1º reuniÃo da abeco 5º simpÓsio de ecologia teÓrica · domingo segunda-feira terÇa-feira...
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1º REUNIÃO DA ABECO
&
5º SIMPÓSIO DE ECOLOGIA TEÓRICA
________________________________________________
16 A 19 DE OUTUBRO DE 2016
GRAMADO | RS
LIVRO DE RESUMOS
REALIZAÇÃO
APOIO
COMISSÃO ORGANIZADORA
Comissão Coordenadora
Presidente: Valério De Patta Pillar (UFRGS)
Vice-Presidente: Sandra Maria Hartz (UFRGS)
Tesoureiro: Eduardo Vélez Martin (UFRGS)
Secretária: Sandra Cristina Müller (UFRGS)
Comissões Especiais
Comissão Científica
Leandro da Silva Duarte (UFRGS)
Márcia Cristina Mendes Marques
(UFPR)
Rosana Mazzoni (UERJ)
André Luís Luza (UFRGS)
Gabriel Nakamura de Souza (UFRGS)
Lucas Marafina Vieira Porto (UFRGS)
Comissão de Comunicação
Lucilene Inês Jacoboski (UFRGS)
Raíssa Furtado Souza (UFRGS)
Taís de Fátima Ramos Guimarães
(UFRGS)
Comissão Financeira
Anaclara Guido Bolioli (UFRGS)
Letícia Piccinini Dadalt (UFRGS)
Michelle Abadie de Vasconcellos
Rafael Engelman Machado (UFRGS)
Comissão de Infraestrutura
Jorge Bernardo-Silva (UFRGS)
Larissa Donida Biasotto (UFRGS)
Pedro Augusto Thomas (UFRGS)
Rodrigo Scarton Bergamin (UFRGS)
Rômulo Silveira Vitória (UFRGS)
Vinícius Augusto Galvão Bastazini
(UFRGS)
Comissão de Recepção
Arielli Fabrício Machado (UFRGS)
Bianca Darski Silva (UFRGS)
Daniela Hoss da Silva (UFRGS)
Dirleane Ottonelli Rossato (UFRGS)
Felícia Miranda Fischer (UFRGS)
Gabriela de Fátima dos Reis Ávila
(UFRGS)
Comissão de Serviços
Helena Streit (UFRGS)
Letícia Rosa Frizzo (UFRGS)
Luciana da Silva Menezes (UFRGS)
Marcelo Araujo Frangipani (UFRGS)
Thiago Alves Lopes de Oliveira
(UFRGS)
Comissão de Apoio
Alice Mainieri Flores (UFRGS)
Elisa Viana Salengue (UFRGS)
Katia Janaina Zanini (UFRGS)
Kauane Maiara Bordin (UFRGS)
Luiz Fernando Esser (UFRGS)
Márcio Baldissera Cure (UFSC)
Omara Lange (UFRGS)
Rodrigo Baggio (UFRGS)
Viviane Zulian (UFRGS)
APRESENTAÇÃO
A Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação e a Comissão
Organizadora do Simpósio de Ecologia Teórica têm a satisfação de convidar toda a
comunidade interessada no estudo e na conservação dos sistemas ecológicos a
participar da 1ª REUNIÃO da ABECO, incluindo o 5° SIMPÓSIO de ECOLOGIA
TEÓRICA, que acontecerá em GRAMADO-RS, entre os dias 16 e 19 de outubro de
2016.
O evento terá uma forte programação científica, contando com a participação de
diversos pesquisadores renomados internacionalmente.
Convidamos pesquisadores e estudantes a participarem do evento, submetendo
seus trabalhos nas diversas áreas da ecologia e conservação.
O evento é uma realização conjunta da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e
Conservação (ABECO) e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em nome da organização da 1ª RABECO – 5° SET, damos a vocês as BOAS-VINDAS
e desejamos que aproveitem tanto as atividades acadêmicas quanto as culturais e
recreativas que ofereceremos durante o evento.
PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA
HORÁRIO 16/10/2016
17/10/2016
18/10/2016
19/10/2016
DOMINGO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA
9:00 - 10:00
Credenciamento a partir das 14h
"Inferring Demographic Parameters from Microsatellite and Sub-Genomic Data -
From North American Plants to Brazilian Lizards"
"Genética Quantitativa, Diferenciação Populacional e Evolução do Tamanho do
Corpo em Ilhas"
"Abordagens Analíticas para Integrar Fatores Ecológicos e
Evolutivos para Compreender a Organização de Espécies em
Comunidades"
ANA CARNAVAL (CCNY) JOSÉ ALEXANDRE DINIZ-FILHO (UFG) PEDRO PERES-NETO (UQAM)
10:00 - 10:30
Café
Café
Café
10:30 - 12:00
Modelos teóricos e empíricos: em busca do elo perdido
Reconciliando Darwin e Elton no século XXI
Contribuições da filogeografia estatística para a ecologia
Gonçalo Ferraz (UFRGS), Pablo Inchausti (UDELAR/Uruguai) e Juan Manuel
Morales (UNCOMA/Argentina)
Marcus Cianciaruso (UFG), Marcos Carlucci (UFG) e Thiago Gonçalves-
Souza (UFRPE)
Rosane Colevatti (UFG), José Alexandre Diniz-Filho (UFG) e
Alexandre Aleixo (Museu-Goeldi)
*** *** ***
As raízes da ciência ecológica e da teoria evolutiva
O papel da pós-graduação e do periódico Natureza e Conservação
nos avanços da ciência ecológica no Brasil
O papel dos campos, florestas e pessoas na conservação do Pampa
Thomas Lewinsohn (UNICAMP), Charbel El-Hani (UFBA) e Ricardo Iglesias (UFRJ)
Paulo Santos (UFPE), Jean Paul Metzger (USP) e Rosana Mazzoni (UERJ)
Gerhard Overbeck (UFRGS), Marcos Carlucci (UFG) e Rafael Loyola (UFG)
12:00 - 14:00
Almoço
Almoço
Almoço
14:00 - 15:30
Como modelos ajudam a descobrir como comunidades ecológicas são
organizadas?
Desafios teóricos e conceituais em ecologia de metacomunidades
Desafios e oportunidades para o uso de modelagem em estudos de
ecologia evolutiva
Valério Pillar (UFRGS), Paulo Inácio Prado (USP) e Leandro Duarte (UFRGS)
Tadeu Siqueira (UNESP), Leandro Duarte (UFRGS) e Sandra Hartz
(UFRGS)
Márcio Pie (UFPR), Tiago Quental (USP) e Eduardo Eizirik (PUCRS)
*** *** ***
A mulher na ciência ecológica:
limitações e oportunidades Desafios do ensino de ecologia
Compartilhamento de dados ecológicos
Eugenia Zandona (UERJ), Marcia Barbosa (UFRGS) e Renata Pardini (USP)
Reinaldo Bozelli (UFRJ), Erica Caramaschi (UFRJ) e Ricardo V. de
Castro (UERJ)
William Magnusson (INPA), Debora Drucker (EMBRAPA) e Rafael
Fonseca (SiBBr-MCTi)
15:30 - 16:00
Café
Café
Café
16:00 - 17:30
Redes de interação: desemaranhando a teia da vida
Avanços teóricos e metodológicos em macroecologia e suas aplicações
Abrindo a caixa-preta da dispersão biológica através da
genética de paisagem
Marco Mello (UFMG), Isabela Varassin (UFPR) e Mathias Pires (USP)
José Alexandre Diniz-Filho (UFG), Sergio Floeter (UFSC), Carlos Eduardo Grelle
(UFRJ)
Thales Freitas (UFRGS), Gustavo A. S. Arias (PUCRS) e Matias Mora
(UNMdP/Argentina)
*** *** ***
O papel da ciência na tomada de decisão ambiental
Ecologia na América Latina: sinergias e desafios
Interações entre os setores acadêmico e produtivo
Rafael Loyola (UFG), Demétrio Guadagnin (UFRGS) e Eline Martins (CNCFlora)
Márcia Marques (UFPR), Leonardo Galeto (Soc. Argentina de Ecologia) e Bernardo Broitman (Soc. Chilena de
Ecologia)
Fabio Scarano (UFRJ), Angelo Agostinho (UEM) e Renato Silvano
(UFRGS)
17:30 - 18:30
"Reflexões sobre o desenvolvimento e o
futuro da ciência ecológica no Brasil"
"Trait-based ecology: a functional approach to plant diversity"
Assembleia ABECO
"Desafios brasileiros na mitigação da mudança climática e conservação da
biodiversidade e ecossistemas"
VALÉRIO PILLAR (UFRGS)
ERIC GARNIER (CEFE) MERCEDES BUSTAMANTE (UnB)
18:30 - 19:30
Coquetel de Abertura
Sessão de Pôsteres
Sessão de Pôsteres
Cerimônia de Encerramento
18:30 - 20:00
Reunião do Conselho Editorial da Natureza & Conservação
Sumário
RESUMO DAS CONFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 9
VALÉRIO DE PATTA PILLAR (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil) ........................... 9
ANA CAROLINA CARNAVAL (City University of New York, EUA) ........................................................... 10
ERIC GARNIER (Centre d'Ecologie Fonctionnelle et Evolutive, France) ............................................. 11
JOSÉ ALEXANDRE F. DINIZ-FILHO (Universidade Federal de Goiás, Brasil) ...................................... 12
PEDRO PERES-NETO (Université du Québec à Montréal, Canadá)....................................................... 13
MERCEDES MARIA DA CUNHA BUSTAMANTE (Universidade de Brasília, Brasil) ........................... 14
RESUMOS DAS MESAS-REDONDAS ................................................................................................................ 15
Compartilhamento de dados ecológicos: estimulando parcerias e avançando o conhecimento 15
O papel dos campos, florestas e pessoas na conservação do Pampa................................................... 16
Desafios do Ensino de Ecologia ...................................................................................................................... 17
O papel da pós-graduação e do periódico Natureza e Conservação nos avanços da ciência
ecológica no Brasil ............................................................................................................................................ 18
A mulher na ciência ecológica: limitações e oportunidades.................................................................. 19
Redes ecológicas: desemaranhando a teia da vida .................................................................................. 20
O papel da ciência na tomada de decisão ambiental ............................................................................... 21
Reconciliando Darwin e Elton no século XXI ............................................................................................. 22
As raízes da ciência ecológica e da teoria evolutiva ................................................................................ 23
Como modelos ajudam a descobrir como comunidades ecológicas são organizadas? .................. 24
Ecologia na América Latina: sinergias e desafios ..................................................................................... 26
Desafios teóricos e conceituais em ecologia de metacomunidades .................................................... 27
Interações entre os setores acadêmico e produtivo ................................................................................ 28
Abrindo a caixa-preta da dispersão biológica através da genética de paisagem ............................ 29
Desafios e oportunidades para o uso de modelagem em estudos de ecologia evolutiva .............. 30
Contribuições da filogeografia estatística para a ecologia .................................................................... 31
Avanços teóricos e metodológicos em macroecologia e suas aplicações........................................... 32
RESUMOS COMPLETOS ..................................................................................................................................... 34
Biogeografia Ecológica ..................................................................................................................................... 34
Ecologia Aquática .............................................................................................................................................. 44
Ecologia Comportamental ............................................................................................................................... 55
Ecologia da Conservação ................................................................................................................................. 58
Ecologia de Comunidades ................................................................................................................................ 65
Ecologia de Ecossistemas ................................................................................................................................ 93
Ecologia de Estradas ......................................................................................................................................... 99
Ecologia de Interações ................................................................................................................................... 100
Ecologia de Organismos ................................................................................................................................. 118
Ecologia de Paisagem ..................................................................................................................................... 119
Ecologia de Populações .................................................................................................................................. 123
Ecologia Evolutiva ........................................................................................................................................... 129
Ecologia Filogenética ...................................................................................................................................... 133
Ecologia Funcional .......................................................................................................................................... 135
Ecologia Humana ............................................................................................................................................. 145
Ecologia Quantitativa ..................................................................................................................................... 147
Ecologia Teórica ............................................................................................................................................... 148
Ecologia Vegetal ............................................................................................................................................... 152
Filogeografia ..................................................................................................................................................... 162
Invasões Biológicas ......................................................................................................................................... 164
Macroecologia .................................................................................................................................................. 169
Manejo e Conservação de Ecossistemas .................................................................................................... 171
Metacomunidades ........................................................................................................................................... 172
RESUMO DAS CONFERÊNCIAS
VALÉRIO DE PATTA PILLAR (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO E O FUTURO DA CIÊNCIA ECOLÓGICA NO BRASIL
Dados cienciométricos dos últimos 20 anos mostram que a ecologia desenvolvida por
pesquisadores vinculados a instituições brasileiras teve um crescimento significativo tanto no
número de publicações como em repercussão medida por citações, sobretudo na última década.
Nesta palestra, analiso esse processo considerando o investimento realizado por meio das agências
de fomento, a evolução dos temas predominantes de pesquisa, e as interações entre pesquisadores.
Identifico alguns desafios que a ciência ecológica deverá enfrentar nos próximos anos, sobretudo
nas estratégias de pesquisa realizada com escassos recursos frente aos enormes desafios das
mudanças climáticas e de uso da terra e seus impactos esperados na biodiversidade e nos serviços
ecossistêmicos.
ANA CAROLINA CARNAVAL (City University of New York, EUA)
INFERRING DEMOGRAPHIC PARAMETERS FROM MICROSATELLITE AND SUB-GENOMIC DATA -
FROM NORTH AMERICAN PLANTS TO BRAZILIAN LIZARDS
Species distribution models (SDMs) have been widely used to forecast whether and how species
distributions have been or may be able to track climates. Yet, we are still working to understand
how environmental changes will impact the spatial distribution of genetic diversity within taxa.
Because SDMs generally fail to account for genetic and ecological processes, their use in population-
level inferences has been limited. We implement and explore a novel method that predicts
spatially-explicit genetic and demographic landscapes of populations under future climatic
conditions. Our framework first uses parameterized SDMs as estimates of the spatial distribution of
suitable habitats and landscape dispersal permeability under present-day, past, and future
conditions. We then use empirical genetic data to estimate key unknown demographic parameters
for our species of study, such as dispersal rates and maximum carrying capacity. Lastly, we employ
these parameters in more plausible and complex models of response to future environmental shifts.
Here, we contrast properly parameterized demographic and genetic models under current and
future landscapes to quantify the expected impact of change. We implement this framework on
molecular information from two different systems. First, we apply it to microsatellite data available
from the North American herbaceous plant Penstemon deustus, for which field-based estimates are
available to validate our approach. Then we expand this framework to reduced genomic (SNP) data
from two lizard species co-distributed in Amazonia and the Atlantic Forest (Anolis punctatus and A.
ortonii). Using SNP data to infer species-specific demographical parameters, we model the plausible
spatial distribution of genetic diversity in Atlantic Forest populations of the two lizard species into
future climates (2080), under a medium carbon emission trajectory. The models forecast very
distinct trajectories between species, reflecting unique estimated population densities and
dispersal abilities. The results suggest that ecological and demographic constraints seemingly lead
to distinct responses to climatic regimes in the tropics, even among similarly distributed taxa. The
incorporation of such constraints will be key to improve modeling the distribution of biodiversity
in the past and future.
ERIC GARNIER (Centre d'Ecologie Fonctionnelle et Evolutive, France)
TRAIT-BASED ECOLOGY: A FUNCTIONAL APPROACH TO PLANT DIVERSITY
Biological diversity, the variety of living organisms on Earth, is traditionally viewed as the diversity
of taxa, and species in particular. However, other facets of diversity need to be considered for a
comprehensive understanding of evolutionary and ecological processes. Here, I will show the
advantages of adopting a functional, trait-based approach to diversity. By concentrating on traits,
which are generalizable properties of organisms, it is possible to move between scales of biological
organization and between geographical locations despite the idiosyncratic details of each site,
taxonomic assemblage, or geographical location. There is a growing consensus that such an
approach based on the use traits has a strong potential to address several pending questions in
ecology. A non-exhaustive list includes: (1) the functioning of organisms and how it relates to the
environment, (2) the understanding of unsolved questions in community ecology such as the
identification of rules governing the assembly of communities, and (3) the understanding of how
the functioning of organisms scales up to that of ecosystems and controls some of the services they
deliver to humans, including those delivered by agriculture. These different aspects will be
illustrated using examples taken from various types of plants and ecosystems.
JOSÉ ALEXANDRE F. DINIZ-FILHO (Universidade Federal de Goiás, Brasil)
GENÉTICA QUANTITATIVA, DIFERENCIAÇÃO POPULACIONAL E EVOLUÇÃO DO TAMANHO DO
CORPO EM ILHAS
Os padrões de evolução do tamanho corporal em ilhas têm sido estudados desde os anos 60, e a
chamada “regra das ilhas”, sugere que as espécies de grande porte tendem a reduzir seu tamanho
do corpo nas ilhas, ao passo em que espécies de pequeno porte tendem a aumentar de tamanho.
Diferentes processos ecológicos e evolutivos têm sido propostos para explicar esse padrão, mas de
modo geral eles implicam em seleção natural atuando direta ou indiretamente no tamanho do
corpo e em caracteres correlacionados. Assim, a regra das ilhas abre uma possibilidade interessante
de integração entre modelos macroecológicos e de genética evolutiva explicando a diferenciação
entre espécies e populações insulares.
PEDRO PERES-NETO (Université du Québec à Montréal, Canadá)
ABORDAGENS ANALÍTICAS PARA INTEGRAR FATORES ECOLÓGICOS E EVOLUTIVOS PARA
COMPREENDER A ORGANIZAÇÃO DE ESPÉCIES EM COMUNIDADES
O estudo de comunidades avançou muito nesta última década devido à grande disponibilidade e
quantidade de dados sobre a distribuição de espécies e seus ambientes em pequenas e grandes
escalas geográficas. Além disso, hoje é relativamente fácil estimar atributos ecológicos
(morfológicos, tróficos, fisiológicos) e filogenias para um grande número de espécies. No passado, a
ecologia de comunidades dedicou muito tempo em compreender como o ambiente afeta a
distribuição de espécies (visão abiótica) ou como espécies afetam suas próprias distribuições (visão
biótica). Uma visão mais recente é de que interações bióticas e fatores abióticos interagem; assim,
alguns ambientes favorecem a coexistência de alguns tipos de espécies enquanto outros tipos de
ambientes dificultam a coexistência destas mesmas espécies. Assim, existem interações complexas
entre tipos de espécies e tipos de ambientes. Nesta conferência vou apresentar uma abordagem
analítica para compreender como as características ecológicas e evolutivas de espécies interagem
com as características do ambiente para determinar a maneira como espécies se organizam em
comunidades.
MERCEDES MARIA DA CUNHA BUSTAMANTE (Universidade de Brasília, Brasil)
DESAFIOS BRASILEIROS NA MITIGAÇÃO DA MUDANÇA CLIMÁTICA E CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE E ECOSSISTEMAS
A mudança climática induzida pelo homem pode resultar em alterações na distribuição e extinção
de espécies, principalmente em ecossistemas vulneráveis e fragmentados. As mudanças climáticas
ao alterar a distribuição de espécies e o funcionamento de ecossistemas afetam a capacidade dos
ecossistemas em prestar serviços ecossistêmicos fundamentais ao bem-estar humano. O Brasil,
como um país megadiverso, enfrenta o desafio científico e de gestão de projetar como as mudanças
climáticas afetam e afetarão nossos principais biomas. Adicionalmente, as políticas de mitigação
de mudança de climática, sobretudo as que envolvem os setores de agricultura, florestas e outros
usos da terra precisam considerar as interações com outras ações para conservação da
biodiversidade e ecossistemas. Em particular, as propostas de restauração da vegetação nativa
incluídas nos compromissos internacionais do Brasil devem considerar as múltiplas finalidades da
restauração a fim de produzir sinergias e reduzir eventuais efeitos colaterais.
RESUMOS DAS MESAS-REDONDAS
Compartilhamento de dados ecológicos: estimulando parcerias e avançando o conhecimento
Palestrantes: Debora Pignatari Drucker (Embrapa), Rafael Fonseca (Sibbr-MMA)
Moderador: William Ernest Magnusson (INPA)
O manejo de dados é um dos maiores desafios da atualidade. Durante séculos, pesquisadores
precisavam contentar com a perda de mais de 99,9% dos dados coletados em pesquisas científicas
porque simplesmente não foi possível armazenar e disponibilizar os dados registrados em papel.
Hoje em dia, a situação mudou e cada pesquisador pode armazenar e disponibilizar terabytes de
dados em forma digital. No entanto, a cultura científica ainda não progrediu. Pesquisadores
armazenam seus dados em computadores individuais e poucos cursos de graduação ou pós-
graduação oferecem disciplinas sobre as oportunidades e desafios de disponibilizar dados na rede
mundial de computadores. A proporção de dados perdida permanece acima de 99,9%. Nesta mesa,
Debora Drucker da EMBRAPA e Rafael Fonseca do SiBBr discutirão como suas organizações estão
trabalhando para levar os pesquisadores brasileiros para o século 21 em termos de manejo de
dados ecológicos.
O papel dos campos, florestas e pessoas na conservação do Pampa
Palestrantes: Gerhard Overbeck (UFRGS) e Marcos Carlucci (UFG)
Moderador: Rafael Loyola (UFG)
É possível conciliar visões de conservação que visam a manutenção de campos nativos ou que
visam a inclusão de florestas em um mosaico de hábitats no Pampa? Há conflito entre a
conservação de campos e florestas? Que estratégias complementares podem ser implementadas,
visando a conservação dos dois ecossistemas e a garantia da entrega de seus serviços para o ser
humano? Nesta mesa serão discutidas a diversidade de visões dentro dos mosaicos campo-floresta
do Pampa, em particular os desafios e oportunidades para a conservação desses ambientes em
mosaico. A conservação dos ecossistemas campestres no sul do Brasil tem sido negligenciada em
políticas de conservação, devido principalmente à falta de conhecimento acerca de sua
biodiversidade e importância em termos dos serviços ecológicos que prestam. Ao mesmo tempo, o
Pampa tem observado uma expansão florestal, com diferentes tipos de florestas e vegetações
arbustivas e uma tendência de adensamento de lenhosas na região devido a mudanças climáticas
em curso. Esses hábitats são importantes para a flora lenhosa, para a fauna nativa, para a pecuária e
manutenção dos serviços ecossistêmicos. Diante dessa expansão florestal, como escolher áreas de
campo que merecem ser conservadas? Que estratégias são mais adequadas para sua manutenção,
por exemplo, em unidades de conservação? Deve-se intervir nesse processo de expansão? Com
questões polêmicas, essa mesa abordará a situação atual da conservação dos Campos Sulinos. Serão
avaliadas criticamente a presença de poucas unidades de conservação, a falta de representatividade
dos campos nativos em reservas legais, o manejo em áreas de preservação permanente e reserva
legal, a falta de critérios para avaliar pedidos de supressão da vegetação nativa e ameaças em
consequência de projetos de restauração florestal. Além disso, serão discutidas as principais
ameaças ao componente lenhoso do Pampa, apontando possíveis caminhos para melhorar a
conservação de florestas e arbustais em mosaicos no bioma.
Desafios do Ensino de Ecologia
Palestrantes: Erica P. Caramaschi (UFRJ), Ricardo V. De Castro (UERJ)
Moderador: Reinaldo L. Bozelli (UFRJ)
A ecologia é uma disciplina diferente e por isto com uma crescente e desafiadora missão. É
diferente por sua origem a partir de fundamentos diversos e ter se constituído por uma abordagem
ampla e voltada para o exterior. Este desenvolvimento da ciência ecológica propiciou grande
acúmulo de conhecimento e ferramentas úteis para a compreensão do mundo natural. E hoje, mais
que isto, a importante tarefa de também compreender as mudanças decorrentes da interação
humana com o mundo natural podendo auxiliar na tomada de decisão sobre a proteção e o uso dos
recursos. Neste cenário, o ensino da ecologia para profissionais relacionados à temática, mas
também para todo cidadão, é uma tarefa central, principalmente para as escolas e universidades. A
mesa abordará alguns aspectos deste desafio, inicialmente associando o ensino de ecologia com o
pensamento social que os brasileiros têm sobre o meio ambiente, com dificuldades de
pertencimento e com isso de cuidado e preservação. Serão apresentadas algumas alternativas para
as possibilidades do ensino de ecologia. Entre estas, será explorado de forma mais detalhada, a
importância das aulas práticas e, principalmente, das aulas realizadas em campo, como ferramentas
de ensino. Neste caso, o desafio é o ajuste fino entre o conteúdo teórico de ecologia nos diferentes
níveis de organização e práticas planejadas para estimular a percepção do aluno de padrões e
processos nesses níveis, na natureza, e sua elaboração conceitual. E finalmente também será
considerado o papel destas alternativas/opções no ensino de ecologia para mudança de atitude de
brasileiros em relação ao meio ambiente.
O papel da pós-graduação e do periódico Natureza e Conservação nos avanços da ciência
ecológica no Brasil
Palestrantes: Jean Paul Metzger (USP), Paulo Santos (UFPE-CAPES)
Moderador: Rosana Mazzoni (UERJ)
Teremos como principal objetivo discutir a interface entre os Programas do Pós-graduação da área
de Biodiversidade e o periódico Natureza e Conservação (NCON), considerando que os PPGs têm
papel estrutural na geração de conhecimento e como alavanca da produção científica de qualidade.
Num primeiro momento, abordaremos o padrão de publicação realizado pelos PPGs em temas de
biodiversidade, ecologia e conservação, bem como os avanços que ocorreram nos últimos anos.
Nesta abordagem avaliaremos o uso dos periódicos disponíveis (produção total 2009-2014) e a
inserção em artigos da base JCR-Thomson (produção total e artigos top 2006-2015). Estes dados no
ajudarão a estabelecer um o perfil dos estudantes dos nossos PPGs e também a construir
propostas/ações que incentivem a busca desses alunos por periódicos de alto impacto. Num
segundo momento, serão abordadas perguntas como: Quem publica na NCON? Qual a participação
dos alunos dos Programas de PG nessas publicações? A NCON é um periódico brasileiro com perfil
internacional e nos últimos anos assumiu status notável entre os principais periódicos destinados a
publicar sobre Ecologia e Conservação. Apresentaremos análises sobre o perfil temporal da NCON
junto às plataformas do JCR e SJR (Scimago Journal & Country Rank) nos últimos 10 anos, de forma
que a evolução traçada pelo periódico nos indique as metas e resultados possíveis para os próximos
tempos. Os resultados dessas análises podem servir de base aos estudantes de PG e toda a
comunidade acadêmica que atua na área de biodiversidade, ecologia e conservação, na escolha de
veículos de divulgação de sua pesquisa e na definição de ações que beneficiem mutuamente os
programas de pós-graduação e o crescimento da NCON.
A mulher na ciência ecológica: limitações e oportunidades
Palestrantes: Márcia Barbosa (UFRGS), Renata Pardini (USP)
Moderadora: Eugenia Zandoná (UERJ)
Para avançar e ter novas perspectivas, a ciência precisa de diversidade. As mulheres ainda são sub-
representadas em várias áreas científicas, inclusive na ecologia. Apesar dos progressos dos últimos
anos, as mulheres ainda têm desvantagens de vários tipos, e.g. ganhando menos financiamentos
para pesquisa e, especialmente, tendo uma menor presença em posições de cargo mais elevados.
Pesquisas nos EUA mostraram que a razão homens:mulheres é similar a nível de pós-graduação,
mas a porcentagem de mulheres no nível de Professor Titular diminui para aproximadamente o
20%. No Brasil, para cada mulher pesquisadora do CNPq (área de Ecologia) há 1,73 homens.
Análises do número de docentes de 13 Programas de Pós-Graduação em Ecologia mostraram que os
homens sempre são a maioria, mediamente quase o dobro, chegando às vezes a ser 3-4 vezes
superiores. Análises preliminares mostram que aqui no Brasil as diferenças entre homens e
mulheres também são maiores em níveis superiores. Além disto, homens são convidados como
palestrantes em congressos científicos muito mais frequentemente que as mulheres. Uma possível
consequência é assim a falta de modelos para mulheres cientistas no começo da carreira. Nesta
mesa redonda iremos discutir sobre as dificuldades que as mulheres encontram na carreira
científica, sobre problemas de viés de gênero e propostas para resolver este problema. O objetivo é
identificar em que nível e em qual atividade as mulheres são sub-representadas e quais podem ser
as causas e os fatores que prejudicam a continuação da carreira científica. Um dos fatores
considerado limitante para o prosseguimento da carreira científica da mulher é a maternidade, que
incide mais na carreira científica das mulheres que dos homens. Durante a mesa redonda, será
gerada uma discussão sobre como promover uma melhor integração da mulher na ciência e sobre
quais podem ser as medidas necessárias para este fim.
Redes ecológicas: desemaranhando a teia da vida
Palestrantes: Marco A. R. Mello (UFMG), Mathias M. Pires (USP)
Moderadora: Isabela Galarda Varassin (UFPR)
A mesa-redonda “Redes ecológicas: desemaranhando a teia da vida” abordará como estudo das
redes de interações tem contribuído para a compreensão dos processos responsáveis pela
organização de comunidades ecológicas e das consequências ecológicas e evolutivas de fenômenos
como mudanças ambientais, invasões biológicas e perda de diversidade. Na palestra
“Desemaranhando a colina de Darwin: espécies-chave em redes ecológicas multicamada”, Marco
Mello apresentará uma síntese que aborda como descobertas no campo das redes ecológicas
multicamada lançaram luz sobre as regras de montagem de sistemas ecológicos complexos. Estes
estudos evidenciam que algumas espécies vivem entre mundos minúsculos dentro dos chamados
mundos pequenos. Nesta palestra, Marco Mello propõe como esse conhecimento pode ajudar a
melhorar teorias ecológicas e resolver alguns problemas ambientais e agrícolas, bem como a
controlar doenças emergentes. Na palestra “Variação e incerteza no estudo de redes ecológicas”,
Mathias M. Pires discutirá um dos grandes desafios no estudo de redes ecológicas, que é lidar com a
variação nos padrões de interação. Redes de interações são dinâmicas: as interações mudam em
sinal e frequência no tempo e espaço, espécies são perdidas e novas espécies ingressam em
comunidades mesmo em escalas curtas de tempo. Além disso, a detecção de uma interação é um
evento inerentemente probabilístico. Usando modelos que tratam interações de forma
probabilística é possível lidar com a variação e com a nossa incerteza sobre a ocorrência de
interações. Dessa forma é possível estudar várias possíveis configurações de uma mesma rede e até
mesmo reconstruir possíveis redes de interações do passado ou esboçar redes de interações do
futuro. Usando exemplos das aplicações de modelos probabilísticos de redes serão discutidos os
desafios de construir (e reconstruir) redes de interação e as limitações desse método. Ambas
palestras apresentam o desafio de incluir teoria ecológica no estudo de redes ecológicas para tratar
de questões ambientais importantes.
O papel da ciência na tomada de decisão ambiental
Palestrantes: Eline Matos Martins (CNCFlora), Rafael Loyola (UFG)
Moderador: Demetrio Luis Guadagnin (UFRGS)
A Ciência e os cientistas desempenham um papel central na construção dos problemas ambientais.
Tais questões como praxe têm origem em descobertas científicas, então requerem que cientistas os
organizem, validem e divulguem e finalmente prescindem dos cientistas como analistas das
políticas propostas para sua solução. Nesta mesa redonda dois renomados pesquisadores relatarão
suas experiências em arenas ambientais destacando aspectos da importância da ciência e do
envolvimento dos cientistas. Eline Martins vai abordar o papel da ciência na questão da
conservação da Flora do Brasil, examinando como os cientistas contribuem diretamente na
avaliação de risco de extinção, na inserção e validação dos dados utilizados, na elaboração dos
planos de ação nacional (PAN), participação em oficinas com o conhecimento científico e diálogo
com os demais atores sociais.Irá ilustrar exemplos práticos de como o suporte dos cientistas
resguarda e dá força aos instrumentos de conservação, com destaque para . Por fim, pretende
destacar a importância do compartilhamento de dados e da comunicação na ciência. Rafael Loyola
vai destacar aspectos do papel dos cientistas que considera importantes no processo de suporte à
tomada de decisão. O primeiro é gerar trabalhos de síntesecapazes de unir fontes e conhecimentos
diferentes necessários ao entendimento de um assunto. Neste aspecto comentará e ilustrará a
importância das revisões sistemáticas, meta-análises, análises de discurso e relatórios gerais. O
segundo ponto é usar modelos, como ferramentas importantes para fazer previsões, com medidas
de incerteza (risco) que podem basear decisões a longo prazo. Modelos de uso da terra, modelos de
distribuições de espécies e previsões de séries temporais serão exemplosilustrados. Por fim, o
último ponto destacado será a da necessidade de melhor comunicação dos cientistas fora da
academia, incluindo a importância doengajamento com divulgação e comunicação científica.
Reconciliando Darwin e Elton no século XXI
Palestrantes: Marcus V. Cianciaruso (UFG), Thiago Gonçalves-Souza (UFPE)
Moderador: Marcos B. Carlucci (UFG)
Nas últimas duas décadas a literatura ecológica tem assistido a um aumento do número de
publicações com abordagens funcionais e filogenéticas para o estudo de organização de
comunidades ecológicas e processos ecossistêmicos. Abordagens funcionais têm sido fundamentais
para a elaboração de explicações mecanicistas sobre os processos que estruturam as comunidades
e que estão ligados à fisiologia dos organismos e à sua função ecossistêmica. Ao mesmo tempo,
abordagens filogenéticas têm sido importantes para fornecer explicações evolutivas e históricas
para padrões ecológicos atuais. A profusão dessas abordagens provavelmente se deve à facilidade
de sua aplicação devido à simplicidade das hipóteses e análises propostas em trabalhos clássicos.
Todavia, nos últimos anos, a aplicação simplista de ambas abordagens tem sofrido uma série de
críticas, como a falta de critério na seleção de atributos funcionais e na definição de conceitos
chave, como a filtragem ambiental. Abordaremos essas críticas e ressaltaremos as limitações do uso
de filogenias para inferir processos ecológicos a partir de dados estáticos sobre a distribuição atual
de espécies em comunidades. Além disso, discutiremos possíveis caminhos futuros para
melhorarmos hipóteses ecológicas e evolutivas com vistas a uma ciência ecológica mais preditiva, o
que se torna urgente em tempos de mudanças globais.
As raízes da ciência ecológica e da teoria evolutiva
Palestrantes: Thomas M. Lewinsohn (UNICAMP), Charbel Niño El-Hani (UFBA)
Moderador: Ricardo Iglesias (UFRJ)
A história da ciência ecológica no Brasil é ainda incipiente e encontra vários obstáculos. De início, a
natureza heterogênea e multidimensional da ecologia dificulta a demarcação desta ciência e de suas
relações com outros campos científicos e com o “pensamento verde”, demarcações necessárias para
construir essa história. Outra questão geral é a relação da ciência colonial com as sedes dos
impérios e se, após a independência política das colônias, tal relação prossegue como
periferia/centro. Isto permite elucidar, por exemplo, como a história natural brasileira foi
explorada e representada na ciência dos países centrais. Distingo três etapas no desenvolvimento
da ciência ecológica brasileira: (1) a proto-ecologia antecede a existência formal da ecologia,
abrangendo desde o período colonial até o fim do século 19, quando esta ciência ganha um nome e
identidade; (2) no século 20, a ecologia brasileira aflora em iniciativas pontuais; porém (3) somente
toma forma como ciência organizada com a fundação de programas de pós-graduação de 1976 em
diante. Aqui irei me concentrar nas duas primeiras etapas. Na proto-ecologia brasileira, algumas
questões ecológicas são perceptíveis na história natural registrada por residentes ou naturalistas
viajantes no Brasil. Questões da ciência ecológica são investigadas por visitantes como Charles
Darwin e Eugenius Warming ou naturalistas residentes como Fritz Müller, mas não têm
continuidade no país. Outras questões derivam de preocupações de sobre-exploração e degradação
ambiental, aliadas a crises de saúde pública, com alguns estudos surpreendentes que influenciam
políticas públicas no Império. Na segunda etapa, nas décadas de 1910 a 1960, o nome ecologia
refere trabalhos científicos com frequência crescente, que muitas vezes não corresponde a um
conteúdo de pesquisa ecológica. Por outro lado, pesquisas de relevância genuína para a ecologia
nem sempre são vinculados nominalmente a essa ciência. Exemplos de ambos casos ilustrarão a
tarefa de mapeamento da ecologia brasileiro nesse período.
Como modelos ajudam a descobrir como comunidades ecológicas são organizadas?
Palestrantes: Valério D. Pillar (UFRGS), Paulo Inácio Prado (USP).
Moderador: Leandro Duarte (UFRGS)
A abordagem de inferir processos a partir de padrões é tão popular quanto criticada na ecologia de
comunidades. Muitas das críticas partem do princípio de que mais de um processo ecológico pode
gerar o mesmo padrão. Nesta mesa-redonda os palestrantes abordarão de forma complementar o
uso de modelagem para relacionar padrões e processos em comunidades ecológicas. Valério Pillar
abordará a problemática da inferência, nem sempre unívoca, de mecanismos de organização de
comunidades a partir da observação de padrões (e.g., filtro ambiental causa convergência
funcional). Será apresentado um modelo de simulação de metacomunidades desenvolvido em
colaboração com Sergio Camiz (Dipartimento di Matematica, La Sapienza Università di Roma), que
se constrói a partir de mecanismos de montagem especificados. O modelo permite simular padrões
semelhantes a partir de diferentes mecanismos. É possível assim avaliar quais mecanismos podem
gerar quais padrões nos dados simulados. O modelo é estocástico, baseado em indivíduos, e simula
passo a passo o desenvolvimento de comunidades a partir de um conjunto de espécies e suas
características funcionais. Atributos funcionais e fatores ambientais são especificados ou simulados
a partir da sua estrutura de correlação. A colonização e extinção das espécies são definidas de
acordo com as probabilidades de indivíduos de chegarem ao sítio de uma comunidade e, de acordo
com seus atributos funcionais, se estabelecerem e morrerem. Além disso, as espécies que vão
formando uma determinada comunidade podem alterar o ambiente conforme funções
especificadas de feedback, considerando assim, de maneira indireta, interações entre espécies.
Após um grande número de iterações, os dados da metacomunidade simulada são analisados
quanto aos padrões gerados. Alguns resultados sugerem que um mecanismo de filtro ambiental
atuando em diferentes escalas espaciais, concomitantemente com mecanismos de feedback, pode
produzir padrões de divergência funcional. Por sua vez, Paulo Inácio Prado convidará o público
para uma avaliação mais aprofundada da multicausalidade nos padrões observados em
comunidades a partir da modelagem de distribuições de abundâncias de espécies (SADs). A
literatura sobre as SADs oscila entre a euforia e o total descrédito acerca de seu potencial para
revelar mecanismos que estruturam as comunidades. O caso mais recente foi o esforço para se
deduzir modelos de SADs a partir da teoria neutra da biodiversidade logo após sua proposição.
Seguiu-se um intenso uso do ajuste de SADs a dados empíricos para testar a teoria, hoje visto como
um teste fraco. Será ressaltada a necessidade de mais avaliações sistemáticas da informação que
esses ajustes podem prover, um problema para o qual modelos são muito úteis. Será proposta uma
simulação computacional de nascimentos, mortes e migração em populações para obter
abundâncias de espécies, às quais são ajustadas diferentes modelos de SADs. A dinâmica é definida
por uma generalização estocática para muitas espécies do modelo de competição de Lotka-Volterra.
O modelo neutro é o caso particular em que competição intra e inter-específica é igual para todas as
espécies. Assim, é possível criar um gradiente de simulações próximas ou distantes da neutralidade,
alterando a matriz de coeficientes de competição. O modelo também permite variar os parâmetros
demográficos no tempo, para simular estocasticidade ambiental. O resultado principal é que a
incerteza amostral e a estocasticidade ambiental têm um papel muito importante em criar incerteza
tanto na seleção dos modelos de SADs como na estimativa dos parâmetros dos modelos. Para
avançar na discussão sobre a validade da abordagem padrão-processo precisamos separar os
problemas da existência de múltiplos mecanismos determinísticos do efeito das diferentes formas
de estocasticidade.
Ecologia na América Latina: sinergias e desafios
Palestrantes: Leonardo Galeto (Soc. Argentina de Ecologia), Bernardo Broitman (Soc. Chilena de
Ecologia)
Moderadora: Márcia Marques (UFPR)
A América Latina tem se destacado no cenário mundial da produção da ciência ecológica. O número
de artigos científicos mais que duplicou nos últimos 20 anos e a quantidade de cientistas em
atuação ou em formação tem se elevado continuamente. Alguns países desta região têm se
destacado nestes indicativos de produção da ciência ecológica, enquanto outros têm se esforçado
para alavancar sua estrutura de pesquisa. Paralelamente aos objetivos comuns de crescimento
científico e tecnológico, os países lationoamericanos compartilham alguns dos biomas mais
diversos e ameaçados do planeta. Praticamente todas as ecorregiões (sensu WWF) terrestres,
dulcícolas e marinhas da América Latina se distribuem por, pelo menos, dois países, e estão sob as
mesmas ameaças, o que significa que as ações de conservação da biodiversidade nestes países
podem ser muito mais efetivas, se envolverem conservacionistas de várias nacionalidades. Nesta
mesa redonda, representantes das sociedades científicas em ecologia de Argentina, Chile e Brasil
apresentarão as formas de atuação de ecólogos das três sociedades a fim de identificar sinergias e
promover uma aproximação, de forma a promover o crescimento científico da ciência ecológica e as
ações de conservação da biodiversidade na região.
Desafios teóricos e conceituais em ecologia de metacomunidades
Palestrantes: Tadeu Siqueira (UNESP), Leandro Duarte (UFRGS)
Moderadora: Sandra Hartz (UFRGS)
Desde a proposição do conceito, em 1991, e a formalização da abordagem, em 2004, a ecologia de
metacomunidades desenvolveu-se ao ponto de já ter revisão sistemática, meta-análise e até mesmo
pesquisadores que se denominam “ecólogos de metacomunidades”. Apesar do desenvolvimento
predominantemente teórico nos anos que imediatamente antecederam e sucederam a publicação
de Leibold e colaboradores, podemos considerar que atualmente vivemos uma época em que
predomina o acúmulo de evidências empíricas. Temos acumulado evidências sobre padrões e
inferido sobre os processos que determinam a estrutura e dinâmica de metacomunidades, desde
bactérias lacustres do ártico até mamíferos de savanas. Entretanto, isso tem sido feito
predominantemente através de uma única abordagem estatística – ordenações canônicas e partição
de variância. Essas técnicas são boas e servem para muito além da separação dos componentes
“ambiental puro” e “espaço puro”. Porém, chegamos ao ponto em que alguns entendem
metacomunidades como sinônimo de partição de variância. Talvez tenha chegada a hora de
ultrapassar esse ponto. Nós discutiremos esse desafio, dando ênfase para abordagens que tem
potencial para serem integradas, como ecologia funcional e filogenética e teoria de coexistência.
Desenvolvimentos metodológicos recentes e desafios futuros de abordagens em ecologia de
metacomunidades serão discutidos.
Interações entre os setores acadêmico e produtivo
Palestrantes: Fabio Scarano (UFRJ), Angelo Agostinho (UEM)
Mediador: Renato Silvano (UFRGS)
Colaborações na geração de conhecimento entre acadêmicos e organizações não-acadêmicas são
definidas como "engajamento acadêmico". No Brasil, contudo, o engajamento acadêmico da
comunidade científica com o setor corporativo é ainda incipiente, especialmente quando
comparado com nações mais desenvolvidas. Uma vez que o Brasil detém a maior biodiversidade do
planeta e uma economia grande, na qual corporações de todos os tamanhos operam e criam
desafios para o manejo sustentável da biodiversidade e ecossistemas, a ciência se faz muito
necessária para assegurar boas práticas corporativas. A mesa provocará uma reflexão acerca da
necessidade de engajamento de cientistas brasileiros ao tema da sustentabilidade corporativa no
que diz respeito à biodiversidade e aos ecossistemas, com ênfase nos tópicos de offset de
biodiversidade e áreas protegidas privadas no contexto brasileiro. A mesa irá apresentar também
um estudo de caso sobre as relações bem-sucedidas entre uma empresa do setor hidrelétrico
(Itaipu Binacional) e a academia (Universidade Estadual de Maringá), resultando na estruturação
de um grupo de pesquisa (Nupélia-Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura)
dos mais produtivos do país, além da geração de conhecimentos que permitiram mudanças de
importantes paradigmas na área de manejo de recursos pesqueiros e conservação em água doce. A
associação entre a academia e o setor elétrico era vista com restrição nas Universidades.
Preocupado com a possibilidade de desvio do foco prioritário de ensino para a prestação de
serviços, o Nupélia buscou preparar um ambiente de discussão independente e com grande
renovação dos atores, através da implantação do programa de pós-graduação em ecologia aquática.
Decorrido mais de 30 anos, com mais de 1500 artigos científicos publicados, um número superior a
550 mestres/doutores e uma longa lista de serviços prestados, podemos concluir que essa
associação foi essencial para que o grupo cumprisse com eficiência as finalidades de ensino,
pesquisa e extensão.
Abrindo a caixa-preta da dispersão biológica através da genética de paisagem
Palestrantes: Gustavo A. S. Arias (PUCRS) e Matias Mora (UNMdP/Argentina)
Mediador: Thales R. O. Freitas (UFRGS)
Os marcadores moleculares são cada vez mais empregados em estudos evolutivos, ecológicos e de
sistemática. Esses podem ser divididos em dois grupos: os mitocondriais e os nucleares. Os
primeiros são utilizados principalmente com o sequenciamento dos genes Citocromo B e Citocromo
oxidase I, em análises filogenéticas e filogeográficas. Atualmente, numa escala menor, começam a
ser empregadas análises desse tipo com mitogenomas, ou seja, considerando toda a sequência do
mtDNA. Já os marcadores moleculares nucleares utilizados nesses estudos são os microssatélites e
SNPs, ambos proporcionando principalmente dados referentes à variação genética das populações.
Estudos de genética de populações com esses marcadores ajudam a identificar as características da
paisagem que afetam o fluxo gênico, mostrando se possuem intensidade para menos ou para mais
entre populações ou fragmentos e, também, padrões de dispersão. Assim, estas análises indicam
como fatores intrínsecos afetam a estrutura genética das populações e tornam-se cruciais para a
conservação genética e ecológica. O uso da genética da paisagem serve para avaliar as relações de
conectividade genética entre as populações de espécies animais e vegetais.
Desafios e oportunidades para o uso de modelagem em estudos de ecologia evolutiva
Palestrantes: Márcio Pie (UFPR) e Tiago Quental (USP)
Mediador: Eduardo Eizirik (PUCRS)
A palestra do Prof. Pie terá como foco a análise de padrões de sobreposição das distribuições
geográficas de espécies distintas, com ênfase na aplicação de duas abordagens complementares.
Inicialmente, haverá uma descrição dos padrões de distribuição de tamanho de sobreposições de
distribuições geográficas de primatas do Novo e do Velho Mundos, comparando-os com um modelo
simples de sobreposição geográfica baseado em uma distribuição de distribuições log-normal ao
longo de um domínio unidimensional e condições de contorno fixas. A seguir, serão apresentadas
redes de co-ocorrência nas quais espécies serão representadas como vértices e as suas
sobreposições serão representadas por arestas. Diferenças intrigantes serão apresentadas nestas
redes em primatas do Novo e do Velho Mundo e suas potenciais causas e implicações serão
discutidas. A palestra do Prof. Quental terá como foco a discussão da relevância de processos
dependentes de diversidade na regulação da biodiversidade em uma escala de tempo geológico.
Primeiramente serão comparados modelos matemáticos utilizados para descrever a variação no
número de indivíduos em uma escala temporal curta com os modelos matemáticos utilizados para
descrever a variação no número de espécies em escala de tempo macroevolutiva. A seguir, será
discutido o uso de modelos probabilísticos e dados empíricos do registro fóssil para inferir o papel
de interações ecológicas na dinâmica da biodiversidade. Ao final, a fim de fomentar a discussão
geral e ilustrar um foco adicional de investigação em ecologia evolutiva que pode se beneficiar do
uso de modelos, o coordenador mencionará alguns exemplos gerados por seu grupo de pesquisa em
que análises de modelagem de nicho ecológico são empregadas para investigar a evolução de
fenótipos polimórficos em felídeos neotropicais. Espera-se que os exemplos abordados estimulem
ampla discussão com os colegas presentes na sessão.
Contribuições da filogeografia estatística para a ecologia
Rosane Colevatti (UFG), José Alexandre Diniz-Filho (UFG) e Alexandre Aleixo (Museu-Goeldi)
Métodos em filogeografia estatística comparada vêm revelando que os padrões de diversificação de
linhagens são complexos, desencadeados por uma série de processos adaptativos e neutros
atuando em diferentes níveis hierárquicos, a partir de fatores extrínsecos e intrínsecos aos
organismos. Esses fatores incluem a própria história demográfica das espécies e a resposta de suas
distribuições geográficas a mudanças no clima, tanto em termos de respostas adaptativas quanto
em termos de deslocamentos por efeitos de conservação de nicho. Em uma escala de tempo menor,
os padrões demográficos e geográficos passam a sofrer efeitos antrópicos de forma direta ou
indireta, tornando ainda mais complexa a análise dos padrões e criando ainda maiores desafios
para a formulação de teorias unificadoras de diversificação. O objetivo desta mesa é discutir os
avanços na área de filogeografia estatística e como os padrões observados e os processos
subjacentes a eles podem ser compreendidos em um contexto ecológico, a partir de alguns estudos
de caso. Análises com aves Amazônicas mostram que atributos ecológicos estão altamente
correlacionados com as respostas de linhagens à paisagem, explicando a propensão destas a
desenvolverem estrutura filogeográfica e se diversificarem como linhagens / espécies distintas. No
mesmo contexto, os padrões em espécies de árvore do Cerrado mostram como as mudanças de
distribuição geográfica no passado em resposta a mudanças climáticas podem ser diretamente
associadas à modelos de diversificação, com implicações para a compreensão dos efeitos das
mudanças globais sobre a diversidade genéticas. Em escalas espaciais mais restritas, é possível
ainda avaliar como padrões de diversidade genética e genômica em escala de paisagem estão
associados à ocupação humana, com importantes implicações para a definição de estratégias mais
adequadas e eficientes para a conservação da diversidade biológica.
Avanços teóricos e metodológicos em macroecologia e suas aplicações
José Alexandre Diniz-Filho (UFG), Sergio Floeter (UFSC), Carlos Eduardo Grelle (UFRJ)
A Macroecologia foi criada formalmente a partir do final dos anos 1980 como uma abordagem que
tem por objetivo avaliar padrões complexos de distribuição geográfica e padrões ecológicos das
espécies, emergindo de uma série de trabalhos na interface entre biogeografia, biologia evolutiva e
ecologia de comunidades. Em um primeiro momento, a Macroecologia envolveu análises utilizando
espécies como unidades observacionais, investigando a distribuição estatística e as relações entre
variáveis como tamanho do corpo, densidade populacional e abundância, e propriedades da
distribuição geográfica das espécies, refletindo assim padrões em grandes escalas de tempo e de
espaço. Uma análise cienciométrica mostra que, desde 1989, após a publicação do artigo original de
J. Brown e B. Maurer, milhares de artigos foram publicados com base em dados de diversos grupos
taxonômicos, sendo a variável mais explorada a área de distribuição geográfica (4.320 artigos),
seguida por abundância (3.629 artigos) e tamanho corporal (1.839 artigos). Entretanto, uma
avaliação mais efetiva dos padrões nas variáveis macroecológicas “clássicas” deve envolver seus
padrões geográficas e evolutivos (filogenéticos), criando uma série de desafios metodológicos e, ao
mesmo tempo, exigindo uma compreensão mais ampla de como uma série de teorias e modelos que
foram desenvolvidos em Ecologia e Biogeografia para explicar os padrões de diversidade podem
ser avaliados a partir desses conjuntos de dados em grandes escalas, auxiliando inclusive na sua
conservação diante de efeitos antrópicos. Novos conjuntos de dados se tornaram disponíveis nos
últimos anos, criando a necessidade de integrá-los às análises macroecologias para descrever
padrões ecológicos mais complexos, seus componentes evolutivos e sua interação com o ambiente
atual e passado. Finalmente, é preciso considerar que, paradoxalmente, o aumento na
disponibilidade de dados ressalta que estes possuem uma série de problemas gerados por falhas
sistemáticas no conhecimento biológico (“shortfalls”), que precisam ser incorporadas às análises e
avaliados de forma cuidadosa em tomadas de decisão em conservação da biodiversidade.
Modelos teóricos e empíricos: em busca do elo perdido
Gonçalo Ferraz (UFRGS), Pablo Inchausti (UDELAR/Uruguai) e Juan Manuel Morales (UNCOMA/Argentina)
O progresso científico é marcado por descobertas: avanços irreversíveis no conhecimento, com
nome, data e autoria identificável. Esta mesa redonda é motivada pela aparente falta de descobertas
científicas em ecologia e propõe que essa falta se deve principalmente à desconexão entre o
trabalho teórico e o trabalho empírico dos ecólogos. Após uma introdução aos conceitos de
descoberta, teoria e empirismo, a primeira parte da mesa incidirá sobre a vertente teórica do elo
teoria-empirismo. O desenvolvimento teórico da ecologia é apenas uma questão de tempo ou ele
tem sido limitado por falhas de procedimento que precisam ser corrigidas? Quais são os motivos
usualmente apontados para explicar as limitações teóricas da ecologia e o quanto eles resistem a
um exame crítico? Na segunda parte, apresentaremos a vertente empírica da desconexão entre
teoria e empirismo. Aqui abordaremos a ideia de que o progresso não requer necessariamente mais
desenvolvimento teórico, mas sim mais capacidade de testar teorias com base na observação da
natureza. Ao longo de ambas as apresentações, buscaremos identificar exemplos e estratégias
eficazes para conectar empirismo e teoria.
RESUMOS COMPLETOS
Biogeografia Ecológica
TESTANDO O MODELO DINÂMICO GERAL DE BIOGEOGRAFIA EM ILHAS CONTINENTAIS
BRASILEIRAS
Rejane Santos-Silva1, Ricardo Dobrovolski1
1-Universidade Federal da Bahia
Relação espécie-área, riqueza de espécies, seleção de modelos, tempo de isolamento
O modelo de equilíbrio de biogeografia de MacArthur e Wilson propor-se a explicar padrões
biogeográficos em ilhas a partir da área e do isolamento. Esse modelo possui uma lacuna ao ignorar
a dinâmica temporal das ilhas em resposta às oscilações do nível do mar. O Modelo Dinâmico Geral
(MDG) integra esses fatores em uma abordagem única. Diferentemente das ilhas oceânicas, as ilhas
da plataforma continental são extensões do continente que foram isoladas devido a alterações no
nível do mar. Aqui, testamos se o MDG aplica-se às ilhas continentais brasileiras, isoladas durante o
quaternário. Testamos especificamente se o número de espécies é explicado por (i) a área; (ii) o
isolamento geográfico; e (iii) o tempo de isolamento das ilhas. Obtivemos os dados de distribuição
das espécies de anfíbios, répteis e aves em 139 ilhas continentais brasileiras em artigos científicos,
relatórios técnicos e coleções científicas. Realizamos seleção de modelos baseada no Critério de
Informação de Akaike (AIC), e os modelos com ∆AIC<2 foram considerados os melhores modelos. A
variável resposta foi o log10 da riqueza de espécies e as variáveis preditoras o log10 da área, log10
do isolamento e a idade das ilhas. O modelo que teve a área como único preditor apresentou o
melhor desemplenho (AICc=53.8; ∆AICc=0; wAICc=0.443 – considerando todos os grupos). O
aumento da área causou um aumento da riqueza de espécies em Anfíbios (coeficiente angular,
z=0.51; F1,28=31.39; R2=0.529; p<0.001), Répteis (z=0.35; F1,30=62.67; R2=0.666; p<0.001), Aves
(z=0.29; F1,116=57.37; R2=0.33; p<0.001) e todos os grupos (z=0.35; F1,137=106.3; R2=0.433;
p<0.001). Assim, conforme a predição da relação espécie-área, quanto maior a área das ilhas
brasileiras, maior o número de espécies. Embora o modelo dinâmico geral sugira que idade e
isolamento sejam importantes para o entendimento dos padrões de riqueza, as ilhas continentais
brasileiras não responderam à essa variável, provavelmente pela homogeneidade no seu tempo de
formação e isolamento do continente. Nesse estudo, o valor de z foi maior do que o descrito na
literatura e oscilou entre os grupos taxonômicos analisados, provavelmente devido à variação na
capacidade de dispersão dos grupos taxonômicos analisados. Uma extensão do modelo dinâmico
geral capaz de incluir os processos ocorridos em ilhas continentais ainda necessita ser
desenvolvida.
DISTRIBUIÇÃO DA DIVERSIDADE FILOGENÉTICA DE HILÍDEOS: A INFLUÊNCIA DE PROCESSOS
GEOLÓGICOS VERSUS AREAS DE ESTABILIDADE CLIMÁTICA
Lilian Sayuri Ouchi de Melo1, Ivan Prates2, Thiago Gonçalves Souza3, Ana Carolina Carnaval4, Denise
de Cerqueira Rossa-Feres5
1,5Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"- Depto Zoologia e Botânica
2,4-City University of New York - Biology Department
3-Universidade Federal Rural de Pernambuco - Depto de Biologia
Anuros, biogeografia, hotspot, Mata Atlântica
O soerguimento da Serra do Mar e a estabilidade climática são processos que potencialmente
favoreceram a diversificação de linhagens na Mata Atlântica. Devido a sua influência evolutiva,
espera-se que ambos afetem a distribuição da diversidade filogenética (DF) no bioma. Usando
anuros hilídeos como sistema de estudo, mapeamos a DF na Mata Atlântica e analisamos o quanto
ela pode ser explicada pela estabilidade climática e/ou pela altitude. Para tal, utilizamos a distância
média par a par (mpd) e a distância média do táxon mais próximo (mntd) para calcular a DF,
combinando informações de ocorrência dos mapas da IUCN e a árvore filogenética de Pyron &
Wiens (2013). Através do algoritmo randomForest, modelamos a distribuição da Mata Atlântica de
acordo com condições climáticas atuais e projetamos o modelo para 62 períodos ao longo dos
últimos 120 mil anos, identificando áreas de maior e menor estabilidade climática. Usando a análise
de regressão parcial, avaliamos a relação entre as variáveis preditoras e as variáveis resposta. Para
lidar com a autocorrelação espacial, utilizamos filtros espaciais. Examinamos a distribuição dos
resíduos da regressão através do correlograma de Moran e confirmamos que os filtros espaciais
foram capazes de eliminar a autocorrelação espacial. Os resultados indicam que a estabilidade
climática tem um baixo, porém significativo, poder preditivo sobre a DF tanto de clados mais
antigos (mpd, R2= 0.031 e p<0.05) quanto de clados mais recentes (mntd, R2=0.071 e p<0.05). A
altitude, por sua vez, explicou 19.2% da DF de clados antigos/mpd (p<0.05) e 19.6% de clados
recentes/mntd (p<0.05). Esses resultados sugerem que o soerguimento da Serra do Mar e o
isolamento geográfico subsequente tiveram uma maior influência na distribuição da DF de hilídeos
na Mata Atlântica do que a estabilidade climática. Sugerimos que os processos biogeográficos
relacionados a eventos de especiação alopátrica durante o soerguimento da Serra do Mar
provavelmente levaram a uma maior diversificação dos clados em maiores altitudes, enquanto que
a estabilidade climática dos últimos 120 mil anos teria fornecido abrigo e contribuído na
manutenção das linhagens de hilídeos. A maior parte da variação na distribuição da DF foi explicada
pelo espaço (mpd, R2=0.485 e p<0.05; mntd, R2=0.557 e p<0.05), indicando que o padrão da DF é
fortemente determinado pela distância entre as comunidades e possível limitação a dispersão das
linhagens.
BIOGEOGRAFIA DE MAMÍFEROS SUL-AMERICANOS: MODELAGEM DE NICHO ECOLÓGICO
APLICADA À CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES TERRESTRES E MARINHAS
Lucas Gonçalves da Silva1, Fernando Lopes2, Flávia Pereira Tirelli3, Eduardo Eizirik4
1,2,3,4-Departamento de biodiversidade e Ecologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul – PUCRS
Conservação, distribuição, mamíferos, Maxent, modelagem
O conhecimento acerca da biogeografia dos organismos e os fatores bióticos e abióticos limitantes
da sua distribuição é um dos aspectos fundamentais da ecologia e uma importante ferramenta da
biologia da conservação. Os grupos de mamíferos da América do Sul apresentam padrões
biogeográficos e de diversidade extremamente complexos, principalmente devido a eventos
históricos como o Grande Intercâmbio Faunístico das Américas e os períodos glaciais e
interglaciais. Porém, muitos grupos de mamíferos aquáticos e terrestres possuem lacunas de dados
ao longo de suas distribuições geográficas, o que reflete em estratégias deficientes de conservação.
Visando preencher essas deficiências, o presente estudo objetivou testar a potencialidade da
modelagem de nicho ecológico para testar hipóteses evolutivas, distribuição geográfica de
fenótipos polimórficos na natureza e impactos da ação humana sobre espécies ameaçadas de
extinção. Para tais fins, respectivamente, foram selecionadas uma espécie de mamífero marinho, o
lobo-marinho-sul-americano Arctocephalus australis e duas espécies de mamíferos terrestres, o
gato-do-mato-grande Leopardus geoffroyi e o gato-palheiro L. colocolo. Foram utilizados 171 pontos
de ocorrência confirmada de colônias de A. autralis, 241 de L. geoffroyi e 79 de L. colocolo. Os
modelos foram gerados através da aplicação do algoritmo de máxima entropia (Maxent) e de
variáveis ambientais preditoras marinhas e terrestres explicativas para a distribuição geográfica
das espécies-foco. Os modelos gerados atenderam plenamente às questões iniciais relacionadas
com as três espécies de interesse: as informações geradas para A. australis serão base para uma
série de estudos filogeográficos, filogenéticos e taxonômicos; variações fenotípicas derivadas de L.
geoffroyi (especialmente o melanismo) são geograficamente mais restritas do que o fenótipo
ancestral, estando intimamente associadas às ecorregiões mais úmidas; o uso da paisagem por
atividades humanas interfere diretamente no padrão de distribuição atual de L. colocolo na
ecoregião da Savana Uruguaia, onde a espécie aparenta estar criticamente ameaçada de extinção.
Todos esses resultados sugerem um grande potencial de novos estudos para diferentes mamíferos
sul-americanos, bem como salienta a importância das técnicas de modelagem aplicadas à estudos
ecológicos e evolutivos com foco em conservação de espécies ameaçadas e/ou com dados
deficientes acerca de sua biologia e distribuição.
BETA DIVERSIDADE REVELA SIMILAR COMPARTILHAMENTO DE MAMÍFEROS ENTRE
ECOSSISTEMAS FLORESTAIS E ABERTOS PARA DIFERENTES NÍVEIS DE ESPECIALIZAÇÃO
TRÓFICA
André Luís Luza1, Augusto Ferrari2, Leandro da Silva Duarte3, Sandra Maria Hartz4
1,3,4-Programa de Pós-Graduação em Ecologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre – RS
2-Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre - RS, Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande – RS
Aninhamento, biogeografia de mamíferos, dispersão desviada, especialização trófica, filo-beta
diversidade
Processos gerando turnover faunístico entre regiões (ex. especiação), que resultam em assembléias
estruturalmente distintas, têm sido mais avaliados em biogeografia e ecologia do que processos
gerando o compartilhamento de táxons (ex. dispersão). O objetivo foi avaliar o compartilhamento
de mamíferos entre ecossistemas abertos e florestais, de acordo com o nível crescente de
especialização trófica (qualquer nível, não-herbívoros [carnívoros e onívoros], herbívoros).
Utilizamos a distribuição e as relações filogenéticas entre mamíferos coexistindo em ecoregiões do
mundo para particionar a β-diversidade taxonômica e filogenética (βsor) em aninhamento (βsne) e
turnover (βsim); o compartilhamento foi considerado como a razão βsne/βsor. Ecoregiões foram
caracterizadas pela fitofisionomia dominante (aberta ou florestal) e bioma da WWF (16 biomas).
Testamos se: 1) o aninhamento intra- (entre ecoregiões com mesmo tipo de fitofisionomia) é maior
do que inter-fitofisionomias (floresta vs. abertas, e vice-versa) para não-herbívoros e para todos os
mamíferos; 2) fitofisionomias abertas fornecem herbívoros para as florestais (i.e., florestais
aninhadas em relação às abertas); 3) biomas abertos de regiões temperadas (Tundra, Campos
Temperados) terão longa história compartilhada com os florestais pelos mecanismos da hipótese
da conservação de nicho tropical. As porções intra- e inter-fitofisionomias da matriz βsne/βsor
entre pares de ecoregiões foram submetidas à Análise de Coordenadas Principais, e as diferenças
na contribuição do aninhamento entre fitofisionomias e biomas foram testadas através do teste de
homogeneidade de dispersão. Resultados sugerem maior aninhamento intra-do que inter-
fitofisionomias, e similar dispersão de ecoregiões entre os níveis tróficos. Não encontramos
evidência de maior compartilhamento de herbívoros de ecossistemas abertos para os florestais.
Biomas abertos tiveram alta similaridade ecológica e evolutiva com o pool de herbívoros florestais;
o padrão inverso predominou para não-herbívoros e para todos os níveis tróficos. Concluímos que
dinâmicas de compartilhamento de táxons ocorrem mais frequentemente entre regiões
ambientalmente similares e independem do grau de especialização trófica, e que a β-diversidade de
biomas sujeitos a severidades climáticas são moldados por processos de dispersão desviada
seguindo extinção. Mecanismos da hipótese de conservação do nicho tropical devem ser revistos
para inclusão de uma perspectiva funcional.
Ciências Ambientais
CONHECIMENTO SOBRE A DESTINAÇÃO DO ÓLEO DE COZINHA RESIDUAL DE ACADÊMICOS DE
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – PR
Michelle Micarelli Struett1, Camilla Borges Gazolla2
1-Universidade Federal do Paraná
2-Universidade Estadual de Maringá
Destinação correta, óleo residual, reutilização
O óleo residual de cozinha é um ácido graxo que em excesso e quando dispensados em água ou no
solo de maneira incorreta, é nocivo ao ambiente. O descarte inadequado pode causar entupimento
das tubulações residenciais, se jogado no ralo da pia; aumento dos custos do tratamento da água;
diminuição da permeabilidade do solo e aumento da produção de gás metano devido seu processo
de decomposição. Nos rios e oceanos, o óleo cria uma camada que dificulta a entrada de luz e a
oxigenação da água, prejudicando os organismos aquáticos e contribuindo também para o
aquecimento do planeta. Verificou-se o conhecimento de acadêmicos de graduação em relação à
destinação e reutilização do óleo residual de cozinha. Assim, foi aplicado um questionário online
para 59 alunos, 3º, 4º e 5º ano de Ciências Biológicas, da Universidade Estadual de Maringá, Paraná.
A maioria dos acadêmicos consomem menos que um litro de óleo por mês, 40% destina o óleo na
forma de doação ou em ponto de recolhimento, 24% descartam no ralo da pia, 7% em lixo comum,
29% sem resposta. A maioria (63%) dos alunos não sabiam da existência ou onde encontrar pontos
de recolhimento de óleo residual. O reaproveitamento de óleo na forma de sabão foi o mais
mencionado com 76%, 16% citaram o biodiesel, 2% tintas e 6% sem resposta. No geral, os
acadêmicos entrevistados têm consciência de como destinar e reutilizar o óleo residual para
diminuir o impacto ambiental, mas ainda é baixo o número de alunos que dispensam corretamente,
e isso seria importante tanto na parte ambiental quanto na influência de amigos e familiares
atuarem em prol da natureza. É de suma importância também que as mídias e redes sociais tenham
maior divulgação dos pontos de recolhimentos de óleo residual e como ele pode ser reutilizado
corretamente. Quanto maior o número de pessoas que apoiam e fazem a destinação correta, maior
será o estímulo para outras pessoas fazerem o mesmo.
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE USO DE Eugenia involucrata DC. EM PROJETOS DE RESTAURAÇÃO
DE ÁREAS DEGRADADAS NA FLORESTA OMBRÓFILA MISTA POR MEIO DE SEMEADURA DIRETA E
PLANTIO DE MUDAS
Marluci Pozzan1, Isabela Giordani2, Thiago Bastiani3, Camila Kissmann4
1-Universidade Comunitária da Região de Chapecó. Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais (PPGCA)
2-Universidade Comunitária da Região de Chapecó. Curso de Ciências Biológicas
3-Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Espécie nativa, plantio de mudas, semeadura
Em áreas degradadas, como a Floresta Ombrófila Mista (FOM), ações de restauração são
importantes para o enriquecimento ou restabelecimento das florestas. A escolha da técnica de
restauração varia conforme as características edafoclimáticas e o histórico de uso da área a ser
restaurada, porém, de maneira geral, cada técnica apresenta suas vantagens e desvantagens. O
objetivo deste trabalho foi avaliar as técnicas de semeadura e plantio de mudas de E. involucrata
visando otimizar o uso desta espécie em projetos de restauração. Os experimentos foram
conduzidos na Estação Ecológica da Mata Preta, localizada em Abelardo Luz (SC). A semeadura foi
realizada em associação com protetores físicos confeccionados com garrafas PET (2 l) enquanto
que o plantio das mudas foi realizado em dois sistemas: plantio sistemático (alternando espécie
pioneira e não pioneira) e aleatório. A semeadura foi realizada em quatro parcelas de 24m² com 12
pontos de semeadura por parcela, sendo 6 pontos de cada tratamento (presença e ausência de
protetores). A emergência e o crescimento inicial (altura e diâmetro de colo) das plântulas foram
avaliados mensalmente ao longo de 195 dias após a semeadura (DAS) e a sobrevivência aos 195
DAS. No plantio, foram utilizadas mudas com altura de 26,95 ± 9,76 cm, alocadas em 20 parcelas de
54m² cada, sendo 10 parcelas para cada tipo de plantio. Nesse estudo, foram utilizadas quatro
espécies nativas, sendo utilizadas duas mudas de E. involucrata por parcela. A sobrevivência destas
mudas foi avaliada aos 18, 31, 45, 53, 66, 88, 171, 258 e 373 dias após o plantio (DAP). A
emergência e o crescimento das plântulas provenientes de semeadura direta e o crescimento das
plantas utilizadas no plantio foram comparados por meio do Teste Mann-Whitney, enquanto a
sobrevivência, em ambos os experimentos, foi comparada pelo teste t de Student, ambos a 5% de
significância. O uso de protetor físico favoreceu a emergência (com aumento no número de plantas
e redução do tempo para emergência) e o crescimento inicial das plântulas, porém, não teve efeito
sobre a sobrevivência, que foi elevada nas duas condições experimentais. A sobrevivência e o
crescimento das mudas foram similares nas duas condições de plantio, dispensando o plantio
sistematizado, o qual demanda maior tempo e mão-de-obra capacitada para execução. Thiago
Bastiani agradece à Unochapecó pela concessão de Bolsa de Auxílio à Pesquisa pela Modalidade
artigo 171 da Constituição Estadual/SC.
Cienciometria Ecológica
SEM DISPERSÃO NÃO HÁ METACOMUNIDADES: UMA ABORDAGEM CIENCIOMÉTRICA
Kele Rocha Firmiano1, Marcos Callisto2
1,2-Universidade Federal de Minas Gerais
Cienciometria, dispersão, metacomunidades
Metacomunidades são conjuntos de comunidades locais ligadas via dispersão de táxons
potencialmente capazes de interagir. Diversos métodos têm sido utilizados para inferir o papel da
dispersão e sua importância para a formação de metacomunidades. Acompanhamos a produção de
trabalhos publicados sobre metacomunidades na base de dados “Web of Science, Thomson Reuters”
com os termos “metacommunity + dispersal” no título, abstract e palavras-chaves. Nosso objetivo
foi responder às seguintes perguntas: (i) Que tipos de trabalhos têm sido publicados? (ii) Em que
tipos de ecossistemas? (iii) O efeito de pressões antrópicas sobre as metacomunidades tem sido
considerado? (iv) Que grupos biológicos têm sido utilizados como modelos de estudos? (v) Como a
dispersão tem sido avaliada? Apresentamos neste resumo uma síntese dos resultados parciais.
Foram realizados estudos a partir de amostragens em campo, experimentos “in situ”, simulações
computacionais e trabalhos conceituais (i); A maioria dos estudos (86%) tem sido realizada em
ecossistemas aquáticos continentais de diversos tipos (rios-3%, riachos-14%, planícies de
inundação-4%, lagos-55%, poças temporárias-3%, reservatórios-7%), e 14% tem sido realizado em
ecossistemas terrestres (ii); O efeito de mudanças no uso do solo e de eutrofização tem sido
avaliado, cada um em 17% dos estudos, e 14% avaliaram o efeito de introdução de espécies
exóticas (iii); Vinte e um por cento dos estudos avaliaram metacomunidades de
macroinvertebrados bentônicos, 17% de zooplâncton e dez por cento com as de peixes (iv); Setenta
e seis por cento dos trabalhos tem avaliado a dispersão indiretamente, com base em procedimentos
estatísticos ou na habilidade de dispersão de cada táxon, a partir do uso de “traits”, e diretamente
em somente 14% dos trabalhos, a partir de experimentos de manipulação “in situ” (v). O
mecanismo de dispersão, apesar de crucial para a formação de metacomunidades, tem sido
investigado de forma indireta, o que evidencia as dificuldades metodológicas de mensurá-lo
diretamente.
RESPOSTAS DE PRIMATAS À DEGRADAÇÃO DO HABITAT: UMA META-ANÁLISE GLOBAL
Juliana Monteiro de A Rocha1, Carlos Augusto Peres2, Leonardo de C. Oliveira3
1-Universidade Estadual de Santa Cruz
2-University of East Anglia, United Kingdom
3-Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Atividades antrópicas, conservação, meta-análise, primatas
Primatas são muito afetados pelos processos de perda e alteração do habitat devido à sua alta
dependência por florestas, o que faz com que muitas espécies estejam incluídas em categorias de
ameaça. O objetivo desta meta-análise foi quantificar o efeito de diferentes atividades humanas sob
comunidades de primatas. A partir de uma revisão bibliográfica sistemática, foram compilados 65
estudos que compararam a abundância de espécies em áreas controle (floresta primária sem
degradação ou pouco degradada) e áreas degradadas, totalizando 603 comparações. O efeito da
degradação foi quantificado através da razão entre os valores encontrados na áreas degradadas e
nas áreas controle. Para entender a variação entre os efeitos encontrados pelos estudos, foram
utilizadas como variáveis moderadoras: a região biogeográfica do estudo (África, Ásia, Neotrópicos
e Madagascar), o delineamento amostral utilizado (tipo de comparação: mesma área antes versus
depois de degradação; área sem degradação versus área degradada, áreas degradadas em
diferentes intensidades ou em diferentes tempos) e o tipo de ameaça investigada (corte seletivo,
sistemas agrícolas, fogo, floresta secundária ou múltiplas ameaças). A degradação do habitat tem
um efeito global negativo sob comunidades de primatas, levando a um declínio médio de 30% (17-
44%) na variável resposta em habitats degradados. Parte da variação entre os estudos pode ser
explicada pela região biogeográfica, de modo que a fauna do sudeste asiático é a mais sensível
enquanto a fauna africana se mostrou a mais tolerante à degradação. Dentre os tipos de ameaça,
agricultura é a atividade mais prejudicial, podendo levar a um declínio de até 95% na variável
resposta. Esta meta-análise é a primeira a quantificar o efeito de diferentes atividades antrópicas
sob comunidades de primatas em todas as regiões biogeográficas em que ocorrem.
Independentemente de toda a variação entre os estudos, existe um efeito negativo da degradação
do habitat sob primatas, sendo este particularmente alarmante quando a atividade é relacionada à
agricultura. Nossos resultados demonstram que os sistemas de cultivo atuais são incompatíveis
com a conservação deste grupo taxonômico e que ações de manejo, como a implementação de
corredores conectando fragmentos florestais inseridos em matrizes agrícolas ou mudanças no tipo
de manejo dos sistemas, são extremamente necessárias para diminuir o impacto destas atividades
sob as comunidades de primatas.
CONDIÇÕES DE REFERÊNCIA: ANÁLISE CIENCIOMÉTRICA DAS ABORDAGENS EMPREGADAS EM
ÍNDICES MULTIMÉTRICOS NA REGIÃO NEOTROPICAL.
Renata Ruaro1, Roger Paulo Mormul2, Éder André Gubiani3
1,2-Programa de Pós Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais Universidade
Estadual de Maringá – UEM
3-Grupo de Pesquisas em Recursos Pesqueiros e Limnologia, Universidade Estadual do Oeste do
Paraná
Abordagem multimétrica, biomonitoramento, ecossistemas aquáticos
A avaliação da integridade biótica é um tema de extremo interesse na ecologia aplicada. O uso de
Índices Multimétricos (MMIs) tem ganhado ampla aceitação entre os gestores, como ferramenta
para aferir a saúde ecológica de ecossistemas aquáticos. Essa abordagem baseia-se no conceito de
comparar condições atuais com a de referência, que representam aqueles locais sem ou
minimamente impactados por ações humanas. Contudo, o estabelecimento de condições de
referência em estudos e programas de biomonitoramento é um desafio, visto que locais isentos de
influência humana são de difícil identificação ou inexistentes. O objetivo deste estudo foi identificar
as abordagens utilizadas pelos cientistas no estabelecimento de condições de referência na região
Neotropical. Realizamos uma análise cienciométrica das publicações que citam ou empregam MMIs
em ambientes neotropicais, utilizando o banco de dados Thomson Reuters (ISI Web of Knowledge).
A pesquisa foi realizada no mês de maio de 2016, utilizando os termos “Multimetric*index*” OR
“Multimetric*indice*” OR “Index* biotic* integrity*” para a busca de artigos publicados até 2015. A
pesquisa com os termos utilizados encontrou 1292 artigos, dos quais 84 foram desenvolvidos na
região Neotropical, e por isso foram selecionados para análise. As revistas com maior número de
artigos selecionados foram Ecological Indicators e Hydrobiologia, com 11 e 10 artigos,
respectivamente. Cerca de 50% dos trabalhos selecionados empregam ou desenvolvem um MMI, e
desses, 47% foram desenvolvidos no Brasil. Para determinação das condições de referência, grande
parte dos trabalhos usaram variáveis físicas e químicas da água e/ou do sedimento (22,73%) e
maior pontuação das métricas bióticas (18,18%). Porém, dados de vegetação (13,64%), dados
históricos (9,09%), protocolos de avaliação do habitat (9,09%), uso do solo (4,55%) e julgamento
profissional (4,55%) também foram utilizados. Além disso, 18,17% dos trabalhos empregaram
mais de uma dessas abordagens. Assim, condições de referência para uso em MMIs são
estabelecidas de diferentes maneiras, sem critérios padronizados que garantam precisão da
avaliação, bem como limitam comparações. Em nosso entendimento, essas diferentes abordagens
podem dificultar a aplicação dos MMIs e a obtenção de dados para um programa mais robusto de
biomonitoramento.
Biologia Animal
USO DO MICROHABITAT POR PEQUENOS MAMÍFEROS NÃO VOADORES EM FRAGMENTOS DE
MATA NO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Fabrício Luiz Skupien1, Daniele P Rodrigues2, Jady de Oliveira Sausen3, Luana G Arenhart Braun4,
Aline Kolling5, Ana L de Oliveira Rodrigues6, Gislene L Gonçalves7, Daniela O de Lima8
1,2,3,4,5,6,8-Universidade Federal da Fronteira Sul campus Cerro Largo
7Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Estrutura da vegetação, habitat, Mata Atlântica, roedores
O microhabitat é composto por variáveis ambientais que afetam o comportamento dos indivíduos,
além de determinar quais partes da área de vida são mais utilizadas. Nosso objetivo foi avaliar a
influência do microhabitat sobre a comunidade de pequenos mamíferos terrestres em dois
fragmentos florestais do município de Cerro Largo, RS. Os fragmentos, de 30 ha e 20 ha, foram
amostrados com sete pontos de captura, distantes 20m um do outro, e duas armadilhas em cada
ponto - solo e sub-bosque. A amostragem foi realizada entre março de 2015 e abril de 2016, com
dez dias de duração em cada estação do ano, totalizando 2.800 armadilhas-noite. Três indivíduos de
cada espécie foram coletados, os demais foram marcados e soltos. Para análise da influência do
microhabitat - variável resposta, analisamos as seguintes variáveis: cobertura do solo, separada em
folhiço, rochas, vegetação herbácea e solo exposto; estrutura da vegetação entre o nível do solo e
50cm de altura (EST1); estrutura da vegetação entre 50cm e 100cm (EST2); estrutura da vegetação
entre 100cm e 150cm (EST3); número de árvores (separadas em relação ao diâmetro na altura do
peito - DAP: 10-30cm; 30-60cm e >60cm); altura do dossel (ALT), e cobertura do dossel (COB).
Utilizando Modelos Lineares Generalizados com distribuição de Poisson, analisamos a influência
das variáveis de habitat para as espécies Akodon montensis (n= 146); Oligoryzomys flavescens (n=
45) e Didelphis albiventris (n= 35). Utilizamos seleção de modelos do tipo “backward” baseada no
valor de AIC. Akodon montensis foi influenciado positivamente por EST1; EST3; árvores DAP >60 e
árvores DAP 10-30 e negativamente por EST2; rochas e cobertura do dossel. Oligoryzomys
flavescens foi influenciado positivamente por EST1 e ALT e negativamente por folhiço; vegetação
herbácea; árvores DAP 30-60; árvores DAP >60; árvores DAP 10-30 e solo exposto. Já D. albiventris
foi influenciado positivamente apenas por árvores DAP 10-30. Os dois roedores apresentaram uma
relação positiva com variáveis que indicam uma obstrução da vegetação, o que diminui a exposição
a predadores. A relação negativa entre O. flavescens e o número de árvores contraria a literatura,
que indica essa espécie como escansorial. Didelphis albiventris, um marsupial arborícola, foi
influenciado positivamente pela presença de árvores. Nossos dados indicam uma íntima relação das
espécies com a vegetação, sendo esta relacionada com os hábitos de vida das espécies analisadas.
Ecologia Aquática
PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DA COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA EM DIFERENTES HABITATS DE
UM RIACHO COSTEIRO DA MATA ATLÂNTICA
Viviane Bernardes dos Santos Miranda1, Rosana Mazzoni2
1,2-Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Ecologia, limnologia, zooplâncton
O zooplâncton, associado ao fitoplâncton, compõem a base da cadeia alimentar em sistemas
aquáticos. Não obstante sua importância como fonte de recursos em sistemas fluviais costeiros de
pequeno porte não existam registros dessa importante comunidade para esses ambientes. No
presente trabalho realizamos o levantamento das espécies zooplanctônicas de diferentes tipos de
hábitats de um riacho costeiro de segunda ordem (riacho Ubatiba - 22º 55 '10 "S; 42º 49' 04" W), da
Mata Atlântica (RJ). As amostragens foram realizadas nas estações seca e chuvosa em cinco sítios
amostrais, através de rede de plâncton com malha de 60 µm que filtrava 130 litros de água coletada
na vegetação ciliar e na coluna d’água de cada um dos sítios amostrais. De acordo com as variáveis
abióticas mensuradas, o riacho Ubatiba apresenta pouca variação sazonal para a temperatura da
água, que apresentou temperatura média acima dos 20°C, o oxigênio dissolvido não apresentou
valores inferiores a 5 mg/L e o pH esteve em torno de 7,3. Foram registadas 141 espécies
zooplanctônicas, sendo: 91 amebas testáceas; 41 rotíferas; 5 cladóceras; 4 copépodas. Ocorreram
28 espécies associadas exclusivamente a vegetação ciliar e 35 espécies associadas exclusivamente à
coluna d’água. Em ambos hábitats, as maiores riquezas foram das amebas testáceas dos gêneros
Arcella (9 e 8 spp, respectivamente), Centropyxis (13 e 15), Difflugia (21 e 23), Euglypha (7 e 6) e
Lesquereusia (6 e 5) e dos gêneros de rotíferas Lepadella (6 e 3) e Trichocerca (6 e 2). Os
resultados do presente levantamento sugerem a adaptabilidade das espécies à diferentes hábitats
do ambiente aquático. Na coluna d’água (plâncton), os organismos são capazes de enfrentar as
diferenças de correnteza que facilitam a ressuspensão do sedimento e geram a dinâmica de
nutrientes, favorecendo o desenvolvimento da comunidade zooplanctônica. A presença do
zooplâncton nos trechos de vegetação ciliar, parece estar vinculada à grande heterogeneidade do
espaço e disponibilidade de recursos desse hábitat que, por sua vez, é possivelmente favorecido
pela turbulência reduzida e maior acúmulo de material alóctone decomposto, facilitando o
desenvolvimento desses organismos. O presente levantamento contribuiu para o conhecimento das
comunidades zooplanctônicas de riachos costeiros do Estado do Rio de Janeiro e é mais um
elemento para elucidar sobre processo geradores de biodiversidade em áreas costeiras da Mata
Atlântica.
REDUÇÃO DE VOLUME E COLAPSO DE ALGAS EM RESERVATÓRIOS, O PAPEL DO CRESCIMENTO E
DA TAXA DE SEDIMENTAÇÃO DAS ALGAS
Gilberto Corso1, José Luiz de Attayde2
1,2-Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Dinâmica de populações, fitoplâncton, reservatórios, semi-árido
O semiárido brasileiro possui milhares de reservatórios de água essenciais para a sociedade e
economia da região. Durante o período de estiagem, que pode ser maior que 200 dias por ano,
observa-se uma grande redução no volume de água acumulado devido ao consumo e à evaporação.
O monitoramento da dinâmica populacional de algas nos reservatórios tem mostrado um colapso
na população de algas associado à redução de volume além de um limite crítico. Com intuito de
estudar este fenômeno analisamos um modelo de crescimento logístico para descrever o
crescimento populacional dependente de densidade das populações de algas nos reservatórios e
introduzimos no modelo uma função de mortalidade por sedimentação que é inversamente
proporcional à profundidade do reservatório. Na equação diferencial que descreve a dinâmica do
sistema foi introduzido um parâmetro (beta) que é a razão entre a variação do volume atual pelo
volume máximo do reservatório. Obtivemos como resultado neste trabalho uma bifurcação
transcrítica na dinâmica populacional das algas dependendo dos valores das taxas de crescimento
(r) e de sedimentação (theta) das algas. Para que as algas possam persistir nos reservatórios, a taxa
de crescimento precisa ser maior que a taxa de sedimentação, mas este efeito depende do
parâmetro beta. Com redução de volume surge um efeito não linear fazendo com que maiores r
sejam necessários para compensar o efeito de theta. Os resultados do modelo sugerem que com a
redução do volume algas com elevadas taxas de crescimento e/ou reduzidas taxas de sedimentação
tendem a ser selecionadas. No entanto, caso o volume do reservatório seja muito reduzido apenas
algas com taxas de sedimentação próximas de zero conseguiriam persistir, enquanto as demais
entrariam em colapso. As previsões deste modelo simples serão comparadas com dados de
monitoramento de biomassa de algas e volume de reservatórios para um melhor entendimento das
inter-relações entre as variações na quantidade e qualidade dos recursos hídricos do semiárido
brasileiro em função das mudanças climáticas e aumento da demanda desses recursos.
QUALIDADE DE ÁGUA DAS NASCENTES À MONTANTE DE UM RESERVATÓRIO HIDROELÉTRICO
Katiene Pimenta Santiago1, Kele Rocha Firmiano2, Magda Karla Barcelos Greco3, Marcos Callisto4
1,2,4-Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Depto. Biologia Geral,
Laboratório Ecologia de Bentos
3-Fundação Unesco-Hidroex da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais
Cerrado, parâmetros limnológicos, usos do solo
Ecossistemas aquáticos são influenciados por modificações nos usos do solo. Baseado na previsão
de que riachos inseridos em áreas com intenso uso do solo apresentam menor qualidade de água
quando comparados àqueles inseridos em áreas naturais, o objetivo deste estudo foi identificar
quais parâmetros limnológicos são influenciados por tais modificações em dois períodos distintos.
Foram identificados os principais tipos de usos do solo (%) com aplicação do SIG (Sistemas de
Informação Geográfica) e coletadas amostras de água em 40 trechos de riachos a montante do
reservatório de Nova Ponte (MG), nos anos de 2009 e 2013. Foram mensurados os seguintes
parâmetros limnológicos: temperatura (ºC), pH, oxigênio dissolvido (mg/L e % saturação), sólidos
totais dissolvidos - STD (mg/L), condutividade (µS/cm), turbidez (UNT), nitrogênio (mg/L) e
fósforo (µg/L) totais. Os parâmetros foram confrontados com os valores limites estabelecidos pela
resolução CONAMA 357 de 17/03/2005. Os tipos de usos do solo identificados foram: agricultura
(50% ± 30%), pastagem (14% ± 17%), áreas urbanas (1% ± 5%) e vegetação natural (35% ± 25%).
Foi realizada uma Análise de Componentes Principais - PCA para verificar a explicabilidade das
variáveis selecionadas. No ano de 2009, os dois primeiros eixos da PCA resultaram em 44% de
explicação. O eixo 1 teve 27% de explicação e foi positivamente correlacionado com % natural, %
pastagem, condutividade e STD, e negativamente por % agricultura, fósforo e turbidez. No ano de
2013, os dois primeiros eixos da PCA resultaram em 38% de explicação. O eixo 1 teve 22% e foi
positivamente correlacionado por % natural, turbidez, fósforo, temperatura e nitrogênio, e
negativamente por pasto, STD, pH e condutividade. A temperatura média da água diminuiu entre os
anos (20,3 + 1,7 °C em 2009; 19,3 + 1,6 °C em 2013; t78= 2.643873; p< 0,001), e a concentração de
nitrogênio aumentou (0,05 + 0,01 mg/L em 2009, 0,09 + 0,02 mg/L em 2013; t78= -10.6157 p<
0,001). Houve melhora na qualidade de água entre os anos de 2009 e 2013, sendo enquadrados nas
Classes I e II (93% em 2009 e 98% em 2013). Os resultados evidenciam que atividades como
agricultura e pastagem influenciam negativamente os parâmetros limnológicos, especialmente o
nitrogênio e a temperatura. Estes resultados podem auxiliar gestores e tomadores de decisões na
bacia do alto rio Araguari, evidenciando que a intensificação nos usos do solo, tendem a diminuir a
qualidade de água como todo.
COLONIZAÇÃO DE SUBSTRATO PADRONIZADO POR MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS EM
PARQUES URBANOS
Gisele Moreira dos Santos1, Kele Rocha Firmiano2, Wander Ferreira3, Marcos Callisto4
1,2,3,4-Universidade Federal de Minas Gerais
Avaliação ambiental, comunidades, ecologia, substratos padronizados, zoobentos
Macroinvertebrados bentônicos são sensíveis a impactos de atividades humanas em ecossistemas
aquáticos e apresentam adaptações a diferentes tipos de substratos. Os substratos podem ser
constituídos de material orgânico, como banco de folhas e detritos da vegetação ripária ou
inorgânico, como areia, cascalho, seixo. Substratos padronizados, ou seja, aqueles de área, volume e
forma conhecida, são utilizados em experimentos de colonização, pois permitem simular as
características do ambiente, acompanhar o tempo de colonização, reduzir os erros amostrais. A
pergunta científica a ser respondida neste trabalho foi “existe diferença entre riqueza e abundância
de macroinvertebrados colonizando substrato padronizado e no sedimento próprio do leito?”
Foram incubados conjuntos de pedras e “bobs de cabelo” (cinco de cada) em córregos inseridos em
três parques urbanos (um córrego em cada parque) em Belo Horizonte (MG) durante 30 dias para
colonização por macroinvertebrados. Foram realizadas 3 retiradas de cada conjunto, num intervalo
de 90 dias. Em paralelo, foram coletadas amostras de sedimento com amostrador do tipo surber.
Foram identificados 3004 organismos pertencentes a 38 famílias, sendo as mais abundantes:
Chironomidae (72,5%), Ceratopogonidae (5,2%) e Elmidae (4,6%). A menor riqueza foi observada
em um dos parques que foi recentemente criado (3 valor médio da riqueza) em comparação com
outros dois com maior tempo de criação (F= 20.419, df=2, P<0,001). Analisando a densidade de
organismos entre os substratos observou-se que os substratos apresentaram níveis médios
diferentes obedecendo a uma escala decrescente (bobs>pedras>sedimento) (média= 1306.29
desvio padrão=2571.67 F=12.291 df=2 P<0,001). Com base em nossos resultados, concluímos que
substratos artificiais podem aumentar a complexidade de habitat, possibilitando que um maior
número de organismos possa existir simultaneamente.
RIACHOS URBANOS EM ÁREAS PROTEGIDAS: É POSSÍVEL MANTÊ-LOS EM CONDIÇÕES DE
REFERÊNCIA?
Juliana Silva França1, Isabela Sobrinho Martins2, Ingrid Silva Costa3, Júlia Cheik Andrade4, Ian Vieira
Barbosa5, Marcos Callisto6
1,2,6-Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de
Biologia Geral, Laboratório de Ecologia de Bentos
3,4-Colégio Militar de Belo Horizonte
5-Colégio Técnico da UFMG
Ecologia de riachos, hábitats físicos, macroinvertebrados bentônicos, parques urbanos, qualidade de
água
Em áreas urbanas, as Unidades de Conservação (UCs) são importantes para manter a
biodiversidade e qualidade de água em riachos de cabeceira. Em programas de monitoramento
ambiental, avaliações físicas e químicas são importantes para avaliar a qualidade e classificação de
cursos d’água. No entanto, pesquisas relacionadas à integridade biótica de comunidades aquáticas
mostram-se promissoras para o diagnóstico do estado ecológico e subsídio à proposição de
medidas de gestão e manejo de recursos hídricos. O objetivo deste trabalho foi relacionar a
influência da zona ripária com a qualidade da água a partir de análises de comunidades de
macroinvertebrados bentônicos em três riachos localizados em áreas de conservação urbana
(parques municipais). A avaliação de habitats físicos foi realizada segundo um protocolo de
caracterização de habitats da Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana adaptado para
riachos de cabeceira tropicais. Parâmetros físicos e químicos de coluna d’água (temperatura, pH,
condutividade elétrica, nitrogênio amoniacal, ortofosfato e oxigênio dissolvido) foram mensurados
com kits colorimétricos. Macroinvertebrados bentônicos foram coletados com um coletor “rede em
D” em 6 trechos distantes 5 metros uns dos outros, em cada riacho. Os resultados evidenciaram: (i)
boa qualidade de água (Classe 1 segundo Resolução CONAMA 357/2005); (ii) importância da
manutenção de zonas ripárias para evitar assoreamento, evitando o acúmulo de sedimentos finos,
com < 5% solo exposto. Riachos em dois dos parques apresentaram baixa profundidade e
predominância de fluxos suaves que, juntamente com a boa qualidade de água, favorecem elevada
riqueza de macroinvertebrados bentônicos bioindicadores (>27 táxons representados). O terceiro
riacho apresentou baixa velocidade de suas águas e poças isoladas, com baixa riqueza de
macroinvertebrados (5 táxons). Os riachos protegidos nos parques urbanos apresentaram boas
condições de hábitats físicos e qualidade de água favorecendo a riqueza de comunidades aquáticas.
Estas UCs são, comprovadamente, espaços importantes para conservação de recursos aquáticos e
potencial de referência de estudos ambientais em programas de biomonitoramento de qualidade de
água.
BACIAS HIDROGRÁFICAS SÃO UNIDADES GEOGRÁFICAS EFICIENTES PARA A DEFINIÇÃO DE
RIACHOS DE REFERÊNCIA?
Isabela Martins1, Raphael Ligeiro2, Marcos Callisto3
1,3-Universidade Federal de Minas Gerais
2-Universidade Federal do Pará
Áreas de referência, grupos indicadores, riachos de cabeceira
Áreas isentas ou com mínimas influências antrópicas representam o melhor estado ecológico
disponível em uma região, sendo usadas como áreas de referência em estudos de
biomonitoramento de bacias hidrográficas. O objetivo desse estudo foi avaliar o grau de
dissimilaridade entre riachos de regiões distintas em uma mesma bacia hidrográfica, para definir
riachos em condições de referência. Nossa hipótese é de que riachos em uma mesma região são
mais homogêneos entre si do que riachos em regiões distintas quanto aos seus aspectos bióticas e
abióticos. Foram avaliadas variáveis de hábitats físicos, características físicas e químicas da água e
macroinvertebrados bentônicos em 29 riachos em condições de referência localizados em três
regiões distintas (Filito, Xisto e Quartizito) na bacia do rio Araguari, MG. A riqueza e composição
taxonômica das comunidades de macroinvertebrados bentônicos foram negativamente
influenciadas pela declividade e positivamente pela presença de banco de folhas. As diferentes
regiões possuem comunidades de macroinvertebrados significativamente distintas (PERMANOVA:
Jaccard - F2,26 = 2,38, p = 0,0001; Gower - F2,26 = 2,35, p = 0,0009) e com taxa indicadores
próprios (IndVal significativos e maiores que 25). Organismos indicadores de boa qualidade de
água pertencentes às famílias Glossossomatidae, Odontoceridae (Trichoptera) e Psephenidae
(Coleoptera) foram encontrados na região Filito. A maior presença de vegetação ripária e
cobertura de dossel na região Xisto explica a presença dos grupos indicadores Calamoceratidae
(Trichoptera) e Dicteriadidae (Odonata). Organismos do grupo indicador Hydroptilidae estão
associadas a substratos de algas, tipicamente encontradas nos riachos da região Quartizito. Para a
definição de áreas de referência, características regionais devem ser levadas em consideração, pois
uma bacia hidrográfica não é comprovadamente uma unidade homogênea em termos da estrutura
ambiental, geologia, solo, habitats físicos e composição biológica.
POR DENTRO DA ESTRUTURA DA COMUNIDADE BIOLÓGICA: PARTIÇÃO DA DIVERSIDADE BETA
DE EPHEMEROPTERA, PLECOPTERA E TRICHOPTERA EM IGARAPÉS AMAZÔNICOS
Ana Paula Justino de Faria1, Lenize Batista Calvão2, Laura Kelly Silva de Souza Batista3, Carina Kaory
Sasahara de Paiva4, Raphael Ligeiro Barroso Santos5, Leandro Juen6
1,2,4,5,6-Universidade Federal do Pará
3-Universidade da Amazônia
Insetos aquáticos, integridade de riachos, macroinvertebrados bentônicos
São cada vez mais documentados os efeitos que as alterações antrópicas provocam nos
ecossistemas naturais, contribuindo para a perda da diversidade local de espécies. Essas
modificações em um âmbito local são consequências do atual cenário de intensificação dos
impactos ambientais em uma escala regional, homogeneizando e simplificando mosaicos de
paisagens. Sendo assim, é importante determinar o grau em que os locais diferem nas suas
composições de espécies (diversidade beta). Considerando que muitas espécies possuem fortes
restrições ambientais, nosso objetivo foi identificar o efeito da variação do ambiente em riachos da
Amazônia oriental na diversidade beta dos gêneros de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera
(EPT). Nossa hipótese é que a intensidade de impactos antrópicos promove um declínio na
diversidade beta, ocorrendo uma substituição de gêneros de EPT. Foram amostrados 34 riachos,
dos quais 17 de ambientes de floresta primária (íntegros) e 17 de áreas submetidas a pressões
antropogênicas ligadas às atividades de populações ribeirinhas (agricultura familiar,
desflorestamento, modificação do canal do riacho). Os invertebrados aquáticos foram amostrados
em trechos de 150m em cada riacho. Os habitats físicos fluviais foram mensurados em cada trecho,
usando um extenso protocolo de avaliação ambiental. A variação na composição dos gêneros foi
afetada pela variação ambiental (Mantel, R = 0,17; p = 0,04). Foi observada alta diversidade beta
entre os riachos (Beta Sorensen 0,92) e esse padrão deveu-se principalmente em função da
substituição de gêneros (turnover 0,87). Observou-se que existe diferença na substituição de
gêneros entre os sítios íntegros e alterados (PERMANOVA, pseudo-F(1,32) = 6,456; p = 0,001 e
pseudo-F(1,32) = 9,277; p = 0,001, respectivamente). Atividades antrópicas tendem a tornar os
locais mais semelhantes ambientalmente e podem limitar o número de gêneros capazes de ocupar
uma região, aumentando a presença de gêneros mais generalistas (e.g. Ulmeritoides), uma vez que
os gêneros sensíveis não persistem (e.g. Macrogynoplax). A partição da diversidade mostrou ser útil
para avaliar a variação da diversidade beta de EPT em riachos antropizados. A substituição dos
gêneros entre os locais indica a importância de conservar os riachos íntegros, além de medidas
diretivas para recuperar os que passaram pelo processo de alteração ambiental, com intuito de
conservar os ecossistemas hídricos e sua diversidade biológica.
INFLUÊNCIA DA HETEROGENEIDADE AMBIENTAL NA COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA FUNCIONAL
DA COMUNIDADE DE MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
Leticia Rosa Frizzo1, Larissa Donida Biasotto2, Alice Flores3, Fábio Melo4
1,2,3,4-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Ambiente lótico, atributos funcionais, diversidade, macroinvertebrados bentônicos
A heterogeneidade ambiental dos rios permite o estabelecimento de uma diversidade taxonômica e
funcional de organismos. Dentre os organismos presentes em ambientes lóticos destacam-se os
macroinvertebrados, um dos principais indicadores de alterações ambientais nesses locais. A
abordagem funcional constitui uma ferramenta mais robusta para respostas às variações no
ambiente, uma vez que os atributos dos organismos são diretamente afetados por interações
bióticas e complexidade do habitat. O estudo tem como objetivo verificar se a velocidade da
corrente e a heterogeneidade ambiental afetam a estrutura funcional e taxonômica da comunidade
de macroinvertebrados. Os organismos foram amostrados em um córrego na Floresta Nacional de
São Francisco de Paula em oito unidades amostrais (quatro em ambientes de remanso e quatro em
corredeira). Em cada ponto amostrado foram medidas velocidade da água e heterogeneidade
ambiental, essa última mensurada através do tamanho e formato das rochas. Os indivíduos foram
identificados em nível de família. Os atributos de cada família foram obtidos por meio de medidas
diretas (tamanho do corpo) e através de dados presentes em literatura cientifica (hábito alimentar
e aparato de ancoragem). Para avaliara a relação entre as variáveis ambientais e as diversidades
funcional e taxonômica foram utilizados modelo linear generalizado e analise de variância
(ANOVA). Foi amostrado um total de 1031 indivíduos distribuídos em 31 famílias. O modelo que
representa as diversidades em função da heterogeneidade ambiental apresentou menor AIC. As
diversidades funcional e taxonômica não diferiram quanto à velocidade da corrente, mas foram
diferentes quanto à heterogeneidade ambiental. Mesmo com a diferença encontrada, as
diversidades taxonômica e funcional podem representar diferentes aspectos do ambiente e
responder de forma distinta uma vez que a perda de um atributo funcional pode representar a
perda de vários táxons que apresentam aquele atributo. O investimento de recurso atribuído para
adaptação à heterogeneidade ambiental pode limitar o investimento para adaptações à velocidade
da corrente, caracterizando um trade-off negativo entre a alocação de recursos para adequação a
diferentes fatores. Para melhor evidenciar as tendências encontradas no presente trabalho, a
combinação de diferentes indicadores juntamente com a inclusão de diferentes métricas funcionais
poderá fornecer respostas mais robustas acerca da comunidade e seu funcionamento.
O USO DE CONTROLE BIOLÓGICO AFETA A COMUNIDADE DE BORRACHUDOS E SEUS
PREDADORES EM RIACHOS TROPICAIS?
Tatiana Docile1, Ronaldo Figueiró2, Jorge Nessimian3
1,3-Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), Rio de Janeiro, Brazil
1-Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio
de Janeiro, Brazil
1, 2-Laboratório de Biotecnologia Ambiental, Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO),
Rio de Janeiro, Brazil
2-Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Volta Redonda, Brazil
2-Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental do Centro Universitário Estadual
da Zona Oeste (UEZO), Rio de Janeiro, Brazil
Bacillus thuringiensis, floresta tropical, impacto antropogênico, Plecoptera, Simuliidae
Importantes prejuízos à população humana são causados por borrachudos (Família: Simuliidae),
quando ocorrem em alta densidade, na saúde, pois algumas espécies atuam como vetores de
doenças e no turismo, devido a reações alérgicas causadas pelas picadas em humanos. Por isso,
tornou-se necessária a implementação de programas de controle biológico para amenizar esses
impactos. O Bacillus thuringiensis var. israelensis (Bti) tornou-se o inseticida biológico mais
utilizado para controlar larvas de mosquitos e borrachudos em todo o mundo O Bti é considerado
não tóxico para aves, plantas e a maioria dos organismos aquáticos. Entretanto, a sua aplicação em
riachos para a eliminação de larvas de borrachudos pode levar um decaimento no número de seus
predadores e diminuir a presença de larvas em últimos estádios. O objetivo do estudo foi avaliar o
efeito do Bti na comunidade de simulídeos e seus predadores. Foram amostrados oito riachos no
estudo, em trechos com e sem a aplicação do Bti (maio de 2015) no município de Ubatuba, SP. Os
riachos foram também caracterizados quanto às propriedades físico-químicas da água. As amostras
foram retiradas com um coletor do tipo Subir, com malha de 200 µm e área de 20x20cm, e,
posteriormente, triadas, quantificadas e identificadas em laboratório. Os indivíduos da espécie mais
abundante Simulium Pertinax tiveram a cápsula cefálica medida em microscópio estereoscópio
usando-se uma ocular milimetrada. Não houve diferença significativa das variáveis abióticas nos
trechos com e sem Bti. Foram encontrados um total de 1.178 indivíduos de simulídeos, sendo 357
(7 morfotipos) no trecho com Bti e 821 (10 morfotipos) no trecho sem a aplicação do inseticida.
Não houve diferença entre os parâmetros estruturais da comunidade de simulídeos nos dois
trechos. Em relação ao seu principal predador (plecópteros da família Perlidae) foram identificados
um total de 187 indivíduos, sendo 66 encontrados nos trechos com Bti e 121 nos trechos sem Bti. O
resultado do teste t pareado mostrou que houve diferença significativa da abundância de
simulídeos (p=0,02) e seus predadores (p= 0,03) nos dois trechos estudados. Além disso, nos
trechos não afetados pelo Bti, houve maior abundância de larvas de simulídeos em estádios finais
(maior tamanho maiores da cápsula cefálica e presença da estrutura do histoblasto maduro e
visível; Teste U: p=0,02). O controle biológico altera as populações de borrachudos e as populações
de predadores em riachos tropicais.
INFLUÊNCIA DA DISPONIBILIDADE DE ALIMENTO SOBRE O TAMANHO CORPÓREO E
ABUNDÂNCIA DE ROTÍFEROS E CLADÓCEROS EM ÁREAS ALAGÁVEIS SUBTROPICAIS
Francieli de Fátima Bomfim1, Claudia Costa Bonecker2, Fábio Amodêo Lansac-Tôha3
1,2,3-Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA), Núcleo
de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aquicultura (Nupélia), Universidade Estadual de Maringá
(UEM)
Abundância, competição, recurso alimentar, tamanho do corpo, zooplâncton
A estrutura das comunidades aquáticas é influenciada pela disponibilidade de alimento, pois, os
recursos interferem nas interações entre os organismos, e, por conseguinte, nas relações
bioenergéticas das cadeias alimentares. Tivemos por objetivo analisar se a variação da biomassa
fitoplanctônica e abundância de protozoários ciliados alteram a distribuição de tamanho corpóreo
de rotíferos e cladóceros e suas abundâncias dentro das diferentes classes de tamanho que
estruturam essas comunidades. Hipotetizamos que ambientes onde ocorre maior disponibilidade
de alimento haverá maior abundância e predominância de organismos de menor tamanho; o oposto
é esperado para ambientes com menos recurso. As amostragens ocorreram em agosto de 2014
(período de seca), na planície de inundação do alto rio Paraná. Foram dez pontos ao longo da calha
principal do rio Paraná, oito tributários, e sete lagoas. A estrutura de tamanho corpóreo da
comunidade foi obtida a partir da medida de comprimento do corpo, medindo 30 indivíduos de
cada espécie, amostras com valor inferior a esse, foram medidas na integra. Após, o tamanho foi
categorizado de acordo com os valores encontrados, sendo descritas 4 classes de tamanho para os
rotíferos (<100, 101-200, 201-300 e >300µm) e 5 para os cladóceros (<200, 201-400, 401-600,
601-800 e >800 µm). Análises de regressão linear simples foram realizadas entre essas classes de
tamanho e a disponibilidade de recurso. Os ambientes com maior disponibilidade de recurso
apresentaram maior abundância de organismos de tamanho pequeno de rotífero e pequeno e
médio de cladóceros. Cladóceros maiores foram observados em maior abundância nos ambientes
com menor disponibilidade de recurso. Observamos relação significativa (p<0,05) entre a classe de
tamanho pequeno (<100 e 101-200 µm) de rotíferos com a concentração de cl- a (R2= 0,16; R2=
0,35) e abundância de ciliados (R2=0,15; R2=0,66) e as classes pequeno e médio (201-400 e 401-
600 µm) de cladóceros e esses mesmos recursos (cl- a R2= 0,39; R2= 0,31) (ciliados R2=0,74;
R2=0,43). Esses resultados demonstram que a disponibilidade de alimento seleciona a distribuição
das classes de tamanhos de rotíferos e cladóceros nos ambientes estudados, assim como a
abundância de organismos dentro dessas classes. Sugerimos que os recursos disponíveis
favoreceram o estabelecimento dos organismos de menor tamanho, além de uma vantagem
competitiva dos cladóceros de maior tamanho sobre os demais quando o recurso era escasso.
INFLUÊNCIA DOS CONDICIONANTES AMBIENTAIS NA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE
Atherinella brasiliensis (QUOY & GAIMARD, 1825) EM UM ESTUÁRIO TROPICAL NO NORDESTE DO
BRASIL
Fernando José König Clark1, Caroline Stefani da Silva Lima2, André Luiz Machado Pessanha3
1, 2, 3-Universidade Estadual da Paraíba
Atherinopsidae, ciclo de vida, estrutura populacional, partição de habitats, peixe-rei
Nos estuários tropicais, os gradientes ambientais influenciam na estrutura da comunidade de
peixes (juvenis, principalmente) e no padrão de utilização espaço-temporal, tornando o sistema
estuarino complexo, permitindo diferentes respostas dentro de suas comunidades, e
proporcionando o estabelecimento de uma grande diversidade de organismos. Atherinella
brasiliensis, distribui-se desde a Venezuela até o Rio Grande do Sul, Brasil, habitando áreas rasas em
baías e estuários e possuindo papel importante no início das cadeias tróficas em ambientes
costeiros. Diante disto, este trabalho visa analisar a conformação das classes de tamanho ao longo
do estuário, enfocando na abundância numérica da espécie. Inserido na Área de Proteção Ambiental
da Barra do rio Mamanguape (±54 km²), está o estuário do rio Mamanguape (±25 km) localizado no
litoral norte do estado da Paraíba. Foram realizadas coletas no canal principal, três no período
chuvoso e três no período seco, utilizando uma rede “beach seine” (11,5 m x 1,5 m; 3 m de
comprimento do saco, 5 mm de malha das asas e 25 mm do saco) os arrastos foram realizados em
uma profundidade máxima de 1,5 metros, e simultaneamente, foram aferidos os parâmetros
ambientais utilizando uma sonda multiparamétrica, com cada variável replicada três vezes por
ponto. Todas as amostragens foram realizadas durante as marés baixas de sizígia. Foram
capturados 4.915 indivíduos, sendo representados por 66% de indivíduos juvenis e 34% de
indivíduos adultos. Os maiores valores de abundância e biomassa foram registrados durante o
período seco na zona superior do estuário. Nas duas zonas foram registrados indivíduos em todas
as classes de tamanho, sendo observado que os indivíduos menores estiveram mais presentes na
parte superior. A distribuição de A. brasiliensis esteve correlacionada nas zonas que apresentaram
maior temperatura, salinidade, transparência e clorofila e menor teores de matéria orgânica no
substrato. Já áreas de maior salinidade e transparência indicam presença de indivíduos maiores
devido a correlação positiva com a biomassa. As diferentes classes de tamanho, bem como das
diferentes fases do ciclo de vida, foram influenciadas pelos fatores ambientais e indicaram uma
separação ao longo do estuário estando assim relacionado com a hipótese de separação de habitats.
Tal estratégia pode estar sendo adotada pela espécie para utilização dos recursos disponíveis nesse
estuário tropical.
Ecologia Comportamental
MODIFICAÇÕES COMPORTAMENTAIS EM RESPOSTA A DIFERENTES COMPLEXIDADES DE
HABITAT INFLUENCIAM INTERAÇÕES PREDADOR-PRESA
Rafaela Vendrametto Granzotti1, Amanda Cantarute Rodrigues2, Carolina Mendes Muniz3, Luiz
Carlos Gomes4
1,2,3,4-Universidade Estadual de Maringá.
Macrófitas, Forrageio, Predação
A complexidade estrutural em comunidades aquáticas influencia as interações predador-presa.
Estudos relatam um aumento da sobrevivência de presas com ao aumento da complexidade de
habitat, pois ambientes mais complexos atuam como áreas de refúgio para as presas e reduzem a
eficiência visual e mobilidade dos predadores. Por outro lado, há relatos de modificações
comportamentais do predador que aumentam sua eficiência de captura em diferentes estruturas de
habitat, o que também pode acarretar uma mudança no comportamento da presa. Portanto, o
objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito da complexidade de habitat sobre o comportamento de
forrageio de [Hoplerythrinus unitaeniatus] (predador) e comportamento antipredação de
[Moenkhausia forestii] (presa). Para observação do comportamento, os indivíduos foram filmados
em três níveis de complexidade de habitat (baixo, intermediário e alto) dado por diferentes
densidades de macrófitas. Cada aquário apresentava um indivíduo de [H. unitaeniatus] e seis
indivíduos de [M. forestii]. Foram observados 15 minutos dos vídeos e foram anotados, a cada
minuto, a posição dos indivíduos e sua atividade (forrageio, natação, repouso, formação de
cardumes). Para o predador, a estratégia de forrageio foi classificada em perseguição ou emboscada
e o número de investidas nas presas e o local dessas investidas (áreas com ou sem macrófitas)
foram monitorados. Essas observações indicaram uma diminuição na formação de cardumes e uso
mais prolongado das macrófitas como refúgio, por [M. forestii], na presença do predador. O
predador filmado na complexidade baixa teve uma estratégia predominantemente de perseguição e
a maioria das investidas foi realizada em ambiente aberto. Na complexidade intermediária, o
predador apresentou ambas as estratégias e teve, aproximadamente, o mesmo número de
investidas em área aberta e na área com macrófitas. Na complexidade alta, o predador apresentou
estratégia de emboscada e teve o menor número de investidas. A diferença de estratégia de
forrageio de [H. unitaeniatus], observada nas filmagens, pode ter levado a um consumo similar de
[M. forestii] nas diferentes densidades de macrófitas. As presas permaneciam em cardumes nas
baixas complexidades, pois esse tipo de formação fornece maior proteção contra o predador
quando o refúgio é pouco disponível. Em conclusão, tanto predadores quanto presas apresentam
modificações comportamentais que otimizam sua eficiência de predação e antipredação,
respectivamente.
MOVIMENTAÇÃO DE Akodon montensis EM PEQUENOS FRAGMENTOS FLORESTAIS
Luana Gabriele Arenhart Braun1, Jady de Oliveira Sausen2, Aline Kolling3, Daniele Pereira
Rodrigues4, Fabrício Luiz Skupien5, Ana Lucia de Oliveira Rodrigues6, Gislene Lopes Gonçalves7,
Daniela Oliveira de Lima8
1,2,3,4,5,6,7,8-Universidade Federal da Fronteira Sul
Dispersão, estacionalidade, Mata Atlântica, pequenos mamíferos, Rodentia
As taxas de movimentação dos pequenos mamíferos são importantes para a Biologia da
Conservação. Os animais com maior capacidade de movimentação terão maiores chances de
sobrevivência em paisagens fragmentadas, influenciando também na dispersão de sementes para
diversas plantas. O uso do espaço varia entre machos e fêmeas, devido principalmente às
estratégias reprodutivas, pois os machos, além de procurar alimento e abrigo, também se deslocam
a procura de fêmeas. Além disso, a movimentação pode variar em função do peso do animal, pois
animais maiores precisam de mais recursos, e em função da estação do ano, sendo que os animais
precisam se deslocar mais nos momentos de escassez de alimentos. Neste estudo analisamos as
taxas de movimentação do roedor sigmodontíneo Akodon montensis em dois fragmentos de mata no
noroeste do Rio Grande do Sul, município de Cerro Largo. Os objetivos específicos foram analisar a
influência do sexo, peso e estação do ano na movimentação dessa espécie. A amostragem foi feita no
período de março de 2015 a abril de 2016, utilizando o método captura-marcação-recaptura,
totalizando 2.800 armadilhas-noite. Para testar a influência das variáveis independentes na
mobilidade dos roedores foram utilizados modelos de resposta linear, comparados através do valor
de AIC. Foram detectados 29 movimentos de fêmeas e 37 movimentos de machos. O modelo com
melhor capacidade de explicação (portanto menor valor de AIC) foi aquele que tinha a variável sexo
como explicativa. As fêmeas movem em média 13 m e os machos movem em média11 m a mais do
que estas. O segundo modelo com menor valor de AIC foi o geral, onde a variável sexo é a que
possui maior influência, seguida da variável estação. A maior taxa de movimentação foi observada
no outono, em que os animais moveram-se 16 m a mais do que no inverno, 12 m a mais do que na
primavera e 5 m a mais do que no verão. O terceiro melhor modelo foi o modelo nulo, seguido do
modelo com a variável estação e o último foi o que continha apenas a variável peso. Os resultados
indicam que a movimentação dos roedores da espécie A. montensis nos fragmentos estudados é
influenciada principalmente pelo sexo. Sendo que, como já encontrado na literatura para outras
espécies, os machos são aqueles que movem mais, provavelmente em busca de fêmeas. Apesar de a
área de estudo estar localizada em uma região de grande variação térmica, a sazonalidade foi
apenas secundariamente importante, tendo um baixo poder de explicação.
EFEITO DA QUEBRA DA SIMETRIA FLORAL NA VISITA DE POLINIZADORES
Lucas Marafina Vieira Porto¹, Joshua Nightingale2, Viviane Zulian3, Tomaz Stump Horn4
1,2,3,4-Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Departamento de Ecologia
Assimetria, polinização, reconhecimento visual, visitantes florais
Plantas têm diferentes estratégias para dispersar seu pólen, onde as mais comuns são aerofilia e
zoocoria. Na zoocoria, flores têm função importante na atração de polinizadores. A presença de
simetria é indicativo da qualidade da flor, pois ataques de herbívoros e patógenos e deficiências
nutricionais ocasionam assimetria de estruturas florais. O objetivo é avaliar como alterações na
simetria floral da Leptostelma catharinense (Asteraceae) influenciam a visita de polinizadores,
testando a hipótese que flores simétricas serão mais visitadas que as demais. Desenvolvemos esse
estudo na Floresta Nacional de São Francisco de Paula, localizada no município de São Francisco de
Paula, RS. Realizamos a amostragem em 33 pontos ao longo de uma trilha. Em cada ponto
utilizamos três flores e realizamos dois tratamentos, onde a flor era dividida, intuitivamente, em
quatro quadrantes: 1) retiramos cinco pétalas de apenas um dos quadrantes, deixando-a
assimétrica; 2) retiramos cinco pétalas de cada um dos dois quadrantes superiores,
descaracterizando a flor. Não alteramos as estruturas da terceira flor, nosso controle. Foram
observados 33 blocos (conjunto de três flores), observando as três flores por dez minutos,
contabilizando a presença de visitantes florais, durante o período da manhã. Registramos 238
visitas de insetos, 92 em simétricas, 79 em descaracterizadas e 67 em assimétricas. O número de
visitas não diferiu significativamente entre os tratamentos (simétrica x assimétrica; simétrica x
descaracterizada; descaracterizada x assimétrica, p > 0.05), porém as durações das visitas nas
simétricas foram mais longas em comparação com as demais (p < 0.05). Além disso, o tempo das
visitas foi diferente entre as flores simétricas e as descaracterizadas (p =0.03) e assimétricas (p
=0.02), mas não entre descaracterizadas e assimétricas (p =0.57), onde o tempo médio de visitação
foi de 50 segundos para as simétricas, 20s nas descaracterizadas e 15s nas assimétricas. A alteração
na simetria das flores não foi um fator limitante para a visitação. Entretanto, os polinizadores
podem ter percebido a falta de simetria após o pouso, o que levou a uma menor duração nas visitas
em flores alteradas. Dípteros foram os visitantes mais abundantes, e nessa ordem, sinais visuais são
mais utilizados a longas distâncias, enquanto que o olfato é mais importante a curtas distâncias.
Assim, seria necessário um experimento controlando demais características das flores, como o odor
por exemplo.
Ecologia da Conservação
LIMIAR GLOBAL DE RESPOSTA DO RISCO DE EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES À PERDA DE HABITAT:
PREVENDO O RISCO DE ESPÉCIES DEFICIENTES EM DADOS
Ricardo Dobrovolski1, Moreno Di Marco2, Rafael Dias Loyola3, Marcel Cardillo4, José Alexandre
Felizola Diniz-Filho5
1-Departamento de Zoologia, Universidade Federal da Bahia
2-Global Mammal Assessment program, Dept Biology and Biotechnology, Sapienza University of
Rome
3,5-Departamento de Ecologia, ICB, Universidade Federal de Goiás
4-Macroevolution and Macroecology Group, Research School of Biology, The Australian National
University
Conservation biogeography, habitat amount, land cover, mammals
O risco de extinção das espécies é determinado por fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os
fatores extrínsecos, a destruição do habitat é a principal ameaça à biodiversidade. Nós combinamos
as informações sobre quantidade de habitat e risco de extinção intrínseco de 3916 espécies de
mamíferos terrestres para prever o seu risco de extinção, incluindo as espécies deficientes em
dados. Calculamos a quantidade de habitat natural sobrepondo a distribuição geográfica das
espécies com um mapa global de cobertura do terreno (GlobCover 2.2). O risco de extinção
intrínseco foi calculado a partir características funcionais das espécies e informação filogenética,
variando entre 0 (não ameaçado) e 5 (extinto). Entre as espécies cujo risco intrínseco era superior
ao valor esperado para as espécies ameaçadas, 60% das espécies eram de fato ameaçadas conforme
a lista vermelha da IUCN. Quando nós incluímos a quantidade de habitat como variável preditora,
encontramos um limiar de aumento da probabilidade de extinção resposta em 22.6% para todas as
espécies ameaçadas. Quando consideramos as espécies com risco intrínseco igual ou superior a 1 e
2, os valores deste limiar foi de 60.7% e 93%, respectivamente. Entre as espécies deficientes em
dados, 53% devem estar ameaçadas, considerando 80% de precisão. Assim, demonstramos em uma
abordagem macroecológica, que o risco de extinção das espécies responde à perda de hábitat na
forma de um limiar. Quanto maior o risco de extinção das espécies, mais elevado é esse limiar,
portanto, as espécies mais sensíveis necessitam de maior quantidade de hábitat para a sua
conservação. Além do cálculo do risco de extinção das espécies deficientes em dados, nossa
abordagem pode ser aplicada ao entendimento do futuro da crise da biodiversidade global a partir
dos cenários disponíveis sobre as mudanças de cobertura da terra.
DISTÚRBIOS ASSOCIADOS ÀS RODOVIAS DIMINUEM A DIVERSIDADE DA CAATINGA
Nayara Mesquita Mota1, Juan Fernando Carrión2, Markus Gastauer3, João Augusto Alves Meira Neto4
1,2,3,4-Universidade Federal de Viçosa
Caprinocultura, estrutura, perturbação, Shannon, similaridade
A ocorrência de perturbações antrópicas pode afetar a distribuição e abundância das espécies,
constituindo importante elemento da composição e riqueza de espécies. Portanto, esse trabalho
tem como objetivo: i) investigar se a estrutura e a diversidade decrescem em comunidades vegetais
de Caatinga que estão em áreas não protegidas e ii) analisar as diferenças na composição das
espécies através do índice de Morisita (IM). Assim, foram marcadas oito parcelas de 20m x 50m em
Caatinga arbóreo-arbustiva, quatro parcelas em área protegida na Estação Biológica de Canudos
(EBC) e quatro em áreas não protegidas (em trechos da BR-235) no norte da Bahia, Brasil. Todas as
parcelas estão dentro do mesmo contexto climático, entre as coordenadas 09°42′ a 10°05′S e
38°16′ a 39°41′W. Amostramos todas as espécies lenhosas com CAS (circunferência a altura do
solo) ≥10 cm e altura ≥1m. Os parâmetros riqueza, índice de diversidade de Shannon, número de
indivíduos, altura média, área basal total e média por parcela foram utilizados em modelos lineares
generalizados comparando as duas situações. A significância foi avaliada através do teste do qui-
quadrado e F. Amostramos 63 espécies e 1176 indivíduos nas parcelas da EBC e 49 espécies e 1059
indivíduos nas parcelas da BR-235. Para a área amostrada na EBC o índice de Shannon foi de 3,07 e
para a área amostrada na BR-235 foi de 2,72. Na EBC encontramos altura média de 2,46m, área
basal média de 0,009m2 e total de 10,14m2. Nas áreas da BR-235 encontramos altura média de
2,70m, área basal média de 0,008m2 e total de 8,77m2. Áreas protegidas apresentaram maior
riqueza (p<0,001) e maior diversidade (p=0,015). Número de indivíduos (p=0,592), altura
(p=0,412), área basal total (p=0,436) e área basal média (p=0,875) não diferiram. Houve uma baixa
similaridade entre as áreas protegidas e não protegidas (IM=0,38). Os resultados indicam que a
exposição da vegetação a distúrbios, por exemplo, a herbivoria por caprinos (comum na vegetação
do entorno de rodovias), causa diminuição da riqueza e alteração na composição de espécies.
Outros trabalhos na Caatinga divergem quanto ao comportamento da vegetação em relação a
perturbações, enquanto alguns encontraram maior riqueza nas áreas mais perturbadas, outros
amostraram mais espécies em estádios tardios. Os dados apresentados sugerem que unidades de
conservação para a Caatinga são fundamentais para a conservação da biodiversidade, uma vez que
a vegetação fora dessas exibem menor diversidade.
MUDANÇA NO COMPORTAMENTO DE VOO DE AVES NA PRESENÇA DE SINALIZADORES DE
AVIFAUNA EM LINHAS DE ALTA TENSÃO
Larissa Donida Biasotto1, André Barcelos Silveira2, Andreas Kindel3
1,2,3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Hirundinidae, linha de transmissão, mitigação, Psittacidae, risco de colisão
O crescimento contínuo do setor energético implica em modificações na paisagem que incluem a
instalação de novas linhas de transmissão de energia. Com a presença dessas estruturas, algumas
aves, além de sofrerem com a perda e fragmentação de seus habitats, também estão expostas ao
risco de morte por colisão com os cabos da linha. Com o intuito de minimizar o risco, a ancoragem
de sinalizadores de avifauna é indicada como uma forma de mitigação de colisões. O presente
estudo buscou testar a efetividade do sinalizador em espiral amarela, do tipo Swan -Flight™
Diverter, por meio do reconhecimento de alterações no comportamento de voo de diferentes
famílias de aves, em vãos sinalizados e em vãos não sinalizados de uma linha de transmissão
(desenho Controle-Impacto). As variáveis estudadas foram tipo de voo, classificado como de
evitamento e de indiferença, distância de voo em relação aos cabos considerando uma esfera
imaginária de 5 m ao redor dos fios e posição do voo em que a ave cruzava a linha, abaixo, entre ou
acima dos cabos. Das famílias analisadas (n=19) somente Hirundinidae apresentou alteração do
comportamento de voo na presença dos sinalizadores para algumas das variáveis estudadas.
Apesar da sinalização dos cabos para-raios ser indicada como uma das medidas mais apropriadas
para a mitigação da mortalidade de aves causada por linhas de energia, nossos resultados não
revelaram isso quando avaliado o comportamento de voo em nível de família. No entanto,
sugerimos que a estratégia de mitigação pelo uso de sinalizadores não seja abandonada e
apontamos a necessidade de desenhos amostrais de maior complexidade, como BACI ou beyond
BACI. Mesmo com a existência de uma grande variedade desses dispositivos e de alguns estudos
que demonstram sua efetividade, há muitos trabalhos que comprovam sua irrelevância. Não está
claro em que medida essas diferenças nos resultados encontrados são decorrentes de variações no
desenho amostral, variável amostrada, grupos faunísticos envolvidos, contextos paisagísticos ou
características dos dispositivos. Portanto, é preciso cautela na recomendação da instalação dos
sinalizadores e, como orientação, os monitoramentos realizados em linhas de transmissão em
processo de licenciamento devem adotar desenhos amostrais suficientemente robustos para
elucidar as razões que determinam a efetividade ou não dos sinalizadores.
A MINERAÇÃO E O DESTINO DE AVES ENDÊMICAS DAS MONTANHAS DO LESTE DO BRASIL
Diego Hoffmann1, João Carlos de Castro Pena2
1-Universidade Federal do Espírito Santo
2-Universidade Federal de Minas Gerais
Biomod2, mineração, sdm
Um importante centro de endemismo de aves são as áreas montanhosas localizadas no leste do
Brasil, região também rica em recursos minerais. Tal característica faz com que estas espécies com
distribuição restrita, sofram com a perda de habitat devido à exploração mineral. Assim, analisamos
os efeitos diretos e indiretos da mineração sobre a área de ocorrência potencial das oito espécies de
aves consideradas endêmicas desta região: Augastes scutatus, Augastes lumachella, Scytalopus
diamantinensis, Asthenes luizae e Formicivora grantsaui – consideradas “Quase-Ameaçadas” pela
lista vermelha da IUCN e Asthenes moreirae, Polystictus superciliaris e Embernagra longicauda –
classificadas como “Pouco preocupante”. Para determinar a área de ocorrência, criamos modelos de
distribuição com base em cinco métodos (GLM, FDA, MARS, Maxent e RF) e cinco réplicas (25
modelos por espécie), utilizando-se seis variáveis bioclimáticas. Utilizamos o pacote Biomod2
implementado no software R. Para cada espécie, os modelos que tiveram um escore TSS de
performance >0,85 foram projetados sobre uma área buffer de 200 km ao redor de todos os
registros de ocorrência. Cada espécie foi considerada presente em um pixel de ~1km² se prevista
por no mínimo 50% dos modelos válidos. Para determinar o impacto da mineração sobre a
extensão de ocorrência, realizamos a sobreposição da área direta e indiretamente afetada pela
mineração. A extensão de ocorrência projetada para as espécies variou entre 3834 e 116466 km2. A
perda direta e indireta na extensão de ocorrência variou entre 0,1-4,9% e 5,6-30,4%,
respectivamente. A. luizae e A. scutatus foram as espécies mais suscetíveis aos impactos da
mineração. F. grantsaui e S. diamantinensis por apresentarem centro de distribuição no estado da
Bahia, não apresentaram grande área influenciada por atividades mineradoras, pois estas se
concentram no Quadrilátero Ferrífero. A. moreirae, atualmente classificada como “Pouco
preocupante” pela IUCN, apresenta extensão de ocorrência potencial igual a apenas 3834,53km² e
um dos maiores percentuais de perda de habitat (24,5%). A extensa área atualmente influenciada
direta e indiretamente pela mineração (53669,92km²) e os percentuais de influência sobre a
distribuição das aves endêmicas das áreas montanhosas do leste do Brasil, mostram a necessidade
urgente de estudos e estratégias de manejo para reduzir os impactos da exploração mineral e
garantir a preservação da biodiversidade.
EFEITO DA INVASÃO DE Pinus taeda NA EXPANSÃO FLORESTAL SOBRE CAMPOS NO SUL DO
BRASIL
Camila Doebber1, Daiane Vendramin2, Michele Silva da Rosa3, Guilherme Cauduro4, Juliano Morales
Oliveira5
1,2,3,4,5-Programa de Pós- Graduação em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
Ecótonos, invasão biológica, mudanças globais, nucleação
A invasão de espécies exóticas é um fenômeno global, afetando de diversas formas a estrutura e o
funcionamento de comunidades. A expansão de plantas lenhosas sobre comunidades herbáceas é
também um processo global cuja influência da invasão biológica é pouco conhecida. No processo
florestal sobre campos no planalto Meridional Brasileiro, é sabido que árvores estabelecidas na
matriz campestre atuam como nucleadoras, com destaque para a conífera nativa Araucaria
angustifolia. Nessas áreas de expansão florestal é comum a ocorrência de Pinus taeda, conífera
exótica amplamente cultivada na região, mas cuja influência neste processo é pouco conhecida.
Neste estudo, avaliamos como a invasão de P. taeda afeta os estágios iniciais de expansão florestal
sobre campos na região do planalto. Realizamos um experimento natural numa área de expansão
florestal no município de São Francisco de Paula/RS (29°27’S e 50°15’W com 2.500 mm ao ano).
Foram selecionados oito blocos amostrais, compreendendo três tipologias de vegetação: área de
campo sem influência de árvores próximas (i), indivíduos arbóreos isolados (> 7m de altura) de P.
taeda (ii) e de A. angustifolia (iii). Para cada tipologia, numa área circular de 2 metros de raio,
determinamos a riqueza (S) e a abundância (A) de indivíduos de espécies arbóreas regenerantes
(altura > 50 cm). Diferenças entre as tipologias foram avaliadas para cada variável através de
ANOVA com Testes de Aleatorização, restringindo as permutações dentro de blocos. Para ambas as
variáveis houve efeito geral do tratamento (S: R2=0,37 e P=0,003; A: R2=0,22 e P=0,006).
Comunidades arbóreas regenerando sob A. angustifolia tiveram maior riqueza e abundância do que
as comunidades arbóreas regenerando sob P. taeda (S: P=0,054; A: P=0,015), que por sua vez
tiveram riqueza e abundância similares às comunidades de campo (S: P=0,62; A: P=0,895). Os
resultados demonstram que no processo de expansão florestal, o estabelecimento de árvores
isoladas de P. taeda não favorece o recrutamento de uma comunidade de espécies arbóreas
abundante e diversificada, diferente do conhecido para espécies arbóreas nativas. Assim,
concluímos que a invasão de P. taeda influencia negativamente o processo de expansão florestal em
ecótonos com campo no sul do Brasil.
PRESSÃO AMBIENTAL SOBRE BACIAS HIDROGRÁFICAS POSSUI RELAÇÃO COM ICTIOFAUNA DE
RIACHOS?
Bruna Arbo Meneses1, Renato Bolson Dala-Corte2, Taís de F. Ramos Guimarães3, Fernando Gertum
Becker4
1,2,3,4-PPG Ecologia/Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Campos sulinos, conservação, peixes, riachos
Classificações de bacias hidrográficas baseadas em indicadores de pressão ambiental permitem
caracterizar gradientes de degradação potencial que podem estar relacionados à conservação da
biota. Por exemplo, é plausível assumir que existe uma relação negativa entre diversidade de
espécies e pressão ambiental como fundamento para uso de mapas de pressão na priorização de
bacias para conservação, mas esse é um pressuposto que deve ser validado sob pena de o objetivo
de conservação (diversidade) não ser efetivamente afetado por ações de conservação baseadas nos
fatores de pressão. Neste trabalho apresentamos um diagnóstico de pressão ambiental em 3359
sub-bacias de 3ª ordem no bioma Pampa e utilizamos estes resultados para testar a existência de
relação com características da ictiofauna. Definimos o grau de pressão sobre as bacias como um
índice composto por seis indicadores. Consideramos como sub-bacias de referência aquelas em que
todos fatores de pressão tinham valor zero e as 10% menos pressionadas em cada subunidade
regional. Os dados de ictiofauna foram obtidos em 52 unidades hidrográficas por pesca elétrica em
150 m de riacho. Todas as sub-bacias apresentaram a presença de pelo menos um indicador de
pressão e sub-bacias de referência foram identificadas somente em uma subunidade regional. Há
uma proporção elevada de sub-bacias com níveis intermediários a altos de pressão, sendo tais
proporções variáveis entre subunidades fisionômicas de campo e subunidades ecorregionais
aquáticas. Por meio de RDA, verificamos que as composições taxonômica e funcional estão
relacionadas com agricultura e espelhos d'água. Por meio de GLM, verificamos que a riqueza
taxonômica está relacionada positivamente com agricultura e negativamente com espelhos d'água e
áreas urbanas. Riqueza funcional e porcentagens de espécies raras e comuns não apresentaram
relação com o gradiente de pressão. Os resultados mostram que parte das características ecológicas
da ictiofauna possui relação direta com grau de pressão ambiental em bacias hidrográficas,
indicando que a validade do uso de fatores de pressão como proxies depende de quais
características de ictiofauna são consideradas. Para que os resultados de estratégias regionais de
conservação sejam mais eficientes, o mapeamento de fatores de pressão deve ser complementado
por testes sobre sua relação com os alvos de conservação.
ÁREAS POTENCIAIS PARA A OCORRÊNCIA DO LOBO-GUARÁ Chysocyon brachyurus NO ESTADO DE
SÃO PAULO
Camila Francisco Gonçalves1, Ana Carolina Rocha2, Luis Eduardo Moschini3
1,2,3-Universidade Federal de São Carlos - Campus São Carlos
Ações antrópicas, conservação da biodiversidade, conservação in situ, fragmentação da paisagem
Os processos de fragmentação do ambiente ocorrem de forma natural, mas atualmente a
intensificação destes processos estão diretamente ligadas as ações antrópicas, o que tem
potencializado os danos ao meio ambiente, como a perda da biodiversidade a qual vem ocorrendo
de forma acelerada em decorrência da desagregação da paisagem e da perda de hábitat. Mediante a
estas considerações este estudo visou a aplicação de técnicas de modelagem de distribuição
espacial potencial para Chrysocyon brachyurus (Lobo-Guará), visando identificar fragmentos
florestais no estado de São Paulo relevantes para a conservação da espécie. Para realizar a
modelagem foi utilizado o software MaxEnt, como base a combinação de pontos de presença da
espécie e parâmetros preditivos. Para a análise foram elencadas variáveis ambientais como
parâmetros preditivos juntamente com pontos de ocorrência da espécie identificados para o estado
de São Paulo, os quais possibilitaram a elaboração de mapas como as prováveis distribuições
geográfica da espécie. Sendo possível demonstrar que as áreas com maior probabilidade para a
ocorrência da espécie estão localizadas na porção ocupada pelo domínio cerrado, área está
associada a espécie alvo deste estudo, onde podemos destacar a região noroeste do estado. Esta
região vem sofrendo com o intenso processo de fragmentação da paisagem o que compromete a
conservação in situ do Lobo-Guará, desta forma estas áreas necessitam de ações efetivas de
restauração e preservação da biodiversidade para que possa resguardar as condições mínimas para
a ocorrência e permanência do Lobo-Guará no estado, consequentemente reduzindo a ameaça de
extinção da espécie e de toda a cadeia ecossistêmica.
Ecologia de Comunidades
VARIAÇÃO E INCERTEZA NO ESTUDO DE REDES ECOLÓGICAS
Mathias Mistretta Pires1
1-Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo (USP)
Os diferentes organismos em uma comunidade ecológica conectam-se por meio de interações
formando complexas redes de espécies interconectadas. O estudo dessas redes de interações tem
contribuído na compreensão dos processos responsáveis pela organização de comunidades
ecológicas e das consequências ecológicas e evolutivas de fenômenos como mudanças ambientais,
invasões biológicas e perda de diversidade. Dois grandes desafios no estudo de redes ecológicas são
(i) delimitar o sistema de interesse e (ii) lidar com a variação nos padrões de interação. Redes de
interações são dinâmicas: as interações mudam em sinal e frequência no tempo e espaço, espécies
são perdidas e novas espécies ingressam em comunidades mesmo em escalas curtas de tempo.
Além disso, a detecção de uma interação é um evento inerentemente probabilístico. Usando
modelos que tratam interações de forma probabilística é possível lidar com a variação e com a
nossa incerteza sobre a ocorrência de interações em um dado local. Dessa forma podemos estudar
várias possíveis configurações de uma mesma rede e até mesmo reconstruir possíveis redes de
interações do passado ou esboçar redes de interações do futuro. Usando exemplos das aplicações
de modelos probabilísticos de redes discutiremos os desafios de construir (e reconstruir) redes de
interação e as limitações desse método.
THE ROLE OF LARGE HERBIVORES IN MODULATING PLANT COMMUNITIES AND PRIMARY
PRODUCTIVITY IN TROPICAL FORESTS
Nacho Villar1, Fabiana Rocha-Mendes2, Roger Guevara3, Mauro Galetti4
1,4-Universidade Estadual Paulista (UNESP) Rio Claro (Brazil)
2-Instituto de Ecología (México)
3-Instituto Neotropical (Brazil)
Large herbivores, palms, plant diversity, primary productivity, tropical rainforest
Extensive research in grassland systems demonstrates that large herbivores have a strong top-
down impact on plant communities, plant traits and primary productivity. Yet in forest ecosystems
these impacts are not well characterized and empirical evidence is not conclusive. We conducted a
replicated exclosure experiment in the Brazilian Atlantic rainforest where we evaluated the impact
of large herbivores on tropical plant communities and primary productivity. We found both
positive (agonistic) and negative (antagonistic) context-dependent effects of large herbivores on
plant communities, modulated by an interaction between large herbivores and palms. At the non-
defaunated site, the negative impact of large herbivores on plant recruitment and species richness
decreased substantially as palms became more abundant and canopy cover decreased.
Furthermore: large herbivores caused a 185% increase and 194% decrease in aboveground
primary productivity (ANPP) in areas of high and low palm abundance, respectively. In contrast, on
the defaunated site we did not find any consistent large herbivore impacts on plant recruitment or
species richness across the gradient, and herbivore activity consistently had negative effects on
ANPP. These results challenge the current view that large ground-dwelling herbivores have a
negative impact on forest ecosystems. Furthermore: they indicate that a key interaction between
large forest-dwelling tropical herbivores and their palm tree resource results in landscape-scale
modulation of plant communities through positive and negative context-dependent feedbacks.
A HIPÓTESE DA ARQUITETURA DE PLANTAS EM Solanum viarum (SOLANALES: SOLANACEAE).
Paloma Marques Santos1, Gabriela Teixeira Duarte2
1,2-Programa de Pós Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Universidade
Federal de Minas Gerais
Artrópodes, hipótese da arquitetura de plantas, recurso, Solanum
A “Hipótese da Arquitetura de Plantas” se apoia no fato de que a estrutura física das partes aéreas
das plantas influencia na estrutura da comunidade de artrópodes presente nela. Características
arquitetônicas relativas à complexidade estrutural da planta podem levar a uma maior abundância
e riqueza de espécies ali presentes. Utilizando como modelo a espécie Solanum viarum, este estudo
objetivou avaliar a hipótese da arquitetura de plantas. O estudo foi realizado no Parque Estadual do
Rio Doce (19°29'24" - 19°48'18" S e 42°28'18" – 42°38'30" W), no estado de Minas Gerais, Brasil. A
coleta de dados ocorreu durante cinco dias, em Julho de 2013. Foram amostradas 60 plantas,
localizadas em duas diferentes trilhas, distantes em 3 km uma da outra. As plantas tiveram sua
altura, número de folhas e ramos contabilizados, além da coleta dos artrópodes presentes através
de um guarda-chuva entomológico. Para análise de dados, realizamos um PCA e em seguida, uma
regressão linear simples. O tamanho médio das plantas foi de 77,7 ±31,03 cm, e em média cada
planta possuía 22 folhas ±17,42. O total de artrópodes foi de 644 indivíduos, distribuídos em 13
ordens. O primeiro componente principal explicou 77% da variação dos parâmetros. Através da
regressão linear simples, relacionando o primeiro componente com os artrópodes, identificamos
que a abundância (R² = 0.1524, df = 58, p < 0.005; Y = - 0.39314 + 0.04785X) e riqueza de
morfoespécies de insetos (R² = 0.2013, df = 58, p < 0.005; Y = -0.9386 + 0.3610X), como também a
abundância de aranhas (R² = 0.2557, df = 58, p < 0.005; Y = -0.9459 + 0.3759X), mostraram uma
leve tendência de aumentar com a complexidade arquitetônica das plantas. Como corroborado
neste estudo, o aumento na comunidade de artrópodes a medida em que a estrutura da planta
torna-se mais complexa é um fenômeno bem representado em diversos trabalhos que abordam o
assunto. Plantas maiores e mais complexas são facilmente percebidas pelos artrópodes e
apresentam uma grande concentração de recursos: A proximidade de folhas em uma planta com
alto grau de complexidade permite uma maior mobilidade para a procura de recursos, da mesma
forma que reduz custos energéticos de locomoção. Logo, se tornam mais atrativas e são
preferencialmente colonizadas.
TURNOVER TEMPORAL DA ASSEMBLEIA DE CERAMBICÍDEOS EM ÁREAS COM DIFERENTES
ESTRUTURAS VEGETAIS
Maria Avany Bezerra-Gusmão¹, Bruno Guedes da Costa2, Antonio Paulino de Mello3, Arleu Barbosa
Viana-Junior4
1,2-Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Estadual da Paraíba,
Campina Grande
3-Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal da Paraíba
4-Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Laboratório de
Ecologia de Insetos, Belo Horizonte
Besouros longicórneos, beta-diversidade, composição de espécies, monitoramento temporal
Cerambicídeos são insetos exclusivamente xilófagos que geralmente vivem em estreita relação com
a planta hospedeira. Essa associação gera uma influência na sua diversidade, visto que a estrutura
do habitat é um componente que afeta sua composição espacialmente. No entanto, quantificar as
mudanças (turnover) dessa composição no tempo fornece informações valiosas sobre a tendência
da biodiversidade. O estudo verificou a diversidade temporal de besouros cerambicídeos em dois
ambientes estruturalmente diferentes e sazonalmente secos, localizados no nordeste brasileiro
(Paraíba). Uma das áreas possui característica vegetacional baixa, arbustiva e árvores da caatinga
(Estação Experimental São João do Cariri - EESJC), enquanto que a outra possui revestimento
florístico típico de clima sub-desértico e predominância de vegetação arbustiva (Mata de Paus
Brancos - MPB). Em cada área uma armadilha luminosa foi instalada durante 10 e 14 meses
initerruptamente, respectivamente. A composição das espécies entre áreas foi verificada por
análise de variância permutacional (PERMANOVA) e a partição aditiva da diversidade foi realizada
para verificar o turnover temporal da assembleia de cerambicídeos através de uma matriz de
abundância. Foram coletados 37 espécies de cerambicídeos, pertencentes a 16 tribos e duas
subfamílias. A composição das espécies entre as áreas foi distinta (PERMANOVA; F1,22 = 3.09, R2=
0.12, p < 0.001) e a diversidade beta foi o componente que mais contribuiu para a diversidade total
de ambas as áreas (EESJC = 65%, MPB = 79%). Devido à diferença estrutural das áreas de coleta,
acreditamos que essa simplificação do habitat (MPB) tenha sido o fator determinante para a
diferença da composição nesse sistema. Essa diferença estrutural é um mecanismo importante para
a formação dessas comunidades, visto que esses insetos alimentam-se e ovipõem em diversas
partes da madeira de uma árvore (casca, cerne, pedaços mortos de árvores vivas, galhos caídos,
etc.). O trabalho demonstra que não é necessário uma amostragem durante meses consecutivos
dentro do ano para acessar a biodiversidade de cerambicídeos nessas áreas, sugerindo-se coletas
bimestrais, ou até trimestrais, para amostrar a fauna no tempo. Isso economiza tempo e dinheiro,
ou aumenta a extensão do estudo em escalas temporais com o mesmo esforço amostral de coletas
mensais dentro de um único ano.
USO DE AMBIENTE FRAGMENTADO EM ÁREA PERIURBANA POR MAMÍFEROS DE MÉDIO PORTE
Douglas Machado da Silva1, Noeli Zanella2, Carla Denise Tedesco3
1,2,3-Universidade de Passo Fundo
Armadilhas fotográficas, mastofauna, plots
Amplamente distribuídos e com hábitos diversificados os mamíferos ocupam grandes áreas, e tanto
espécies de grande, médio e pequeno porte estão inseridos em cadeias ecológicas de alta
complexidade, presentes em diversos níveis tróficos. As alterações em seus hábitats naturais
influenciam diretamente na sua distribuição, provocando distúrbios em seu comportamento e
hábitos, até seu desaparecimento em determinados graus de interferência. O objetivo deste estudo
foi avaliar a distribuição de mamíferos de médio porte em uma área periurbana inserida numa
matriz agrícola. O trabalho foi realizado no campus I da Universidade de Passo Fundo, com elevada
alteração antrópica, e vegetação característica de floresta ombrófila mista. A amostragem foi
realizada de março de 2012 a dezembro de 2015. As campanhas foram realizadas durante quatro
dias mensais utilizando as metodologias: (1) procura ativa (PA); (2) plots de areia (plots); (3)
armadilhas fotográficas (AF) e (4) Encontros ocasionais (EO). PA foi realizada em transectos
registrando vestígios como, pegadas, fezes e pelos. Foram instalados 10 plots em três linhas iscados
com carne e banana, analisados diariamente. As AF foram instaladas a 40 cm do solo,
permanecendo ativas durante parte do período de estudo e revisadas mensalmente. Utilizando
todos os métodos registramos 14 espécies de mamíferos, pertencentes a 10 famílias, sendo 42%
carnívoros e quatro ameaçadas de extinção (P. yagouaroundi, L. guttulus, N. nasua e D. azarae). D.
albiventris, L. gymnocercus e M. guazoubira apresentaram as maiores abundâncias, sendo que o
primeiro foi mais amostrado pelos plots, enquanto os demais foram na procura ativa. A maior
riqueza foi obtida utilizando os plots (n=12). EO registrou 10, PV nove e AF sete espécies. Puma
yagouaroundi foi exclusivo dos EO. Na PV e nos EO Mazama guazoubira foi a espécie mais
amostrada (15.51%) e Didelphis albiventris mais amostrado nos plots (28,24%). Analisando as
categorias tróficas, cinco espécies são herbívoras (37.7%), três frugívoras/onívoras (21,4%), três
insetívoras/onívoras (21,4%), duas carnívoras (14,3%) e uma onívora (7,1%), uma revisão acerca
da dieta das espécies amostradas indica a possibilidade de interação em teias alimentares. Mesmo
com ampla distribuição, as espécies amostradas dependem dos fragmentos preservados presentes
na região, incluindo áreas de APP dentro do campus, que lhes confere abrigo, refúgio, e locais
seguros para alimentação e reprodução.
VARIAÇÕES NA COMUNIDADE DE HERBÁCEAS APÓS UM PERÍODO DE SECA PROLONGADA NA
CAATINGA
Edson Gomes de Moura Junior1, Christiane Erondina Correa2, Daniel Salgado Pifano3, Airton de
Deus Cysneiros Cavalcanti4, Renato Garcia Rodrigues5.
1,2,3,4-Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental-Universidade Federal do Vale do São
Francisco
Estrutura de comunidades, precipitação, semi-árido
A pluviosidade é um dos principais fatores estruturadores de comunidades de espécies herbáceas
na Caatinga. Entretanto, pouco se conhece sobre o potencial de reestruturação dessa comunidade
após eventos extremos de secas, como as que ocorreram no semiárido brasileiro recentemente. O
presente estudo avaliou a riqueza e abundância de espécies herbáceas na Caatinga durante e após o
período de seca prolongada (2010 – 2015). Nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2013 foram
estabelecidas 135 parcelas de 1 x 1 m, distribuídas em 27 pontos amostrais de diferentes
fitofisionomias da Caatinga, sendo repetidas as medições de riqueza e abundância nos mesmos
meses de 2016 (meses com chuvas acima da média histórica). O método CHAO 1 foi adotado para
estimar a riqueza em cada leitura. Curvas de rarefação foram computadas para avaliar a influência
do número de indivíduos amostrados frente à riqueza. A riqueza e a hierarquia das espécies pela
abundância variaram temporalmente. Enquanto que no ano de 2013 (pluviosidade de aprox.
100mm no período de amostragem) foram registrados 2.110 indivíduos em 39 espécies, na
amostragem de 2016 (com pluviosidade aprox. de 400mm no período) foram contabilizados 42.706
indivíduos distribuídos em 190 espécies. A riqueza estimada para a segunda leitura (CHAO 1 =
214.47) apresentou aumento superior a 400% em relação àquela registrada na primeira (CHAO 1 =
41). Para uma amostra rarefeita do ano de 2016 constatou-se uma riqueza sensivelmente maior do
que 2013, demonstrando que o aumento no número de espécies nesse período não foi provocado
pela maior quantidade de indivíduos registrados. Houve também uma grande substituição de
espécies com maior representatividade dentro da comunidade, onde, das 10 espécies mais
abundantes em 2013, nenhuma permaneceu nesse mesmo conjunto em 2016. A dominância
também apresentou variações entre os períodos, enquanto que no ano de 2013 a espécie mais
abundante representou 68,8% de toda a comunidade, após as chuvas de 2016 a espécie mais
abundante representou apenas 20,9%. Assim, o início de um período de chuvas mais intensas
permite que grande parte das espécies herbáceas do banco de sementes da Caatinga possa emergir,
mesmo após anos de secas. A riqueza estimada nas leituras e a variação na estrutura da
comunidade sugerem uma alta capacidade de resiliência das herbáceas da Caatinga frente a
períodos de seca prolongada e severa.
DISTRIBUIÇÃO E REDE DE INTERAÇÕES DE INSETOS HERBÍVOROS E O ARBUSTO Baccharis
dracunculifolia (ASTERACEAE) EM UM GRADIENTE ALTITUDINAL
Graziella França Monteiro1, Luiz Eduardo Macedo Reis2, Wesley Dáttilo3, G. Wilson Fernandes4,
Flavio Siqueira de Castro5, Frederico S. Neves6
1,2,4,5,6-Universidade Federal de Minas Gerais
3-Instituto de Ecología A.C. – México
Beta diversidade, campos rupestres, escalas, insetos herbívoros, interação inseto-planta
A variação de recursos e condições ao longo de gradientes de altitude determinam a diversidade de
espécies dos diferentes táxons. Entretanto não se conhece os padrões de distribuição de insetos e
da estrutura da rede de interações entre insetos herbívoros e plantas em montanhas tropicais.
Avaliamos o efeito da altitude sobre os insetos associados e a estrutura da rede de interações entre
insetos herbívoros e a planta hospedeira Baccharis dracunculifolia (Asteraceae). Nesse caso, a rede
de interações envolve indivíduos de B. dracunculifolia e suas espécies de herbívoros associadas. O
estudo foi realizado na Serra do Cipó, MG, Brasil. Em três altitudes distintas foram selecionados 60
indivíduos de B. dracunculifolia distribuídos em três populações. Para calcular a especialização das
interações nós utilizamos o índice de especialização H2’. Este índice varia de H2’= 0 (extrema
generalização) até H2’= 1 (extrema especialização). Nós calculamos a diversidade de interações
para cada área utilizando o índice ID que é baseado na entropia de Shannon. Amostramos um total
de 7402 indivíduos, distribuídos em 132 morfoespécies. Verificamos mudanças na composição de
espécies bem como na estrutura da rede de interações com a altitude, determinados por alterações
de condições e na estrutura da vegetação. A altitude intermediária (1100 m) apresentou maior
riqueza e abundância de insetos herbívoros sugadores e uma maior β-diversidade de insetos
mastigadores, possivelmente por se tratar de uma região de ecótono entre o cerrado e os campos
rupestres. Uma maior riqueza e abundância de insetos mastigadores foi verificada na altitude
superior (1300 m), provavelmente devido a uma ausência de outros arbustos e árvores vizinhas.
Verificamos uma relação positiva entre abundância de formigas e herbívoros trofobiontes, sendo a
interação mutualística formada com esses grupos a provável explicação para este padrão. Na
altitude superior foi verificado uma estrutura de rede de interações mais especializada e menos
diversa, com poucas espécies de herbívoros se associando de maneira mais especializada com
plantas com o aumento de altitude. Dessa forma, a rede formada por insetos herbívoros e a planta
na altitude superior é mais sensível às alterações ambientais ou antrópicas. Concluímos que a
mudança da estrutura da vegetação funciona como um filtro estruturador das comunidades e das
redes de interações entre insetos herbívoros e plantas hospedeiras.
INFERRING COMPETITIVE EXCLUSION FROM TRAIT-BASED COMMUNITY ASSEMBLY: EVIDENCES
FROM SIMULATED SCENARIOS OF SPECIES COEXISTENCE
Victor Satoru Saito1, Tadeu Siqueira2, Sandrine Pavoine3
1-Universidade Federal de São Carlos
2-Universidade Estadual Paulista
3-Muséum National d'Histoire Naturelle
Assembly rules, limiting similarity, mechanistic simulations, trait clustering, trait overdispersion
Coexistence theory recently challenged the assumption that trait overdispersion is the unique
result of competition by explaining that if species similarity translates into fitness equality among
species, competition can also result in trait clustering. We investigated the generality of this pattern
simulating community assembly when species have traits related to niche differences that stabilize
coexistence and traits related to fitness similarities that equalize competitive ability. We simulated
varying strengths of stabilizing mechanisms under different intensities of colonization, priority
effects and colonization-competition trade-offs to observe trait dispersion patterns under local and
regional coexistence mechanisms. Simulated communities were analyzed through their richness,
Jaccard beta diversity and the two commonly used trait dispersion metrics: the effect size of mean
pairwise distance (SES.MPD) and mean nearest taxon distance (SES.MNTD). Simulated
communities were generally composed of similar species (negative SES.MPD and SES.MNTD) when
we considered species differences in terms of both niche and fitness differences. Similar species
coexisted under several scenarios of colonization intensities and local stabilizing mechanisms (e.g.
simulating density-dependent predation). This is because species pairs with small fitness
differences need only small niche differences to coexist in our simulations. Under regional
coexistence mechanisms, such as colonization-competition trade-offs and priority effects, we
observed an increase in beta diversity but with the same tendency of local trait clustering.
However, we also found scenarios where communities had overdispersed and random trait
structure owing to a strong influence of species pools. This is because some communities were
assembled by species pairs with large niche differences overcoming large fitness inequalities. Our
results clearly show that trait clustering alone provides weak evidence that environmental filtering
overcomes competition and that absence of trait overdispersion is not a signal of relaxed
competition.
COMUNIDADES DE TREPADEIRAS EM UMA CRONOSEQUÊNCIA EM FLORESTA ATLÂNTICA EM
ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RIO DE JANEIRO, BRASIL
Leonor de Andrade Ribas1, Letícia Rocha Caires2, George Azevedo de Queiroz3, Davi Nepomuceno
Machado da Silva4, Ana Angélica M. de Barros5, Dorothy Sue Dunn de Araujo6
1,2-Grupo de Estudos Interdisciplinares do Ambiente, Departamento de Ciências, Faculdade de
Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
1,5-Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA/SUPES-RJ)
3,4-Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT/JBRJ)
6-Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IP/JBRJ)
Diversidade, floresta tropical, lianas, similaridade, sucessão
Plantas trepadeiras são um componente chave nas intricadas relações nas florestas tropicais. A
dinâmica da colonização das trepadeiras no desenvolvimento das florestas secundárias é essencial
para o entendimento da estrutura e funcionamento das florestas tropicais. O objetivo do estudo foi
analisar o desenvolvimento, características e variações das comunidades de trepadeiras ao longo de
uma cronosequência de Floresta Ombrófila Densa Submontana, Formação de Floresta Atlântica em
Ilha Grande, litoral sul do Rio de Janeiro, Brasil. Trepadeiras com DAP ≥ 0 ,5 cm, herbáceas e
lenhosas (lianas), foram analisadas em matas em diferentes estágios sucessionais (20, 36, 50 e >
164 anos) ao longo de 10 transectos de 50x2m (0,1ha) em cada mata. Foram amostrados no total
das matas 764 indivíduos em 23 famílias, 48 gêneros e 69 espécies identificadas. As famílias
Sapindaceae, Bignoniaceae, Asteraceae, Malpighiaceae e Fabaceae corresponderam a mais de 60%
das espécies. Trepadeiras lenhosas predominaram no inventário. O caule volúvel é o principal
mecanismo para ascender ao dossel, seguido por gavinhas e ganchos; entretanto a proporção dos
diferentes mecanismos de escalada foi influenciada pelo estágio sucessional das matas, tanto
devido à ocorrência das famílias botânicas quanto às características ambientais, como tipo de
árvore suporte. A diversidade e equabilidade demonstraram relação com os estágios sucessionais,
aumentando com a idade das matas, mas declinando na mata mais madura. As trepadeiras
ocorreram no padrão agregado em todas as matas amostradas. A distribuição diamétrica
demonstrou que embora trepadeiras de pequeno calibre ocorram em todas as matas, foram
predominantes na mata mais jovem e um maior número com maiores diâmetros ocorreram na
mata mais madura, que apresentou uma distribuição mais equilibrada. A similaridade florística
agrupou as áreas em um bloco de mais impactadas e de regeneração mais recente e outro de
regeneração avançada e madura. O estudo indicou mudanças na composição e na estrutura da
comunidade de trepadeiras conforme o estádio sucessional das matas. Deste modo, trepadeiras têm
um papel importante tanto na sucessão secundária como na floresta madura. A disposição das
plantas trepadeiras na comunidade pode ser um bom indicador do estado da vegetação.
INVASÕES BIOLÓGICAS: O EFEITO DA INTERFERÊNCIA ACÚSTICA DA RÃ-TOURO NA
VOCALIZAÇÃO DE Dendropsophus minutus (PETERS, 1872)
Jackson Müller1, Cláudia Fontana2
1, 2-Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Anuros, bioacústica, comunidades, ecossistemas
A vocalização é importante para a reprodução e comportamento social dos anuros; fatores
ambientais interferem nas variáveis envolvidas na vocalização deste grupo. Estudos dos efeitos de
invasores acústicos em ambientes preservados são escassos, porém, constituem uma importante
ferramenta preditiva de impactos ambientais nos ecossistemas. Objetivou-se simular a invasão do
nicho acústico expondo machos de Dendropsophus minutus a chamados gravados da espécie
invasora rã-touro americana Lithobates catesbeianus. O impacto da vocalização foi examinado por
técnicas de Bioacústica, na área do Centro de Pesquisa e Conservação da Natureza Pró-Mata
(29°28'54.39"S; 50°10'36.18"O). Foram selecionados em ambiente natural 10 machos focais
adultos (n=10) de D. minutus, os quais foram expostos ao som digital gravado da vocalização da rã-
touro. Cada macho foi considerado um experimento, compondo três tratamentos: 5 min de
gravações das emissões sonoras dos machos antes do estímulo sonoro (A=controle); 5 min de
estímulo com a gravação digital da espécie exótica durante estímulo (B=durante estímulo); 5 min
de gravação das emissões sonoras dos machos que sofreram a estimulação (C=pós-estímulo). Na
análise dos dados coletivos (10 anuros) para cada tratamento aplicado (antes, durante e pós-
estímulo) não houve diferença significativa para a frequência e para a duração dos pulsos sonoros
de D. minutus, mas foi significativa para a amplitude nos tratamentos antes/durante e durante/pós-
estímulo. Entretanto, quando os experimentos foram analisados individualmente verificou-se
variações significativas nas frequências emitidas antes/durante, antes/pós-estímulo, durante/pós-
estímulo, deslocando as chamadas para as frequências significativamente mais elevadas no período
de estímulo e pós-estímulo. Considerando que parâmetros acústicos formam a base principal da
seleção de parceiros sexuais, essas alterações podem influenciar negativamente o sucesso e as taxas
reprodutivas das espécies nativas. Pesquisas tem relatado que parâmetros espectrais são
importantes não só na discriminação individual em rãs, tratando-se de sucesso reprodutivo
individual de um lado, mas também da comunicação social de outro. A simulação da invasão
acústica de uma única rã-touro possibilitou avaliar em pequena escala os possíveis efeitos de
invasões acústicas em grande escala. Concluiu-se que o impacto sonoro da espécie exótica provoca
resposta imediata nos parâmetros acústicos da população de D. minutus.
SOIL AND SPATIAL CONTROLS ON DOMINANT AND SUBORDINATE SPECIES AT DIFFERENT
SPATIAL SCALES
Karlo Gregório Guidoni Martins1, Mário Luís Garbin2, Renan Köpp Hollunder3, Jaquelini Luber4,
Danilo Andrade Santos5, Gabriel Pinto Guimarães6, Luciana Ventura Machado7, Eduardo de Sá
Mendonça8, Tatiana Tavares Carrijo9
1,3,4,5,6,7,8,9-Universidade Federal do Espírito Santo
2-Universidade Vila Velha
Plants, Soils, Spatial
Environmental and dispersal processes are expected to drive community structure at different
spatial scales. Given that few species are highly abundant (the dominants), while others have
intermediate abundances (the subordinate species), patterns in plant communities can be blurred
without considering both species-group. These groups can respond to different drivers at different
scales. Firstly, we quantified the contribution of soil and spatial factors to explain understory
community (UC) patterns considering dominant (DS) and subordinate species (SS) separately and
altogether. Then, we asked at what scales UC, DS and SS respond to soil variations. Our study was
conducted in an Atlantic Forest remnant at the Mata das Flores State Park (ES, Brazil). All
individuals between 1 cm and 10 cm DBH were recorded in 50, 10 m x 10 m plots arranged in a 750
m gradient (from 100 m to 180 m of elevation). A set of soil physical and chemical attributes (12)
was obtained for 21 plots after sampling and lab analysis. Dominant and subordinate species were
ranked according to an index of importance value. We conducted the analytical procedure in two
schemes: firstly, using soil and vegetation data collected in 21 plots (21P scheme); and secondly,
using vegetation data collected in 50 plots and interpolated soil data (based on inverse distance
weighting) for the other 29 plots (50P scheme). Large scale (trend) and spatial structures based on
Moran's Eigenvector Maps (MEMs) were used as spatial factors. A variation partitioning procedure
was used to quantify the contribution of both soil and spatial factors on UC, DS and SS community
structure while multiscale ordination was used to quantify the spatial covariation between these
species-group and the soil factors. Shared fractions between soil and spatial factors were higher
than all other fractions and did not vary, regardless of species-group or sampling scheme. However,
pure fractions differed between species-groups and sampling scheme in 21P (MEMs for UC and SS,
and soil for SS and DS), and in 50P (only the pure MEMs fractions were significant for UC, DS, and
SS). Multiscale ordination showed a cyclic pattern of covariation between species-groups and soil
factors (21P scheme) and a gradual covariation in the 50P scheme. Environmental and dispersal
processes differed in importance for dominant and subordinate species. Pure fractions and
patchiness were affected by the applied interpolation. (FAPES)
VARIAÇÃO INTRAESPECÍFICA NA DIETA E MORFOLOGIA EM ASSEMBLEIAS DE PEIXES
NEOTROPICAIS
Luisa Resende Manna1, Sébastien Villéger2, Carla Ferreira Rezende3, Rosana Mazzoni4
1,4-Universidade do Estado do Rio de Janeiro
2 -Université de Montpellier
3-Universidade Federal do Ceará
Comunidades, dieta, especialização funcional, morfologia, originalidade funcional
A diversidade funcional dos peixes tem sido investigada a partir de duas hipóteses: (1) a morfologia
funciona como um bom preditor de funções mais complexas (e.g. dieta); e (2) a variação
interespecífica explica a coexistência das espécies. No entanto, em ecossistemas tropicais com alta
diversidade de espécies, a variação individual pode ser determinante na coexistência das espécies
devido à alta disponibilidade de recursos e à capacidade de mudanças fenotípicas (i.e. plasticidade
trófica). Além disso, espera-se que, mesmo considerando a variação intraespecífica, as diferenças
morfológicas não sejam suficientes para explicar as diferenças nos hábitos alimentares. No presente
estudo, as variações interespecífica e intraespecífica foram avaliadas em duas assembleias de
peixes de diferentes ecossistemas brasileiros (Mata Atlântica e Semiárido). No total, treze
características morfológicas e o conteúdo estomacal foram mensurados para 537 indivíduos
pertencentes a 28 espécies. A fim de comparar a variação intra e interespecífica, duas análises de
coordenadas principais (ACoP) foram realizadas e os quatro primeiros eixos de cada ACoP foram
mantidos como representantes dos atributos funcionais das espécies para a aplicação de análises
posteriores. Análises de variância (ANOVA e PERMANOVA) foram aplicadas para testar a variação
intra vs. interespecífica, além dos índices de especialização e originalidade funcional que foram
calculados para avaliar a variabilidade entre os indivíduos. Quando comparada à variação
interespecífica, a variação intraespecífica foi maior nas duas assembleias. A especialização
intraespecífica da morfologia se relacionou positivamente com a especialização da dieta. No
entanto, os resultados referentes a originalidade intraespecífica revelam uma relação positiva entre
morfologia e dieta apenas na assembleia do Semiárido. A variabilidade morfológica não foi
fortemente relacionada à dissimilaridade trófica entre as espécies das duas assembleias, refutando
a hipótese de que a morfologia é um bom preditor dos hábitos alimentares. Os resultados do
presente estudo revelam a importância de mensurar as diferenças individuais das espécies, além da
importância de considerar dois aspectos da variação intraespecífica (especialização e
originalidade). Além disso, é importante destacar que, mesmo considerando a variação
intraespecífica na morfologia, as diferenças na dieta não podem ser descritas pelas diferenças
morfológicas em peixes neotropicais.
A TEORIA NEUTRA EXPLICA A METACOMUNIDADE DE MORCEGOS EM FRAGMENTOS DE
CAATINGA DA PLANÍCIE DO RIO SÃO FRANCISCO NA BAHIA?
Raymundo Sá-Neto1
1-Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Campus Vitória da Conquista
Chiroptera, ecologia de comunidades, diversidade, modelagem computacional
Modelos de metacomunidades buscam compreender as diversidades locais e regionais através da
dinâmica de dispersão de espécies entre assembléias locais. Modelos baseados na teoria neutra da
biodiversidade aplicados a metacomunidade assumem que a composição das assembléias locais
será definida por processos estocásticos de colonização-extinção, com chances iguais de morte e
dispersão para todos os indivíduos do sistema, sem considerar o fitness das espécies presentes. A
planície do curso médio do rio São Francisco na Bahia apresenta a segunda maior diversidade de
morcegos da Caatinga. Assim, este estudo tem como hipótese que o modelo neutro explica a
diversidade local e regional da metacomunidade de morcegos nesta área. Para isso, foi elaborado
um modelo, no qual, todas assembléias locais têm a mesma taxa de dispersão e estão ligadas a uma
fonte de espécies formada a partir do modelo neutro. A assembléia fonte utilizou Ө estimado a
partir da assembléia regional dos dados empíricos e Jm = 1x105 indivíduos. Foram formadas 20
assembléias locais, de acordo ao número de fragmentos amostrados no campo, cada assembléia foi
formada com o mesmo número de indivíduos dos dados coletados, estes indivíduos poderiam
pertencer a uma espécie oriunda da assembléia fonte ou do próprio conjunto local, definido por
sorteio regulado pela taxa de dispersão. Foram realizadas 1000 simulações deste modelo e em cada
simulação calculava-se cinco métricas de diversidade, para cada uma das 20 assembléias locais,
bem como para a assembléia regional formada pela combinação das amostras locais. Depois, os
dados observados eram comparados com os resultados das simulações para a assembléia regional,
bem como para as 20 assembléias locais. Os parâmetros do modelo foram estimados através do
pacote UNTB e o modelo foi desenvolvido por algoritmo próprio no software R. A assembléia
regional observada se ajusta aos resultados das simulações do modelo em todas as métricas
analisadas. Mas, apenas seis das 20 assembléias observadas se ajustaram às simulações. O padrão
observado indica uma assembléia regional neutra formada a partir de assembléias locais não
neutras e refuta a hipótese deste estudo. Entretanto, os resultados encontrados podem indicar que
a emergência de padrão neutro regional a partir de um conjunto de assembléias locais não neutras,
ou, que a ausência de neutralidade na escala local, não interfere na associação do padrão da
assembléia regional com o padrão da fonte de espécies.
EFEITO DA EXPLORAÇÃO MADEIREIRA NAS ASSEMBLEIAS DOS ADULTOS DE ODONATA
(INSECTA) EM RIACHOS NA AMAZÔNIA ORIENTAL
Lenize Batista Calvão1, Ana Paula Justino de Faria2, Laura Kelly Sila de Souza Batista3, Leandro Juen4
1,2,4-Universidade Federal do Pará
3-Universidade da Amazônia
Biomassa, ecossistemas aquáticos, integridade ambiental, nicho
Fatores ambientais e espaciais são importantes para determinar os padrões de estruturação das
espécies no espaço e no tempo dos ecossistemas aquáticos. No entanto, os impactos antrópicos
afetam esses padrões, modificando a paisagem e as condições físicas. A alteração nos filtros
ambientais afetam as assembleias que compõem os ambientes íntegros, que em geral são espécies
mais k estrategistas do que as encontradas em riachos expostos as modificações ambientais
severas, que são mais r estrategistas. Partindo desse princípio, propomos dois objetivos: i) avaliar a
contribuição de fatores ambientais e espaciais na comunidade de Odonata em riachos que estão sob
influência de exploração madeireira manejada e convencional; ii) verificar se áreas com exploração
convencional com alterações mais intensas selecionam indivíduos com menor biomassa (r
estrategistas). Amostramos 46 riachos, sendo 11 referências, 26 de manejo de impacto reduzido e
11 de exploração convencional. A variância da comunidade de Odonata explicada pelos fatores
ambientais e espaciais de todos os riachos foi de 9% (RDA parcial), sendo 5% devido a fatores
ambientais (F=1.279, p=0.018), 3% dos fatores espaciais (F=0.903, p= 0.542) e 1% a interação
entre espaço e ambiente. A explicação dos fatores ambientais e espaciais separadamente para cada
tipo de uso foi maior para as áreas de corte convencional (23%), seguido das áreas de referência
(15%) e de para as áreas de manejo (13%). A curva de biomassa de Odonata não apresentou uma
diminuição em relação a abundância das espécies nas áreas de corte convencional (F=0.774,
p=0.467). Geralmente a retirada de madeira reduz o número de árvores da vegetação ciliar, que
oferece recursos essenciais para as libélulas. Considerando que as espécies de Odonata são insetos
alados e bons dispersores, isso contribuiu para que os fatores espaciais não fossem determinantes
em uma escala local. Apesar dos fatores ambientais serem importantes para Odonata, a biomassa
não diminui em áreas com alterações intensas. Possivelmente seu hábito de predador generalista
possibilita que essas espécies encontrem recursos necessários a sua persistência e manutenção da
biomassa. Portanto, esses resultados demonstram que a estruturação do ambiente aquático é
importante para a comunidade de Odonata, sendo necessário medidas diretivas de gestão e
conservação dos mesmos.
ABORDAGEM FUNCIONAL REVELANDO A SEGREGAÇÃO DE NICHO ENTRE LARVAS DE
QUIRONOMIDEOS PREDADORES AO LONGO DO GRADIENTE DE PROFUNDIDADE DE
RESERVATÓRIOS
Hugo Henrique L. Saulino1, Susana Trivinho-Strixino2
1-Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPGERN) – UFSCar
2-Laboratório de Ecologia de Insetos Aquáticos (LEIA) – Dept. de Hidrobiologia
Especialização, predador-presa, Tanypodinae, traços funcionais
A diversidade funcional é uma importante ferramenta de análise da distribuição de nicho das
espécies. No presente trabalho, foi analisada a composição de traços de larvas (4th instar) de sete
diferentes táxons de Tanypodinae que vivem ao longo de um gradiente de profundidade em
reservatórios. A hipótese foi que mudanças ambientais ao longo do gradiente de profundidade
(heterogeneidade de habitat e disponibilidade de recursos) influenciam na segregação de nicho dos
táxons. Para isto, foi utilizado um banco de dados referente a povoamentos de Tanypodinae de sete
reservatórios localizados no Bioma Cerrado do Estado de São Paulo. As coletas ocorreram em
tréplicas com utilização de draga tipo Eckman em 20 pontos aleatórios ao longo de transectos no
sentido cabeceira/barragem e, os táxons identificados até o nível de gênero. Para a caracterização
dos traços dos táxons utilizou-se medidas de índice cefálico (IC) e comprimento do corpo e
frequência de ocorrência dos itens alimentares (oligoquetos, macroalgas, quironomídeos,
microcrustáceos, testáceas e detritos) presentes no trato digestivo. A composição de traços da
comunidade foi analisada através do índice de riqueza funcional (FRic), do número de espécies com
traços exclusivos (sing.sp) e da relevância de dieta (CWM-trait). Estes parâmetros foram estimados
através da distância entre traços dos táxons da comunidade calculados pelo índice de
dissimilaridade de Gower numa PCoA. A distribuição dos parâmetros funcionais ao longo do
gradiente foi analisada através de uma análise de regressão múltipla e a segregação de nicho
através de uma CCA. Nesta última, utilizaram-se os dados de distribuições de frequência dos táxons
e índice de relevância de dieta como as variáveis determinantes do processo de segregação. Foi
obtida uma relação negativa de sing.sp e FRic e relevância de dieta de cladóceros, diatomáceas,
testáceas e detrito com o aumente da profundidade e positiva com dieta de oligoquetos. A análise
de nicho indicou relação positiva de predadores pequenos (Labrundinia, Procladius) em faixas mais
rasas com dieta de itens menores (cladóceros e diatomáceas) e de predadores maiores
(Coelotanypus, Tanypus) nas faixas mais profundas com dieta de oligoquetos. A composição dos
traços funcionais das larvas de Tanypodinae respondeu às mudanças ambientais ao longo do perfil
de profundidade direcionando assim, a estruturação da comunidade nesses sistemas lênticos.
INFLUÊNCIA DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS LOCAIS SOBRE A DIVERSIDADE BETA DE
SAMAMBAIAS NA FLORESTA ATLÂNTICA NO NORDESTE DO BRASIL
Lucas Erickson Nascimento da Costa1, Rafael de Paiva Farias2, Iva Carneiro Leão Barros3
1,2,3-Universidade Federal de Pernambuco
Disponibilidade hídrica, microhabitat, nicho, plantas vasculares sem sementes
A distribuição e dinâmica ecológica das comunidades de samambaias, sobretudo em escala local,
tem sido fortemente associadas às características dos ambientes. Nesta perspectiva, o presente
estudo objetivou analisar a influência de características ambientais na substituição de espécies de
samambaias em remanescentes de Floresta Atlântica no Nordeste Brasileiro. Dados de composição
florística e das características ambientais foram obtidos a partir de 22 plots (200 m2). Para
identificar as variáveis mais representativas, bem como para exclusão de variáveis multicolineares
foi realizada uma Análise de Componentes Principais. A partir da matriz florística foi realizada uma
Análise de Correspondência (CA). Os escores do primeiro eixo da CA foram utilizados para inferir a
substituição de espécies entre os plots (i.e. diversidade beta), sendo correlacionados com as
variáveis ambientais mais representativas (disponibilidade hídrica, luminosidade e pH do solo) por
meio de uma regressão múltipla. Foram considerados significativos valores de p ≤ 0,05. Os plots
estão estruturados ao longo de um gradiente de disponibilidade hídrica e luminosidade com solos
ácidos. Apenas a disponibilidade hídrica teve efeito sobre a substituição de espécies ao longo dos
habitats (β= 0,63; Erro padrão = 0,052; t = 2,60; p = 0,02). A disponibilidade hídrica e a
luminosidade representam fatores-chave na ecologia das samambaias, influenciando a germinação
dos esporos, o estabelecimento do gametófito e de esporófitos jovens, processos que representam
importantes gargalos na ecologia desses vegetais. Além disso, a ocorrência das samambaias parece
estar relacionada a fertilidade dos solos, variável indicada a partir de solos ácidos. Conclui-se que
apesar da influência das outras características ambientais analisadas, a disponibilidade hídrica é a
variável que exerce maior papel estruturador sobre os habitats e é a principal determinante da
substituição de espécies de samambaias em escala local.
DIVERSIDADE FUNCIONAL DE PEQUENOS MAMÍFEROS AO LONGO DE UM GRADIENTE
ALTITUDINAL NA MATA ATLÂNTICA
Edú Guerra1, Victor Vale2, Leonora Pires Costa3, Carlos Eduardo de Viveiros Grelle4
1-Universidade Federal do Rio de Janeiro
2,3-Universidade Federal do Espírito Santo
4-Universidade Federal do Rio de Janeiro
Espírito Santo, marsupiais, padrões de distribuição, roedores
Ao longo de gradientes altitudinais a riqueza de espécies as vezes exibe um padrão unimodal, com a
riqueza aumentando gradualmente das planícies costeiras até as elevações médias e declinando à
medida que se aproxima o pico das montanhas. Este padrão vem sendo registrado para pequenos
mamíferos tanto em áreas de montanhas temperadas como em regiões tropicais. Assim, o presente
estudo tem por objetivo compreender como a riqueza de espécies e a diversidade funcional variam
ao longo de um gradiente altitudinal na Mata Atlântica no Espírito Santo. As coletas de dados foram
feitas em sete Unidades de Conservação (UCs), que juntas abrangem altitudes desde o nível do mar
até 2890 m. Uma matriz de dados foi elaborada com atributos funcionais referentes cada espécie de
pequeno mamífero encontrado nas localidades selecionadas, contendo informações sobre seu
modo de locomoção, hábito alimentar e massa corporal. A influência da altitude na riqueza de
espécies e diversidade funcional foi avaliada por regressões lineares e polinomiais. Ao todo foram
amostradas 35 espécies de pequenos mamíferos nas UCs. Através de regressões foi possível
observar que, assim como a riqueza de espécies (R² = 0.6237, p = 0.06), a diversidade funcional é
influenciada pela variação altitudinal (R² = 0.6826, p = 0.04). Para o conjunto de dados analisados
os dois índices de diversidade foram altamente correlacionados (R = 0.9489, p < 0.01), de forma
que quanto maior a riqueza de espécies, maior deve ser o espaço funcional ocupado pela
comunidade. A riqueza de roedores e marsupiais se comporta de forma diferente ao longo do
gradiente. Marsupiais apresentam maior riqueza de espécies entre 0-500 m, diminuindo ao longo
do gradiente, enquanto a riqueza de roedores tende a aumentar gradualmente com a altitude,
atingindo um pico entre 1500-2000 m e declinando a partir desse intervalo. Os maiores valores que
riqueza funcional e de espécies foram encontrados em altitudes intermediárias (entre 500-1000
m), isso se deve, provavelmente, a variação no ambiente físico, pois gradientes de altitude estão
intimamente relacionadas à variáveis ambientais relevantes, como umidade do solo e
evapotranspiração, que normalmente apresentam um pico em elevações intermediárias. Dessa
forma, essas áreas apresentam mais energia disponível no ecossistema, o que permitiria mais
espécies em coexistência, explorando uma ampla gama de recursos, resultando em um pico de
diversidade em altitudes intermediárias.
INFLUÊNCIA DE FATORES AMBIENTAIS EM ESCALA LOCAL E REGIONAL SOBRE A
ESTRUTURAÇÃO DE COMUNIDADES DE FORMIGAS EM ECÓTONOS CAMPO-FLORESTA
William Dröse1, Luciana Regina Podgaiski2, Camila Fagundes Dias3, Milton de Souza Mendonça
Junior4
1,2,3,4-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Atrativos, Campos Sulinos, mirmecofauna, mosaicos
Fatores bióticos e abióticos em diversas escalas espaciais são responsáveis pela estruturação e
pelos padrões de organização de comunidades biológicas. O objetivo deste trabalho foi verificar a
influência de fatores ambientais locais e regionais sobre a riqueza e a composição de espécies de
formigas em ecótonos campo-floresta. Amostragens foram realizadas no verão de 2013 em nove
sítios do RS, em três regiões fisiográficas: Campanha, Campos de Cima da Serra e Serra do Sudeste.
Em cada sítio foram amostrados dois ecótonos, e nestes foi estabelecida uma transecção em hábitat
predominantemente florestal, e outro em hábitat tipicamente mais campestre, paralelos à borda da
intersecção dos hábitats e distantes 70 metros entre si. Em cada transecção foram dispostas 14
estações de coleta com isca atrativa a cada 10 metros durante 1 hora. Variáveis locais (estrutura do
hábitat, temperatura e umidade) foram obtidas em cada hábitat no momento da coleta, e variáveis
em escala regional (altitude média, precipitação anual e temperatura média anual) foram obtidas
da literatura. Foram coletadas 10.906 formigas, distribuídas em seis subfamílias, 22 gêneros e 86
espécies. A riqueza de espécies não variou entre hábitats (ANOVA; p=0.76), mas a composição de
espécies apresentou diferenças tanto entre hábitats (MANOVA; p=0.004) quanto regiões (MANOVA;
p=0.0001). Regressões lineares em escala local demonstram que a altura da vegetação campestre
(R=0.13; p=0.01) afeta negativamente a riqueza de espécies de formigas do campo enquanto que a
temperatura (R=0.46; p=0.001) e a umidade (R=0.19; p=0.01) parecem influenciar diretamente as
espécies da floresta. Em escala regional, fatores ambientais explicaram 44% da variação na
composição de espécies entre as regiões (RDA; F=1.733; p=0.001). Os resultados demonstram que
fatores ambientais em diferentes escalas estão atuando de forma diferente na organização das
comunidades de formigas. Enquanto fatores locais parecem influenciar a riqueza de espécies,
fatores regionais atuam sobre a composição. Este trabalho reforça a ideia de que padrões e
processos ecológicos são caracteristicamente dependentes da escala. Apesar de boa parte dos
trabalhos em ecologia de comunidades serem realizados em escalas menores, uma abordagem em
múltiplas escalas pode fornecer resultados mais concretos e auxiliar em planos de manejo e
conservação. Este trabalho faz parte de uma pesquisa em Biodiversidade nos Campos Sulinos
(SISBIOTA/CNPq).
EFEITOS DA URBANIZAÇÃO SOBRE A DIETA E SELEÇÃO DE PRESAS POR Poecilia reticulata EM
RIACHOS DA BACIA DO RIO PARANÁ, BRASIL
Maria Julia Mileo Ganassin1, Augusto Frota2, Norma Segatti Hahn3
1,2,3-Universidade Estadual de Maringá, 2- Universidade Estadual de Maringá
Cobertura do solo, dieta de Poecilidae, disponibilidade de macroinvertebrados, riachos rurais, riachos
urbanos
A urbanização é um processo crescente que atua na modificação de habitats naturais, constituindo
séria ameaça aos ambientes e organismos aquáticos. Ivestigou-se se a dieta e seleção de presas por
Poecilia reticulata Peters, 1859 podem refletir condições ambientais em riachos, utilizando a área
total de impermeabilização do solo (IS) como métrica. Amostragens de peixes e
macroinvertebrados foram realizadas em riachos da sub-bacia hidrográfica do rio Pirapó (PR),
classificados em rurais e urbanos, respectivamente, aqueles com baixo (BIS) e alto percentual de
impermeabilização do solo (AIS). Foi testada a hipótese de que tanto a dieta quanto a seletividade
diferem entre os grupos de riachos BIS e AIS e entre os períodos hidrológicos, especialmente nos
riachos AIS. A dieta dos peixes foi avaliada através da abundância numérica. Diferenças na dieta
entre os grupos de riachos e períodos hidrológicos foram testadas por uma PERMANOVA. Para
análise da seletividade alimentar utilizou-se o índice proposto por Vanderploeg & Scavia. Os
macroinvertebrados representaram 90% da dieta independente do riacho e período. Houve
diferença na dieta e na seleção de presas entre os grupos de riachos BIS e AIS, entretanto, quando
se considera o período hidrológico, diferenças significativas foram constatadas apenas para os
riachos AIS. Nos riachos BIS, o espectro alimentar foi mais amplo (16 tipos de presas) e houve
seleção de: Cladocera, Copepoda, Lepidoptera, Empididae, Muscidae e Simuliidae na chuva, e
Cladocera, Copepoda Amphipoda, Chironomidae, Muscidae e Simuliidae na seca. Nos riachos AIS, a
espécie apresentou uma dieta com menor riqueza de itens (12) e houve elevada dominância de um
único tipo de presa (Chironomidae), o que se refletiu na menor seletividade alimentar. Nestes
riachos selecionou-se: Lepidoptera, Chironomidae e Simuliidae, na chuva e além destas, Collembola
e Ceratopogonidae, na seca. Ephemeroptera e Trichoptera foram presas sempre evitadas,
independente do riacho e período. Coleoptera e Oligochaeta foram evitadas apenas nos riachos BIS
e AIS, respectivamente. Os resultados indicaram que a dieta e a seleção de presas por P. reticulata,
diferiram entre os grupos BIS e AIS, e podem refletir as condições ambientais em riachos quando se
utiliza o IS como variável explanatória. Nos riachos AIS, a chuva afeta negativamente a diversidade
e abundância de macroinvertebrados bentônicos, bem como a atividade de forrageamento da
espécie sobre presas preferenciais.
EFEITOS HISTÓRICOS E RECENTES DO USO DA TERRA EM INVERTEBRADOS TERRESTRES NOS
CAMPOS DE CIMA DA SERRA, RS
Aline Gonçalves Soares1, Luciana Regina Podgaiski2, Milton de Souza Mendonça Junior3, Julia-Maria
Hermann4, Sebastian T. Meyer5, Martin M. Gossner6, Johannes Kollmann7, Wolfgang W. Weisser8
1,2,3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4,5,6,7,8-Technical University Munich
Biodiversidade, ecossistemas campestres, manejo
O aumento na intensidade de manejo e as mudanças do uso da terra são considerados os maiores
agentes modeladores da perda da biodiversidade mundial. Campos são ambientes já associados a
distúrbios, como pastejo e fogo, mas o sobre-pastejo e a conversão em agricultura e silvicultura tem
ameaçado fortemente a manutenção da sua estrutura e biodiversidade. Nós avaliamos a
diversidade e a composição de invertebrados terrestres em 80 sítios campestres com diferentes
práticas de manejo na região dos Campos de Cima da Serra, RS. Foram comparados campos
primários (CP) com baixa (BA), média (ME) e alta intensidade (AL) de manejo, e campos
secundários (CS), pós-agricultura (AG) e pós-plantações de Pinus (PI). Campos BA são excluídos de
manejo, ME tradicionalmente manejados com pastejo e fogo e AL fertilizados e sobressemeados
com alta intensidade de pastejo. Invertebrados foram coletados em 3 parcelas circulares de 0,25 m2
com aspirador elétrico durante 3 min em cada sítio, entre os anos de 2013 e 2015. Em laboratório,
foram separados em 23 grupos taxonômicos superiores e contabilizados. Collembola (37%), Acari
(21%), Hemiptera (13%) e Formicidae (11%) foram os mais abundantes. Sob o aspecto histórico,
CP apresentaram maior riqueza de grupos (p<0.01) do que CS, além de maior abundância total
(p<0.01), e dos grupos Formicidae (p=0.002), Araneae (p=0.002) e Blattodea (p=0.006). A
composição dos grupos também foi distinta entre os históricos (ANOSIM; R=0.15; p<0.01). Já em
termos de tipo do uso da terra, a riqueza (p<0.01) e a abundância de invertebrados (p<0.01)
também diferiram. BA e AL foram semelhantes em termos de alta riqueza, diferindo de AG e PI. AL
apresentaram a maior abundância, sendo semelhante somente a AG. PI apresentaram a menor
abundância. Cada grupo de invertebrado apresentou resposta distinta as diferentes categorias de
uso da terra. A composição de ordens variou entre as categorias (ANOSIM; R=0.18; p<0.01),
apresentando semelhança somente AL e AG, e BA e ME. Nossos resultados indicam que a conversão
dos campos podem ter efeitos duradouros nos invertebrados, provavelmente devido à
disponibilidade de nutrientes no solo, que afetam tanto a vegetação quanto as comunidades
animais. Apesar de BA apresentar maior disponibilidade de hábitat (e.g. maior biomassa vegetal), a
maior abundância de invertebrados em AL pode ter clara relação com a composição de plantas
local, grande proporção de espécies forrageiras, sustentando cadeias alimentares maiores.
DETERMINANTES DO TURNOVER DE ESPÉCIES ARBÓREAS DA MATA ATLÂNTICA EM ESCALA
LOCAL
Daniele Aparecida de Moraes1, Márcia Cristina Mendes Marques2
1, 2-Universidade Federal do Paraná
Diversidade beta, filtragem ambiental, montagem de comunidades
Uma das maneiras de se compreender o papel desempenhado por mecanismos neutros e de nicho
na estrutura de assembleias é através de análises que relacionam a diversidade β a fatores bióticos
e abióticos locais. O objetivo desse trabalho foi analisar a influência de processos estocásticos e/ou
determinísticos no turnover espacial de espécies arbóreas da Mata Atlântica em escala local. Foram
amostrados indivíduos arbóreos com DAP≥5 cm em 50 unidades amostrais (UAs) com 2000m2
cada, as quais foram subdivididas em subunidades (SUAs) de 400m2 (total 10 hectares), situadas
em área de Floresta Ombrófila Densa Submontana no município de Antonina, litoral norte do
Paraná. Foram calculadas as diversidades α (média do número de espécies em cada SUA), ϒ (total
de espécies em cada UA) e β (β=1-α/ϒ). Através de um modelo nulo foi obtida a diversidade β-
esperada (média da diversidade β para 1000 aleatorizações) e o desvio-β (diversidade β observada
menos β esperada dividida pelo desvio da distribuição nula, o qual mede a influência do pool de
espécies - diversidade ϒ- sobre a diversidade β). Essas métricas foram usadas para explorar se a
diversidade β desvia da expectativa de processos estocásticos de assembleia e se a diversidade β e a
magnitude do desvio β são dirigidas por filtragem ambiental com relação à declividade e
heterogeneidade para essa variável. A diversidade β diferiu da expectativa nula, sendo geralmente
maior que a esperada ao acaso, o que sugere que processos determinísticos são importantes em
dirigir o turnover de espécies em escala local. Porém, a ausência de relação entre diversidade β
observada e a magnitude do desvio β com a declividade sugere ausência de filtragem ambiental
para essa variável. Quanto à heterogeneidade do ambiente, a diversidade β apresenta relação
negativa que perde a significância ao se corrigir para o efeito do pool de espécies, indicando,
similarmente, ausência de filtragem em relação a diferenças na declividade. Embora a diversidade β
não apresente indício de ser dirigida pela declividade, outras variáveis não medidas e mais
importantes do ponto de vista do sorting de espécies podem influenciar na variação. Além disso,
processos relacionados à interação entre espécies podem não ter sido evidenciados na análise.
Portanto, com base na expectativa nula, nossos resultados sugerem que mecanismos de nicho
podem ser determinantes da diversidade β de espécies arbóreas em escala local.
ASSEMBLEIAS DE PEIXES RECIFAIS SÃO ESTRUTURADAS PELA VARIAÇÃO DE PROFUNDIDADE
EM POÇAS DE MARÉ
Luis Artur Valões Bezerra1, André Andrian Padial2, Filipe Brasil Mariano3, Danielle Sequeira
Garcez4, Jorge Iván Sánchez Botero5
1,2-Universidade Federal do Paraná
3,4,5-Universidade Federal do Ceará
Beta-diversidade, ictiofauna, meta-comunidades, traços funcionais, variação espaço-temporal
Efeitos da variação climática sob influência antrópica são evidenciados em ecossistemas
temporários e medidos, pela presença espécies invasoras, acidificação e aquicultura. As poças de
maré, por exemplo, estão sujeitas a filtros ecológicos locais e regionais, que moldam comunidades
de peixes espacialmente e temporalmente. Para explicar a estrutura taxonômica e funcional e
acessar dinâmicas de meta-comunidades, amostramos peixes em poças de maré de recifes
areníticos no Nordeste do Brasil, mais especificamente na praia da Baleia - Ceará, totalizando 70
unidades amostrais ao final de 13 meses. Em cada unidade, foram medidas profundidade média,
área e um índice de heterogeneidade ambiental (IHA), desenvolvido pelos autores com base na
variação de substratos: areia, rocha e cobertura de macrófitas. A diversidade funcional de peixes foi
calculada a partir de traço publicados na plataforma digital Fishbase. A beta diversidade foi medida
pela distância entre pontos no espaço multivariado. Distância média entre poças, variação
ambiental (com base no IHA médio e de profundidade média) não foram bons preditores de
variação intra-anual das diversidades funcional, beta e gama. Isso foi relacionado à estabilidade
temporal das comunidades de peixes, conceituadas como “supra bentônicas de alta mobilidade”.
Espacialmente, maiores riqueza e diversidade funcional foram relacionadas a padrões de
estruturação de assembleias, que foram mais pronunciados com o aumento das profundidades nas
poças. A variação no substrato esteve secundariamente relacionada à profundidade, destacando o
papel de filtros locais na organização vertical da ictiofauna. Um cultivo de algas no recife arenítico
moldou as poças de maré pela presença de macrófitas nas bordas, variando até um fundo arenítico
e rochoso na região central. Não esteve claro se essa disposição de substratos contribuiu para
aumentar ou homogeneizar a biodiversidade de peixes no recife, mas espera-se que oriente o
manejo da aquicultura e a conservação de espécies de peixes nas poças de maré.
GRUPOS FUNCIONAIS DE ESPÉCIES ARBÓREAS DE FLORESTA PLUVIAL SUBTROPICAL, NO VALE
DO ITAJAÍ, SC
Arthur Vinicius Rodrigues1, André Luís de Gasper2, Alexander Christian Vibrans3
1,2,3-Universidade Regional de Blumenau - Programa de Pós Graduação em Eng. Florestal
Agrupamento, aquisitivo, conservativo, estratégia de exploração de recursos
Estudos sobre grupos funcionais recebem maior atenção a partir da década de 90 sob a perspectiva
de encontrar maneiras de comparar as espécies, a partir de atributos funcionais, que refletem o
desempenho da planta no ambiente. Neste trabalho, nosso objetivo foi delimitar os grupos
funcionais que ocorrem na Floresta Pluvial Subtropical, e definir as estratégias de exploração dos
recursos (EER) de cada grupo. Foram selecionadas 17 parcelas do Inventário Florístico Florestal de
Santa Catarina (IFFSC) no Vale do Itajaí – SC. As espécies com densidade absoluta maior que 20
indivíduos por hectare em cada parcela foram utilizadas para as análises. Os atributos funcionais
utilizados foram área específica foliar (SLA), conteúdo foliar de matéria seca (LDMC), densidade da
madeira e altura máxima. Nós utilizamos métodos de agrupamento hierárquicos e não hierárquicos
para a definição dos grupos. Obtivemos resultados semelhantes com os dois métodos. Foram
gerados quatro grupos pelo método hierárquico UPGMA e quatro pelo não hierárquico. O grupo 1 é
representado pelas espécies de samambaias arborescentes, possuindo alto SLA e baixo LDMC. O
Grupo 2 é composto pelas palmeiras, possuído SLA médio e LDMC alto. O grupo 3, é o grupo com
maior número de espécies, totalizando 38. Este grupo possui SLA e LDMC médio/alto, com grande
amplitude desses atributos. O grupo 4 possui baixo SLA e alto LDMC, representando um grupo com
tendência conservativa na exploração dos recursos. Os grupos 1 e 4 apresentam as estratégias
extremas quanto à exploração dos recursos dentre as espécies analisadas. O grupo 1 representa a
estratégia mais aquisitiva, enquanto o grupo 4 representa a estratégia mais conservativa. O grupo 2
representa uma estratégia intermediária na exploração dos recursos. O grupo 3, por possuir um
número de espécies amplo pode não ser um grupo muito coeso ou representar que a grande
maioria das espécies utilizam estratégia semelhante. Concluímos que a utilização de atributos
funcionais para definir grupos que representem as EER foi satisfatória. Entretanto, consideramos
que utilizando uma maior quantidade de atributos, como os de sementes, e de caule, podem refinar
a definição dos grupos e criar melhores condições para analisar as EER das espécies.
ATRIBUTOS FUNCIONAIS DAS PLANTAS DISPERSAS POR AVES GUIAM A MONTAGEM DE
COMUNIDADES DE AVES DISPERSORAS DE SEMENTES EM UM PROCESSO SUCCESSIONAL
Tiago Machado-de-Souza1, Ricardo Pamplona Campos2, Isabela Galarda Varassin3
1,2,3-Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, Laboratório de Ecologia Vegetal, Universidade
Federal do Paraná
Convergência de atributos, divergência de atributos, estrutura florestal, frugivoria, interação
mutualística
A montagem de comunidades baseia-se em processos neutros e relacionados ao nicho. Em escalas
espaciais e temporais menores, processos relacionados ao nicho, como filtros ambientais e
interações bióticas tendem a ser mais evidentes. Este estudo avaliou os padrões de organização por
convergência e divergência de atributos relacionados ao consumo de frutos por três grupos de aves
com distintos níveis de frugivoria (frugívoros obrigatórios, dispersores parciais e ocasionais) em
três estádios sucessionais de Floresta Atlântica do sul do Brasil. Estes padrões foram avaliados a
partir de multiplicações e correlações entre diferentes matrizes, assim como por regressões
lineares considerando atributos funcionais e diversidade funcional como variáveis resposta e a
variação da estrutura florestal do hábitat e de atributos funcionais de plantas ornitocóricas como
preditoras. Apenas frugívoros obrigatórios apresentaram convergência de atributos em relação ao
gradiente estrutural do hábitat. Em relação ao gradiente funcional das plantas, tanto frugívoros
obrigatórios quanto dispersores parciais apresentaram padrões de convergência de atributos.
Apesar destes padrões de convergência, apenas a relação entre a largura de bico e coleta de fruto
em voo dos frugívoros obrigatórios e o gradiente funcional das plantas apresentaram uma relação
linear significativa. Embora os três grupos de aves tenham apresentado padrões significativos de
divergência em relação aos dois gradientes, a única regressão linear significativa foi entre a
diversidade funcional dos frugívoros obrigatórios, considerando largura de bico, coletar fruto em
voo e peso, e o gradiente funcional das plantas inerente ao processo sucessional. Assim, os atributos
funcionais das plantas ornitocóricas atuaram tanto como filtros bióticos em relação aos frugívoros
obrigatórios, levando à convergência de seus atributos, quanto na limitação de similaridade e
consequente complementaridade no uso de recursos que leva à divergência de praticamente os
mesmos atributos. Desta forma, este estudo evidenciou a importância dos atributos funcionais
relacionados às interações mutualísticas, na organização das comunidades de aves dispersoras de
sementes, principalmente em relação às aves que mais dependem dos frutos na sua dieta. Assim,
sugerimos que as interações mutualísticas devem ser incorporadas em estudos que envolvam
padrões de organização de comunidades, principalmente em escalas temporais e espaciais
menores.
FILTROS AMBIENTAIS SÃO ESTRUTURADORES DAS ESPÉCIES COMUNS E RARAS DO
FITOPLÂNCTON EM LAGOS DE INUNDAÇÃO
Luciane Maria Nogueira1, Alfonso Pineda2, Luzia Cleide Rodrigues3
1,2,3-Universidade Estadual de Maringá
Águas altas, águas baixas, dispersão, partição da variância
Os filtros ambientais e a dispersão afetam a estrutura das comunidades. A influência destes fatores
varia em função da capacidade de dispersão dos organismos. Para organismos com alta capacidade
de dispersão tem sido evidenciada maior influência dos filtros ambientais. Ainda é pouco conhecido
se estes fatores agem de forma similar sobre a estrutura de espécies raras e comuns do
fitoplâncton. Este estudo visou verificar a importância relativa dos filtros ambientais e da dispersão
sobre as espécies raras e comuns em lagos de inundação. Hipotetizamos que 1) O componente
ambiental é o principal estruturador para as espécies comuns; 2) O componente espacial é o
principal estruturador de espécies raras; 3) Para espécies raras e comuns, no período de águas
altas, quando a conectividade é maior, haverá um acréscimo da explicação da fração ambiental e
decréscimo da fração espacial. Amostragens foram realizadas à sub-superfície na região limnética
de vinte e nove lagos, na planície de inundação do alto rio Paraná, nas águas altas–AA e baixas–AB,
em 2011. As espécies foram categorizadas em comuns e raras (frequência). A densidade foi
calculada segundo Utermöhl. A influência da dispersão e do ambiente sobre a densidade das
espécies em cada período foi verificada por meio de Análise de Redundância parcial. Foram
registrados 345 táxons (AB – 233; AA – 204). Ocorreram apenas nove espécies comuns nos dois
períodos. Aceitamos a primeira hipótese, sendo a fração pura ambiental (AA = 24,5%; AB= 16,8%)
mais importante para as espécies comuns, do que a pura espacial (AA = 7,9%; AB= 6,7%).
Rejeitamos a segunda hipótese, sendo que para as espécies raras a fração ambiental (AA = 20,3%;
AB= 6,9%) foi mais importante, e a espacial (3,1%) significativa somente nas águas baixas. Somente
a fração ambiental apresentou variação temporal como predito, portanto rejeitamos a terceira
hipótese. A maior explicação do ambiente em AA está associada a maior conectividade entre os
ambientes, o que facilita a dispersão. Nossos resultados evidenciaram que tanto para as espécies
raras e comuns fitoplanctônicas, os processos espaciais tiveram baixa influência, devido à alta
capacidade de dispersão desses organismos. Por outro lado, a maior importância dos filtros
ambientais indicou que os processos relacionados ao nicho foram os principais estruturadores
dessa comunidade. No entanto, processos determinísticos (relacionados a fatores ambientais) são
mais importantes para as espécies comuns.
DINÂMICA VEGETAL EM UM GRADIENTE EDÁFICO-SUCESSIONAL DE FLORESTA ATLÂNTICA
TROPICAL
Anamaria Cequinel1, Elivane Salete Capellesso2, Marcia Cristina Mendes Marques3
1,2,3-Laboratório de Ecologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal do Paraná
Crescimento relativo, mortalidade, recrutamento, sucessão florestal
Atualmente o estudo de sucessão é mais relevante do que nunca, visto as atuais taxas de
transformação da terra e suas consequências. O objetivo do presente trabalho é avaliar o avanço da
vegetação ao longo de um gradiente edáfico-sucessional afim de entender a dinâmica da sucessão
secundária em floresta tropical. A área de estudo está localizada em Antonina-PR, apresentando
histórico de abandono de pastagens em quatro diferentes conjuntos de idades (7-17, 20-30, 30-55,
e >80 anos) e em dois tipos solos (cambissolo e gleissolo). Quatro unidades amostrais foram
alocadas para cada idade e para cada tipo de solo (exceto >80), totalizando 28 parcelas circulares
com 14 m de raio, medidas em dois períodos de tempo (2010 e 2015), onde foram amostrados os
indivíduos com DAP ≥ 5cm. Calculou-se as taxas da dinâmica (mortalidade, recrutamento e
crescimento relativo). Não houve diferença significativa nas médias das taxas entre os tipos solos.
Dentro dos períodos de tempo, as parcelas de 7-17 anos apresentaram os maiores valores para
todas as taxas de dinâmica. A mortalidade anual dessas áreas teve médias de 16% e 19% para
cambissolo e gleissolo, respectivamente. Os índices de recrutamento, com média de 38% para
cambissolo e 37% para gleissolo e o crescimento relativo de 3% ao ano, para ambos os solos. Em
algumas áreas de 20-30 e 35-55 anos os índices de mortalidade se apresentaram altos, em torno de
15%, em resultado das mortes de espécies pioneiras dominantes Tibouchina pulchra (Chan.) Cogn.
e Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. Com relação ao crescimento relativo as áreas com
idade de 20-30 e 35-55 anos aumentaram aproximadamente 2% ao ano, enquanto áreas de >80
anos apresentaram crescimento relativo médio de 1,3% ao ano. A mortalidade e recrutamento
também diminuíram com o aumento da idade, sendo as menores taxas em áreas >80 anos
(cambissolo) com 6% e 10%, respectivamente. Os altos valores em todas as taxas nas áreas iniciais
é reflexo da alta substituição de espécies nessa fase da sucessão e do crescimento rápido das
espécies pioneiras. Enquanto que as áreas de >80 apresentaram um crescimento relativo médio
dentro de outros trabalhos em áreas avançadas de floresta tropical, além dos menores índices,
demostrando uma maior estabilidade na vegetação dessas áreas. A alta mortalidade em áreas de
idade intermediária demonstra que a sucessão nem sempre é um processo gradual e unidirecional.
O solo não se mostrou uma variável ambiental determinística.
COMPETIÇÃO ENTRE FORMIGAS CAUSA SEGREGAÇÃO?
Ana Luiza Sampaio Jorge1, Anna Clara Chaves Ribeiro2, Carlos Henrique Lopes Libório3, Erica
Santos4
1,2,3,4-Universidade Federal de Goiás
Competição, modelo nulo, segregação, tabuleiros de xadrez
A competição em comunidades ocorre por diversos motivos, dentre eles a necessidade em comum
de alimento, entre outros recursos. Outro motivo é a sobreposição no uso dos recursos comuns
entre as espécies que é um importante fator que impulsiona a competição. A competição por
recursos faz com que haja uma redução na coexistência de espécies, gerando um padrão segregado
nas comunidades. O objetivo do trabalho foi verificar a existência de exclusão competitiva entre
espécies de formigas em cerrado. O estudo foi conduzido no Parque Estadual Serra de Caldas Novas
(PESCAN), localizado no município de Caldas Novas, GO. Para coleta de formigas foram utilizados
guardanapos e óleo de peixe. Durante a amostragem as formigas foram colocadas em frascos para
triagem em microscópio. No microscópio, as formigas foram montadas e separadas por morfotipos.
Para avaliar o efeito da competição na segregação de morfotipos de formigas. Para avaliar se as
formigas apresentavam distribuição agregada ou se estavam associadas, utilizamos o modelo nulo
(fixo-equiprovável), que aleatoriza as presenças das morfoespécies de formigas, de forma que as
somas das linhas sejam mantidas. As aleatorização foi feita com o objetivo de observar quantas
unidades de tabuleiro de xadrez são encontradas em conjunto de dados sem padrão, assim
representando segregação entre espécies de formigas. Foram encontrados seis morfotipos de
formigas. A formiga1apresentou a maior frequência e a formiga6 apresentou menor frequência.
Não houve efeito de segregação de formigas. Encontrou-se 49 unidades de tabuleiros de xadrez
para um valor médio das aleatorizações de 80 (p= 0,071), não apresentando assim, efeito na
segregação entre as comunidades de formigas. Foi encontrada uma baixa riqueza de morfotipos de
formigas, e ausência de segregação das mesmas. A competição entre espécies de formigas nem
sempre causa segregação. Isso provavelmente ocorre por fatores como a temperatura, recurso em
abundancia, estágio sucessional e distribuição ao acaso de espécies entre áreas que podem
influenciar diretamente nos resultados. Desta forma esse estudo indica que nem sempre a
competição leva a uma segregação das espécies, dependendo dos fatores do ambiente essas
espécies podem coexistir sem a necessidade de excluir um grupo.
VARIAÇÕES NA RIQUEZA LEVAM A EFEITOS DESIGUAIS NA DIVERSIDADE FILOGENÉTICA DE
PEIXES EM ÁREAS ASSOREADAS E NÃO ASSOREADAS POR REJEITO DE BAUXITA NA AMAZÔNIA
Bruno Eleres Soares1, Érica Pellegrini Caramaschi2
1,2-Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Antropização, diversidade filogenética, diversidade taxonômica, ictiofauna, mineração
Assoreamento é uma das principais causas de perda de diversidade em ecossistemas dulcícolas
devido à simplificação do ambiente e ao surgimento de novos filtros ambientais. Por isso, avaliamos
a variação na diversidade filogenética em uma área assoreada e não assoreada do Lago Batata,
Oriximiná – PA, e que aspectos da estrutura taxonômica levaram a isso. O Lago Batata foi assoreado
entre 1979 e 1989 devido à emissão de efluentes ricos em rejeito de lavagem de bauxita, que
assoreou 30% da sua área. Coletas foram realizadas de 1991 a 2015 em duas áreas distintas do lago
(Assoreada e Não assoreada) com baterias de rede padronizadas (de 15 a 70 mm), sempre no
período de Enchente. Calculou-se a riqueza observada, a dominância de Simpson e a distância
filogenética média do vizinho mais próximo (MNTD), considerando-se a abundância. Em seguida,
utilizamos uma regressão múltipla para avaliar os efeitos da riqueza e da dominância sobre o
MNTD para as duas comunidades. Foram coletados 10.435 indivíduos, classificados em 140
espécies. Na área Não assoreada, a riqueza variou de 20 a 54, a dominância variou de 3,5 a 15,0 e o
MNTD de 58,7 a 119,8. Na área Assoreada, a riqueza variou de 21 a 59, a dominância de 2,6 a 16,5 e
o MNTD de 50,9 a 90,6. O aumento na riqueza foi o fator responsável pela diminuição da
diversidade filogenética na área Assoreada (R² = 0,18; p = 0,02), mas não na área Não assoreada (p
= 0,52). A dominância não apresentou relação significativa com o MNTD em nenhuma das áreas (p
> 0,50). Variações interanuais nas comunidades são características ubíquas nas comunidades
naturais e promovem mudanças na riqueza e dominância devido a múltiplos (e.g. dinâmicas
populacionais). Na área Não assoreada, a diversidade filogenética apresentou maior estabilidade
interanual, não ocorrendo modificações com o aumento da riqueza. A comunidade da área
Assoreada apresentou menor diversidade filogenética (menor intercepto) e diminuição na
diversidade filogenética em anos de alta riqueza. Assim, o aumento da riqueza ocorreu através da
entrada de espécies próximas filogeneticamente no lago (e.g. em 2001, Hypophthalmus spp. e
Curimata spp. ocorreram na área Assoreada com alta abundância), enquanto que na área Não
assoreada ocorreu o acréscimo de espécies dispersas filogeneticamente. O assoreamento no Lago
Batata não levou a uma depauperação na riqueza, mas à menor diversidade filogenética,
demonstrada no padrão de ocupação das áreas em situações de aumento de riqueza.
Ecologia de Ecossistemas
A DIVERSIDADE DE PEIXES AO LONGO DO RIO JAGUARIÁIVA (PR) EM RESPOSTA A PRESENÇA DE
UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA (PCH)
Thiago Deruza Garcia1, Dhiego Gomes Ferreira2, Bruno Ambrózio Galindo3, Tatiane Rodrigues
Fagundes4, Maiana Costa Terra5, Priscila da Silva Frazatto5, Jéssica da Silva Meschini6, Augusto
Seawright Zanatta7
1,2,3,4,5,6,7-Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) Cornélio Procópio
Diversidade de espécie, PCH, Rio Jaguariaíva
A partir da década de 60, devido a necessidade de produção de energia, houve uma expansão nas
construções de usinas hidrelétricas, suas implantações podem causar distúrbios na comunidade de
peixes local, podendo restringir muitas espécies a permanecerem em seus hábitats naturais. Neste
contexto o presente estudo objetivou a analisar as distribuições das comunidades icticas nos
diferentes trechos do rio Jaguariaíva em resposta a presença de uma Pequena Central Hidrelétrica
(PCH). A PCH Nova Jaguariaíva está situada no rio Jaguariaíva que pertence à bacia do rio Paraná.
Foram realizadas 8 expedições sazonais de coleta (março/2013 a dezembro/2014), em quatro
trechos do rio Jaguariaíva (Montante, Reservatório, Jusante I e Jusante II). Os animais foram
capturados por meio de diversos petrechos como redes de espera, tarrafas, redes de arrasto,
espinhel, caniço simples e molinete. Em campo, os indivíduos foram identificados em nível de
espécie, animais com identificação duvidosa foram fixados e remetidos a especialistas. Foram
capturados 4.438 peixes distribuídos em 5 ordens, 15 famílias e 43 espécies. A ordem
Characiformes é a mais representativa com 1.808 indivíduos (40,73%), distribuídos em 6 famílias,
seguida pela ordem Siluriformes com 1.306 indivíduos (29,42%), representados por 5 famílias. Ao
avaliar os trechos individualmente, a Jusante I se destaca, com 36,81% do total de peixes
amostrados, já o trecho reservatório se destaca pelo baixo número de espécimes (1,03%). Já em
relação ao número de espécies, o trecho Jusante II apresentou a maior diversidade com 36 espécies,
seguido por Jusante I com 31 espécies. Ainda, houve também diferenças na composição das
espécies, o trecho Jusante I apresentou 6 espécies com ocorrência restrita a este ambiente, a saber:
Australoheros aff. facetun, Hisonotus sp., Iheringichthys labrosus, Knodus moenkhausii,
Neoplecostomus salenae, Sternopygus macrurus, e o trecho Jusante II apresentou 9 espécies
exclusivas, sendo elas: Apareiodon affinis, Gymnotus omarorum, Leporinus obtusidens, Leporinus
friderici, Oligosarcus paranensis, Pimelodus maculatus, Prochilodus lineatus, Tricomycterus davisi e
Tricomycterus iheringii. Desta forma podemos concluir que a presença da PCH pode ter agido como
uma barreira não natural na movimentação das espécies de peixes ao longo do rio, e ainda
restringindo algumas espécies a trechos exclusivos.
O FOGO E A PRESENÇA DA HEMIPARASITA Psittacanthus robustus ALTERAM A ASSIMETRIA
FLUTUANTE E HERBIVORIA EM Vochysia thyrsoidea?
Matheus de Morais Belchior Couto1, Tadeu José de Abreu Guerra2, Frederico de Siqueira Neves3
1,2,3-Universidade Federal de Minas Gerais
Campos rupestres, distúrbio, incêndio, parasitismo
A forma como a herbivoria e o desenvolvimento ontogenético das folhas são afetados por distúrbios
ambientais em conjunto com fatores bióticos ainda permanece pouco compreendida.
Especialmente a interação entre os efeitos do fogo e do parasitismo sobre os padrões de herbivoria
e assimetria flutuante em folhas de árvores tropicais. Neste contexto, nós utilizamos como sistema
de estudo a árvore Vochysia thyrsoidea (Vochysiaceae), que é comumente infectada pela
hemiparasita Psittacanthus robustus (Loranthaceae) nos campos rupestres da Serra do Cipó, onde
queimadas tem se tornado cada vez mais frequentes. Nosso objetivo nesse estudo foi testar as
predições das seguintes hipóteses: i. O fogo e a presença da hemiparasita configuram uma situação
de estresse no controle ontogenético de folhas, determinando um aumento na assimetria flutuante;
ii. O fogo determina um aumento da herbivoria nas V. thyrsoidea parasitadas e não parasitadas; iii.
Plantas infestadas por hemiparasitas devem atrair mais insetos herbívoros de forma a aumentar a
herbivoria foliar. Para testar os as predições, foram selecionados 52 indivíduos arbóreos, 26
parasitados e 26 não parasitados. Destes, 13 parasitados e 14 não parasitados pegaram fogo em
2014. Em cada árvore, foram demarcadas no início da estação úmida de dois anos consecutivos, 12
folhas jovens em expansão sem registro prévio de herbivoria, das quais três foram coletadas no
final dessa estação e utilizadas. O fogo não alterou as taxas de herbivoria e de assimetria flutuante,
não ocorrendo efeitos intensificados da presença da parasita em hospedeiras queimadas. As
adaptações ao fogo parecem possibilitar o controle da sua ontogenia, tornando-as razoavelmente
resistentes a esse distúrbio. Observamos que a infestação por P. robustus ocasionou maior
herbivoria nas hospedeiras, o que pode ser reflexo de uma maior atração de insetos herbívoros
promovida pela parasita, ou ser resultado dos efeitos negativos do parasitismo ligados a redução do
potencial de defesa. O parasitismo não determina a assimetria flutuante, entretanto, houve uma
relação positiva entre a assimetria flutuante e herbivoria. Concluímos que a V. thyrsoidea
apresentou-se resistente ao fogo, estando ou não parasitada. A presença de P. robustus, embora não
influencie na assimetria flutuante, parece desempenhar papel importante nas interações entre suas
hospedeiras e insetos herbívoros nos campos rupestres.
ESTUDO DA DINÂMICA DA SERRAPILHEIRA EM ÁREA DE CAMPINARANA COM ADENSAMENTO
AMOSTRAL, MANAUS – AM
Julie Kennya de Lima Ferreira1, Jair Max Furtunato Maia2
1,2 Universidade do Estado do Amazonas
Campinarana, densiometria, ecossistema, necromassa, serrapilheira
Campinarana e uma fitofisionomia tí pica do Bioma Amazo nico. De clí max eda fico, com solos
arenosos bem lixiviados e baixa nutriça o, tem amplo espectro vegetacional, que vai desde
formaço es campestres ate florestais raquí ticas oligotro ficas. O objetivo deste estudo foi analisar se
o adensamento amostral altera os padrões sazonais de cobertura arbórea, produção de biomassa e
decomposição na Reserva de Campina do INPA/Manaus(AM), localizado no km 918 da BR 174,
entre setembro/2014 a junho/2016. Foram utilizados coletores de serapilheiras de 0,25 m2 (33
entre 2014/15 e 55 para 2015/16); densiômetro esférico modelo “A” (mesma quantidade dos
coletores); e leafbags de decomposição de 0,06 m2 (132 para 2014/15 e 220 2015/16). Para a
análise de variância foram utilizados o Kruskal-Wallis (p<0,001) para a taxa de decomposição, e
ANOVA (p<0,001), para os demais. A análise da cobertura arbórea variou entre 94% (novembro de
2014) e 97% (junho e agosto/2015) e não apresentou variação significativa ao longo de todo
período, exceto entre os meses de novembro/2014 e junho /2015. A produção de biomassa variou
entre 119.37g a 1320.86g, com média de 21,7224g para as estações chuvosas (dezembro a maio) e
75.712g nas estações secas (junho a novembro) observados, mostrando diferença significativa
entre as estações (p<0,05). A decomposição acompanhou a variação da produção de biomassa, com
médias de 10.70434g, para as estações secas, e 10.26781g para as estações chuvosas (p<0,2284).
Apesar de 2015 ter sido um ano de El-Niño, com pronunciada baixa de precipitação entre
dezembro/2015 e fevereiro/2016, não foi observado diferenças significativas entre este período e
seu equivalente, entre 2014/2015. A análise de variância entre os dois período de observação
(2014/15 e 2015/16) mostrou que o aumento do número de pontos amostrais, não alterou o
resultado nas variáveis analisadas. Indicando que, para o caso desta campinarana, o aumento do
esforço amostral não significou melhor ajuste dos dados.
ESTUDO DA DINÂMICA DA SERRAPILHEIRA NAS PROXIMIDADES DA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS
Gabriela Maciel Alencar1, Jair Max Furtunato Maia2, Nívia Bianca Pinheiro Lopes3
1,2,3-Universidade do Estado do Amazonas
Capoeira, decomposição, produção, serrapilheira
A serrapilheira compreende o material constantemente precipitado pela floresta, sendo parte
inerente do ciclo de nutrientes e proteção do solo. A produtividade de um ecossistema indica a
funcionalidade ambiental e a decomposição da serrapilheira no solo é influenciada por fatores
ambientais como umidade, temperatura, precipitação e sazonalidade do clima, portanto, conhecer o
comportamento do ecossistema florestal próximo à construção do Campus da Cidade Universitária
da Universidade do Estado do Amazonas serve como base para futuros estudos de impacto
ambiental e como estratégia de conservação de áreas em sucessão. Objetiva-se determinar o padrão
de produção e de decomposição da serrapilheira em função do microclima de uma área de Capoeira
no município de Iranduba. Foram construídos cinco transectos de 100 m e cada um distando 25 m
do outro, totalizando uma área amostral de 1 ha. Utilizaram-se coletores de arame e tela de náilon
distribuídos a cada 10 m em cada transecto para a coleta de produção da serrapilheira, litter bags
de 25 cm x 25 cm contendo 12 g de folhas anteriormente acumuladas que foram distribuídas
próximas aos coletores e coletadas aleatoriamente para análise de decomposição, densiômetro
esférico convexo para análise da cobertura do dossel e os dados meteorológicos concedidos da
Estação Meteorológica Davis (UEA/EST), localizada em Iranduba. A produção de serrapilheira no
primeiro ano de coleta (Dezembro/14 a Setembro/2015) foi de 0,00849 t.ha.-1ano-1, com pico de
produção no mês de Setembro e no segundo ano (Outubro/2015 a Julho/2016) foi de 0,0132 t.ha.-
1ano-1, com pico de produção no mês de Julho. Ao longo dos dois anos de coleta, houve 65,33% de
produção de folhas, 3,31% de flores, 1,84% de frutos, 0,64% de sementes, 14,12% de galhos, 8,95%
de ramos e 5,77% de outros materiais. A produção de biomassa tem fraca correlação com a
cobertura de dossel da floresta (R2=0,17 e p=0,01) e com relação aos dados meteorológicos, a
produção tem correlação significativa com a temperatura média (R2=0,37 e p=0,001). A perda de
biomassa em decomposição no primeiro ano foi de 48,65% e no segundo ano foi de 58,07%
apresentando correlação com a temperatura média para cada período (R2=0,02 e p=0,01). A análise
dos dados mostra que a produção e a decomposição sofrem efeitos da variação sazonal do clima da
região e dos eventos climáticos naturais como o El Niño.
QUAIS FATORES GOVERNAM A RIQUEZA FITOPLANCTÔNICA DE LAGOS DE INUNDAÇÃO EM UM
GRADIENTE LATITUDINAL?
Geovani Arnhold Moresco1, Jascieli Carla Bortolini2, Susicley Jati, Luzia Cleide Rodrigues3
1,3,4-Universidade Estadual de Maringá
2-Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Dispersão, ficobiogeografia, microrganismos, partição da diversidade
Compreender os padrões de distribuição das espécies e como fatores locais e regionais direcionam
a estrutura das comunidades é crucial para a preservação da biodiversidade. O objetivo deste
estudo foi avaliar a contribuição relativa dos componentes da diversidade fitoplanctônica (α1, β1,
β2) para a diversidade γ em quatro planícies de inundação (PIs) brasileiras. Foi realizada a partição
da diversidade γ em três níveis: diversidade no lago (α1), variação dentro de cada PI (β1) e
variação entre PIs (β2). Hipotetizamos que: i) a diversidade alfa responde a um gradiente
latitudinal, sendo maior nos lagos de menor latitude; ii) há maior influência das variações entre as
planícies; iii) β1 é influenciado pela dispersão no período de águas baixas, e pelas condições
ambientais no período de águas altas; iv) β2 é influenciado principalmente pela dispersão. As
amostragens foram realizadas à sub-superfície na região limnética de cada lago, nas águas baixas e
altas, em 2011 e 2012. Análise de Componentes Principais foi realizada para sumarizar a
variabilidade ambiental e Análise de Redundância parcial (pRDA) para avaliar a influência da
dispersão e fatores ambientais sobre riqueza. Foi evidenciado diferenças ambientais significativas
entre as PIs. Maior diversidade γ ocorreu nas PIs do rio Araguaia e Amazonas. A alta contribuição
de β1 para a diversidade γ revelou a elevada heterogeneidade ambiental nas PIs. β1 teve mais
influência da fração ambiental e β2 de ambas as frações. Distintos graus de conectividade
facilitaram a dispersão e a colonização dos organismos fitoplanctônicos. A diversidade γ foi
explicada pela interação entre fatores locais e regionais que estão correlacionados com a latitude e
não apenas pela latitude em si.
INFLUÊNCIA DE RESERVATÓRIOS SOBRE A DIVERSIDADE FUNCIONAL DO FITOPLÂNCTON DA
PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO ALTO RIO PARANÁ
Aline Caroline Magro de Paula1, Jascieli Carla Bortolini2, Juliana Déo Dia3, Alfonso Pineda4, Luiz
Felipe Machado Velho5, Luzia Cleide Rodrigues6
1,3,4,5,6-Universidade Estadual de Maringá
2-Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Fitoplâncton, lagos de inundação, rios, traços funcionais
A construção de reservatórios é uma das principais causas de perda de diversidade biológica em
planície de inundação, pois altera o regime hidrossedimentológico do rio e afeta os processos e
serviços ecossistêmicos. A diversidade funcional (DF) permite uma aproximação mecanicista na
tentativa de determinar os fatores que influenciam as comunidades biológicas. Foi avaliada a DF
fitoplanctônica na planície de inundação do alto rio Paraná, a jusante de uma cascata de
reservatórios. Foram testadas as seguintes hipóteses: i) A DF é influenciada principalmente pelo
regime hidrológico do rio Paraná; ii) ocorre um gradiente de DF ao longo do trecho estudado no
alto rio Paraná, sendo os maiores valores esperados nas estações mais distantes do reservatório de
Porto Primavera. Foram realizadas amostragens trimestrais no alto rio Paraná e lagos associados
ao eixo horizontal do rio, no último trecho livre de barragens, nos anos de 2013 e 2014. Como
medidas de DF foram calculadas a entropia quadrática de Rao (FDis), a riqueza (FRic) e a
equitabilidade funcional (FEve), a partir de uma matriz de idensidade de espécies e outra de traços
funcionais (máxima dimensão linear, razão superfície volume, presença de mucilagem, aerótopos,
espinhos, processos, setas, sílica, lórica e a forma de vida das espécies). Uma análise de
componentes principais foi usada para verificar variabilidade ambiental. Regressão Linear Múltipla
foi realizada para verificar a relação entre os fatores ambientais (fósforo total, nível fluviométrico,
biovolume, distância dos pontos em relação ao reservatório e conectividade dos lagos) e a DF. Os
valores de FDis foram baixos e os modelos testados para o rio mostraram relação significativa com
o fósforo total. Foram registrados baixos valores de FRic e FEve, indicando baixa
complementariedade de nicho e dominância de traços, podendo ser causada pela homogeneidade
biótica, sendo uma consequência da cascata de reservatórios. A DF respondeu ao gradiente de
produtividade do rio e conectividade, com maiores valores nos lagos mais distantes do
reservatório. A influência do rio Paraná sobre a DF dos lagos foi evidenciada, pois os lagos com
menor grau de conectividade apresentaram os menores valores, principalmente no período de
maior nível fluviométrico. A redução da conectividade entre o rio e os ambientes adjacentes,
provocada pela alteração da amplitude de cheias no rio Paraná, provavelmente influenciou a DF
nesses ambientes.
Ecologia de Estradas
ESTRADAS COMO FATOR DE PRESSÃO SOBRE RIOS NO SUL DO BRASIL
Alice Mainieri Flores1, Fernando Gertum Becker2
1, 2-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Densidade, diagnóstico, estradas, pressão, Rio Grande do Sul
Apesar das estradas possuírem importância central no desenvolvimento urbano e econômico, elas
impactam o meio ambiente, fragmentando áreas naturais, isolando paisagens e diminuindo a
movimentação de organismos. Estradas e rios interagem de diferentes formas. Estruturas de
engenharia, como pontes e bueiros, afetam profundamente os ecossistemas aquáticos. Estradas
podem ser um fator causal ou agravante, interagindo com outros fatores que afetam os rios, como
pesca ou poluição. Esse trabalho propõe realizar um diagnóstico regional das estradas como
potencial fator de pressão sobre conservação de rios, através da densidade de estradas (razão entre
a extensão total das estradas e a área do hexágono). As análises foram realizadas através de Sistema
de Informação Geográfica (SIG), em uma área de 281.189 km² (Estado do Rio Grande do Sul). A área
foi dividida em 5624 hexágonos de 50 km². A densidade de estradas foi o indicador utilizado para
verificar a pressão, medido através da divisão do comprimento total da estrada em cada hexágono
pela área do hexágono. Foram definidas cinco classes de pressão com base na literatura: nenhuma
(0 km/km²), baixa (de 0 a 0,5 km/km²), intermediária (de 0,5 a 2 km/km²), alta (de 2 a 4 km/km²)
e muito alta (mais de 4 km/km²). A pressão de estradas foi avaliada nos dois biomas (Pampa e Mata
Atlântica) e quatro ecorregiões aquáticas (Baixo Uruguai, Alto Uruguai, Laguna dos Patos e
Tramandaí-Mampituba) encontrados no estado. De um total de 5624 hexágonos, apenas 4,7%
apresentaram nenhuma pressão de estradas, 11,5% baixa pressão, 80,7% pressão intermediária e
3,2% alta ou muito alta pressão (hexágonos com grande área urbana). Os hexágonos pressionados
(pressão intermediária a muito alta) representam 83% da área total; 58% destes pertencem ao
bioma Pampa. Cerca de 80% da área de estudo está sob pressão causada por estradas, visto que a
densidade de estradas a partir de 0,5 km/km² produz efeitos sobre o ambiente aquático. Ao
comparar biomas, o Pampa mostra uma pressão muito maior do que a Mata Atlântica. Ao analisar
em conjunto bioma e ecorregião, a região de bioma Mata Atlântica e ecorregião Alto Uruguai é a
região mais pressionada, sugerindo que estratégias de conservação sejam priorizadas nessa região.
Ecologia de Interações
ANINHAMENTO VERSUS MODULARIDADE: UMA QUESTÃO DE ESCALA
Gabriel Moreira Félix Ferreira1, Rafael Barros Pereira Pinheiro2, Marco Aurelio Ribeiro Mello3
1,2,3-Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre,
Universidade Federal de Minas Gerais
Amplitude de nicho, aninhamento, modularidade, redes, trade-offs
Duas perguntas ainda em aberto na ecologia de comunidades são: (i) qual é a relação entre a
amplitude de nicho de uma espécie e a sua aptidão média ao longo desta gama de condições e
recursos; e (ii) qual padrão topológico predominante em redes de interação: aninhamento ou
modularidade? Recentemente, uma nova hipótese foi proposta usando parasitismo como modelo: a
Hipótese Integradora da Especialização de Parasitos (IHPS). Ela integra essas duas questões em um
único arcabouço teórico e propõe que a unidade da especialização seriam conjuntos de recursos
muito similares entre si e descontinuamente separados uns dos outros. Assim, adaptações dentro
de um determinado conjunto podem ser mal adaptações em outros. Se isso for verdade, esperar-se-
ia uma rede de interação formada por módulos internamente aninhados (topologia combinada).
Neste trabalho, testamos duas previsões desta hipótese usando um banco de dados formado por
espécies de pulgas que infestam espécies de mamíferos na Região Neártica. A primeira previsão é
de que a performance de uma dada espécie de pulga em seus hospedeiros aumenta com o número
de hospedeiros que ela infesta dentro do módulo ao qual pertence, mas diminui com o número de
módulos nos quais seus hospedeiros estão distribuídos. Calculamos um modelo misto em que a
abundância de uma espécie de pulga por hospedeiro é explicada por seus valores de z-score e
coeficiente de participação na rede, sendo as espécies de parasitas e hospedeiros variáveis
aleatórias. A segunda previsão é de que a rede apresentaria uma topologia combinada. Para testá-la
calculamos a modularidade e o aninhamento tanto da rede inteira quanto dos módulos e estimamos
sua significância. Ambas as previsões foram confirmadas, gerando a primeira evidência empírica a
favor da IHPS. Portanto, este estudo é um primeiro passo para resolver esses dois debates antigos,
além de propor um mecanismo que explica a topologia combinada. Por fim, as premissas da IHPS
parecem se aplicar a diversos outros sistemas ecológicos além do parasitismo.
A INSTABILIDADE AMBIENTAL INFLUENCIA NA INTERAÇÃO ENTRE PARASITOS E HOSPEDEIROS?
Elvira De Bastiani1, Karla Magalhães Campião2, Walter A. Boeger3, Sabrina Borges Lino Araujo4
1,2,3,4-Universidade Federal do Paraná
Aninhamento, conectância, modularidade, Pantanal, rede antagonista
A compreensão da estrutura das redes ecológicas é fundamental para entender o funcionamento
dos ecossistemas, fornecendo ferramentas que nos permitam identificar, compreender e prever
como parasitos e hospedeiros interagem. Este trabalho tem como objetivo avaliar se existe variação
na estrutura das redes de parasitos e hospedeiros de acordo com o ambiente amostrado. Para isso,
comparamos a rede de anfíbios e helmintos de um ambiente altamente variável (Pantanal) com
redes aleatórias, criadas a partir de um banco de dados de anfíbios e helmintos da América do Sul
obtidos da literatura. Para comparar a estrutura das redes calculamos as métricas de conectância,
aninhamento (NODF) e modularidade (ModuleWeb). Esperamos que as inundações das planícies
alagáveis do Pantanal proporcionem maior oportunidade de troca de hospedeiros por parte dos
parasitos, quando comparado a outras regiões. A rede de interações de anfíbios e endoparasitos do
Pantanal foi composta de 34 espécies de parasitos e 11 hospedeiros. Assim, simulamos um
panorama de 11 espécies de hospedeiros criando 1000 redes aleatórias com base nos registros de
anfíbios e endoparasitos da América do Sul. As análises foram feitas através do pacote bipartite, no
software RStudio. Observamos que a rede de hospedeiros e parasitos do Pantanal possui maior
aninhamento, maior conectância, e baixa modularidade quando comparado às redes geradas pelo
panorama simulado, diferindo entre os ambientes analisados. O número de espécies de parasitos
das redes aleatórias da América do Sul foi de 11 à 114 enquanto na rede do Pantanal foi 34. O
aninhamento das redes das aleatórias da América do Sul variou entre 0 e 34.59 enquanto o
aninhamento do Pantanal foi de 40. A conectância das redes aleatórias da América do Sul variou
entre 0.09 à 0.14 enquanto a do Pantanal foi de 0.27. A modularidade das redes aleatórias da
América do Sul variou entre 0.12 à 0.83, enquanto a do Pantanal foi de 0.29, e esse valor de
modularidade foi menor que os de 91% das redes aleatórias. É provável que as dinâmicas de
inundação do Pantanal facilitem o aumento do número de interações entre os parasitos e
hospedeiros, proporcionando maior oportunidades de interação e menor formação de módulos,
indicando assim a variabilidade dos papéis das espécies na organização da rede. Os resultados
deste estudo auxiliam na compreensão das características e padrões de organização das redes de
hospedeiro-parasito, particularmente em ambientes variáveis.
REDE DE INTERAÇÃO DE INSETOS GALHADORES E SEUS PARASITOIDES EM FLORESTA
ESTACIONAL SEMIDECIDUAL NO RIO GRANDE DO SUL
Ana Paula Moraes Goetz1, Fernando Albuquerque Luz2, Milton de Souza Mendonça Junior3
1, 2, 3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Galha, insetos galhadores, parasitoides, rede de interações
Redes de interações ecológicas auxiliam a desvendar padrões importantes na organização e
estrutura das comunidades, por exemplo, relacionando presas e predadores. A relação trófica entre
insetos herbívoros e seus parasitoides abrange um dos maiores componentes da biodiversidade
global, logo o uso de redes de interações é considerado uma ótima ferramenta para o entendimento
da estrutura dessas comunidades. Entre esses herbívoros, os galhadores são capazes de induzir
alterações no tecido da planta hospedeira para a formação de galhas, estruturas espécie-específicas,
obrigatórias para o seu desenvolvimento, servindo também de proteção contra os parasitoides.
Estudos apontam a relação galhador - parasitoide é limitada pela distribuição espacial, dessa forma
espécies de galhadores que ocorrem no mesmo local compartilham estes inimigos entre si. Assim,
nosso objetivo foi estudar a estrutura da rede de interações de uma comunidade de galhadores e
seus parasitoides com a mesma distribuição espacial. Quatro amostragens foram feitas de setembro
de 2015 a fevereiro de 2016 em uma área de Floresta Estacional Semidecidual no município de
Santa Tereza, RS. A área foi percorrida durante uma hora, a cada coleta, por dois coletores a
procura de galhas não senescentes que eram contabilizadas e separadas por morfotipo e espécie de
planta hospedeira. Após, eram acondicionadas em sacos plásticos para a emergência dos
parasitoides, com contabilização e identificação até o menor nível taxonômico possível. Foi
construída uma matriz de dados para analisar, em ambiente R, a rede de interações considerando
conectância e índice de especialização. Foram coletadas 1.091 galhas em 15 morfotipos (espécies) e
10 espécies de plantas hospedeiras; registramos 568 parasitoides em 32 morfoespécies e nove
famílias. A rede de interações exibiu estrutura modular, com três compartimentos e baixa
conectância. De todas as interações possíveis apenas 10% ocorreram, indicando que algo pode
estar limitando o número de interações, como o fato que certas espécies de parasitoides ficaram
restritas a um único tipo de galha sugerindo preferência ou vantagem competitiva, seguida de
exclusão e evolutivamente especialização. Assim, a assembleia de parasitoides apresentou 80% de
especificidade, concluindo que, em nosso sistema de estudo, galhadores com mesma distribuição
espacial, não compartilham parasitoides em sua maior parte.
A HIPÓTESE INTEGRADORA DA ESPECIALIZAÇÃO DE PARASITOS: RECONCILIANDO TRADE-OFFS
E AMPLITUDE DE NICHO
Rafael Barros Pereira Pinheiro1, Gabriel Moreira Félix Ferreira2, Marco Aurelio Ribeiro Mello3
1,2,3-Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Universidade
Federal de Minas Gerais
Aninhamento, desempenho de parasitas, especificidade de hospedeiros, modularidade, redes
ecológicas
O quanto um parasita pode diversificar os hospedeiros que ele ataca, sem comprometer demais sua
performance em cada um deles? Duas hipóteses clássicas têm sido usadas há décadas para tentar
resolver essa questão, sendo que elas levam a predições opostas e, portanto, são consideradas
mutuamente exclusivas. A hipótese do trade-off propõe que, quanto maior a diversidade de
hospedeiros que um parasita ataca, pior deve ser a performance em cada um deles. Já a hipótese da
amplitude de nicho propõe que parasitas capazes de atacar vários hospedeiros devem ter melhor
performance no geral. Estudos anteriores testaram essa relação em diversos sistemas,
corroborando ou falseando cada uma dessas hipóteses separadamente, mas sem oferecer uma
explicação para os resultados contraditórios. Somente uma explicação incipiente para essa
contradição foi proposta na literatura: a diversidade filogenética da comunidade de hospedeiros
seria o fator determinante do balanço entre amplitude de hospedeiros e performance, uma vez que
espécies de hospedeiros filogeneticamente próximas possuem mecanismos de defesa similares.
Essa explicação, apesar de válida, só pode ser aplicada a comunidades de hospedeiros nas quais a
dissimilaridade é gradualmente estruturada, um padrão raro na natureza. A partir disso, nós
propomos a Hipótese Integradora da Especialização de Parasitos, a qual é baseada em três
pressupostos: (i) os trade-offs no desempenho de parasitos são maiores, quanto maior a distância
filogenética entre as espécies de hospedeiros; (ii) os processos de amplitude de nicho atuam com
maior intensidade no desempenho de parasitos em espécies hospedeiras próximas; (iii) na maioria
dos sistemas naturais, a dissimilaridade entre espécies de hospedeiros é descontínua, formando
subgrupos. Concluímos que a especialização de parasitos é dirigida por um balanço entre os custos
dos trade-offs e os benefícios dos processos de amplitude de nicho. Assim, as unidades principais de
especialização não são as espécies hospedeiras, mas sim agrupamentos de espécies semelhantes
dentro dos quais os processos de amplitude de nicho são intensos e entre os quais os trade-offs
prevalecem. O poder explicativo da nossa hipótese pode ser estendido até mesmo para outras
contradições aparentes, como a relação entre aninhamento e modularidade em redes ecológicas.
PERFURAR MAIS FUNDO REQUER BROCAS MAIS LONGAS: VARIAÇÃO NO TAMANHO DO
OVIPOSITOR DO PARASITOIDE Galeopsomyia sp. (HYMENOPTERA – EULOPHIDAE) FRENTE A
DIFERENTES HOSPEDEIROS INDUTORES DE GALHAS
Fernando Albuquerque Luz1, Ana Paula Goetz2, Milton Mendonça de Souza Junior3
1,2,3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, PPG Ecologia
Bruggmannia, galhador, seleção de hospedeiro
O tamanho do ovipositor dos parasitoides influencia seu comportamento durante a escolha do
hospedeiro. Parasitoides que atacam hospedeiros expostos tendem a ter ovipositores menores em
relação aos que precisam perfurar tecidos como o tecido das galhas. Sendo assim, parasitóides com
ovipositor longo podem atacar galhas mais espessas, ou seja, com mais tecido. A maioria dos
estudos trata esse assunto em nível interespecífico. O objetivo deste trabalho foi testar a variação
intraespecífica no tamanho do ovipositor de Galeopsomyia sp. frente a cinco espécies hospedeiras
de insetos galhadores e suas respectivas galhas. Foram feitas 15 coletas no Morro Santana (Porto
Alegre, RS) entre Março de 2014 e Fevereiro de 2016. Todas as galhas foram coletadas em Guapira
opposita, planta hospedeira de cinco espécies de galhadores: Bruggmannia elongata; B. robusta; B.
acaudata; duas espécies não descritas de Bruggmannia (sp1 e sp2). Em cada transecção, todas as
galhas das 30 primeiras plantas com altura entre 50 cm e 3 m foram coletadas e, em laboratório,
acondicionadas em sacos plásticos até a emergência dos parasitoides. As larvas de último ínstar dos
galhadores foram medidas quanto ao comprimento e a maior largura. A razão entre os valores foi
usada como medida de tamanho (n=5 para cada espécie). A espessura das galhas foi medida (n=5
para cada tipo de galha), assim como os tamanhos da cabeça e ovipositor dos indivíduos de
Galeopsomyia sp. Para comparar os tamanhos foram utilizadas ANOVAs com permutação no
software PAST. Foram coletados 28 fêmeas de Galeopsomyia sp. Não se encontrou diferença
significativa (p>0.05) para o tamanho das larvas entre espécies de galhador. Porém, as galhas de
Bruggmannia sp1 e sp2 foram significativamente mais espessas que as de B. acaudata, e essas mais
espessas que as de B. elongata e B. robusta. Os tamanhos da cabeça e ovipositor diferiram
significativamente para vespas saídas das galhas de Bruggmannia sp1 e sp2 em relação às demais. A
dimensão do hospedeiro é fundamental para determinar o tamanho do parasitoide, mas neste caso
o tamanho do hospedeiro não variou, e sim a espessura do tecido a ser perfurado. Galhas mais
espessas tiveram parasitóides maiores e com maior ovipositor como costuma acontecer no nível
interespecífico. Assim espessuras maiores parecem estar selecionando indivíduos maiores da
população. Portanto, o tamanho da galha influencia na capacidade de oviposição deste parasitoide.
ASPECTOS ECOLÓGICOS DA DOMESTICAÇÃO DA Acca sellowiana (FEIJOA) QUE INDIRETAMENTE
PODEM PROMOVER A DIVERSIDADE ESPAÇO-TEMPORAL DE MAMÍFEROS E AVES NA MATA
ATLÂNTICA
Juliano André Bogoni1, Maurício Eduardo Graipel2, Nivaldo Peroni3
1, 2, 3-Universidade Federal de Santa Catarina
Aves, frugivoria, mamíferos
Ações humanas passadas e contemporâneas são capazes de provocar inúmeras mudanças de
padrões e processos em várias escalas ecossistêmicas e em diferentes níveis tróficos, incluindo
mudanças não intencionais. A Acca sellowiana (feijoa) reúne algumas características de interações
humanas: tem domesticação incipiente, ocorre em terras altas associadas às florestas de araucária,
possivelmente de origem antrópica, e produz frutos na época de escassez do principal recurso local
(pinhão). Objetivamos quantificar as relações tróficas entre a feijoa e vertebrados na Mata Atlântica
subtropical, e avaliar as influências nas interações causadas por variações ambientais, pela
distância e pela oferta de frutos. Em 4 sites (distantes 24 km entre si e caracterizados
ambientalmente) – no PARNA de São Joaquim e nas RPPNs Grande Floresta das Araucárias e Leão
da Montanha, SC – usamos 28 indivíduos-focais de feijoa (7 por site: escolhidos baseados na
produtividade), realizamos 3 réplicas temporais (uma sem frutos) entre 2015 e 2016 nas quais
mensuramos a produtividade, executamos filmagens da frugivoria em vídeos de 45’ de duração
usando 32 armadilhas fotográficas, durante todo o período de frutificação (totalizando 1.948
vídeos). Analisamos os dados com redes ecológicas, curvas de rarefação e partição da variação para
avaliar a topologia e valores de remoção, a estrutura espaço-temporal das comunidades de
frugívoros em relação à oferta de frutos e as influências das variáveis espaço-temporais na
remoção. Encontramos uma grande variação da produtividade entre indivíduos-focais, sites e
réplicas temporais. Dezenove espécies nativas (incluindo Cricetidae) e uma exótica realizaram
frugivoria, com grau médio de 2,8% e remoção média de 14,4%. A conectância da rede foi de 72%, a
modularidade foi maior que a esperada ao acaso [Mo=0.34; Mn=0.14; p<0.01], e o aninhamento de
51.4%, igual aos modelos nulos [p=0.9]. A rarefação mostrou que a riqueza e o número de registros
independentes de vertebrados nos sites são maiores e acompanham a quantidade de frutos
ofertados. A partição da variação mostrou que houve influência ambiental nos valores de remoção
tanto para mamíferos [r²adj=0.31; p<0.01] quanto para aves [r²adj=0.24; p<0.01]. Concluímos que
a feijoa é um recurso alternativo, suprimindo a ausência sazonal do pinhão, agindo como atrator e
estruturador das comunidades de mamíferos e aves em áreas de altitude. Ademais, sua
domesticação pode ter favorecido espécies da fauna local.
DIVERSIDADE BETA E TURNOVER ESPACIAL DE INTERAÇÕES FORMIGA-PLANTA NOS CAMPOS
RUPESTRES
Laura Di Spirito Braga1, Fernanda Vieira da Costa2, Bruna Santos Boa Sorte3, Frederico de Siqueira
Neves4, Marco Aurelio Ribeiro de Mello5
1, 2, 3, 4, 5-Universidade Federal de Minas Gerais
Formiga, interações, interações formiga-planta, plantas, redes de interações
Os Campos Rupestres são um ecossistema antigo que ocorre nas altas altitudes das montanhas do
Cerrado. Tendo permanecido quase inalterados em uma escala temporal geológica, suas paisagens
altamente heterogêneas, onde afloramentos rochosos formam ilhas de vegetação, favorecem o
isolamento e endemismo de plantas e, provavelmente, afetam também os animais que delas
dependem. Por outro lado, redes de interação entre animais e plantas tendem a ter uma estrutura
estável, que depende mais do tipo de interação do que de condições ambientais. Nosso objetivo foi
entender como essa dualidade influencia a variação espacial na diversidade beta de interações
formiga-planta. Por dois anos, conduzimos um estudo de campo baseado na observação focal de
plantas presentes em sete áreas na Serra do Cipó, Minas Gerais, a fim de responder a seguinte
pergunta: a diversidade beta espacial é similar entre formigas e plantas que interagem nos Campos
Rupestres? Esperamos que haja uma variação espacial elevada na comunidade de plantas e
formigas, e que essa variação seja devido ao turnover (troca) de espécies. Apesar dessa variação,
esperamos que um conjunto similar de espécies de formigas formem o núcleo da maioria das redes,
e que esse núcleo seja consistente no espaço. A maior parte da variação espacial nas redes deveu-se
a um turnover: 88% para plantas e 80% para formigas. Ao contrário do esperado, também houve
um turnover entre as espécies nucleares das redes estudadas, assim, o efeito de cada espécie no
sistema de interações varia entre áreas. É provável que a limitação na dispersão e persistência das
espécies sejam os fatores mais importantes para estruturação espacial das redes formiga-planta
nos Campos Rupestres, provavelmente devido à grande heterogeneidade desses ambientes. Assim,
concluímos a que as redes de interações formiga-planta nestes ambientes se distinguem
espacialmente quanto à composição de espécies, além de serem estruturadas por conjuntos
distintos de espécies centrais.
INTERAÇÕES ENTRE AVES E FLORES SÃO MAIS ESPECIALIZADAS NO NOVO MUNDO QUE NO
VELHO MUNDO
Thais B Zanata1, Bo Dalsgaard2, Fernando C Passos3, Isabela G Varassin4
1, 3, 4-Universidade Federal do Paraná
2-University of Copenhagen, Denmark
Especialização, interação animal-planta, modularidade, partição de nicho, redes de interação
Especialização é uma propriedade biológica que pode ser detectada ao nível do indivíduo a
comunidade, assim como ao nível ecológico, funcional ou fenotípico. A especialização ecológica
quantifica o número de espécies utilizadas como recurso, já a funcional avalia as interações com
grupos de espécies que apresentam atributos funcionais semelhantes e a fenotípica trata da
especialização morfológica existente entre espécies que interagem. Muitas aves visitam plantas
para o consumo de néctar, mas três famílias se destacam por apresentarem adaptações
relacionadas à nectarivoria: no Novo Mundo, beija-flores (Trochilidae) e no Velho Mundo, sunbirds
(Nectariniidae) e honeyaters (Meliphagidae). Entre essas famílias, os beija-flores são classificados
como mais especializados fenotipicamente. Esta maior especialização está associada a realização de
voo pairado e maior variação no formato do bico. Além disso, comunidades do Novo Mundo
apresentam maior riqueza de plantas utilizadas como fonte de néctar. Este estudo testou se a maior
especialização fenotípica descrita para os beija-flores também é observada na especialização
ecológica das suas interações com as plantas. Foram utilizadas 120 listas de interação entre
espécies de aves nectarívoras e plantas, das quais 79 estão distribuídas no Novo Mundo e 41 no
Velho Mundo. A especialização das interações ave-planta foi quantificada através de métricas
derivadas da metodologia de redes de interação, as quais descrevem a especialização ecológica ao
nível de comunidade. São elas: conectância (C), especialização complementar (H2’), modularidade
binária (QB) e ponderada (Q). Comparando as métricas das redes do Novo e Velho Mundo,
observamos que as interações entre os beija-flores e suas fontes de néctar são mais especializadas.
As redes de beija-flores apresentam menor proporção de interações realizadas (menor C), maior
partição de nicho (maior H2’) e maior tendência a formar subgrupos de espécies interag indo
(maior QB). Esta maior especialização nas interações ave-planta no Novo Mundo pode ser uma
consequência da maior especialização fenotípica dos beija-flores, assim como da maior riqueza de
plantas que utilizam como fonte de néctar. Estas características aumentariam a partição de nicho
entre as espécies, aumentando a especialização ao nível da comunidade no Novo Mundo.
SOBREPOSIÇÃO ECOMORFOLÓGICA ENTRE ESPÉCIES NATIVA E EXÓTICA DE
CYPRINODONTIFORMES
Augusto Frota1, Fagner de Souza2, Maria Julia Mileo Ganassin3, Manoela Lelis de Carvalho Leitão4,
Afonso Pelli5
1, 2, 3-Universidade Estadual de Maringá
4, 5-Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Ecomorfologia, interações ecológicas, introdução de espécies, nicho, Poeciliidae
Atividades humanas como o despejo de esgotos domésticos e industriais em corpos d’água afetam
fortemente suas comunidades aquáticas pela redução da qualidade ambiental. Poecilia reticulata
[Peters, 1859] é um pequeno peixe introduzido em riachos de diversas bacias hidrográficas
brasileiras e, atualmente, coexiste com a espécie nativa Phalloceros harpagos [Lucinda, 2008],
ambas possuindo similares aspectos ecológicos em função de suas proximidades filogenéticas.
Assim, objetivamos demonstrar variações ecomorfológicas intra e interespecíficas entre populações
que coexistem em ambientes com diferentes atributos qualitativos. Com o uso de peneiras foram
amostrados dois riachos classificados como natural e impactado pelo protocolo de Callisto. Tais
ambientes pertencem à bacia do rio Pirapó e à bacia do rio Tibagi, respectivamente, ambos situados
no estado do Paraná, sistema do alto rio Paraná. De cada riacho foram tomadas medidas corporais
lineares e as áreas das nadadeiras de 30 indivíduos (15 de P. reticulata e 15 de P. harpagos) para o
cálculo dos índices ecomorfológicos, os quais enfatizam a forma e estrutura corporal. Para
diagnosticar tendências morfológicas fizemos uma Análise de Variáveis Canônicas (AVC) e, para
confirmar divergências intra e interespecíficas realizamos a Análise de Comparações Pareadas de
Hotelling, ambas executadas no software PAST. Com 62,26%, o eixo “AVC1” foi o que mais explicou
divergências intraespecíficas, enquanto que com 27,27%, as divergências interespecíficas foram
mais explicadas pelo eixo “AVC2”. No riacho impactado as populações se sobrepuseram
completamente, sugerindo alta sobreposição de nicho, ao passo que no ambiente natural
apresentaram clara separação. Todas as populações exibiram diferenças significativas, exceto na
comparação intraespecífica entre P. reticulata do ambiente impactado e natural. A evidente
sobreposição no ambiente impactado ocorre em função da baixa disponibilidade de recursos e
habitat, sugerindo uma acentuada competição entre as espécies. A maior e melhor disponibilidade
de recursos e habitats em ambientes com maior qualidade ambiental pode explicar as divergências
intraespecíficas em P. harpagos encontradas entre os ambientes, porém P. reticulata manteve a
variabilidade morfológica mesmo em pressões ambientais qualitativamente distintas, fato que
alerta sobre a capacidade oportunista dessa espécie exótica e suas consequências às espécies
nativas, principalmente às mais aparentadas.
INSECTS DO NOT BELIEVE IN MIMICS: EFFICACY OF SELF-MIMICRY POLLINATION MODE IN
Begonia cucullata (BEGONIACEAE)
Rubem Samuel de Avila Jr1, Suiane Santos Oleques², Brisa Marciniak de Souza³, José Ricardo Inacio
Ribeiro4
1, 3, 4-Universidade Federal do Pampa
2-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Fruit set, honeybee, Pampa biome, pollination, self-mimicry
Begonia is recognized by self-mimicry pollination system. Proportion of mimetics and models is
critical to support reproductive rates because this is associated with sex ratio. Isoplethic sex ratio
(1:1) could provide the perfect balance between pollen donors and stigma surfaces to receive the
pollen. We tested the significance of isoplethic sex ratio observed in B. cucullata population
compared with anisoplethic (male-biased and female-biased) arrays within a Bayesian approach.
Our results showed that pollinators have similar behavior and clearly distinguish and avoiding
female rewardless flowers independent of their availability in population. Low flower visitor’s
frequency was recorded in all treatments but higher value of pollination quality was recorded in
isoplethic sex ratio condition. These results could be associated with visual or chemistry cues that
allowing pollinators recognize models and mimics independent of their availability in population.
We did not observed pollen limitation in population studied and we but is likely not associated with
the efficacy of self-mimicry in B. cucullata. This study highlights the sex ratio play a critical role
efficacy in a self-mimicry system efficacy. In contrast to found in animal mimetic systems the ratio
of mimetic and models does not seem to be critical for determined the dupe efficacy in B. cucullata.
O EFEITO DA PRODUTIVIDADE, TRAÇOS DE FRUTOS E NÍVEL DE FRUGIVORIA NA ESTRUTURA DA
REDE DE AVES CONSUMIDORAS DE FRUTOS
Marcia L. Malanotte1, Tiago Machado-de-Souza2, Ricardo P. Campos3, Carmen L. O. Petkowicz4,
Isabela G. Varassin5
1, 2, 3, 4, 5-Universidade Federal do Paraná
Conteúdo nutricional, cor, dispersão de sementes, interações mutualísticas
A dispersão de sementes tem uma função muito importante na manutenção da floresta. A
compreensão das interações entre aves consumidoras de frutos e plantas sob a perspectiva de
redes mutualística nos permite avaliar a sobreposição de interação e a importância relativa das
espécies na estruturação da comunidade. Nosso objetivo foi avaliar a relação entre especialização
ecológica, papel ocupado na rede (centralidade), e seletividade das interações de aves com
diferentes níveis de frugivoria e a produtividade, qualidade nutricional, traços de cor e
morfológicos dos frutos que eles interagem. O estudo de campo foi realizado na Reserva Natural
Salto Morato e Reserva Natural Serra do Itaqui, Paraná, Brasil, na Floresta Atlântica. Nós analisamos
a produtividade, os traços de cor, morfológicos e nutricionais dos frutos e classificamos as aves em
três níveis de frugivoria. Como esperávamos que os traços dos frutos pudessem afetar a escolha
desses frutos, foi calculado o número de espécies que interagem (grau, k) como uma medida da
especialização ecológica, a centralidade por proximidade (CP) e centralidade por intermédio (CI),
como uma medida do papel ocupado na rede e a seletividade das interações (d'), como uma medida
da seletividade, para os três grupos de espécies de aves consumidoras de frutos. Para testar se o
número de espécies que interagem (k, variável de resposta), a centralidade das espécies (CP, CI,
variável de resposta) e seletividade (d', variável de resposta) muda de acordo com grupos de
frugívoros e características dos frutos (variáveis explicativas) foram utilizados modelos lineares
generalizados (GLM) e análises de regressão múltipla. Nossos resultados indicaram que a
centralidade de espécies de aves consumidoras de frutos é influenciada pela morfologia e
abundância dos frutos e a seletividade é influenciada pela qualidade nutricional, exibição visual e
produtividade. Este estudo destaca que diferentes traços das plantas são importantes
determinantes do estabelecimento de interação para aves consumidoras de frutos na Floresta
Atlântica Brasileira, sendo que estes traços influenciam propriedades distintas da rede de
interação.
PADRÕES DE CONECTÂNCIA EM REDES DE INTERAÇÕES ENTRE VERTEBRADOS E
ENDOPARASITOS
Karla M. Campião1, Augusto Cesar de Aquino Ribas2, Luiz Eduardo R. Tavares3, Carlos H. A. Higa4
1, 2, 3, 4-Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná
Conectância, interação, parasitos, rede antagonista, teia trófica
Um dos padrões gerais observados em redes de interação parasito-hospedeiro é a relação entre
conectância e tamanho da rede: quanto maior a rede menor a conectância. Porém, os mecanismos
que geram esse padrão de potência negativa ainda são pouco compreendidos. A classificação das
espécies de acordo com sua função na rede, através da análise da posição e padrão de
conectividade, auxilia na compreensão das unidades básicas que estruturam redes complexas.
Neste estudo, avaliamos o padrão de conectividade das redes de interação de endoparasitos e
vertebrados da região do Pantanal. Com base em registros publicados, compilamos um total de 506
associações: 41 taxa de parasitos para 19 espécies de peixes, 56 para 17 de anfíbios, 40 para 17 de
répteis, 79 para 103 de aves e 112 taxa de helmintos para 27 espécies de mamíferos. Calculamos o
índice de conectância (‘C’) das redes, avaliamos os papéis funcionais das espécies de parasitos
(através do índice de entropia de Shannon) e de hospedeiros (pelo cálculo dos índices de ‘c’ e ‘Z’). A
conectância das redes de interações variou de 0,02 em mamíferos a 0,13 em anfíbios, sendo
intermediário em aves (0,04), e em peixes e répteis (ambos 0,08). Quando consideramos todos os
grupos juntos, observamos o menor valor do índice (0,01), corroborando a hipótese de potência
negativa. Nessa rede, a maioria das espécies de vertebrados assume um papel periférico, apenas 6
agem como hubs dentro de seus respectivos grupos, e 13 agem como conectores entre os grupos. As
13 espécies de hospedeiros que compartilharam parasitos com outros grupos, estão associados aos
parasitos em que observamos os índices de entropia mais altos (entre 0,7 e 1,03). Observamos que
em geral, essas espécies de parasitos possuem transmissão indireta, e utilizam as ligações tróficas
entre os vertebrados para completar seus ciclos de vida. Assim, o ciclo de vida do parasito parece
ser o fator ligando as diferentes classes de vertebrados na rede. Múltiplos fatores podem
determinar o papel de hospedeiros e seus parasitos nas redes de interações, como a história
evolutiva do parasito e a ecologia do hospedeiro. Nesse sentido, o padrão geral de potência negativa
na conectância pode ser resultante da baixa frequência de parasitos com maior entropia. Uma vez
que ciclos de vida indiretos são uma característica derivada, o aumento na conectância pode exigir
um tempo evolutivo mais longo, mantendo a lei da potência negativa como padrão observado nas
redes de interações.
ESPECIFICIDADE DAS FAMÍLIAS DE MONOGENEA (PLATYHELMINTHES) PARASITAS DE PEIXES
DE ÁGUA DOCE DO BRASIL
Ana Paula Lula Costa1, Eloiza Muniz Capparros2, Ricardo Massato Takemoto3
1-Universidade Federal do Paraná
2, 3-Universidade Estadual de Maringá
Ictiparasitologia, índice de especificidade, Monogenea
A classe Monogenea (Platyhelminthes) é composta principalmente por ectoparasitas de organismos
aquáticos e é conhecida por sua especificidade quanto aos hospedeiros. A especificidade parasitária
possui várias implicações ecológicas e evolutivas, como a probabilidade de extinção e capacidade
de adaptação a um novo ambiente, medidos pelo nível da relação parasito-hospedeiro. Essa
característica é determinada pelo número de espécie de hospedeiros parasitados com sucesso e
pode ser calculado pelo índice de especificidade de hospedeiro (STD), de Poulin e Mouillot, que
relaciona o grau de especificidade com as relações taxonômicas entre os hospedeiros, sugerindo
que espécies de parasitos que possuem hospedeiros próximos são mais específicos que os que
possuem hospedeiros com relações mais distantes. O índice varia entre 1 e 5, sendo que o valor
aumenta conforme a especificidade diminui. Para avaliar a especificidade dentro das famílias de
monogenéticos parasitos de peixe do Brasil, cada parasito e seus hospedeiros foram categorizados
em espécie, gênero e família, com base no livro “Diversidade dos parasitas de peixe de água doce do
Brasil” e foi calculado o STD para cada espécie de monogenético, estabelecendo uma média do
índice para cada família (Hexabothriidae não foi testada por apresentar somente um hospedeiro
registrado para cada espécie). O índice resultou em uma média de 1,35 para a família
Dactylogyridae; 2,00 para Diplectanidae; 1,33 para Gyrodactylidae; 1,83 para Microcotylidae e 1,0
Monocotylidae. Para verificar a diferença entre o nível de especificidade das famílias de
monogenéticos, utilizou-se o teste não paramétrico Kruskal-Wallis (H=6,49 e p= 0,1651), que
demonstra que não houve variação significativa entre as famílias analisadas. As famílias de
monogenéticos com um maior número de espécies são a Dactylogyridae, com 263 espécies listadas
no livro e Gyrodactlidae, com 30 espécies. Este resultado reforça o elevado grau de especificidade
do grupo e mostra que as diferentes características de cada família, assim como o número de
espécies, não influenciam significativamente o grau de especificidade encontrado. Porém, as
características que determinam o grau de especificidade parasito-hospedeiro ainda não foram
evidenciadas. Teorias levam em conta uma possível co-evolução que tornou as estruturas de fixação
dos monogenéticos altamente especializada em certas áreas de seus hospedeiros, contudo, mais
pesquisas sobre tal padrão são necessárias.
AVALIANDO A RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA ATRAVÉS DE REDES DE INTERAÇÃO COLEÓPTEROS-
MACROFUNGOS
Aline Ganzer Mezzomo1, Tiago Shizen Pacheco Toma2, Milton de Souza Mendonça Júnior3
1, 2, 3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Avaliação da restauração, basidiomas, besouros fungívoros, interações ecológicas, redes tróficas
A restauração ecológica visa a recuperação de ecossistemas que foram degradados. A comparação
da composição e da riqueza de espécies entre áreas em restauração e de referência pode ser feita
para avaliar se a estrutura das comunidades está sendo restaurada ao longo do processo de
restauração. Porém, avaliar se a funcionalidade destes ecossistemas também está sendo restaurada
continua a ser um desafio. Investigar as interações entre as espécies pode revelar se estas estão
interagindo de forma adequada à funcionalidade do ecossistema. Os fungos podem ser bons
indicadores da funcionalidade dos ecossistemas, pois realizam a decomposição e ciclagem de
nutrientes. Existem diversos grupos de organismos que se alimentam de macrofungos, entre eles
besouros, que podem utilizar a estrutura fúngica também para nidificação. O presente estudo tem o
objetivo de comparar descritores de comunidades e de redes de interação na avaliação de áreas em
processo de restauração em relação a áreas de referência, utilizando sistemas coleópteros-
macrofungos das famílias Polyporales e Hymenochaetales. As coletas foram realizadas nos
municípios de Canela e Santa Tereza, RS. Em cada local, foram definidos dois transectos de 50 x
10m por tratamento (restaurada e referência) por coleta. Os macrofungos foram levados ao
laboratório para maturação das larvas e captura dos coleópteros para identificação. Foram
realizados testes-t pareados para comparar riqueza e abundância de fungos e besouros entre os
dois tratamentos. Besouros e fungos estão sendo identificados até o menor nível taxonômico
possível, para análises comparativas mais completas. Até o momento, foram amostrados doze
transectos em cada tratamento. Na área restaurada foram coletados 124 basidiomas, dos quais 44
realizaram 133 interações com 4041 indivíduos de besouros separados em 48 morfotipos. Nas
áreas de referência foram coletados 123 basidiomas, dos quais 52 apresentaram 130 interações
com 3073 indivíduos de besouros separados em 49 morfotipos. Não foram encontradas diferenças
significativas entre os tratamentos para riqueza ou abundância de fungos e besouros. Diante desta
avaliação preliminar, a riqueza e abundância dos besouros fungívoros e macrofungos estão sendo
restabelecidas nas áreas em restauração. Espera-se que outras análises, como métricas de redes de
interações, revelem diferenças que permitam entender melhor as relações entre espécies e o
funcionamento dos ecossistemas restaurados em relação aos de referência.
DISTÚRBIO FOGO E DIVERSIDADE DE VISITANTES FLORAIS E PLANTAS NOS CAMPOS SULINOS
Camila da Silva Goldas1, Carolina Veronese2, Luciana Regina Podgaiski3, Milton de Souza Mendonça
Jr.4
1, 2, 3, 4-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Comunidades, insetos, perturbação, vegetação campestre
Redes ecológicas permitem conhecer como as espécies se organizam em suas relações, e desta
forma, podem ser uma importante ferramenta para avaliar efeitos de mudanças ambientais nos
ecossistemas. O distúrbio fogo atua como um filtro ambiental, reorganizando os padrões de
diversidade das comunidades, o que pode refletir nas interações entre visitantes florais e plantas.
Este trabalho tem como objetivo compreender como os distúrbios causados pelo fogo sobre o
ecossistema campestre agem sobre a estrutura, padrões e os processos modeladores da
diversidade e das redes de interação entre visitantes florais e plantas. O trabalho foi realizado no
Parque Saint Hilaire (Viamão, RS) onde selecionamos 6 áreas de campos com diferentes históricos
de fogo: recente, intermediário e tardio (duas áreas cada). Em 6 parcelas de 10 m² amostramos
dados de vegetação, visitantes florais e variáveis de hábitat de nov/abr de 2016. Nas análises
estatísticas preliminares utilizamos ANOVA (software R) comparando as variáreis entre os
históricos de queima. Contabilizamos 80 espécies de plantas floridas, de 21 famílias botânicas,
sendo Asteraceae a mais rica e Rubiaceae a mais abundante. Sessenta espécies de plantas (75%)
apresentaram interação com insetos. Coletamos o total de 1797 visitantes florais, estes divididos
em seis ordens, sendo Hymenoptera a mais abundante. Riqueza, abundância e diversidade média de
plantas foram maiores no histórico recente, onde a riqueza diferiu do tardio (p=0.005), abundância
do intermediário (p= 0.04) e do tardio (p=0.0001) e diversidade do intermediário (p=0.005).
Biomassa, altura da vegetação e porcentagem de gramíneas foram maiores no histórico tardio
(p < 0.001). A porcentagem de solo exposto foi maior no histórico recente (p < 0.001), e herbáceas
não graminóides maior no intermediário, diferindo do tardio (p < 0.001) e recente (p = 0.03).
Análises da abundância das ordens de insetos não apresentaram resultados significativos. Os
resultados corroboram estudos que apontam a redução de biomassa após o fogo, o que permite
maior diversidade, riqueza e abundância da vegetação. A ausência de efeito sobre a abundância das
ordens de insetos pode ser devida à ampla classificação taxonômica (ordens). Este estudo ainda
está em fase inicial, tendo como objetivo final a obtenção de redes de interação visitantes florais e
plantas, para que possamos conhecer os efeitos deste distúrbio nas relações existentes entre estes
organismos.
EFEITOS DO AUMENTO DA EXTENSÃO ESPACIAL E DO TEMPO DE OBSERVAÇÃO EM UMA REDE
DE INTERAÇÃO BEIJA-FLOR PLANTA
Tiago Simões Malucelli1, Isabela Galarda Varassin2
1, 2-Universidade Federal do Paraná
Efeito amostral, polinização, PPBIO, redes de interação
A amostragem é determinante em estudos de redes de interação e deve ser pensada de acordo com
os custos envolvidos. Nosso objetivo foi avaliar como o aumento da extensão espacial e do tempo de
observação afetam a estrutura de uma rede de polinização beija-flor planta. Os dados foram
coletados em dez parcelas do projeto PPBio na floresta atlântica do Paraná. Uma rede de interação
foi construída para cada parcela. Cada rede deu origem a um vetor de minutos onde os zeros
representam minutos sem interação e diferentes números representam interações de acordo com a
posição das mesmas na matriz. Foram feitos dois procedimentos. No primeiro (ET), os vetores
foram combinados em classes de amostragem, de 1 a 10, e para simular um aumento de extensão e
tempo. No segundo (E), para aumentar a extensão mas não o tempo, retiramos em cada combinação
de vetores (classe de amostragem) uma proporção dos elementos dos vetores proporcional ao
número de matrizes combinadas, realizando assim a diminuição de tempo com o aumento de
extensão. Assim, nas combinações de dois vetores foram removidos metade dos minutos de
amostragem e assim por diante até a combinação de 10 vetores. Foram calculadas métricas para as
redes derivadas de E-T e E. Para cada métrica, testamos as diferenças entre as classes de
amostragem para E-T e E por Kruskall-Wallis. Comparamos, para cada métrica, cada classe de
amostragem entre os dois procedimentos, para avaliar se o aumento de tempo em ET influencia as
métricas independente do espaço. Assim a distribuição em cada classe de amostragem em E serviu
como modelo nulo para observar a influência do tempo nas métricas em ET. Apenas a riqueza de
beija flores mostra um padrão claro, e positivo, em E. O aumento de tempo afeta positivamente o
número de interações quantitativas e qualitativas e o número de plantas e beija flores. O H2’ e o
WNODF foram relativamente constantes com o aumento de tempo e extensão. Assim, o aumento da
extensão espacial na pequena escala observada aqui não afeta de forma intensa as redes sendo o
tempo o principal fator de impacto da amostragem. Em escalas maiores é possível que com
heterogeneidade maior a extensão seja mais importante. Assim, em casos semelhantes ao nosso, se
necessário reduzir os custos, o tempo de observação pode ser priorizado em detrimento da
extensão espacial. No entanto as métricas quantitativas de H2’ e WNODF mostraram ser pouco
afetadas nos dois casos, sendo bons descritores em amostragens de baixa qualidade.
RELAÇÃO ENTRE LENÇOL FREÁTICO E COMPOSIÇÃO ARBÓREA EM DOIS SEGMENTOS NO RIO
PITANGUI, PARANÁ, BRASIL
Melissa Koch F. S. Nogueira1, Rodrigo Fernando Moro2, Elisana Milan3, Gabriela T. Turra4, Rosemeri
Segecin Moro5
1, 2, 3, 4, 5-Universidade Estadual de Ponta Grossa
Áreas ripárias, fitossociologia, lençol freático
A adequada gestão de bacias hidrográficas depende de informações científicas que subsidiem as
políticas públicas de conservação e projetos de restauração de ambientes ripários. Assim, esse
trabalho buscou relacionar níveis do lençol freático e a ocorrência de espécies do componente
arbóreo de dois segmentos de Floresta Ombrófila Mista Aluvial no Rio Pitangui. Após restituição
cartográfica, foi realizada a classificação visual da faixa ripária ao longo do rio para demarcação dos
pontos. Foram selecionados, no PPP (Primeiro Planalto Paranaense) ponto 1: Lago (60°79’75’’S e
72°39’27’’W, Castro-PR); no SPP (Segundo Planalto Paranaense) ponto 2: Fazenda Frankanna
(58°48’68’’S e 72°31’95’’W, Ponta Grossa-PR). Os locais foram amostrados através de nove parcelas
de 5 x 10 m (450 m2) dispostas em três linhas paralelas à margem do rio. Foram mensurados e
identificados todos os indivíduos com DAP ≥ 5 cm. Foram instalados em cada local três poços
hídricos de PVC (1,20 cm x 5,0 cm) perfurados a cada 15 cm. A leitura do nível ocorreu em torno do
dia 15 entre agosto/2015 e maio/2016. Como resultado foram amostrados 210 indivíduos
determinados até o momento em 29 espécies e 14 famílias. Apenas três espécies são comuns aos
dois locais: Sebastiania commersoniana, Myrsine umbellata e Allophylus edulis. Ponto 1 foram
observadas 19 espécies: Schinus terebinthifolius; Inga marginata; Lonchocarpus guilleminianus;
Vitex montevidensis; Eugenia uniflora; Eugenia neoverrucosa; Eugenia handroana; Myrsine coriaceae;
Guettarda uruguensis; Guatteria australis; Matayba elaeagnoides; Xylosma pseudosalzmannii;
Symplocos uniflora; Symplocos uruguensis; Symplocos laxiflora e Symplocos sp. Nesse local o nível do
lençol freático esteve entre 0 e 100 cm, sendo característica higrófila. Ponto 2, foram observadas 13
espécies: Lithraea molleoides; Anadenanthera colubrina; Nectandra grandiflora; Ocotea corymbosa;
Ocotea puberula; Campomanesia xanthocarpa; Prunus brasiliensis; Zanthoxylum rhoifolium; Casearia
decandra e Solanum erianthum. Nesse local o nível do lençol freático esteve abaixo de 100 cm,
conferindo-lhe caráter mesófilo. Pode-se constatar que houve alta especificidade da comunidade
arbórea com relação ao regime hídrico do solo e apenas Sebastiania commersoniana, Myrsine
umbellata e Allophylus edulis podem ser empregadas em projetos de restauração nas florestas
ripárias regionais sem análise prévia dos níveis freáticos.
O COMPORTAMENTO COMO DETERMINANTE DO SUCESSO NO FORRAGEIO EM CARDUMES DE
Moenkhausia forestii
Matheus Maximilian Ratz Scoarize1, Rafaela Vendrametto Granzotti2, Amanda Cantarute
Rodrigues3, Carolina Mendes Muniz4, Luiz Carlos Gomes5
1,2,3,4,5-Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA) da
Universidade Estadual de Maringá
Forrageio, macrófitas, predação
A complexidade estrutural em comunidades aquáticas influencia as interações predador-presa.
Estudos relatam um aumento da sobrevivência de presas com ao aumento da complexidade de
habitat, pois ambientes mais complexos atuam como áreas de refúgio para as presas e reduzem a
eficiência visual e mobilidade dos predadores. Por outro lado, há relatos de modificações
comportamentais do predador que aumentam sua eficiência de captura em diferentes estruturas de
habitat, o que também pode acarretar uma mudança no comportamento da presa. Portanto, o
objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito da complexidade de habitat sobre o comportamento de
forrageio de Hoplerythrinus unitaeniatus (predador) e comportamento antipredação de
Moenkhausia forestii (presa). Para observação do comportamento, os indivíduos foram filmados em
três níveis de complexidade de habitat (baixo, intermediário e alto) dado por diferentes densidades
de macrófitas. Cada aquário apresentava um indivíduo de H. unitaeniatus e seis indivíduos de M.
forestii. Foram observados 15 minutos dos vídeos e foram anotados, a cada minuto, a posição dos
indivíduos e sua atividade (forrageio, natação, repouso, formação de cardumes). Para o predador, a
estratégia de forrageio foi classificada em perseguição ou emboscada e o número de investidas nas
presas e o local dessas investidas (áreas com ou sem macrófitas) foram monitorados. Essas
observações indicaram uma diminuição na formação de cardumes e uso mais prolongado das
macrófitas como refúgio, por M. forestii, na presença do predador. O predador filmado na
complexidade baixa teve uma estratégia predominantemente de perseguição e a maioria das
investidas foi realizada em ambiente aberto. Na complexidade intermediária, o predador
apresentou ambas as estratégias e teve, aproximadamente, o mesmo número de investidas em área
aberta e na área com macrófitas. Na complexidade alta, o predador apresentou estratégia de
emboscada e teve o menor número de investidas. A diferença de estratégia de forrageio de H.
unitaeniatus, observada nas filmagens, pode ter levado a um consumo similar de M. forestii nas
diferentes densidades de macrófitas. As presas permaneciam em cardumes nas baixas
complexidades, pois esse tipo de formação fornece maior proteção contra o predador quando o
refúgio é pouco disponível. Em conclusão, tanto predadores quanto presas apresentam
modificações comportamentais que otimizam sua eficiência de predação e antipredação,
respectivamente.
Ecologia de Organismos
COMO UM CLIMA MAIS QUENTE AFETA O CRESCIMENTO SECUNDÁRIO DE UMA IMPORTANTE
ESPÉCIE ARBÓREA DO SUL DA MATA ATLÂNTICA?
Claudia Fontana1, Juliano Morales de Oliveira2, Gabriela Morais Olmedo3, Bruna Treviso Cenci4,
Tatiane Bertuzzi5, Arthur Ávila6, Daniela da Costa e Silva7
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7-Universidade do Vale do Rio do Sinos
Aquecimento global, dendrocronologia, floresta subtropical, mudanças climáticas
Conhecer a resposta de árvores ao clima é importante para inferir efeitos das mudanças climáticas
na biota. Araucaria angustifolia é uma espécie-chave em florestas de regiões montanas do sudeste
da América do Sul, ocorrendo geralmente num clima subtropical úmido com verões frescos. Nessas
condições, seu crescimento secundário responde a variações de temperatura, que induz à formação
de anéis anuais no lenho, cujas anomalias interanuais no outono precedente e no verão corrente
afetam negativamente seu incremento anual. Neste estudo, investigamos a resposta de crescimento
desta espécie a um clima mais quente, com intuito de inferir sobre respostas a mudanças climáticas.
Para tanto, analisamos a formação de anéis e sinais dendroclimáticos em árvores de A. angustifolia
cultivadas numa região de clima Cfa, e comparamos às respostas conhecidas para a espécie na
região de ocorrência natural (de clima Cfb). No campus central da UNISINOS (21ºS e 59ºW, 20m
a.n.m.) foram amostrados para análise dendrocronológica quatro indivíduos, crescendo isolados de
outras árvores e em solo bem drenado. Após a co-datação das séries de largura de anéis, tendências
ontogenéticas foram filtradas com funções de Spline Cúbico ajustadas a cada indivíduo. Para avaliar
a existência de anéis anuais e com sinal comum de crescimento entre árvores, a partir da correlação
entre árvores realizamos uma Análise de Componentes Principais, e teste de significância Bootstrap
do primeiro eixo. Sendo o eixo significativo, para avaliar sinais dendroclimáticos comparamos a
série média de crescimento com dados instrumentais históricos de temperatura média e
precipitação total, registrados mensalmente na região, através de Funções de Correlação com testes
de significância Bootstrap. As séries de anéis cobriram um período comum de 25 anos (1996-2015),
com correlação média rbar=0,34 e um eixo principal significativo na ordenação (61%, P=0,033). Os
sinais dendroclimáticos demonstraram respostas de crescimento positiva à temperatura de abril
prévia (r=0,55) e à precipitação de novembro (r=0,34) e março (r=0,35) correntes. Os resultados
sugerem que num cenário de aquecimento global, o crescimento de A. angustifolia na região seguirá
um ritmo sazonal de crescimento e com forte sinal comum entre árvores, mas com uma resposta
interanual diferenciada em relação ao presente, sendo favorecido pelo prolongamento do período
vegetativo no outono, porém mais sensível às baixas precipitações na primavera e outono.
Ecologia de Paisagem
OS EFEITOS DA DISTÂNCIA INTER-HABITAT, TIPO DE MATRIZ E DOS STEPPING STONES NA
CAPACIDADE DE DESLOCAMENTO DE UMA AVE ENDÊMICA DAS RESTINGAS FLUMINENSES
Amanda Quina Navegantes1, Renato Crouzeilles2, Henrique Rajão3, Rui Cerqueira4, Maria Lucia
Lorini5
1, 2, 4-Universidade Federal do Rio de Janeiro
3-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro-PUC-Rio
5-Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO
Conectividade funcional, Formicivora littoralis, fragmentação
A resposta dos indivíduos à configuração da paisagem e a sua capacidade de deslocamento na
matriz inter-habitat são vitais para aumentar a persistência da população através da conectividade
funcional. Neste estudos nós quantificamos os efeitos da distância inter-habitat,do tipos de matriz e
dos stepping stones sobre a probabilidade de deslocamento na matriz para Formicivora littoralis,
uma espécie de ave em perigo de extinção endêmica das restingas fluminenses, do estado do Rio de
Janeiro. Além disso, nós estimamos a distribuição estatística que melhor descrever a relação entre a
probabilidade de deslocamento na matriz e a distância inter-habitat em seis tipos de matriz (não
vegetada com e sem stepping stones, herbácea com e sem stepping stones, estrada não
pavimentada e pavimentada). A técnica do playback foi utilizada para estimular os indivíduos a se
deslocarem nestes tipos de matriz entre 153 pares de manchas de habitat na Restinga de
Massambaba, Rio de Janeiro, Brasil. A distância inter-habitat, o tipo de matriz e os stepping stones
afetaram fortemente a probabilidade de deslocamento na matriz para F. littoralis. O sucesso no
cruzamento da matriz foi negativamente relacionado com a distância entre as manchas de habitat e
positivamente relacionado com a presença de stepping stones, enquanto foi diferentemente afetado
pelos tipos de matriz. Os deslocamentos na matriz foram mais frequentes (> 16%) e maiores (>
13,4 m) nas matrizes com stepping stones do que sem estes elementos de conexão,
independentemente do tipo de matriz específico. Os stepping stones reduziram a distância entre as
manchas de habitat e aumentaram a similaridade entre a matriz e as manchas de habitat,
consequentemente aumentando a conectividade funcional. Nós sugerimos que os stepping stones
podem aumentar a permeabilidade da matriz para os deslocamentos de F. littoralis, e isso deve ser
considerado para orientar adequadamente ações efetivas de conservação e restauração de habitats.
WATERSHED AS THE OBSERVATIONAL SHAPE OF LANDSCAPES IN SPATIAL ECOLOGY
Edineusa P. dos Santos1, Victor G. Krepschi2, Tadeu Siqueira3, Sílvio F. B. Ferraz4
1,2,3-Universidade Estadual Paulista
4-Universidade de São Paulo
Elevation, EVI, regular polygons, spatial heterogeneity, watershed
Regular shapes are efficient to represent spatial patterns in two dimensions. Triangle, square and
hexagon are the most often used polygons into lattices in spatial ecology. However such shapes do
not consider the influence of a third vertical dimension that plays an important role in various
ecological processes (e.g., seed dispersal) and provides key insights into the understanding of
natural systems. In contrast to regular polygons, watersheds have natural boundaries that
comprise a vertical dimension and enclose processes, avoiding breaking them abruptly and missing
variation associated with them. In this context we analyzed whether watersheds are a more
appropriate shape to capture landscape heterogeneity than hexagons and squares. We selected two
landscape components, EVI and elevation, to compare the amount of variation captured by these
three shapes. We used LandSat and SRTM images to estimate EVI and elevation respectively.
Regular shapes and watersheds had the same mean area: 4 km2. Forty samples of each shape were
set randomly in the Corumbataí River Basin (1.700 km2 area), São Paulo State, Brazil. We checked if
EVI and elevation variances were homogeneous within shape types with a Levene`s test. We used
coefficient of variation as a measure of heterogeneity and compared these values among shape
types with an Analysis of Variance and post hoc Tukey HSD test. Variances were not homogeneous
within shape types either for elevation or EVI. However, variance for watershed shape was less
heterogeneous than either regular shape, for both landscape components. EVI heterogeneity was
similar among shape types, whereas elevation heterogeneity was higher in the watershed shape.
The main advantage of dealing with equal variance in watershed shapes is the potential
reproducibility in other landscapes and the comparativeness of landscape gradients of other
components associated with elevation, such as temperature, precipitation, soil moisture, nutrient
cycling and species turnover. Moreover, it is more likely that watershed shape harbor the entire
domain of processes and range of patterns included in its boundaries.
ANÁLISE DA ESTRUTURA DA PAISAGEM DA RESERVA BIOLÓGICA DAS ARAUCÁRIAS – PARANÁ,
BRASIL: SUBSÍDIOS AO PLANO DE MANEJO
Elisana Milan1, Dinameres Aparecida Antunes2, Isonel Sandino Meneguzzo3, Rosemeri Segecin
Moro4
1,2-Doutoranda PPG em Geografia, Universidade Estadual de Ponta Grossa
3-Professor Dr. PPG em Geografia, Universidade Estadual de Ponta Grossa
4-Pesquisadora Sênior PPG em Geografia, Universidade Estadual de Ponta Grossa
Ecologia da paisagem, fragmentação, floresta ombrófila mista, unidade de conservação
Compreendendo um dos maiores remanescentes de floresta com araucária com potencial de
conservação no bioma Mata Atlântica, os objetivos de criação da Reserva Biológica das Araucárias,
são garantir a conservação da Floresta Ombrófila Mista Montana e várzeas, além de propiciar
pesquisas científicas e desenvolver atividades de educação ambiental. Criada em 2006, possui
14.919 ha, localiza-se nos municípios de Imbituva, Teixeira Soares e Ipiranga (PR) e ainda não
possui um plano de manejo. Para tal, o processo de zoneamento será baseado não só na distribuição
de espécies, mas também na configuração de habitats e suas possibilidades de conexão. Portanto,
realizou-se a análise da estrutura da paisagem da REBIO visando gerar dados para o diagnóstico da
unidade de conservação e subsídios ao seu plano de manejo. Para isso, imagens ortorretificadas
SPOT 6 (2014), com 1,5 m de resolução espacial, foram tratadas no software ArcGis 9.3 e analisadas
nos softwares de análise de paisagem Guidos 1.3 e Fragstats 2.0. Observou-se que, na REBIO, 67%
da paisagem é ocupada pela classe floresta e 33% formam a matriz de várzeas e campos úmidos. A
paisagem florestal é composta por 149 fragmentos, na maioria de grandes proporções (média de
132 ha), com formato pouco complexo (SHAPE médio de 1,8), com grandes áreas nucleares (52%
da paisagem), o que reduz o efeito de borda (9,4%) e favorece a manutenção da biodiversidade. Os
fragmentos conectam-se entre si, seja por corredores efetivos ou pela pequena distância entre eles,
com uma média da distância do vizinho mais próximo de 70 m. A diversidade de paisagem SHDI foi
0,64 (numa escala entre 0 e 1) e a uniformidade de paisagem SHEI foi de 0,91 (num máximo de 1,0).
Os numerosos pequenos fragmentos, sem núcleo (ilhotas) ocupam apenas 0,25% da área, mas
cumprem possivelmente importante função como trampolins ecológicos ou refúgios, facilitando o
fluxo biológico na paisagem. Existe uma condição favorável à manutenção da biodiversidade devido
a configuração da paisagem. Sendo esta uma unidade de conservação de proteção integral, o
zoneamento e as ações de recuperação do plano de manejo devem ser orientados para a
manutenção destas características, coibindo o acesso e evitando ações ilegais como caça e corte de
árvores.
DADOS MICROCLIMÁTICOS E FLORISTICOS NA DEFINIÇÃO DE BORDA EM FRAGMENTOS DA
FLORESTA COM ARAUCÁRIA NO SUL DO BRASIL
Rosemeri Segecin Moro1, Amanda de Campos2, Elisana Milan3, Rodrigo Fernando Moro4, Ana Paolla
Protachevicz5
1,2,3,5-Universidade Estadual de Ponta Grossa
4-Fundação Araucária
Ecótonos, fragmentação, floresta ombrófila mista
As análises espaciais de paisagem exigem a definição de um buffer de borda no entorno de
fragmentos florestais para cálculos mais precisos de efetivas áreas para conservação - as áreas
núcleo. Para a Floresta com Araucárias, tipologia predominante nos planaltos do Sul do Brasil, os
poucos estudos efetuados, apenas de cunho qualitativo, preconizam valores de borda entre 30 e 50
metros. Estes setores, de borda e núcleo, devem receber tratamentos diferenciados nos estudos de
manejo de populações em função de supostas variações microclimáticas. Esta análise foi realizada
em quatro grandes fragmentos florestais na Reserva Biológica das Araucárias, no estado do Paraná,
de 14.919 hectares. Trata-se dos maiores remanescentes florestais na região, em estágio inicial e
médio de sucessão. Estabeleceu-se limites de borda comparando a flora arbórea nos setores ‘borda'
e ‘interior’, através de quadrantes em 21 transeções de 100 m (UTM 565803/7204052;
551186/7215796), com tomada de dados a cada 10m. Foram amostradas todas as árvores com
DAP ≥ 10 cm. Paralelamente, em cada ponto, mensurou-se luminosidade (lux), umidade relativa
(%) e temperatura do ar (Cº). Não foram observadas diferenças significativas entre os valores
microclimáticos ao longo de cada transecto (p<0,01), porém a análise de agrupamento por K-
médias para temperatura separou os primeiros 30m das demais extensões. Na análise
fitossociológica foram amostrados 840 indivíduos de 141 espécies, pertencentes a 40 famílias, mais
46 indeterminados. Até os 30 metros em relação a borda, na região de transição entre o ambiente
heliófilo e o ombrófilo, constatou-se a presença de espécies pioneiras e secundárias iniciais, além de
arvoretas heliófitas no sub-bosque. Dos 30 aos 50 metros, a taxa de ocupação de espécies pioneiras
foi reduzida drasticamente, sendo substituídas por espécies mesófilas. O grupo de espécies clímax
ciófilas apresentou tendência de maior frequência a partir de 60 a 70 m da borda. Embora os
parâmetros microclimáticos não apontassem variações significativas ao longo dos transectos, a
distribuição de espécies refletiu diferenças na organização da comunidade entre os dois setores
(p=0,022), com substituição de espécies ao redor dos 50-70 m da borda. Concluiu-se que esta pode
ser inferida com mais segurança através da heterogeneidade florística do que através da
parametrização microclimática.
Ecologia de Populações
ESTRUTURA POPULACIONAL E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE Butia catarinensis NOBLICK &
LORENZI EM ÁREAS DE ADENSAMENTO DA ESPÉCIE INFLUENCIADAS PELO MANEJO HISTÓRICO
EM SANTA CATARINA
Isabela Barasuol Fogaça1, Nivaldo Peroni2
1, 2-Universidade Federal de Santa Catarina
Arecaceae, demografia, distribuição espacial, manejo
Populações humanas ao longo do tempo têm manejado paisagens em que estão inseridas, alterando
a estrutura populacional de espécies úteis, como é o caso de plantas da família Arecaceae. No sul do
Brasil, a palmeira Butia catarinensis Noblick & Lorenzi é endêmica da restinga centro-sul de Santa
Catarina e vem sendo utilizada para fins alimentícios e manejada por comunidades litorâneas. Sua
distribuição se dá muitas vezes em agrupamentos chamados butiazais, consequência possível de
atividades de manejo agrícola itinerante (de corte e queima), pois há indícios de transplante de
indivíduos e influência no recrutamento da espécie. Objetivamos analisar a distribuição da
estrutura populacional e o recrutamento de B. catarinensis em áreas de maior adensamento. O
estudo foi realizado na restinga dos Areias da Ribanceira, Imbituba/SC, onde há registro de
atividades de manejo agrícola, juntamente com áreas de concentração de B. catarinensis. Foram
alocadas quatro parcelas (10x20 m) sistematicamente em duas áreas de maior adensamento,
caracterizadas com alta abundância de indivíduos adultos (mínimo de 30/200m2). Os indivíduos
foram localizados espacialmente na parcela, categorizados quanto ao seu estágio ontogenético
(adulto, juvenil, infantil e plântula) e medidos seu comprimento. A distribuição espacial dos
indivíduos foi analisada através do Índice de Morisita estandardizado e comparados com 1000
modelos nulos (contendo mínimo e o máximo valor de abundância observado dentre todos os
estágios ontogenéticos da área) por parcela/área. Foram medidos 2048 indivíduos, com média de
1.28 indivíduos/m2, nos quais 17% são adultos, 16% juvenis, 4% infantis e 63% plântulas. O
recrutamento de plântulas e infantis é de 4 indivíduos/adulto. O comprimento médio é de 1.19,
0.73, 0.50 e 0.22 m, respectivamente. O Índice de Morisita de ambas as áreas mostraram padrão
agrupado para plântulas, infantis e juvenis, igual aos modelos nulos (p>0.05). Em uma das áreas os
adultos apresentaram padrão uniforme e em outra área padrão agregado, mas com valores bem
diferentes do esperado ao acaso (p<0.05). Praticamente todas as áreas sofreram com a ação do fogo
recentemente, evidenciando restos de bainhas enegrecidas. Concluímos que a espécie apresenta
padrão agregado, principalmente no estágio de plântula e valores decrescentes conforme os
estágios tardios nas áreas adensadas, evidenciando uma forte competição intraespecífica, com
influência marcante do manejo das áreas.
EFEITO DO HABITAT E DA SAZONALIDADE NA DIETA DE GRUPOS DE ARIRANHAS NO PANTANAL
Caroline Leuchtenberger1, Marcelo Rheingantz2, Carlos André Zucco3, William Magnusson4,
Guilherme Mourão5
1-Instituto Federal Farroupilha
2, 3-Universidade Federal do Rio de Janeiro
4-Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia
5-Embrapa Pantanal
Forrageamento ótimo, latrinas, piscívoro, Pteronura brasiliensis
Ariranhas são carnívoros piscívoros e em geral vivem em ambientes sazonalmente inundáveis. No
Pantanal, uma população de ariranhas parece ter atingido sua capacidade de suporte e alguns
grupos habitam lagos artificiais, considerados ambientes sub-ótimos para a espécie. Neste estudo
buscamos comparar a composição da dieta e o tamanho de presas consumidas por grupos de
ariranhas que vivem em rios e lagos ao longo das estações no Pantanal do Mato Grosso do Sul. Entre
junho de 2008 e junho de 2011 monitoramos 17 grupos de ariranhas nos rios Vermelho, Miranda e
Negro e em baías e lagos artificiais próximos a estes rios. Coletamos fezes frescas em latrinas e
posteriormente triamos, identificação e medimos estruturas ósseas das presas. Estimamos o
tamanho e identificamos as presas a partir de uma coleção de referência de peixes coletados na
área de estudo. As frequências de ocorrência e relativa das presas foram estimadas por estação e
habitat. Aplicamos uma ordenação indireta da composição da dieta por meio de um nMDS e o efeito
da sazonalidade e do habitat foi testado com uma PERMANOVA com os escores da ordenação.
Testamos a diferença no tamanho de presas entre estações e habitats através de uma ANOVA de
dois fatores. Analisamos 136 amostras fecais, das quais 100% continham peixes, 20% Gastropoda,
11% Malacostraca, < 6% insetos, répteis e mamíferos. Hoplias foi a mais frequente em ambas
estações e habitats. Serrasalmus foi mais frequente em rios em ambas as estações. A ordenação das
amostras sugere que presas como jacarés, besouros e Poecilídeos foram associados a lagos e a
sazonalidade não agrupou as amostras claramente. Habitat (F1:132= 7.140, R2=0.05, p<0.01) e
sazonalidade (F1:132=2.880, R2=0.02, p<0.01) afetaram a dieta dos grupos, que foi mais
concentrada durante a estação seca. O tamanho das presas consumidas foi maior em rios do que em
lagos (F1:2=74.441, p=0.013) e não diferiu entre estações (F1:2=2.993, p=0.23). A maior frequência
de Hoplias e Serrasalmus parece estar associada à estratégia de forrageamento, com captura de
espécies sedentárias e distribuídas em manchas. A menor disponibilidade de presas durante a
estação chuvosa e a limitação de presas disponíveis em lagos fazem com que a espécie seja menos
seletiva ao tipo e tamanho de presa consumida, como esperado para um predador oportunista.
Lagos artificiais podem representar uma alternativa para aumentar a disponibilidade de habitat
para populações em ações de manejo e conservação.
VARIAÇÃO INTRAESPECÍFICA DE ATRIBUTOS FUNCIONAIS FOLIARES DE ESPÉCIES VEGETAIS AO
LONGO DE UM GRADIENTE DE ELEVAÇÃO
Gilbevan Ramos de Almeida1, Sérgio de Faria Lopes2
1, 2-Universidade Estadual da Paraíba
Atributos foliares, gradiente de elevação, plasticidade fenotípica, serras do semiárido
A importância da variabilidade intraespecífica nos atributos funcionais de plantas para a
estruturação de comunidades e direcionar os processos ecossistêmicos é cada vez mais
reconhecida embora, muitas vezes, ignorada e subestimada. Considerada, genericamente, como
uma variação dentro de uma espécie, a variação intraespecífica compreende à diferentes níveis
biológicos, tais como dentro e entre populações. Mudanças na variação intraespecífica nos atributos
funcionais de plantas podem refletir diferentes mecanismos, por exemplo, gradientes climáticos e
de recursos, históricos de perturbação, particionamento de nicho, gradientes de elevação,
interações entre as espécies e entre outros. Considerando ainda, que está variação pode ocorrer
devido à adaptação as condições locais e a plasticidade dos atributos observados, este estudo teve
como objetivo avaliar a plasticidade dos atributos funcionais de plantas em nível intraespecífico ao
longo de um gradiente de elevação, a partir da seguinte hipótese: a formação de diferentes
microhabitats com características ambientais especificas juntamente com o turnover de espécies ao
longo da elevação modulam a plasticidade funcional das espécies coexistentes. O estudo foi
realizado na Serra de Bodocongó, município de Queimadas, Paraíba, Brasil. A partir de dados
estruturais da vegetação, foram selecionadas três espécies de maior representatividade, Croton
blanchetianus Baill, Poincianella pyramidallis (Tul.) L. P Queiroz e Aspidosperma pyrifolium Mart.,
juntas sumarizaram 30% da biomassa total da área estudada. Foram mensurados quatros atributos
foliares comumente utilizados: espessura foliar (EF), área foliar (AF), área foliar especifica (AFE) e
conteúdo de matéria seca foliar (CMSF). Foram utilizadas regressões lineares para avaliar a
plasticidade dos atributos foliares em resposta ao gradiente de elevação. P. pyramidallis foram
obtidas relações significativas e positivas para AF (r=0,27; p<0,05) e AFE (r=0,37; p<0,02) e
negativa para EF (r=0,28; p<0,05). A. pyrifolium obteve-se relações negativas para AF (r=0, 17;
p<0,03) e AFE (r=0,23; p<0,01) e negativa para CMSF (r=0, 45; p<0,01). Não houve respostas
significativas para nenhum dos atributos analisados para C. blanchetianus. Os resultados
divergentes entre as espécies em relação a altitude demonstram que essa variação, possivelmente
deve-se a plasticidade do atributo, fatores bióticos e especificidade de cada espécie.
VARIAÇÕES INTERESPECÍFICAS NOS DESLOCAMENTOS REPRODUTIVOS EM ESPÉCIES
MIGRADORAS NEOTROPICAIS NO ALTO PANTANAL
Rafaela Giacomel Rauber1, Anielly Galego Oliveira2, Harumi Irene Suzuki3, Angelo Antonio
Agostinho4
1, 2, 3, 4-Universidade Estadual de Maringá
Ciclo de vida, desova, índice de atividade reprodutiva, migração, peixes
A identificação de habitats críticos ao ciclo de vida dos peixes, especialmente as áreas de desova de
espécies migradoras, tem alta relevância na prevenção e mitigação de impactos de represamentos.
Nesse estudo são avaliados gradientes longitudinais nos valores do Índice de Atividade
Reprodutiva (IAR), que congrega informações sobre frequência de fases de desenvolvimento
gonadal, peso da gônada e tamanho amostral para identificar deslocamentos populacionais para
reprodução de 18 espécies Neotropicais consideradas migradoras pela literatura. As amostragens
foram realizadas entre março/2000 e abril/2004, em oito pontos ao longo de 450 000m do rio
Cuiabá-Manso, entre o alto Pantanal (município de Barão de Melgaço-MT) e a barragem da
hidrelétrica de Manso, utilizando um esforço de pesca padronizado com redes de espera, rede
tresmalho e espinhéis. Após biometria, as gônadas foram pesadas e as fases de desenvolvimento
identificadas, sendo estimado o IAR para cada e local. Foram analisadas dezoito espécies tidas como
migradoras. Para a maioria das espécies (11 espécies) os maiores valores de IAR foram registrados
na região de confluência dos rios Manso e Cuiabazinho, que formam o rio Cuiabá. 8 espécies
Hemisorubim platyrhynchos, Leporinus obtusidens, Pseudoplatystoma corruscans, Pseudoplatystoma
reticulatum, Prochilodus lineatus, Pimelodus maculatus, Raphiodon vulpinu], Sorubim lima, Piaractus
mesopotamicus, Pimelodus ornatus e Pterodoras granulosus. Brycon hilarii], Salminus brasiliensis e
Zungaro zungaro apresentaram o maior valor de IAR imediatamente à jusante da barragem de
Manso, indicando que estas espécies ainda buscavam trechos mais altos da bacia para a desova.
Oxydoras kneri e Leporinus macrocephalus apresentou o maior valor de IAR em ponto intermediário
amostrado do rio Cuiabá. Já Pinirampus pirinampu teve maior IAR no rio Cuiabá, região do pantanal
e suas baías, indicando que esta espécie não necessita deixar a área do pantanal para sua
reprodução. Os resultados obtidos indicam que as espécies consideradas na literatura como
migradoras apresentam diferentes distâncias de deslocamento, sendo que algumas reproduzem
nos trechos de planície ou pouco acima, enquanto a maioria busca pontos altos da bacia em seus
movimentos reprodutivos. Mostram ainda que a identificação de gradientes espaciais nos valores
de IAR é uma ferramenta útil para inferir sobre os locais de desova e as migrações reprodutivas.
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA SOBRE O TAMANHO DE ESPÉCIES FITOPLANCTÔNICAS: ESTUDO
DE CASO EM LAGOS DE INUNDAÇÃO TEMPERADO E TROPICAL
Patrícia Iatskiu1, Luzia Cleide Rodrigues2
1, 2-Universidade Estadual de Maringá
Bergmann, intraespecífico, microalgas, tamanho
Teorias sobre temperatura e tamanho do corpo, como a regra de Bergmann, predizem que os
organismos são menores em maiores temperaturas. Este estudo avaliou a existência de diferenças
entre os tamanhos intraespecíficos de espécies fitoplanctônicas em uma variação de temperatura
de aproximadamente 10 ºC. Hipotetizamos que menores tamanhos serão encontrados em maiores
temperaturas. Foram analisados indivíduos de dois lagos, um situado em região temperada, na
planície de inundação do rio Illinois - EUA (40°20'46.14" N e 90°01'29.56"W) e outro em região
subtropical, na planície de inundação do alto rio Paraná - BR (22o43’S e 53o17’W). Os organismos
fitoplanctônicos e as variáveis ambientais foram amostrados trimestralmente durante os anos de
2008 a 2012 nos dois lagos (n=40). Foram obtidas as dimensões morfométricas de no mínimo 10
indivíduos das espécies frequentes e abundantes em cada ambiente, selecionadas por meio de uma
análise de valor indicador (INDVAL). Foram realizadas correlações de Spearman entre o tamanho
de cada espécie de cada lago e as respectivas variáveis ambientais de cada lago. As diferenças entre
os tamanhos intraespecíficos foram testadas utilizando o teste de Kruskal-Wallis (p<0.05). Foi
observada variabilidade no tamanho intraespecífico das espécies dentro de cada lago. Foram
verificadas diferenças significativas de tamanhos intraespecíficos entre os lagos apenas para
Cryptomonas marssonii Skuja, Monoraphidium tortile West & G.S. West, Euglena acus (O.F.Müller)
Ehrenberg e Pediastrum duplex Meyen. Nossa hipótese foi aceita apenas para C. marssonii e M.
tortile, que apresentaram menores dimensões no ambiente com maior temperatura sendo que para
E. acus e P. duplex ocorreu o inverso do esperado, com menores dimensões em temperaturas baixas.
Os tamanhos de M. tortile e E. acus foram diretamente correlacionados com oxigênio dissolvido,
turbidez e condutividade elétrica. A ausência de correlação significativa com a temperatura e a
correlação com outras variáveis ambientais sugere que as diferenças de tamanho intraespecíficas
podem estar associadas a variabilidade ambiental dentro de cada lago.
ANÁLISE DAS POPULAÇÕES DE UXI-AMARELO (Endopleura uchi) HUMIRIACEAE SOB EFEITO DE
FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA CENTRAL UTILIZANDO SÉRIES TEMPORAIS
Simone Benedet Fontoura1, Lucas Del Bianco Faria2, José Luís Campana Camargo3
1, 2-Universidade Federal de Lavras
3-Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Árvores de dossel, modelos ARMA, Uxizeiro
As florestas têm diminuído sua cobertura em todo planeta, sendo a fragmentação destes
ecossistemas uma das consequências desta perda. Neste estudo utilizamos séries temporais para
propor um modelo descritivo da dinâmica populacional da espécie E. uchi sob efeito de
fragmentação florestal na Amazônia central. Utilizamos um banco de dados de 24 anos, o qual
monitorou amostra de indivíduos >10 cm DAP em parcelas de 1 ha em fragmentos de diferentes
tamanhos: 1 ha (4 parcelas), 10 ha (17 parcelas), 100 ha (18 parcelas) e floresta contínua (26
parcelas). Utilizamos a classe de modelos ARMA. A população de uxizeiros presente nos fragmentos
de 1 ha apresentou-se constante ao longo do tempo. As populações presentes em todos tamanhos
de fragmentos apresentaram tendência a declínio, e na floresta contínua apresentou declínio ao
longo de uma década, com uma tendência a novamente aumentar nos últimos 9 anos. As
populações nos fragmentos de 10 ha tiveram ajuste linear (R2=0.55), bem como nos de 100 ha
(R2=0.79). As populações presentes na floresta contínua apresentaram uma tendência linear
(R2=0.61) e o melhor ajuste de modelo foi de um auto-regressivo de ordem 1 (1,1,0). Conclui-se
que nos fragmentos há um real declínio das populações e na floresta há um ciclo iminente
configurado na tendência dos últimos anos. No entanto, é possível que nos fragmentos também
estejam ocorrendo ciclos, e que os mesmos fiquem mais claros com mais anos de monitoramento
em árvores longevas.
Ecologia Evolutiva
DINÂMICA MACROEVOLUTIVA DE EQUIDAE (MAMMALIA) E RESPOSTA DA DIVERSIFICAÇÃO A
MUDANÇAS NA VEGETAÇÃO
Rodolfo Pereira Graciotti¹, Mathias Mistretta Pires², Tiago Bosisio Quental³
1, 2, 3-Universidade de São Paulo
C4, especiação, extinção, fóssil, gramíneas
A diversidade de espécies resulta do balanço entre as taxas de especiação e extinção que podem ser
estimadas a partir do registro fóssil. Especiação e extinção são influenciadas tanto por processos
geológicos, como vulcanismo, quanto ecológicos, como interações bióticas. Uma das linhagens de
mamíferos mais bem representadas no registro fóssil é a família Equidae, e apesar de diversos
estudos abordarem questões relacionadas à evolução morfológica da linhagem em resposta a
mudanças no clima e vegetação, pouco se sabe sobre a dinâmica das taxas de diversificação do
grupo. Investigamos a diversificação da família Equidae na América do Norte e das duas principais
subfamílias, Equinae e Anchitheriinae, usando dois diferentes métodos. Um desses métodos é
baseado na longevidade de táxons e contagem daqueles que cruzam os limites de estágios
estratigráficos. O segundo é um método Bayesiano no qual distribuições de probabilidades são
estimadas para as taxas de especiação e extinção levando em conta a preservação dos táxons no
registro fóssil. Os padrões de diversificação encontrados usando os dois métodos são de maneira
geral semelhantes. A taxa de diversificação da família desde sua origem há 55 milhões de anos se
manteve relativamente constante até o período Mioceno, por volta de 20 milhões de anos atrás,
quando houve um aumento e subsequente queda na especiação. Durante o Plioceno, a 5 milhões de
anos atrás, há outro período de mudança nas taxas, com um aumento significativo da extinção. O
declínio de Anchitheriinae ocorreu em função de um sensível aumento na taxa de extinção. Os
resultados sugerem que a diversificação da família foi moldada principalmente pela dinâmica de
Equinae, contribuindo com o aumento da especiação no Mioceno e extinção no Plioceno. Táxons
desse grupo possuem morfologia adaptada a ambientes abertos e consumo de gramíneas (dentição
hipsodonte), enquanto Anchitheriinae possui morfologia que sugere uso de ambientes florestais e
dieta menos especializada. As causas ecológicas para o aumento na especiação de Equinae
provavelmente estão relacionadas à expansão de habitats dominados por paisagens abertas que
surgiram no Mioceno. Historicamente a diversificação e expansão da distribuição de plantas C4, que
dominam paisagens abertas atuais, foi associada à diversificação morfológica de Equidae.
Entretanto, como a diversificação de C4 ocorreu somente no Plioceno, seu efeito poderia estar
relacionado ao aumento da extinção de Equinae.
EVOLUÇÃO DE CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS E DIVERSIFICAÇÃO EM RUMINANTIA
(MAMMALIA)
Matheus Januario Lopes de Sousa1, Tiago Bosisio Quental2
1, 2-Universidade de São Paulo
Armamentos, macroevolução, Moschidae, seleção sexual, Tragulidae
A seleção sexual é vista como uma importante força evolutiva, responsável pelo surgimento de
caráteres sexuais secundários. A extravagância dessas estruturas normalmente carrega algum tipo
de informação funcional, e possivelmente custos relacionados à sobrevivência de seus portadores.
As abordagens tradicionais consideram estes custos no nível do indivíduo, mas as consequências
macroevolutivas associadas a este tipo de caráter ainda são pouco conhecidas. Neste trabalho
utilizamos um modelo de diversificação dependente de caráteres (BiSSE) para avaliar o impacto da
evolução de um caráter sexual secundário (um canino conspícuo que alguns ruminantes usam em
disputas entre machos) na diversificação de linhagens de ruminantes. Baseado na filogenia e em
dados de presença/ausência de caninos, o modelo estima uma possível associação entre as taxas de
especiação, extinção e transição à presença ou ausência do caráter em questão. Nossa análise indica
que a presença de caninos ligados à seleção sexual não influencia a especiação entre linhagens, mas
pode estar associada a maiores taxas de extinção. Linhagens que apresentam caninos possuem
taxas de diversificação líquida menores do que linhagens sem o canino, e possivelmente negativas.
Nossos resultados mostram que a seleção sexual pode impactar níveis de organização biológica que
vão além do indivíduo, podendo explicar alguns padrões da biodiversidade atual de Ruminantes.
ANÁLISE EVOLUTIVA E ECOLÓGICA DA RELAÇÃO PARASITA-HOSPEDEIRO EM MONOGENEA
(PLATYHELMINTHES) PARASITAS DE TETRAGONOPTERINAE (CHARACIDAE: CHARACIFORMES)
Eloiza Muniz Capparros1, Ricardo Massato Takemoto²
1, 2-Universidade Estadual de Maringá
Ictioparasitologia, monogenéticos, relações ecológicas, relações evolutivas
Parasitas e seus hospedeiros se relacionam de diferentes maneiras: alguns parasitas são
considerados generalistas e se associam a hospedeiros que apresentam parentesco evolutivo
distante; enquanto parasitas especialistas estão adaptados apenas ao recurso encontrado em uma
única espécie de hospedeiro. Monogenea é uma das classes mais abundantes de parasitas de peixe
e, historicamente, apresenta espécies bastante especialistas. Assim, objetiva-se investigar as
relações entre peixes (hospedeiros) e monogenéticos (parasitas), para esclarecer a ocorrência de
uma espécie de parasita em hospedeiros de espécies diferentes. Os hospedeiros Moenkhausia
dichroura e Astyanax asuncionensis foram coletadas no Pantanal do Mato Grosso do Sul; Astyanax
altiparanae, Moenkhausia forestii e Moenkhausia aff. intermedia, foram coletadas na Planície de
Inundação do Alto Rio Paraná. Os monogenéticos recorrentes em mais de uma espécie de
hospedeiro foram morfologicamente identificados. Para a análise dos dados, foi utilizados o Índice
de Especificidade de Hospedeiros de Poulin e Mouillot (STD), que calcula a distância filogenética ou
taxonômica média entre hospedeiros que albergam o mesmo parasita e é inversamente
proporcional ao grau de especialidade do parasita. Dentre as espécies de Monogenea encontradas,
Palombitrema spp. 1, 2 e 3 foram identificadas e consideradas aqui espécies novas, apresentando
alta especificidade de hospedeiros, mas baixa plasticidade fenotípica (STD = 0, para cada espécie).
Anacanthocotyle anacanthocotyle (STD = 1,67) e Gyrodactylus sp. n. (STD = 2,00) foram encontradas
parasitando A. altiparanae e M. forestii. Assim, notam-se diferenças quanto à plasticidade fenotípica
(Ecological fitting), pois as espécies do gênero Palombitrema são mais especialistas e apresentam
menor plasticidade fenotípica do que A. anacanthocotyle e Gyrodactylus sp, espécies que parasitam
hospedeiros de espécies diferentes.
ESTRATÉGIAS DIFERENTES DE OVIPOSIÇÃO EM ANURA AFETAM A TAXA DE DIVERSIFICAÇÃO EM
ESCALA GLOBAL
Rudá Emanuel Egidio Pereira1, Renattho Nitz Oliveira2, Mauricio Osvaldo Moura3
1, 2, 3-Universidade Federal do Paraná
Anura, diversificação, modos reprodutivos, TCH, padrões globais
Os anuros apresentam uma das maiores diversidades de modos reprodutivos entre os vertebrados.
Cada modo é uma reunião de várias características da história de vida, entre elas o local de
oviposição e a existência de fase larval. Os modos de reprodução terrestre, em que os ovos são
depositados fora d’água, podendo existir fase larval ou ocorrer por desenvolvimento direto,
predominam nas regiões tropicais. A diversidade de espécies de anuros é também bastante
expressiva e está desigualmente distribuida entre as regiões do planeta, com os trópicos
concentrando a maior parte das espécies. É importante notar entretanto, que a origem do grupo se
deu nas regiões temperadas, contrariando a hipótese de conservantismo tropical (TCH). Seria o
modo reprodutivo terrestre um dos responsáveis por esse aumento de diversificação? O objetivo
deste trabalho é comparar as taxas de diversificação entre os anuros de reprodução aquática (ARA)
e terrestre (ART). Para tanto, foram registradas as informações sobre os modos reprodutivos
disponíveis nos bancos de dados da IUCN e AmphibiaWeb, além de utilizar a literatura para os
casos necessários, de 2753 espécies de anuros presentes na filogenia mais completa disponível. As
análises das taxas de diversificação foram realizadas utilizando o pacote Diversitree disponível para
o ambiente R. Algumas espécies cujas informações não estavam disponíveis foram incluídas na
análise, sendo suas características inferidas a partir da filogenia. O modelo com taxas de especiação
heterogêneas diferiu do modelo com uma única taxa de especiação (p = 0.045). A taxa de especiação
para o conjunto de reprodução aquática foi λ = 0.043, maior do que para reprodução terrestre (λ =
0.040). As taxas de extinção foram as mesmas. Portanto, o surgimento do ovo terrestre não parece
ter sido um fator de contribuição para a maior taxa diversificação de Anura nos trópicos. Contudo, a
diversificação dos conjuntos de ARA e ART nos trópicos podem apresentar uma tendência contrária
ao padrão global. Para testar essa hipótese, as análises devem ser controladas pela região
geográfica, comparando os ARA e os ART exclusivamente tropicais.
Ecologia Filogenética
A INFLUÊNCIA DE MÚLTIPLOS GRADIENTES AMBIENTAIS NA ESTRUTURAÇÃO FILOGENÉTICA
DAS ASSEMBLEIAS DE PEIXES RECIFAIS
Júlia Nunes de Souza1, Juan Pablo Quimbayo Agreda2, Mariana Bender3, Sergio Floeter4
1, 2, 3, 4-Universidade Federal de Santa Catarina
Distância do centro de biodiversidade, domínios biogeográficos, isolamento, peixes recifais,
temperatura
Os peixes recifais estão entre os mais diversos grupos de vertebrados, ocorrendo ao longo de
amplos gradientes (geográficos e ambientais) nos oceanos tropicais. Neste estudo avaliamos a
influência de processos histórico-evolutivos e ecológicos na estruturação filogenética das
assembleias de peixes recifais em diferentes domínios biogeográficos: Indo-Pacífico e Atlântico.
Utilizamos filogenias de três famílias (Labridae, Pomacentridae e Chaetodontidae), associadas a
dados de abundância provenientes de censos visuais para 98 locais (50 no Indo-Pacífico; 48 no
Atlântico). Ainda, selecionamos como variáveis ambientais, a distância do centro de biodiversidade
(CB), a temperatura superficial mínima do oceano, a área recifal, a riqueza de corais e o grau de
isolamento. A inferência da estrutura filogenética foi obtida por meio do cálculo dos índices NRI e
NTI, e estes foram relacionados às variáveis ambientais por meio de análises de regressão múltipla.
Aqui, apresentamos os resultados referentes ao NTI, por este ser mais sensível a eventos históricos
recentes, quando comparado ao NRI. Para a família Labridae, os valores de NTI revelaram um
padrão de dispersão filogenética das assembleias no Caribe e de agrupamento na costa brasileira,
padrões associados tanto ao isolamento quanto à temperatura (R2=0,39). No Indo-Pacífico, a
estrutura filogenética foi agrupada nos locais mais próximos ao CB, e relacionada à temperatura e
riqueza de corais (R2=0,24). No Atlântico, ao contrário de Labridae, a estrutura de Pomacentridae é
agrupada no Caribe, e ao longo da costa brasileira a estrutura é caracterizada por dispersão
filogenética. Mais uma vez, isolamento e temperatura foram fatores importantes na estruturação de
assembleias deste domínio (R2=0,54). No Indo-Pacífico, foram identificados padrões de
agrupamento filogenético em locais com maior riqueza de corais (Polinésia Francesa e Nova
Caledônia), sendo a área recifal e a distância do CB associadas a este padrão (R2=0,12). No
Atlântico, a família Chaetodontidae revelou padrão semelhante ao identificado para Pomacentridae,
sendo a estrutura agrupada no Caribe e dispersa no Brasil, explicada por isolamento e temperatura
(R2=0,66). No Indo-Pacífico, a estrutura filogenética agrupada apareceu em locais isolados e
distantes do CB (R2=0,53). Nossos resultados revelam a importância de fatores
históricos/regionais (p.ex. distância do CB) e de fatores locais (p.ex. temperatura) na estruturação
das assembleias de peixes recifais.
COMUNIDADE DE PLANTAS HERBÁCEAS EM UM GRADIENTE DE PRECIPITAÇÃO E PERTURBAÇÃO
ANTRÓPICA CRÔNICA NA CAATINGA
Ligia de Almeida Fernandes Vieira1, Valdecir da Silva Junior2, Luiz Gustavo Rodrigues Souza3,
Bráulio Almeida Santos4
1, 2, 3-Universidade Federal de Pernambuco
4-Universidade Federal da Paraíba
Diversidade e estrutura filogenética, filtros ambientais, florestas tropicais sazonalmente secas,
mudanças climáticas, perturbação crônica
Perturbações crônicas como exploração madeireira e pastejo de bovinos e caprinos podem levar a
um empobrecimento taxonômico e filogenético de comunidades vegetais. As Florestas Tropicais
Sazonalmente secas são os ecossistemas mais impactados pelas perturbações crônicas e em um
cenário global de mudanças climáticas é também o mais vulnerável a secas severas. O objetivo
deste estudo foi avaliar os efeitos da perturbação crônica e precipitação na comunidade de plantas
herbáceas numa área de Caatinga no estado de Pernambuco. Foram distribuídas 100 subparcelas
de 1 m2 ao longo do gradiente de precipitação e perturbação antrópica, sendo 5 subparcelas
distantes 10 m entre si por parcela. Para cada subparcela foram identificados e contabilizados
todos indivíduos herbáceos para o cálculo de abundância, riqueza e das métricas filogenéticas:
distância média par a par (MPD), que dá um valor geral da estrutura da comunidade e o índice de
parentesco líquido (NRI), que é a diferença entre a distância filogenética média observada e a
distância filogenética no modelo nulo dividido pelo desvio padrão da distância filogenética do
modelo nulo. Valores positivos de NRI indicam que as espécies são mais próximas
filogeneticamente que o esperado ao acaso, e valores negativos indicam que as espécies são mais
distantes filogeneticamente. A intensidades de perturbação antrópica de cada área foi aferida
através de um índice baseado na densidade de fezes de caprinos e bovinos, no comprimento das
trilhas feitas por bode, na quantidade de árvores cortadas, no volume de serapilheira, na
proximidade de estradas, proximidade ao vilarejo mais próximo, densidade de pessoas, caprinos e
bovinos. Os totais pluviométricos de cada área foram obtidos através da plataforma BIOCLIM.
Usamos modelos lineares para testar se as métricas filogenéticas relacionam-se negativamente com
os distúrbios crônicos e positivamente com a precipitação. Foram encontradas 58 espécies de
plantas herbáceas distribuídas em 24 famílias e 51 gêneros botânicos. As famílias mais
representativas foram Euphorbiaceae, Fabaceae, Malvaceae e Rubiaceae com 5 espécies cada;
seguida de Poaceae com 4 espécies. O MPD relacionou-se positivamente com precipitação e
perturbação. O NRI relacionou-se negativamente com perturbação e precipitação indicando que as
comunidades de plantas herbáceas da Caatinga são filogeneticamente mais dispersas do que o
esperado ao acaso.
Ecologia Funcional
PREDIÇÃO DE COMUNIDADES DE RESTAURAÇÃO BASEADO NO ECOSSISTEMA DE REFERÊNCIA
USANDO UMA ABORDAGEM FUNCIONAL: FERRAMENTA PARA MONITORAMENTO
Milena Fermina Rosenfield1, Sandra Cristina Müller2
1, 2-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Atributos funcionais, ecologia funcional, floresta subtropical, regeneração natural, trait-based model
A restauração ecológica deve focar, não apenas na composição de espécies, mas também nas
funções ecológicas que atuam no ecossistema, espelhando as características do sítio de referência.
Nesse contexto, dado que os atributos funcionais das plantas influenciam nos processos
ecossistêmicos e nas interações bióticas, eles podem ser utilizados na avaliação da recuperação da
vegetação. Modelar a composição de espécies baseado nos atributos das espécies existentes
permite fazer predições sobre comunidades futuras. Assim, com o objetivo de aumentar a
semelhança funcional com o ecossistema de referência, foi aplicado um modelo baseado em
atributos funcionais para avaliar o quão distante comunidades em restauração estão de seus sítios
de referência. O modelo prediz abundâncias relativas das espécies encontradas nos sítios de
restauração, tendo como alvo a composição funcional do ecossistema de referência. Foi realizado
levantamento das árvores do dossel (adultos) e do sub-bosque (regeneração natural), nas áreas de
restauração (com cerca de 10 anos de idade) e nas de referência em duas localidades no sul do
Brasil, para obter informações quanto à composição e abundância relativa das espécies. A
composição funcional foi baseada nos atributos foliares das espécies levantadas. A predição pelo
modelo foi aplicada em dois conjuntos de dados: um baseado nas espécies existentes no dossel e
outro nas espécies do sub-bosque. Encontramos diferenças na composição funcional entre
restauração e referência, indicando que as espécies que compõe o dossel dos sítios de restauração
ainda não estão semelhantes ao esperado pela referência. Os processos ecossistêmicos
influenciados pelos diferentes atributos nas áreas de restauração podem não estar atuando como
esperado, baseado nos valores observados no ecossistema de referência. Tanto a comunidade
observada no sub-bosque, quanto à comunidade predita do sub-bosque se mostraram mais
semelhantes à referência do que a comunidade do dossel. Isso indica que as espécies que se
estabeleceram pós-plantio podem apresentar uma composição funcional mais semelhante ao
ecossistema de referência do que as espécies plantadas. A possibilidade de predizer comunidades
baseado nos seus atributos funcionais surge como uma ferramenta para o monitoramento de áreas
de restauração, uma vez que pode indicar possíveis trajetórias de recuperação e semelhanças com o
ambiente de referência no que diz respeito à composição funcional entre as comunidades.
ASSOCIATION BETWEEN DISPERSAL AND PERSISTENCE TRAITS OF UNDERSTORY SPECIES AND A
TOPOGRAPHICAL GRADIENT IN A TROPICAL PLANT COMMUNITY
Renan Köpp Hollunder1, Karlo Gregório Guidoni Martins2, Jaquelini Luber3, Mário Luís Garbin4,
Tatiana Tavares Carrijo
1, 2, 4-Universidade Federal do Espírito Santo
3-Universidade Vila Velha
Community assembly, environmental gradients, plant traits, tropical forest
Trait-based ecology allows linking niche mechanisms to community dynamics. Plant traits vary
across environmental gradients and respond to biotic interactions. In our study, we used a trait-
based approach to ask the following question: How does the topographical gradient explain
patterns of plant functional traits? We excepted that dispersal and persistence traits vary along
topographical gradient. The study was conducted in Mata das Flores State Park, an Atlantic Forest
plant community, in southeast Brazil. We sampled 50 plots (10 m x 10 m) distributed in pairs. The
distance among plots in a pair was 10 m and the distance among plot pairs was between 20 m and
25 m. The sampling design covers a topographical gradient of 750m (elevation varying between
100 to 180 m). In each plot, all individuals with 1cm≤DHB≤10 cm were sampled. The 20 most
abundant understory species were selected for trait measurements. A matrix with dispersal and
persistence traits per species was build based on literature. Two matrices were used in the
analysis: one with relative abundance of species per plot, and another with traits per species. We
ran a principal coordinate analysis (PCoA) and a community-weighted mean (CWM). Furthermore,
a canonical correspondence analysis (CCA) and an indicator species analysis was performed
between the CWM and topographical variables. All analyses were carried out in the R environment.
The dominant species differed from subordinate and transient species in their dispersal
syndromes. All dominant species were autochorous. The functional structure of dispersal and
persistence were associated with topographical variation in this plant community. The CCA (P=
0.006; CCA1= 61.7%; CCA2= 38.3%) showed that zoochorous species tended to occur in valleys,
while autochorous and anemochorous species tended to occur in slopes and hilltops. The indicator
species analysis showed that anemochorous dispersal (P= 0.005), dioecy (P= 0.002) and
compressed seed (P= 0.006) were associated with hilltops and slopes. Hilltops and slopes present
features (discontinuous canopy and winds) that seems to favor autochorous and anemochorous
species. Therefore, the functional structure of dispersal and persistence traits vary along
topographical gradient in this Atlantic Forest remnant. This suggest that environmental filtering
has an important role in affecting dispersal and persistence traits in this plant community.
(CNPq/FAPES).
IMPLICAÇÕES DO GRADIENTE DE COBERTURA DE DOSSEL NA DISPERSÃO FUNCIONAL EM
FLORESTA TROPICAL
Jean Paulo Soares da Silva1, Lilian Sayuri Ouchi de Melo2, Michel Varajão Garey3
1, 3-Universidade Federal da Integração Latino-Americana
2-Universidade Estadual Paulista
Anfíbios, anuros, diversidade funcional, Mata Atlântica
Os anfíbios são, de maneira geral, animais ectotérmicos e com pele extremamente permeável. Tais
características lhes conferem grande dependência à ambientes com alta umidade e temperatura
como as florestas tropicais, sendo o gradiente de cobertura de dossel um fator crucial para a
distribuição das espécies de anuros. Além disso, a cobertura de dossel afeta diretamente a
produtividade e qualidade nutricional dos recursos alimentares ingeridos pelos anfíbios em estágio
larval. Isto posto, esperamos que tanto a distribuição da riqueza de espécies quanto à dispersão
funcional de girinos responda à variação no gradiente de cobertura de dossel em Mata Atlântica.
Amostramos girinos de maneira padronizada em 13 corpos d’água ao longo de um gradiente de
cobertura de dossel no Parque Nacional da Serra da Bocaina, Sudeste do Brasil. Quantificamos em
cada corpo d’água a riqueza de espécies e a dispersão funcional de oito atributos de resposta dos
girinos. A dispersão funcional é um índice multidimensional baseado na dispersão de múltiplos
atributos das espécies. Utilizamos a análise de regressão linear para avaliar a relação da cobertura
de dossel com a dispersão funcional e com a riqueza de espécies. Nós verificamos uma relação
negativa da dispersão funcional com a cobertura de dossel, ou seja, quanto menor a cobertura de
dossel maior a dispersão funcional de girinos em poças na Mata Atlântica. Contudo, a riqueza de
espécies não foi relacionada com a cobertura de dossel. Mesmo possuindo número de espécies
semelhantes, podemos inferir que as poças ao longo do gradiente de dossel abrigam conjunto de
espécies com atributos distintos. As poças com menor cobertura de dossel, de maneira geral,
apresentam maior produtividade e melhor qualidade nutricional dos recursos alimentares em
comparação a poças com maior cobertura dossel. Assim, poças com menor cobertura de dossel
abrigam uma maior a gama de espécies com diferentes atributos (alta dispersão funcional), devido
à maior produtividade e a exploração de recursos pelos girinos em diferentes partes do corpo
d’água. Concluímos, portanto, que a cobertura de dossel pode estar atuando como um filtro
ambiental para anfíbios anuros em poças de Mata Atlântica, uma vez que corpos d água com maior
cobertura de dossel apresentaram menor dispersão funcional.
EFEITOS INDIRETOS DA DIVERSIDADE SOBRE A DECOMPOSIÇÃO DE SERAPILHEIRA NA
FLORESTA ATLÂNTICA
Ricardo Augusto Camargo de Oliveira1, Renato Marques2, Márcia Cristina Mendes Marques3
1, 2, 3-Universidade Federal do Paraná
Ciclagem de nutrientes, complementaridade de nicho, efeito de massa, efeito de seleção, RAPELD
Um dos desafios na predição dos efeitos da biodiversidade no funcionamento ecossistêmico é a
compreensão do balanço entre a importância dos diversos componentes da diversidade e a
variação do ambiente. Se por um lado os efeitos diretos da diversidade (i. e. composição, qualidade)
na decomposição da serapilheira são relativamente bem conhecidos, os efeitos indiretos das
condições locais, compostas pela diversidade da comunidade local e do microambiente, são
raramente testados. A abordagem dos efeitos indiretos, bem como dos possíveis mecanismos que
explicam a relação entre diversidade e decomposição, são cruciais para a compreensão deste
processo. Neste estudo avaliamos os efeitos indiretos da diversidade sobre o processo de
decomposição de serapilheira na Floresta Tropical. Testamos em qual proporção que cada um dos
diferentes componentes (riqueza de espécies, composição funcional, diversidade funcional,
gradiente ambiental local) afetam indiretamente as diversas fases da dinâmica da decomposição de
serapilheira. Em área de Floresta Atlântica do sul do Brasil, realizamos um experimento in situ com
uso litterbags preenchidos com substrato padrão e avaliamos as taxas de decomposição (k) ao
longo de toda a dinâmica de decomposição (230 dias). Realizamos o levantamento taxonômico e
funcional da vegetação na área de influência do experimento de decomposição. Os nossos
resultados mostraram que existe efeito indireto da diversidade vegetal no processo de
decomposição de serapilheira e que este efeito ocorre tanto via diversidade taxonômica quanto via
diversidade e composição funcionais. O efeito indireto é mais pronunciado no início do processo de
decomposição e em maiores escalas e as influências dos diferentes componentes da diversidade e
dos mecanismos ecológicos (complementaridade de nicho, efeito de massa e efeito de seleção),
variam no decorrer do tempo. Assim, evidenciamos a importância da variação em pequena escala
do componente biótico no funcionamento ecossistêmico em floresta megadiversa e contribuímos
para a compreensão sobre os controles existentes no processo de decomposição, além daqueles
sugeridos pelos modelos teóricos clássicos (i.e. clima, composição da serapilheira e dos
decompositores).
DIVERSIDADE FUNCIONAL DE PLANTAS E ABELHAS EM ÁREAS DE RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA NA
FLORESTA ATLÂNTICA DO LITORAL NORTE DO PARANÁ, BRASIL
Caroline Ribeiro1, Gabryel Emed da Silva2, Leticia Yoshie Kochi3, Isabela Galarda Varassin4, Jana
Magaly Tesserolli de Souza5
1, 2, 5-Universidade Tecnológica Federal do Paraná
3, 4-Universidade Federal do Paraná
Polinização, reflorestamento, regeneração natural, sucessão, traços funcionais
Comunidades biológicas, após a ocorrência de distúrbios, passam por um processo de sucessão
ecológica. Seu restabelecimento pode ocorrer por regeneração natural ou por outros métodos de
restauração ecológica que visem acelerar esse processo. Métodos distintos podem conduzir a
diferenças na composição de espécies vegetais, com alteração na frequência de traços funcionais.
Estas mudanças, por afetarem a disponibilidade de recursos e características estruturais da
vegetação, podem alterar a comunidade de insetos polinizadores. Neste estudo foram comparados,
em termos funcionais, dois métodos de restauração ecológica (regeneração natural e
reflorestamento), além de áreas com diferentes idades (quatro e seis anos). O registro das
interações planta-polinizador foi realizado de set/2009 a abr/2011, em 12 parcelas de 14 m de
raio, distribuídas em duas reservas naturais no município de Antonina-PR. Foram levantados traços
funcionais para 87 espécies de abelhas e 59 espécies de plantas, sendo eles: tamanho do corpo,
largura da cabeça, socialidade, localização do ninho, vibração para obtenção de pólen, comprimento
da língua e amplitude fenológica do voo, para abelhas; e cor e formato da corola, deiscência da
antera, comprimento da floração e sistema sexual, para plantas. A diversidade funcional foi avaliada
através dos índices FEve, FRic, FDiv e FDis, no software R, pacote FD, e os resultados comparados
por teste t. Foi calculada a proporção de traços por método e por idade, para as abelhas
(indivíduos/espécies) e para as plantas (espécies). Não houve diferença significativa na diversidade
funcional entre os métodos de restauração, nem entre as idades das parcelas, para ambos os grupos
taxonômicos. No reflorestamento, houve maior proporção de indivíduos de abelhas solitárias, bem
como de espécies de plantas com flores amarelas e hábito arbustivo. Nas áreas com seis anos,
comparadas às com quatro, houve maior proporção de indivíduos de abelhas de língua longa e de
espécies de plantas arbóreas, e menor proporção de espécies de plantas herbáceas, com anteras
rimosas, corola tubular, flores brancas e unissexuais. A ausência de mudanças claras na diversidade
funcional está provavelmente relacionada à baixa diferença temporal entre as áreas avaliadas, ao
estágio sucessional inicial em que se encontram e à matriz altamente conservada do entorno.
EFEITOS DE HERBIVORIA SOBRE A DIVERSIDADE FUNCIONAL DE ALGAS PERIFÍTICAS: UMA
ABORDAGEM EXPERIMENTAL
Bárbara Dunck1, Ubirajara Lima Fernandes2, Diogo Castanho Amaral3, Taise Miranda Lopes4,
Natália Santana5, Liliana Rodrigues6
1, 2, 3, 4, 5, 6-Universidade Estadual de Maringá
Características funcionais, MPD, Moenkhausia sanctaefilomenae, peixes, zooplâncton
A diversidade funcional das algas perifíticas tem sido avaliada sob alguns fatores, porém ainda
inexistem padrões para o efeito da herbivoria sobre este atributo dessas comunidades. Assim, este
estudo objetivou avaliar de forma experimental a diversidade funcional de algas perifíticas sob
diferentes níveis de herbivoria por zooplâncton e peixes. Testamos a hipótese de que o tratamento
misto ao final do experimento apresentaria maior diversidade funcional, relacionada com a melhor
utilização dos recursos pelos herbívoros. Lâminas de vidro foram usadas como substrato artificial
para colonização prévia das algas por 28 dias em um lago de planície de inundação. Posteriormente
21 lâminas colonizadas foram inseridas em mesocosmos (aquários de 40 ml) dispostos de forma
aleatória ao ar livre por 7 dias. Os aquários foram separados em quatro tratamentos com três
réplicas cada: Controle (sem qualquer herbívoro), T1 (com zooplâncton), T2 (com peixes) e T3
(misto com peixes e zooplâncton). Os tratamentos com zooplâncton foram preparados a partir de
um mix dessa comunidade amostrada por arrasto no lago, e os tratamentos com peixes foram
preparados com introdução de sete indivíduos de Moenkhausia aff. sanctaefilomenae [Steindachner,
1907]. A água inserida nos aquários foi filtrada em rede de plâncton de 45 μm para os tratamentos
controle e T2. Compressores de ar, tule e sombrite foram utilizados para aclimatar os aquários e
proteger contra predadores. As amostragens foram realizadas após um dia e no sétimo dia de
experimento. As algas foram avaliadas pela densidade e características funcionais (formas de vida,
intensidade de aderência ao substrato e tipo de aderência). A diversidade funcional foi calculada a
partir de dendrogramas funcionais das espécies através do índice mean pairwise distance. As algas
perifíticas foram representadas por 204 táxons. As densidades finais foram maiores em todos os
tratamentos (exceto em T3), com maiores médias em T2. A diversidade funcional foi maior em T3
corroborando a hipótese testada. Pode-se concluir que maiores valores de densidades algais foram
relacionadas com maior disponibilidade de nutrientes (T2) e a maior diversidade funcional (T3)
com uso complementar de recursos pelos herbívoros. A herbivoria atuou como controladora da
densidade em T3 e favoreceu o estabelecimento e desenvolvimento de espécies com maior
diversidade de características funcionais.
INTRASPECIFIC TRAIT VARIATION OF GRASSLAND SPECIES UNDER DISTINCT GRAZING
TREATMENTS
Helena Streit1, Gerhard Ernst Overbeck2
1, 2-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Campos Sulinos, grassland, grazing experiment, intraspecific variability, leaf traits
Grazing acts as environmental filter and plays an important role in defining functional patterns of
plants in grassland systems. For subtropical grasslands, several studies have shown that high
grazing pressure results in dominance of prostrated species, while lower grazing pressure results
in vegetation composed both of prostrated and tussock species, and grazing exclusion usually leads
to dominance of tussock species. Here, we aimed to evaluate the effects of different grazing
intensities on the intraspecific variation (ITV) in leaf functional traits of grassland species from the
two contrasting groups, prostrated and tussock species. The study was conducted within the LTER
Campos Sulinos project, where effects of different grazing treatments are studied at six subtropical
grassland sites in Southern Brazil. We measured functional traits of 30 plant species (7 forbs, 4
prostrate grasses and 19 tussock grasses) associated with competition for resources and
environmental tolerance (specific leaf area – SLA, leaf-dry matter content – LDMC, leaf area – LA
and leaf resistance to traction - FT) along three different grazing treatments in grassland
vegetation. We quantified the proportion of intra- and interspecific variation through
decomposition of trait variance using nested factors. To test the effects of cattle grazing over
intraspecific variation of the species, randomization tests were carried out. Variance decomposition
showed that SLA and FT varied significantly among sites, as opposed to the other traits. LA was the
only trait that presented variation among treatments. Concerning ITV among treatments, forb
species showed no variation, while grasses showed variation in all but one species. In general, the
SLA showed lower values in excluded treatment. LDMC did not show a clear pattern of variance and
FT and LA values were higher in the exclusion treatment. Higher plasticity of SLA in response to
environmental factors may enhance plant performance under a range of conditions. LA varied for a
large number of species, as a direct consequence of changed community composition. At last,
prostrated grasses showed less plasticity than tussock grasses. Cessation of grazing lead to higher
intraspecific variation in functional traits for most species. Our study confirms that the response of
individual traits to grazing may be highly variable, species and trait-dependent.
FUNCTIONAL SIGNATURE OF TREE COMMUNITIES IN HUMAN-MODIFIED NEOTROPICAL REGIONS
Felipe P L Melo1, Gabriel Mendes2, Victor Arroyo-Rodríguez3, Bráulio Santos4, Marcelo Tabarelli5
1, 2, 5-Universidade Federal de Pernambuco
3-Universidad Nacional Autónoma de México
4-Universidade Federal da Paraíba
Forest fragmentation, functional traits, landscape ecology, tropical forest, tropical trees
Human-caused disturbance in tropical forests are shaping taxonomic composition of tree
communities worldwide causing detectable changes in functional diversity. To date, no studies
have looked for general patterns of functional diversity of tree communities and we do not know
whether specific emerging patters of certain fragmented landscapes can be broadly generalized.
Here we analyzed tree communities of six human-dominated tropical landscapes (HDTL) spread
over Mexico and Brazil. Very different combinations of co-varying traits were detected for each
region suggesting different trait syndromes across communities. However, relationships between
trait syndromes and landscapes metrics tended to point to the same direction where less forest
cover harbor tree communities with softer woods, small seeds and pioneers. Also, the spatial scale
where the effects were maximum varied a lot, being more evident in intermediate-disturbed
landscapes. Our results suggest that functional response of tree communities to landscape structure
and composition depend on the context of the landscape (regional forest cover, age, etc.) and
therefore cannot be generalizable allover fragmented landscapes.
SELECIONANDO ATRIBUTOS FUNCIONAIS DE LEPIDÓPTEROS COM ÊNFASE NO ESTUDO DE
PAISAGENS FRAGMENTADAS
Ricardo Luís Spaniol1, Milton de Souza Mendonça Jr.2, Cristiano Agra Iserhard3
1, 2-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3-Universidade Federal de Pelotas
Borboletas, ecologia funcional, fragmentação florestal, mariposas
A fragmentação florestal pode desencadear várias alterações em uma paisagem ao reduzir a
quantidade e tamanho desses habitats nativos, aumentar o número de manchas florestais e levar a
um maior isolamento por uma matriz estruturalmente distinta. Para melhor compreender esses
efeitos sobre os organismos, sugerimos associar o componente taxonômico da diversidade
biológica com os princípios da ecologia funcional, descrevendo a estruturação das comunidades
através de características, requerimentos e/ou funções dos indivíduos. Existe uma extensa
literatura acerca da história natural de Lepidoptera; analisamos 30 trabalhos abordando
características morfológicas e comportamentais de borboletas e mariposas, e identificamos
atributos com potencial de resposta a uma paisagem fragmentada. Estabelecemos duas categorias
de atributos funcionais de lepidópteros: morfométricos (relacionados à mobilidade do indivíduo,
obtidos a partir de medidas como o comprimento da asa e do corpo, área e forma da asa, massa
torácica e carga alar) e comportamentais (associados às interações dos organismos com os demais
componentes do ambiente, incluindo a iridescência, coloração críptica, aposematismo, mimetismo e
anéis miméticos). A capacidade de voo dos lepidópteros se mostra correlacionada com os atributos
morfométricos sugeridos. Seria esperado que indivíduos com asas e corpo maiores, maior massa
torácica, menor carga alar e equivalência entre comprimento e largura das asas tivessem maior
mobilidade e pudessem alcançar diferentes áreas na paisagem. No entanto, o próprio ambiente
pode limitar a ocorrência de indivíduos com determinadas características, sobretudo em
fragmentos menores e numa matriz muitas vezes inóspita e difícil de transpor. Atributos
comportamentais atuam em diferentes estratégias de interações intra e interespecíficas. É provável
encontrar uma maior manifestação da iridescência em ambientes mais abertos, onde há mais luz
para ser refletida. Já uma variedade maior de substratos em fragmentos maiores pode favorecer
indivíduos com coloração críptica. Nestas áreas maiores, aposematismo, mimetismo e anéis
miméticos podem ser estratégias eficientes, porém bastante sensíveis à fragmentação mediante
mudanças nas interações e recursos ambientais. Aplicando este conjunto de atributos no estudo de
cenários reais, será possível verificar se a estruturação das comunidades de lepidópteros ocorre da
forma apresentada ou ainda se obedece outros aspectos da ecologia do grupo.
IMPACTOS A JUSANTE DE UMA HIDRELÉTRICA SIMPLIFICAM A DIVERSIDADE FUNCIONAL DE
PEIXES EM UMA ANÁLISE DE LONGO PRAZO
Anielly Galego de Oliveira1, Matheus Tenório Baumgartner2, Luiz Carlos Gomes3, Rosa Maria Dias4,
Angelo Antonio Agostinho5
1, 2, 3, 4, 5-Universidade Estadual de Maringá
Análise de Intervenção, ecossistema, ictiofauna, planície de inundação, reservatórios
O objetivo desse estudo foi avaliar o impacto em longo prazo da formação do reservatório de Porto
Primavera sobre a diversidade funcional de peixes na planície de inundação do Alto Rio Paraná, à
jusante. É esperado que a regulação do fluxo, proporcionada pela barragem, selecione espécies com
características de história de vida relacionadas a ambientes lóticos e flutuações sazonais no nível
hidrológico, resultando na simplificação funcional da biota. Espera-se, ainda, que esse efeito seja
mais acentuado na sub-bacia diretamente afetada pelo represamento (Paraná) do que naquelas
adjacentes (Baía e Ivinhema). Os peixes foram coletados durante dois períodos distintos, ou seja, de
1986 a 1995 (período pré-represamento) e 2000 a 2015 (período pós), com redes de espera de
diferentes malhas. As características funcionais selecionadas para análise foram tipo de dieta,
habitat, posição da boca, migração, cuidado parental e fecundação interna, levantados a partir da
literatura, e comprimento total e L100 (primeira maturação) obtidos a partir da biometria dos
peixes coletados. O índice de diversidade funcional selecionado foi a Entropia Quadrática de Rao
funcional (FDQ), calculada pelo pacote dbFD no programa R. As diferenças no índice ao longo do
tempo foram avaliadas por meio de análises de séries temporais (ARIMA) e análise de intervenção.
Para identificar quais características mais influenciaram em cada período, foi realizada uma Análise
de Coordenadas Principais (PCoA), com correlação entre os eixos e a matriz de características por
locais. Houve um declínio em FDQ no período pós, que leva em conta a abundância das espécies, nas
três sub-bacias estudadas (p<0,05). As características com maior influência no período pré-
represamento estão relacionadas a espécies de grande porte que realizam longas migrações
reprodutivas e têm forte sincronia entre o ciclo hidrológico e o reprodutivo. No período pós, as
características com maior influência estiveram relacionadas a espécies sedentárias com
comportamento de cuidado parental. Assim, os resultados corroboram a simplificação funcional
esperada pelo efeito do controle de vazão da barragem na diversidade funcional da ictiofauna. As
hidrelétricas atuam como filtros ambientais sobre as características funcionais da biota presente à
jusante, sendo que isto pode ter implicações negativas sobre os serviços ecossistêmicos a elas
relacionados.
Ecologia Humana
REVISITANDO A HIPÓTESE DO DISTÚRBIO INTERMEDIÁRIO EM PAISAGENS CULTURAIS:
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE E MANEJO FLORESTAL NA TERRA INDÍGENA IBIRAMA-
LAKLÃNÕ, SANTA CATARINA, BRASIL
Thiago Gomes1, Nivaldo Peroni2
1, 2-Universidade Federal de Santa Catarina
Biodiversidade, ecologia histórica, etnoecologia, hipótese do distúrbio intermediário, Laklãnõ-Xokleng
A Hipótese do Distúrbio Intermediário (HDI) foi inicialmente proposta a partir de estudos de
competição e sucessão ecológica em florestas tropicais e ambientes recifais, e sugere que
diversidade é maior quando distúrbios são de intensidade ou frequência intermediária. Apesar de
testada e comprovada empiricamente em diferentes comunidades biológicas, inclusive em florestas
tropicais, o debate sobre aspectos teóricos e práticos da HDI continua. Ações humanas se tornam
fundamentais como reguladoras de distúrbios em ecossistemas e paisagens. De fato, estudos sobre
sistemas de manejo de recursos naturais, domesticação de espécies e paisagens culturais,
demonstram que práticas empregadas por povos indígenas favorecem condições específicas e
estados de sucessão de maior diversidade, complexidade estrutural e funcional, em um regime de
distúrbios de acordo com os princípios da HDI. Entretanto, ainda é necessário compreender como
regimes de distúrbio facilitados pelo conhecimento ecológico local podem colaborar com a
conservação em áreas prioritárias ao longo do tempo, como nas florestas da Terra Indígena
Ibirama-Laklãnõ (TIIL), onde o povo Laklãnõ-Xokleng está aldeado a mais de 100 anos. Este estudo
investiga os sistemas de manejo de recursos florestais na TIIL e busca responder se a riqueza de
espécies arbóreas é maior em áreas sob regimes de distúrbio intermediário. Foram realizadas
entrevistas a especialistas indígenas a respeito de práticas de manejo e conhecimento etnobotânico,
acompanhamento em atividades em ecossistemas florestais, e inventário florístico florestal em
áreas sob condições de distúrbio alto, intermediário e baixo. Práticas de manejo para as principais
espécies arbóreas respeitam normas culturais próprias, que sugerem regimes de distúrbio
intermediário. Resultados preliminares do inventário florístico apontam para maior riqueza de
espécies em parcelas sob condições de distúrbio intermediário, especialmente espécies de uso
cultural e cotidiano. A maior diversidade de espécies em condições intermediárias e práticas de
manejo que preconizam regimes intermediários de distúrbio, denotam entendimento de processos
ecológicos e da HDI pelos Laklãnõ-Xokleng. Assim, paisagens culturais na TIIL são locais de síntese
e manutenção de diversidade biológica e cultural, e ressaltam a importância de florestas
secundárias na Mata Atlântica como remanescentes para conservação da biodiversidade.
CARACTERIZAÇÃO DA DINÂMICA DE UMA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS COMO
UM SISTEMA SÓCIO-ECOLÓGICO
Marcio Baldissera Cure1, Natália Hanazaki2, Marina Hirota3
1, 2, 3-Universidade Federal de Santa Catarina
Conhecimento ecológico local, mudança cultural, panarquia, resiliência, turismo
A dinâmica de sistemas sócio-ecológicos (SSE) pode ser descrita com base no conhecimento
ecológico local (CEL). O CEL possibilita captar os elementos chave que podem estar relacionados à
resiliência do sistema, a qual pode ser definida como a capacidade de um sistema de absorver
impactos antes de mudar para um estado alternativo de configuração e funcionamento. No caso de
sistemas ecológicos, estados alternativos podem ocorrer à partir de perturbações graduais que
causem perda da resiliência, por distúrbios extremos que excedam a resiliência do sistema, ou pela
combinação dos dois casos. Por outro lado, a dinâmica de SSE envolve interações não só entre
elementos naturais presentes num determinado local, mas também com o ser humano e sua
cultura. A fim de caracterizar a dinâmica de uma comunidade de pescadores artesanais e sua
interação com mudanças ambientais e socioeconômicas que vem ocorrendo nas últimas décadas, o
objetivo deste trabalho foi utilizar o modelo conceitual de SSEs para estudar a comunidade da Costa
da Lagoa (CL), estabelecida na costa oeste da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, SC. Esta lagoa
compõe um estuário conectado ao oceano através de um canal permanentemente aberto. As
alterações mais evidentes devem-se ao desenvolvimento da atividade turística e da pressão na
paisagem associada. No entanto, investigaram-se quais outras mudanças econômicas, ecológicas,
sociais, estruturais ocorreram nos últimos trinta anos e como estas variáveis poderiam alterar o
estado de funcionamento do SSE. Para isso, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (N=10)
com informantes chaves e com três grupos focais compostos por pescadores, lideranças e
comerciantes locais (N=4, N=3, N=5, respectivamente) e uma ferramenta participativa (N=9)
(listagem e quadro histórico). Complementando as informações obtidas junto aos colaboradores,
foram utilizadas séries temporais da cotação do Dólar americano e do número de turistas que
visitam mensalmente a CL desde 2013 para avaliar a tendência de mudança percebida pelos
moradores. As inovações (e.g., energia elétrica, facilidade de acesso) parecem ter um efeito cascata
na geração de novas mudanças, como nos crescimentos econômico e populacional. Mesmo assim, a
CL mantém sua identidade pelo CEL e pelas práticas tradicionais que permanecem presentes, como
a pesca artesanal. Entretanto, as mudanças graduais podem diminuir a resiliência do SSE, pois
refletem na provisão dos recursos pesqueiros e hídricos na região.
Ecologia Quantitativa
EFEITOS DA PRESENÇA DE FUNGOS HABITANTES DA MADEIRA EM CUPINS: UMA ABORDAGEM
META-ANALÍTICA
Arleu B. Viana-Junior¹, Mellina Galantini², Mariana O. Côrtes3, Tatiana G. Cornelissen4, Frederico S.
Neves5
1, 2, 3, 4-Universidade Federal de Minas Gerais
5- Universidade Federal de São João Del-Rei
Comportamento, cupins subterrâneos, Hedge’s d, sobrevivência, tamanho de efeito
É possível observar na natureza diversas formas de como se estrutura a interação entre cupins e
fungos. Essas interações podem permear por um gradiente de interações antagônicas (fungos
entomopatogênicos) à mutualísticas (cupins cultivadores de fungos, Macrotermitidae). No entanto,
do ponto de vista do cupim é ainda incerto identificar se essas interações com fungos habitantes da
madeira têm um efeito negativo, neutro ou positivo. Dessa forma esse trabalho objetivou verificar o
efeito da presença de fungos habitantes de madeira em diversas variáveis respostas de cupins,
através de uma revisão meta-analiítica. Foi realizado uma busca sistemática no dataset do
“Thomson Institute for Scientific Information” entre os anos de 1980 a 2015 e usou-se o Hedge’s d
(E++) como métrica para medir o tamanho de efeito. De 17 estudos que verificaram o efeito da
presença/ausência do fungo da madeira em algum comportamento ou na sobrevivência de cupins,
foi possível obter 279 casos independentes para análises meta-analíticas. Destes,
aproximadamente 48% dos casos mensuravam o comportamento de consumo dos cupins na
presença/ausência de fungos, 28% verificavam o comportamento de agregação, 20% avaliaram
sobrevivência e 4% estudaram trilhas de forrageamento. Com relação aos fungos, 71% eram
relacionadas a fungos decompositores, 18% aos bolores e 11% aos fungos machadores da madeira.
A presença de fungos da madeira apresentou um efeito positivo em todos os atributos mensurados
dos cupins (E++ = 1.86, IC = 1.58 a 2.14). No entanto, os bolores não influenciaram
significativamente o consumo dos cupins (E++ = -0.13, IC = -1.09 a 0.81), mas apresentaram efeitos
positivos na sobrevivência dos insetos (E++ = 3.83, IC = 1.98 a 5.67). Quando verificou o efeito dos
fungos decompositores observa-se que essa associação pode gerar efeitos tanto positivos quanto
não significativos. A presença de fungos na madeira tem provavelmente um efeito facilitador no
estabelecimento de espécies de cupins, auxiliando no processo de decomposição da madeira. O
aumento da sobrevivência dos cupins causado pela presença de fungos pode ser devido ao fato
destes fungos, ao instalarem-se no recurso, melhorarem a ingestão e digestão dos materiais ligno-
celulolíticos. Dessa forma o trabalho demonstra que os fungos habitantes da madeira trazem
benefícios documentados e agora quantificados aos cupins, tornando essas interações mais
próximas do mutualismo que do antagonismo.
Ecologia Teórica
PORQUE PRECISAMOS DE UMA ASTROECOLOGIA - MESCLANDO ASTROBIOLOGIA E ECOLOGIA
CONCEITUALMENTE
Milton de Souza Mendonça Junior1
1-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Astrobiologia, astroecologia, metabiosferas, níveis de organização
A astrobiologia é uma disciplina altamente multidisciplinar, utilizando conhecimentos agregados de
inúmeros campos do conhecimento biológico. A ecologia não tem contribuído diretamente para a
astrobiologia, exceto através de ramos da ecologia microbiológica e algumas ideias teóricas soltas.
Muitas das contribuições que não vem de ecólogos, como discussões sobre habitabilidade de corpos
celestes, acabam levando a um entendimento estático das ideias ecológicas. Isso se dá por
derivarem de ideias de “segunda mão”, tiradas de livros-texto ou desatualizadas, eliminando a
possibilidade de diálogo e de retroalimentação positiva para a ecologia. A proposta deste trabalho é
que com uma contribuição direta dos ecólogos para a astrobiologia, podemos ganhar com ‘insights’
e ideias novas ou renovadoras para a ecologia teórica. Uma contribuição recente advinda da
ecologia, mas ainda restrita à literatura astrobiológica, é a ideia das metabiosferas (Mendonça,
Icarus, 2014). A teoria da litopanspermia é discutida seriamente em astrobiologia, e defende que a
troca de material rochoso entre planetas e luas pode ser uma realidade comum. Essas rochas
(ejetas) decorrem de impactos de meteoros ou cometas contra o planeta, o que as lança ao espaço.
Essas rochas poderiam conter organismos vivos em seu interior, o que é apoiado pela descoberta
recente de uma biosfera profunda na crosta terrestre. Experimentos de exposição de rochas ao
espaço e à reentrada atmosférica mostraram a possibilidade de sobrevivência de alguns desses
organismos. Esse processo significaria dispersão interplanetária para seres vivos, e talvez
dispersão interestelar. Esse fenômeno impacta fortemente ideias sobre a origem da vida e introduz
elementos de ecologia espacial ao espaço exterior – e assim uma nova escala de entendimento
ecológico pode ser necessária. É possível prever dinâmicas de colonização e extinção da vida em
corpos celestes num sistema solar e entre sistemas solares, conectando as biosferas por dispersão,
o que se poderia chamar de metabiosferas. Este conceito é uma realidade em astrobiologia, por
exemplo, quando se cogita cientificamente que a vida pode ter se originado em Marte e sido trazida
para a Terra a posteriori. Contribuindo conscientemente com a astrobiologia, a ecologia pode
expandir horizontes e questionar suas bases conceituais para torná-las mais universais ainda,
ganhando em escopo e complexidade com um novo conceito de astroecologia.
CIENTISTAS, TÉCNICOS AMBIENTAIS E JORNALISTAS CIENTÍFICOS: UM MODELO HIERÁRQUICO
PARA APRIMORAR O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO AMBIENTAL
Érika Garcez da Rocha1, Pedro Luís Bernardo da Rocha2
1, 2-Universidade Federal da Bahia
Alfabetização ecológica, comunicação, ecologia aplicada, lacuna pesquisa-prática
A eficiência da tomada de decisão na área ambiental depende da interação entre grupos que
representam as partes interessadas (stakeholders), que incluem técnicos, cientistas e cidadãos, e
grupos que atuam indiretamente como os jornalistas científicos. Entretanto, a comunicação entre os
grupos é dificultada devido aos seus diferentes contextos culturais, sociais e pessoais. As tradições
de pesquisa sobre lacuna pesquisa-implementação, alfabetização ambiental e ecológica e
jornalismo científico, têm se debruçado de modo independente sobre diferentes aspectos dessas
dificuldades de comunicação. Visando avançar na compreensão das dificuldades envolvidas na
formulação de decisões ambientais eficazes e propor sugestões para sua melhoria, integramos as
conclusões dessas três tradições de pesquisa em um modelo hierárquico que procura explicar o
estabelecimento de concepções ambientais adequadas, nas populações dos stakeholders, a partir de
mecanismos (bottom-up) de interação entre indivíduos (técnicos ambientais, cientistas e
jornalistas científicos) e de restrições (top-down) derivadas de seus ambientes institucionais.
Definimos “concepções” como o resultado das interações entre conhecimentos, práticas e valores,
seguindo o modelo KVP de Clément. A análise da literatura das três tradições de pesquisa
demonstra que, apesar de reconhecer a importância do diálogo entre os grupos envolvidos, e
conhecendo que: (a) soluções científicas para problemas aplicados tendam a falhar caso não sejam
informadas pelo contexto de aplicação, e que (b) cientistas usualmente são pouco eficientes em se
comunicar com os demais setores da sociedade, ainda assim as propostas de solução concebem um
fluxo unidirecional de influência do cientista sobre os demais profissionais, com foco reduzido no
fluxo inverso. Além disso, esse fluxo de influência é concebido essencialmente como transmissão de
conhecimento, ignorando-se em grande medida o papel das práticas e valores na formação de
concepções relacionadas ao meio ambiente. Nosso modelo ilustra como atividades colaborativas
entre profissionais dos diferentes grupos pode aumentar a efetividade dos mecanismos de
construção de concepções ambientais mais adequadas em cada grupo. Além disso, explora as
restrições institucionais que devem ser atenuadas para que esses mecanismos operem
adequadamente.
INFLUÊNCIA DA QUANTIDADE DE PONTOS DE OCORRÊNCIA NA MODELAGEM DE NICHO DE
PENTATOMIDAE DA REGIÃO NEOTROPICAL
Daniela Hipolito Maggio1, Cristiano Feldens Schwertner2
1, 2-Universidade Federal de São Paulo
AUC, distribuição, MaxEnt, percevejo
Reconhecer padrões de distribuição, como áreas de endemismo e de conservação é importante para
compreender a biodiversidade. Uma ferramenta que auxilia esse tipo de trabalho é a modelagem de
nicho. A partir da relação espécie-ambiente é possível estimar locais com maior adequabilidade
para que essas espécies possam ocorrer. Um bom modelo de estudo para modelagem são os
insetos, que devido a sua grande diversidade, abundância e diversidade de habitat, possibilitam
compreender padrões de distribuição em diferentes escalas. Desse modo, o trabalho teve como
objetivo avaliar como a quantidade de pontos de ocorrência de espécies de Pentatomidae da região
Neotropical pode influenciar nos resultados finais da modelagem de nicho. Para isso, foram
selecionadas 10 espécies de Pentatomidae com mais de 25 pontos de ocorrência (E25) e 10
espécies com quatro a 24 pontos (E24). Os dados de distribuição foram obtidos a partir da
literatura e a modelagem foi realizada no software MaxEnt utilizando 19 variáveis bioclimáticas.
Para E25 a modelagem foi feita com 20% dos pontos para teste e para E24, não foi usado
porcentagem de teste. A modelagem para E25 resultou em mapas com áreas de maior
adequabilidade mais restrita aos pontos de ocorrência e AUC (área sob a curva ROC) variando de
0,869 a 0,990. Todos os valores de AUC encontrados são considerados bons (0,8 a 0,9) e excelentes
(0,9 a 1). Os mapas de E24 tiveram áreas de maior adequabilidade mais espalhadas na região
neotropical e afastadas dos pontos de ocorrência. Os valores de AUC variam de 0,836 a 0,984 e
podem ser considerados de bons a excelentes. Os resultados obtidos para E25 não apresentaram
erros de subprevisão ou sobreprevisão. Isso pode ser justificado pela grande quantidade de pontos
de ocorrência, que permitiram que fossem gerados modelos mais confiáveis. Apesar dos valores de
AUC encontrados para E24 tenham sido de qualidade boa em sua maioria, o erro encontrado em
oito mapas foi de sobreprevisão. Esse erro pode ser devido à falta de mais pontos de ocorrência ou
falha do modelo que pode indicar: 1) áreas habitáveis sem esforço amostral, 2) áreas habitáveis
com fatores históricos ou ecológicos ou abióticos que impedem seu estabelecimento na região e 3)
áreas inabitáveis. É possível concluir que os modelos para espécies com mais de 25 pontos são
mais confiáveis e com menos erro associado que os mapas das espécies com menos de 24 pontos.
PADRÕES COEVOLUTIVOS ASSIMÉTRICOS EM DINÂMICAS DE INTERAÇÕES ANTAGONISTAS
Marcelo Eduardo Borges1, Sabrina Borges Lino Araújo2, Francisco Westphalen Von Hartenthal3,
Leonardo Ré Jorge4, Thomas Michael Lewinsohn5, Paulo Roberto Guimarães Jr6, Minus van Baalen7
1, 2, 3-Universidade Federal do Paraná
4, 5-Universidade Estadual de Campinas
6-Universidade de São Paulo
7-École Normale Supérieure, France
Coevolução, padrões coevolutivos, parasito-hospedeiro, predador-presa
O termo coevolução refere-se às mudanças evolutivas entre espécies que interagem e exercem
pressões seletivas recíprocas. As dinâmicas coevolutivas entre populações que interagem de formas
antagonísticas pode levar a padrões bem conhecidos como escalada ou ciclos coevolutivos. Um
pressuposto básico desses modelos é de que os ataques aos indivíduos da população explorada
ocorrem ao acaso, sem preferência pelo indivíduo escolhido. Por sua vez, muitas evidências
empíricas indicam que podem haver preferências na escolha da presa pelo predador, ou do
hospedeiro pelo parasito. O objetivo deste trabalho é investigar quais são os padrões coevolutivos
que resultam de duas estratégias de interação antagonista: i) escolha do indivíduo ocorre
aleatoriamente; ou ii) o indivíduo consumidor escolhe os indivíduos ao qual está melhor adaptado
fenotipicamente. São consideradas duas populações: consumidores (predadores ou parasitos) e
recursos (presas ou hospedeiros). Os indivíduos são modelados explicitamente com um valor de
fenótipo e evoluem devido às interações e a pressões estabilizadoras. O tamanho das populações é
limitado por uma capacidade suporte. É assumido que o sucesso de um ataque depende da
diferença entre os valores de fenótipos do predador e da presa e de um parâmetro de força da
pressão seletiva na interação. Apenas os indivíduos da população de recurso que sobreviveram ao
ataque e consumidores que conseguiram realizar um ataque se reproduzem. Os resultados levaram
à identificação de três padrões diferentes: ciclos coevolutivos, seleção disruptiva, e o ramificação
assimétrica. Na ramificação assimétrica os fenótipos dos predadores evoluíram para valores acima
ou abaixo do valor ótimo imposto pela pressão estabilizadora, e ocorreu apenas no modelo em que
existe preferência pelo recurso escolhido. Os modelos também se apresentaram sensíveis à força de
interação e à capacidade suporte. Quanto maior a força de interação, mais intensa foi a seleção
sobre a população do consumidor em relação à diferença dos fenótipos do recurso. A capacidade
suporte indicou que populações menores foram mais vulneráveis às extinções. Enquanto padrões
de ciclos coevolutivos e seleção disruptiva já foram descritos previamente, a ramificação
assimétrica foi um padrão não esperado, que ocorreu apenas em cenários em que existe preferência
na escolha do recurso.
Ecologia Vegetal
DINÂMICA DE CRESCIMENTO DAS ESPÉCIES ARBÓREAS DE UM MANGUEZAL NO SUL DO BRASIL
Allan Maurício Sanches Baptista de Alvarenga1, Paulo César Botosso2, Patrícia Soffiatti3
1,3-Universidade Federal do Paraná
2-Embrapa Florestas
Avicennia, dendrômetros, fenofases, Laguncularia, mangue, Rhizhopora
As florestas tropicais variam os seus padrões fenológicos, as quais tem uma forte relação
filogenética e evolutiva, além de refletir as variações do ambiente. As mudanças sazonais na
disponibilidade hídrica promovem uma forte interação entre ambiente, fenologia e crescimento. A
avaliação contínua do incremento em circunferência possibilita, a médio e longo prazo, a
determinação do ritmo e da taxa de incremento em circunferência, da periodicidade da atividade
cambial e da influência dos fatores climáticos neste processo. Estudos demonstram que nos
manguezais, o comprimento do dia, a precipitação e a temperatura impulsionam o ritmo de floração
e frutificação, enquanto que a salinidade regula a intensidade e a periodicidade da floração das
espécies arbóreas. Sob a hipótese de que em períodos de maior disponibilidade hídrica a atividade
cambial é maior e em períodos de temperaturas mais altas as espécies arbóreas de um manguezal
subtropical apresentam fenofases reprodutivas, o presente estudo tem por objetivo investigar as
relações entre o incremento em circunferência do tronco, a fenologia e as variáveis abióticas de três
espécies arbóreas em uma área de manguezal na Baía de Guaratuba, PR. Durante 12 meses foram
realizadas mensalmente leituras do incremento em circunferência do tronco das árvores e dos
eventos fenológicos vegetativos e reprodutivos. Enquanto a temperatura máxima influencia
diretamente a frutificação em A. schaueriana, (P < 0,05) a mesma está fortemente relacionada à
produção de folhas (P < 0,05) e à floração (P < 0,05) em L. racemosa e R. mangle, respectivamente. A
precipitação mensal é correlacionada à floração (P < 0,05) de R. mangle, a brotação foliar é
correlacionada diretamente com a umidade do ar em L. racemosa. O incremento em circunferência
foi correlacionado (P < 0,05) aos eventos fenológicos em A. schaueriana, às fenofases de brotação (P
< 0,05) e senescência (P < 0,05). As maiores taxas de crescimento em circunferência do tronco para
as três espécies A. schaueriana (1,68 mm), L. racemosa (0,46 mm) e R. mangle (0,02 mm) ocorre nos
meses de janeiro, fevereiro e março, período de maiores temperaturas e precipitação. Concluímos
que as maiores temperaturas e maiores níveis de precipitação são variáveis determinantes das
fenofases reprodutivas e de crescimento em circunferência do tronco das espécies arbóreas desse
manguezal subtropical.
AVALIAÇÃO DA ABERTURA DE DOSSEL EM ÁREAS EM RESTAURAÇÃO FLORESTAL E SEUS
EFEITOS SOBRE A REGENERAÇÃO NATURAL
Jéssica Schüler1, Milena Fermina Rosenfeld2, Sandra Cristina Müller3
1, 2, 3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Área basal, densidade de adultos, luminosidade, sub-bosque
A luz no sub-bosque é um dos principais limitantes para o estabelecimento e desenvolvimento de
plantas em florestas, e este recurso é altamente dependente da abertura de dossel. Embora a
abertura possa ser avaliada diretamente, existe uma relação entre a área basal e o tamanho da copa
da árvore. Dessa forma, espera-se que uma maior área basal leve a uma menor abertura de dossel.
O mesmo é esperado para a densidade de árvores adultas. Assim, os objetivos deste estudo foram:
(i) avaliar a abertura de dossel em áreas de restauração florestal comparando com florestas
preservadas; e (ii) verificar a relação da abertura de dossel com a diversidade, riqueza e
composição de espécies da regeneração natural. O estudo foi realizado em uma área em
restauração de cerca de 10 anos, com floresta nativa adjacente. Foram marcadas 15 parcelas de 100
m2 por tratamento (Restauração e Floresta) para o levantamento de indivíduos adultos. A
regeneração natural foi levantada em 3 subparcelas de 4 m2 por parcela. A abertura do dossel foi
avaliada a partir da área basal e densidade de adultos nas parcelas. A Restauração mostrou maior
densidade de adultos (t=2,89; p=0,007) e menor área basal (t=-3,11; p=0,004). O número de
regenerantes não diferiu entre os tratamentos (p=0,28) e nem mostrou relação com a densidade de
adultos (p=0,13) ou com a área basal (p=0,24). A riqueza de espécies regenerantes não teve relação
com a densidade de adultos (p=0,87), mas mostrou um decréscimo a medida que a área basal
aumentou (t=-2,25; p=0,03). A composição de espécies regenerantes diferiu entre os tratamentos
(p=0,003). Mollinedia elegans (115 indivíduos) foi a espécie mais comum na Floresta e Cupania
vernalis (161 indivíduos) foi predominante na Restauração. Não houve diferenças no número de
regenerantes entre os tratamentos, nem relação desse número com a área basal ou a densidade de
adultos, indicando que o número de regenerantes é pouco informativo acerca das características
ecológicas do sub-bosque. Florestas mais maduras tendem a apresentar uma maior área basal, e
isso ficou evidente quando comparamos as áreas de referência com as de restauração. Essa
diferença pode estar modificando a abertura de dossel, afetando a riqueza e a composição de
regenerantes, conforme observado. A menor disponibilidade de luz exerce um efeito de seleção das
espécies capazes de se estabelecer no local. Como é o caso da M. elegans, adaptada à sombra e que
foi predominante na Floresta, com maior área basal.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E MANEJO PASTORIL AFETAM PROCESSOS ECOSSISTÊMICOS EM
CAMPOS NATIVOS DO SUL DO BRASIL?
Bruna Claudia da Silva Jorge1, Felícia Miranda Fischer2, Valério De Patta Pillar3
1, 2, 3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Detritívoros, manejo, mudanças climáticas, Pampa
Os campos sulinos garantem importantes serviços ambientas, um deles é ser fonte forrageira para a
pecuária. O uso pastoril mantém a vegetação nativa, tipicamente campestre. Entretanto, o manejo
inadequado pode debilitar processos, como de ciclagem de nutrientes, mediado por organismos
detritívoros, tornando as comunidades mais suscetíveis a distúrbios. Mudanças climáticas,
associadas ao regime de pastejo, podem causar alterações na vegetação. Neste trabalho, foram
avaliados, em experimento controlado, os efeitos de variação na pluviosidade e nas intensidades de
pastejo simulado por cortes, e suas interações, sobre a produtividade primária da comunidade e a
atividade de detritívoros em vegetação campestre. Em uma área de campo nativo, 25 parcelas de
1,1 x 1,1 m foram submetidas a tratamentos de interceptação da chuva ou irrigação, diminuindo ou
aumentando em 70% ou 30% a pluviosidade em relação à pluviosidade natural. Cada parcela foi
subdivida em três subparcelas de 0,5 x 0,5 m, as quais foram submetidas a frequências de corte
definidas de acordo com uma soma térmica entre cortes de 150, 300 e 750 graus-dia (ºC),
simulando assim pastejo intenso, moderado e baixo, respectivamente. Para estimar a produtividade
primária, a cada acúmulo de uma soma térmica de 600 graus-dia a biomassa de cada parcela foi
recolhida e pesada. A atividade alimentar de detritívoros foi medida através do Bait-Lamina Test.
As bait-lamina consistem em varetas de plástico (lamina) com 16 orifícios preenchidos com massa
nutritiva (bait) a ser consumida pela fauna de solo. Em cada subparcela foi disposta uma bait-
lamina durante dezesseis dias e após foram triadas em laboratório. Realizamos análise de variância
para avaliar a significância dos efeitos da pluviosidade e da frequência de cortes sobre as variáveis
respostas medidas em cada subparcela: produtividade, atividade de detritívoros, e diversidade da
comunidade vegetal. Não houve interação significativa entre os fatores para nenhuma das variáveis
avaliadas, tampouco efeito significativo dos níveis relativos de pluviosidade. Porém, a frequência de
cortes afetou negativamente a atividade de detritívoros e a produtividade. A alta pluviosidade
natural durante o período de avaliação pode ter neutralizado os efeitos dos tratamentos de
manipulação de chuva. Porém, um manejo pastoril inadequado, com frequência muito alta de
desfolhação, compromete seu potencial forrageiro e processos ecossistêmicos afetados pela
comunidade vegetal.
ATRIBUTOS FUNCIONAIS COMO PREDITORES DA ABUNDÂNCIA DAS ESPÉCIES NA FLORESTA
OMBRÓFILA MISTA
Joice Klipel1, Rodrigo Scarton Bergamin2, Sandra Cristina Muller3
1, 2, 3-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Área foliar específica, comunidades florestais, floresta com araucária, padrões de distribuição de
abundâncias
As comunidades são compostas por várias espécies raras e poucas espécies comuns. Entender os
mecanismos que norteiam a abundância das espécies representa um desafio na pesquisa ecológica.
Diferenças na morfologia, fisiologia e fenologia (atributos funcionais) afetam a habilidade dos
indivíduos crescer, sobreviver, reproduzir e dispersar, ocasionando distintos padrões
demográficos. Assim, os atributos funcionais podem estar vinculados aos padrões de distribuição
de abundância das espécies nas comunidades. O objetivo deste trabalho foi testar se a abundância
das espécies de árvores em áreas de Floresta Ombrófila Mista (FOM) está relacionada aos atributos
funcionais foliares. As comunidades amostradas localizam-se em duas áreas de FOM no Rio Grande
do Sul. Em cada área delimitou-se três sítios de 1 ha com 12 unidades amostrais de 100m2 cada.
Foram amostrados os indivíduos do estrato intermediário (diâmetro a altura do peito, DAP de 1 a
5cm), estrato superior (DAP ≥5cm) e os indivíduos arbustivo-arbóreos (≥30cm de altura e até 1cm
de DAP). Os indivíduos foram descritos pelos atributos: área foliar média (LA), área foliar específica
(SLA) e conteúdo de matéria seca foliar (LDMC). Para avaliar a relação entre os atributos foliares e
abundância das espécies utilizamos modelos lineares, com Critério de Informação de Akaike para
mensurar a plausibilidade de cada modelo e a importância relativa dos atributos (IA; valores de 0 a
1). Estimamos a média da inclinação da reta (bavg) e peso de Akaike. Nos estratos superior,
intermediário e inferior, a SLA foi o atributo mais importante na predição da abundância das
espécies (IA=0,96, bavg=0,0156; IA=0,63, bavg=0,3404; IA=0,63, bavg=0,339, respectivamente),
seguida pela LA (IA=0,44, bavg=0,5467; IA=0,47, bavg =0,5102; IA=0,26, bavg=0,848) e LDMC
(IA=0,42, bavg=0,5745; IA=0,34, bavg =0,6658; IA=0,28, bavg=0,5766). A relação entre SLA e
abundância das espécies foi negativa, ou seja, quanto menor a SLA, maior a abundância da espécie.
Valores baixos de SLA e altos de LDMC indicam folhas mais espessas, densas e conservativas. Além
disso, as espécies mais abundantes tem menor AF, sendo este atributo relacionado com
longevidade foliar e controle hídrico. Em conjunto, as espécies mais abundantes na FOM são
aquelas com estratégias de adaptação ao estresse térmico da região, que possui média de
temperaturas baixas e frequentes geadas no inverno, levando à seleção de indivíduos com folhas
menores, mais espessas e longevas.
INFLUÊNCIA DA UMIDADE DO SOLO NA DENSIDADE E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE Guapira
opposita (Vell.) Reitz (NYCTAGINACEAE)
Anderson Silva Pinto1, Fernanda Kalina da Silva Monteiro2, Maiara Bezerra Ramos3, Humberto
Araújo de Almeida4, Sérgio de Faria Lopes5
1, 2, 3, 4, 5 - Universidade Estadual da Paraíba
Correlação de Pearson, ecologia vegetal, filtros de habitat, índice de Morisita
As florestas estacionais semideciduais são formações vegetais que possuem como característica
principal a perda parcial da folhagem do componente arbóreo condicionada pela estacionalidade
climática. No entanto, fatores ambientais em uma escala local, como declividade, umidade,
concentração de nutrientes no solo dentre outros, também podem influenciar de forma pontual a
distribuição e estrutura das populações que formam as comunidades vegetais. Dessa forma,
objetivou-se avaliar se a umidade de solo é um fator que influencia a densidade e distribuição
espacial da população de indivíduos adultos de Guapira opposita. O presente estudo foi conduzido
em um fragmento de Floresta Estacional Semidecidual sub montana (35 hectares), situado na
Fazenda Ipuarana, Lagoa Seca, Paraíba. No referido fragmento foram alocadas 25 parcelas
permanentes com dimensões de 20 x 20 m (400 m²), totalizando uma área amostral de um hectare,
sendo todos os indivíduos da espécie com circunferência à altura do peito (CAP) > 15 cm aferidos.
Foram coletadas um total de 25 amostras compostas de solo a uma profundidade de 0 a 20 cm, ou
seja, uma amostra de solo por parcela. Após serem coletadas, as amostras eram embaladas,
imediatamente pesadas e posteriormente transferidas para estufa a 105ºC durante 24 horas, após
esse tempo, as amostras foram novamente pesadas e calculada a umidade gravimétrica. Regressões
foram feitas com o uso do coeficiente de correlação de Pearson (r), como medida da proporção da
relação linear entre a densidade de indivíduos da espécie e a umidade do solo. Em seguida, também
foi calculado o índice de dispersão de Morisita (Iδ) para descrever o padrão de distribuição da
espécie. Tratando-se dos resultados, constatou-se a existência de correlação positiva significativa
entre a densidade de indivíduos da espécie em questão e o teor de umidade do solo (p=0,006;
r=0,52; r²=0,28), sendo também verificada que a espécie possui um padrão de distribuição
agrupado. Dessa forma, pode-se dizer que em parcelas que apresentam um maior teor de umidade
do solo existe uma maior concentração de indivíduos de G. opposita, sendo esta relação confirmada
pelo padrão de distribuição agrupado apresentado pela espécie. Nesse contexto, o fator umidade do
solo pode estar atuando como um filtro de habitat para esta população, por se apresentar como
uma importante força responsável por dificultar o estabelecimento desta em condições não
favoráveis, no caso, locais de menor teor de umidade.
VALORES DE REFERÊNCIA DA VEGETAÇÃO PARA A RESTAURAÇÃO DA FLORESTA ATLÂNTICA
Carolina Machado da Rosa1, Márcia Cristina Mendes Marques2
1, 2-Universidade Federal do Paraná
Indicadores, modelo, sucessão
A Floresta Atlântica brasileira é um bioma com alto grau de endemismo e diversidade, mas que
atualmente se encontra extremamente fragmentado. Ela é constituída por três tipos principais:
Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecidual. Por causa
da importância deste bioma em termos de biodiversidade e o atual estado de fragmentação, ele vem
sido sujeito a inúmeras iniciativas de restauração ecológica. Nesta tarefa, é importante que se
estabeleçam parâmetros que possam indicar a efetividade de áreas em restauração. Portanto, este
trabalho objetivou, a partir de dados de literatura sobre florestas em regeneração nas diferentes
tipologias florestais da Floresta Atlântica (Florestas Ombrófila Densa, Mista e Estacional), estimar
os valores estruturais esperados para florestas secundárias que possam servir de base para aferir a
efetividade da restauração e avaliar como a riqueza de espécies, densidade de indivíduos e área
basal variam ao longo da trajetória sucessional. Foram realizadas buscas de artigos científicos com
dados de riqueza de espécies, densidade e/ou área basal para a análise, construídos modelos de
regressão e calculadas médias que pudessem servir como valores de referência para restauração.
Foram encontrados 44 estudos abordando sucessão na Floresta Atlântica. As análises dos dados
estruturais das áreas em regeneração mostraram que a riqueza de espécies, densidade e área basal
apresentam uma tendência a aumentar ao longo da sucessão, embora este padrão não tenha sido
evidente em todos os tipos florestais e critérios de inclusão utilizados nos trabalhos. Dos três
parâmetros estruturais, a área basal mostrou-se menos variável entre os diferentes estudos, o que
sugere que seja o melhor parâmetro a ser utilizado para se indicar a eficiência da restauração.
Embora as análises tenham sido limitadas pelo número baixo de estudos (especialmente na
Floresta Ombrófila Mista) e da grande variação de critérios de inclusão utilizados nos estudos
estruturais, é possível sugerir que futuras avaliações de eficiência da restauração ecológica sejam
baseadas nos valores da área basal estabelecidos para cada tipo florestal da Floresta Atlântica.
A FERTILIDADE DO SOLO PODE INFLUENCIAR O PADRÃO DE RIQUEZA DE ESPÉCIES ARBUSTIVAS
- ARBÓREAS ENCONTRADO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO?
Maiara Bezerra Ramos1, Humberto Araújo de Almeida2, Anderson Silva Pinto3, Sergio de Faria
Lopes4
1, 2, 3, 4-Universidade Estadual da Paraíba
Caatinga, gradiente altitudinal, variáveis edáficas
Estudos em áreas serranas do semiárido brasileiro tem encontrado um aumento da riqueza com o
aumento da altitude, além de mudanças na estrutura, composição e abundancia das populações,
entretanto a influência de variáveis edáficas sob esse padrão de riqueza de espécies ainda é pouco
conhecido. Nesse sentido, o presente trabalho buscou avaliar a influência dos fatores edáficos na
estrutura e composição da vegetação em um gradiente altitudinal no semiárido brasileiro. O estudo
foi realizado na Serra de Bodocongó, localizada no município de Queimadas, Paraíba–Brasil. A área
foi dividida em três níveis altitudinais onde foram plotadas 21 unidades amostrais de 50 x 4 m,
incluindo todos os indivíduos vivos com altura ≥ 1m e com diâmetro do caule ao nível do solo (DNS)
≥ 3 cm. A diversidade foi calculada através do índice de Shannon-Wiener. Para verificar diferenças
na estrutura e composição da comunidade entre os níveis altitudinais foi realizado uma
PERMANOVA, utilizando o programa PRIMER versão 6+PERMANOVA. Em todas as unidades
amostrais foram realizadas amostras compostas de solo de 0-20 cm de profundidade. Os resultados
mostraram que existem diferenças estruturais e na composição florística ao longo do gradiente
altitudinal, onde os níveis superiores apresentam a maior diversidade de espécies. Algumas
variáveis edáficas apresentaram correlações significativas com a altitude. Sugerimos que a maior
fertilidade do solo encontrada nos níveis mais baixos, ocorrem devido aos processos de lixiviação
dos níveis superiores para os níveis inferiores. Em tais condições edáficas apenas algumas poucas
espécies passaram a dominar rapidamente o ambiente limitando o crescimento das demais e assim
afetando a diversidade de espécies desse nível (menor diversidade). Portanto, nossos resultados
evidenciam a complexidade e heterogeneidade da vegetação presente nas regiões serranas do
semiárido brasileiro, que mesmo com baixas amplitudes altitudinais apresentam mudanças na
estrutura e composição da vegetação, proporcionadas por variações nas condições edáficas que
ocorrem ao longo do gradiente altitudinal.
VARIAÇÃO NO APORTE E COMPOSIÇÃO DA SERRAPILHEIRA AO LONGO DE UM GRADIENTE
ALTITUDINAL DO SEMIÁRIDO
Humberto Araújo de Almeida1, Maiara Bezerra Ramos2, Fabricio Correia Diniz3, Anderson Silva
Pinto4, Sérgio de Faria Lopes5
1, 2, 3, 4, 5-Universidade Estadual da Paraíba
Caatinga, material vegetal, regiões serranas
A serapilheira representa um dos principais componentes de ecossistemas florestais, sendo
formada pelo conjunto dos materiais vegetais e restos animais. Sua produtividade está diretamente
relacionada a influência de fatores bióticos e abióticos. Dessa forma buscou-se por meio do
presente estudo estimar a biomassa de serrapilheira acumulada na superfície do solo em uma
região serrana no semiárido brasileiro, analisando sua distribuição, e composição ao longo do
gradiente altitudinal. O estudo foi desenvolvido na Serra da Arara, no município de São João do
Cariri (07º 23’ 27” S e 36º 31’ 58” O), Paraíba, Brasil, a qual caracteriza-se por sua cobertura vegetal
do tipo Caatinga arbustiva-arbórea. Foram estabelecidos dois transectos, cada um contendo 25
parcelas 10x10 m, com espaçamento de 10 m entre si. A serrapilheira foi coletada em 1 m2 disposto
aleatoriamente sobre o solo, por parcela. O material foi triado nas frações folhas, galhos, estruturas
reprodutivas, miscelânea e restos animais e devidamente pesados. Foram realizadas correlações do
aporte serrapilheira com altitude, riqueza, abundância e área basal, através do programa PAST
versão 1.6. A serapilheira acumulada estimada para um hectare foi de 14.470 kg, sendo superior
aos valores encontrados em outras áreas de Caatinga, o que pode ter ocorrido devido a diminuição
nas taxas decomposição como consequência dos últimos anos de estiagem. Verificamos correlação
positiva entre a serrapilheira e a altitude, os quais apresentam maiores percentuais de cobertura
rochosa que atenuam a decomposição da serrapilheira, além de apresentar grau mais avançado de
sucessão e consequentemente uma maior produtividade. Constatamos que a fração caule, foi a mais
representativa sendo responsável por 45,25% de todo o material coletado, esse maior acumulo está
diretamente relacionado a baixa velocidade de decomposição que é encontrada para esse material,
evidenciou-se ainda que o volume da fração caule está diretamente correlacionada com a riqueza
(p<0,05), abundância (p<0,05) e área basal (p<0,05). A variação no aporte ou na decomposição de
serrapilheira pode ter sido influenciada pela a altitude e a rochosidade, além da própria estrutura
da comunidade. No entanto, os resultados encontrados nesse estudo evidenciam a complexidade
das regiões serranas do semiárido brasileiro, elucidando características do funcionamento dessas
comunidades vegetais.
AS VARIÁVEIS DO FORÓFITO INFLUENCIAM NO ESTABELECIMENTO DE EPÍFITAS NO PASTO?
Natália Gabriela de Souza Costa1, João Pedro Costa Elias2, Flavio Nunes Ramos3
1, 2, 3-Universidade Federal de Alfenas
Árvores isoladas, bioindicadores, pastagem
A pastagem é um dos ambientes antrópicos mais hostis para a biota florestal. Árvores isoladas e
epífitas diminuem a hostilidade deste ambiente, pois ambas tornam a pastagem mais próxima ao
ambiente florestal e aumentam a diversidade de recurso. Epífitas desempenham diversos papeis
ecológicos importantes, sendo comumente utilizadas como bioindicadoras de pertubação do
ambiente, além de integrar diversos grupos funcionais. O objetivo deste estudo foi verificar quais as
variáveis destas árvores isoladas influenciam no estabelecimento de epífitas no pasto. A coleta de
dados foi realizada nos anos de 2015 e 2016. Foram amostradas 635 árvores em 9 pastos do sul de
Minas Gerais. As características analisadas das árvores foram altura total, diâmetro do tronco
(DAP), altura do fuste e área da copa. Foram quantificadas a riqueza, a biomassa (indiretamente,
por nota) e a abundância total das epífitas em cada árvore. Dos forófitos analisados 117 deles
possuíam epífitas, foram encontrados 1762 indivíduos de epífitas de 12 espécies diferentes. Apenas
a área da copa e o DAP apresentaram influência positiva significativa na riqueza e biomassa das
epífitas nos testes de regressão linear. Como contribuição prática deste trabalho, o manejo das
espécies epifíticas deve priorizar a preservação de forófitos com diâmetro do tronco e copa
maiores, além disso, um DAP maior indica um maior tempo de colonização devido a idade mais
avançada do forófito e uma maior área de depósito para sementes de espécies epifíticas. Uma maior
área da copa também pode ser um indicativo de maior diversidade de micro habitat, o que favorece
a ocorrência de diversas espécies epifíticas diferentes o que aumentaria, consequentemente a
riqueza. Como contribuição teórica o presente trabalho pode também nortear pesquisas a respeito
de um ambiente relativamente pouco estudado que são os pastos.
A ALTURA EM INDIVÍDUOS DA ESPÉCIE Miconia ferruginata NÃO TEM RELAÇÃO COM O DANO
FOLIAR
Amanda Alves de Lima1, Carlos Henrique Lopes Libório2, Rafaela Gonçalves Almeida3
1, 2, 3-Universidade Federal de Goiás
Cerrado, herbivoria, teoria da aparência
A herbivoria é uma interação negativa em que os consumidores se alimentam de plantas inteiras ou
de parte delas. Um caso bastante perceptível de herbivoria é a folivoria. Plantas que se
desenvolvem em ambientes com grande disponibilidade de nutrientes podem investir mais em
crescimento, compensando assim os danos causados por herbívoros. Por outro lado altas taxas de
crescimento implicariam em plantas mais conspícuas no ambiente. No entanto, e conforme prediz à
teoria da aparência, indivíduos mais conspícuos são mais susceptíveis ao ataque por herbívoros,
pois plantas maiores implicam em maior disponibilidade de recurso. Assim, temos o objetivo de
verificar se plantas mais conspícuas têm maior dano foliar, nós testamos a hipótese de que plantas
mais altas apresentem maior perda de área foliar. O estudo foi realizado no Parque Estadual Serra
de Caldas Novas, nós amostramos 20 indivíduos adultos de Miconia ferruginata, coletamos várias
folhas de árvores de diferentes alturas e sorteamos 3 folhas para cada árvore. As folhas foram
digitalizadas e a porcentagem de dano foliar foi calculada no software ImageJ. Para responder nossa
pergunta relacionamos a altura da planta com dano foliar médio por meio de uma regressão linear
simples, a altura da planta como uma variável explanatória e o dano foliar como uma variável
resposta. As alturas variaram de 33 a 287 cm e o maior dano encontrado foi 7,4%. Em nosso estudo
a altura da planta não apresentou relação com o dano foliar médio. Esse resultado pode ser em
função da baixa pressão que os herbívoros exercem sobre as plantas do Cerrado além disso a
também à baixa qualidade dos tecidos vegetais, que as tornam menos propensas a ataques. Por
outro lado, observamos que os indivíduos menores de M.ferruginata apresentaram indícios de
rebrotamento pós-queimadas. Quando a vegetação é afetada por queimadas, o dano foliar causado
por herbívoro tende a aumentar em comparação à vegetação não queimada. Essa diminuição ocorre
devido a mudanças das características nutricionais de folhas o que as tornariam mais nutritivas.
Desta forma, plantas que sofrem dano por fogo, podem alocar recursos para a rebrota e reduzir a
produção de defensivos, ficando assim mais vulneráveis a ataques de herbívoros.
Filogeografia
DIVERSIFICAÇÃO DO GENE DO CITOCROMO B EM Hylaeamys megacephalus (RODENTIA,
SIGMODONTINAE): INTEGRANDO FILOGEOGRAFIA E MODELOS DE NICHO ECOLÓGICO
Arielli Fabrício Machado1, Mário da Silva Nunes2, Maria Nazareth Ferreira da Silva3, Izeni Pires
Farias4, Marina Anciães5
1-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2, 4-Universidade Federal do Amazonas
3, 5-Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Amazônia, alopatria, Cerrado, parapatria, roedor
Hylaeamys megacephalus é uma espécie de roedor de florestas da Amazônia e do Cerrado que
apresenta um padrão filogeográfico interessante com linhagens divididas entre as margens do rio
Amazonas e ao longo do ecótone Amazônia-Cerrado. Estudos prévios sugeriram diversificação
alopátrica considerando o rio Amazonas uma barreira e parapátrica devido ao gradiente Amazônia-
Cerrado. Apesar disso, tais hipóteses não haviam sido testadas. Investigamos a história evolutiva
desta espécie e as hipóteses de diversificação sugeridas para suas linhagens, integrando
filogeografia e modelos de nicho ecológico (ENMs). Através de dados do gene mitocondrial do
citocromo b sequenciados neste estudo e disponíveis na base de dados Genbank construímos uma
árvore filogenética Bayesiana datada no BEAST, uma rede de haplótipos no Haploview e estimamos
as áreas de distribuição ancestrais e os eventos de dispersão e vicariância (S-DIVA) no RASP.
Rodamos ENMs para a espécie e suas linhagens no MAXENT, avaliando a similaridade de nicho
ecológico através dos índices de Shoener (D) e Hellinger (I) no ENMTools. Nossos resultados
corroboram a existência das três linhagens, revelando coexistência entre as linhagens do sul da
Amazônia e do Cerrado em regiões de transição entre Amazônia e Cerrado. Todas as linhagens
divergiram por vicariância durante o Pleistoceno, porém indivíduos com haplótipos relacionados
divergiram por dispersão e vicariância. Houve baixa similaridade de nicho entre a linhagem do
norte e sul da Amazônia-Cerrado (D=0.18/I=0.45), mas alta entre as linhagens do sul da Amazônia e
Cerrado (D=0.47/I=0.75). Corroboramos diversificação alopátrica para o norte da Amazônia datada
para cerca de 2,4 milhões de anos atrás, associado ao estabelecimento do rio Amazonas. Porém,
devido à ampla distribuição ancestral da espécie e à alta diferenciação de nicho ecológico entre
essas linhagens, sugerimos que fatores ecológicos também tenham influenciado neste processo.
Apesar da reconstrução de área ancestral para as linhagens do sul da Amazônia e Cerrado apontar
distribuição ancestral para ambas as regiões e encontrarmos representantes destas linhagens
coexistindo apenas em áreas de transição, a diversificação parapátrica não foi corroborada, pois o
modelo de especiação requer variação seletiva e nossas análises de sobreposição de nicho
mostraram alta similaridade ecológica entre estas linhagens, porém, análises de nicho
considerando as relações filogenéticas poderão corroborá-la.
ESTABILIDADE DE NICHO DURANTE O PLEISTOCENO E DIVERSIFICAÇÃO DE LINHAGENS DE
Tibouchina hatschbachii, UM TÁXON ENDÊMICO E COM RESTRIÇÃO DE HABITAT NO SUL DO
BRASIL
Fabiano Rodrigo da Maia1, Victor Pereira Zwiener2, Rosemeri Morokawa3, Viviane Silva-Pereira4,
Renato Goldenberg5
1, 3-Universidade Estadual de Campinas
2, 4, 5-Universidade Federal do Paraná
Coalescência, filogeografia, modelagem de nicho, Quaternário, subtropical
A região subtropical da América do Sul é composta por um mosaico vegetacional campo-floresta.
Acredita-se que esse padrão vegetacional é consequência de uma paisagem pleistocênica que
intercalou períodos glaciais e interglaciais, moldando a distribuição da vegetação e influenciando a
distribuição de muitas espécies na região. No entanto, para compreender a história desses
ambientes são necessários o entendimento dos processos demográficos, biogeográficos e
ecológicos num contexto espaço-temporal. Neste estudo, foi utilizado uma abordagem
interdisciplinar para entender os padrões geográficos de variação genética e os efeitos das
oscilações climáticas sobre a distribuição de um táxon campestre subtropical. Nós estudamos três
regiões intergênicas do cpDNA (psbD-trnT, rpl32F-trnL e rpS16-trnQ) de 96 indivíduos de
Tibouchina hatschbachii, uma espécie campestre da região subtropical brasileira. As análises foram
baseadas numa abordagem filogeográfica com modelos de coalescência, datação molecular e
modelos de nicho ecológico. Eventos geológicos e climáticos influenciaram a diversificação genética
de T. hatschbachii. A espécie apresentou alta diversidade de haplótipos, baixa diversidade
nucleotídica e uma estruturação genético-geográfica. Essa estruturação foi relacionada à existência
de duas linhagens, separadas temporalmente há cerca de 1.0Mya e espacialmente pela existência de
barreiras geográficas (deformações profundas formando vales) na região. Os padrões
filogeográficos para T. hatschbachii mostram-se concordantes com as oscilações climáticas do
quaternário para a região subtropical da América do Sul. Em conjunto, as análises demográficas e os
modelos de nicho ecológico mostraram uma maior estabilidade demográfica no último glacial
máximo, e só recentemente houve redução populacional, possivelmente devido ao recente avanço
das florestas na região. Observamos pontos de ocorrência da espécie em áreas com climas bem
diferentes no MNE atual, sugerindo que fatores intrínsecos da espécie (i.e. autogamia e dinâmica de
dispersão) podem ter conferido e estar proporcionando uma maior tolerância ambiental da espécie
nesta região. Esses resultados podem se repetir para outros táxons campestres na região e,
portanto, esse estudo deve melhorar nossa compreensão sobre a história evolutiva da vegetação
campestre subtropical da América do Sul.
Invasões Biológicas
UMA AVALIAÇÃO GLOBAL DO RISCO DE INVASÃO DE ASCÍDIAS (CHORDATA, TUNICATA)
UTILIZANDO MODELAGEM DE NICHO
Daniel Lins1, Rosana M Rocha2, Renata G Frederico3
1, 2-Universidade Federal do Paraná
3-Universidade Federal de Goiás
Avaliação de risco, bioinvasão, modelagem de nicho ecológico, Tunicata
Os ecossistemas podem ser transformados pelas espécies invasoras que causam tanto perdas
ecológicas, quanto econômicas. Ascídias são invertebrados sésseis e seus representantes são
modelos importantes para o estudo de dinâmicas de introduções. Estes organismos são abundantes
em substratos artificiais e possuem larvas de curta duração impossibilitando transpor grandes
distâncias geográficas. Portanto, a dispersão transoceânica geralmente depende do transporte
humano. Além disso, introduções recorrentes são comuns, aumentando a pressão de propágulos e,
então, o risco de invasão. Avaliações de risco são medidas que permitem mitigar o impacto das
introduções acessando a probabilidade de organismos de portos doadores sobreviverem em portos
receptores. Apresentamos uma avaliação considerando vinte espécies-alvo (algumas consideradas
invasoras de preocupação global) utilizando como ferramenta a modelagem de distribuição de
espécies baseado no nicho. A modelagem de nicho consiste na combinação de variáveis ambientais
e registros de presença (ocorrência) de espécies para parametrizar modelos de previsão de locais
adequados à sobrevivência das espécies onde ainda não existem registros. Nesta abordagem
testamos um conjunto de algoritmos (Random Forest – RF, Support Vector Machine – SVM e
MaxEnt) por sua habilidade de predição, e validamos utilizando medidas independentes ([area
under the curve] – AUC) e dependentes do limiar ([true skill statistics] – TSS). Todos os modelos
apresentaram boa adequabilidade para a maioria das espécies (TSS>0,7) e valores AUC para os
conjuntos de modelos para cada espécie com pouca variação (AUC>0,9). Ambos os índices indicam
que os modelos RF e SVM tiveram desempenhos semelhantes e produziram melhores predições
que MaxEnt. Ascidia sydneiensis, Botryllus Schlosseri e Styela plicata apresentaram os mais altos
valores para AUC e TSS em todos os modelos, em contrapartida, as piores predições foram
atribuídas à espécie A. archaia. Ascídias com histórico de introdução apresentam ampla tolerância
ambiental e algumas espécies restritas à zona climática temperada tem sido bem-sucedidas em
ultrapassar a “barreira tropical” e se estabelecer nos dois hemisférios. Testando uma combinação
de algoritmos estimamos o risco de expansão na área de vida de todas as espécies e identificamos
regiões ainda sem registros que apresentam adequabilidade e podem ser invadidas.
SUÍDEOS ASSELVAJADOS NO SUL DO BRASIL: DISTRIBUIÇÃO ATUAL, IMPACTOS E POTENCIAL
INVASIVO
Luís Fernando Carvalho Perello1, Matheus Fragoso Etges2, Isadora Bisognin Cervo3, Demetrio Luis
Guadagnin4
1-Fundação Estadual de Proteção Ambiental
2, 3, 4-Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Exótica invasora, invasão biológica, javali, porco selvagem
O javali Sus scrofa Linnaeus, 1758 é listado entre as cem piores espécies exóticas invasoras no
planeta. Porcos domésticos ou javalis puros colonizaram com sucesso quase todas as regiões onde
foram introduzidos, sendo responsáveis por efeitos negativos na agricultura e nos ecossistemas
naturais. Os primeiros registros de javalis puros no Rio Grande do Sul (RS) datam de 1997. A
espécie foi decretada como nociva e seu abate permitido em todo o país pela Instrução Normativa
IBAMA 03/2013. O objetivo deste trabalho é atualizar as informações sobre distribuição de suídeos
asselvajados no RS e prever potenciais áreas de expansão no Estado. Estimamos a distribuição
geográfica do javali modelando a probabilidade de ocorrência em quadrantes de 1° latitude X 1°
longitude segundo variáveis bioclimáticas de vegetação e uso do solo a partir de registros
confirmados de presença. Os registros foram obtidos compilando fontes secundárias e entrevistas
com informantes vinculados à produção primária em municípios amostrados aleatoriamente.
Calculamos a taxa de expansão da espécie comparando a distribuição conhecida em 2006 e 2014.
Confirmamos a ocorrência dos suídeos em 39,5% do território do RS e em pelo menos 11 das 34
unidades de conservação estaduais e federais. A espécie se expandiu no RS a uma taxa de 12,2% ao
ano entre 2006 e 2014. Em modelos univariados, a presença de suídeos asselvajados se relaciona
com 21 variáveis bioclimáticas e de uso do solo. O melhor modelo de previsão do potencial de
distribuição de javali no bioma Pampa inclui a densidade de água e a área plantada com sorgo e, na
Mata Atlântica, a densidade de cursos d’água e de rodovias. Pelos modelos preditivos, verificou-se
que quase a metade do território do RS (47%, ou 131.000km²) tem probabilidade acima de 76% de
ocorrência de suídeos asselvajados. Grande parte do Estado oferece condições bioclimáticas e de
uso do solo adequadas para a presença de suídeos asselvajados. Recursos alimentares agrícolas e
disponibilidade de água têm sido associados à invasão de javalis em diversas regiões do planeta. A
densidade de rodovias pode ser um proxi para a disponibilidade de refúgios em áreas remotas. É de
se esperar que as populações de suídeos sigam em expansão no Rio Grande do Sul. Os fatores que
explicam sua presença e expansão não deverão se alterar mesmo a longo prazo. O controle de
efeitos negativos sobre a biodiversidade e produção agropecuária exige urgente manejo ativo com
foco em áreas prioritárias.
O PAPEL DA DIETA E DE SUA FLEXIBILIDADE NA INVASÃO DE PEIXES
Lívia Helena Tonella1, Natália Carniatto2, Rosemara Fugi3, Angelo Antonio Agostinho4
1, 2, 3, 4-Universidade Estadual de Maringá
Dieta, invasão, plasticidade alimentar, segregação de nicho
Este estudo tem como foco duas espécies de peixes que invadiram o alto rio Paraná logo após a
construção do reservatório de Itaipu em 1982, e que atualmente estão entre as espécies mais
abundantes da planície de inundação do alto rio Paraná. Foi comparada a dieta de Loricariichthys
platymetopon e Parauchenipterus galeatus em sua área nativa (Bacia do rio Cuiabá) e na área
invadida (Bacia do alto rio Paraná), com o objetivo de verificar se o hábito alimentar dessas
espécies foi um fator importante no processo de invasão e estabelecimento dessas espécies. As
amostragens ocorreram de 2000 a 2004 na área nativa, e de 2006 a 2015 na área invadida. Foram
analisados 60 conteúdos estomacais de cada espécie. A composição da dieta foi avaliada através do
método volumétrico. Diferenças na composição da dieta entre a área nativa e invadida foram
testadas através de uma PERMANOVA, e a amplitude de nicho trófico foi avaliado pelo índice de
Levins. A dieta de L. platymetopon foi composta predominantemente por detrito/sedimento tanto
na área nativa quanto na invadida (34,9% e 87,5%, respectivamente), no entanto, a dieta diferiu
significativamente entre as áreas. Esse resultado é justificado pela diferença no consumo de outros
itens como Chironomidae (13,8%) na área nativa, e Oligochaeta (4,4%) na invadida. A amplitude de
nicho trófico para L. platymetopon foi maior no ambiente nativo (B=5,7) comparado ao invadido
(B=1,3). Na área nativa, P. galeatus, consumiu10 itens, destacando-se resto de peixe (45,7%),
seguido de fruto/semente (30,28%), já na área invadida, a dieta foi composta por 26 itens,
principalmente resto de peixe (15,3%), seguido de Ephemeroptera (13,6%). Para essa espécie,
também ocorreu diferença significativa na composição da dieta entre as áreas. A amplitude do
nicho foi maior na área invadida (B=10,2) comparada à área nativa (B=3,2). Os resultados
permitem concluir que a estratégia alimentar de ambas as espécies foi importante para o
estabelecimento delas na área invadida. Embora L. platymetopon seja considerada especialista,
estratégia que normalmente não favorece a invasão, o hábito detritívoro pode ter facilitado seu
estabelecimento, já que este recurso é abundante em todos os ambientes. A estratégia alimentar
generalista de P. galeatus, evidenciada pela elevada amplitude do nicho, principalmente na área
invadida, indicou sua alta plasticidade alimentar, estratégia que também favoreceu seu
estabelecimento.
INVASIVE TREE Hovenia dulcis COLONIZES THE INTERIOR OF FOREST FRAGMENTS
Tanise Luisa Sausen1, Elivane Salete Capellesso2, Ramiro Bustamante3
1-Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões
2-Universidade Federal do Paraná
3-Universidad de Chile
Establishment, germination, initial growth, litter, understory
Hovenia dulcis is an exotic tree species with high capacity for invasion of forest fragments in
southern Brazil. Field studies have shown high regeneration near adult plants, especially in closed-
canopy forest fragments. We used a greenhouse experiment simulating field abiotic and biotic
conditions associated with H. dulcis invasion to determine the ecophysiological mechanisms
associated with the high invasion potential of this species. The germination process, establishment
and initial growth of H. dulcis were evaluated in combinations of different light conditions (low,
intermediate and high light) and litter abundance (standard field conditions and 2x greater than
field conditions) and litter composition (exotic, native, and mixed litter). We found no interactions
between the abiotic and biotic conditions tested. However, when evaluated individually,
germination success was greater and establishment and growth were better in low light conditions
regardless of the litter mass and litter composition. These results challenge the classification of H.
dulcis as an intolerant shade species and highlight the ecophysiological characteristics that enable
the establishment and recruitment of this species in preserved forest fragments.
A GRAMÍNEA INVASORA BRAQUIÁRIA (Urochloa sp.) AFETA A PREDAÇÃO DE SEMENTES DE
PLANTAS NATIVAS DO CERRADO?
Isabele Francisco Rebolo1, Alexander Vicente Christianini2
1, 2-Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba
Cerrado, conservação, ecologia vegetal, granivoria, invasões biológicas
Um dos desafios para a conservação do Cerrado é a invasão por gramíneas africanas como a
braquiária Urochloa sp. Não há informações sobre o impacto que estas gramíneas podem causar na
predação de sementes. Nos poucos estudos disponíveis, roedores e formigas parecem ser os
predadores de sementes mais importantes no cerrado. A braquiária frequentemente aumenta a
cobertura do solo em relação às gramíneas nativas, podendo interferir no comportamento de
predadores de sementes. Roedores tendem a preferir se alimentar em locais com maior cobertura
vegetal por conta do menor risco de predação. Assim, áreas com maior cobertura vegetal estariam
sujeitas a uma maior predação de sementes. Sementes sobre a superfície tendem a ser mais
predadas do que sementes enterradas, devido a menor detecção e maior gasto energético pelo
predador. Nós investigamos o impacto da braquiária na remoção de sementes nativas em um
fragmento do Cerrado na UFSCar Campus Sorocaba. Foram utilizadas sementes de Aegiphila
lhotzkiana, Myrsine umbellata, Erythroxylum cuneifolium e Alibertia edulis em experimentos de
remoção em locais que apresentavam a presença de braquiária ou gramínea nativa. Também
analisamos a remoção de sementes na superfície ou enterradas, na presença de exclusões de
roedores ou não. Encontramos muita variação na remoção entre diferentes espécies de plantas,
com mais sementes removidas na superfície e em locais sem exclusão do que nos respectivos
controles. Ao contrário de nossa expectativa não houve diferença na remoção de sementes nas
áreas com gramínea nativa ou braquiária e nem interação com os demais fatores. Estes resultados
sugerem que a presença da braquiária não está afetando a quantidade de sementes predadas, que
sementes enterradas estão mais seguras e que vertebrados são os agentes mais importantes de
predação. Características intrínsecas das sementes, como palatabilidade e conteúdo nutricional
talvez sejam mais determinantes para a remoção. Assim, a dominância de braquiária nas áreas
invadidas não parece ser provocada por um aumento na predação de sementes das espécies
nativas.
Macroecologia
COMO A RIQUEZA DE ESPÉCIES SE DISTRIBUI NO ESPAÇO CLIMÁTICO?
Andreas L. S. Meyer1, Marcio R. Pie2
1, 2-Universidade Federal do Paraná
Biótopo, distribuição de espécies, dualidade de Hutchinson, nicho climático, relação espécie-área
O conceito moderno de nicho ecológico baseia-se na relação recíproca entre espaço geográfico
(biótopo) e espaço de nicho. Esta relação, denominada dualidade de Hutchinson, prevê que
variáveis observadas no biótopo formam eixos no espaço de nicho, o que permite que regiões do
biótopo sejam mapeadas no espaço de nicho e vice-versa. Apesar da dualidade ser essencial à
compreensão da relação entre nichos ecológicos e distribuição de espécies, pouco se sabe sobre
como as propriedades do espaço de nicho influenciam sua ocupação pelas espécies. Por exemplo,
sabe-se que o espaço de nicho climático possui uma estrutura anisotrópica, na qual alguns regimes
climáticos são mais comuns que outros. De forma análoga a relação espécie-área, a variação na
disponibilidade de climas (aqui chamada de prevalência climática; PC) poderia influenciar
diretamente a maneira como as espécies ocupam o espaço de nicho e, consequentemente, nos
ajudar a compreender as causas dos padrões observados no biótopo. O objetivo deste estudo foi
investigar como as espécies distribuem-se no espaço climático e qual a relação entre PC e riqueza
de espécies. Para isso, utilizamos dados de distribuição de >10000 espécies de mamíferos e
anfíbios, e medimos a PC de cinco variáveis relacionadas a temperatura, precipitação anual e
evaportranspiração potencial (ETP). A relação entre riqueza e PC foi testada com base em quatro
modelos usados para descrever a relação espécie-área: potencial, exponencial, logístico e linear. O
modelo de melhor ajuste foi selecionado pelo AIC. As análises foram realizadas em escala global e
separadamente para onze regiões zoogeográficas. A PC da temperatura explicou grande parte da
variância na riqueza global de mamíferos e anfíbios (R²>0.81 e P<0.05 em todas as análises). A
variância explicada pela PC da precipitação foi semelhante para mamíferos (R²=0.86, P<0.001) mas
menor para anfíbios (R²=0.64, P<0.01). A variância explicada pela PC da ETP foi a menor, mas ainda
relevante (mamíferos: R²=0.46, P<0.001; anfíbios R²=0.37; P<0.001). Apesar de algumas
idiossincrasias, a PC manteve-se como bom preditor da riqueza em escala regional (mamíferos:
R²médio=0.65; anfíbios: R²médio=0.59). Os resultados sugerem que padrões de riqueza observados
no biótopo são impulsionados principalmente pela disponibilidade de espaço de nicho, e não por
alguma característica especial de uma região específica do espaço de nicho, como estabelecido em
algumas teorias (e.g. teoria metabólica).
CLIMATE CHANGES IMPACTS IN ATLANTIC SEASONAL FOREST PRESERVATION AND
DISTRIBUTION
Luíz Fernando Esser1, João André Jarenkow2
1,2- Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Atlantic forest, biodiversity conservation, ecological niche modeling, global warming, phytogeography
A remarkable agreement was approved on the 21st Conference of the Parties of the United Nations
Framework Convention on Climate Change (COP 21). With 195 signatories, the Paris Agreement, as
it was called, will try to reduce climate changes at its minimum. That is, it limits to 2oC the raise of
the mean temperature of the globe in relation to the pre-industrial Era. But, will 2oC be sufficient to
save our planet from ourselves? In South America, the seasonal forest is one of the major Atlantic
Forest formations. Characterized by a resting period induced by adverse conditions, this formation
is also extremely endangered due to the advance of the agricultural systems. Because of its
particular climatic characteristics, its reaction to climate change remains a mystery. We evaluated if
the 2oC determined by the Paris Agreement will be effective in Atlantic seasonal forest
preservation, clarifying the impacts of climate change in this formation distribution. To do so, we
used the MaxEnt algorithm to model its distribution to the present and future (RCP2.6) scenarios,
using location points of 104 tree ecology studies. Results of the model were analyzed in QGIS. The
model presented reliable results (AUC=0.945; R2=0.818), allowing us to make robust conclusions.
Precipitation of driest month (59.6%), followed by soil (25.8%) and temperature seasonality
(7.4%) were the variables that most contributed to the model. According to it, seasonal forest at
2050 will lose 49.1% of its present cover, remaining in few regions where it is currently preserved,
mainly due to improper relief for agriculture. This loss reflected in preserved area. Currently, only
3.01% of the total distribution of the seasonal forest is within protected areas, preservation areas
or indigenous reserves. In the future scenario, this percentage drops to 1.56% of the present cover.
Paris Agreement would secure the best way to a better future for us, once it aims the less
aggressive path. But this is not enough. Climate change will reduce the preservation area of
seasonal forest, so a long-term approach is needed in conservation planning.
Manejo e Conservação de Ecossistemas
ESTRUTURA FUNCIONAL DE VÁRZEA ESTUARINA MANEJADA PARA PRODUÇAÕ DE FRUTO DE
AÇAÍ
Madson Antonio Benjamin Freitas1, Alderuth da Silva Carvalho2, Ima Célia Guimarães Vieira3,
Marcelo Tabarelli4
1, 4-Universidade Federal de Pernambuco
2-Universidade Federal do Pará
3-Museu Paraense Emílio Goeldi
Diversidade funcional, manejo de açaí, perturbação crônica, produto florestal não-madeireiro
Perturbações crônicas têm levado ao empobrecimento florístico em várzea estuarina submetida ao
adensamento de palmeiras de açaí Euterpe oleracea Mart. Contudo, essa relação precisa de maiores
esclarecimentos quanto à funcionalidade das assembleias remanescentes, tendo-se em vista a
composição dos atributos e suas respostas específicas às variações no manejo. Analisar o efeito do
adensamento do açaí na estrutura funcional de várzea estuarina. O estudo foi desenvolvido em
várzea estuarina sob diferentes condições de manejo de açaí nos municípios próximos a região
metropolitana de Belém, num total de 34 parcelas de 0,1 ha. A mensuração dos atributos:
Densidade Específica do Galho (DEG); Área Foliar Específica (AFE); Espessura Foliar (EF) e;
densidade estomática (DE) seguiram as determinações do site Nucleus DiverSus. A densidade de
açaí foi utilizada como proxy de perturbação, visto que sua emergência requer a entrada de luz
propiciada pela retirada de árvores de dossel pelos ribeirinhos. Foram utilizados índices de
diversidade funcional de acordo com Villéger et al., 2008 (Riqueza funcional-Fric; divergência
funcional-Fdiv e uniformidade funcional-Feve) e Laliberté e Legendre, 2010 (dispersão funcional-
Fdis) utilizando-se o pacote dbFD no R (R Core Team, 2015). A composição dos atributos funcionais
se deu pelas análises da média do atributo ponderado pela abundância das parcelas (CWM). Tais
índices foram correlacionados com a densidade de açaí por hectare utilizando o programa BioEstat
5.0. Dentre os atributos analisados, o adensamento do açaí levou à assembleias com reduzida
densidade de madeira (F(1,32) = 7,16; R² = 0,182; p= 0,01) e menor riqueza e dispersão funcional
(F(1,32) = 16,64; R² = 0,349; p < 0,001; F(1,32) = 9,6; R² = 0,230; p = 0,004). Nossos resultados
demonstram que o adensamento de açaí em floresta de várzea estuarina leva a perda de espécies
com estratégias conservativas, reduzindo o volume do nicho e simplificando funcionalmente a
comunidade. Houve menor amplitude de variação de DEG em áreas de maior adensamento de açaí,
demonstrando o impacto da retirada constante de biomassa (perturbação crônica) nesse ambiente,
promovendo, além da redução do espaço funcional, a perda de estratégias específicas. Tais
resultados têm forte implicação para regulamentação dessa atividade agroextrativista: que
considere a funcionalidade desse ecossistema para elaboração de planos de manejo.
Metacomunidades
A IMPORTÂNCIA DE PROCESSOS ESPACIAIS E DE NICHO SOBRE UMA METACOMUNIDADE DE
GIRINOS EM UMA PEQUENA ESCALA NA MATA ATLÂNTICA
Vitor Nelson Teixeira Borges Júnior1, Carlos Frederico Duarte Rocha2
1, 2-Universidade Federal do Rio de Janeiro
db-MEM's, morfologia do riacho, química d'água, partição da variância
A ferramenta de metacomunidades é útil porque possui uma abordagem de múltiplas escalas
que integra os papeis de processos locais (ex. processos de nicho) e regionais (ex. processos
espaciais) que regulam a distribuição das espécies. Processos de nicho (ex. filtros ambientais
locais) são importantes mecanismos estruturantes de metacomunidades de anuros. A escolha
do sítio reprodutivo pelos adultos é fortemente influenciada pelas características morfológicas
e químicas do habitat. Processos espaciais que resultam de dispersão aleatórias, limitações nas
habilidades de dispersão e interações bióticas também exercem um papel importante sobre a
estrutura de metacomunidades de anuros. Avaliamos a importância relativa de processos
espaciais e de nicho em uma metacomunidade de girinos na pequena escala de uma micro-
bacia hidrográfica na Mata Atlântica do Sudeste do Brasil. Conduzimos as amostragens entre
junho de 2011 e setembro de 2012 em 10 riachos de primeira ordem numa área florestada.
Realizamos amostragens mensais de girinos, de variáveis morfológicas e químicas dos riachos.
As amostragens se estenderam 1.350.000 m2, os riachos distavam entre si em média 1.000 m e
a distância máxima registrada foi 3.270 m. Modelamos as variáveis espaciais utilizando db-
MEM’s. Acessamos a importância relativa da morfologia do rio, química da água e de processos
espaciais utilizando partição de variância. A contribuição única dos processos espaciais
explicou a maior parte da variação na metacomunidade (39,7%). Dada a pequena escala
espacial e a proximidade entre os riachos, somente limitações na dispersão é pouco provável.
Nós sugerimos que a estrutura espacial observada resulta de trade-offs entre as habilidades
competitivas e de dispersão das espécies. A morfologia dos riachos explicou 4,5% da variação
total (p < 0,05). A contribuição das variáveis químicas (2%) não foi significativa e a maior parte
variação da metacomunidade explicada pela morfologia dos riachos (19,8%) e pela química
d’água (11,5%) foi espacialmente estruturada. Os resultados corroboram a hipótese de que
tanto a morfologia dos riachos quanto a química da água influenciam a metacomunidade de
girinos. Demonstramos que na escala deste estudo a metacomunidade de girinos foi afetada por
processos espaciais e processos locais que atuam sobre a escolha do habitat reprodutivo dos
adultos (ex. morfologia) e sobre a demografia dos girinos (ex. química d’água).
ESTRUTURA DE METACOMUNIDADE DA FLORESTA ATLÂNTICA: ELUCIDANDO PADRÕES E
ESCALAS DETERMINANTES DA BIODIVERSIDADE
Vinícius Marcilio-Silva1, Victor P. Zwiener2, Márcia C. M. Marques3
1, 2, 3-Universidade Federal do Paraná
Conservação, floresta tropical, partição aditiva de diversidade
A Floresta Atlântica (FA) abrange três tipos florestais diferentes, Florestas Densa (Den), Mista
(Mis) e Estacional (Est). Os processos determinantes das diferenças entre estes tipos florestais
possivelmente contribuem para a alta diversidade deste bioma. É necessária uma descrição
abrangente das relações entre ambiente e estrutura de metacomunidades nestes tipos florestais
para entendermos como a diversidade é distribuída ao longo do espaço. A abordagem “Elements
of Metacommunity Structure” (EMS) é útil para avaliar processos subjacentes determinando a
assembleia de comunidades. A EMS permite identificar qual estrutura idealizada
(checkerboarder, nestedness, Clementsian, Gleasonian, evenly space ou random distributions)
caracteriza uma metacomunidade, a partir de três elementos que consideram grau em que as
espécies são afetadas pelo mesmo gradiente (coherence), forma como a composição de espécies
muda ao longo do gradiente (turnover) e disposição dos limites de distribuição das espécies no
gradiente (boundary clumping). A partição aditiva hierárquica da diversidade (PAHD) pode
revelar pontos importantes de heterogeneidade dentro da FA, guiando esforços de conservação.
Neste trabalho, utilizou-se a ocorrência de 2071 plantas lenhosas distribuídas em 177 sítios ao
longo da FA, em conjunto com as abordagens de EMS e PAHD para determinar como as
comunidades são estruturadas em diferentes escalas espaciais e avaliar a influência do clima sob
a estrutura (através de CCA). A EMS revelou a mesma estrutura emergente para a FA e tipos
florestais, caracterizando-as como “nested subsets” com perda agrupada de espécies ao longo do
gradiente. FA, Den e Est são primariamente estruturadas por variações na temperatura enquanto
a Mis por precipitação. Cada sítio da FA contém mais diversidade (diversidade-α) do que o
esperado ao acaso; já a diversidade-β entre sítios dentro de cada tipo florestal (β1) é menor do
que o esperado, enquanto a entre sítios e entre tipos florestais (β2) é maior do que o esperado.
Apesar dos padrões estruturantes similares entre tipos florestais, a variação nos gradientes
ambientais estruturando cada um ressalta suas diferenças ecológicas. Estas diferenças são
importantes para determinar os altos níveis de biodiversidade da FA. A conservação da FA deve
abranger seus três tipos florestais e suas características únicas, e priorizar sítios com alta
riqueza já que estes tendem a representar bem suas comunidades.