2 expediente - missionários do sagrado coração · lindo da programação o almoço no beira-rio,...

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INTER EX Julho/2011

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DIRETORIA EXECUTIVAPresidente:João Baptista Gomes ........(l1)4604-3787 Vice-Pres: Waldemar Checchinato ....(11)4591-1192Secretário:Walter Figueiredo de Sousa .(31)3641-1172 Tesoureiro: Paulo Barbosa Mendonça (l9)3542-3286Dir. Espir: Pe. Benedito Ângelo Cortez ..(11)3228-9988

CONSELHO FISCAL - TITULARJosé Carlos Ferreira ..........(l9)3541-0744José Barbosa Ribeiro........(35)3465-4761

CONSELHO FISCAL - SUPLENTECarlos Savieto ..................(l9)3671-2417Afonso Celso Meireles .....(l1)3384-7582

REGIONAIS Ibicaré André Mardula ................(49)522-0840São PauloMarcos de Souza.............(11)3228-5967CampinasJercy Maccari ................... (19)3871-4906Pirassununga Renato Pavão ................. (19)356l-605lBauru Gino Crês.........................(14)3203-3577Itapetininga Sílvio Munhoz Pires ........(15)3272-2145S. José dos CamposNatanael Ribeiro de Campos..(l2)3931-4589Itajubá José Benedito Filho...........(35)3623-4878

COORDENADORIASBol.Inf. Inter ExJoão Baptista Gomes..........(11)4604-3787 (Cel)9976-1145

DIAGRAMAÇÃOMarcelo Silva Calixto......(11)3476-9601

CARAVANAMoacyr Peinado Martin....(11)6421-4460

ATOS RELIGIOSOS Daniel R Billerbeck Nery...(11)6976-5240Edgard Parada....................(16)3242-2406Lásaro A P dos Santos.......(11)3228-9988

REDATORES DESTA EDIÇÃORaimundo José Santana, O Sombra, Wilmar Daleffe, Walter Figueiredo, Carlindo

Maziviero, Arlindo Giacomelli, Wolf Von Zarnen, Antonio Valmor Junkes, Afonso Peres da Silva Nogueira, Marco Rossoni Fo, Lupo da Gubbio, Claudio Carlos de Oliveira,

Ézio Américo Munnari, Gino Crês, Alberto José Antonelli e João Costa Pinto.DESIGNER GRÁFICO Marcelo Silva Calixto (11)3476-9601

EXPEDIENTEASSOCIAÇÃO DOS EX-ALUNOS MSCEstr. Armando Barbosa de Almeida 1500

Residencial Rancho GrandeCx Postal 116 - Cep: 07600-000

Mairiporã-SPTel: 0xx11-4604-3787

Diretoria e Inter-Ex: [email protected]

EditorialEditorialos dias 27 e 28 de Agosto, teremos Encontro em Pirassununga. Durante

muitos anos, o programa das atividades tem sido o mesmo, invariável. Se obser-varmos bem, a programação do sábado sempre deixou muito a desejar. Muito tempo ocioso e, após o almoço no Beira--Rio, sempre ocorreu uma dispersão ge-ral do pessoal que só voltava a se reen-contrar à noite para a reunião no salão nobre. Isso precisa ser revisto. O ideal seria fazer com que todos permaneces-

sem unidos num mesmo ambiente, o que vem a facilitar o bate--papo, o entrosamento e o prazer do reencontro de amigos e irmãos. E qual é o melhor lugar para isso? Claro, a própria Es-cola Apostólica com seu ambiente aconchegante e seu espaço conhecido por todos que ali viveram na adolescência, brincan-do, estudando e rezando.

Então, a Diretoria achou por bem modifi car essa rotina, abo-lindo da programação o almoço no Beira-Rio, mas não impedin-do, claro, que almocem lá aqueles que o desejarem. Na verdade, muitos não o freqüentavam por não comerem peixe e outros preferiam assar uma carninha no Barrocão. Já começava por aí a dispersão geral.

Decidimos, então, com prévia autorização da direção da Casa, realizar no seminário o nosso almoço, utilizando as insta-lações do salão da Comunidade, anexo à capela. Esposas de nossos colegas e outras mulheres daquela Comunidade já se prontifi caram a assumir a cozinha, o que barateará em muito o custo daquele almoço comunitário. O resto da tarde daquele sábado poderá ser preenchido com brincadeiras, jogos de car-tas, de xadrez, palestra ou outras. Esse mesmo recinto coberto e confortável servirá para o lanche de sábado à noite, evitando-se o sereno e o frio.

Não percam. Vamos nos reunir mais uma vez.

João Baptista GomesPresidente

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02- José Machado ................................ (14) 223-589802- Mário Walter Decarli .......................(11) 4654-135102- Hernani Os ...................................(35) 3622-459608- Joaquim Vieira Cortez .....................(35) 3622-199110- Oswaldo Muller .............................(19) 3869-147411- Gino Crês ..................................... (14) 230-357718- Ângelo Zampaulo ...........................(19) 3241-961520- Adeval Romano .............................(17) 3464-442522- Gerard G. J. Bannwart ....................(15) 3646-949926- Alberto Maria da Silva .....................(13) 3227-509626- Luiz Gonzaga Rolim ......................... (11) 619-761327- Leonel José Gomes de Souza .............. (15) 552-689028- Marcos Lelis Pinto ........................... (35) 621-471030- Paulo Figueiredo ............................(31) 3577-0225

03- José Gaspar da Silva ........................ (35) 622-259107- Afonso Peres da S. Nogueira ............... (12) 552-584809- Antônio Henriques ..........................(11) 5184-016010- José Carlos Barbosa ........................(35) 3645-115112- Alberto José Antonelli .....................(13) 3227-859713- Benedito Coldibelli .........................(19) 3223-859715- Isaac da Silva Brandão .....................(11) 3611-391815- Benedito Ângelo Ribeiro.................... (11) 266-962015- José Raimundo Soares ...................... (12) 281-180318- Vanderlei de Marque .......................(11) 4127-422019- Luiz Gonzaga de Almeida .................(31) 3571-164326- Walter Figueiredo de Souza ...............(31) 3641-117226- Manoel Evaristo da Costa .................. (35) 621-1310

03- Marcos Mendes Ribeiro ..................... (12) 281-3321 04- Douglas Dias Ferreira ....................... (19) 571-1118

09- Manoel Pereira da Costa09- Vitor Fernandes Lima ......................(21) 9693-594313- Geraldo Augusto Alkmin .................... (35) 622-3274 15- Carlos Magno Antunes Pereira ............. (15) 232-158518- José Manoel Lopes Filho .................... (14) 223-339918- José Fábio Correa ..........................(35) 3623-4819 20- Rosalimbo Augusto Paese ..................(19) 3255-662223- Márcio Antônio Nunes ....................... (35) 281-1477 23- José Camilo da Silva .......................(19) 3828-122128- Marcos de Souza ............................(11) 3313-455129- Rubens de Souza ............................. (19) 561-4462 30- Geraldo José de Paiva .....................(11) 3735-3014

02- Licínio Poersch ..............................(45) 226-646204- Luiz Carneloz ...............................(11) 6940-375804- José Carlos B. Teixeira ....................(16) 236-634105- Benedito Antunes Pereira .................(11) 4655-421506- José Benedito Ribeiro .....................(14) 3218-857309- Côn. Carlos Menegazzi .....................(14) 3278-141409- Edson Marques de Oliveira ................. (15) 271-102212- Pedro Tramontina ..........................(11) 4232-5962 12- João Baptista M. Cirineu ................... (15) 271-234713- Afonso Bertazi ............................... (19) 524-049414- Alderico Miguel Rosin ....................... (19) 582-102116- Sérgio Luiz Dall” Acqua ..................... (47) 435-570817- Geraldo Luiz Sigrist ........................(19) 3255-173220- Benedito Ignácio ............................(11) 5531-003120- Nilo Jorge F. da Silva .......................(21) 2701-724228- Waldemar Chechinato .....................(11) 4591-119229- Agostinho Rafael Rodrigues ...............(21) 3468-556730-José Tadeu Correa ..........................(35) 3623-4767

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Ibicaré - 2011Ibicaré - 2011

Da E para D: Alzemiro Basso, Ivo Luiz Pasinato, Sadi Pierdoná, Valdir Da E para D: Alzemiro Basso, Ivo Luiz Pasinato, Sadi Pierdoná, Valdir Rebelatto, João Baptista Gomes, Valdir Pagnocelli, André Mardula, Rebelatto, João Baptista Gomes, Valdir Pagnocelli, André Mardula, Mauro Pavão, Sérgio Dall´Acqua, Moacyr Peinado, José Benedito Mauro Pavão, Sérgio Dall´Acqua, Moacyr Peinado, José Benedito

Filho, Moacir DacorégioFilho, Moacir Dacorégio

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Palavra do LeitorPalavra do Leitor

“Que bom que vocês lembraram-se do velho aqui, velho eu, não o Papai Noel! Estou arrumando as malas para Pouso Alegre, vou sentar praça lá. Completei 47 anos como vigário da paróquia São Sebas-

tião, em Amparo, sou emérito. Tenho que dar lugar para outro e, como dizem os franceses “Au revoir”.

Sou muito grato aos Missionários do Sagrado Co-ração”

(a) Pe. Francisco de Paiva Garcia

“Sinceramente, foi para mim um grande prazer re-ceber sua carta, que veio reascender dentre as cinzas do meu saudoso passado, uma chama daqueles tem-pos felizes em que estudei na Escola Apostólica de Pirassununga e, depois, no malfadado noviciado de Itapetininga, onde fi quei alguns meses. Minha satisfa-ção é maior por sabê-lo vivo a atuante à frente dessa Associação, à qual quero passar a pertencer daqui pra frente, pois me sinto um naufrago nos mares da vida. Explique-me como posso fazer para ser reintegrado a essa Associação. Estou ilhado na vida, quase à beira do suicídio, separado da família, morando sozinho, não tenho contato com ninguém e, então, pertencer de novo a essa Associação de ex-alunos MSC será a minha tábua de salvação.”

(a) Elias José Alves “Dediquei 36 anos de minha vida ao tra-

balho pastoral. O Diácono não era remune-rado. No fi m do meu mandato como Diáco-no, Dom Nelson, nosso bispo, mandou que as paróquias passassem a pagar um salá-

rio por mês para cada diácono. Não tenho participado dos Encontros dos ex-alunos por não estar sempre com disposição para viajar. De vez em quando sou chamado para dar aulas de parapsicologia para o quar-to ano de teologia que tem nas paróquias da diocese de Santo André. Segue um cheque de minha contribui-ção. Agradecendo pela atenção, desejo que o passeio a Ibicaré seja com imensa alegria.”

(a) Diácono Pedro Tramontina

“ Sou esposa do fi nado Arnaldo do Carmo Cardoso e Silva, ex-aluno do se-minário da congregação dos MSC. Re-cebi sua carta e peço desculpas por não ter comunicado seu falecimento ocorri-

do há doze anos. Em 1997, após o último Encontro em Pirassununga do qual participou, voltou muito feliz, porém, começou a sentir-se mal com dor no peito. O médico disse que ele estava enfartando, mas foi socorrido a tempo. Fez os tratamentos reco-mendados durante um ano, mas, na madrugada de 12 de setembro de 1998, confortado pelos sacra-mentos, foi morar junto de Deus e Maria Santíssima. Esperando sua compreensão, despeço-me desejan-do ao senhor, sua família e a todos os ex-alunos MSC as mais copiosas bençãos de Deus”.

(a) Alcioneida Formoso Cardoso e fi lhos

“Recebi sua carta. Muito feliz pelo seu abraço fraterno. Você está querendo restabelecer contato e saber se ainda tenho interesse de voltar ao convívio. Sem dúvida! É muito importante reen-

contrar colegas afastados há muito tempo. Deixo aqui o meu cordial cumprimento a você e a toda a sua Diretoria que tanta surpresa e emoções nos pro-porcionam nos Encontros e nas mensagens contidas no Inter-Ex, produtos vitais de sobrevivência desse grupo fraterno de ex-seminaristas MSC. Que Deus os abençoe. Certa ocasião, a um bom tempo atrás, disse à minha mulher: o que aconteceu com a Asso-ciação e o Inter-Ex? Não o estamos recebendo mais! Quando o recebíamos, era a leitura número 1. Lia, relia ... era sempre um relembrar. Havia constantes relatos de casos, ocorrências e pequenas histórias de nosso passado. Esse relembrar justifi ca o quanto aquele período deixou marcas na alma de cada um de nós. Caro amigo, foi tamanha a surpresa ao reti-rar, no meio das correspondências, sua carta a mim endereçada. E logo do Presidente, solicitando meu retorno ao convívio dos ex-alunos MSC. Com toda certeza, é o meu maior desejo retornar, principal-

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mente agora aposentado e com todo o tempo para esses eventos. Sua carta para mim foi como uma ressurreição. Um abraço afetuoso a você e aos cole-gas que de mim eventualmente pedem presença. Que Deus lhe dê saúde, força e abençoe seu abne-gado trabalho. Sei por experiência o quanto é árduo ser líder de um grupo tão esparso e heterogêneo.”

(a) Ernesto Schaffrath

“Nossa reunião de ex-padres em Gua-rarema

Estiveram presentes Edmundo Vieira Cortez e Maria (organizadores desse evento), Luiz Xavier Peres e Cida, Ge-

raldo José de Paiva e Cristina, Lazinho e Sandra, João Luiz e Vilma, Vanderlei dos Reis Ribeiro, Afonso Bertasi, José Alberto Antonelli, João Costa Pinto, Meire, Silvia com esposo e dois fi lhos. Presença es-pecial do padre Humberto, representando o provin-cial, padre Ângelo Cortez.

A reunião se desenvolveu dentro do espírito de confraternização característica desses nossos En-contros, iniciando-se pela alegria da recepção de quem chegava por quem já havia chegado. Padre Humberto trouxe um incremento especial para a reunião, apresentando álbuns de fotos daqueles an-tigos tempos que não saem da memória e livros de atas escritos pelos alunos ao longo dos anos. Os pri-meiros que chegaram puderam, após um bem sorti-do café, fazer um passeio por aquelas fotos e por aquelas histórias, que fi caram expostas até o fi nal do encontro. A seguir, houve uma reunião com todos os colegas presentes para ouvir o padre Humberto e proceder à troca de idéias e vivências, havendo até um princípio de discussão de temas dogmáticos e teológicos. Desta vez as mulheres não participaram desse círculo, achando que seria uma reunião mais de interesse dos homens. Mas, não deixaram de exercer a sua função de provedoras, pois além de prepararem a mesa da refeição com os quitutes tra-zidos em abundância por todos, ainda agüentaram a

fome por longo tempo, uma vez que a reunião dos homens não queria fi ndar, tão interessante estava. Logo após a refeição, o padre Humberto se despediu para retornar aos seus afazeres e compromissos de fi nal de semana em Pirassununga. Os demais cole-gas também, aos poucos, foram se retirando, não sem antes deixarem o valor acertado com a Congre-gação pela utilização daquela casa. Todas as ausên-cias foram muito sentidas, mas, em especial, a do Antonio Brogliatto que passa por recuperação de uma cirurgia e a quem todos dirigiram suas orações e votos de total recuperação. Como perspectiva para o próximo encontro, fi cou o convite do padre Hum-berto para que se realize, ainda este ano, no sítio São José do Barrocão, dando oportunidade até para um aprofundamento de temas levantados nesta reu-nião. Como organizador do evento, foi indicado o Afonso Bertasi, que aceitou prazerosamente a in-cumbência.”

(a) Vanderlei dos Reis Ribeiro

“Obrigado pelo último número do Inter-Ex. Gostei muito da capa, que me trouxe à lembrança a capela de Pi-rassununga, onde nos reunimos tan-tíssimas vezes, onde aprendi a “ajudar

a missa” (com o padre Humberto Capobianco, meu “anjo da guarda”) e onde fi zemos tantas vias-sa-cras, também reproduzidas na foto. O que me sur-preendeu foram os bancos: despojados e duros! Não me lembrava mais de tanta aspereza. Apreciei muito a entrevista do Vilmar Daleffe relativa a você; não imaginava quanta coisa importante você fez na vida! O Inter-Ex, como sempre traz matérias interessan-tes, redigidas em geral com correção e brilho. Como já escrevi uma vez, o ensino do Português nas esco-las Apostólicas da Congregação era de excelente qualidade.

A ilustração fotográfi ca de “Meu Noviciado” me despertou muita recordação, sobretudo dos que es-tavam na Poési, quando entrei em 1947. Abelardo,

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José Cirino, Pródigo, Henrique Roberto, “Figão”, José Romão, Laureano e Maia, saudades daquele tempo! Não me identifi quei, contudo, absolutamente, com a imagem que o articulista, bom escritor, apresenta do Pe. Adriano Seelen. Aliás, a foto do Pe. Adriano com o círculo ao redor da cabeça, já sugeria a direção do artigo. Obviamente, trata-se, já a partir do título (Meu noviciado), de uma visão do autor, isto é, de como ele vivenciou aquele tempo e, em particular, a fi gura do mestre de noviços. Como tal, padre Adria-no é descrito a partir da subjetividade do autor e, parece-me, traduz mais o noviço do que o mestre. Sob essa ótima, nada a reparar.

Conheci o padre Adriano Seelen desde seus pri-meiríssimos tempos de Superior da Escola Apostóli-ca (1947), ao longo dos seis anos que lá passei, e no Noviciado (1953) quando tanto ele como a minha turma nos mudamos para Itapetininga. Conheci-o também anos depois, quando em Cunha, na Vila Formosa e, fi nalmente, em São José do Rio Preto. A imagem que tenho dele difere completamente da que é oferecida no artigo em pauta. Sem pretender dizer que o padre Adriano sempre acertou (concordo que o episódio da expulsão do Paulo Apóstolo foi to-talmente além da medida e traumatizou sobretudo os alunos dos primeiros anos, entre os quais me en-contrava) e sem negar a infl uência indevida exercida pelo padre Donato, minha experiência com o padre Adriano, nos seis anos de Pirassununga e no ano do Noviciado, afi na-se muito mais com o testemunho do padre José Roberto Bertasi, na página 5. Anos depois do noviciado, encontrei o padre Adriano em muitas circunstâncias. Lembro-me de que ele estava muito mais solto do que nos anos de Pirassununga e Itapetininga. Tinha acontecido o Concílio, tinha havi-do a experiência da Província com o curso “Christus Sacerdos, e tinha mudado a maneira de viver as re-lações humanas. O padre Adriano deixou a distância em que o víamos quando adolescentes e se tornou um igual, provavelmente porque também nós cres-cêramos. Tive com ele conversas profundas e calmas

sobre o sentido da vida, da vida religiosa, dos afetos humanos, e por aí vai ... Padre Adriano transmitia, nesses encontros, a tranqüilidade de um homem vi-vido e de alguém sempre desejoso de entender mais. Para quem não sabe, seus últimos meses em São José dó Rio Preto foram acompanhados de perto pela letra e música de “Pourquoi, Seigneur, as-tu fait la nuit si longue, si longue pour moi?”, se não me en-gano do músico jesuíta J Galineau.

Quero, então, deixar registrada minha discordân-cia em relação ao quadro composto pelo articulista do padre Seelen. E, como última observação desta Palavra do Leitor, gostaria de obter confi rmação de que o padre Adriano tinha realmente um piano de cauda no quarto, coisa de que nunca ouvi falar. Sei que ele, nos últimos anos de vida, dizia que só então começava a tocar Chopin.”

(a) Geraldo José de Paiva

“Não nos conhecemos pessoalmen-te, mas o fato de ter pertencido à Con-gregação dos MSC faz com que o con-sidere um irmão. Apesar dos quase 40 anos que deixei a Congregação, (1958-

1963 Ibicaré e Pirassununga) sinto-me ainda pro-fundamente ligado a ela e acompanho todos os acontecimentos que posso. Como mudei de endere-ço e não quero perder o contato com os ex, queira atualizar os meus dados. Acabei de ler o Inter-Ex de dezembro e fi quei muito emocionado com os depoi-mentos e lembranças dos colegas.

Meu novo endereço: Rua Tapajós, 850 E Condo-mínio do Sol II, Bloco M, Apt° 203, Cep 89812-465 – Chapecó-SC Fone (49)33234993”

(a) José Luiz Zambiasi

“ Foi com grande satisfação mesmo que recebi a sua carta. Jamais poderei esquecer a Associação dos ex-alunos porque, até hoje, considero o melhor período de minha vida, o tempo q u e

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Edson Niehues, Vitorino Alexandre Oro, Edson Niehues, Vitorino Alexandre Oro, Ivo Ruiz Pasinato, Valdecir A. Daspasquale, Jerci Maccari, Ivo Ruiz Pasinato, Valdecir A. Daspasquale, Jerci Maccari,

Fila de trás: Lásaro A. Pereira dos Santos, ?. Daniel R BillerbeckFila de trás: Lásaro A. Pereira dos Santos, ?. Daniel R Billerbeck

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Edson Niehues, Vitorino Alexandre Oro, Ivo Ruiz Pasinato, Valdecir A. Daspasquale, Jerci Maccari,

Fila de trás: Lásaro A. Pereira dos Santos, ?. Daniel R Billerbeck

fui aluno MSC. Desde quando nasci, estive ligado a essa Congregação, ou seja, nasci a 1 quilômetro do sítio dos padres, fui batizado naquela capela e quando mudamos para a cidade, fomos morar a 50 metros do colégio. Fui coroinha desde os 8 anos na antiga capela do Rosário e estou toda hora passan-do em frente ao nosso querido colégio e, ir para aquela região do sítio, só traz boas recordações da infância porque foi ali que vivi os primeiros anos de minha vida. Não sei se você está sabendo, mas a estrada que leva ao sítio está toda asfaltada, graças ao bom prefeito que temos atualmente. Continuo morando no mesmo endereço, trabalhando no mes-mo emprego, apesar de ter tempo de sobra para aposentadoria. Farei todo o possível para estar no próximo encontro”

(a) Claudio Picolli

Há coisas que acontecem e trazem muitas alegrias e grandes emoções. Sua carta, além da grande surpresa, foi uma dessas coisas maravilhosas. Lem-bro com muito carinho de você, do sau-

doso Sarmento, de seu irmão Amaro, do Amauri dos Reis (o soleil), do Gerard Banwart e de muitos outros cujos nomes vão desaparecendo da tela do meu PC cerebral (velhice). Quanto ao seu abraço estou rece-bendo com alegria e emoção. Quanto ao meu retor-no, digo-lhe que, há tempos, fi z algumas ligações para a Igreja das Almas onde, segundo informações anteriores, a diretoria se reunia. Nunca recebi res-posta alguma; creio que as pessoas que me atende-ram não comunicaram a vocês. Lembrar de vocês? Lembro-me todas as noites (mesmo!!!!), quando rezo no meu manual das novenas de Nossa Senhora do Sagrado Coração – Lembrai-vos. Recordo quando nos encontramos no sítio São José do Barrocão, você dizer que queria ouvir o meu agudo que existe nessa música (risos).”

(a) Geraldo Alberto Del Nery

“Fiquei muito contente em receber sua carta querendo saber por que não tenho comparecido aos encontros, se mudei de endereço ou se não tenho mais interesse em pertencer à Associação. Não mudei de endereço e não sei por

que deixei de receber o Inter-Ex. Não tenho compa-recido aos encontros mais por comodismo, mas não tenho esquecido vocês. Sempre que me encontro com o Silvio Munhoz ou com o Jorge Ferreira, per-gunto como foi o encontro e as pessoas que foram. Estou até pensando em promover um encontro para nós aqui de Itapetininga, no meu sítio, mas ainda estou estudando essa possibilidade e entrarei em contato com você. Aproveito para mandar o endereço de mais dois ex-alunos, que são: Olegário Stessuk Seabra e Afonso Garcia de Carvalho.”

(a) João Paulino Seabra

“Ao ler o último Inter-Ex, fi quei pas-mo com a memória do colega e conter-râneo Adailton Chiaradia: ele consegue até se lembrar de meu número no se-minário (343), coisa de quase sessenta

anos atrás. Não é à toa que ele é o “cara” no xadrez (a) Raimundo José Santana.

“Com referência ao último Boletim recebido ontem à tarde e devorado on-tem mesmo à noitinha, uma única pala-vra: PARABÉNS a todos. Parabéns aos articulistas incluindo a mim que tam-

bém colaborei e fui aceito. Desta vez passei, mesmo deixando pêlo na cerca como soia dizer o saudoso padre Salvador Andreetta. A Redação é exigente, com o que concordo plenamente. A “tesoura” fun-ciona na hora certa e com imparcialidade. É a regra do jogo, com que também concordo plenamente. Fortiter et suaviter, como bem caracterizado foi o Redator-Chefe. Aproveitando a oportunidade quero

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parabenizar novamente a mesma Redação pela capa daquele Boletim. Maravilhosa a idéia de estampar a foto interna de nossa antiga e saudosa capela do seminário. Voltei no tempo depois de abrir o envelo-pe que me trouxe este presente. Magnífi ca idéia, louvada iniciativa! Novamente me vi diante daqueles quadros, reproduções em branco e preto dos origi-nais o pintor holandês Peter gerardt. Entre um qua-dro e outro uma coluna e capitel e de linhas retas e forma quadrangular alternada com um arco de estilo gótico. Revi a mi mesmo diante dos “passos” do Cristo, cumprindo eu a penitência imposta por meu confessor. Ou então, nos dias de bonança, imploran-do ao Mestre a necessária força para carregar o ma-deiro dos deveres quotidianos sem me revoltar com a escolha feita. Sabia e aprendi que tuido na vida tem um preço antecipado, mesmo que negociado. E quantas vez4es tive que negociar com o Mestre, o que ainda continuo fazendo. Quantas e quantas Vias Sacras fi zemos em conjunto cantando ao som do harmonium o tradicional “Oh Jesus Crucifi cado, meu senhor é condenado por teus crimes, pecador, por teus crimes, pecador.” Melodia de uma pureza impar, palavras tocantes e singelas, lágrimas quentes e re-generadoras.... Sentimentalismo barato?

Voltando, porém, ao que me interessa, a dor maior é de saber que aqueles saudosos quadros da Via Sacra da capela interior do seminário desapare-ceram misteriosamente, como que abduzidos por extra-seminaristas. Quando voltei a Pira com a no-meação de professor na Escoa Apostólica, a capela ainda existia, mas não mais funcionando como tal. Os quadros da Via Sacra ainda estavam lá. Eram re-produções raras, difíceis de serem encontradas aqui neste país, e que foram trazidas da Holanda pelos padres da Congregação.. Além do espírito apostólico desses bravos sacerdotes, quantas outras coisas materiais eles de lá nos trouxeram. Ainda paira no ar a grande interrogação: Onde foram parar aqueles quadros tão preciosos e raros?”

(a) Ézio Américo Munnari

Meu caro Wolf Von Zarnen. Dizem que quando Villa Lobos foi a Paris pela primeira vez para uma apresentação pública de sua obra, ele assim falou a Vercingetórix e aos demais gauleses:

“Eu não venho aqui para aprender, e sim para ensi-nar”. Não é que você está dando uma do Villa? (ne-nhuma alusão ao Pancho Villa) ... Você está me sain-do como um outro Paulo Autran; você não está pedindo aplausos, você está nos exigindo aplausos, e muito merecidamente, Parabéns, meu caro! Seu arti-go, Lobo Sarnento, é de sacudir a gente pelos fundi-lhos. E, pelo visto, você deve ser também um germa-nófi lo nota onze, como eu. Seu artigo, mesmo antes de ser publicado, já deu o que falar. O citado padre Donato foi o gonzo de toda essa estória. Uma “Triste Tragédia”, apesar de a sua terminar na Queda do Muro. Tive um famoso quid pro quo com o supra cita-do dito cujo que terminou felizmente bem. As pesso-as mudam com o tempo. Sinal de boa evolução. Ele também mudou depois que se mudou. E mudou para melhor. Anos mais tarde fui visitá-lo na Granja W. Neto. Constatei que ele se tornara uma outra pessoa e nossa amizade se estreitou mais ainda. Mesmo na escolha dos temas nós nos assemelhamos. Daí pen-sarem que nós somos nós. Qualquer senelhança, Re-dactor Magnus é mera semelhança.”

(a) Manelo Biondo “No dia 14de abril, quinta-feira, vés-

pera do Encontro em Ibicaré, o Bruno Neovalt, o Edson Niehues, o Frigo, o Garbossa, o Ivo Pazzinatto, o Odalécio Scopel, o Paese, o Rossoni e eu, indo os casais com suas digníssimas e lindíssi-

mas consortes, reunimo-nos no Restaurante Velho Madalosso, num ágape comemorativo. É de nossa intenção repetir o evento todas as quintas-feiras que vierem anteceder o encontro de Ibicaré. Para en-grossar fi leiras no próximo encontro, aguardamos paulistas e mineiros que, em tese, viriam até Curiti-ba na quinta-feira, e na sexta-feira, no despontar da

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aurora, logo depois de sorvermos um chimarrão bem quente e bem amargo, rumaríamos todos para o Sul, em ruidosa carreta de impor inveja a qualquer polí-tico. Estão todos convidados. Quem quiser partici-par, aguardo contato antecipado para qualquer ne-cessidade (reserva de hotel, por exemplo).

Até que enfi m, o Sombra deixou de me aporrinhar. Somente na última edição (março/11) é que ele lar-gou de meu pé, ou melhor, da minha barbicha, a qual ele insiste em comparar com a do Rasputim. Nas mi-nhas conjecturas, presumo ter descoberto a identida-de dele. Em Ibicaré ele surpreendeu, vestindo-se de pai-de-santo, enquanto não se cansava de fazer ano-tações numa caderneta. Se for quem eu suponho ser, o Sombra não deve se esquecer dos idos de 1969/1970 quando, aqui em Curitiba, mais precisamente na rua 13 de Maio (do número não me lembro), ele e eu, na qualidade de acadêmicos em penúria, dividíamos um apertado quarto de pensão. Em pobreza extrema, a fome e o frio que passamos foram recíprocos. Portan-to, senhor Sombra, ao divagar, devagar!

Por fi m, agradeço de coração, a presença de todos em Ibicaré, principalmente a de mineiros e paulistas que chegaram com os trazeiros quadricularmente achatados, reproduzindo o molde das poltronas do ônibus e cujo sacrifício da viagem nós, sulistas, só podemos compensar com o calor do nosso abraço”

(a) Antonio Valmor Junkes “Não sei o que houve desta vez, não sei

a razão, só sei que esse Encontro de Ibi-caré foi diferenciado dos demais. Tudo aconteceu de forma semelhante, mas para mim algo aconteceu. Encerrada a

festança, voltei ao hotel e fui descansar, pois estava pregado e confesso ter sido tomado por uma profunda nostalgia que por pouco não me levou ao pranto. Uma emoção muito grande tomou conta de mim e fi quei sem vontade de voltar para casa. Arrisco dizer que pode ter sido a forte emoção de reencontrar vários colegas que não via há cinqüenta anos. Até agora Ibicaré e toda a sua paisagem continua encracalada em mim”

(a) Jerci Maccari

“Você, Jerci Maccari, tem razão ao dizer que este encontro foi diferencia-do, realmente, graças ao colega Dall’Acqua que não mediu esforços para trazer novos colegas. Nessa tarefa tive-mos uma boa ajuda da Internet que,

por sinal, deveremos explorar mais para o próximo encontro. Pode fi car certo, o encontro foi muito legal mesmo e, pelos abraços calorosos que recebemos, sentíamos a emoção dos colegas, o que só não ter-minou em choradeira porque não fi zemos aquela ro-dada de despedida no fi nal com aquelas canções saudosistas de nosso tempo. Olha, se isso fi zésse-mos, com certeza faltariam lenços para tantas lágri-mas. O sucesso de nosso encontro, na verdade, de-ve-se creditar à participação de todos que se entregaram no evento de corpo e alma, onde foi vi-sível no semblante de cada um a alegria espontânea que brotava por estarmos juntos naquele momento. Fato que fi cou evidenciado, principalmente naquela ocasião mais íntima do encontro, foi fazer-se a apre-sentação dos novos em um local muito especial, principalmente para os colegas que estudaram em Ibicaré, ou seja, na capela interna, onde diariamen-te assistíamos a missa e, também, como foi lembra-do por alguém, onde fazíamos nossas confi ssões di-árias ...não sei por quê! Quanto à parte da

gastronomia, temos de dar o atributos ao colega Ademar Pivetta que, realmente, matou a pau com sua equipe competente e incansável, preparando com muito carinho todas as refeições. Pivetta, você foi dez nesse quesito! Muito obrigado em nome de toda a diretoria da Regional Sul.”

(a) André Mardula

“Quero endossar os comentários do Maccari e do Mardula sobre o nosso en-contro de Ibicaré. Dessa vez foi tudo muito especial. Ao chegar a Ibicaré, juntamente com o lendário Vilmar Da-leffe, fomos ao hotel do Seo Dalolmo.

Como já estava lotado, a senhora do hotel falou que, antes de irmos a outras cidades, como Treze Tilias, devíamos falar com o Pivetta. Não deu outra. O Piveta nos fez atravessar a rua e nos ofereceu um dos muitos quartos de sua vasta residência. Tudo foi fi cando com formas de Ibicaré. Conviver com pessoas como o Arlindo Giacomelli e os outros ex-padres foi algo muito bom. Quanta aprendizagem! Que patrimônio cultural, espiritual e intelectual etá-rio, reunido num só lugar! A dedicação do Pivetta, Dall’Acqua e Mardula foi marcante e a eles quere-mos agradecer profundamente.

Tudo isso me fez lembrar muito das sementes do, por ora ausente, Chico Levandowski, o iniciador des-ses maravilhosos Encontros.”

(a) Rosalimbo Augusto Paes

Dia 15 de abril, às 8,30 hs, foi dada a largada de paulistas e mineiros para o XII encontro de Ibicaré. Houve empate na corrida. Os motoristas do ônibus amarelo erraram quatro vezes e os do ônibus azul, três vezes, sem contar

uma furada de pneu próximo a Ibicaré, em frente à prefeitura de Treze Tillias. Contratempos outros? Apenas entre os kms 333 e 360, na subida da serra do cafezal, uma imensa fi la de caminhões obrigou nosso ônibus a rodar passo a passo por cerca de dez kms por hora. O mesmo problema mais adiante, na passagem por Curitiba, onde havia um estreitamen-to da pista. Resultado: em vez das quinze horas pre-vistas, a viagem durou dezoito horas.

Todo sacrifício tem sua recompensa. Às 3,00 hs da madrugada, estávamos degustando a tradicio-nal e deliciosa sopa de agnolini que os amáveis e pacientes anfi triões tinham preparado para nos es-perar. Eu que tinha pavor de viajar de ônibus cansei nadinha, nadinha. Tanto na ida como na volta. Esta foi tranqüila, durou apenas quinze horas. O que muito me impressionou na viagem foi o espírito es-portivo dos colegas que, serenamente e até com sorrisos, encararam os transtornos. Os jovens de mais idade, como o Sebastião Mariano e o Antonio Henriques deram exemplo de esportividade. O Mo-acyr Peinado (Pinduca) tudo fez para que ninguém passasse sede ou fome, servindo salgadinhos e do-ces a toda hora. O Daniel e a Claudete, com as orações e bingos, cooperaram para alavancar o es-pírito jovem embutido nos nossos corpos suados.

Também me impressionou, sobremaneira, o local aconchegante de Treze Tillias e, mais ainda que o local, o espírito jovem e alegre de seus habitantes, onde as moças cruzam com a gente e, com os olhos nos olhos, dão bom dia ou boa tarde. É um povo lindo e com pureza de criança. Valeu! Valeu! Muito obrigado a todos que fi zeram isso acontecer.

(a) Edmundo Vieira Cortez

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O s fatos que hoje narro são mais ou menos his-tóricos. Por que mais ou menos? Porque os

comprovantes são minha memória e a do próprio Pe-dro. Eu o vi pela primeira vez, em julho de 1956, lá no então novo seminário de Ibicaré. Passei por aquele se-minário, nos anos 1950 e 1951. Ainda era um casarão de madeira bem na barra do rio São Bento. No local existe hoje uma casa de alvenaria. Do outro lado do rio, atrás dos samandis, onde hoje há uma ofi cina e um posto de gasolina, havia outro casarão de madeira, onde morava um célebre adversário do padre Bernar-do, o velho anticlerical José Schneider. Numa certa noi-te, o Keis, famoso cachorro do Irmão Pedro, levou um chumbinho na orelha. Quem será que atirou?

Fui para Pirassununga em 1952. Cinco anos de-pois, tivemos as primeiras férias junto à nossa famí-lia. Dia 27 de junho de 1956, partimos, Dom Ricardo Paglia (que ainda não era Dom), Lauro Müller e eu. Na última hora, deram-nos um carona de cujo nome não me lembro, que voltaria para casa. Partimos de Pirassununga às 5,00 hs da manhã no trem da Pau-lista, chegando a São Paulo ao meio dia. Não me lembro se algum padre nos acompanhou na viagem ou se algum outro nos esperava na estação da Luz. Perambulamos até as l7,oo hs, quando embarcamos no direto São Paulo-Porto Alegre, pela Sorocabana e , lá pelas 22,oo hs, passamos por Itapetininga e che-gamos a Itararé às 4,00 hs. Acordei com as batidas dos vagões, engate e desengate. Eu estava dormin-do na cabine-dormitório. Dom Ricardo Paglia apenas cochilou no banco duro, dando sua cama ao carona que nos acompanhava. Parados uma hora, de pé na ponta do vagão, fi quei acompanhando o patinar do trem nos trilhos ao dar partida. Havia geado. Chega-mos a Ponta Grossa à 15,oo hs. Lembro-me que a gente via essa cidade ora a direita, ora a esquerda, depois na frente, depois atrás, tantas eram as curvas da ferrovia. À 1,00 h da madrugada chegamos a União da Vitória e Porto União, cidades na fronteira de Paraná e Santa Catarina, separadas pelo rio Igua-çu. Passamos por Caçador às 7,00 hs. Nessa segun-da noite, troquei com o Ricardo. Ele foi dormir na cama e eu fi quei no banco duro. Ali tudo era branco de geada. Nós, os passageiros, fi cávamos de pé, mãos nos bolsos, pernas meio abertas para facilitar o equilíbrio em razão do balançar do trem e dando pulinhos para esquentar. Haja frio! Sempre pela margem esquerda do Rio do Peixe, às vezes tínha-mos a impressão de que iríamos despencar para dentro das águas geladas, tão altos eram os pare-dões de pedra à direita. Mas, tocamos viagem com a alta velocidade de 25 a 30 kms por hora.

Finalmente, com um longo e estridente apito do trem, chegamos à futura capital do araticum, carinho-so título que, anos mais tarde, cumprimentando um ibicarense, em aula na Faculdade de Joaçaba, eu lhe disse: “Parabéns, você é da Capital do Araticum; não se preocupe, eu também sou”. Parece que esse elogio

O colega Pedro A GrisaO colega Pedro A GrisaArlindo Giacomelli (1950-1971)

pegou! O Lauro e eu desembarcamos e o carona tam-bém. O Ricardo foi até Joaçaba, onde tomaria um ôni-bus (na época se dizia “linha”) para Ponte Serrada. Estavam nos esperando o irmão e a irmã do Lauro, meu pai, dois irmãos meus e o padre Tiago que eu já conhecia de Pirassununga. Em casa, meu pai disse para minha mãe: “Eu nem o reconheci!”. Eu saira de casa aos doze anos e retornava com dezessete, no tamanho de hoje, tirando um pouco de barriga.

Na semana seguinte fui ao seminário (prédio novo) visitar os padres e também o meu irmão Itelvino. Foi quando conheci o Pedro Grisa, colega da mesma tur-ma do mano. Ambos prosseguiram estudando juntos até o ano de 1967, quando deixaram a Teologia. Essa eu conto mais tarde. Passei a noite lá no seminário, assisti a uma apresentação dos meninos e fui ao re-creio dos padres a convite do padre Bernardo. Na ma-nhã seguinte, ninguém me chamou. Acordei assusta-do, vesti-me rapidamente e desci. Todos estavam indo para o café no refeitório. Sentei em frente ao padre Bernardo que, logo após a oração, me disse:” Quando fui bater na porta do seu quarto, o silêncio me fez lembrar do que eu mais gostava em minhas férias na Holanda, isto é, que ninguém me chamasse, nem que fosse para rezar missa”. Como o Pedro Grisa e meu irmão Itelvino eram amigos inseparáveis, eu pude ter com ele bastante contato.

Pedro Grisa, hoje, tem setenta anos, está total-mente cego e é um dos mais importantes parapsicó-logos do Brasil. O que é Parapsicologia? “É a ciência que estuda os fenômenos paranormais” (Grisa, 2009, p-r 3) O que são fenômenos paranormais? “São fatos, fenômenos considerados além do nor-mal, por serem extraordinários, maravilhosos ou as-sustadores. Exemplo: visões, aparições, casas mal assombradas, possessões, clarividência, precogni-ções, etc” (Grisa, 2006, p-23-24)

É autor de inúmeros livros sobre o assunto:Interrogação vital (poesias)- Edipappi, Florianópolis, 2008 – 2ª, EdiçãoA cura pela imposição das mãos (coautoria de Frei Hugolino, falecido em abril de 2011. -Edipappi, Florianópolis, 2009, 17ª. ediçãoLiberte seu poder extra – Edipappi – Florianópolis-2007 – 14ª. ediçãoO jogo e a estrutura das personalidades - Edipappi, 2006 – 7ª. ediçãoO poder da fé e a paranormalidade – Edepppi – Flor – 2002 – 7ª. ediçãoParanormalidade em potencial mental – Edipappi 2007 –6a. ediçãoCompreendendo a homosexualidade – Edipappi-Flor 2007 – La. edição

Eu sou paranormal – Edipappi – 2009 – Edipappi – Florianópolis

O Pedro Grisa disse-me hoje: “Pelo fato de eu ter sido seminarista, sou o parapsicólogo mais solicitado para dar atendimento a padres e religiosos no sul do país.”

NOTA: Os livros dele são vendidos somente na Edipappi (Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico) – Rua Felipe Schimidt, 303, 15° andar, s1 1512, Centro Forianópolis. Fone: 48-3222.1819. Ministra cursos de formação de Parapsicólogo So-cial e Clínico em Florianópolis SC, Curitiba Pr, Lon-drina Pr, Volta Redonda RJ e Itapemirim ES.

WWW.ipappi.com.br

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• Maziviero: seu brasão “Per áspera ad Astra” também existiu por aqui. Gostei da interpretação.

• Lupo: “É claro que o leite teria que derramar! Ninguém conseguiria desligar o fogo até que se terminasse a leitura de texto tão longo!”

• Wolf: Esse tal de padre, temido como ave de rapina, não pousou por estas bandas. Ainda bem!

• Encontro de Ibicaré: O mais careca= Valdir Pagnon-celli; O mais caubói= Edson Niehues; O mais curador= Vil-mar Daleffe; O melhor barbicha= Maccari. Ganhou do Junkes por 2 mm; O mais intelectual=Ernesto Shafrath; O mais veterano=Sebastião Mariano; O mais pop star=Ivo Pazinato.

• Walter Figueiredo: A ponte que você quer construir para congregar novos e antigos, não vai chegar a Ibicaré, por-que os mais “novos” daqui já são todos sessentões.

• Ibicaré/2011: Os mais hermanos= Pierdoná x Pierdo-ná; A voz mais bonita= Cachoeira; O Mais alegre=Dacoregio; O mais prestativo= Pivetta; O mais churrasqueiro= Arlindo Botegga; As mais charmosas= Sras Paese e Mardula.

• Giacomelli: Quem estava esperando uma “catilinária” do padre Vermim, fi cou decepcionado. Aquele é que é pai!

• Raimundo Santana: Tal como o Lupo da Gubbio, você gosta de encompridar a história, mas, curioso para saber como o padre ia explicar o “caso” de José com a mulher de Putifar, fui obrigado a ler até o fi m. O padre foi liso como sabonete!

• Ibicaré/2011: O mais dançarino=ex-padre Alberto An-tonelli; A melhor família= Pivetta; O mais calouro= Alfredo Martins; Os melhores da festa= as cozinheiras; O melhor enólogo= Paese; O mais líder= Gomes; Os melhores organiza-dores= Dall’Acqua, Mardula e Pivetta.

• Manelo Biondo: Sei que você é meu fã, por isso fi co à vontade pra lhe dar um conselho: procure uma editora (Sarai-va, FTD e outras) que tenha paciência para publicar seus in-fi ndáveis e maçantes artigos. Deixe o espaço do Inter-Ex livre para outros!

• Ibicaré/2011: Ah! Que leitoas a pururuca! Ainda estou lambendo os beiços!

EntrevistaEntrevista

Vilmar Daleffe (58-66)

omo sempre, faço minha entrevista em forma de narrativa, após receber pela In-

ternet as respostas às perguntas formuladas. Moacir Cristaldo Dacoregio nasceu

em Grão-Pará- SC, em 1949, segundo fi lho de uma família humilde. Seu pai, ex-com-batente da segunda guerra mundial, era motorista de caminhão. Pelo fato de não haver escola em sua cidade e porque a fa-mília era muito pobre e, principalmente, porque a mãe sonhava com a possibilidade de ter um fi lho padre, Moacir foi encami-nhado ao seminário de Ibicaré. Ali, pelo menos, poderia estudar, sem maiores des-pesas. Isso aconteceu no ano de 1961 e lá permaneceu até 1963. Nesse mesmo semi-nário já se encontrava seu irmão mais ve-lho, o Rozevelte.

Perguntado por que saiu do seminário, mencionou três razões para explicar isso. Mudança de sua família para Foripa, onde poderia estudar de graça; falta de maior convivência com seu irmão em classe bem superior e, acredita ele, por ter tirado nota 4 em Latim (?), além da afi rmação do pa-dre de que ele não tinha vocação.

Devido àquela nota 4 em Latim, a esco-la pública de Floripa não aceitou sua matrí-cula da 3ª série. Optou, então, por uma escola industrial para estudar Engenharia Elétrica, cujo curso terminou em 1973. Já em 1974, conseguiu emprego na TELESC, empresa de telecomunicações de Santa Catarina. Alguns meses após, foi mandado para Munique para um curso de aperfeiço-amento, retornando como gerente de co-municações. Paralelamente a esse traba-lho, foi professor no Curso Tecnológico da UFSC, o que lhe possibilitou fazer mestra-do e doutorado. Em 1978, passou a geren-te do Laboratório de Comunicações da ELETROSUL, onde permaneceu até 1999, quando se aposentou.

Casou-se em 1974 com Mara e o casal teve três fi lhos: Alexandra (fi lósofa), Kris-tiane (in memoriam) e Frederica (enge-nheira civil). Três netos: Gabriel, Bianca e Emanuele, que aparecem na foto.

O SombraEx de Ibicaré

Ibicaré - 2011Ibicaré - 2011

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diretoria da Regional Sul emitiu Boletim Espe-cial Pós Encontro/2011, do qual transcrevemos

os seguintes tópicos:

A alegria da presença de novos colegas

Foi um encontro sensacional Novamente um nú-mero signifi cativo de participantes com a presença de vários colegas do Sul que participaram pela primeira vez, e isto é sempre uma grande alegria! Foram 65 ex-seminaristas e 55 acompanhantes, num total de 120 participantes. E o melhor foram os depoimentos dos colegas novos e antigos, todos unânimes, afi rmar que o encontro deste ano foi muito especial. E cada um dos encontros tem sido especial ... cada colega que vem pela primeira vez traz sua vibração, seu en-tusiasmo, acrescenta e enriquece a todos. Por isso o desafi o de trazer cada vez mais colegas. Ficamos to-dos felizes com as presenças. Esperamos que os que compareceram em 2011 não só voltem em todos os seguintes, como estimulem outros colegas a vir ou voltar, eis que alguns que já vieram, deixaram de par-ticipar, e outros, já localizados e convidados, ainda não vieram...que venham sempre!

Lista dos participantes em ordem alfabética

Adelar Ponsoni, Ademar Pivetta, Alberto José An-tonelli, Alfredo Martins Aguiar, Alzemiro Basso, An-dré Mardula, Ângelo Garbossa Neto, Antonio Henri-ques, Antonio Valmor Junkes, Arlindo Giacomelli, Benedito Ignácio, Bonifácio Eufrozino Barbosa, Bru-no Vilibaldo Neuvalt, Carlos Savietto, Claudio Mag-nabosco, Daniel Billerbec Nery, Daniel Canale, Edo

IBICARÉ NOS ABRAÇOUIBICARÉ NOS ABRAÇOU

Galdino Kirsten, Edson Niehues, Edmundo Vieira Cor-tez, Erci Frigo, Ernesto Leinhardt da Costa, Ernesto Schaffrath, Helias Dezen, Hélio Ampolini, Ivo Luiz Bortolazzi, Ivo Luiz Pasinato, Ivo Manfé, Jair Ribeiro, Jerci Maccari, João Baptista Gomes, José Barbosa Ri-beiro, José Benedito Ribeiro (I), José Benedito Ribeiro (II), José Benedito Ribeiro Campos, José Carlos Fer-reira, José Murad, José Raimundo de Sousa, Junes Giachin, Lásaro A,P, Santos, Licínio Poersch, Luiz Car-los Cachoeira, Luiz Pelisson, Luiz Zagonel, Marco Ros-soni, Mauro Pavão, Moacir Cristaldo Dacoreggio, Mo-acir Lobo, Moacir Peinado Martin, Nelson Pierdoná, Nivaldo Bordignon, Osvaldo Renó Campos, Paulo Bar-bosa Mendonça, Rozalimbo Augusto Paese, Sadi Pier-doná, Sebastião MariaNO Franco de Carvalho ,Sérgio Luiz Dall’Acqua, SérgioJosé Sredo, Valdecir Antoninho Dalpasquale, Valdir Luiz Pagnoncelli, Valdir Rebelato, Vanderlei dos Reis Ribeiro, Vilmar Daleffe, Vitorino Alexandre Oro, Ealdemar Chechinatto.

Da E para D: Ivo Luiz Pasinato, Ângelo Da E para D: Ivo Luiz Pasinato, Ângelo Garbosa Neto, Alfredo Martins Aguiar, Erci Garbosa Neto, Alfredo Martins Aguiar, Erci

Frigo, Valdir Pagnocelli, Valdecir A Dalpasquale e Vilmar DaleffeFrigo, Valdir Pagnocelli, Valdecir A Dalpasquale e Vilmar Daleffe

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Missa de RamosNovamente participamos da procissão e da missa

com ativa participação nas leituras e, neste ano, com a belíssima participação do Grupo Harmonia que, trazido e com a participação do Marcos Rossoni, can-tou a três vozes, o que emocionou a todos. Por con-cessão generosa do Padre Ofi ciante, o sermão foi proferido pelo Arlindo Giacomelli e, ao fi nal da mis-sa, o Sérgio Dall’Acqua dirigiu à comunidade de Ibi-caré um pronunciamento no qual, além de agradecer a acolhida, revelou a signifi cância dos encontros de ex-seminaristas em .Ibicaré.

DestaqueSem deixar de enaltecer o pessoal de São Paulo e

Minas Gerais, temos especial alegria quando colegas do Sul comparecem pela primeira vez. Assim, sauda-mos aqueles que vieram pela primeira vez, esperando que não faltem aos futuros. São os seguintes: Alfredo Martins Aguiar, de Porto Alegre; Nelson Pierdoná, de Pato Branco-PR; Sadi Pierdoná, de Ipoméia-SC; Moa-cir Lobo, de Pato Branco-PR, Junes Giachin, de Cha-pecó-SC e Ivo Luiz Pasinato, de Curibiba-PR.

GastronomiaA alimentação, como sempre, foi um dos desta-

ques do encontro, recebendo rasgados elogios de to-dos. A equipe contratada pelo Pivetta, mais uma vez, deu show de qualidade e efi ciência. Parabéns a todos.

Show de dança tirolesaPela segunda vez, o Grupo de Danças Típicas de

Treze Tillias abrilhantou o sábado à noite de forma esplendorosa. Dentre as várias danças apresenta-das, destaque especial para a Dança dos Sinos, um espetáculo a parte.

Agradecimento e estímuloAgradecemos penhoradamente a todos os que

participaram. Alguns enfrentando centenas de quilô-metros e muitas horas de viajem, tudo para se faze-rem presentes. Essas demonstrações de afeto pelo grupo e entusiasmo pelo evento nos animam a con-tinuar organizando esses encontros, procurando fa-zê-los sempre atrativos e estimulantes. Como diziam os cartazes: vocês são a razão de ser e o objetivo destes encontros. Perderiam o sentido se houvesse desestímulo. O ideal de trazê-los não é só da Direto-

ria Regional, mas de cada um dos ex-seminaristas. Um contato pessoal, um telefonema, um e-mail, o oferecimento de carona têm, muitas vezes, um po-der de convencimento maior que o envio de um im-presso. Então, vamos trabalhar juntos para que nos-sos encontros sejam cada vez mais empolgantes. Temos relação completa dos endereços conhecidos que pode ser solicitada ao Sérgio Luiz Dall’Acqua, Diretor de Divulgação, através do e-mail: [email protected].

Leitões a pururucaLeitões a pururuca

Show de danças tirolesasShow de danças tirolesas

Grupo de dançasGrupo de danças

Ibicaré - 2011Ibicaré - 2011

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esta vez, em Ibicaré, nossa reunião aconteceu na antiga capela. Ao adentrar-me pelo recinto, e

ao olhar para o chão, verifi quei que os tacos do piso colocados ali em 1959 eram ainda os mesmos, assim como ainda é a mesma a infelicidade, o desespero, a vergonha e a ignomínia que, por causa desses mal-fadados tacos, eu vivi numa certa melancólica noite da minha infanto-adolescência.

Nos dias que se seguiram ao encontro, de volta aos meus afazeres, vinha eu amargando, mudo e quedo, essa lastimosa lembrança. No escritório, em casa, nos fóruns, por onde quer que eu andasse, a umbro-sa cena daquele triste espetáculo, desencavado das mais recônditas reminiscências, me acompanhava, importunando-me o espírito, afl igindo-me com ver-gastas certeiras e doridas o ego sempre cuidoso do aspecto. Parecia-me que estava vivenciando aquele mesmo desgosto profundo, revivendo aquela mesma mágoa infi nda, ressentindo aquela mesma decepção sofrida, enfi m, não conseguia desvencilhar-me da-quela desdita. Vai daí, lembrei-me de que o mesmo tema já fora tratado por mim em alguma ocasião qualquer. Então, afastei da minha frente alguns pro-cessos em que trabalhava e decidi reler alguns dos escritos esparsos que mantenho guardados com a intenção de, qualquer dia destes, se me sobrarem tempo e vida, editar o livro que prometi aos meus fi -lhos escrever, e encontrei a narrativa dessa tragédia ocorrida pelos idos do início dos anos sessenta.

Há muito tempo, pois, ipsis litteris, escrevi assim: “ Na oração da noite, na capela, quando era rezado o ‘Lembrai-vos’, a alguém, escolhido a dedo, era dada a súpera honra de acender as velas no altar. Usava-se, para tanto, uma ripa comprida, cuja ponta era bifurcada, tendo, de um lado, um pavio que acen-dia a vela lá nas alturas, e do outro, um cone, fei-to de couro cru, que apagava a vela(aliás, lembrei-me, em tempo hábil, de que quem tinha os buracos do nariz, há os que preferem chamar de narinas, exageradamente escancarados, era inevitavelmente agraciado com o epíteto de ‘nariz de apagá vela’).

Para cumprir esse sacrossanto ritual, havia um rigo-roso e respeitadíssimo rodízio, dada a importância do momento, em que toda a comunidade se achava presente, com os alunos nos genufl exórios da fren-te, cabeças baixas, mãos postas em piedosa atitude de oração, sem ousar levantar os olhos nem mesmo para apreciar o solitário adejo de algum pernilongo por ali em perigoso letal extravio. Qualquer postura, desde que julgada inadequada pelos olhos miúdos do Diretor ou por qualquer um dos padres e irmãos mais atentos ao comportamento dos alunos do que com a devoção, poderia resultar na abstinência da refeição seguinte. Foi então que, numa saudosa mas desventurada noite daquelas, chegados que foram o meu dia e a minha vez tão ansiosamente aguarda-dos, dirigi-me com aquele andar estudado, orgulho-samente empertigado, mas respeitosamente devoto, ao altar, acendi, com sucesso total, a vela do lado esquerdo, e quando fui passar para o lado direito, ao ajoelhar-me com a indispensável e necessária inco-mum galhardia perante o sacrário, escorreguei e caí de chapa, bem em frente ao altar. Quando o joelho direito ia encostar no solo , o pé esquerdo, que de-veria sustentar a manobra, escorregou, devido às surradas botinas que eu usava, e que tinham as so-las tão desgastadas que as cabeças largas e chatas, mas já salientes, das tachinhas, em contato com a cera profusa dos tacos de madeira do piso da capela, fi zeram-me testavilhar inapelavelmente e estatelar grotescamente num decúbito ridiculamente cômico. Levantei-me, lépido, solerte, para, aparentemente, dar continuidade ao rito e acender a vela do lado direito do altar, mas do pavio, antes mantenedor da ígnea fl ama sagrada, subia, sem pressa, apenas uma fumacinha azul encaracolada, submetendo-me à humilhante tarefa de voltar para o lado esquerdo, atear novo fogo no pavio e daí, então, com o máximo cuidado que a experiência acabara de me ensinar, acender a vela do lado direito quando já, dilutas na-quela celestial atmosfera de preces, se balbuciavam as últimas invocações da oração da noite, que su-

Ibicaré - 2011Ibicaré - 2011

Quarenta anos depois - VIQuarenta anos depois - VIAntonio Valmor Junkes (1958-1964)

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biam, fervorosas, em busca do infi nito desconhecido. Da eminência do seu pedestal, enquanto a Virgem meneava a cabeça, incrédula com tanto tumulto, do colo dela um Menino me fi tava, ora enternecidamen-te, compassivo com tamanho infortúnio, ora com um sorriso tão desfaçado, travesso e maroto que parecia querer saltar lá de cima e participar do ruidoso en-trevero. Naturalmente tímido, enrubesci-me de tal sorte que as minhas orelhas se confundiam com a chama da vela acesa. Quisera tornar-me invisível, sair dali, sumir por uns tempos. A queda foi dolori-da. Doeram-me, e muito, os joelhos, os cotovelos, e até o queixo que, não entendo como, bati não sei onde, obrigando-me a conviver com a tumidez de um hematoma arroxeado durante vários dias. Mas essa dor de há muito não sinto. O que eu nunca es-

queci foi o ressoo das risotas mal abafadas dos co-legas e, quiçá, dos padres e irmãos, também, que, em vez de estarem se divertindo às custas do meu fracasso, deveriam estar abstraídos na reza. Esses risos sufocados à surdina espicaçaram-me a alma, infelicitaram-me para todo o sempre, e machucaram tanto que até hoje eu ouço, vagos, indistintos, con-fusos, baralhados na penumbra prazível e delicada da saudade, aqueles risos em murmúrios, ásperos, funestos, aziagos, que perduram magoando na ine-xorabilidade dos tempos, quais fl echas envenena-das a trespassar-me as lembranças daquela noite sinistra e malfazeja. Doeram-me apenas os joelhos naquela noite infeliz. Doem-me na alma, hoje ainda, aqueles risos mastigados e aqueles velados mote-jos, mais de cinquenta anos depois!...”

Ibicaré - 2011Ibicaré - 2011

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grega, entre outros signifi cados, tem o de “abominá-vel” que, por sua vez, na etimologia latina, inicia com “que inspira aversão”. Desnecessário prosseguir.

Confesso que fi quei um pouco chateado. Por isso, resolvi conversar com colegas de turma, que tive-ram à disposição os mesmos livros que eu na biblio-teca, para saber qual a sua (deles) impressão. Além das lembranças das noites de leitura da adolescên-cia, nas salas de aulas e de estudos em Ibicaré e em Pira, e de livros dos quais já não se lembravam, recordaram também as noites de infância, quando ouviam as histórias narradas por suas mães, à luz dos mesmos candeeiros de querosene.

Aí fi quei me perguntando: será que essas outras pessoas, no tempo de seminário, não liam nos seus horários de leitura de lazer? Não “perdiam tempo” com essas coisas de criança? Como a opção para esses horários eram apenas a leitura ou o estudo, deviam ser pessoas muito estudiosas, operosas e industriosas, que aproveitavam todo o seu precioso tempo disponível para mergulhar nos livros didáticos e aprofundar seus conhecimentos das ciências hu-manas, indiferentes ao prazer lúdico da leitura. Além disso, quando colegas insistiram para que eu tam-bém colaborasse com o Boletim da Associação com minhas recordações, entendi que fossem lembranças do tempo de seminário e suas conseqüências para a vida. E como o mundo dos livros foi uma importantís-sima descoberta para mim, considerei relevante este assunto para objeto inicial de meus escritos.

E lembro ainda, citando o autor predileto para esta redação, o professor Daniel Pennac, que entre os direitos do leitor não está o de criticar o escritor. Não que o leitor não possa ter opinião sobre o que leu. Deve ter, sim. Mas o leitor que não gostou, não deve ter entendido o autor. Não conseguiu entrar no seu pensamento. Mas outros conseguem. E a leitu-ra, como todos sabem, é uma simbiose entre o autor e o leitor. Nesse momento de interação, não há mais ninguém entre eles. É um momento só deles, egois-ticamente excluindo tudo e todos que não sejam o pensamento e a imaginação do leitor, em consonân-cia com o pensamento e a imaginação do autor.

Não entendeu? Não gostou? Não tem problema. Não se acanhe. Deixe de lado e vá para outros arti-gos e assuntos. E eu vou voltar a escrever sobre as minhas recordações livrescas do tempo do seminá-rio. Mas isso no próximo Boletim. Para este, basta o que está acima. Até o próximo.

Marco Rossoni F° (1961/1967)

á algum tempo, li um artigo intitulado “A Dor de Não Saber o Bastante”, ou algo parecido. Tratava

ele do turbilhão de informações que nos cercam e nos massacram diariamente, e da impossibilidade de tra-tarmos e processarmos todas elas. Então, a difi culdade que se coloca hoje é, antes de mais nada, a nossa capa-cidade de separar o que nos interessa do que pode ser deixado de lado. Ou, então, a clássica distribuição trina: o necessário, o útil e o supérfl uo. O que é essencial, indispensável, e que precisamos reter; o que poderá ser-nos útil, mas pode esperar; e o que, mesmo sendo agradável, pode ser dispensado sem maiores prejuízos.

Então, em nosso tempo, é preciso escolher o que ler. Não só o necessário e o útil, mas também algum supérfl uo. Este principalmente por que nos dá pra-zer. E nós precisamos sentir prazer, até para nos dar coragem e alimentar a nossa dedicação ao essencial.

Entre as leituras prazerosas para nós, ex-alunos MSC, está o Boletim Informativo da Associação, que chegou ao seu glorioso número 116 em março próxi-mo passado, graças aos esforços de muitos redatores e, essencialmente, à dedicação do incansável coorde-nador, João Baptista Gomes, ora acumulando a pre-sidência da associação. Mas, mesmo neste Boletim, também temos o direito de escolher o que ler, e não devemos perder tempo com o que não nos agrada.

Em defesa dessa escolha do leitor, invoco o DI-REITO DE NÃO LER, o primeiro mandamento do de-cálogo dos Direitos do Leitor, tão bem colocados e analisados pelo pedagogo e romancista francês Da-niel Pennac, em seu livro “Como um Romance”, pu-blicado como volume 722 da Coleção L&PM Pocket, em 2008. O leitor decide que não vai ler, e pronto.

Respeitando esse direito de todo leitor, recomen-do àquelas pessoas que não gostaram do meu últi-mo artigo, e que, por engano, chegaram até aqui, que parem de ler este, e que sigam procurando os assuntos que lhes agradam, nas outras páginas des-te boletim, que acolhe artigos para todos os gostos e de todas as turmas de ex-alunos. Busquem apenas o que lhes agrada ou que conseguem compreender ou que lhe falem ao coração. Não percam tempo com coisas desagradáveis. Nesse sentido, lembro que a maioria dos escritores e leitores do Boletim já passou da metade da vida, e que não tem mais tempo a perder com assuntos que não lhe são pra-zerosos, tais como discussões para salvar o mundo, assembléias intermináveis, reuniões para marcar outras reuniões, e leituras que não deleitam.

E aqui, invoco o meu DIREITO DE ESCREVER. Meus artigos não ofendem nem melindram ninguém. São escritos com base nas minhas memórias e com a intenção de avivar outras recordações de colegas que leram. De acordar a saudade daquela leitura, de des-pertar o desejo de reler, de buscar aquele livro nas bi-bliotecas ou nos sebos, como tenho feito. De recriar, nos vetustos leitores de cãs rarefeitas, a vontade de reviver alguns momentos agradáveis da adolescên-cia, quando ainda imperava a imaginação aventures-ca. E são escritos identifi cados com meu nome. Não preciso me esconder sob pseudônimo ou anonimato. Até porque anônimo, segundo Houaiss, da etimologia

Sobre o direito de não lerSobre o direito de não ler

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Tristes tragédias IITristes tragédias IIWolf Von Zarnen (49-54)

ada de confi dências em meu tempo de seminário. Cada qual mantinha mudez

de túmulo. Nada se dizia. Nada se comentava. Guardava-se para si tudo quanto se pensava. Abrir-se sem reservas só com o confessor. Até mesmo com o Padre Superior persistiam certos retraimentos. Éramos como ilhas per-didas no meio a oceano repleto de ilhas re-motas.

Não me lembro, pois, da menor referência ao terror que o padre Donato dissemina-va por toda parte. Nem antes de sua partida, nem depois dela. Nem precisava. Mais elo-quente que as palavras, ele vinha estampado na fi sionomia de cada um.

Voltei à Escola Apostólica doze anos após minha saída. Não encontrei ninguém de mi-

nha classe. O mais próximo era o Altran com quem tivera ótimo relacionamento por quatro anos. Vinham, a seguir, o Cardoso e o Sarmen-to bem anteriores a mim. Conversei longa-mente com o Altran. As primeiras confi dências só agora permitidas. Fez inúmeras referências sobre o assunto em pauta. Falou sobre os epi-sódios sucedidos com o Paulo Apóstolo, Flávio Migliáccio e Cardoso. Lembrei-me que o padre Adão havia lido em classe um belíssimo conto intitulado “O menino e as rosas”, escrito pelo Flávio em idade tão precoce.

Contou-me o Cardoso o que lhe acontece-ra. Horrorizei-me com a injustiça de que ti-nha sido vítima. Informaram-nos, nessa oca-sião, que o padre Donato tinha sido removido em virtude de forte pressão dos escolásticos sobre o Provincial.

O que era motivo de comentários nessas reuniões de agosto extravasou para as pá-ginas do Boletim Informativo. O primeiro de

que se tem notícia, salvo engano, foi o do Al-berto Maria da Silva em “O meu amigo João Cardoso”, a que se seguiram o do João Bap-tista Gomes em “A profecia do padre Léo” e, fi nalmente, o do Ézio Américo Monari, em “Triste Expulsão”. Todos textos bem produ-zidos que espelham com cabal fi delidade a rotina daqueles tempos. Vale a pena uma ou outra transcrição:

“Concluí que eu não era bem visto pelo padre Donato que vivia pegando no meu pé. Não era, pois, seu protegido. Veladamente, era uma perseguição”. (Alberto Maria).

“Foi esse o pequeno problema. Agora vem o grande: o padre Donato! Quem o conheceu sabe. A grande maioria dos alunos “convida-dos” a voltarem para casa deve essa iniciati-va a ele. Nesse assunto, ele sempre mandou mais que o padre Superior.” (João Baptista Gomes)

“Teve que ouvir de pé durante longo tem-po a sua sentença de morte. Essa cena me marcou profunda e amargamente. Fiquei sa-bendo posteriormente que toda essa situação fora criada pelo padre Donato. Ele era sim-plesmente temido e usava de sua autoridade professoral e sacerdotal, fazendo da batina uma farda de polícia a que todos amedronta-va, excetuando alguns que ousaram peitá-lo, mas pagando um alto preço.” (Ézio Monari)

Numa das reuniões a que compareci, ao chegar ao seminário, soube que ele estaria presente. À tarde, depois da deliciosa peixada, deu-se o primeiro encontro. Não quis revê-lo, embora nunca lhe tivesse conservado raiva, rancor ou mágoa. No sermão da missa ves-pertina, em infeliz analogia, veio a primeira alfi netada. Escusado reproduzi-la. Continuava o mesmo. Em nada mudara. Difícil despir-se de hábitos há tanto tempo arraigados. Previ-sível que, na reunião da noite, adviriam novas farpas contra os desistentes, “les défroqués”. Para mim bastava. A confraternização perdera a graça. Cantando o saudoso “Lembrai-vos” a plenos pulmões, ganhei a rua sem despedida alguma. Entrei no carro e dirigi-me à casa de um colega de turma.

Algum tempo depois, rumamos para um lugar já de mim conhecido, o “Ponto Chic”, onde “ la jeunesse dorée” costumava reunir-se nas noites de sábado. Entre uma cerveja e outra, um petisco e outro, o papo descontra-ído rolou noite a dentro. Choveram reminis-cências de pessoas e fatos. Fomos os últimos a deixar o local.

Anhanguera quase deserta, envolta no cla-rão do luar. Momento propício para a medi-tação e devaneios. Já próximo ao meu desti-no, o céu iluminou-se de borrões vermelhos e dourados. Arrebol na natureza....Arrebol na minha alma.... Para trás fi caram as lembran-ças de tristes tragédias.

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ão é exage-ro: ele foi o

avô que não tive. Vovô Pedro

(pai de mamãe), homem alto, for-te, pesadão, for-mal, imponência de um Czar Rus-so, catolicíssimo, separou-se de minha avó, logo

nos primeiros anos de casamento, deixando-a com três fi lhos pequenos para criar. Viveu sozinho a vida toda. Sua presença, nas poucas vezes em que visitava os fi lhos e netos, não era agradável: sem-pre ocasionava briga na família. Eu, sempre que possível, fugia dele como o diabo da cruz, pois morria de medo daquele homenzarrão. Em minha cabeça de criança, uma das coisas que se grava-ram dessas poucas visitas foi o seu sestro estranho e, ao mesmo tempo, engraçado de sempre (fosse qual fosse o assunto) começar as frases com a ex-pressão “Pois é... com efeito...”. Ficou sendo para mim o “Vô Pois é... com efeito...”. Nada mais.

Já Vovô Adolfo (pai de papai)... não! Não me metia medo. Diferente do outro, este era de esta-tura mediana, magro, rosto arredondado, óculos de grau forte, jornalzinho embaixo do braço, cara de sacristão, mas, com uma mitra e um báculo, levaria jeito de Cardeal. Chegou a estudar com os padres salesianos no Colégio São Joaquim, em Lo-rena-SP. Também catolicíssimo, todo Concílio de Trento. Era homem de pouca conversa, mas tinha lá suas fi losofi as e seu vernizinho de cultura, o que, às vezes, até lhe propiciava arengar um pouquinho sobre a “Súmula” de Santo Tomás com algum ou-vinte mais paciencioso. Homem de fé e de fi lhos, muitos fi lhos. Ficou viúvo com uma dúzia deles, pequenos, uma escadinha. Casou-se novamente. Como (acho eu agora) a tabelinha anticoncepcional do método Ogino-Knauss não funcionara bem no primeiro casamento, ele resolveu testá-la no se-gundo e ... o resultado não foi menos auspicioso: teve mais treze fi lhos com a segunda esposa, o que comprova que nem sempre quem é bom na cultura o possa ser também no cálculo e no tino comercial e administrativo, já que, ao morrer, ha-via deixado hipotecado o seu único e precioso bem: um pequeno sítio em que morava em Pedralva (MG). Sobrou para a viúva uma imensa prole e um tremendo “miserê”. E aquele dito popular “onde come um, comem dois”, para a minha avó paterna, se, antes de seu casamento, era um verdadeiro “truísmo”, depois da morte de meu avô, passou a ser uma terrível balela. Não sei como ele arranjava tempo para suas leituras com vinte e cinco fi lhos berrando-lhe no ouvido o dia todo.

Desse prolífi co e falido avô tenho poucas, mas

Pe. Adriano Van Iersel,meu avô

boas lembranças... Ele poderia ter sido o avô dos meus sonhos, mas vi-o raríssimas vezes; tinha lá também muitas manias, além de ter muitos fi lhos, claro! Uma delas é que era um germanófi lo de car-teirinha. Na 2ª. Grande Guerra, muito a contragos-to, aceitou a ida de um fi lho, como pracinha, à Itá-lia, para lutar contra a Alemanha de Hitler. Ele, getulista roxo, chegara ao cúmulo de defender a Alemanha e o nazismo, em intermináveis e homéri-cas discussões com o nosso querido Pe. José Willing (MSC), quando se encontravam nas missas lá em Wenceslau Brás. E todos sabem: Pe. José Willing era alemão. Paradoxalmente, temos aqui um belo qua-dro: o Padre alemão defendendo Churchill e os alia-dos, e Vovô Adolfo, descendente de português, de-fendendo o “Führer”, seu xará nazista.

Visto, então, que, concreta e efetivamente, não tive avô, resolvi adotar como tal o bom e velho Pa-dre Adriano. E isso aconteceu logo no meu primeiro dia de seminário, pois já, nesse primeiro dia, che-guei sendo um problema para os padres: eles não sabiam o que fazer comigo, pois, como eu estudara num paiol de milho lá na roça, não tinha nenhum documento que comprovasse minha escolaridade. Num ir e vir de Anás-a-Caifás, Pe. Mário Pennock, o diretor, me mandou ao Pe. Adriano pedindo-lhe uma sugestão. Este me devolveu àquele, sugerin-do que eu passasse um mês na sala da Professora Dona Lurdinha Coelho (5º. ano primário, antiga admissão ao ginásio), onde seriam testados meus conhecimentos. Um mês depois, Dona Lurdinha me devolveu ao Pe. Adriano, sugerindo-lhe que eu po-deria entrar na la.série ginasial. Este não se fez de rogado; imediatamente, como já ia mesmo para a primeira série aplicar uma prova de Francês, me le-vou junto para fazer a prova também. Nem é preci-so dizer o fi asco por que passei. Eu, que não enten-dia patavina de língua alguma, tive que traduzir dez frases para o Português. Errei tudo. Havia coisas na prova que eu traduzia mais ou menos assim:

“Le lion est le roi des animaux” = o leão e o rei desanimaram.

“La mère du maire est tombée dans la mer” = a mãe.......(deixei o resto em branco porque achei que estavam xingando a mãe).

“Le garçon a mis un joli collier de perles autour du cou de Madame Perrette” = ...............(Deixei em branco também porque achei que era uma pe-gadinha com palavrão).

Enfi m, um grande fi asco! No começo da noite, Pe. Adriano me chamou e me mostrou a prova toda riscada em vermelho:

- E aí, menino? Então você não conhece o Francês?- Padre, o único Francês que eu conheço é um

cara que é plantador de batatas lá pros lados da Ponte de Santo Antônio.

- Não, não! Refi ro-me ao Francês castiço, ao Francês de Lamartine, ao Francês de Molière!

- Padre, me desculpe, se ele é castiço eu não

Raimundo José Santana (1954-1961)

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sei; sei que ele é sozinho, solteirão e esquisitão; o pessoal até comenta, lá na roça, que ele não é muito chegado em mulher não, que ele, com aque-la boininha azul-marinho, até leva jeito de “venti-lado” e, além do mais, é “fugido” de guerra e que ele toma “Martini” sim, mas o de que ele gosta mesmo é de cachaça!

O Pe. Adriano, a essa altura, ameaçou um sorri-so, franziu o sobrolho e, coçando ora o queixo, ora aquela enorme barriga octogenária, me disse:

- Menino, a partir de amanhã, você terá uma hora de aula aqui no meu quarto. Acho que, em quinze dias, você já estará pronto para poder acompanhar a turma do ginásio.

A partir daí, defi nitivamente eu o adotei como avô. E não deu outra: ele estava certo. Quinze dias depois, realmente, eu já estava integrado na 1ª. Série do Ginásio. Durante sete anos ele não foi ou-tra coisa para mim: foi meu avô e acumulava as funções de Superior, Ecônomo, Confessor, Enfer-meiro e Professor de Inglês, Francês e Matemática. Foi meu avô! Um rechonchudo e octogenário avô! Sempre disponível! Um pé-de-boi no trabalho, dis-ciplinado como um soldado prussiano e humilde como um S. Francisco. Homem de ação, do traba-lho duro. Seco, sem pieguices, sem dons artísticos, “gostava de carregar o piano”, como ele mesmo costumava dizer. Talvez eu esteja errado, mas, na época, nos momentos de oração coletiva, sua pre-sença nunca me inspirou aquela unção religiosa tí-pica de beatos em êxtase. Ele nunca foi um beato. Pelo contrário, ali no Ofício Divino, de sua fi gura discreta e racional emanava a fortaleza de um ho-mem sério, honesto e confi ável, cuja objetividade e disciplina eu admirava tanto. Ele era o exemplo a seguir. Nada de muita chorumela! “Age quod agis”, como diziam os jesuítas (Faze bem feito o que deve ser feito). E pronto! Pelo exemplo e pelos ensina-mentos foi, talvez, o padre que mais me infl uen-ciou na vida. Suas frases latinas, repetidas à exaus-tão, até hoje me martelam os ouvidos:

“Aquila non capit muscas” (A águia não apanha moscas)/

“Ex ungue leonem” (Pelas unhas se conhece o leão)/

“Non scholae sed vitae discimus” (Não aprende-mos para a escola mas para a vida)

“Fabricando fi t faber” (E´ batendo o ferro que se torna ferreiro)/

Apesar do acúmulo de serviço, sempre era o primeiro padre a entregar as provas e as tarefas corrigidas. Com aquele seu tradicional gorrinho de forma quadrangular, aquela sua batina preta, surrada, salpicada de giz e de caspa, aquelas suas botinas pretas rangedoras, aproveitava qualquer tempo livre para, pelo pátio e pelos corredores, rezar o breviário. Certa vez, mani-festei-lhe a vontade de decorar em Francês e Inglês todas as orações do dia-a-dia: Pai-Nosso, Ave-Maria, Credo, Salve-Rainha etc. Não é que ele teve a pachorra de copiar, em meus cader-nos de exercícios, com aquela sua mão pesada e letra calcada, todas as orações solicitadas? Não lhe seria mais fácil me emprestar os livros para

que eu mesmo as copiasse? Isso era ou não era coisa de avô?

E o dia em que o João Lourenço, lá de Delfi m Moreira, me deu uma cama-de-gato numa partida de futebol e eu, ao cair de mau jeito, acabei que-brando o braço esquerdo? Que fez o Pe. Adriano ao ver-me carregado pelos colegas? Eu uivava de dor, com o antebraço solto em forma de “S”. Ele, pouco ortodoxo, muito frio e prático, puxando-me pela mão esquerda, endireitou-me o braço numa tipóia improvisada, me fez beber dois copos de vinho tinto e pediu que me levassem para a cama, asseguran-do a todos que, no dia seguinte, estaria tudo bem. Uma ova! Passei uma noite de cão de tanta dor! Só no outro dia cedo é que o Sr. Luís (o “factótum” do IPN) me levou de charrete até ao Dr. Cavi, no cen-tro da cidade, para o engessamento. Ao me ver, mais tarde, com o braço engessado, o bom velhinho ironi-zou: “Não disse que hoje estaria tudo bem? Pergite animo, milites, per aspera ad astra!” (=Coragem, soldados, pelos caminhos difíceis podemos chegar aos astros!) A tal da praticidade dele tinha esses lan-ces curiosos. Dona Benedita, a cozinheira, certa fei-ta, reclamou que estava faltando lenha na cozinha. Não é que o Pe. Adriano, com toda aquela sua gor-dura e idade avançada, vai para o pátio e, de macha-do em punho, converte em achas e gravetos alguns mourões secos espalhados ali nas imediações?

Essa sua humildade e disposição para o trabalho me encantavam. Por isso, um dia, quando soube que ele estava doente, acamado, não acreditei. Corri ao seu quarto para lhe oferecer meus présti-mos e qual não foi minha surpresa ao abrir a porta?Ele estava chorando. Fiquei pasmo e des-montado, completamente sem ação. Confesso que, até hoje, essa cena me é bastante viva. Nunca vi meus avós biológicos chorarem. No entanto, vi esse meu avô adotivo em prantos; ele, que para mim, era a “Lei e os Profetas” e encarnava a segurança de uma torre de marfi m, estava ali em prantos! Por quê? É uma pergunta para a qual, até hoje, não encontrei resposta. Será que ele teria tido um pesa-delo e teria acordado quando entrei porta adentro? Teria reconhecido, então, a mentira das visões que o tinham apavorado e, agora, acordado, (quem sabe num choro de alegria) estaria dando graças a Deus que permitia que a vida fosse menos cruel que os sonhos? Ou seria já um prematuro medo da morte? Morte distante de sua pátria, de seus fami-liares? (Se é que os tinha ainda vivos lá na Holan-da). Ou, quem sabe, o peso da solidão, numa noite escura de dúvidas, de torpor na sua vida religiosa? Não sei... Sêneca costumava dizer que “os que so-frem têm um desejo terrível de chorar”. Mas que sofrimento foi esse? Não sei...

Sei que, na fi gura desse Padre, encontrei a en-carnação verdadeiramente santa da caridade ativa, um ar dinâmico, positivo, indiferente e brusco de cirurgião apressado, uma fi sionomia, talvez, em que não se pudesse ler nenhuma comiseração, ne-nhum enternecimento diante da dor humana e que, no entanto, era, usando uma expressão de Proust, “ a fi sionomia sem doçura, a fi sionomia antipática e sublime da verdadeira bondade”.

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As sessões Literomusicais

Cláudio Carlos de Oliveira - 1959-1965

ossos educadores, no seminário, tinham grande interesse em nos oferecer forma-

ção cultural sólida. Formação essa concretizada pelas muitas horas de aula e estudo das línguas clássicas, Latim e Grego, e também das línguas modernas, Português, Francês e Inglês. Havia, além disso, o cultivo das artes da Música, tan-to a instrumental, como a coral, lideradas pelo polivalente Padre Gusmão, e do Teatro, tendo à frente o dedicado Padre José Maria.

Essas atividades culturais e educativas re-vestiam-se de caráter solene, quando todos nós éramos convidados a descer até o Salão Nobre para assistirmos a uma Sessão litero-musical, preparada pelos padres e alguns alu-nos. Era a oportunidade que tínhamos de ouvir música clássica ao piano, tocada, algumas ve-zes, a quatro mãos, pelas duplas ainda lem-bradas por nós, Padre Gusmão e João Costa Pinto ou Padre Gusmão e Laudenir Godoy Pa-vão. Ao lado da música, reservavam-se mo-mentos para a arte da declamação de textos da Literatura Latina, como as Catilinárias e, por que não, da Literatura Brasileira, como o Navio Negreiro, de Castro Alves.

Contrapondo um pouco ao espírito clássico da sessão, esporadicamente, eram lembrados, com certa comicidade, momentos ou fatos pito-rescos do cotidiano recluso do seminário, com a apresentação de um Jornal Falado pelos irreve-rentes Benedito Carneiro e colega, ambos vin-dos de Itajubá. As peças teatrais, por serem de duração mais longa, geralmente, eram exibidas em outras noites reservadas exclusivamente a elas. Nessas oportunidades, ocupavam a pla-téia, os alunos, muito raramente familiares dos alunos, os padres e irmãos, na maioria, impor-tados da Holanda, que, fumando seus insepará-veis charutos ou cachimbos, inundavam o am-biente com fumaça leve e odor característico.

Esses eventos culturais, ao lado de outros como a Academia Pio XI, longas horas de leitura obrigatória e momentos de leitura livre, ouvindo os clássicos na sala de música, criaram em nós o gosto pela cultura e humanizaram nosso ca-ráter, aguçando-o para apreciar o belo e o bem, como acreditavam os gregos, na antiguidade.

á anos recebemos em casa o Inter-Ex, sempre agra-dável e freqüentemente renovado. Leio todas as pá-

ginas procurando entender as entrelinhas e os suben-tendidos que são freqüentes e não menos interessantes. Parabéns aos redatores, louvor aos articulistas. Alguns dos nossos amigos, que têm muita capacidade, nunca escre-veram. Quantos fatos interessantes de suas experiências poderiam contar! Por que não imitar estes milhões de in-ternautas do Twitter, Orkut, Facebook, que separam um pouco de tempo para comunicar-se com conhecidos? Já outros escrevem sempre e, às vezes, até se estendem. Provavelmente alguns alunos, assíduos leitores de Boileau, me incluirão neste número: touché! excusez-moi: valeu a intenção. Desta vez, tentarei passar para o papel lem-branças que guardo do dia de Finados em Pirassununga. Histórias de colégio, mas que oferecem oportunidade, “a propos”, para lembrar fatos curiosos vistos, vividos, sofri-dos. Falhas na memória são certas. Tentarei minimizá-las.

Foi nos anos pré-concílio quando havia demasiados dias santos, e mais outros ainda, que o povo do interior guarda-va religiosamente. A Festa de Todos os Santos, por exem-plo, era um dia santo de guarda (não é mais). Signifi cava para nós a obrigação de assistirmos duas missas. A pri-meira, rezada às sete na capela interna quando cantáva-mos cantos avulsos. A outra acontecia às nove horas. Todo mundo subia ao coro da capela do Rosário para uma missa cantada em canto chão ou na forma polifônica. Ah! Saudo-sos Mestres Orestes Ravanello e Dom Lorenzo Perosi! Até os nomes destes compositores italianos são melodiosos. Em geral os rapazes não achavam ruim, mesmo porque no resto do dia haveria feriado e talvez até algum passeio à tarde, andando pela cidade ou pelos campos ao redor. A novidade desta vez foi o aviso que ouvimos: ‘amanhã iremos ao cemitério cantar na missa que o Superior cele-brará. Então: ensaio hoje às duas e meia no salão nobre.” Nosso maestro, Pe. Mário Pennock estava viajando. Outro professor, Pe. Henrique Alofs, que lecionava francês e tam-bém tocava um pouco de piano, em ocasiões como esta, é ele quem dirigia o coro do seminário. Curiosidade: sendo este religioso um entusiasta da música clássica, dizia que, para perceber “les nuances”, se fazia necessário ouvir a música bem alto. E agia exatamente assim na sala de re-creio dos padres em Itajubá (IPN), quando colocava seus discos preferidos. Nossos colegas que conversavam ou jogavam baralho fi cavam incomodados com o volume do som. Compreensivos, no entanto, nada lhe diziam. Olha-vam com bom humor o Alofs em êxtase, olhos cerrados, mímica no rosto, gesticulando levemente ao compasso de um Mozart ou Chopin.

Eu estava cursando a primeira série, chamada “Sexta”. Com doze anos, qualquer novidade me era bem vinda. O vigário da paróquia, Cônego Francisco Cruz, alegando do-ença, havia pedido que um padre da Raia o substituísse na missa de defunto marcada para as nove horas. Anos depois, percebi, chateado, como “doenças” são excelente

FinadosAlberto José Antonelli

(1945/1949)

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21desculpa para algum dos meus superiores, religioso, pároco, ou Bispo, se omitir de uma obrigação mais cansativa, e pedir que eu o substituisse. Nesta tar-de, às duas horas, no refeitório, comemos biscoito e mais alguma fruta, saímos para o recreio e logo fomos chamados para o ensaio de canto. Maiores e menores juntos, distribuíram-se folhas impressas em stencil, com aquela tinta nojenta que nos suja-va as mãos. Em números e letras (sistema antigo usado pelo seminário), podíamos ver escrito o can-to a duas vozes: ’Cor dulce, cor amabile”. Era uma canção difícil, já ensaiada em outras ocasiões, mas nunca executada. Pe Henrique comentou que preci-sávamos fazer bonito diante do povo e principiou o ensaio. Uma tentativa, mais tentativas, as vozes não se engrenavam. O maestro insistia e começou a fi car nervoso. Tentamos de vários modos e não funciona-va. Conhecíamos muitos outros cantos de missa, mas este nunca tinha dado certo. Pe. Alofs perdeu a calma conosco e repetiu bravo algumas vezes: “vamos, se esforcem! Vocês não prestam atenção!”. No fi m, can-sado, irritado, olhos fuzilando, mandou-nos embora. Assim que subimos ao pátio, o Irmão Francisco apa-receu. Ia acompanhar os menores para um passeio até a cidade, quando ofereceu-nos sorvete que fomos tomar no Ponto Chic. Várias vezes estivemos neste restaurante, situado na esquina em baixo do jardim central, para comer ou beber alguma coisa. Talvez por causa do nome, ou pela localização, este restaurante tinha fama de ser “the point”, um local preferido pe-los jovens da cidade. Também nossos rapazes, quando podiam em dias de visita, ou aqueles que estavam na Retórica e tinham mais oportunidades de sair, para lá se dirigiam. Inaugurado em 1939, isto é, cinco anos antes deste fato, o estabelecimento, com difi culdades fi nanceiras, passou por meia dúzia de proprietários di-ferentes, cada um fazendo melhorias, mas conservan-

"O tempo passa..." - IPN 1962 - Rio Sapucaí

do o nome tradicional. Até que chegou o dono atual, mais hábil em administrar, e que fi nalmente conseguiu se manter lá há já algumas dezenas de anos. Quando posso, ainda hoje aí vou consumir alguma coisa. Duas décadas mais tarde, nos anos em que fui professor no Instituto Padre Nicolau, pudemos conviver com um Pe. Henrique Alofs diferente: colega gentil, um tanto quanto desequilibrado (inclusive porque sofria de labi-rintite), interessado em tudo, calmo, com alguns laivos de revolucionário. Mas às vezes percebia-se que por baixo das cinzas adormecidas, jaziam as velhas bra-sas que conhecêramos como criança. Teve vida longa: faleceu em 1987, com 79 anos. Foi de férias à Holan-da e não mais retornou. Passou os últimos vinte anos ajudando em paróquias, ensinando português aos que vinham ao Brasil, fazendo viagens, lendo e escreven-do, sempre curioso, querendo participar da comuni-dade. Em homenagem, hoje fazemos uma despedida na linguagem da sua querida Rotterdam: “Hallo, mijn vrienden, goede middag!”

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Afonso Peres da Silva Nogueira

lhos sonolentos. bocejos... “Introibo ad alta-re Dei.” “ Ad Deum qui laetifi cat juventutem

meam.” Era o início da Santa Missa. Lá fora, as roli-nhas arrulhavam, os sanhaços cantavam e o bem-te-vi fazia fofocas. A mente sonolenta estava lá. Lá, com os pássaros nas mangueiras. Ali dentro da Capela, as coisas se passavam maquinal mente. A Santa Missa se desenrolava com muito pouco ou nenhuma unção.

Assim se passavam minhas férias no sítio São José do Barrocão. A gente era muito moço. Jovem... Queria ser padre. Estudava para ser padre. Vivia ex-

A Capela do Sítio

teriormente como padre, mas o coração ainda es-tava no mundo, imbuído das coisas do mundo. Ano após ano. Férias após férias. A Retórica... Férias em casa. Noviciado. Votos e Filosofi a. Fim... Após um ano e meio na Filosofi a, houve um ponto fi nal e mui-tos anos se passaram até 2001.

Voltei ao Sítio São José do Barrocão. Voltei à ca-pela! Não ouvi mais a saudação latina, mas também não ouvi, ou melhor, não quis mais ouvir as rolinhas, os sanhaços e os bem-te-vis. Olhos cansados, corpo fragilizado. Undécima hora... “Vinde à minha Vinha!” Era o Cristo que passava uma vez mais na minha vida com sua imensa Misericórdia. Olhos fi xos no Altar. As palavras penetrando fundo em meu coração. Olho a cruz. Olho o Cristo e os versos do Sebastião Mariano vêm-me à mente, embargam-me a voz: “Seu abraço na Cruz esboçado, mas sustado por cravos renhidos, quer o Mestre por nós completado em amplexo aos irmãos desvalidos.”

Continuo olhando a cruz sobre o altar. Quanta se-renidade! Que postura! Somente um Deus. Deus que carrega sobre si os nossos pecados, Deus que pede perdão por nós ao Pai: “Não sabem o que fazem.” Deus que entrega sua própria mãe para ser também a NOSSA MÃE. Deus que exclama: Tudo está consu-mado, em Tuas Mãos entrego Meu Espírito... Deus que tem certeza da RESSURREIÇÃO.

A dor no peito é grande. Grande a emoção ao re-ceber na Eucaristia o Cristo vitorioso, o Cristo ressus-citado. O Final da Missa. Todos saem. Vamos prepa-rar-nos para o churrasco. Todos querem ver o boi no rolete... Quieto, aconchegando o Cristo recém-rece-bido, vou até o carro. Uma idéia! A máquina fotográ-fi ca. Tiro uma foto daquele altar. Outra da cruz. Essa será a maior lembrança, a única verdadeira que vou guardar daquele 55º Encontro dos Ex-alunos M S C. Tudo: viagem, gastos, cansaço... Tudo ganhou sen-tido. Sentido profundo ao pé daquele Altar, daquela cruz, daquele Cristo, naquela Celebração incruenta da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.

Obrigado, Mestre! Obrigado, por me teres contra-tado ainda uma vez, na undécima hora. Nesta última hora, a mais difícil. Difícil, quando as forças já se estão indo. Agora sei por que a todos pagaste igual-mente com o mesmo valor.

Ibicaré - 2011Ibicaré - 2011

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Gino Crês (1948-1953)

Divagando

Foto histórica - 1956 escolasticado

cada edição que circula o nosso Inter-ex, confi rma-se a condição

de ser autêntico álbum da família MSC, pois as suas vinte e tantas páginas não apenas divulgam fotos que nos velhos tempos movimentaram a nossa vida de ex-alunos, como também trazem recordações e mostram para os mais novos, como era a nossa vida e os reli-giosos batinados nos vários seminários pelos quais passamos.

Assim, dentro do espírito de “recordar é viver”, temos contado com a indispen-sável colaboração do nosso incansável e competente presidente Gomes e de muitos abnegados colaboradores.

Já há algum tempo, recebemos do ex-aluno bauruense, Sérgio Riehl, uma importante colaboração, uma fotografi a mostrando um grupo de batinados (bis-po, padres, irmãos, escolásticos, novi-ços, frater, ex-alunos) em São Paulo, na porta de entrada do Escolasticado, num longínquo mês de março de 1956, pres-tando uma homenagem ao Padre Antô-nio Van Ess por ocasião de sua volta de umas férias na Holanda e de sua nome-ação como Diretor Espiritual do Semi-nário de Pirassununga.

Temos certeza de que muitos cole-gas, ao verem esta foto, viverão inten-samente, um passado repleto de emo-ção e saudade, pois cada batinado traz uma história, uma feliz lembrança.

oto histó ca 19 6 escolasticadoFoto histórica 1956 escolasticado

DivagandoDivagandoCada batina é uma históriaCada batina é uma história

Gino Crês(1948/1953)

1. Pe. Luís Gardinal (+) 2. Pe. Humberto Capobianco3. Pe. Paulo Castro (desb.)4. Pe. Lázaro Sabino (+)5. Lourenço Costa (n.o.)6. Geraldo Magela(n.o.) +7. Pe. César Augusto Machado (+)8. Pe. Amadeu Gusmão (+)9. Pe. Francisco Jansen10. Dom Pedro Paulo Koop (+ bispo)11. Pe. Francisco Paiva(dioc.)12. Pe. Luiz Niewwnhuis (+)13. Pe. Geraldo Paiva (desb.)14. Pe. Agenor Cardim (+)15. Geraldo Lima Silva (dioc.)16. Hélcio de Mello (n.o.)17. Pe. Cornélio Van Gils (+)18. Vicente Brunetta (+)19. Francisco Honório (n.o.)20. Pe. João Batista van de Berg21. Pe. Ézio Monari (desb.)22. Pe. Pedro Verdurmen +23. Pe. Leonardo Hendriks (+)24. Pe. Teodoro Hebinck (+)25. Pe. Antônio Vermin (+)26. Pe. Irineu Benneman (+)27. Nivaldo Bortoliero (n.o.)28. Pe. Lamberto Prins (+)29. Pe. Cornélio Van De Made (+)30. Pe. Luís Figueiredo (+)31. Pe. Albino Diniz (desb.)32. Pe. Xavier Geurts (+)

Relação (números e nomes) dos retratadosRelação (números e nomes) dos retratados

OBS.: Pe. (ordenado padre)Desb. (deixou a batina, desligou-se da Congregação)

(n.o.) Não-ordenado - ? Sem Referências+ (falecido) ? (sem referências)

33. Pe. Durval Chechinato (desb.)34. Pe. Tomás Beckman(dioc.)35. Afonso Peres (n.o.)36. Pe. Geraldo H.Van Rooijen +37. Pe. Leo Leenders (+)38. Pe. Agenor Possa39. Antônio Carlos Ribeiro (dioc.)40. Pe. Graciano Van Westeinde (+)41. Pe. Adriano Van Iersel +42. Irmão João V. de Borne (+)43. Pe. Afonso Bertazzi (desb.)44. Pe. Afonso Ribsamen +45. Ir. João Ter Horst +46. Irmão Estêvão Peters (+)47. Pe. Laureano M. da Cunha (+)48. Pe. Bernardo Ditters (+)49. Pe. Ângelo Cardillo d´Ângelo (+)50. Frater João Bannwart (+) (n.o.)51. Pe. Nélson Sigrist (+)52. Pe. Huberto Van t’ Westeinde (+)53. Pe. Almir Silva (+)54. Pe. Luís Xavier (desb.)55. Pe. José Willing +56. Antônio Beckman (n.o.)57. Mauro Pasquarelli (frei trapista)58. Pe. Alberto José Antonelli (desb.)59. Pe. Henrique Roberto60. Pe. Jerônimo Vermin (+)61. Irmão Henrique Forgeron (+)62. Pe. Aloísio Pereira Pinto (+)63. Pe. Francisco Van de Vater +64. Benedito Jones Filho (n.o.)65. Pe. Benedito Tarcísio De Lima66. ?67. Pe. Salvador Andreetta (+)68. Pe.José A. dos Santos (desb.) +

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Carlindo Maziviero (60/71)

EmbromationEmbromation

estudos, no qual os iniciantes martelavam as primei-ras notas. Segundo a interpretação freudiana, aque-

la repetição sistemática e enfadonha dos exer-cícios foi a causa da minha aversão ao

monstro sonoro. O som estridente da-quela besta de madeira tirava-me a concentração das batalhas de Cesar, nas traduções de latim, ou das aventuras de Ulisses, nas tarefas de grego. Estava ai a causa do meu trauma.

Encontrada a causa e justifi cado meu desdém pela música, resta-

me uma preocupação. A ciência afi r-ma que a música e os ritmos são pri-

mordiais na evolução humana e nenhum outro animal será capaz de exe-

cutá-los. Será que eu...

esde o nascimento, estamos em constante bus-ca da felicidade e a música representa uma im-

portante fonte de estímulos e equilíbrio para o ser humano. Ela nos torna mais sensíveis, disciplinados, refl exivos e motivados para a vida. Está em todas as cultu-ras e a musicalidade representa uma vantagem evolutiva presente apenas no gênero humano. A mú-sica une as pessoas. Em nossa formação no seminário, ela tinha capital importância, mas eu nunca lhe dei muito valor.

Sempre fui um aluno, digamos, beirando o razoável. Tirava boas no-tas, passava quase sempre por média, porém, na aula de música, era desinte-ressado. Estudava o sufi ciente para passar de ano, mas não aprendia de verdade. Bastava alcan-çar as notas que me aprovariam para, instantanea-mente, tudo o que havia sido decorado evaporar da minha cabeça. Não tenho orgulho nenhum em contar isso, e me arrependo bastante de não ter prestado atenção pra valer nas aulas do padre Gusmão e de não tocar nenhum instrumento. Mas foi assim. E só fui me dar conta do prejuízo, quando vieram os fi lhos. Projetei neles, minhas frustrações.

Admito que estudei mas não aprendi nada, ape-sar de ter uma memória mediana e uma capacidade de compreensão que não era das piores. Acho lasti-mável o que me restou em termos de conhecimento musical. Apesar dos esforços dos professores, a ma-téria me parecia inútil. No coral, a minha participa-ção era apenas numérica. Além de desafi nado, eu não tinha ritmo. Eu não era o único desprovido des-ses dotes musicais, tanto que formávamos outro co-ral denominado “Bossa Nova”, cujo dirigente era Ir-mão Adriano. Ele, após muitos esforços, conseguiu do Padre Superior autorização para irmos jogar fute-bol ou nadar na lagoa do Rosin, nesse horário. Creio que se o “Bossa Nova” fosse um conjunto de percus-são, com certeza bateríamos fora do bumbo (os mais habilidosos ). Tornamo-nos, contudo, bons ou-vintes nas missas solenes e admiradores dos pianis-tas que se exibiam nas festas.

O seminário nos oferecia, além da formação aca-dêmica, esporte e lazer, oportunidade para desen-volvimento de outros dons artísticos, como teatro (vide Flavio Migliaccio), música e pintura (Ézio Mun-nari) Valorizo e admiro os colegas que desenvolve-ram seus dotes musicais seja para deleite pessoal, para animar reuniões ou que fi zeram disso um meio de subsistência.

Freud, porém, vem em meu auxilio para desven-dar essa apatia em relação ao estudo da música. Havia um piano no porão, embaixo de minha sala de

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Lupo da Gubbio

“Haverá de permanecer a lembrança de sua voz, de seu sorriso, de sua imagem, do seu jeito de ser”.

Com esta frase simples, singela e comovedora, nosso caro articulista, Carlindo Maziviero, encerra o seu belo texto sobre o Irmão Forgeron, no Inter-Ex de núme-ro 115, novembro de 2010. Belo texto mesmo. Muito bem escrito, cativante. Com poucos traços o articulista retratou o saudoso Irmão Henrique Bowman, o famo-so e inesquecível Irmão Forgeron. Nascido na Holanda em 1910, veio para as nossas bandas lá pelo ano de 1937, em junho. Sua primeira nomeação foi exatamen-te para Pira. Fez inúmeras paradas em outros portos da Província Brasileira. Mas a maior parte de sua vida, somando todos os anos, passou em Pira, seu primeiro amor em terras brasilis. E lá está ainda com os restos de sua matéria naquele singelo cemitério em a nossa Chácara, estabelecendo–se aí defi nitivamente no dia 10 de junho de 1979. Mas sua pessoa anda por toda par-te, onde haja um ex-aluno MSC, pois está no coração de todos nós. Foi um homem simples, o que o tornou grande demais. Cativou a todos com aquele seu “jeitão” holandês, franco, decidido, risonho e prestativo. A mim se ligou por uma simpatia especial. Quando já formado, fui nomeado professor na saudosa E. Apostólica. Lá es-tava ele ainda. Não o mesmo. Melhorado, aperfeiçoado. Apesar de brincalhão, sempre tratava a todos e a mim em especial com um respeito mais especial. Seu rosto de criança grande se iluminou sobremaneira naquele dia em que lhe presenteei com uma pequena obra de minha lavra. Levou-a para a Holanda. Fiquei, porém, decepcionado quando em 2006, ao visitar o Reiksmu-seum de Amsterdam fi quei sabendo que a mesma tinha sido substituída pela Ronda Noturna de Rembrandt. A família Bowman a havia readquirido depois de um longo e dispendioso processo na Corte de Haia.

O Irmão Forgeron gaguejava. A causa desse seu tique, segundo me confi denciou o saudoso Pe. Mário Pennock, foi o fato repetitivo de o mesmo Irmão For-geron arremedar certas pessoas (confrades) gagas de nascença. De fato, o hábito faz o monge.

Se eu tivesse um pouco das prendas domésticas de nosso querido amigo Alberto Antonelli, que magistral-mente sabe domesticar as teclas do piano e o preen-chimento correto com “bolotinhas pretas” (no dizer do igualmente saudoso Pe. Aloísio) as folhas pautadas, eu faria numa fúria mozarteana uma paródia do Barbeiro

LARGO AL FACTOTUMLARGO AL FACTOTUMde Sevilha, usando “Rossoni” como pseudônimo, ho-menageando assim nosso exímio colega historiador.

“La ran la le ra, la ran la la…/ Largo al factotum della città! / Presto a bottega (não Ivo Bottega)/Che l’alba è già... / Pronto a far tutto, / la notte, il giorno, / sempre d’intorno / in giro sta.

Qua la parruca, / presto la barba,/qua la sanguig-na, / presto Il biglietto.

Ehi, Forgeron; son qua! / Bowman qua, Forgeron là, / Forgeron su, Bowman giù ./ Pronto,prontíssimo / Ah, bravo Forgeron, / Bravo, bravissimo. / Son il factotum della comunità / A te la fortuna non man-cherà. / Son il fratello della comunità / E tutta la mia carità / A tutti l’offrirà...”

Mesmo nas férias, a rotina das práticas piedosas nunca fora abolida ou interrompida. Uma parte dos alunos estava de férias no Sítio do Barrocão. A outra parte permanecia no seminário, aguardando o reve-zamento. Era o Tempo da Epifania no calendário litúr-gico. As orações antes e depois das grandes refeições seguiam o espírito do ano eclesiástico. A comunidade estava reduzida pela metade, e mesmo assim nos reu-níamos para as refeições em comum. Padres e profes-sores, Irmãos e alunos (os Maiores) se mesclavam ao redor das mesas, quebrando desta forma aquele rigor disciplinar do ano letivo. Tudo era festa.

Em um desses dias de férias todos nós nos congrega-mos para o almoço costumeiro. O Irmão Forgeron cos-tumava sentar-se ao meu lado, pois o nosso bate-papo comum nos unia. Ao iniciar as orações ante prandium a praxis litúrgica devia ser mantida. Isto quer dizer que as orações costumeiras (todas em latim) eram adaptadas ao momento litúrgico, saindo da bitola comum dos dias comuns. Claro que nem todos sabiam de cor as respos-tas latinas, agora diferentes, mas assim mesmo a má-quina engrenava meio aos solavancos.

O Pe. Superior iniciou solenemente as preces ante prandium: Reges Thasii et insularum ex Oriente vene-runt, alleluia, alleluia, ao que todos nós respondíamos: Et adoraverunt Eum, alleluia, alleluia. Era óbvio que os Irmãos Leigos não estudavam latim. Consequentemen-te não tinham obrigação alguma de saber responder em latim. Mas mesmo assim, esses abnegados Irmãos se esforçavam para decorar o que podiam.

Ao meu lado o Irmão Forgeron mantinha-se ere-to como sempre. De acordo com um costume seu, costumava cruzar as mãos sobre a barriga, na al-tura da faixa abdominal da batina e, com os dedos entrelaçados. rodava os polegares em torno de um eixo invisível. Era um hábito seu, tipicamente seu. E enquanto todos nós respondíamos àquela festiva prece da Epifania, ele naquele seu vozeirão plutônico e subterrâneo e muito sério rezava: “E eu também estive lá, aleluia, aleluia.” Repetia isso todas as vezes ao meu lado a fi m de me tirar do sério.

Saudoso Irmão Forgeron, a sua pessoa nos mar-cou. E muito. O seu espírito de “disponibilidade” aí está nos acenando em meio a tanto egocentrismo globalizado. O seu cântico de guerra foram as pa-lavras do evangelho: “O Filho do Homem veio para servir e não para ser servido”.

Sinto que o meu amigo e gurú Sombra já está me fuzilando com seu olhar escuro, das profundezas do abismo. Ultrapassei os limites gráfi cos estabelecidos, e a paciência do Paese também. Desta vez nem ele vai me tolerar. Mas prometo me corrigir para o futu-ro. Igualmente, vou diminuir o tamanho da letra, para caber dentro dos limites estabelecidos. É certo que ler dá azia, segundo um grande estadista nosso.

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ós, oriundos das Minas Gerais, sempre fomos gozados principalmente pelos paulistas, que

nos tinham (ou ainda tem?) como “compradores de bondes”. Mal sabem os “gozadores” o que seja ser mineiro. Por mais que tentem nos conhecer mais, a essência do mineiro mostra suas características e peculiaridades.

No texto em sequência, um dos nossos conceitua-dos escritores, formado na clã dos dominicanos, nos apresenta algumas facetas do “mineiro”, que somen-te quem passou ou vive ao pé ou nos altos de nossas montanhas pode entender. Vai aí a refl exão.

Ser Mineiro “Como todo mineiro é um pouco fi lósofo, há um

mistério sobre o qual venho há anos especulando: “o que é ser mineiro?”

Das refl exões e infl exões que extraí sobre a mi-neirice, muitas delas colhidas em fi losófi cas inscri-ções de rótulos de cachaça e quinquilharias de beira de estrada, eis as conclusões prévias e provisórias, sujeitas a chuvas e trovoadas, a que cheguei:

Ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama; usar sapatos de borracha para não dar esmo-la a cego; sorrir sem mostrar os dentes; tomar café ralo para esconder dinheiro grosso. É desconfi ar até dos próprios pensamentos e não dar adeus para evi-tar abrir a mão.

Mineiro pede emprestado para disfarçar a fartura. Se é rico, compra carro do ano e manda pôr meia sola em sapato usado. Mineiro vive pobre para mor-rer rico. Mineiro não é contra nem a favor; antes, pelo contrário. Mineiro fala de desgraça, doença e morte, e vive como quem se julga eterno. Chega na estação antes de colocarem os trilhos, para não

Walter Figueiredo (51-62)

Ser MineiroSer Mineiro

perder o trem. Relógio de mineiro é enfeite. Pontual para chegar, o mineiro nunca tem hora para sair. A diferença entre o suíço e o mineiro é que o primeiro chega na hora. O mineiro chega antes.

O bom mineiro não laça boi com embirra; não dá rasteira em pé de vento; não pisa no escuro; não anda no molhado; não estica conversa com estranhos; só acredita em fumaça quando vê fogo; pede no açou-gue lombinho francês; só arrisca quando tem certeza e não troca um pássaro na mão por dois voando.

Mineiro fala de política como se só ele entendes-se do assunto; fi nge que acredita nas autoridades e conspira contra o governo; faz oposição sem granje-ar inimigos; gera fi lhos para virar compadre de po-lítico; foge da luz do sol por desconfi ar da própria sombra; vive entre montanhas e sonha com o mar; viaja mundo para comer, do outro lado do planeta, um tutu de feijão com couve picada.

Ser mineiro é venerar o passado como relíquia e falar do futuro como utopia; curtir saudades na aguardente e paixão em serenatas; dormir com um olho fechado e outro aberto; acender vela à santa e, por via das dúvidas, não conjurar o diabo. Ser mi-neiro é fazer a pergunta já sabendo a resposta. É ter orgulho de ser humilde. É bancar a raposa e ainda insistir em tomar conta do galinheiro.

Mineiro fi ca em cima do muro, não por imparciali-dade, mas para poder ver melhor os dois lados. Ca-beça-dura, o mineiro tem o coração mole. Acredita mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias.

Mineiro é isso, sô! Come as sílabas para não mor-rer pela boca. Fala manso para quebrar as resistên-cias do interlocutor. Sonega letras para economizar palavras. De vossa mercê, passa para vossemecê,

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com o manto fi ctício da cordialidade. Mineiro é como angu, só fi ca no ponto quando se mexe com ele. Des-confi ado, retira o dinheiro do banco, conta e torna a depositar. Ser mineiro é fazer cara feia e rir com o co-ração; andar com guarda-chuva para disfarçar a ben-gala; fumar cigarro de palha para espantar mosquitos; mascar fumo para amaciar a dentadura. Mineiro sabe quantas pernas tem a cobra; escova os dentes do alho; teme rasteira de pé de mesa; toma café ralo para en-xergar o fundo da caneca e, por via das dúvidas, põe água e alpiste para o cuco. Ser mineiro é fi ngir que não sabe o que bem se conhece. Mineiro que não reza não se preza. Religioso, na crendice mineira há lugar para todos: o Cujo e a mula-sem-cabeça; assombrações e fantasmas; duendes e extraterrestres.

Pacífi co, mineiro dá um boi para não entrar na bri-ga e a boiada para continuar de fora. Mas, se pisam no calo do mineiro, ele conjura, te esconjura, jurado e juramentado no sangue de Tiradentes.

“Minas Gerais é muitas”, como disse Guimarães Rosa. É fogão de lenha e comida preparada na pane-la de pedra sabão; é turmalina e esmeralda; é tropa de burro e rios indolentes chorando a caminho do mar; é sino de igreja e tropeiros mourejando gado sob a tarde incendiada pelo hálito da noite. Minas é Mantiqueira e serrado, é Aleijadinho e Amílcar de Castro, é Drummond e Milton Nascimento, é pão de queijo e broa de fubá. Minas é uma mulher de ancas fi rmes e seios fartos, sensual nas curvas, dócil no trato, barroca no estilo e envolta em brocados, os-tentando camafeus. Minas é saborosamente mágica.

Mineiro sai de Minas, mas Minas não sai da gente. Fica uma dor forte, funda, farta e fértil, tão impon-derável como o amor místico, onde o coração lateja embevecido por inefável paixão.

Ave Minas! Batizada Gerais, és uma terra muito singular.”

(a) Frei Beto – da Congregação dos Dominicanos

vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunfl exo!

Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro en-tende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: “Pó pô pó?” E o outro res-pondeu: “Pó pô, pô”. Ser mineiro é saber criar bois, fi lhos e versos. É ir ao teatro, não para ver, mas para ser visto. É freqüentar igreja para fi ngir piedade; rir antes de contar a piada e chorar com a desgraça alheia. Mineiro adora sala de visitas encerada e tran-cada, na esperança do deretorno do rei.

Avarento, não lê o jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguin-te para poder ter notícias. Mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado. Praia de mi-neiro é barzinho, restaurante, balcão de armazém e cerca de curral. Ali a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno. Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, freqüen-tar batizados para pedir votos e ir a casamentos para exibir roupa nova. Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos pa-rentes do falecido, mas fi ca horas na fi la de cumpri-mentos para marcar presença. Leva lenço no bolso para o caso de ter de enxugar as lágrimas da família. Não manda fl ores porque desconfi a que a fl ora não cumpre o trato e embolsa a grana.

Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto. É proferir defi nições sem se defi nir. É contar ca-sos sem falar de si próprio. Mineiro é feito pedra pre-ciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem. Mineiro é capaz de falar horas seguidas sem dizer nada. Esconde o jogo para ganhar a partida. Cumprimenta com mão mole para escapar do aperto e acredita que a fruta do vizinho é sempre mais gostosa. Mineiro age com a esperteza das serpentes, mas se veste com a simplicidade das pombas, e encobre suas contradições

Reunião de Ex-Alunos em GuararemaReunião de Ex-Alunos em Guararemaários ex-alunos MSC das turmas de 1980/90/2000 , que iniciaram no IPN de Itajubá, têm se reu-

nido no sítio dos MSC em Guararema, nos últimos três anos. Essa louvável iniciativa deve-se ao Sandro Martins ([email protected]) da turma de 1986. Fez fi losofi a em São Paulo e noviciado em Pirassununga. No primeiro Encontro conseguiu reunir seis ex e já no último de 2010, o número subiu para dezoito. Eis alguns dos que lá estiveram em 2010: Waldir Sabóia, Emílio Souza, Paulo Expedito, Marcílio, Ivandro, Nil-son, Emerson Afonso, Ivonil Parraz, Luiz Carlos da Costa, Tiago da Fonseca, e o novo ex-MSC Mauro Souza. O Sandro informa que se esforçará para levar seu grupo a Pirassununga, no fi nal de agosto.

Também em Bauru, sob a liderança do Gino Crês vêm ocorrendo Encontros há muitos anos, sempre no mês de dezembro e temos notícia que também o Nilo Jorge F da Cruz, lá de Búzios-RJ, pretende co-meçar a reunir o pessoal oriundo do Estado do Rio.

Considerando que todos nós, novos ou antigos, bebemos da mesma fonte e “relembrando que um dia já fomos companheiros de um sonho comum, proclamemos bem alto que somos um por todos e todos por um”, como diz o refrão do hino dos

ex-alunos. Vamos reunir forças e prestigiar os en-contros onde quer que aconteçam, porque somos todos ex-alunos MSC e carregamos no peito aque-le mesmo carisma da Congregação que, de braços abertos, acolheu todos nós.Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos, al-

cançaremos a realização de nossos propósitos.

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João Costa Pinto (1953-1966)

Notícias da Província de São Paulo

Sob o título “Para início de conversa”, o Superior Provincial, Pe. Cortez, falou do Capítulo Provincial, da obediência, tema do próximo Capítulo Geral, que vai-se realizar na Espanha, em setembro próximo. Obediência era o estandarte do beato Papa João XXIII, o qual, como bispo, escolhera o dístico “Obediência e Paz”. E sobre João XXIII, ele acrescenta: “Esse homem atingiu o cimo da obediência aceitando até mesmo mandar.”

Em suas despedida como Provincial, o Pe. Cortez saúda o Pe. Ma-noel Ferreira dos Santos Jr., seu sucessor, em cujas mãos, diz ele, a Província continuará caminhando com vigor e esperança. Com hu-mildade, fala que errou muito e pede perdão a cada confrade e com-panheiro. Ele se dá conta, nos seis anos de mandato, da beleza que existe no seio da comunidade e diz da riqueza escondida no coração de cada confrade. Afi rma ter aprendido com todos os confrades, es-pecialmente os doentes e aqueles que partilharam suas dores, esperan-ças e angústias. Nunca se sentiu só, sempre teve ajuda, compreensão e apoio de todos. É testemunha de que N. Sra. do Sagrado Coração tudo faz na Congregação e que, ela e São José não faltaram em ne-nhum momento, mesmo nas causas aparentemente impossíveis. Fi-nalizando, agradece o apoio da Administração Geral, do Pe. Mark Mcdonald. Agradece aos irmãos de outros grupos MSC no Brasil, aos conselheiros, formadores e membros de cada Comissão, a todos os religiosos, formandos, funcionários e colaboradores leigos.

I N T R O D U Ç Ã O

O Sacramento da ordem

O Sacramento da Ordem (“sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech”)

Dois grandes acontecimentos enriqueceram a Pro-víncia de São Paulo e a Congregação, ambos em virtu-

de do Sacramento da Ordem: a ordenação presbiteral do diácono Mauro Fernando Ferreira e a sagração episcopal do Pe. Agenor José Girardi, MSC.

I - Como anunciado no Boletim anterior, o diáco-no Mauro Fernando Ferreira receberia em breve o Sacramento da Ordem. Foi o que aconteceu em 29 de janeiro, na cidade de Palmeirândia-MA. Pela im-

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posição das mãos do nosso querido Dom Ricardo P. Paglia, mais um diácono foi elevado ao presbite-rato. Estavam presentes os padres Superior Provin-cial, Ribamar Frazão, pároco local, e outros padres da Província de São Paulo e de outras paróquias da diocese de Pinheiro, entre os quais o Pe. Luís Risso e o Pe. Bento Dominici, este último pároco de Pal-meirândia por dez anos. Foi grande a participação dos familiares e dos amigos das cidades de outros Estados onde o ordenando residiu durante sua for-mação e no exercício do diaconato. O Pe. Mauro logo iniciou seu ministério como vigário paroquial em Santa Helena.

II - No dia 25 de março, em Francisco Beltrão-PR, o Pe. Agenor José Girardi, nomeado pelo papa Bento XVI bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre, em solene celebração eucarística na catedral Nossa Sra. da Glória, recebeu sua sagração episco-pal, presentes milhares de fi éis de várias regiões do país, numerosos bispos e arcebispos, sacerdotes, re-ligiosos e religiosas, seminaristas e autoridades, além do Superior Provincial, Pe. Cortez, Dom Fernando Panico, bispo sagrante, e Dom Ricardo P. Paglia. O novo bispo, o terceiro dos MSC no Brasil, esco-lheu “Ametur Cor Jesu” como lema do seu episco-pado e inseriu em seu brasão episcopal, entre outros símbolos, uma cruz vermelha lembrando o sangue dos mártires, um rio, fonte perene de espiritualidade e o Coração de Jesus, motivação de seu ministério pastoral. Iniciou seu pronunciamento já como bispo com a invocação Amado seja por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus. Agradeceu a Deus por suas duas fa-mílias, aquela em que nasceu e a família MSC, que escolheu em sua vocação sacerdotal e missionária. Agradeceu ainda a presença carinhosa dos Leigos MSC. (N.R - Sobre a cidade de Francisco Beltrão, ler NR 2)

O Pe. Ivo Trevisol, celebrou em janeiro seus 25 anos de sacerdócio em Ibicaré-SC, numa grande festa em família e na celebração eucarística, junto com os confrades e o povo da cidade. Ele trabalha em Pari-Cachoeira-AM. “Padre Ivo, siga sendo esse homem que fala de Deus, esse pastor que cuida desses prediletos do Pai, os po-bres. Que sua presença junto aos povos indígenas seja sempre sinal de esperança de dias melhores para este povo tão esquecido. Bendito seja Deus pela sua vida! foram palavras do Pe. Cortez, Superior provincial.

Um sacerdote de prata

Em virtude das No-meações e Transferên-cias-2011: o Pe. Jênis-son Lásaro assumiu a paróquia de Sto. Anto-nio de Itaitinga; o Pe. Abimael F. do Nas-cimento está atuando em Itapetininga e, em

Itajubá, o Pe. José Roberto Bertasi exerce sua nova missão na Matriz da Soledade e ajudando no Santuário N. Sra. da Agonia; em Santa Helena-MA o neossacer-dote Pe. Mauro Fernando Ferreira assumiu como vigário paroquial, na companhia do Pe. Domingos Higino; em Piranguçu já estão atuando o Pe. Nelson Ribeiro de Andrade, como administrador paroquial, e o Pe. Rosário Martins de Azevedo, como vigário.; em Itajubá na comunidade de Vila Vicentina, Igreja N. Sra. Aparecida, está o Pe. Benedito Tarcísio de Lima, que também colabora na paróquia da Soledade. O Pe.

Giberto Gonçalves navegou rio acima até Pari-Cachoeira-AM, terras de fronteira, onde serve ao Reino de Deus. O Pe. Ludovico Laaber está par-tindo defi nitivamente para sua terra natal, Salzburgo, Áustria., após fecundo ministério e lon-

go período de colaboração e apoio à Missão no Brasil e à Província de São Paulo. Completará em 29 de se-

tembro seus 50 anos de vida re-ligiosa. O jovem Carlos Eduar-do dos Santos continua em São Gabriel da Cachoeira-MA, onde está fazendo o Pré-Noviciado, no qual é acompanhado pelos MSC do Amazonas.

Posses

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Escola em Pastoral

Entre os Colégios da Congregação existe hoje mais unidade, graças à união de forças e ao compartilha-mento de necessidades, angústias e desafi os. Sendo escolas confessionais, o espírito de Missão evangeli-zadora se faz presente por meio da educação. Tra-ta-se de tarefa exigente. Uma boa oportunidade de evangelizar é ensinar os princípios cristãos aos alunos, principalmente no Externato N. Senhora do Sagrado Coração, no Colégio Chevalier e no Colégio John Ken-nedy-Unidades I e II. O lema é “Evangelizar educando e Educar evangelizando”. Houve um Retiro-Encontro no dias 13 e 14 de janeiro, em Guararema, com a presen-ça de diversos professores, coordenadores e diretores das escolas MSC, com vistas à construção de uma es-cola mais cristã, evangelizadora e em sintonia com os tempos atuais. Em sequência, ainda em janeiro, com início no dia 24, na Capela do Rosário, foi promovida uma Semana de Planejamento do Colégio John Ken-nedy, com presença maciça de diretores, professores e funcionários das Unidades de Pirassununga e Porto Ferreira. Foi ministrada Aula Inaugural sobre a edu-cação da juventude, à luz dos documentos da Igreja, que realçam a importância desse ministério, pelo qual se pode manifestar o carisma MSC. É essa a proposta para as escolas MSC: “Educar Corações Novos para um Mundo Novo”.

Acontecimento importante para o Externato N. Sra. do Sagrado Coração e o Colégio Chevalier foi uma Semana Pedagógica, presentes o teologante Fr. Michel dos Santos, o Pe. Lucemir Alves Ribeiro e a Assessoria Alabama. Foram criadas as Comissões de Pastoral da Educação, compostas de membros do corpo docente e de pais de alunos. Oportuno registrar que estudantes dessas escolas tiveram boa aprovação na FUVEST e em outras universidades de renome.

Na linha da Pastoral da Educação, no Externato N. Sra. do Sagrado Coração, Vila Formosa, foi celebrada

no dia 7 de maio pelo Pe. Lucemir Alves Ribeiro, membro do Conselho Provincial de Colégios, Missa de Ação de Graças pelas mães dos alunos, sob a co-ordenação do Fr. Michel dos Santos e do Fr. Fer-nando Clemente. Vozes infanto-juvenis do coral do Externado realçaram a solenidade.

Em São Luís-MA, em solene celebração eucarística concelebrada, foram comemorados no dia 2 de feve-reiro 64 anos de vida religiosa consagrada do Pe. João Crisóstomo, 23 do Pe. Maristelo, 6 anos do Pe. Fran-cisco Tarcísio e 5 do Pe. Mauro Fernando Ferreira, recentemente ordenado. O Aspirantado conta com os estudantes: Luís (Fortaleza) e Wallace (Rio de Janei-ro), enquanto que o Postulantado está com 4 semina-ristas: Camilo (Santa Helena-MA,) Elinaldo (Itaitin-ga-CE), Eduardo (São Tomé-RN) e Alex (Fortaleza)

Aspirantado e Postulantado

Estão no Propedêutico os seminaristas: Renan Jonas Pereira (19 anos) de Piranguçu-MG, cursando o 2º. Colegial; Elivelton Vinicius Ribeiro, 16, de Delfi m Moreira-MG e Douglas Roberto Fortes, 17, de Delfi m Moreira-MG, ambos cursando o 3º. Cole-gial; Diego Manoel de Sousa, 19, de São Bernardo-

Propedêutico 2011 - Pirassununga

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SP e Bruno Danilo Fernandes, 21 anos, de Pirassu-nunga, ambos fazendo cursinho. Todos estudam no Colégio John Kennedy.

Em Campinas-SP, os seis jovens postulantes, sob a orientação do Pe. Lucemir Alves Ribeiro e na com-panhia do Pe. Francisco Janssen, já estão cursando fi losofi a. São eles: Patrick, Lucas, Maycon e José Marcos, de Minas Gerais, Paulo e Fernando de São Paulo e Sandro de Pernambuco.

Postulantado São José

São oito os teologantes: Fernando Clemente Santos e Rodrigo Aparecido Domingues (Itapeti-ninga), Girley de Oliveira Reis (Teófi lo Otoni-MG), Otacílio Barreto F. Jr. (Fortaleza), Michel dos San-tos (Campinas), Ailton Rodrigues Damasceno (Floriano-PI), Jackson Douglas Furtado (Pinheiro-MA) e José Saraiva Jr. (Floriano-PI). O Reitor do Teologado é o Pe. Joaquim dos Santos Filho.

Teologado MSC - Vila Formosa - SP

No relato do postulante Camilo Leônidas Sousa (Filosofi a, São Luís), é in-formado que o município situado no norte mara-nhense, distando 402 km da capital São Luís, tem cerca de 39 mil habitantes. Há cerca de um ano os MSC retornaram a essas

terras. Lá está o pároco Pe. Domingos Higino, que atende 49 comunidades, 5 na sede e as outras espalha-das pela zona rural, algumas com acesso só de barco, onde são feitas celebrações em capelas simples, de taipa ou de tijolos, algumas mato a dentro. Há casas humildes de pessoas com alegria no rosto pela pre-

Santa Helena, uma terra em Missão

sença do sacerdote que lhes traz a Santa Eucaristia. Há muito trabalho na sede da missão com 5 comu-nidades: catequese, formação de lideranças e ensino de liturgia. A casa paroquial próxima à matriz está em reforma. O Pe. Domingos arregaça as mangas para o que se faz necessário, inclusive para melhorar a apa-rência da igreja. Ele conta agora com a ajuda do novo sacerdote Pe. Mauro Fernando Ferreira, como seu vigário paroquial. É grande a confi ança dos fi éis no trabalho dos padres.

O Pe. Alfredo fala de sua missão e seu futuro no Ceará. Há 17 anos come-çou seu trabalho pastoral procurando criar comuni-dades e fazê-las crescer a ponto de terem um dia

um padre da própria terra a elas dedicado. No come-ço as comunidades eram muitas e pequenas, espalha-das ao longo da BR-116, tendo entre si pouco conta-to, e em alguns casos até rivalidades. Atualmente já são três as paróquias: Itaitinga, Alto Alegre e Pedras, que já contam com a assistência de padres brasileiros. Até aqui, um grande passo. E para o futuro, ele pre-tende ir acompanhando três Institutos de terapia para drogados. Em dois deles, “Volta Israel, Shalom!” e “Volta do Filho Pródigo”, são tratados doentes que viviam na rua e tinham assistência da Pastoral dos Sem-Teto, na pessoa da Irmã Vicentina, 82 anos. Ela, ao longo desse trabalho, descobriu que a maioria dos desabrigados era de dependentes químicos. Com muito trabalho foi fundado um Instituto que dá abri-go e tratamento a essas pessoas. Lá trabalha o Pe. Al-fredo com uma colega do curso de psicologia da Uni-versidade de Fortaleza-Unifor, sendo ambos apoiados e acompanhados por uma psicóloga. Esse instituto e o sítio, onde fi cam os assistidos, são mantidos por vo-luntários conscientes e generosos, pois o povo de rua

Pe. Alfredo Niedemeier - 17 anos de Ceará

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sozinho sequer tem condições de sobreviver. Ele continuará colaborando na Pastoral dos Sem-Teto e na assistência aos caminhoneiros. Continua empolga-do com seus estudos de psicologia na Unifor. Tem esperanças na possível abertura de um Curso de Pós-Graduação em Dependência Química, para poder de-senvolver um trabalho mais efetivo e ofi cialmente reconhecido. (Nota da Redação - Todo o trabalho e a dedicação do Pe. Alfredo e da Irmã Vicentina mere-cem nossa admiração)

O Pe. Francisco Janssen, com 98 anos, lúcido, vai executando seus trabalhos diários. É o deão do Postu-lantado São José em Campinas. O Pe. Romeo Borto-lotto segue em frente, recuperando-se de forma extra-ordinária, com bom humor e como bom companheiro dos confrades. O Pe. Victorio de Almeida: há tempos foi acometido do vírus da varicela, doença danada, que permanece dormente, apesar de aparentemente debe-lada do organismo. Esconde-se no interior de alguns gânglios do sistema nervoso, especialmente o semi-lunar, da base do crânio ou nos que fi cam próximos à medula espinal, podendo, ainda, ocorrer em outros gânglios. Apesar de dores constantes, o Pe. Victorio segue animado. O Pe. José Maria Pinto: continua sua luta destemida, com humor refi nado e inteligente. Lembramos que ele enfrentou em 2008 nova e delica-da cirurgia e passou por radioterapia. O Pe. Manoel F. dos Santos Jr. fez pequena cirurgia no joelho e já está em forma. (N.R. - Em plena forma, tomou posse como novo Superior Provincial).

Plantão Médico

Março passado, dia 17, os professos José Saraiva Júnior e Jackson Douglas Furtado foram investi-dos das ordens menores do Leitorado e do Acolita-to, em celebração eucarística presidida pelo Pe. Pro-vincial, na Casa de Teologia. Esses ministérios têm

Ordens Menores

origem antiquíssima. Diz o Catecismo da Igreja que os ministérios devem ser exercidos em espírito de serviço fraterno e dedicação à Igreja, em nome do Senhor”. Em síntese, o Acólito tem como função o serviço do altar e o auxílio ao sacerdote e ao diácono. Está intimamente ligado à Eucaristia, enquanto que o Leitor tem o encargo de proferir as leituras da Sagra-da Escritura, exceto o Evangelho. Pode propor as in-tenções para a oração universal e, faltando o salmista, proferir o salmo entre as leituras.

O Superior Geral, Pe. Mark Mcdonald, veio ao Brasil para acompanhar os relevantes eventos da Província que tive-ram início em maio de 2011, como a eleição do novo Su-perior Provincial, Pe. Manoel Ferreira dos Santos Jr., e a solene celebração eucarística, na matriz de Nossa Sra. da So-

ledade, em Itajubá, do Jubileu dos 100 Anos da che-gada dos MSC ao Brasil.

Visita do Padre Geral

No Encontro de Pirassununga, ano passado, o Su-perior Provincial, Pe. Cortez, adiantou como seria a comemoração dos 100 anos de presença MSC no Brasil. No dia 20 de maio, numerosa comitiva dos MSC foi até a cidade de Pouso Alegre-MG, aonde ha-viam chegado, em 1922, os dois primeiros MSC, Pes. Adriano van Iersel e Ludovico Kauling, vindos da Holanda. Todos participaram de momentos de ora-ção, junto com o arcebispo da Arquidiocese de Pouso Alegre, Dom Ricardo P. Chaves Pinto, O.Praem, que salientou a importância dos religiosos na expan-são da religião pelo mundo, da devoção a Nossa Sra. do Sagrado Coração e realçou o espírito missioná-

Os MSC voltam a Pouso Alegre, 100 anos depois

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rio da Congregação. Expressou agradecimento, em nome de todo o clero, pelos serviços prestados pela Congregação, em especial na Paróquia Nossa Sra. da Soledade, em Itajubá e em outras comunidades da diocese, “onde se vê um grande esforço e dedicação”. Disse que uma congregação “nunca deve fugir do seu ca-risma, pois este é sua segurança e a faz adaptar-se a qualquer época da Igreja.”

A comitiva retornou de Pouso Alegre a Itajubá e seguiu para a Matriz da Soledade Na celebração euca-rística do Jubileu, presidida pelo Superior Geral esta-vam presentes mais de uma centena de MSC, semina-ristas, Irmãs FDNSSC e o grande povo de Deus. Na homilía, o Pe. Mark Mcdonald salientou a presença de Maria ao pé da cruz, onde o corpo de Cristo já sem vida é atingido por uma lança. Do Seu lado jor-ram sangue e água. Do Coração transpassado, o Pe. Chevalier vê surgir um “mundo novo”. Nasce aí uma visão especial do Cristo, fonte da vocação e da mis-são da Congregação. Na celebração dos 100 anos de presença MSC no Brasil, junto com Maria, a primeira atitude é de gratidão e ação de graças pelos dons re-cebidos. A segunda é de obediência, pois como Jesus e Maria, os missionários vieram para fazer a vontade

Missa do Jubileu Centenário em Itajubá

de Deus. A terceira é de amor, amor a Deus e aos irmãos. A visão do calvário mostra o quanto “fomos amados”. Encerra dizendo: “Nós somos missionários desse amor, que deve ser o sentimento de quem se coloca diante da cruz e diante de Deus.” (N.R.-Texto bastante resumido)

Os teologantes receberam a visita do Pe. Geral. Na celebração eucarística, ele discorreu sobre o cerne da vocação MSC, ressaltando a importância da Encarna-ção que trouxe ao mundo a presença de Deus, deven-do os missionários, por sua vez, fazerem-se presentes no meio do povo, testemunhando o amor de Deus. Os seminaristas tomaram o café da manhã com o Pe. Mark e puderam com ele conversar e desfrutar do seu bom-humor.

O Padre Geral e o Teologado

I - Foi realizada em maio último, na quarta sema-na da Páscoa, a Assembléia Nacional. A celebração eucarística concelebrada pelos bispos MSC, Dom Fernando Panico, Dom Ricardo Paglia e Dom Agenor Girardi, com homilia proferida por Dom Fernando, que ressaltou os ícones do Bom Pastor e do Bom Samaritano, fonte do carisma missionário da Congregação. Comentou também o diálogo de Jesus com a samaritana. “O Bom Pastor nos espera à beira do poço de Jacó, desejando permanecer conosco para que possamos beber água viva da fonte do seu Cora-ção e saciar nossa sede e a sede do mundo”.

II - Realizou-se o Capítulo Provincial de 2011, que tratou de forma ampla da vida espiritual e fraterna, da Pastoral Vocacional, da Formação de novos mis-sionários e da Missão em novos campos, ou novos “areópagos” no mundo moderno, como a educação, a pastoral da Justiça, Paz e Integridade da Criação-JIPC, o mundo digital, a comunicação e a missão “ad gentes”.

Outros Eventos da Província

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Sinos badalando, seis da manhã, 29 de maio, co-meçou no Santuário de N. Sra. do Sagrado Cora-ção, Vila Formosa, um cântico de louvor e ação de graças a Nossa Senhora. Seria um dia diferente na Casa da Mãe. Muitos romeiros, até enfermos e crianças, vieram de longe trazendo suas súplicas, agradecimentos e a alegria de voltarem ao Santu-ário, local sagrado de encontro com Deus e Sua Mãe santíssima. No Externato N. Sra. do Sagrado Coração, foi prestada belíssima homenagem a N. Senhora, com apresentação do coral dos alunos. Eram mais de 250 crianças caminhando em procis-são. A Santa Missa foi presidida por Dom Edmar Perón, bispo auxiliar da Região-Belém. A coroa-

Maria, Mãe Peregrina: o envio em Missão

ção de Nossa Senhora, na presença de inúmeras crianças, feita pelo Provincial, Pe. Cortez, foi mo-mento de oração e emoção. Nas palavras do Reitor do Santuário, Pe. Air J. de Mendonça: “Maria é luz, é graça, é aquela que conduz à Luz que é o próprio Cristo.” (Nota da Redação-Este é um re-sumo do relato do Fr. Rodrigo Domingues. Com surpresa e alegria encontrei antes da Santa Missa os Ex-Alunos Renato Pavão e José Maria Mar-tarelli, que haviam acompanhado a procissão).

A comunidade MSC de São Luís, com a participa-ção de muitos fi éis e especialmente de 50 voluntários que trabalharam incansavelmente com os seminaris-tas Eduardo, Alex, Wallace, Gilvan, Luís, Camilo e Elinaldo, celebrou com entusiasmo a festa de Nos-sa Senhora, precedida de novena de 20 a 29 de maio. A celebração eucarística de encerramento foi presidi-da pelo Pe. João Crisóstomo Neto, na presença das várias comunidades de São Luís, onde atuam os MSC. (N.R. - Relato do Pe. Francisco Tarcísio.

2a. Festa de N. Sra. do Sagrado Coração em São Luís

Em clima de oração e após refl exões do Pe. José Roberto Bertasi ressaltando o valor da liderança, a dimensão do servi-ço e as funções de governo, os capitulares se dirigiram à Capela para a benção do Santíssimo Sa-cramento. Em seguida, com ve-las acesas, seguiram para a Sala do Capítulo, onde, observados os requisitos previstos nas Constituições da Congrega-ção para a eleição do superior provincial, procederam à votação, em silêncio e oração. Já em primeiro escrutínio, com 21 eleitores, foi eleito o Pe. Manoel Ferreira dos Santos Júnior. Sua posse se deu no dia 17 de junho durante celebração eucarística no Santuário das Almas.

Novo Superior Provincial

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Dia 3 de junho a paróquia celebrou os 90 anos de sua fundação que teve lugar em 1º. de junho de 1921, erigida por decreto do bispo diocesano e des-membrada do Curato da Catedral de Campinas. O cônego João Alexandre Loschi, Cura da Catedral, deu posse ao encarregado da paróquia, Pe. Adriano van Iersel, que havia deixado em 1915 a cidade de Pouso Alegre-MG. Sua instalação confunde-se com a histó-ria da Vila Industrial. O trabalho pastoral se estende atualmente às Comunidades São Roque, onde fi ca o Colégio Júlio Chevalier, sob a direção dos MSC, e São Vicente, ambas na Vila Industrial. Até 2010, come-çando com o Pe. Adriano van Iersel, a paróquia foi conduzida por 29 párocos, 17 deles holandeses.

Paróquia São José - Campinas

Viracopos - atual aeroporto

NR 1 - A fonte principal desta coluna do Inter-Ex fo-ram as Comunicações 611 (fev.jan) e 612 (mar-abr.mai) da Província de São Paulo, com relatos do Pe. Provincial e outros religiosos. Ao transcrever matérias veiculadas, meu objetivo é transmitir as notícias da Província. Inevitável às vezes reproduzir parcialmente algum texto. Recebi di-versos esclarecimentos do Lasinho. Com espaço gráfi co reduzido, procuro repassar resumidamente as principais notícias. Sobre a sagração de Dom Agenor Girardi, utili-sei parte do texto de Doris Machado dos Santos, coor-denadora Nacional dos Leigos MSC) e fi z ajustes.

NR 2 – Chamado de Coração do Sudoeste, o muni-cípio de Francisco Beltrão, hoje com população cami-nhando para 80.000 habitantes, começou como "Vila Marrecas". Sua transformação em cidade foi rápida. Em menos de cinco anos do início do povoado, a vila era elevada à condição de sede do município em 14 de novembro de 1951. O povoado começou a se formar em 1947. Nesse ano lá se instalou a Colônia Agrícola Nacional General Osório-Cango, criada por Getúlio Vargas. Júlio Assis Cavalheiro e Luiz Antônio Fa-edo, proprietários da maior parte das terras da mar-gem direita do rio, mandaram traçar o primeiro mapa da futura cidade e em 1947 ambos começaram a vender

Notas da Redaçãolotes. O povoado foi crescendo rapidamente. O nome da cidade foi escolhido em homenagem ao engenhei-ro Francisco Beltrão. A Colônia assentava famílias de agricultores, dando-lhes terras, ferramentas, sementes, orientação técnica, educação e assistência médica, o que muito contribuiu para o seu desenvolvimento. O distri-to de Francisco Beltrão, existente desde 1945, foi trans-formado em município em 1951. O desenvolvimento aumentou impulsionado pela agricultura e extração de madeira, mas fi cou travado por disputas de terras entre posseiros e companhias colonizadoras. Tais disputas re-sultaram na histórica Revolta dos Posseiros, que abran-geu quase todo o Sudoeste e teve seu ponto culminante em Francisco Beltrão, sede das companhias de terras Citla e Comercial. Em 10.10.57, milhares de posseiros tomaram conta da cidade e no dia seguinte expulsaram as companhias e todos os seus funcionários. Devido aos confl itos de terras, a cidade recebeu uma unidade do Exército, que lá permaneceu, em razão da posição estratégica do município, a 100 km da fronteira com a Argentina. (Fonte: Google e Wikipedia) Os MSC estão presentes na cidade desde 1966, no Seminário São José (1966) e na Paróquia São José, onde o agora bispo Dom Agenor Girardi era o Superior local.

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