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2. FORMAS E FORMATOS DOS MEDICAMENTOS

A evolução das formas farmacêuticas

Julho – Novembro de 2015

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FICHA TÉCNICA

Título: Ciclo de Exposições: Temas de Saúde, Farmácia e Sociedade. Catálogo Sub-título: 2. Formas e formatos dos medicamentos – a evolução das formas farmacêuticas Autores: Célia Cabral e João Rui Pita Local: Coimbra Edição: Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS 20) – Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia Ano de edição: 2015 Impressão: Pantone4 ISBN: 978-972-8627-59-1 Depósito Legal:

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Introdução Os medicamentos são apresentados ao público com uma determinada forma. Para se chegar a esse formato, a essa forma final, designada habitualmente, por forma farmacêutica há um longo processo de investigação e um rigoroso processo de produção. Essa forma final é designada por forma farmacêutica. Pode definir-se forma farmacêutica do seguinte modo: “Estado final que as substâncias ativas ou excipientes apresentam depois de submetidas às operações farmacêuticas necessárias, a fim de facilitar a sua administração e obter o maior efeito terapêutico desejado” (Decreto-Lei nº 176/2006 de 30 de Agosto). Pode definir-se medicamento como: “toda a substância ou associação de substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas” (Decreto-Lei nº 176/2006 de 30 de Agosto). Os medicamentos têm uma longa história e as formas farmacêuticas têm-se alterado ao longo do tempo. Há formas farmacêuticas que se extinguiram, outras que se têm modificado, outras recentes e outras absolutamente contemporâneas. Esta exposição pretende mostrar de uma forma sintética, a evolução das formas farmacêuticas ao longo do tempo, concretizando com exemplos representativos das principais formas farmacêuticas. Esperamos que a exposição seja do vosso agrado.

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Cápsula com látex de Papaver somniferum

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ROTEIRO DA EXPOSIÇÃO

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Os medicamentos são apresentados ao público com uma determinada forma. Para se chegar a esse formato, a essa forma final, designada habitualmente, por forma farmacêutica há um longo processo de investigação e um rigoroso processo de produção. Essa forma final é designada por forma farmacêutica. Pode definir-se forma farmacêutica do seguinte modo: “Estado final que as substâncias ativas ou excipientes apresentam depois de submetidas às operações farmacêuticas necessárias, a fim de facilitar a sua administração e obter o maior efeito terapêutico desejado” (Decreto-Lei nº 176/2006 de 30 de Agosto). Substância ativa é “qualquer substância ou mistura de substâncias destinada a ser utilizada no fabrico de um medicamento e que, quando utilizada no seu fabrico, se torna um princípio ativo desse medicamento, destinado a exercer uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica com vista a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas ou a estabelecer um diagnóstico médico” (Decreto-Lei nº 176/2006 de 30 de Agosto). Excipiente é “qualquer componente de um medicamento, que não a substância ativa e o material da embalagem” (Decreto-Lei nº 176/2006 de 30 de Agosto). As operações farmacêuticas são operações de transformação dos constituintes do medicamento na forma final. Há medicamentos que podem ser obtidos artesanalmente (medicamentos manipulados), mas a maioria é obtida industrialmente (medicamentos industrializados ou especialidades farmacêuticas). Pode definir-se medicamento como: “toda a substância ou associação de substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas” (Decreto-Lei nº 176/2006 de 30 de Agosto). Também há medicamentos para plantas e todos os outros animais para além do homem. Por isso os medicamentos para aplicação nos humanos designam-se por medicamentos de uso humano. Os medicamentos têm uma longa história e as formas farmacêuticas têm-se alterado ao longo do tempo. Há formas farmacêuticas que se extinguiram, outras que se têm modificado, outras recentes e outras absolutamente contemporâneas. A farmacopeia é um livro oficial que normaliza e regulamenta medicamentos, matérias-primas, reagentes e técnicas operatórias. A atual farmacopeia oficial portuguesa Farmacopeia Portuguesa IX (2008) apresenta as seguintes formas farmacêuticas: —Adesivos transdérmicos; —Bólus de libertação pulsátil; —Cápsulas (duras, moles, de libertação modificada, gastro-resistentes, hóstias); —Comprimidos (não revestidos, revestidos, efervescentes, solúveis, dispersíveis, orodispersíveis, de libertação modificada, gastro-ressistentes, para utilizar na cavidade bucal, liofilizados orais); —Espumas medicamentosas; —Gomas para mascar medicamentosas;

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—Granulados (efervescentes, revestidos, de libertação modificada, gastro-resistentes); —Lápis; —Pós cutâneos; —Pós orais; —Pré-misturas para alimentos medicamentosos para uso veterinário; —Preparações auriculares (preparações líquidas para instilação ou pulverização auricular, preparações auriculares semi-sólidas, pós auriculares, preparações líquidas para lavagens auriculares, tampões auriculares); —Preparações bucais (soluções para gargarejar, soluções para lavagem da boca, soluções gengivais, soluções bucais e suspensões bucais, preparações bucais semi-sólidas, preparações líquidas para instilação bucal ou pulverização sub-lingual, pastilhas e pastilhas moles, comprimidos para chupar, comprimidos sub-linguais e comprimidos bucais, cápsulas bucais, preparações muco-adesivas); —Preparações farmacêuticas pressurizadas; —Preparações líquidas orais (soluções, emulsões e suspensões orais; pós e granulados para soluções ou suspensões orais; pós para gotas orais; xaropes; pós e granulados para xaropes); —Preparações nasais (preparações líquidas para instilação ou pulverização nasal; pós nasais; preparações nasais semi-sólidas; soluções para lavagem nasal); —Preparações oftálmicas (colírios; soluções para lavagem oftálmica; pós para colírios e pós para soluções para lavagem oftálmica; preparações oftálmicas semi-sólidas; insertos oftálmicos); —Preparações para inalação (preparações líquidas para inalação; pós para inalação); —Preparações para irrigação; —Preparações parentéricas (preparações injetáveis; preparações para perfusão; preparações para injeção ou para perfusão após diluição; pós para injeção ou para perfusão; geles injetáveis; implantes); —Preparações retais (supositórios; cápsulas retais; soluções, emulsões e suspensões retais; pós e comprimidos para soluções e suspensões retais; preparações retais semi-sólidas; espumas retais; tampões retais); —Preparações semi-sólidas cutâneas (pomadas, cremes, geles, pastas, cataplasmas, emplastros medicamentosos); —Preparações vaginais (óvulos; comprimidos vaginais; cápsulas vaginais; soluções, emulsões e suspensões vaginais; comprimidos para soluções ou suspensões vaginais; preparações vaginais semi-sólidas; espumas vaginais; tampões vaginais medicamentosos); —Tampões medicamentosos.

S Etapas da história da

farmácia e do medicamento

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Etapas da história da farmácia e do medicamento A história dos medicamentos é longa e é coincidente com a história da farmácia e das artes de curar. Podemos dividi-la em várias etapas.

O período mágico-religioso Há milhares de anos o homem, para curar doenças e ferimentos, tirava partido de práticas mágico-religiosas e preparava mezinhas com produtos naturais. Misturava produtos vegetais, animais e minerais para preparar as mezinhas – era o primórdio do medicamento.

Etapas da história da farmácia e medicamento

Prática farmacêutica e papiro egípcio com receitas médicas

O mais antigo documento escrito que faz referência à preparação de medicamentos são as tábuas (de argila de Nippur) na antiga Mesopotâmia (c. 3000 a.C.). Os testemunhos do Antigo Egito chegaram sobretudo através de papiros sendo um dos mais relevantes o Papiro de Ebers (1500 a.C.). Os egípcios também se dedicaram muito às práticas cosméticas e higiénicas e à mumificação. Quando alguém sofria de prisão de ventre basta-lhe trincar algumas sementes e engoli-las com cerveja para expulsar as fezes do corpo (Papiro de Ebers). O rícino favorecia o crescimento do cabelo às mulheres. Indicava-se esmagar a planta, amassá-la e misturá-la com gordura. A mulher devia aplicá-la, ela mesma, sobre a sua cabeça (Papiro de Ebers). O óleo de rícino, extraído das sementes, servia para ungir as feridas que segregavam um líquido nauseabundo (Papiro de Ebers).

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Recipiente de acondicionamento de formas medicamentosas pastosas e cosméticas

As inovações de Galeno na Antiguidade – a originalidade galénica Galeno (131-200 d.C.) natural de Pérgamo foi um médico prestigiado, que sistematizou pela primeira vez as matérias-primas necessárias à preparação dos medicamentos e a sua preparação como nunca tinha sido feito. Foi para Roma e foi médico do Imperador. Galeno concebia os medicamentos e a arte de os preparar em função da teoria dos humores proveniente da Grécia Antiga, de Hipócrates. Galeno é considerado o “Pai da Farmácia”. Os medicamentos galénicos tiravam partido das drogas (matérias-primas) existentes na Europa e na bacia do Mediterrâneo e de purgas, sangrias e clisteres. Galeno descreveu perto de 500 fármacos vegetais e outros da natureza animal e mineral. Estudou as suas propriedades terapêuticas, classificou-os e sistematizou-os. Exemplos de formas farmacêuticas utilizadas por Galeno: Cozimentos, Infusões, Pastilhas, Pílulas, Electuários, Pós, Supositórios, Enemas, Cataplasmas, Clisteres, Clisteres vaginais, Linimentos, Cosméticos, Colutórios, Etc. Ficaram para a história medicamentos como: Terra sigilada: foi um medicamento popular na antiguidade e que perdurou até ao século XVI. Era uma amálgama de argila, gravada com uma imagem. A recolha da argila era feita de acordo com rituais próprios e, por isso, tinha propriedades medicinais. Teriaga: foi um medicamento que ficou famoso e que terá sido fabricada inicialmente pelo rei Mitrídades VI, rei do Ponto, com o seu médico pessoal. A fórmula terá chegado a Roma e um dos médicos de Nero, Andrómaco, melhorou a fórmula e a teriaga tomou o nome de “Teriaga de Andrómaco”. Era composta por 64 constituintes sendo o mais importante carne de víbora. Era muito usada para o tratamento da mordeduras de cobra. Gradualmente foi ganhando popularidade e foi muito usada até final do século XVIII. Em muitas cidades como Veneza, Montpellier e Toulouse era preparada na rua à vista de todos.

Terra sigilada e recipientes para unguentos

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O período medieval: a influência árabe e o papel dos conventos na preparação dos medicamentos A influência árabe fez-se sentir muito fortemente na Europa. Os árabes divulgaram as práticas de alquimia e defendiam uma farmácia voltada para o laboratório. Influência decisiva do cristianismo e dos conventos. Neles havia hortos botânicos para cultivo de plantas medicinais e boticas para a preparação de medicamentos. Surgem as primeiras autorizações para a arte de preparar os medicamentos em estabelecimento próprio — as boticas. Fundação das primeiras Universidades. As destilações começavam a vulgarizar-se, bem como o dourar e pratear as pílulas. As teriagas, os electuários e os elixires são formas farmacêuticas típicas do mundo medieval.

Farmácia árabe

Neste período, com frequência havia a mistura do mágico-religioso na preparação e aplicação dos medicamentos. Amuletos, talismãs e plantas consideradas mágicas também eram aplicados para prevenir ou curar doenças. Macerados, infusões, electuários, elixires, emplastros, fumigações (muito utilizadas no período da peste) eram algumas das formas farmacêuticas utilizadas e muitas vezes sujeitas a benzeduras antes da sua aplicação. Pedro Hispano (1215-1277), o Papa João XXI, português, na obra Tesouro dos Pobres inscreve inúmeros medicamentos utilizados na época.

Aplicação de medicamentos

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Botica medieval e selo dos CTT alusivo a Pedro Hispano, onde se podem ver medicamentos acondicionados e Pedro Hispano a fazer um tratamento ocular

Os descobrimentos no século XVI e suas repercussões na farmácia: o fascínio pelas drogas exóticas e pela medicação química Até ao século XVI, a farmácia europeia era sustentada nas doutrinas humorais de Galeno, tirando partido de drogas vegetais conhecidas na Europa e bacia do Mediterrâneo com recurso a purgas, sangrias, clisteres e dietas apropriadas. A expansão europeia pelo Oriente e pela América proporcionou a chegada à Europa de drogas desconhecidas de grande interesse terapêutico e comercial. Dá-se a fundação da farmácia química por Paracelso (1493-1541). Entre finais do século XV e finais do século XVIII, os medicamentos eram preparados: de acordo com a tradição galénica clássica, com novas drogas provenientes do continente americano e do Oriente e de acordo com os novos parâmetros da farmácia química.

Laboratório de alquimia ilustrado na obra de Hieronymus Burnschwig e botica do Renascimento (século XVI)

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Desenvolvem-se laboratórios, mas também herbários e muitos estudos relacionados com a história natural. O aparecimento da imprensa com Gutenberg proporcionou a expansão do saber através dos livros impressos.

Botica do Renascimento com representação de medicamentos acondicionados (século XVI)

Selo dos CTT alusivo à obra de Garcia d’Orta, Colóquios dos Simples e recipiente de acondicionamento de medicamentos e representação da obra de Monardes (século XVI)

onde se abordam as drogas americanas

O final da vigência galénica: a preparação para a vinda de novos medicamentos Ao longo dos séculos XVII e XVIII as inovações terapêuticas provenientes da América e do Oriente foram sendo introduzidas na terapêutica europeia. São publicados tratados botânicos, farmacêuticos e farmacopeias com estas inovações botânicas e farmacêuticas. A revolução química de Lavoisier (1743-1794) e a revolução botânica de Lineu (1707-1778) influenciam a farmácia. Afirmação da higiene pública. Surgem as primeiras farmacopeias oficiais e o primeiro medicamento preventivo, a vacina contra a varíola. Em finais do século XVIII assiste-se ao final da vigência do galenismo.

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Botica e recipiente para acondicionamento de medicamentos pastosos

Em finais do século XVII e inícios do século XVIII a farmácia congregava: —Purgas, sangrias, clisteres e remédios vegetais descritos por Galeno; —Medicamentos químicos; —Águas mineromedicinais; —Drogas americanas; —Rudimentos de injecções endovenosas; —Rudimentos de transfusões sanguíneas.

Pharmacopea Lusitana (1ª farmacopeia portuguesa, 1704)

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Pharmacopeia Geral (1ª farmacopeia oficial portuguesa, 1794)

Fórmula de Infusão de quina da Pharmacopeia Geral (1794) e selo português com recipientes de acondicionamento de medicamentos (século XVIII)

Da arte farmacêutica à ciência farmacêutica: novos formatos para os medicamentos A descoberta dos primeiros princípios ativos no início do século XIX e permitiu obter novos medicamentos. Durante o século XIX, a análise química, a química orgânica e outros ramos da química permitiram obter novos medicamentos. O arsenal terapêutico alargou-se. Desenvolvimento da fisiologia experimental, da farmacologia experimental e da terapêutica experimental. A farmácia e a preparação dos medicamentos são sustentadas em bases científicas de acordo com os mais avançados processos de método científico consolidados no século XIX. A preparação dos medicamentos assume-se como uma atividade sustentada em bases científicas.

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No início do século XIX, são descobertos inúmeros princípios ativos o que abriu as portas ao isolamento de muitos deles ao longo do século XIX. Alguns exemplos de princípios ativos: Narcotina (Derosne, 1803), Morfina (Serturner, 1805), Cinchonina (Gomes, 1810), Emetina (Caventou, 1817), Veratrina (Meisner, 1818), Estricnina (Pelletier e Caventou, 1818), Brucina (Caventou, 1819), Cafeína (Runge, 1820), Quinina (Pelletier e Caventou, 1821), Atropina (Mein, 1831), etc. Surgem diversas inovações farmacêuticas tecnológicas: Moinho de Menier, tambor de pulverização de Petit, modificações profundas nos tamises (Fischer e Harris), banho-maria a temperatura constante (Wurzer), aperfeiçoamento de pílulas e de piluladores, revestimento de pílulas com gelatina (Garot, 1838), outros revestimentos de pílulas. Os utensílios farmacêuticos apresentam dimensões bastante mais reduzidas. Karl Mitscherlich (1805-1871) funda a farmacologia experimental e Paul Erlich (1854-1915) a terapêutica experimental. No final do século XIX, começam a surgir e consolidam-se indústrias farmacêuticas de grandes dimensões. Assiste-se à industrialização do medicamento. Surgem as primeiras indústrias, por exemplo: Merck, Bayer, Parke-Davis, Sandoz, Ciba, etc. Aparecem novas formas farmacêuticas como comprimidos, drageias, injetáveis e melhoria das cápsulas. Surgem novos excipientes, como é caso dos derivados do petróleo: vaselina, parafina, etc.

Prensa para sucos e máquina de comprimir manual (início do século XX) Surgem novos aparelhos para a produção artesanal e industrial dos medicamentos. O modo de produção e a descoberta de princípios ativos condicionam as formas e os formatos dos medicamentos. As tradicionais formas farmacêuticas, milenares, vão chegando ao seu termo. Algumas extinguiram-se como foi o caso dos ceratos, dos cerotos, das espécies, dos electuários, dos ripos, das confeições, dos bolos, dos chocolates, dos cigarros, dos vinhos, dos vinagres, etc.

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Outras renovaram-se, como foi o caso das pomadas, dos elixires, das emulsões, dos linimentos, dos colírios, dos xaropes, dos enemas, etc. Outras passaram a ter pouca representatividade: caso das pílulas, das poções, etc. Surgem outras ao longo do século XIX e consolidam-se no século XX, resultado das inovações científicas e tecnológicas: foi o caso dos comprimidos, das cápsulas, dos injetáveis e de todas as variantes destas formas farmacêuticas.

Publicidade a duas formas farmacêuticas que hoje não são usadas: cigarros medicinais e vinhos medicinais (A Medicina Contemporânea, 1915 e 1921)

A revolução farmacológica do século XX, a industrialização e a difusão do medicamento no mundo contemporâneo No século XX, os avanços provenientes de diferentes áreas laboratoriais fizeram-se sentir na farmácia. Melhoramento de alguns grupos medicamentosos e surgimento de novos grupos. Difusão das matérias-primas sintéticas e dos princípios ativos sustentados na síntese química. Melhoramento das formas farmacêuticas já existentes e surgimento de novas formas farmacêuticas.

Expositor de medicamentos no 1º Congresso Nacional de Farmácia (Lisboa, 1927)

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O medicamento é um produto que foi sujeito a um longo tempo de investigação, baseado em rigorosos critérios científicos e de segurança, tutelado por normas jurídicas e regulamentos, e normas éticas, que obedece a controlo económico, que contribui para o bem-estar individual e cujos efeitos na sociedade são evidentes.

Medicamentos variados (anos 60 do século XX) Os medicamentos têm aumentado a esperança de vida da população. Graças aos medicamentos muitas doenças incuráveis hoje têm cura. Os medicamentos apresentam além da função terapêutica curativa, funções preventivas e de diagnóstico. A sua introdução no organismo e os seus efeitos estão relacionados com as suas formas e os seus formatos, adequados a cada via de administração, à finalidade a obter e ao efeito terapêutico pretendido.

Mistura de diferentes formas farmacêuticas sólidas (século XXI)

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Aerossoles são formas farmacêuticas correspondentes a um sistema pressurizado que existe dentro de uma embalagem geralmente de alumínio munida de uma válvula. No interior da embalagem existe uma fase interna líquida ou sólida com as substâncias medicamentosas e uma fase externa gasosa – gás propelente. Ao agitar-se a embalagem, as duas fases misturam-se e o medicamento é pulverizado para o exterior. Dentro da embalagem a pressão é muito elevada. Deve-se agitar a embalagem antes de se carregar na válvula, para que haja mistura das duas partes. Como a pressão no interior é muito grande, o gás ao pressionar-se a válvula, sai com enorme intensidade com as substâncias medicamentosas misturadas. O arrefecimento da embalagem após a agitação tem que ver com o consumo de energia que se verificou na passagem do estado líquido a gasoso. Na Farmacopeia Portuguesa IX (2008), os aerossoles estão incluídos nas preparações farmacêuticas pressurizadas. São definidas como “preparações dispensadas em recipientes especiais contendo um gás sob pressão e uma ou várias substâncias ativas. São libertadas do recipiente através de uma válvula apropriada sob a forma de um aerossole (dispersão de partículas sólidas ou líquidas num gás; as dimensões das partículas são apropriadas ao uso pretendido) ou de um jato líquido ou semi-sólido como, por exemplo, uma espuma. A pressão necessária para garantir a projeção da preparação é produzida por gases propelentes adequados. As preparações farmacêuticas pressurizadas apresentam-se sob a forma de soluções, emulsões ou suspensões e destinam-se à aplicação local na pele ou nas mucosas, nos diferentes orifícios do organismo, e para inalação”. As preparações líquidas para inalação podem ser administradas através de inaladores pressurizados e por nebulizadores.

Equipamento para produção industrial de erossoles

Esquema de aerossoles

Exemplo de aerossole

Aerossoles

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As cápsulas são formas farmacêuticas muito difundidas a partir do século XIX. As cápsulas são constituídas por um invólucro, habitualmente de duas partes, de natureza, formas e dimensões variadas. No seu interior encontramos as substâncias medicamentosas. O invólucro pode, nalguns casos, ser único. As cápsulas mais antigas eram designadas por hóstias. O seu invólucro era de amido. Em 1872, Limousin e Toiray conceberam um aparelho pioneiro para a sua produção e que foi depois melhorado por Digne. As hóstias amiláceas tiveram divulgação significativa até meados do século XX. Gradualmente foram sendo substituídas por cápsulas gelatinosas mais ajustadas à produção industrial. As cápsulas que hoje são mais utilizadas são as cápsulas duras. Terá sido Lehuby, em 1846, a obter as primeiras cápsulas deste tipo à base de tapioca e depois de geleia de carragenina. Em 1848, Murdock preparou as primeiras cápsulas à base de gelatina. Desde então as cápsulas têm sido melhoradas a nível do invólucro e adaptadas ao mundo industrial. A Farmacopeia Portuguesa IV (1935) referia que as cápsulas gelatinosas que contivessem óleos, essências e outros líquidos designavam-se por pérolas. A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) define cápsulas como: “preparações sólidas constituídas por um invólucro duro ou mole, de forma e capacidade variáveis, contendo geralmente uma dose unitária de substância(s) ativa(s). Destinam-se à administração por via oral”. Há cápsulas duras, moles, de libertação modificada, gastro-resistentes, hóstias.

Máquina atual de fabrico de cápsulas

Máquina actual de fabrico de cápsulas

Exemplos de cápsulas

Cápsulas

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A palavra colírio vem do grego kollyrion que pode sentido geral. Kollyrion é o diminutivo de kollyra que podia significar biscoito. Parece que alguns dos colírios iniciais tinham o formato de um dedo e que inicialmente poderiam ser medicamentos que se introduziam em cavidades do corpo humano e nas mucosas. São utilizados colírios desde a Antiguidade, entre gregos e romanos. Parece ter sido apenas no século XIX que os colírios passaram a ser exclusivamente para aplicação no globo ocular. Era vulgar fazer-se uma divisão entre colírios secos (pós muito finos), colírios líquidos, colírios moles e colírios gasosos para aplicação no globo ocular. Atualmente os colírios são preparações líquidas para aplicação no globo ocular e que necessitam de precauções específicas na sua preparação a nível industrial relacionadas com a isotonia, o pH, a esterilidade, a limpidez, precisão da sua composição e a osmolaridade. Na Farmacopeia Portuguesa IX (2008) os colírios incluem-se no grupo das “Preparações oftálmicas” que são “preparações líquidas, semi-sólidas ou sólidas, estéreis, destinadas a serem aplicadas no globo ocular e/ou nas conjuntivas ou a serem inseridas no saco conjuntival”. Esta farmacopeia define colírios da seguinte forma: “soluções ou suspensões estéreis, aquosas ou oleosas, contendo uma ou várias substâncias ativas e destinadas à instilação ocular. Os colírios podem conter excipientes destinados, por exemplo, a ajustar a tonicidade ou a viscosidade da preparação, a ajustar ou estabilizar o pH, a aumentar a solubilidade da substância ativa ou a estabilizar a preparação. Estes excipientes não prejudicam a ação medicamentosa pretendida nem, nas concentrações adotadas, provocam irritação local significativa”.

Produção de colírios em indústria farmacêutica

Máquina industrial para produção de colírios

Exemplos de colírios atuais

Colírios

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Em 8 de Dezembro de 1843, o inglês Brockedon registou a patente da invenção dos comprimidos. A descoberta manteve-se sem grande divulgação até ao início dos anos 70 do século XIX. Nesta década, Dunton, MacFerran e, sobretudo, Rosenthal, na Alemanha, aperfeiçoaram as máquinas de compressão. O comprimido resulta da compressão de misturas de pós que contém adicionada substâncias que favorecem a aglutinação. As primeiras máquinas de fabrico de comprimidos eram totalmente manuais. A primeira terá surgido em 1875, inventada por Remington. Hoje há máquinas industriais de fabrico de comprimidos. A British Pharmacopoeia de 1865 publicou a primeira monografia oficial de comprimidos. Após a I Guerra Mundial (1914-1918) os comprimidos tiveram grande expansão. Em Portugal, foram inscritos pela primeira vez em farmacopeias oficiais na Farmacopeia Portuguesa IV (1935). A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) define comprimidos como: “preparações sólidas contendo uma dose de uma ou de várias substâncias ativas. São obtidos aglomerando por compressão um volume constante de partículas ou por um outro processo de fabricação apropriado como a extrusão, a moldagem ou a liofilização. Os comprimidos são destinados à via oral. Alguns são deglutidos ou mastigados, outros são dissolvidos ou desagregados em água antes da administração e outros devem permanecer na boca para aí libertarem a substância ativa”. Há actualmente diversos tipos de comprimidos: não revestidos, revestidos, efervescentes, solúveis, dispersíveis, orodispersíveis, de libertação modificada, gastro-resistentes, para utilizar na cavidade bucal, liofilizados orais.

Exemplo das primeiras máquinas de fabrico de

comprimidos (final século XIX-início do século XX)

Máquina de compressão alternativa para fabrico de comprimidos. Manesty Machines, Ltd (meados do séc. XX)

Exemplos de comprimidos

Comprimidos

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Elixir (do árabe Al-Ikseer) é uma forma farmacêutica muito antiga semelhante às poções mas com grande quantidade de álcool que pode ultrapassar os 50%. É portanto uma forma farmacêutica líquida de composição complexa, edulcorada e aromatizada, habitualmente açucarada e glicerinada, e com um ou mais fármacos na sua composição. Destina-se à via oral. É uma forma farmacêutica muito antiga e atualmente menos usada. Ficou famoso o Elixir da longa vida ou Elixir da imortalidade, um medicamento que era muito investigado pelos alquimistas na Idade Média. Os elixires ou produtos semelhantes são muito referidos em diversas mitologias. Na Europa, acreditava-se que o Elixir da longa vida podia ser obtido através da Pedra filosofal. A obtenção da Pedra Filosofal era um dos principais objetivos dos alquimistas medievais. O seu objetivo era transformar qualquer metal em ouro e também transmutar seres vivos. A primeira farmacopeia oficial portuguesa — Pharmacopeia Geral (1794) — inscreve várias fórmulas de elixires, muito semelhantes a tinturas. Na Farmacopeia Portuguesa IV estão descritos o Elixir Paregórico e o Elixir de açafrão composto. Actualmente são muito usados os designados elixires dentífricos. A Farmacopeia Portuguesa IX inscreve um conjunto soluções para lavagem da boca, soluções para gangarejar, soluções gengivais, etc.

Alquimista a trabalhar na preparação do elixir da

longa vida

Exemplos de elixires atuais

Elixir

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Emulsão (do latim emulgeo) significa na sua processos naturais de dispersão de substâncias oleosas em substâncias aquosas. Em 1674, foi comunicado à Royal Pharmaceutical Society a obtenção de uma emulsão para utilização medicinal. Foi Grew o seu inventor. A emulsão era constituída por amêndoas e água. Ao longo do século XVIII as emulsões começaram a ser mais divulgadas e foram integradas em diversas origem mungir. Isto porque as emulsões apresentam habitualmente um aspecto leitoso. As emulsões são constituídas por duas fases, oleosa e aquosa, que se pretendem misturar. As primeiras emulsões conhecidas correspondiam a farmacopeias fórmulas com emulsões. A dificuldade em misturar óleos com líquidos aquosos era ultrapassável com a adição de substâncias que favorecessem essa dispersão. Assim houve investigação sobre essas substâncias que favoreciam essa dispersão — os agentes emulsivos ou emulsionantes. Ficaram famosos os estudos do farmacêutico inglês French que utilizou gema de ovo, goma arábica, goma adraganta, xaropes variados, mel e mucilagens diversas na preparação de emulsões. A primeira farmacopeia oficial portuguesa – a Pharmacopeia Geral (1794) inclui duas fórmulas de emulsões: a Emulsão arábica e a Emulsão comum. Ao longo do século XIX, as emulsões foram alvo de investigações diversas. No século XX, o estudo das emulsões foi

intensamente realizado. Além da parte tecnológica

que foi muito estudada as emulsões beneficiaram

do aparecimento de agentes tensioativos (que

funcionam como agentes emulsionantes ou

emulsificantes) de origem sintética que

aumentaram as potencialidades das emulsões. Os

cremes são sistemas de emulsões.

Emulsificador (1919)

Esquema simplificado de preparação de uma

emulsão

Exemplos de medicamentos em forma de emulsão

Emulsão

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Os enemas também são designados por injeções retais ou clisteres. São formas farmacêuticas líquidas ou bastante fluidas destinadas a serem administradas no reto. Podem ter ação local no reto ou no cólon, ou podem incluir substâncias destinadas a absorção. Podem administrar-se desde alguns mililitros até 3 litros. Os micro-enemas ou micro-clisteres apresentam um volume máximo de 50 ml. A sua utilização é muito antiga e foram muito divulgados. Juntamente com os purgantes e as sangrias, a introdução de produtos líquidos no reto era recorrente. Hipócrates recomendava a utilização de clisteres. Na Índia, Patanjali (200 a.C.), pioneiro do yoga, achava que os clisteres purificavam o organismo. No Egito antigo, a ave sagrada Íbis aplicava, segundo a tradição, clisteres com o seu grande bico. A partir do século XVII os enemas ou clisteres ficaram muito vulgarizados na Europa. Em França a sua utilização foi muito frequente; o médico do rei Luis XIII (reinou entre 1610 e 1643) aplicou-lhe 212 clisteres. Luís XIV (1643-1715) durante o seu reinado terá aplicado mais de 2000 clisteres e as damas chegavam a aplicar mais do que um clister perfumado por dia. O célebre escritor francês Molière caricaturou bem a medicina do seu tempo não faltando a insistente alusão aos clisteres. Os clisteres ou enemas continuam a ser hoje muito aplicados. Das antigas cânulas em madeira, depois a seringas e dispositivos em vidro, passou-se a dispositivos de borracha e plástico com irrigador, tubo e cânula com torneira que permitem a administração retal do líquido ou fluido.

Seringa em marfim do Sri Lanka (século XVII para

aplicação de clisteres)

Aplicação de clister (século XVII)

Exemplo de micro-enema

Enema

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Os medicamentos injetáveis para administração parentérica começaram a ser estudados de forma consistente no século XIX, após no século XVII se terem realizado algumas experiências com pouco sucesso. Por vezes consideravam-se injetáveis os produtos que se administravam pelas cavidades naturais do corpo humano. Mas esses não eram injetáveis parenterais. Em 1836, Lafargue e Tabourin começaram a administrar medicamentos sólidos e pastosos através de uma incisão na pele tirando partido de um pequeno objeto cortante – uma lanceta. Wood em 1853 começou a realizar alguns estudos e em 1856 injetou uma solução de sulfato de atropina tirando partido de uma seringa inventada por Pravaz. Em 1886, Limousin propôs o acondicionamento dos injetáveis em pequenos recipientes (ampolas de vidro) e esterilização pelo calor. A Pharmacopéa Portugueza (1876) inscreve injetáveis sem serem esterilizados. Os injetáveis, dada a sua via de administração, devem ser estéreis e devem obedecer a outras características como: ser isotónicos, terem pH perto da neutralidade e serem apirogénicos. A Farmacopeia Portuguesa IV (1935) passou a incluir diversas formúlas de injetáveis como, por exemplo, o Soluto injetável de cloridrato de morfina ou o Soluto injetável de hipofisina. Há injetáveis de grande volume e de pequeno volume. A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) define injetáveis como “soluções, emulsões ou suspensões estéreis. São preparadas por dissolução, emulsificação ou dispersão das substâncias ativas, e eventualmente de excipientes, em água para preparações injetáveis, num líquido não aquoso estéril apropriado ou numa mistura destes dois líquidos”.

Unidade de enchimento de injectáveis numa

indústria farmacêutica portuguesa dos anos 60 do século XX

Injectável de pequeno volume

Soro fisiológico

Injetáveis

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Ao longo da história dos medicamentos, as formas e os formatos dos medicamentos foram-se modificando muitas deixaram de existir como, por exemplo, os electuários, teriagas, oximeis, confeições, loochs ou lambedores, rypos, ceratos, cerotos, unguentos, etc. Outras continuaram com modificações, como é o caso das pomadas, xaropes, colírios, etc. Outras ainda deixaram de ter a projeção de outros tempos como é o caso das pílulas. Com o mundo industrial farmacêutico surgiram e consolidaram-se outras formas farmacêuticas muito relacionadas com a produção industrial dos medicamentos, como cápsulas, comprimidos, injetáveis e nos finais do século XX e no século XXI podemos falar das novas formas farmacêuticas. As modificações realizadas nas formas farmacêuticas ao longo da história têm a ver com as necessidades de antigas e novas patologias e funcionamento do organismo humano, com novas descobertas científicas e tecnológicas, com a descoberta o melhoramento de novos materiais (tecnologia dos polímeros). A investigação em novas formas farmacêuticas constitui uma área de significativo investimento científico, tecnológico, económico e de recursos humanos. Várias das novas formas farmacêuticas proporcionam uma significativa melhoria terapêutica em doenças que necessitam de um tratamento continuado, o que proporciona uma melhoria do tratamento e da esperança de vida. Exemplos de novas formas farmacêuticas: sistemas osmóticos; sistemas matriciais; sistemas gastro-retentivos; sistemas transdérmicos; hidrogeles e oleogeles; micro e nanopartículas biomacromoleculares; lipossomas; micro e nanoemulsões; nanopartículas lipídicas; formas farmacêuticas de libertação modificada (por ativação de pró-fármacos, por inclusão do fármaco em ciclodextrinas, por ativação externa).

Atuação de comprimidos de ação prolongada

Medicamento com sistema transdérmico

Novas formas farmacêuticas

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Os óvulos são formas farmacêuticas de forma ovóide para serem introduzidos na cavidade vaginal. Na literatura estrangeira também se designam por supositórios vaginais, bolas vaginais, cones vaginais, pessários e pessi. São ovóides, de consistência firme com peso que varia entre os 2 e 16 g. Hipócrates e outros autores da Antiguidade já referiam os óvulos. Além das funções medicinais os óvulos podiam ter funções abortivas. Apesar de terem sido formas farmacêuticas muito usadas terão caído nalgum esquecimento e em meados do século XIX tiveram um novo incremento utilizando massas ocas de gelatina com goma nas quais eram introduzidas as substâncias medicamentosas. Hoje estas substâncias são incorporadas nas massas. Nos finais do século XIX começou a ser utilizada nos óvulos a glicerina gelatinada. O modo de preparação dos óvulos é muito semelhante ao dos supositórios. A primeira farmacopeia portuguesa a incluir os óvulos foi a Farmacopeia Portuguesa IV (1935), introduziu “Óvulos de bitiol”. A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) inclui os óvulos nas preparações vaginais. Estas definem-se como: “preparações líquidas, semi-sólidas ou sólidas destinadas a serem administradas por via vaginal, geralmente para uma ação local. Contêm uma ou várias substâncias ativas num excipiente apropriado”. A farmacopeia define óvulos da seguinte forma: “preparações sólidas unidose. São de forma variável, mas geralmente ovóide; o volume e a consistência estão adaptados à administração por via vaginal. Contêm uma ou várias substâncias ativas dispersas ou dissolvidas numa base apropriada que é, segundo os casos, solúvel ou dispersível na água, ou funde à temperatura corporal”. Além dos óvulos, existem outras preparações vaginais.

Moldes para óvulos

Moldes atuais para óvulos

Exemplos de outras preparações vaginais: espuma

vaginal e creme vaginal

Óvulos

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A palavra pastilha tem origem no latim pastillus cujo significado é pequeno bolo. Habitualmente a designação de pastilhas era dada às formas farmacêuticas de forma cilíndrica achatada, obtidas a partir de uma massa relativamente consistente resultante da mistura de pós com vinhos ou vinagres medicinais. Ao longo da história as pastilhas foram-se modificando na sua constituição. O açúcar começou a entrar gradualmente na sua preparação e começaram a ser consideradas pastilhas, as formas farmacêuticas compostas por açúcar e substâncias medicamentosas aromáticas. Noutras circunstâncias as pastilhas eram formas farmacêuticas constituidas por mucilagens e gomas. No século XIX, houve a influência inglesa e norte-americana no fabrico das pastilhas e a influência sul-europeia, nomeadamente francesa. A influência inglesa referia a elevada proporção de açúcar, gomas, gelatina e glicerina na sua constituição. A influência francesa e sul-europeia vulgarizava as pastilhas contendo elevadas percentagens de goma. Até à segunda metade do século XX podemos referir quatro tipos base de pastilhas: com açúcar e mucilagens; com grande percentagem de gomas; com açúcar e sem mucilagens; com gelatina. A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) refere que as pastilhas e as pastilhas moles “são preparações sólidas apresentadas em formas unitárias e destinam-se a serem chupadas ou a desagregarem-se lentamente na boca de modo a exercerem geralmente uma acção local na cavidade bucal ou na garganta. Contêm uma ou várias substâncias ativas, geralmente num excipiente aromatizado e açucarado. As pastilhas são preparações duras obtidas por moldagem. As pastilhas moles são preparações moles e maleáveis obtidas por moldagem de misturas contendo gomas ou polímeros naturais ou sintéticos e edulcorantes”.

Prensa para pastilhas

Exemplos de pastilhas

Pastilhas

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A palavra pílula tem origem no latim pílula que é o diminutivo de pila que significa bola, algo de redondo. Em português usa-se o termo pílula ou pírola. As pílulas caracterizam-se por serem formas farmacêuticas esféricas, de elevada consistência, com peso aproximado de 20 centigramas de peso e um diâmetro de 6 a 8 milímetros. Destinam-se a ser administradas por via oral, deglutidas sem mastigação. As pílulas são formas farmacêuticas muito antigas, hoje pouco produzidas industrialmente. Os árabes foram os primeiros a revestir pílulas com ouro ou prata procedendo ao dourar ou pratear das pílulas. Esta situação levou a uma expressão popular “dourar a pílula” que significa dar uma melhor aparência a uma situação ou conversa menos agradável. Os comprimidos vieram tirar, gradualmente, o lugar às pílulas enquanto forma farmacêutica no arsenal medicamentoso. Desde muito cedo as farmacopeias inscreveram as pílulas nas suas fórmulas. Até ao século XX as pílulas eram produzidas manualmente em instrumentos apropriados designados por piluladores. Industrialmente as pílulas podiam ser produzidas por processos diversos como compressão ou gotejamento. Não se deve confundir pílulas com as vulgarmente designadas pílulas contracetivas. Estas são, na realidade, comprimidos revestidos. Ficaram célebres algumas formas farmacêuticas deste género como foi o caso das Pílulas de Alho Rogoff, à venda com muita frequência, até um passado recente nas farmácias de oficina, às quais se apresentavam propriedades relevantes no combate ao reumatismo, hipertensão arterial e diversas patologias cardiovasculares.

Equipamento para fabrico de pílulas

Exemplo de pílulas

Embalagem das Pílulas de alho Rogoff

Pílulas

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A poção (do latim potionis) é uma forma farmacêutica líquida de composição muito complexa, edulcorada e aromatizada. Habitualmente apresenta na sua composição um solvente aquoso, uma ou mais substâncias edulcorantes e um ou mais fármacos. A poção é uma forma farmacêutica muito antiga, administrada às colheres e atualmente não tem grande utilização. Na Idade Média os alquimistas dedicaram-se muito ao fabrico de poções, e ficaram muito conotadas com as atividades de bruxaria e feitiçaria. Atribuiam-se às poções, propriedades muito para além das propriedades dos medicamentos. Ficaram muito conhecidas as poções do sono, do amor, entre outras. As poções foram incluídas desde muito cedo nas farmacopeias oficiais. Ficou muito conhecida a Poção de Todd que era equivalente à Poção alcoólica de canela e que era utilizada como tónico. Em Portugal, a Farmacopeia Portuguesa IV (1935) inclui duas fórmulas de poções: a Poção alcoólica de açafrão composta e a Poção alcoólica de canela. Na literatura, no teatro e no cinema são várias as referências a poções para a execução de práticas de bruxaria para o bem e para o mal. Assim aconteceu em Tristão e Isolda; em O médico e o monstro; em Macbeth; em Harry Potter. Mais recentemente em jogos electrónicos como Minecraft e Final Fantasy também há alusão às poções. Nas famosas histórias de banda desenhada do Asterix e Obelix, a poção mágica é referida muitas vezes. Obelix ficou muito forte porque, quando era pequeno, caiu no recipiente onde preparavam a poção mágica que o druida Panoramix preparava.

Poção do amor do pintor Evelyn De Morgan (1855-

1919)

Severus Snape, personagem da obra Harry Potter, conhecido como “Mestre das Poções” (“Potion’s

Master”)

O druida Panoramix a preparar a sua poção mágica

Poção

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O termo pomada provem do italiano pomata que por sua vez deriva de pomo, ou do latim, de pomum que significa fruta. Sabe-se hoje que muitas pomadas antigas tinham por base o puré de maçã. Há conhecimento de utilização de pomadas de 2500 a.C a 1500 a.C. As pomadas eram medicamentos pastosos produzidos à base de gorduras de origem animal. Algumas das referências mais antigas das pomadas dividiam-nas de acordo com a sua consistência ou capacidade de amolecimento ao contactar com a pele. Ficaram conhecidas as malagma (de malasso, que significa amolecer) e o keroma (de keros, que significa cera) constituídas sobretudo por ceras. Galeno propôs a introdução de óleos vegetais como o azeite na preparação das pomadas. Até ao século XIX, as pomadas mantiveram-se sem inovação significativa. A entrada de novos excipientes derivados do petróleo e sintéticos, adicionados a excipientes clássicos proporcionou o aparecimento de novas formas pastosas e extinção de formas pastosas milenares. Na Farmacopeia Portuguesa IX (2008) as pomadas incluem-se no grupo de preparações semi-sólidas cutâneas que são “formuladas de modo a promoverem a libertação local ou transdérmica das substâncias ativas; são igualmente utilizadas devido à sua ação emoliente ou protetora”. Incluem: pomadas; cremes; geles; pastas; cataplasmas; emplastros medicamentosos. Loções e linimentos são formas semi-sólidas também muito usadas.

Equipamento atual de preparação de formas

farmacêuticas semi-sólidas

Exemplo

s de formas farmacêuticas semi-sólidas: pomada, creme, gel, pasta, linimento

Pomadas

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Os supositórios (do latim suppositum - colocado por baixo e torus - fragmento) são formas farmacêuticas de natureza sólida, formados por uma massa que contém os princípios ativos dissolvidos ou dispersos. Destinam-se a administração retal. O seu formato e dimensão são adequados ao reto. A massa funde-se em contacto com a mucosa retal. O seu peso varia entre 2-3 g e a dimensão é de cerca 3,5 cm x 1,2 cm. No famoso Papiro de Ebers (1500 a.C.) os supositórios já eram referenciados. Os grandes autores da Antiguidade como Hipócrates, Dioscórides e Galeno já referiam também os supositórios. Alguns dos supositórios mais antigos que se conhecem eram constituídos por fragmentos de madeira, de talos de couves, de metais ou de cornos de animais que eram cobertos com substâncias medicamentosas. Em 1762, foram pela primeira vez referidos supositórios de manteiga de cacau e depois com sebo e outras gorduras, cera branca, cera amarela e mel cozido. Nos anos 30 do século XIX começou a vulgarizar-se a manteiga de cacau sustentada em estudos científicos. A partir dos anos 60 do século XIX, começaram-se a misturar nas massas dos supositórios os princípios ativos. A primeira farmacopeia oficial portuguesa a inscrever supositórios foi a Farmacopeia Portuguesa IV (1935). A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) define supositórios do seguinte modo: “preparações sólidas unitárias. A forma, o volume e a consistência são adaptados à administração por via rectal. Contêm uma ou várias substâncias activas dispersas ou dissolvidas num excipiente simples ou composto que, conforme os casos, é solúvel ou dispersível em água ou funde à temperatura corporal”.

Máquina para fabrico de supositórios por compressão (1919)

Moldes para produção de supositórios

Exemplos de supositórios

Supositórios

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A teriaga foi um medicamento que ficou famoso na Antiguidade e na Idade Média. Também ficou conhecido como triaca ou teriaca. Terá sido fabricado inicialmente pelo rei Mitrídades VI, rei do Ponto, juntamente com o seu médico pessoal, no século II a.C. Mitrídades estava empenhado em estudar antídotos contra envenenamentos. Conta a história que Mitrídades depois de derrotado pelo general romano Pompeu, tentou suicidar-se com veneno. Mas como estava protegido contra qualquer tóxico, devido aos estudos que foi fazendo com venenos em si próprio, teve que pedir a um dos seus militares para que o matasse com uma espada. Celso, no século I a.C. inseriu na sua obra De Medicina um preparado a que chamou mithridatium. A fórmula terá chegado a Roma e um dos médicos de Nero, Andrómaco, no século I, melhorou a fórmula e a teriaga tomou o nome popular de “Teriaga de Andrómaco” ou “Teriaga Magna”. No século II, ficou famosa a Teriaga de Galeno. O Antidotarium Nicolai Salernitanus no século XI também referia a teriaga como um medicamento importante. A teriaga era composta por 64 constituintes sendo o mais importante carne de víbora. Era muito usada para o tratamento de mordeduras de cobra. Pensa-se que seria uma forma de electuário. Em muitas cidades europeias como Veneza, Montpellier e Toulouse era preparada na rua à vista de todos. Gradualmente a teriaga foi ganhando popularidade e foi muito usada até final do século XVIII e ainda em alguns anos do século XIX. Os avanços que se verificaram no domínio da química contribuíram para que a teriaga deixasse de ser utilizada e se tivesse demonstrado a sua inoperância.

Captura de víboras para a preparação da teriaga

Preparação da teriaga na Idade Média

Recipientes para acondicionamento de teriaga

Teriaga

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A palavra xarope vem do árabe de charab que significa bebida. Pode ser proveniente do francês sirop ou do italiano sciroppo que por sua vez têm origem no latim sirupus ou syrupus. Na sua origem xarope era uma forma farmacêutica com muito açúcar na sua composição. Os xaropes são formas farmacêuticas muito antigas e tradicionalmente estavam ligados a esta forma farmacêutica outras formas farmacêuticas como os melitos, os oximelitos e os loochs ou lambedores. Os melitos eram considerados formas farmacêuticas líquidas com uma consistência próxima dos xaropes devido a uma grande quantidade de mel dissolvido num meio de natureza aquosa. Os oximelitos eram semelhantes aos anteriores mas com adição de vinagre. Os loochs, de origem árabe, resultavam da adição aos xaropes de outras substâncias como mucilagens, gema de ovo, óleos e outras substâncias, ficando muito próximo do electuário; os loochs também se designavam por lambetivos ou lambedores porque se lambiam. A Farmacopeia Portuguesa IX (2008) define xaropes como “preparações aquosas caracterizadas pelo sabor açucarado e consistência viscosa. Podem conter sacarose em concentração pelo menos igual a 45 por cento m/m. O sabor açucarado pode igualmente ser conferido por outros polióis ou edulcorantes. Contêm geralmente aromatizantes ou outros agentes de sabor. Cada dose de uma preparação multidose é administrada com um dispositivo que permite medir a quantidade prescrita. Este dispositivo é geralmente uma colher ou um copo, para volumes de 5 ml ou múltiplos de 5 ml”. Os xaropes para diabéticos não podem ser produzidos com sacarose. Por isso, desde há vários anos existem xaropes produzidos sem açúcar, mas com substitutos para poderem ser tomados por diabéticos.

Produção de xaropes em indústria farmacêutica,

anos 60 do século XX

Produção atual (2004) de xaropes (Laboratório Militar

de Produtos Químicos e Farmacêuticos)

Exemplo de xarope

Xaropes

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Referências

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Ficha técnica da exposição

Coordenação Célia Cabral e João Rui Pita Apoios PEST-OE/HIS/UI0460/2014 Bolsa de Pós-Doutoramento SFRH/BPD/68481/2010