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29 2. ASPECTOS AMBIENTAIS DA EXPLORAÇÃO DE O&G 2.1.INDÚSTRIA DO PETRÓLEO - FASES A dinâmica da indústria mundial do petróleo e suas características peculiares foram sendo formadas gradualmente como resposta aos empecilhos de crescimento inerentes ao próprio setor. Devido a facilidade de produção, transporte e uso, o petróleo substituiu o carvão, tornando-se insumo chave do desenvolvimento do século XX e provavelmente de grande parte do século XXI. Estatísticas disponibilizadas on- line 2 e ilustrados na figura 2, mostram que em 2010 o consumo de O&G natural somados, representaram 57,4% da matriz energética mundial. De acordo com o documento "The Outlook for Energy: A view to 2040", publicado em 2011 pela empresa ExxonMobil Corporation, no ano 2000, para cada barril produzido globalmente mais de 2,5 barris foram descobertos em novas reservas, como indicativo da importância das atividades de exploração na demanda energética para as próximas décadas. A figura 2.2 ratifica esta importância ao ilustrar que atualmente ainda são produzidos barris de petróleo descobertos em décadas passadas e que portando as reservas descobertas recentemente proporcionarão considerável produção de O&G, isto é, conforme ilustrado na figura 3, o petróleo foi e permancerá como a maior fonte de energia mundial por muitos anos. _____________________ 2 O documento publicado pela BP “BP Statistical Review of World Energy 2011” descreve que em 2010, o consumo de óleo e gás natural representava 57,4% do total consumido no mundo. Energia eólica, geotérmica e solar não foram consideradas neste percentual.

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2. ASPECTOS AMBIENTAIS DA EXPLORAÇÃO DE O&G

2.1.INDÚSTRIA DO PETRÓLEO - FASES

A dinâmica da indústria mundial do petróleo e suas características

peculiares foram sendo formadas gradualmente como resposta aos empecilhos de

crescimento inerentes ao próprio setor.

Devido a facilidade de produção, transporte e uso, o petróleo substituiu o

carvão, tornando-se insumo chave do desenvolvimento do século XX e

provavelmente de grande parte do século XXI. Estatísticas disponibilizadas on-

line2 e ilustrados na figura 2, mostram que em 2010 o consumo de O&G natural

somados, representaram 57,4% da matriz energética mundial.

De acordo com o documento "The Outlook for Energy: A view to 2040",

publicado em 2011 pela empresa ExxonMobil Corporation, no ano 2000, para

cada barril produzido globalmente mais de 2,5 barris foram descobertos em novas

reservas, como indicativo da importância das atividades de exploração na

demanda energética para as próximas décadas. A figura 2.2 ratifica esta

importância ao ilustrar que atualmente ainda são produzidos barris de petróleo

descobertos em décadas passadas e que portando as reservas descobertas

recentemente proporcionarão considerável produção de O&G, isto é, conforme

ilustrado na figura 3, o petróleo foi e permancerá como a maior fonte de energia

mundial por muitos anos.

_____________________ 2 O documento publicado pela BP “BP Statistical Review of World Energy 2011” descreve que em

2010, o consumo de óleo e gás natural representava 57,4% do total consumido no mundo. Energia

eólica, geotérmica e solar não foram consideradas neste percentual.

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Figura 2 - Consumo mundial de energia. Fonte: Adaptação do BP Statistical Review of World

Energy - June 2011

Figura 3 - Produção global de óleo por período de descobrimento de reservas. Fonte: EM “2011

The Outlook for Energy: A view to 2040".

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Figura 4 - Composição da demanda global por combustível por década – Fonte: Adaptação EM

“2011 The Outlook for Energy: A view to 2040".

Nos últimos 20 anos, de acordo com a tabela 1, o Brasil praticamente

triplicou suas reservas provadas3 demonstrando seguir a tendência mundial e

atraindo o investimento e a atenção de dezenas de empresas internacionais nas

atividades de prospecção em sua costa.

Tabela 1 - Reservas de petróleoo provadas. Fonte: Adaptação da BP Statistical Review of World

Energy. June 2011.

Reservas Provadas (óleo)

Até fim 1990 Milhares de milhões de barris

Até fim 2000 Milhares de milhões de barris

Até fim 2009 Milhares de milhões de barris

Até fim 2010 Milhares de milhões de toneladas

Até fim 2010 Milhares de milhões de barris

BRASIL 4.5 8.5 12.9 2.0 14.2

TOTAL MUNDO

1003.2 1104.9 1376.6 188.8 1383.2

________________ 3 Reservas: recursos descobertos de O&G comercialmente recuperáveis a partir de uma

determinada data. São classificados de acordo com o Grau de Incerteza quanto às informações

geológicas e de engenharia e às condições econômicas. Reservas Provadas: estimativa de

recuperaração comercial de reservatórios descobertos e avaliados, com elevado grau de certeza,

considerando as condições econômicas vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os

regulamentos instituídos pela legislações petrolífera e tributária brasileiras. Prováveis: análises

indicam uma maior incerteza na sua recuperação quando comparada com a estimativa de reservas

provadas. Possíveis: análises indicam uma maior incerteza na sua recuperação quando comparada

com a estimativa de reservas prováveis.

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A cadeia produtiva da indústria do petróleo pode ser considerada

extremamente complexa se comparada com a de outros produtos, especialmente

por serem recursos não renováveis e principal fonte de energia utilizada no

mundo.

Esta fonte de energia mineral se encontra em reservas de quantidade e

qualidade irregularmente distribuídas em todo planeta, que faz com que existam

grandes diferenças na estrutura das atividades entre as empresas do setor,

atrelados aos riscos de natureza específica oriundos da incerteza de descobertas de

jazidas economicamente rentáveis, além de outros riscos existentes comum a

outras atividades industriais.

Os segmentos da cadeia petrolífera, descritos em detalhes no anexo 9, são

tradicionalmente classificados como upstream, midstream e o downstream, sendo

o segmento de upstream relacionado às atividades de E&P de O&G; o midstream

que engloba as atividades de refino, transporte e a importação e exportação de gás

natural, petróleo e seus derivados e finalmente o downstream responsável pela

distribuição e revenda de derivados.

A cadeia de upstream pode ser estruturada, com base na exploração,

desenvolvimento e produção de um campo petrolífero. Os objetivos almejados por

cada uma dessas etapas do ciclo de vida de um campo de petróleo são distintos.

Na fase de exploração, busca-se identificar e quantificar novas reservas de

O&G, garantir acesso a reservas por meio de negociações com entes públicos ou

privados; analisar a geologia dos subsolos; identificar potenciais reservatórios e

confirmar a existência do mesmo. Primeiramente através do poço pioneiro para

verificação da existência de acumulação de petrólelo e em seguida no caso de

descoberta, a perfuração de outros poços de delimitação ou extensão, para

estabelecimento dos limites do campo. Todos estes poços da fase de exploração

exigem das empresas um complexo planejamento para mobilização de pessoal,

especificação técnica, infraestrutura, equipamentos e processo de licenciamento

ambiental.

A atividade pode ainda ser classificada como terrestre (onshore) e marítima

(offshore), que exige tratamento diferenciado quanto às questões ambientais.

Especialmente nas operações offshore, as atividades de E&P têm sido alvo de

discussões com órgãos ambientais, organizações não-governamentais, sindicatos,

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universidades e foco de muitas publicações científicas, face as perspectivas de

crescimento do setor no Brasil.

Em termos históricos, a exploração de petróleo no Brasil inclui três grandes

fases: o período pré-Petrobras (atividades pioneiras de reconhecimento); as etapas

de exclusividade da Petrobras (Etapa 1: 1954/1968: Fase Terrestre, Etapa 2:

1969/1974: Fase Marítima/Plataforma Rasa, Etapa 3: 1975/ 1984: Fase

Marítima/Plataforma Rasa/Bacia de Campos, e Etapa 4: 1985/1997: Fase

Marítima/ Bacia de Campos/Águas Profundas), responsável por sucessivos

incrementos na reserva petrolífera do país; e a fase atual, sob a vigência da nova

Lei do Petróleo, caracterizada por intensa atividade em que várias companhias

nacionais e estrangeiras atuam tanto nas áreas anteriormente trabalhadas como nas

desafiadoras novas fronteiras exploratórias (Milani et. al, 2000).

Nos anos 90, o Brasil em função de características geológicas específicas, já

havia conquistado a posição de grande produtor em águas profundas do mundo.

Atualmente são grandes as perspectivas de desenvolvimento de reservatórios em

águas ultra profundas, que exigirão diversas adequações e inovações tecnológicas

e principalmente garantia de altos padrões a cerca de potenciais impactos

ambientais. A exploração de O&G no ambiente marítimo é uma atividade de

grande importância econômica no Brasil, que se desenvolve com grande

aprimoramento tecnológico a fim de alcançar a exploração de reservas em águas

cada vez mais profundas.

A nova fronteira exploratória, o pré-sal, se apresentou como a descoberta

mais promissora dos últimos tempos. De acordo com o prestigioso órgão de

estatísticas do Departamento de Energia americano, o EIA (U.S. Energy

Information Administrative), em janeiro de 2011 a empresa Petrobras anunciou a

comercialidade do óleo do campo de Tupi e Iracema (renomeados Lula e

Cernambi), tornando o pré-sal uma realidade fascinante e simultaneamente

desafiadora, dada as incertezas de como as formações geológicas se comportarão

durante sua produção, dada a distância da localização destes reservatórios em

relacão a costa e toda a complexidade da tecnologia necessárias para este tipo de

operação.

De acordo com o lançamento do Plano Estratégico Petrobras 2020, realizado

no dia 26 de julho de 2011, o Presidente da Empresa José Sergio Gabrielli

afirmou que as descobertas em águas profundas no Brasil representam 1/3 das

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descobertas do mundo nos últimos 5 anos, que atualmente o pré sal representa 2%

da produção nacional com previsão de que até 2020 este número alcance 40,5%.

A empresa tem como estratégia o desenvolvimento das reservas de forma

sustentável, com expectativa de perfuração de mais de 1000 poços offshore, sendo

cerca de 40% exploratório. Estas constatações corroboram com a escolha do tema

desta dissertação. As figuras 5 e 6 ilustram a expectativa do aumento significativo

da indústria offshore no Brasil.

Figura 5 - Liderança do Brasil em descobertas recentes. Fonte: Plano Estratégico Petrobras 2011-

2015 – Julho 2011

Figura 6 - Projetos offshore no Brasil. Fonte: Plano Estratégico Petrobras 2011-2015 – Julho 2011

A exploração marítima, por ser potencialmente poluidoras têm em seu

processo de licenciamento ambiental requisitos diretamente ligados ao controle de

poluição ambiental. As atividades de perfuração de poços, foco desta dissertação,

geram emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos em escalas e

tipologias distintas, desde resíduos sólidos de hotelaria e acomodações e

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escritórios à resíduos contaminados, e classificados como perigosos. A figura 7

ilustra o dado fornecido pela NT 07/11 de que, com relação ao perfil de resíduos

gerados por plataformas de produção e perfuração em 2009, as atividades de

perfuração marítima geram os maiores quantitativos de alguns tipos de resíduos,

mesmo com a utilização de menor número de unidades marítimas e embarcações.

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Figura 7 - Comparação entre quantitativos totais de resíduos gerados por tipo de atividade. Fonte:

IBAMA NT 07/11.

De acordo com o “US Departments of Agriculture and Energy” (1998), o

processo de emissões de extração offshore convencionais segue os parâmetros de:

10,14L de efluentes líquidos para cada quilo de petróleo bruto produzido; sendo

que são estimados 2.8 x 10-4 kg de óleo e graxa nos efluentes líquidos para cada

quilo de petróleo bruto produzido. Com relação à emissões atmosféricas

provenientes da combustão de gás natural nos separadores de óleo/gás, turbinas,

ventilação (venting) e queimador (flaring) de gás natural, estima-se uma

quantidade de 0.26kg de produção de gás associado para cada quilo de petróleo

bruto extraídos dos poços offshore.

A NT 07/11, apresenta resultados consolidados sobre geração e destinação

de resíduos sólidos dos empreendimentos marítimos de E&P de petróleo. Durante

o ano de 2009, as atividades offshore em águas jurisdicionais brasileiras

produziram um total de 44.437 toneladas de resíduos sólidos provenientes de 221

unidades marítimas, sendo 90 plataformas de perfuração e 131 de produção, 419

embarcações (97 em atividades de perfuração) e 16 navios sísmicos. Estas

estimativas somadas aos dados apresentados pelo Plano Estratégico Petrobras

2020, anunciam a enorme quantidade de resíduos, efluentes e emissões que serão

gerados no país e ilustram a importância da discussão do tema através da proposta

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de aplicação do CCV no gerenciamento dos mesmos para uma otimização da

geração, das técnicas de tratamento e disposição final.

2.2. SUSTENTABILIDADE

A conscientização sobre o exaurimento das reservas dos recursos naturais,

fez da preservação ambiental uma necessidade para a humanidade e novo

paradigma dos negócios do século XXI.

Existem diversas interpretações para o conceito de sustentabilidade.

Segundo a Agência de Proteção Ambiental Americana - EPA (2010), no conceito

baseado no relatório intitulado "Nosso futuro comum", também conhecido como o

Relatório Brundtland, a sociedade, as questões econômicas e ambientais são

reconhecidas como os três pilares da sustentabilidade, o tripé da sustentabilidade4,

que cria novas prioridades e novos incentivos ao redor do mundo e em agências

reguladoras. Elkington (1999), descreve que muitos executivos afirmam que o

negócio deles não é salvar o planeta, mas a expectativa de contribuição das

empresas neste quesito cresce a cada dia em todo o mundo. Organizações como a

World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)5, auxiliam no

aumento destas expectativas e a pauta dos três pilares cresce rapidamente em

todos os setores da indústria para garantia da eficiência e da efetividade dos

recursos.

O desenvolvimento sustentável é atualmente interpretado como missão de

concientização e responsabilidade ambiental mundial.

_____________________ 4 Em 1994, John Elkington lançou o conceito do triple bottom line, conhecido no Brasil como o

tripé da sustentabilidade, com o qual ele pretendia disseminar a teoria de que as empresas

deveriam medir o valor que geram, ou destroem, nas dimensões econômica, social e ambiental.

Esse termo também ficou conhecido como os 3P’s, ou seja, “PPP – People, Planet and Profit”

(Pessoas, Planeta e Lucro). Essa nova abordagem deu suporte à criação do Dow Jones

Sustainability Index e do Global Reporting Initiative (GRI).

5 World Business Council for Sustainable Development (WBCSD - Conselho Empresarial Mundial

para o Desenvolvimento Sustentável) é o primeiro organismo internacional puramente empresarial

com ações voltadas à sustentabilidade, criado na Rio-92.

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A missão de desenvolvimento sustentável acabou conectada com a tarefa de

solução de problemas sociais, econômicos e ecológicos, sendo proposta pelos

governos e líderes corporativos como solução para uma gama de problemas que

agora fazem parte da pauta internacional.

Segundo a Associação Global da Indústria de Petróleo e Gás para assuntos

ambientais e sociais - IPIECA (2010), à medida que as economias se tornam cada

vez mais globalizadas, surgem oportunidades nunca vistas para se gerar

prosperidade e qualidade de vida, por meio do compartilhamento do

conhecimento e do acesso à tecnologia. A questão é que temos um conflito entre o

crescimento do consumo e escassez de recursos naturais, atrelados ao crescimento

populacional que são acompanhadas de novos riscos à estabilidade do meio

ambiente, um dos grandes dilemas da atualidade.

O desenvolvimento de conhecimento e de tecnologia contribui para o

crescimento econômico e também pode contribuir para solução dos riscos e danos

que esse crescimento pode trazer à sustentabilidade de nossas relações sociais e

com o meio ambiente.

Novos conhecimentos e inovações em tecnologia, em gestão e em políticas

públicas cada vez mais desafiam as organizações a fazer novas escolhas em

relação ao impacto de suas operações e atividades, sobre as economias, pessoas e

o planeta.

Na indústria petrolífera este conflito é ainda maior. O petróleo bruto como

anteriormente descrito é uma fonte de energia não renovável, necessário para

suprimento da demanda de energia atual e futura, especialmente quando o

crescimento populacional esperado ao redor do mundo é levado em consideração.

De acordo com os cálculos publicados no documento "The Outlook for

Energy: A view to 2030", publicado em 2010 pela empresa ExxonMobil

Corporation, a população mundial passou dos aproximados 1 bilhão de habitantes

em 1800 para os atuais 7 bilhões, com estimativa de alcançar 8 bilhões em 2030.

Neste contexto a energia proveniente dos combustíveis fósseis continua ser a

chave para o desenvolvimento do planeta influencidado pelo aumento

populacional e pela demanda proveniente do crescimento da economia.

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Figura 8 - População Global – Fonte EM “2010 The Outlook for Energy: A view to 2030"

Neste material foi enfatizada a conexão entre o progresso da economia, o

consumo de energia e os desafios relacionados ao aumento da demanda energética

global. Devido ao aumento populacional e uma siginificativa expansão da

economia mundial, é esperado um aumento de 40% na demanda energética em

comparação com o consumo de 2005. Conforme anteriormente citado, o consumo

de O&G representa mais da metade da matriz energética global e continuará

indispensável para o atendimento de grande parte desta demanda energética nos

próximos anos. A figura 8 ilustra que em 2030 é esperado um aumento de até 6

vezes o consumo de energia desde 1950, sendo que uma parte bastante

representativa ainda será fornecedia pela indústria de O&G. A indústria petrolífera

por seus tantos anos de existência e pelo seu caráter essencial ao desenvolvimento

da humanidade, pode ser considerada madura. No entanto, mesmo madura, ainda

lida diariamente com os impactos ambientais decorrentes da extração de O&G,

que já demostraram seu potencial catastróficos em alguns acidentes de grande

repercussão na mídia e incompatíveis com o desenvolvimento sustentável.

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As empresas do setor de O&G, buscam constantemente a diminuição e

mitigação dos impactos de suas atividades e a solução do conflito entre suas

operações e a sustentabilidade do planeta, através de tecnologia, políticas internas

das empresas, sistemas de gestão com melhoria contínua proporcionada e através

das lições aprendidas com os impactos ambientais já ocorridos.

Esta interface entre as ferramentas utilizadas pelas empresas e o tripé da

sustentabilidade está ilustrado pela figura 9.

Figura 9- Tripé da Sustentabilidade.

A busca constante da indústria petrolífera em prol do desenvolvimento

sustentável pode ser exemplificado através do trabalho liderado pela

IPIECA/BASD 20126 no sentido de disseminar durante a Rio+20, a se realizar em

2012, que o setor de O&G visa uma indústria competitiva, ética, socialmente

responsável e sustentável.

_____________________ 6 BASD 2012: Ação Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável 2012. Grupo coordenador

oficial das Nações Unidas sobre Negócios e Indústria para a próxima Conferência sobre o

Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), que será realizada no Rio de Janeiro em 20-22 junho de

2012. A BASD 2012 é liderada por organizações internacionais, como coalizão temporária de

organizações comprometidas com o desenvolvimento sustentável: 1) International Chamber of

Commerce (ICC); 2) WBCSD) e 3)United Nations Global Compact (UNGC), tendo como

colaborador representante da indústria petrolífera a Global Oil & Gas Industry Association

(IPIECA).

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Este conceito é refletido em trechos da mensagem IPIECA BASD 2012, tais

quais: “Desenvolvimento sustentável é uma visão compartilhada por muitas

partes, que exigem, hoje, ações de longo prazo” e “A indústria de petróleo e gás é

um parceiro integral desta visão, provendo energia para alimentar o crescimento

econômico e considerando continuamente seus impactos ambientais e sociais.” O

conceito também é reforçado através dos três compromissos descritos nesta

mesma mensagem: “Para atender às necessidades atuais de energia global, a

indústria de petróleo e gás está empenhada em fornecer energia, por intermédio de

operações seguras, confiáveis e eficientes e que sejam ambiental e socialmente

responsáveis; a indústria de petróleo e gás está comprometida em encontrar,

produzir e fornecer petróleo e gás que contribuam para o desenvolvimento

econômico e social a nível mundial e a indústria de petróleo e gás está

comprometida com a evolução de mais fontes de energia sustentáveis para

enfrentar os riscos das mudanças climáticas e outros impactos ambientais e sociais

agora, e nas próximas décadas.”

Com toda esta temática desafiadora e ao mesmo tempo contrastante, o

desenvolvimento sustentável se tornou uma missão de conscientização e resposta

ambiental global que se estende à tarefas de cunho social, político, tecnológico e

econômico e que abrange o gerenciamento de resíduos das atividades de

perfuração marítima.

2.2.1. INDICADORES

De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente em seu sítio

eletrônico, indicadores são informações quantificadas, de cunho científico, de

fácil compreensão, utilizadas nos processos de decisão em todos os níveis da

sociedade, úteis como ferramentas de avaliação de determinados fenômenos,

apresentando suas tendências e progressos que se alteram ao longo do tempo.

As empresas de O&G foram pioneiras nos relatórios de sustentabilidade a

partir de meados da década de 1990 (Krishna et al., 2011). No caso dos

indicadores ambientais, estas estatísticas procuram representar aspectos do meio

ambiente, dos recursos naturais e de atividades humanas neste contexto.

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As empresas do setor, cientes da urgência e da magnitude dos riscos e dos

danos para a sustentabilidade, publicam com transparência e clareza em seus

anuários ações e metas sobre os impactos econômicos, ambientais e sociais. Estas

publicações são fundamentais para seus negócios e para as decisões sobre

investimento ou em outras relações de mercado, uma vez que de acordo com as

“Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade” da Global Report InitiativeTM

(GRI)7, permitem o compartilhamento de uma estrutura de conceito de parâmetros

de monitoramento de sutentabilidade reconhecidos internacionalmente.

Dentre os impactos gerados pela atividade em questão, encontram-se nestes

indicadores parâmetros relacionados à resíduos, que no contexto desta dissertação

abrangem emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos.

A OGP (2011), ressalta a medição de resíduos como fator importante na indústria

de petróleo e as empresas de petróleo confirmam a importância da interface entre

sustentabilidade e gestão de resíduos nas atividades petrolíferas, através de seus

relatórios de sustentabilidade publicados com base no GRI e na segunda edição do

“Oil and Gas Industry Guidance on Voluntary Sustainability Reporting - 2010”

produzido pelas associações internacionais da indústria de O&G, IPIECA

(International Petroleum Industry Environmental Conservation Association),

OGP e pela API (American Petroleum Institute). Estas referências basicamente

definem as diretrizes e indicadores necessário para a elaboração de relatórios de

sustentabilidade da indústria petrolífera.

_____________________ 7 A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização sem fins lucrativos cujo principal

trabalho consiste na criação de diretrizes e indicadores para a elaboração de relatórios de

sustentabilidade, por meio de uma rede de diálogo multi-stakeholder, composta por milhares de

especialistas de todo o mundo. Atualmente, as diretrizes GRI são a principal referência para a

elaboração destas publicações, não só devido ao processo compartilhado de desenvolvimento e

gestão, mas também aos fundamentos de seu conteúdo, que dialoga com as principais referências

internacionais em sustentabilidade, como a Declaração Internacional dos Direitos Humanos, o

Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), os Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio, entre outras.

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A GRI, G3 divide seus indicadores de desempenho ambiental em aspectos

essenciais e aspectos adicionais, sendo que o Aspecto “EMISSÕES,

EFLUENTES E RESÍDUOS” engloba os resíduos tratados nesta dissertação,

dentre os quais: EN20 (NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas,

por tipo e peso); EN21 (descarte total de água, por qualidade e destinação), e

EN22 (peso total de resíduo, por tipo e método de disposição).

Tabela 2 - Indicadores de Desempenho Ambiental GRI. Aspecto: emissões, efluentes e residuos.

Fonte: Diretrizes para Relatório de Sustentabilidade GRI

ASPECTO: EMISSÕES, EFLUENTES E RESÍDUOS

EN 16 Total de emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa, por peso.

EN 17 Outras emissões indiretas relevantes de gases de efeito estufa, por peso.

EN 18 Iniciativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e as reduções obtidas.

EN 19 Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio, por peso.

EN 20 NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e peso.

EN 21 Descarte total de água, por qualidade e destinação.

EN 22 Peso total de resíduos, por tipo e método de disposição.

EN 23 Número e volume total de derramamentos significativos.

EN 24 Peso de resíduos transportados, importados, exportados ou tratados considerados

perigosos nos termos da Convenção da Basiléia – Anexos I, II, III e VIII, e

percentual de carregamentos de resíduos transportados internacionalmente.

EN 25 Identificação, tamanho, status de proteção e índice de biodiversidade de corpos

d’água e habitats relacionados signifiativamente afetados por descartes de água e

drenagem realizados pela organização relatora.

O Guia IPIECA/OGP/API (2010) divide os indicadores ambientais em três

grandes grupos: Mudanças Climáticas e Energia (E1, E2, E3 e E4), Serviços de

Ecosistemas (E5 e E6) e Impactos ambientais locais, onde se encontram os

indicadores discutidos neste material (E7 - Outras emissões atmosféricas, E8 –

derramamento no meio ambiente, E9 – Descarte no mar e E10 – Resíduo).

Ressaltamos que a questão da sustentabilidade na indústria de petróleo se

faz tão presente e atual, que a GRI em março de 2011 publicou a versão G3.1

(uma terceira geração de diretrizes para reporte do GRI’s Sustainability Report) e

que está atualmente desenvolvendo diretrizes específicas para o setor de O&G em

formato de suplemento ao G3.1 (GRI Oil and Gas Sector Supplement). De acordo

com o portal eletrônico do GRI consultado em setembro de 2011, este suplemento

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tem publicação prevista para curto prazo e abordará alguns tópicos considerados

chaves do setor petrolífero dentre os quais emissões, efluentes e resíduo.

2.2.2. ECONOMIA VERDE: CONCEITO AMPLO E ATUAL DA SUSTENTABILIDADE

O conceito de economia verde, surgiu com destaque em vários fóruns

intergovernamentais, por meio de iniciativas como da OECD (Organization for

Economic Co-operation and Development), da “Green Economy Initiative” da

UNEP e por discussões entre os líderes do G20 (grupo formado pelos ministros de

finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a

União Europeia). No contexto do desenvolvimento sustentável foi declarado como

tema prioritário para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento

sustentável em 2012 (Rio+20), anteriormente mencionada.

A Câmara de Comércio Internacional – ICC descreve o termo "economia

verde" como “uma economia na qual o crescimento econômico e responsabilidade

ambiental trabalham juntos e mutuamente no apoio ao progresso do

desenvolvimento social – economy in which economic growth and environmental

responsibility work together in a mutually reinforcing fashion while supporting

progress on social development” e critica a utilização dos termos “verde” e

“marrom”, como adjetivos de setores e empregos, por não levarem em

consideração possíveis variações que dificultam o entendimento de que um setor

previamente reconhecido como “marrom”, pode ser responsável pela produção de

material para um setor reconhecido como “verde”.

Não existe espaço para julgamento que somente levem em conta uma das

dimensões da sustentabilidade. Um setor inicialmente e erroneamente classificado

como “marrom” pode ser crucial para as dimensões sócio-econômicas e por isso

deve ter esta classificação “esverdeada”. A aplicação do conceito do ciclo de vida,

por exemplo, pode trazer maior eficiência da utilização de recursos naturais e

tornando-se uma ferramenta capaz de “esverdear” processos. O conceito lançado

pela UNEP (2011) de que a economia verde é uma responsabilidade e desafio de

várias partes, indústria, governo, sociedade e consumidores, corrobora para o

compartilhamento da missão de todas as partes no alcance da sustentabilidade.

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O investimento “verde” atualmente alcançou um novo nível de importância

na matriz energética das empresas, sejam elas de pequeno ou grande porte

(BERN, 2011).

A quebra do paradigma de incompatibilidade entre as empresas petrolíferas

e o desenvolvimento sustentável pode ser iniciada com a análise do gerenciamento

dos resíduos gerados na indústria de exploração de O&G offshore, uma vez que o

aumento do volume e da complexidade dos resíduos industriais, apresenta

potencial para por em risco a saúde humana e o meio ambiente nesta fase de foco

em exploração em águas ultra profundas na costa brasileira.

A UNEP (2011) em conjunto com a ICC (2011) tem a questão “resíduo”

como um dos onze setores analisados em seu relatório “Green Economy Report” e

reforça a introdução da dissertação ao descrever que o gerenciamento de resíduos

se tornou uma indústria global com o crescimento do volume dos mais diversos

tipos de resíduos e afirma que a abordagem do ciclo de vida será importante nesta

transição para a economia verde, por permitir que o resíduo passe a ser visto como

um recurso.

Ambas as publicações por serem recentes, denotam que o tema abordado na

dissertação é bastante atual. A ICC (2011) ainda reforça que o gerenciamento de

resíduos está atrelado a muitas outras questões e que a melhoria deste setor irá

requerer mais educação, treinamento, desenvolvimento de políticas, novas

tecnologias, investimento e melhoria de infraestrutura.

Estes tópicos, serão abordados em maiores detalhes ao longo desta

dissertação possibilitando o aprofundamento da discussão do conceito da

sustentabilidade dentro da indústria do petróleo para fornecimento de uma visão

holística do interessado sobre o tema.

2.3.RESÍDUOS

A IPIECA (2004), define resíduo como “material (sólido ou líquido),

resultante de operações de empresas, planejado para ser disposto, reutilizado,

reciclado ou recuperado, dentro ou fora do local de sua geração.

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A International Standards Organization - ISO 14040:20068 –

Environmental management — Life cycle assessment — Principles and

framework, define resíduo como “substância ou objetos cuja disposição é

requerida ao proprietário - substances or objects which the holder intends or is

required to dispose of”. Ambas as definições demonstram que resíduos sólidos,

efluentes líquidos e emissões atmosféricas são componentes indesejáveis mas

intrínsecos, não só às operações da indústria, mas ao nosso cotidiano. Por estarem

cada vez mais presentes, demandam gerenciamento eficiente para mitigação de

impactos indesejáveis à sua existência.

No contexto internacional, o relatório do Programa das Nações Unidas para

o Meio Ambiente (PNUMA) de 21 de fevereiro de 2011, destaca Políticas

Públicas Sustentáveis e Trajetória de Investimento Rumo à Rio +20 e prevê que o

mundo gerará 13 bilhões de toneladas de resíduos entre municipais e outros até

2050; e relata que atualmente, apenas 25% de todos os resíduos são recuperados

ou reciclados.

Segundo EPA (2011), um gerenciamento eficiente de resíduos, requer o

entendimento e atendimento à legislação ambiental. Este atendimento às leis será

garantido por procedimentos que permitam um fácil entendimento dos resíduos e

suas características, das expectativas ambientais, monitoramento de performance e

integração das operações à todos estes conceitos e ao conceito da sustentabilidade.

Na sequência estruturamos outros capítulos que melhor descrevem este itens

elencados neste material do EPA.

Segundo a OGP (2008), resíduo pode ser definido por diversas maneiras,

por uma abordagem técnica, legal ou até mesmo por nomeclatural empresarial

específica, muitas das vezes seguido por adjetivos tais como: perigosos, especiais,

industriais, domésticos e não perigosos.

_____________________ 8 ISO 14000 é uma série de normas desenvolvidas pela International Organization for

Standardization (ISO) que estabelecem diretrizes sobre a área de gestão ambiental dentro de

empresas.

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47

Para fins desta dissertação, ao longo do trabalho, consideraremos como

resíduos, os efluentes líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos gerados

nas atividades de exploração marítima. Este trabalho não aborda as legislações

pertinentes à classificação resíduos que exigem certificado adicionais de

transportadoras e receptoras, junto órgãos de controle específicos, como a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Comissão Nacional de

Energia Nuclear (CNEN).

2.3.1.EFLUENTES LÍQUIDOS E EMISSÕES ATMOSFÉRICAS

A minimização de poluição industrial, especialmente geradas na indústria de

E&P, requer procedimentos que contemplem geração de efluentes e resíduos a

bordo, sua disposição em terra, descarte de rejeitos no mar e das emissões

atmosféricas. Embora a busca pela mitigação dos impactos decorrentes do

descarte dos fluidos de perfuração e do cascalho configure uma das medidas

requerida pelo órgão ambiental, para controle de poluição provocada pelos

empreendimentos de E&P, esse tema ainda não é abordado por nenhum

instrumento regulador. Na NT 01/11 são definidas condições para o descarte de

efluentes líquidos (oleosos e sanitários e águas servidas) e referência de que o

monitoramento do descarte e da disposição em terra de fluidos de perfuração e

cascalhos, serão abordados em outro instrumento regulador específico para essa

temática. Quanto às emissões atmosféricas decorrentes da E&P de O&G, na NT

01/11 é exigida a realização de inventário semestral, contendo medidas indiretas

de monitoramento dessas emissões. No entanto, assim como para os efluentes,

existe uma referência na NT 01/11 que futuramente será emitida Nota Técnica, no

âmbito do licenciamento ambiental, especificamente relacionada às emissões

atmosféricas decorrentes da E&P de O&G.

Apesar da existência de indicadores específicos para efluentes e emissões

atmosféricas e dos mesmos fazerem parte dos relatórios de sustentabilidade das

empresas operadoras de unidades de perfuração marítima no Brasil, não foi

encontrado um estudo com quantitativo de geração dos mesmos. Todavia, os

volumes de fluidos utilizados na perfuração de poços por serem bastante elevados

e não foram totalmente desconsiderados no material apresentado pela NT 07/11

("Projeto de Controle da Poluição”). Resíduos sólidos das atividades de

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Exploração e Produção de petróleo e gás em bacias sedimentares marítimas do

Brasil no ano de 2009 – Consolidação dos resultados da Nota Técnica

CGPEG/DILIC/IBAMA n° 08/ 08”), que menciona que o IBAMA está

trabalhando em conjunto com a indústria para elaboração de uma normativa

específica para um procedimento mais robusto para a gestão destas informações.

Atualmente as informações disponíveis sobre os fluidos utilizados na perfuração

de poços podem ser encontrados nos relatórios de cumprimento de condicionantes

dos empreendimentos licenciados. A NT 07/11, descreveu uma análise qualitativa

realizada a partir de dados de 30 poços marítimos perfurados no ano de 2009. Os

resultados indicam que a utilização de fluidos de base não aquosa pode variar de

100 bbl9 (110 m3) a 31.000 bbl (4.900 m3) por poço, ratificando que as estatísticas

realizadas com estes dados demonstraram não haver correlação direta entre a

profundidade perfurada e o volume de fluido utilizado, o que dificulta uma

inferência de volumes produzidos em função da quantidade de poços perfurados.

2.3.2.RESÍDUOS SÓLIDOS

A classificação correta dos resíduos gerados em uma determinada atividade

é o primeiro passo para estruturação de um gerenciamento adequado. A partir da

classificação são definidas as etapas de coleta, armazenagem, transporte,

manipulação e destinação final, de acordo com cada tipo de resíduo gerado. As

normas técnicas (NBRs) relativas ao gerenciamento de resíduos sólidos

publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, são as

regulamentações amplamente adotadas no Brasil.

A Norma NBR 10004:2004 – Resíduos Sólidos – classifica os resíduos

quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública.

A classificação baseia-se nas características dos resíduos, se reconhecidos

como perigosos, ou quanto à concentração de poluentes em suas matrizes.

_____________________ 9 bbl – Sigla para barril, unidade de volume que equivale a 158,987 litros (barril estadunidense).

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Tabela 3 - Classificação de Resíduos. Fonte: Manual de Gerenciamento de Resíduos – FIRJAN

A NBR 10004:2004, preconiza também o espectro da classificação de

resíduos em função de suas propriedades físicas, químicas, toxicológicas ou

infecto-contagiosas e na identificação de contaminantes presentes em sua massa.

-Classe I – Resíduos Perigosos, são resíduos sólidos ou mistura de resíduos

sólidos que, em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade,

reatividade, toxicidade e patogenicidade, podem apresentar risco à saúde pública,

provocando ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de

doenças; e apresentarem efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados

ou destinados de forma inadequada.

-Classe IIA representa os resíduos não perigosos e não inertes e podem

apresentar propriedades como combustibilidade, biodegradabilidade ou

solubilidade em água, ou seja, em sua maioria os resíduos do tipo comum não

reciclável que são dispostos em aterro sanitário.

-Classe IIB representa os resíduos não perigosos e inertes, ou seja, em sua

maioria os resíduos passíveis de reciclagem.

A figura 10 relaciona o fluxo para a escolha da melhor tecnologia para

tratamento e disposição final de resíduos sólidos e o anexo 2 descreve opções para

cada tipo de resíduo.

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Figura 10 - Fluxo de escolha de tecnologia de tratamento e disposição final de resíduos sólidos.

Fonte: Adaptação FIRJAN - Manual de Gerenciamento de Resíduos

Resíduos classificados como industriais, tóxicos ou perigosos representam

grande perigo e, dadas as possibilidades de exposição, podem representar grande

risco à população e ao meio ambiente. O descarte destes resíduos em locais

inadequados, incrementa sobremaneira este perigo. Os resíduos sólidos gerados

pelas atividades foco desta dissertação, a partir do recebimento do mesmo nas

bases operacionais terrestres, seguem o mesmo fluxo dos resíduos classificados

oriundos de qualquer outra atividade industrial. A pesquisa bibliográfica então,

abrangeu o quantitativo de resíduo industrial como um todo, seja com base no

quantitativo gerado no Estado do Rio de Janeiro que segundo a NT 07/11 detém a

maior produção em campos marítimos do Brasil (93,6%), seja no quantitativo

país, que permite uma visão clara da precariedade de infraestrutura local.

O Instituto Estadual do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (INEA),

disponibilizou em seu site a situação atual do Estado do Rio de Janeiro. Os dados

referentes ao período de janeiro a dezembro de 2008, indicaram uma geração

anual pelas indústrias fluminenses de 12.089.739,85 toneladas de resíduos

industriais, sendo aproximadamente 5% deste total classificados como perigosos.

Face a quantidade de geração atual de resíduos não só no Brasil, como no

mundo, e tendo em vista a expectativa de geração futura, vislumbra-se uma

deficiência no país para o gerenciamento deste montante. Segundo a pesquisa

nacional de saneamento básico 2008 (PNSB) do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), no Brasil constitucionalmente é de competência do poder

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público local o gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos em suas cidades

que compreendem, coleta, limpeza pública e destinação final. A pesquisa,

transcrita a seguir, ainda mostra que os vazadouros10 a céu aberto (lixões)

constituíram o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios

brasileiros. Embora este quadro venha se alterando nos últimos 20 anos, sobretudo

nas regiões sudeste e sul do país, tal situação se configura como um cenário de

destinação reconhecidamente inadequado, que exige soluções urgente e estrutural

para o setor. Contudo, independente das soluções e/ou combinações de soluções a

serem adotadas, é a clara necessidade de mudanças social, econômica e cultural da

sociedade.

Tabela 4 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidade de destino dos resíduos Brasil

1989/2008. Fonte: IBGE / Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008

Ano Destino finaldos resíduos sólidos,porunidadededestinodos resíduos

Brasil1989/2008

Vazadouro a céu aberto Aterro Controlado Aterro Sanitário

1989 88,2 9,6 1,1

2000 72,3 22,3 17,3

2008 50,8 22,5 27,7

Quando o foco são os resíduos perigosos provenientes de atividades

industriais no país, a situação brasileira não demonstra um cenário positivo.

Segundo os dados levantados pela publicação dos “Perfil dos municípios

brasileiros”, 97% dos municípios brasileiros não possuem aterro sanitário11 dentro

de seus limites territoriais, utilizando- se de outras alternativas para destino deste

tipo de resíduo.

_____________________ 10 Vazadouros a céu aberto ou “Lixão”: Forma inadequada de disposição final de resíduos e

rejeitos, que consiste na descarga do material no solo sem qualquer técnica ou medida de controle.

11 Aterro Sanitário: Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à

saúde pública e à sua segurança minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza os

princípios de engenharia (impermeabilização do solo, cercamento, ausência de catadores, sistema

de drenagem de gases, águas pluviais e lixiviado) para confinar os resíduos e rejeitos à menor área

possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-o com uma camada de terra na

conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário (adaptado da versão

preliminar do PNRS).

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Figura 11 - Geração de Resíduos Sólidos Industriais no Brasil (parcial) – Fonte: Adaptação do

Panorama dos Resíduos Sólidos do Brasil – ABRELPE (2007)

A pesquisa do IBGE aponta para uma série de aspectos importantes no

contexto da qualidade ambiental que confirma o entendimento anteriormente

abordado da relação direta entre o aumento populacional, crescimento da

economia e geração de resíduos. Tendo em vista não só o atual cenário dos

resíduos sólidos em geral (urbanos e industriais), e a conscientização crescente da

sociedade quanto a preservação ambiental e sustentabilidade, os órgãos

internacionais e brasileiros de controle ambiental têm sido cada vez mais

conservativos, com relação ao controle sobre a geração de resíduos e lançamento

de poluentes ao meio ambiente. Paralelamente, a legislação ambiental tem

estimulado as indústrias a desenvolverem tecnologias eficazes para o tratamento

de seus resíduos.

No que se refere ao destino dos resíduos tóxicos ou perigosos, a pesquisa do

IBGE anteriormente referenciada, mostra que o papel desempenhado pelos

vazadouros a céu aberto como destinação final, efetivamente se traduz em

necessidade de conscientização, punição cabível e melhoria. Os dados

evidenciam, portanto, a necessidade de adequação nacional da gestão de resíduos

e de maior aparelhamento dos órgãos federais, estaduais e municipais de meio

ambiente para tratamento efetivo da questão.

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53

No ano 2009, período de abrangência da NT 07/11, o total de resíduos

sólidos gerados pelas atividades de E&P de O&G offshore, foi de 44.437

toneladas. Neste quantitativo não foram considerados os dados referentes aos

fluidos12 não aquosos, fluidos aquosos contaminados e cascalhos12 contaminados

desembarcados em terra que também demonstram a pressão exercida pela

indústria offshore na infraestrutura e logística de resíduos.

Tabela 5 - Esquema de processo que envolvem geração de resíduos sólidos em atividades de

perfuração marítima. Fonte: IBAMA NT 07/11.

Atividade de Perfuração Elementos associados a geração de resíduos

Fluidos de perfuração – base aquosa (descarte no mar);

Cascalhos (descarte no mar); Fluidos de base não aquosa; Cascalho contaminado; Hotelaria / acomodações e escritórios; Lubrificantes / produto de motores e

equipamentos; Soldagens / reparos mecânicos; Produtos Químicos / Resíduos contaminados de

óleo.

_____________________ 12 De acordo com o dicionário do petróleo em língua portuguesa: cascalho de poço é “fragmento

da formação cortado pela broca, retirado do poço pela circulação do fluido de perfuração e

separado deste por meio de peneiras vibratórias localizadas na sonda”. Fluido de perfuração é uma

“mistura complexa de líquidos, sólidos e, em alguns casos, gases, que podem assumir aspectos de

suspensão, dispersão coloidal ou emulsão, a depender da composição química e do estado físico de

seus componentes. Sua função principal é transportar os sólidos gerados durante a perfuração de

um poço até a superfície e promover a separação dos mesmos nos equipamentos de extração de

sólidos. Entre suas outras funções destacam-se: manter sólidos em suspensão, exercer pressão

hidroestática suficiente contra as zonas permeáveis para evitar influxo de fluidos da formação para

o poço, manter a estabilidade de poço, inibir reatividade de formações argilosas, refriar e lubrificar

broca, reduzir atrito entre a coluna e as paredes do poço e propiciar a coleta de informações do

poço através de cascalhos, testemunhos e perfis”. O processo de perfuração de poços de petróleo

envolve a utilização de fluidos de perfuração, cujas funções principais são conter as pressões de

subsuperfície e trazer o cascalho até a superfície. Podem ser constituídos de base aquosa ou não

aquosa. Os fluidos de base aquosa, caso atendam determinadas condições, podem ser descartados

no mar. Os fluidos de base não aquosa ou contaminados são trazidos para a terra para serem

tratados ou dispostos adequadamente.

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Os principais resíduos gerados nas atividades de exploração offshore são:

lixo comum não reciclável, plástico, papel, vidro, madeira, pilhas e bateria,

tambores metálicos, metal, lâmpadas fluorescente, óleo de cozinha, bombonas

plásticas, cimento, salmoura, óleo lubrificante e hidráulico usados, água oleosa,

efluente industrial, resíduos de serviço de saúde, fluidos de perfuração e cascalho

e resíduos contaminados em geral.

A tabela 6 enumera os resíduos gerados pela atividade que são classificados

como perigosos e suas origens:

Tabela 6 - Resíduos perigosos e suas principais origens. Fonte: Lucas Troia Machado Silva. O

Gerenciamento de Resíduos na Indústria do Petróleo, 2011. 86p. Monografia (Projeto de

Graduação) - Faculdade de Engenharia Ambiental, Pontifícia Universidade Católica.

RESÍDUOS ORIGEM

Fluido de Perfuração Oriundo do processo de recuperação de fluido; de lavagens de tanques de fluidos das embarcações e das unidades de perfuração

Resíduos químicos

Produtos químicos utilizados durante a operação, como por exemplo, clorofórmio, ácidos, tolueno e etc.

Lâmpadas fluorescentes

Manutenção em geral das unidades marítimas e das embarcações

Pilhas e baterias

Manutenção em geral de alguns equipamentos das unidades marítimas e das embarcações de apoio.

Água oleosa

Água contaminada com pequenas frações de óleo proveniente da drenagem de áreas contaminadas, do tanque SLOP, etc.

Salmoura contaminada

Água com sal oriunda do poço no processo de perfuração contaminada com outros produtos químicos.

Tambores metálicos

Tambores usados na operação contaminados com óleo ou produtos químicos.

Resíduos de serviço de saúde Resíduos provenientes das unidades de saúde Bombonas plásticas

Bombonas usadas na operação contaminadas com óleo ou produtos químicos.

Efluente industrial

É uma mistura de fluido aquoso, fluido não aquoso e salmoura, sendo sua geração oriunda de limpeza esporádica de tanques das empresas de fluido.

Resíduos contaminados

Resíduos contaminados com óleo ou produtos químicos, como trapos sujos, papelão contaminado, dentre outros.

Óleo lubrificante e hidráulico

Usado no maquinário das unidades das operações.

Esta gama de resíduos, representam consumo improdutivo de recursos

naturais, incompatível com o conceito da sustentabilidade. O aproveitamento dos

resíduos gerados pode trazer benefícios interessantes, tanto do ponto de vista

ambiental como também: redução da criação e utilização de aterros; redução de

gastos com acondicionamento e transporte; redução da utilização dos recursos

naturais e diminuição dos riscos proporcionados por esses resíduos.

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Os resíduos devem ser destinados/tratados dependendo de sua composição.

Alguns dependendo de parâmetros estipulados por acordos internacionais e

legislação nacional e regional podem ser tratados para descarte ao mar, destinados

para aterros sanitários, co-processados em fornos de cimento, incinerados,

reciclados/reutilizados/recuperados.

A escolha dos métodos de tratamento e disposição final deve ser realizada

após análise de alguns critérios que abragem aspectos técnicos e legais e

econômicos, elencados a seguir:

1)Tipo de resíduo;

2)Classificação do resíduo;

3)Quantidade do resíduo;

4)Avaliação da disponibilidade, dos métodos e técnicas ambientalmente

viáveis de tratamento ou disposição e de seus resultados a longo prazo;

5)Custo dos métodos disponíveis.

A NT 07/11 apresenta também os resultados relativos às formas de

destinação final dos resíduos gerados pela atividade de E&P de O&G nos campos

marítimos no ano de 2009. As formas de destinação consideradas são aquelas

previstas na NT 01/11, estabelecidas em função da prática verificada no processo

de licenciamento ambiental das atividades, assim como da experiência das

próprias empresas nacional e internacionalmente. O conceito de destinação final

amplamente adotado pela indústria e na NT 07/11 é abrangente, pois inclui tanto

formas de disposição final (como aterros ou coprocessamento), quanto outras

etapas que podem ser consideradas intermediárias (como estação de tratamento e

rerrefino). Na NT 07/11 é possível observar que os percentuais de cada tipo de

destinação por categoria de resíduo sólido são um indicativo de que maioria dos

resíduos tem uma disposição característica.

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Figura

07/11

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57

Esta abordagem reconhece características comuns entre muitas questões

relacionadas a sustentabilidade no processo do gerenciamento dos negócios,

facilitando o entendimento dos riscos e dos desafios que deverão ser endereçados

através de normas e práticas específicas de cada empresa. A figura 13 ilustra uma

típica disposição de tópicos de sustentabilidade que devem ser endereçados pelos

sistemas de gerenciamento das empresas de petróleo com ênfase no tema desta

dissertação, a questão do gerenciamento de resíduo e a aplicação do conceito do

ciclo de vida.

Figura 13 - Características comuns entre questões sustentáveis e suas integrações estratégicas aos

processos de gerenciamento negocial. Fonte: Adaptação do IPIECA “oil and gas industry

guidance on voluntary sustainability reporting”

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58

Figura 14 - Modelo de Gestão Básico para aplicação de CCV.

2.4.1.RESÍDUOS X GERENCIAMENTO

A palavra gerenciamento para o manuseio dos resíduos gerados em

atividades de perfuração marítima, abrange definições de projetos, seleção de

tecnologia das instalações, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e

disposição final.

Segundo Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, FIRJAN

(2006), o desenvolvimento e implantação um Plano de Gerenciamento de

Resíduos (PGR) é fundamental para qualquer empresa maximizar as

oportunidades e reduzir custos e riscos associados à gestão dos mesmos. Os

mesmos preceitos da implantação de qualquer sistema de gestão devem ser

aplicados no caso de um PGR.

O PGR deve assegurar que todos os resíduos serão gerenciados de forma

apropriada e segura, desde a geração até a destinação final. Isso significa adotar os

passos apresentados pela figura 15.

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59

Figura 15 - Plano de Gerenciamento de Resíduos. Fonte: Manual de Gerenciamento de Resíduos –

FIRJAN

O gerenciamento de resíduos é um componente integral da exploração de

O&G, tendo como maior benefício a proteção da saúde humana e do meio

ambiente. O gerenciamento adequado dos resíduos traz também benefícios dentre

os quais: redução de gastos operacionais e de CAPEX13, redução de

responsabilidade legal, financeira e de risco de dano à imagem da empresa.

O gerenciamento de resíduos basicamente deve endereçar características

ambientais da atividade, o aspecto regulatório local, os desafios de logística e a

comunidade e pessoal envolvidos. O tratamento de resíduos é um dos pilares de

atuação do desenvolvimento sustentável. A diversidade de composição dos

resíduos e de seu comportamento ambiental, tornam sua gestão uma operação

complexa, exigindo uma diversidade cada vez maior, de soluções e de

tecnologias.

_____________________ 13 CAPEX é a sigla da expressão inglesa capital expenditure (em português, despesas de capital ou

investimento em bens de capital) e que designa o montante despendido na aquisição (ou

introdução de melhorias) de bens de capital de uma determinada empresa. Fonte: Wikipedia

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60

2.4.2.HIERARQUIA DE RESÍDUOS

A hierarquia dos resíduos é um conceito amplamente adotado na gestão de

resíduos, que consiste na identificação das estratégias básicas para o

gerenciamento de resíduos seguindo uma ordem de prioridade.

O modelo de hierarquia de resíduo (“waste hierarchy”), ilustrado através da

figura 16, deve ser considerado para a implementação de qualquer PGR (IPIECA,

2004).

Este conceito apesar de ter sido inicialmente apresentado, para situações de

derramamento de óleo, utiliza princípios de redução de resíduo, reutilização e

reciclagem para diminuição do total de resíduo produzido, com consequente

redução de custos e garantia de atendimentos às legislações locais. É uma

ferramenta simples para estruturação de estratégia de gerenciamento de resíduos,

que pode ser utilizada como modelos para todos os tipos de atividades.

Figura 16 - Hierarquia dos Resíduos. Fonte: Adaptação de “Guidelines for oil spill waste

minimization and management”- IPIECA.

Os princípios básicos do gerenciamento de resíduos já publicados pela OGP

(2008) e anteriormente referenciados para a questão de indicadores ambietais,

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61

também ressaltam a importância do conceito de hierarquia de resíduos nas práticas

de gerenciamento, que garantam técnicas e estratégicas para lidar com o resíduo

gerado nas operações offshore de O&G.

Esta hierarquia é frequentemente citada na literatura em termos de redução,

reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final. Seguindo a ilustração da

pirâmide podemos aplicar tal conceito ao gerenciamento de resíduos das

atividades de exploração de O&G marítima, considerando a sequência da

hierarquia: a redução do consumo dos recursos naturais (através de

modificações em equipamentos, processos e até mesmo procedimentos),

substituição de recusos naturais, melhorias no housekeeping, na manutenção e

na conscientização da força de trabalho, treinamento e controle de inventário;

redução na toxicidade (substituição de substâncias por outras mais

ecologicamente corretas - ex. uso de tinta à base de água, plásticos biodegradáveis

etc); reutilização de produtos quando aplicável; utilização de materiais que

possam ser reutilizados por mais tempo e remodelagem de equipamentos (como

válvulas); reciclagem através da conversão de resíduos em matérias que possam

ser reutilizadas, evitando consumo de recursos naturais e consumo de energia;

tratamento para destruição, desentoxicação ou neutralização dos resíduos por

processo tais como térmico, biológico, químico e etc e finalmente a opção de

disposição final através de aterros ou descarte em mar ou terra, sendo obviamente

é a última opção na hierarquia de resíduo.

Figura 17 - Hierarquia dos Resíduos. Fonte: Adaptação “Guidelines for waste management with

special focus on areas with limited infrastructure”- OGP.

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Alguns autores citam que não existe resíduo na natureza, mas que ao mesmo

tempo ele é inerente à produção de O&G necessário para o desenvolvimento da

humanidade. O gerenciamento dos resíduos deve estar presente em todas as fases

do projeto, uma vez que o mesmo não deixará de existir. O ideal é que no futuro

não se tenha o gerenciamento de resíduo baseado na reciclagem ou redução, e sim

tendo o resíduo como sinônimo de geração de recursos, fechando literalmente o

ciclo de vidade forma integrada.

2.5.CICLO DE VIDA

2.5.1.INTRODUÇÃO AO CONCEITO DO CICLO DE VIDA:

O aumento da demanda de produtos e serviços gera um crescimento

econômico que auxilia a erradicação da pobreza e melhora a qualidade de vida das

pessoas e ao mesmo tempo, implica no aumento de consumo de recursos naturais

e traz impactos indesejáveis ao meio ambiente.

A Rio-92 foi um marco para o entendimento global sobre sustentabilidade

versus consumo e produção. A Agenda 2114 já prescrevia que o sucesso no

gerenciamento dos recursos naturais, face ao desenvolvimento social e

econômico, dependeria fundamentalmente de mudanças nos padrões de consumo

e de produção ao redor do mundo, o dilema da atualidade.

Seguindo a Rio 92, tivemos em ordem cronológica eventos que marcaram o

início do reconhecimento da abordagem do ciclo de vida como crucial na

trajetória rumo ao consumo e à produção sustentável. Em 2000, o 1st Global

Ministerial Environmental Forum, evento onde mais de 100 Ministros de Meio

Ambiente declararam que almejavam que a sociedade reconhecesse a produção,

uso e diposição de um produto como um ciclo compreeensível, que considerasse

todo o processo requerido nesta produção: extração e processamento; manufatura;

transporte e distribuição; uso, reuso e manutenção; reciclagem e disposição final.

_____________________ 14 A Agenda 21 é um amplo programa de ação, com o objetivo de dar efeito prático aos princípios

aprovados durante o Rio 92, norteadores do novo paradigma de desenvolvimento sustentável

através de um roteiro detalhado de ações concretas a serem executadas pelos governos, agências

das Nações Unidas, agências de desenvolvimento e setores independentes (como o setor produtivo

e as organizações não governamentais), rumo ao desenvolvimento sustentável.

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Em 2002, no World Summit on Sustainable Development (WSSD) em

Johannesburg, onde os líderes mundiais reconheceram que deveriam existir

políticas de produção e consumo que melhorassem os produtos e serviços, para

redução dos impactos nas saúde humana e no meio ambiente através de

abordagem científicas apropriadas dentre as quais a análise do ciclo de vida.

A UNEP juntamente com a SETAC lançou em 2002 a “Iniciativa do Ciclo

de Vida” (Life Cycle Initiative), reforçando e disseminando que uma abordagem

integrada do ciclo de vida seria a ferramenta para o enlace deste dilema entre

produção e consumo. Esta iniciativa desde então, tem resultado em diversas

publicações sobre o tema que demonstram que cada fase de um produto ou

atividade tem interação com o meio ambiente (uso de recurso naturais), com a

economia (custo de produção ou da atividade) e com a sociedade (pessoal

envolvido ou impactado por tal atividade ou produção do produto), as três

dimensões da sustentabilidade.

A relevância da aplicação deste conceito em prol da sustentabilidade na

indústria offshore está no dinamismo dos domínios ambiental, econômico, social e

suas relações. A abordagem do ciclo de vida nestes domínios, feitos através de

ferramentas, programas ou procedimentos, auxiliam na otimização do processo de

tomada de decisões em uma velocidade adequada.

A UNEP (2005), define em suas publicações que a abordagem do ciclo de

vida pode ser classificada como analítica ou prática. A analítica é feita através de

ferramentas analíticas tais como a análise sugerida pelo WSSD em 2002, o Custo

do Ciclo de Vida - LCC (life cycle costing), Avaliação do Ciclo de Vida - LCA

(life cycle assessment) e checklists. A abordagem prática é a tradução da teoria e

de resultados da abordagem analítica em prática, que basicamente consistem em

programas governamentais e corporativos e suas respectivas ferramentas.

Durante o desenvolvimento da dissertação, observou-se que ambas as

abordagens já começaram a ser vistas na indústria do petróleo no Brasil, mas

ainda de forma aleatória e sem muita efetividade. A já mencionada idéia de que o

conceito do ciclo de vida seria o o diferencial na gestão de resíduos, já aparecia

em uma das grandes referências na temática da sustentabilidade do planeta, a

Agenda 21 Global. Em seu item 20.6. (Capítulo 20 - Manejo Ambientalmente

Saudável dos Resíduos Perigosos, incluindo a Prevenção do Tráfico Internacional

Ilícito de Resíduos Perigosos) é descrita a importância do ciclo de vida em prol do

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desenvolvimento sustentável, como desafio para o mundo corporativo e para a

sociedade, conforme o exposto em seu objetivo geral “No quadro de um manejo

integrado do ciclo de vida, o objetivo geral é impedir, tanto quanto possível, e

reduzir ao mínimo a produção de resíduos perigosos e submeter esses resíduos a

um manejo que impeça que provoquem danos ao meio ambiente”. No entanto

apesar do conceito estar descrito na agenda 21 global, a transformação desta teoria

em ferramentas do dia a dia na indústria de forma ordenada, pode ser considerada

recente. Muitas publicações científicas já agregam o conceito de sustentabilidade

ao conceito do ciclo de vida, mas ainda não temos estes conceitos difundidos nas

atividades de exploração de O&G.

Segundo UNEP/SETAC (2007), a jornada em prol da sustentabilidade

requer uma expansão das fronteiras negociais tradicionais das empresas, que estão

pautadas nas dimensões econômicas, sociais e ambientais, através da introdução

do conceito de ciclo de vida nos negócios. A figura 18, adaptação de original

desenvolvida pela UNEP para ilustrar uma visão global das abordagens do ciclo

de vida, demonstra a aplicabilidade e a importância do tema abordado nesta

dissertação e sugere estudos e ações futuras que possam melhorar a efetividade de

ações para tornar a abordagem analítica mais orientadas para a prática e a

abordagem prática mais baseada em resultados científicos.

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Figura 18 -Abordagem prática e analítica do ciclo de vida, direcionada por conceitos e suportada

por informações. Adaptação do “Life Cycle Approaches - The road from analysis to practice” –

UNEP.

2.5.2.CICLO DE VIDA NA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

Nas últimas décadas as empresas têm operado com mais responsabilidade

ambiental e demonstrado que iniciativas e melhorias podem trazer benefício

econômico. Como retrospectiva, podemos resumir que nos anos 80 as medidas de

prevenção de poluição começaram a ser entendidas pelas empresas como algo que

valia a pena, através da implantação de processos com foco na redução do uso dos

recursos naturais, das emissões e dos resíduos, gerando lucros significativos para

as empresas.

Assim como nas questões ambientais, os acidentes de grande repercussão

mundial na indústria de petróleo, mostraram para as empresas que seria essencial

a implementação de sistemas de gestão para garantia de operações seguras. As

empresas então observaram que segurança não é a única temática essencial para a

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indústria e expandiu seus sistemas de gestão para uma integração como todos os

outros sistemas de gerenciamento, incluindo o ambiental.

Nos anos 90 sugiu a série ISO 14:000. A integração dos sistema ambiental,

de gerenciamento da qualidade e do ambiente de trabalho, criaram novas

oportunidades para as empresas, dentre eles menor consumo de recursos naturais,

impacto positivo na imagem da empresa, melhoria na relação com comunidade,

ONGs e governo, inovações tecnológicas e melhor atendimento às legislações

nacionais e internacionais.

Segundo a EPA (2011), atualmente mesmo com todo o avanço tecnológico

e suas ferramentas para eficiência de gestão tais quais auditorias, análise de riscos

e planos de resposta à emergências, todas as atividades relacionadas à extração do

recurso natural trazem impactos indesejáveis à saude humana ou ao meio

ambiente e consequentemente à sociedade como um todo, pondo em risco a

sustentabilidade do planeta. No entanto a importância da atividade petrolífera no

mercado garante a sua existência e delimita seu consumo e produção. O

crescimento atual da população mundial, e consequentemente o maior consumo de

energia continuarão a incentivar o investimento nas atividades de exploração de

O&G, gerando cada vez mais resíduos e portanto exigindo das empresas

petrolíferas soluções complexas para conformidade com questões e aspectos

sociais, políticos, econômicos, ambientais, estabelecidos como parte integral do

gerenciamentos dos resíduos destas empresas.

Um gerenciamento de resíduos eficiente reduz e mitiga seus impactos

indesejáveis ao meio ambiente, através de consumo eficiente de recursos naturais,

logística bem planejada e sistemas que permitam opções de tratamento que

considerem local de operação, consumo de energia, questões econômicas e sócio

políticas, isto é, através de ferramentas de abordagem analítica e prática do

conceito do ciclo de vida.

Muitas práticas industriais adotadas no passado são questionáveis nos dias

de hoje e por isso o entendimento do conceito do ciclo de vida em todo o fluxo do

resíduo (geração, identificação, segregação, inventário, armazenamento,

transporte, tratamento e disposição) é essencial para que através de uma sequência

lógica a empresa tenha um gerenciamento pró ativo, efetivo e responsável deste

assunto, que facilite as agências reguladoras, os órgão normativos locais,

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empresas e sociedade em geral a assegurem que as atividades de exploração estão

alinhadas com o conceito de desenvolvimento sustentável.

O indicadores de sustentabilidade em uso estão a cada dia mais consistentes

e já trouxeram inegáveis melhorias à indústria de petróleo. No entanto, por serem

setoriais não fornecem uma visão mais ampla dos pontos que ainda podem sofrer

intervenção para melhoria em prol da sustentabilidade. Estas lacunas são

preenchidas pelo CCV, que pode ser entendido como a consciência de que um

bom desempenho ambiental de uma unidade isolada da cadeia produtiva da

indústria da construção não é suficiente para o desenvolvimento sustentável. Esta

condição será atingida apenas se a totalidade dos elos dessa cadeia apresentar

desempenho ambiental adequado.

Por isso, neste contexto proposto, toda fase do ciclo de vida de uma

atividade, produto ou serviço, deve estar fortemente coordenada com a outra fase,

de maneira que as partes envolvidas na concepção, uso e disposição de um

produto sejam trazidas juntas num processo consistente com um fluxo de

informação.

O ciclo de vida do resíduo gerado nas operações offshore pode ser resumido

em quatro fases:

Projeto – os requerimentos relacionados ao gerenciamento de resíduos são

muito mais fáceis de serem identificados nas fases iniciais do projeto (tempo de

operação, número de poços a serem perfurados, número de pessoas envolvidas na

atividade, licenciamento), onde ainda não existem pressão operacional e de custos

extras envolvidos.

Mobilização – Fase de construção ou preparação para as atividades com

seleção das instalações/equipamentos de apoio (navio sonda, embarcações de

apoio, base operacional), determinação de tipos de resíduos a serem gerados e seu

respectivo volume, a distância que o mesmo vai percorrer desde sua origem até

seu tratamento ou disposição final e os planos operacionais que garantirão o

alinhamento com o conceito da pirâmide de hierarquia do resíduo.

Operação – Durante as operações, o gerenciamento dos resíduos pode ser

dividido em duas partes: (i) a logística para coleta, armazenamento, transporte,

tratamento e disposição final e (ii) revisão periódica dos planos de gerenciamento

e sua implementação para garantia de melhoria contínua e atendimento à

legislação local.

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Abandono – Esta fase pode representar um projeto inteiro dependendo da

complexidade de instalações associadas à operação, da quantidade de resíduo

gerado, possíveis impactos ambientais e necessidade de remediações ou

desinvestimento.

O fato do processo ser bastante complexo, envolvendo profissionais de

diversas localidades e organizações e com equipe e em fases distintas, faz com

que no processo do gerenciamento de resíduos seja comum a postergação do

problemas identificados, para as fases subsequentes ou até mesmo para gerações

futuras no caso de uma disposição final inadequada.

O anexo 3, ilustra detalhes destas quatro fases onde fica claro que muitas

das atividades são desempenhadas por equipes de profissionais que normalmente

não tem nenhum tipo de interação entre suas atividades de rotina.

Figura 19 - A nova dimensão de percepção após introdução do conceito de ciclo de vida.

A aplicação do CCV permite análise quantitativa como previsto por

qualquer sistema de gestão, mas também permite análise qualitativa quanto ao

impacto que cada etapa tem na sustentabilidade da operação, o que facilita o

entendimento destes dados por todos os envolvidos, mesmo que de outras áreas,

que muitas vezes demonstram resistência às atividades desempenhadas pelos

profissionais da área ambiental.

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O sucesso da aplicação do conceito do ciclo de vida às atividades em

questão é comprovado pelo fato das duas maiores empresas do setor de O&G do

mundo15, ExxonMobil e Petrobras respectivamente, terem o conceito como parte

de suas publicações quanto a sustentabilidade de suas operações.

A Petrobras, tem em sua Política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde –

SMS, descrita no relatório de sustentabilidade de 2010, o objetivo de “Assegurar a

sustentabilidade de projetos, empreendimentos e produtos ao longo do seu ciclo

de vida, considerando os impactos e benefícios nas dimensões econômica,

ambiental e social”.

Figura 20 - O envolvimento multidisciplinar no processo de gerenciamento de resíduos e suas

diversas fases. Fonte: Adaptação de esquema ilustrado no “Life Cycle Management - A bridge to

sustainable products”- UNEP

_____________________ 15 De acordo com o Relatório de Sustentabilidade 2010 publicado pela empresa Petrobras (página

38), em 24 de setembro de 2010, a empresa passou a ocupar o segundo lugar entre as empresas do

setor de óleo e gás no mundo, atrás apenas da empresa ExxonMobil.

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A ExxonMobil, também descreve no seu Relatório de Cidadania

Corporativa de 2009 que “O CCV contribui para o gerenciamento de toda gama

de potenciais impactos sociais e ambientais associados às nossas operações e

produtos. Adotamos uma abordagem holística para compreensão de nossa

impactos desde as atividades inicias de exploração até seu eventual

encerramento”.

2.5.3.CICLO DE VIDA - ABORDAGEM PRÁTICA E ANALÍTICAS NAS EMPRESAS

Para melhor entendimento das duas abordagens de ciclo de vida no contexto

de resíduos, podemos fazer um paralelo entre hierarquia e gerenciamento de

resíduos. Ambos são focados na redução de resíduos, sendo que a hierarquia

representa uma sequência de prioridades para opções de gerenciamento, desde a

ideal até a menos desejada. Isto é, a hierarquia é um conceito simples que pode ser

facilmente implementado e que não requer nenhuma análise analítica. Já o

gerenciamento de resíduos envolve: avaliação de ativos e opções de tratamento

local e regional ecologicamente e economicamente viáveis para se atingir os

objetivos, requerendo um considerável número de análises quantitativas. Assim,

representariam exemplos de abordagem prática e analítica do ciclo de vida

respectivamente. A abordagem analítica é geralmente desenvolvida pela

comunidade científica e de complexo entendimento. A prática geralmente consiste

em programas desenvolvidos por empresas ou pelo governo mas que

eventualmente podem ter seus resultados subestimados for falta de suporte

científico.

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Por ser intuitiva seria mais facilmente adotada pelas empresas e pelos diversos

setores envolvidos no processo, sendo por isso mais facilmente disseminada para

uso em tomadas de decisões diárias, que em muito impactam no resultando final

do processo. Ainda referenciando o paralelo entre a hierarquia e o gerenciamento

de resíduos, sugere-se para incremento do uso do conceito do ciclo de vida em

gestão de resíduos nas atividades de exploração marítima, uma estrutura de fácil

assimilação por todos os setores envolvidos, que inicialmente não necessite

nenhuma ferramenta de abordagem analítica e que ao mesmo tempo tenha

referência com ferramentas já conhecidas e utilizadas por estes profissionais. Esta

estrutura está ilustrada na figura 22, como uma adaptação da figura desenvolvida

pela UNEP/SETAP (2005), que representaa correlação entre o tripé da

sustentabilidade e os tópicos abordados nos capítulos anteriores. A

sustentabilidade é o objetivo maior da alta gerência das empresas que alicerçam o

conceito do ciclo de vida para definição de estratégias negociais que serão

atingidos através dos sistemas de gestão com foco em responsabilidade social,

prevenção da poluição e lucros. Esta estrutura facilita a integração entre as três

dimensões da sustentabilidade e as ferramentas de execução, que a empresa utiliza

para a aplicação do conceito do CCV ao PCP das atividades de exploração

marítima, alinhadas às políticas e sistemas de gestão já existentes.

Figura 22 - Gerenciamento dos Resíduos x Ciclo de Vida – Dinamismo e interfaces com todos os

níveis da empresa. Fonte: Adaptação de figura da UNEP/SETAP.

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Assim, a aplicação do CCV ganha o suporte da alta gerência como parte da

estratégia negocial. Este comprometimento da alta gerência define o ritmo da

mudança de paradigma do comportamento e entendimento da equipe quanto a

estes conceitos e a sua correlação com suas atividades diárias, para alinhamento

das diversas etapas das atividades, ,isto é, das fases do ciclo de vida do resíduo. A

utilização destes conceitos nas tarefas de rotina permite a identificação de

oportunidades mais concretas de redução de impactos ambientais no processo.

O CCV oferece uma estrutura que permite que a gerência se organize para o

alinhamento de vários conceitos e ferramentas, através de sinergias que garantam

a redução dos impactos nas três dimensões descritas anteriormente. O CCV é o

motor que impulsiona a coincientização de sustentabilidade desde os níveis mais

altos da empresa incluindo todos os envolvidos na atividade, auxiliando

diariamente a tomada de decisões em todas as fases da atividade em questão. Isto

é, as informações reunidas no âmbito da área conceitual do CCV permitem avaliar

os efeitos ambientais oriundos da cadeia produtiva e das ações operacionais

executadas, enquanto quantificam as repercussões em toda a cadeia do resíduos,

desde a sua geração até o seu tratamento ou disposição final.

Figura 23 – Fatores norteadores da estrutura de gerenciamento do ciclo de vida. Fonte:

HERMANN, Ing. Christoph. Material de aula da disciplina “Maintenance and life cycle

management in infrastructure planning”.

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2.6.CONCLUSÕES DO CAPÍTULO

O CCV pode ser entendido como a consciência de que um bom desempenho

ambiental de uma unidade isolada da cadeia produtiva da indústria petrolífera, não

é suficiente para garantir que a mesma seja sustentável. Essa condição será

atingida apenas se a totalidade dos elos dessa cadeia apresentar desempenho

ambiental adequado.

A utilização do CCV estimula o desenvolvimento sustentável com foco na

preservação das gerações futuras, além do foco tradicional em produção e

processos para inclusão das dimensões econômicas, sociais e ambientais nos

negócios, de forma real e ao longo de todo o ciclo de vida da atividade. O CCV

expande o conceito genérico de sustentabilidade do setor, já que a cada estágio da

atividade é possível identificar oportunidades de redução de consumo de recursos

e melhoria de desempenho, como uma reação em cadeia que abrange todos os

setores e profissionais envolvidos na atividade de perfuração e o seu fluxo de

resíduos, efluentes e emissões. A aplicação do CCV permitiu que ao longo da

dissertação fosse feita uma análise criteriosa de cada fase do fluxo de resíduos,

como também análise de uma visão macro da atividade em questão.

A simplificação de todo o processo fornecido pela visão holísitica, torna

mais simples o entendimento de como cada etapa pode influenciar no processo

dentro e fora da empresa, incluindo as empresas contratadas e envolvidas na

atividade (nas bases de operações contratadas para gerenciar armazenamento

temporário e transporte dos resíduos em terra, que por sua vez, precisam

coordenar a logística ainda com outras empresas, para que alguns resíduos tenham

seu transporte/disposição final economicamente viáveis devido a distância entre o

recebimento do resíduos e as empresas especializadas no tratamento e disposição

final dos mesmos).

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