3 - Crosta. 4 - Manto.

5 - Crosta terrestre. 6 - Umbral grosso. 7 - Umbral médio.

8 - Umbral (onde está localizado a cidade espiritual Nosso Lar).

9 - Arte em geral ou Cultura e Ciência. 10 - Amor Fraterno Universal.

11 - Diretrizes do Planeta. 12 - Abóbada Estela.

45 – CIDADE NO ALÉM

08 – Plano Piloto da cidade

46 – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha (André Luiz e Lucius)