[2] - alb – associação de leitura do brasil – tem por objetivo promover o...

10

Click here to load reader

Upload: lyquynh

Post on 25-Jan-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,

DO MOMENTO AO E–VENTO, DO FOTOGRAFAR AO PULVERIZAR ALIK WUNDER (UNICAMP), FERNANDA CRISTINA MARTINS PESTANA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - INSTITUTO DE ARTES IA). Resumo Imagens que querem atuar como forma–pensamento pulsante, querem encantar, incomodar, abrir desentendimentos, perguntas, buscas sobre as biotecnologias e as interfaces entre humano e não–humano. Desejos que perpassam um projeto de divulgação científica desenvolvido em parceria pelo Labjor e Faculdade e Educação – Unicamp. Desafio: fazer dos registros fotográficos de uma peça teatral – “Num dado momento:biotecnologias e rua” encenada nas ruas da cidade, uma instalação – “Num dado e–vento: biotecnologias e culturas em texturas, vãos, sombras, cores, sons...?” Nas fotografias: imagens impressas em grandes dados – mãos realizando um sequenciamento genético, modelo da forma dupla hélice do DNA, um anjo sem corpo com longas asas brancas, um homem coberto de penas, uma menina–polvo – criam adensamentos quase–ficcionais com corpos de transeuntes e fragmentos da cidade. Na instalação: fotografias ganham suave materialidade em projeções em tules, paredes, plásticos, espelhos, chão, teto, mãos, braços, roupas, sombras. Pessoas são convidadas pelos objetos a misturarem–se às imagens, fazê–las dançar em seus corpos, pulverizá–las em diferentes fragmentos irreconstituíveis. Sombras em movimento, silhuetas dançantes, imagens repartidas, sobreposições. Nas imagens impressas: fotografias transformam–se, encontram palavras, dialogam com formas e cores, cria–se uma poesia visual lançada ao público como elemento de propagação, de multiplicação das biotecnologias ali (in)visíveis. Superfícies fotográficas deslizam por diferentes suportes e apostam nas potências das cores, dos ritmos, das texturas e do acaso. Do registrar ao in–ventar. Palavras-chave: fotografia, acontecimento, divulgação científica.

Imagens[1] que querem atuar como forma-pensamento pulsante, querem

encantar, incomodar, abrir desentendimentos, perguntas, buscas sobre as

biotecnologias e as interfaces entre humano, o não-humano, a criação, a vida e o

tempo. Um desafio da equipe de pesquisadores e artistas do Projeto “Num dado

momento: biotecnologias e culturas em jogo” financiado pela Pró-reitoria de

Extensão e Assuntos Comunitários (Preac/Unicamp), expansão do projeto

“Biotecnologias de Rua”, realizado pelo Laboratório de Estudos Avançados em

Jornalismos e Faculdade de Educação – Unicamp (CNPq)[2]. Estes projetos lançam

ações que apostam nas relações entre diversas linguagens – fotografia, artes

visuais, vídeo, música, webdesigner - como força educativa, e têm explorado uma

idéia de divulgação científica que não tem por objetivo a transmissão de conceitos e

dados científicos pelo uso de textos simplificados e de imagens que possam

explicitar ou explicar fenômenos. As palavras, imagens e sons, ou seja, a

linguagem, menos como meio de comunicação de fatos e conhecimentos e, na

associação com as linguagens artísticas, mais como forma de pulverização de

Page 2: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,

sentidos e de abertura de lacunas de desentendimentos. A aproximação da

divulgação científica e da educação a um tipo de arte que se propõe a criar outras

formas visualidades pela exploração da própria linguagem, desloca a idéia do

conhecimento como algo essencial que possa ser passado ao outro de forma clara e

inalterada através das imagens e palavra, e nos joga para o campo da experiência

com a linguagem. Neste sentido, temos buscado inspirações em diversas obras de

artistas e em conceitos de filósofos, como de Gilles Deleuze, que lidam com a

linguagem pelos seus efeitos de superfície:

Deleuze, na sua teoria dos acontecimentos, pensa a linguagem como

cartas de baralho, “figuras sem espessura, profundidades desdobradas nas

superfícies” (Deleuze, 2003, p.10). Os sentidos não são representados ou

comunicados pela linguagem como algo que provém de um lugar profundo

e se adensam em palavras e imagens. “Tudo o que acontece e tudo o que

se diz acontece e diz-se na superfície” (p.136) (WUNDER, 2008, p.112).

É por estas potências de fissurar sentidos já ditos e estabelecidos que

buscamos movimentar pensamentos sobre temas que circulam no meio científico e

na cultura, como as biotecnologias. Neste texto, pensamentos-palavras,

pensamentos-imagens que se fizeram imersos nas criações do projeto em especial

na criação de fotografias realizadas por Alik Wunder e na passagem-criação destas,

a outros suportes: para imagens projetadas numa exposição e para imagens

postais feitas por manipulação digital por Fernanda Pestana e impressas em

materiais de divulgação. Partimos de um desafio: fazer dos registros fotográficos de

uma peça teatral – “Num dado momento: biotecnologias e cultura em jogo”

encenada nas ruas da cidade em 2008, uma exposição - “Num dado e-vento:

biotecnologias e culturas em texturas, vãos, sombras, cores, sons...?” que ocorreu

em abril de 2009 na Estação Guanabara (Campinas – SC).

Nas fotografias: imagens impressas em grandes dados - mãos realizando um

seqüenciamento genético, modelo da forma dupla hélice do DNA, um anjo sem

corpo com longas asas brancas, um homem coberto de penas, uma menina-polvo

sorridente, uma célula de amarelo intenso perfurada por um aparelho pontiagudo,

imagem de um mesmo cachorro reproduzido dezenas de vezes, “clonado”

imageticamente – criam adensamentos quase-ficcionais com corpos de transeuntes

e fragmentos da cidade. Estes dados gigantes, na peça, eram jogados pelo público,

num convite a comporem, com palavras e imagens, um grande poema coletivo

movimentado pela pergunta: Que palavra você levaria para o futuro dos humanos?

Page 3: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,

As 18 imagens que compunham as faces dados traziam as biotecnologias

não centradas especificamente na ciência, mas pulverizadas nos e pelos diferentes

campos da cultura. Desde esta escolha destas imagens, uma aposta do projeto de

que os diferentes sentidos atribuídos e gerados pelas biotecnologias estão nas

pinturas, no cinema, nas mídias, nas ruas, na cultura e não apenas na ciência que

há produz materialmente. Estas imagens provindas de diferentes meios tinham algo

em comum, afetavam pela sua intensidade de cores e contrastes, e pela sua

estranheza. Os dados e suas imagens fabulosas, assentados no cenário da peça a

espera do jogo, criavam, fotograficamente, composições na relação com os corpos

comuns das ruas, que estendiam ainda mais a tensão visual entre formas humanas,

não-humanas e híbridas, corpo macro e micro, interno e externo, o artificial e o

natural, o normal e o estranho. Nas imagens, a cidade joga-se aos dados, em

interações com as cores, formas, objetos, olhares. Interações que beiram a sutil

fronteira entre o desejo de apreensão do que foi visto pelo fotógrafo e o lançar-se

ao acaso dos encontros que escapam ao tempo da visão. Jogos do acaso num dado

momento.

Os planos fechados, a composição de cores – atmosferas azuladas, rosas

choques, fundos negros - de texturas, de superfícies diversas planificadas das

imagens criaram uma sensação de ficção, de montagem, de tensão com o que se

chama de real. A produção fotográfica não se ateve a uma busca de adequação

mundo e imagem no critério de semelhança, não como uma forma de duplicar o

vivido e visto – registrar a peça - e , no entanto, não se configurou como uma

fotografia puramente experimental:

Não se sabe mais o que é imaginário ou real, físico ou mental na situação,

não que sejam confundidos, mas porque não é preciso saber, e nem mesmo

há lugar para a pergunta. É como se o real e o imaginário corressem um

atrás do outro, se refletissem um no outro, em torno de um ponto de

indiscernibilidade (DELEUZE, 2007, p.16).

Buscou-se uma indiscernibilidade (2007, p.16) entre criação e a

documentação, entre ficção e realidade, embaladas pelos pensamentos deleuzianos

sobre a imagem. Nas palavras de Fatorelli: Uma suspensão do aqui e do agora que

prioriza os nexos possíveis da imagem tornada autônoma com um imaterial, uma

potência de pensamento ou uma intensidade. (p.33). Estas imagens quase

desconectadas do tempo fotografado buscam uma ruptura na mecânica da

remissão da imagem a uma situação originária (p.125), querem alçar vôo

Page 4: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,

inesperados, lançarem-se ao vento... Não há regras pré-existentes, cada lance

inventa suas próprias regras (Deleuze, 2003, p.62)

Nas imagens impressas: fotografias transformam-se, encontram palavras,

dialogam com formas e cores, cria-se uma poesia visual lançada ao público como

elemento de propagação, de multiplicação das biotecnologias ali visíveis e

invisíveis. A seqüência das imagens traça passagens, cria caminhos de invenções. A

fresta que se abre proporciona a experiência para o novo. No exercício de olhar as

fotografias que registram o humano, o biotecnológico, o não humano, escolhas são

feitas na busca de imagens que se associam com outros artistas, com outras obras,

outras imagens. Nestas associações a ferramenta eletrônica faz realizar o novo, dá

existência à criação, que mescla diversas superfícies, potencializa cores, adensa os

corpos e movimentos, destaca fragmentos da imagem, traz a palavra, o poema, a

literatura.

Na instalação: projeções em grandes paredes, em tules, em plásticos, em

espelhos, chão, teto, mãos, braços, roupas, sombras. As faces dos dados abrem-se,

expandem-se pelas texturas do espaço – um amplo armazém de uma antiga

estação de trem. As imagens ganham imensas dimensões e suaves materialidades.

As pessoas foram convidadas pelos objetos – roupas brancas penduradas na

entrada, espelhos para serem manipulados - a misturarem-se às imagens, fazê-las

dançar em seus corpos, pulverizá-las em reflexos, em diferentes fragmentos

irreconstituíveis. Sombras em movimento, silhuetas dançantes, imagens repartidas,

sobreposições. Ao longo da exposição uma trilha criada pelo músico João Arruda a

partir dos registros sonoros da peça de teatro, textos criados pela equipe e samples

eletroacústicos, traziam sons e palavras que interagiam com as imagens.

As imagens, os objetos, os sons foram oferecido ao público, menos como

algo a ser capturado e compreendido e mais como coisas a serem exploradas,

vividas caoticamente. Uma abertura, um risco, um jogo, e-vento. Na exposição a

imagens de seqüenciamento de DNA - mãos-cientista que querem apreender as

marcas genéticas na transparência do azul intenso - compõe-se inesperadamente

com uma dança. Um corpo que não se deixa apreender, perambula pela imagem,

as mãos são pássaros que querem escapar. Uma imagem-pensamento, sombra

dissidente aos sentidos pré-estabelecidos sobre humano, futuro e vida. Superfícies

fotográficas, verbais e sonoras deslizam, nas diferentes ações do projeto, por

diferentes suportes e apostam nas potências das cores, dos ritmos, das texturas e

do acaso. Apostam na força de fabulação, de criação. Do registrar ao in-ventar.

Page 5: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,

Bibliografia:

DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido, São Paulo: Perspectiva, 2003.

DELEUZE, Gilles. A Imagem-Tempo, Cinema 2, São Paulo: Brasiliense, 2007.

FATORELLI, Antonio. Fotografia e Viagem, entre a natureza e o artifício, Rio

de Janeiro: Relume Dumará: FAPERJ, 2003.

WUNDER, Alik. Foto quase grafias, o acontecimento por fotografias de

escolas. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, Unicamp, 2008.

[1] Ver no anexo fotografias de Alik Wunder e Marli Wunder e imagens criadas por Fernanda Pestana a partir da peça teatral “Num dado momento: biotecnologias e cultura em jogo” encenada nas ruas da cidade em 2008 e da exposição - “Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em texturas, vãos, sombras, cores, sons...?” que ocorreu em abril de 2009 na Estação Guanabara (Campinas – SC).

[2] Esse projeto (Nº do processo - 553572/2006-7. Edital MCT/CNPq n. 12/2006 – Difusão e Popularização da C&T) é coordenado por Carlos Alberto Vogt e envolve pesquisadores (e suas respectivas instituições): Carolina Cantarino, Flavia Natércia, Germana Barata, Susana Oliveira Dias (Pesquisadoras do Labjor-Unicamp); Elenise Cristina Pires de Andrade (Uesc); Antonio Carlos Amorim, Wenceslao Machado de Oliveira Júnior, Alik Wunder (Olho-FE/Unicamp); Thiago La Torre e Fernanda Pestana (Bolsistas PIBIC); Glauco Roberto, Carolina Ramkrapes, Bryan Félix e João Calis Neto (bolsistas SAE) e Sheyla Macedo (Bolsistas Fapesp). O projeto Num dado momento e Um lance de dados – derivado do Biotecnologias de rua é coordenador por Wenceslao Machado de Oliveira Júnior. www.labjor.unicamp.br/biotecnologias/calcadao.html Acesso em: mai. 2009.

Page 6: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,

Do momento ao e-vento,

do fotografar ao pulverizar

Alik Wunder1 e Fernanda Pestana2 

 

 

Fotografias de Alik Wunder e Marli Wunder e designer gráfico de Fernanda Pestana a partir da peça teatral “Num dado momento: biotecnologias e cultura em jogo”, encenada nas ruas da cidade em 2008, e da exposição “Num dado e-vento: biotecnologias e culturas em texturas, vãos, sombras, cores, sons...?” que ocorreu em abril de 2009 na Estação Guanabara (Campinas – SC).

Projeto “Num dado momento: biotecnologias e culturas em jogo” financiado pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac/Unicamp/0

Projeto “Biotecnologias de Rua”, realizado pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismos (Labjor) e Faculdade de Educação – Unicamp (CNPq).

                                                            

1 Doutora em Educação pela Faculdade de Educação (FE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil, pós-doutoranda e pesquisadora associada ao Laboratório de Estudos Audiovisuais – OLHO (FE - Unicamp). 2 Graduanda no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil, bolsista PIBIC/CNPq, Biotecnologias de Rua/CNPq.

Page 7: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,
Page 8: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,
Page 9: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,
Page 10: [2] - ALB – Associação de Leitura do Brasil – Tem por objetivo promover o …alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/... · 2017-05-04 · DO MOMENTO AO E–VENTO,