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“Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes,

lançaram sortes.”

Lucas 23:33-34

1ª Palavra

No início desta jornada, que durante Três horas nos vai resumir três anos de Ministério de Cristo, parece que nem temos tempo de nos prepararmos para estes acontecimentos com o mínimo de fôlego. De repente já o encontramos a ser levado para o lugar da Caveira, em que Ele nunca tornará a ser crucificado nesse lugar, numa cruz traçaria uma linha entre os bons e os maus ladrões, os que procuram a remissão e a transformação das suas vidas, dos malvados que zombam da salvação. De um lado exige-se e do outro deseja-se o Reino, cá em baixo fazem-se partilhas ainda com o Cristo vivo, como os que dividem quando ainda os cadáveres estão quentes, sem peso na consciência. Esta Palavra afasta uns dos outros, mas para que a glória de Deus se possa entender e seja vista com clareza, para que a imagem de Cristo não seja ofuscada pelas máscaras humanas. Para que o vazio que os homens deixam atrás de si possa ser preenchido pelas Palavras das próximas Três Horas. Se nos parece que Cristo abre aqui caminho para as suas palavras finais afastando uns e outros, a esquerda da direita e o alto do baixo, podemo-nos perguntar: então como

se podem aproximar? Como é que tudo pode voltar aos seus lugares? Como é que se podem encontrar lugares novos, até aqui inimagináveis, de reencontro? Como é que todos podem convergir para um só lugar, um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo, e para um só Deus, Pai de todos por igual? Esta primeira palavra de Jesus na Cruz lança a todos nós, à Igreja e ao mundo, crente e não crente, um labirinto de difícil solução, mas muito desafiador! Quando sabemos ou não sabemos o que fazemos? Como é que avaliamos o que fazemos, e o que os outros fazem? Como fazem os outros, e como fazemos nós? Quem faz mais, e melhor, e mais perfeito? Esta Palavra de Jesus interpela os que estão convencidos de que sabem exactamente o que estão a fazer. Os que sabem sempre exactamente o que estão a fazer, acham que os outros todos são uns imbecis sem remédio. Conhecem as soluções, sem ainda conhecerem os problemas, e as respostas sem ainda serem feitas perguntas. O que pensa que não sabe fazer nada perde a beleza de saber que pode estar certo, o que pensa que sabe fazer tudo perde a beleza de errar. Ambos estão

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crucificados, e entre ambos escava-se um grande abismo, em que nem uns podem passar para lá, nem outros para cá.Ao contrário do que tantos estão convencidos, como ainda não estamos no Reino de Deus, ainda estamos todos submetidos à humanidade e às nossas limitações, a não sabermos nunca muito bem se estamos a fazer bem ou se estamos a fazer mal. Pensamos que estamos a fazer o que Deus quer e no fim percebermos que estamos apenas a fazer o que nos apetece. É neste contraste e neste desafio humano que está a beleza de Deus no mundo, um mundo sempre em descoberta. O que faz sempre mal pode sempre deixar-se corrigir, o que pensa que faz sempre bem, nem Deus o consegue corrigir.Então, como aproximar os malvados que estão de um lado, dos bons que estão do outro? O que é cima do que é de baixo, os que fazem dos que não fazem, os que fazem mal dos que fazem bem, os que sabem fazer dos que não sabem? Apenas através do que está no meio: Cristo. É necessária paciência e tranquilidade na espera para entender isto porque, no momento do retorno, o Senhor não se irá apresentar nem à direita, nem à esquerda, nem em cima nem em baixo, mas os Evangelhos vão dizer-nos que: “se apresentou no meio deles”. Só nos podemos apresentar uns diante dos outros quando reconhecemos que Cristo se apresenta no meio. Na realidade, esta primeira Palavra de Cristo cobre toda a Paixão.

Todas as outras seis palavras vão ficar submetidas e a coberto desta primeira, acerca do Perdão. Esta Palavra lembra-nos que somos frágeis. Que ao longo do ano, em humildade e sinceridade, no início do dia oremos: Pai perdoa-nos porque não sabemos o que vamos fazer, e no fim do dia oremos: Pai perdoa-nos porque não sabemos o que fizemos, simplesmente porque estamos e queremos estar sempre nas tuas mãos e ao serviço da Tua vontade.

Amén

Pastor José Manuel Cerqueira

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“Hoje estarás comigo no Paraíso”

Lucas 23:43b

Se não entendermos a crucificação de Jesus como resultado da ira de Deus, que se ofereceu a Si mesmo, na pessoa do Seu Filho em quem encarnou, como nosso substituto, não perceberemos o verdadeiro significado da cruz. Se não acreditarmos que a Sua condenação teve por finalidade retirar a condenação que estava sobre nós, nunca compreenderemos o verdadeiro significado da Páscoa.

O que pesou mais sobre Jesus, na Sua crucificação, não foi tanto o efeito da ira dos homens, mas sim o efeito da ira de Deus, descarregada sobre Si próprio, para que os homens fossem reabilitados e readmitidos naquele lugar onde viveriam para sempre em intimidade com Ele. Se a ira de Deus fora suficiente para, através da Sua JUSTIÇA, condenar toda a humanidade, o Seu infinito Amor foi o necessário para, através da Sua GRAÇA e MISERICÓRDIA, salvar todos aqueles que creem no Jesus da Cruz, no Jesus da Ressurreição.

“Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43) ganha todo

o seu significado quando é lido ou ouvido na sequência de uma frase proferida antes por aquele a quem nos habituámos a chamar de “ladrão bom”. O que teria levado este homem, ali pregado numa cruz, a fazer esta sublime declaração de fé: “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino” (Lucas 23:42)?

Ele compreendera o verdadeiro significado do seu julgamento e percebera que estava ali a pagar o justo castigo pelos atos pecaminosos que havia cometido, e que Jesus estava ali a pagar o injusto castigo, não por qualquer ato pecaminoso que tenha praticado, mas por causa dos pecados do mundo. Assim como compreendera o significado do seu julgamento, também compreendera o significado da Graça. Este homem percebeu que os seus pecados podiam ser perdoados por aquele Rei ali pregado ao seu lado, e que esse perdão, que permitiria a sua comparência no reino d’Ele quando partisse deste mundo, não seria concedido por seu próprio mérito, mas pelo mérito exclusivo desse Rei, Jesus.

“Se os homens não compreenderem o significado do julgamento, jamais compreenderão o significado da graça.”

Dorothy Sayers, em “Cartas a uma Igreja Enfraquecida”

2ª Palavra

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Nós não somos salvos pelo que fazemos por Cristo, mas sim pelo que Cristo faz por nós. O “ladrão bom” percebeu que a solução para a sua salvação não estava em si, mas em Jesus. Ao colocar a sua fé em Cristo, este homem foi achado justo, tornou-se digno de ser chamado “filho de Deus”, e, nesta condição, foi considerado apto para entrar na presença de Deus e gozar da sua intimidade, para sempre.

Não posso deixar de associar a figura do “ladrão bom” à Igreja de Cristo, com a sua comunidade de crentes que, na sua condição de pecadores, estando debaixo da condenação, destituídos da glória de Deus, clamam sem cessar, “Senhor, Senhor! Lembra-te de nós aí no Teu Reino!”, esperando que pela Fé no sangue derramado por Cristo naquela cruz do calvário, venham a ser justificados pela graça de Deus e pela redenção que há em Cristo Jesus, podendo escutar a voz mansa de Jesus, dizendo “Hoje poderás ter a certeza de que, um dia, estarás comigo no Paraíso”.

Não consigo deixar de vislumbrar em tudo isto um casamento, consumado pela união entre Cristo e a sua noiva, a Igreja, o conjunto dos crentes justificados e aperfeiçoados em Cristo, unidos a Cristo, numa união perfeita, e com quem viverão juntos para sempre, no Paraíso.

Diácono à prova Alfredo Bastos Silva

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“Mulher, eis aí o teu filho... Eis aí tua mãe.”

João 19:26-27

3ª Palavra

Os evangelhos fornecem apenas alguns vislumbres sobre a relação entre Jesus e Maria. Podemos perguntar-nos que pensamentos castigados estariam a passar pela mente de Maria quando viu o seu filho em tal extremada crucificação. Não será aqui irrelevante o facto de ser sua mãe! É muito provável que ela se lembrasse das palavras proferidas numa profecia, quando o menino Jesus foi apresentado no Templo:Lucas 2.34 e 35 “Simeão abençoou-os e disse a Maria sua mãe: «Este menino é para muitos em Israel motivo de ruína ou salvação. Ele é sinal de divisão entre os homens, para revelar os pensamentos escondidos de muitos. Uma grande dor, como golpe de espada, trespassará a tua alma.»Este era o momento – a espada estava sendo cruelmente empurrada nela. Sofria, por Jesus estar a ver a sua própria mãe, entre os que estavam perto da cruz. E Jesus sofreu por causa do seu sofrimento. Ele sempre penetrava nas necessidades do seu povo.Jesus é tocado com o sofrimento da sua mãe. Contudo, Ele não se refere a ela como mãe mas como mulher. E já todos nos perguntámos porquê. E mais do que uma vez, com certeza!

À primeira vista, teria sido mais terno, e até mais amoroso, que Jesus a tivesse chamado de mãe, mas neste momento sublime, singular, irrepetível, Jesus não poderia ter isso em consideração. A razão é que Maria não deve mais pensar em Jesus como seu filho. Quanto mais ela pensa nele como seu filho, mais vai sofrer quando Ele sofrer. Maria deve começar a olhar para Jesus como o seu Senhor. Mesmo assim, ela sofrerá, mas esse sofrimento terá uma natureza diferente. Ela saberá então que, por mais terrível que seja a sua agonia, é gloriosa, por causa de seu glorioso propósito. Ela começará então a concentrar-se no significado redentor desse ato. O sofrimento meramente emocional de Maria deve ser substituído por algo mais elevado, isto é, pela adoração. Este era o modo como Jesus ministrava o amor aos quebrantados de coração. Isto mostra que na Cruz todas as barreiras foram quebradas: na cruz não há barreira de idade, nem barreira de género, nem barreira social, religiosa, política, económica ou de qualquer outra identidade, pois todos os que vêm a Jesus fazem parte da sua casa.Esta Terceira Palavra na Cruz, revela

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também a relação de Jesus com o seu discípulo João, aquele que tinha sido mais próximo dele. Não era necessária uma longa explicação para que João soubesse o que Jesus queria significar com as suas palavras. Lemos que daquela hora João levou Maria para a sua própria casa. A pergunta poderia ser levantada, “Mas por é que Maria não foi confiada ao cuidado de um dos seus outros filhos?” A resposta é provavelmente porque eles ainda não teriam recebido a Jesus por uma fé viva. João estava pronto e agia sem hesitação. Diz-se que esta Palavra na Cruz é a menos teológica, mas a aplicação prática do evangelho nunca deve ser separada de sua mensagem. É somente enquanto a teoria é traduzida na prática, que a relação com Cristo se transforma uma realidade viva. Esta palavra diz-nos que há amor na cruz para cada um de nós. E é um amor que, tendo sido recebido, deve ser partilhado com os outros.Voltemos a Maria para imaginarmos o seu olhar para Jesus ali na cruz, quando Jesus demonstra por ela uma excecional preocupação e um cuidado familiar extremo. Talvez José já tivesse falecido e João torna-se assim na pessoa mais próxima, capaz de ajudar na sua vida espiritual. Jesus cuidou da sua mãe, assumindo a responsabilidade de filho mais velho, mas sabia que a partir dali, já não o poderia fazer mais. Então pediu o apoio de João, para ajudar a sua família, para cuidar da sua mãe.Nestas palavras, Jesus evidencia que o seu vínculo humano com Maria havia

terminado, porque a parte humana, a parte material de Jesus Cristo, que Maria havia desenvolvido no seu ventre, havia sido morta em sacrifício vivo para remissão dos pecados de muitos. Porém, a parte espiritual que veio de Deus Pai, permanece viva porque Jesus Cristo ressuscitou com um corpo glorificado, foi elevado aos céus e está sentado à direita do Pai e intercede por nós.O Senhor Jesus teve a preocupação de não deixar Maria desamparada, encarregou de cuidar dela a pessoa da sua maior confiança, o apóstolo a quem mais amava. Criou entre eles o maior vínculo de amor fraterno entre os seres humanos, a relação mais harmoniosa, o amor maternal, para conforto de ambos.

Pastor à prova Marcelo Fonseca

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“Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”

Mateus 27:45-46

4ª Palavra

Jesus está na cruz cheio de sofrimento. De repente, ao meio dia, caem trevas sobre toda a terra. O meio dia transforma-se em meia noite. Ao completar a terceira hora de escuridão, Jesus grita com alta voz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Habituamo-nos a ouvir estas palavras principalmente como um grito de angústia de Jesus.E a verdade é que a experiência por que Jesus passou não é comparável a qualquer outra, pois foi absolutamente única. Atentemos na cruz: vemos que Jesus permaneceu horas intermináveis pendurado, em agonia e sofrimento atroz; até que, perante o aparente silêncio de Deus, clamou: “Meu Deus! Meu Deus! Porque me abandonaste?” Estas palavras revelam um sofrimento que não foi só físico. No que toca ao sofrimento físico, podemos pensar que, embora Jesus tenha sofrido inegavelmente muitíssimo, tem havido, ao longo da história, outros que possivelmente sofreram tanto como Ele. Então porque é que a morte de Jesus foi mais terrível do que qualquer outra que alguém já tinha sofrido ou haveria de sofrer? Porque foi qualitativamente diferente

de qualquer outra morte. À dor física somou-se a dor espiritual, o sentimento de abandono por ter que carregar sobre si os pecados de toda a humanidade. Jesus era Deus e, como tal, santo, abominando o pecado. Mas fez-se homem por nós. E, naquela cruz, assumiu a nossa culpa e morreu pelos nossos pecados. No entanto, o grito de Jesus não é apenas um grito de angústia, contrariamente ao que pode parecer e ao que habitualmente se pensa e diz. É, antes, uma oração de confiança. Na verdade, Jesus usa as palavras do salmo 22, que começa com a frase: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?” Desde logo, o uso da expressão “Meu Deus” é um tratamento de intimidade, de afeto. Mas é também, biblicamente, o tratamento dado a Deus pelo Seu povo, em cumprimento do pacto que Deus fez no Antigo Testamento. É, assim, um tratamento que indica obediência a Deus, mesmo nas mais terríveis das circunstâncias. O salmo 22, aqui usado por Jesus, tem efetivamente o pano de fundo da fé, dando conforto e terminando com uma nota de triunfo e esperança. No seu versículo 24, lemos

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que Deus “não menosprezou nem repudiou o sofrimento do aflito; não escondeu dele o rosto, mas ouviu o seu grito de socorro”. Assim, Jesus sabia que, no final, o Pai não o abandonaria. E o final do Salmo revela-nos o mistério da cruz, tendo como últimas palavras: “anunciarão a sua justiça … porque ele o fez”. De acordo com o plano de Deus, Jesus sofreu o nosso castigo. Sofreu-o em completa obediência a Deus e com confiança plena no Seu plano, mas sofreu de uma forma atroz. Por isso, à pergunta “Meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste?”, nós respondemos a Jesus: foi por mim. Foi por mim! … Foi por ti! … Foi por cada um de nós.

Que amor extraordinário Deus revelou na cruz, entregando o Seu filho para sofrer e morrer por cada um de nós. Assim, em resposta a esse amor, os nossos corações também podem transbordar de amor, pois, como é dito em 1.ª João 4: 19: Nós o amamos a ele, porque ele nos amou primeiro. E que possamos, também em resposta ao Seu amor e com a ajuda de Deus, ser cada vez mais semelhantes a Cristo, confiando totalmente em Deus e afirmando essa confiança em todas as circunstâncias. Que assim seja!

Diaconisa Aida Aranha

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“Tenho sede”

João 19:28

5ª Palavra

Depois de uma noite muito complicada, de um tratamento péssimo, pregado numa cruz, as capacidades físicas ficaram muito diminuídas, a desidratação aconteceu, a falta de líquidos provocou uma sede que, com o passar do tempo, passou a ser insuportável.Ao que Jesus disse que sentia, responderam com vinagre. Podemos dar as explicações que quisermos, mas, para mim, o que fizeram é pura maldade. A sede de Jesus pedia essencialmente água.Não fizeram o que o livro dos provérbios ensina: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer, e se tiver sede, dá-lhe água para beber.” 25:21Na vida e ministério de Jesus há um episódio que fala do encontro dele com uma mulher samaritana a quem pediu água para matar a sede que tinha. E da conversa ficou registado que ele é a água da vida. Quem beber dele nunca mais terá sede. Terá a vida eterna.O povo de Israel no deserto também teve sede e Deus respondeu providenciando a água que pediam. Neemias 9:19-20.Sansão, depois de ter derrotado os filisteus (matou mil), teve sede e pensou que morreria, mas Deus deu-lhe a água que precisava. Juízes

15:18-19.O que fizeram a Jesus parece ser o cumprimento da palavra registada no salmo 69:21, que diz: “Deram-me fel por mantimento e, na minha sede, me deram a beber vinagre.”Jesus experimentou a dificuldade humana. O limite da capacidade humana. Com tudo o que viveu por querer fazer a vontade do Pai e assim contribuir decisivamente para a salvação de todos os que nele crerem, criou as condições para repetirmos o que o salmista disse: “Ó Deus, tu és o meu Deus; de madrugada te buscarei: a minha alma tem sede de ti” 63:1a).Lembro o profeta Isaías, que dizia em nome de Deus: “Ó vós, todos que tendes sede, vinde às águas” 55:1a).Jesus estava a viver uma experiência que punha tudo isto em causa, mas que no fim confirmou a bondade de Deus para connosco. E, nele, a nossa sede de amor, de vida abundante, é saciada. “Cristo, Cristo, tua vida deste na cruz. O teu amor mostraste Jesus. Eu te amo Senhor.”Amém.

Bispo Sifredo Teixeira

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“Está consumado”

João 19:30

6ª Palavra

Tudo está cumprido. Está consumado deriva de uma palavra grega que significa fim, completude, perfeição.Quando pensamos em perfeição associamos à obra de um artista. E quantas vezes nos sentimos perto da perfeição na leitura de um livro, ao contemplar uma pintura, ao ouvir uma música ou perante um monumento. Mas a vida de uma artista, por mais extraordinária que seja a sua obra, é feita de muitas imperfeições, por momentos de grande insatisfação, de inquietude, de desespero e muitas das obras nem sequer são completadas. O escritor norte-americano Mark Twain, autor dos livros “Aventuras de Tom Sayer” e “As Aventuras de Huckleberry Finn”, durante 20 anos escreveu três versões diferentes do livro “The Mysterious Stranger” e nunca o completou. Leonardo da Vinci não terminou várias obras, entre elas, a “Adoration of the Magi”, deixando pendurados os monges de San Donato, porque simplesmente abandonou Florença e foi para Milão.“A Sagrada Família” de Gaudi, em Barcelona, esteve em construção durante 120 anos e nunca foi terminada. Esperam concluir em 2026.O “Requiem” de Mozart também

nunca foi terminado.Não faltariam exemplos para contar de outros nomes expoentes do mundo da arte.Mas olhemos para Jesus Cristo, na cruz.A obra da Cruz não é um livro, não é uma pintura, não é uma música, ainda que muitos a tenham representado de forma muito bela. A obra da cruz não é incompleta. Pelo contrário, ela completa a parte aparentemente imperfeita da Criação de Deus, causada pelo pecado de homens e mulheres imperfeitos. Ao morrer na cruz, aquele que sempre foi perfeito, que não tinha pecado, que jamais pecou e era incapaz de pecar, foi feito pecador em nosso lugar.

Está consumado é, também, a mesma palavra grega usada para uma dívida que foi totalmente paga. Que dívida Jesus teve de pagar na cruz? Que pena de morte foi essa que ele cumpriu até ao final? A nossa dívida e a nossa pena. Jesus na cruz está a anunciar a todo o homem: a tua dívida está paga, só tens que acreditar em Mim.Das profundezas da sua dor Ele conseguiu dizer: “Está consumado!” Sim, a obra está concluída, de uma vez por todas. Estas duas pequenas palavras, ao

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longo da história, têm sido capazes de transformar pecadores perdidos e imundos, em filhos de Deus perdoados e felizes. Diante dessas palavras simples, mas extraordinárias, diante de todo o profundo significado que elas representam, Jesus, em cada Páscoa, está a repeti-las, olhando para ti: eu cumpri a minha parte; queres ser salvo por mim?Queres, humildemente, confessar que estas duas palavras irão transformar completamente a tua vida? Jesus está a dizer-te: “Está consumado!”, a minha luta chegou ao fim. E, tu…queres continuar a lutar por uma vida inacabada, incompleta, vazia? Está consumado…Agora, o céu está aberto para cada um de nós!

Pastor à prova João Vilaça

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“Pai nas Tuas mãos Entrego o Meu Espírito “

Lucas 23:44-47

7ª Palavra

Já era quase a hora sexta e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona. E rasgou-se pelo meio o véu do santuário. Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou. Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo.Estamos agora nas últimas horas de Jesus. As últimas palavras depois de longas e agonizantes horas de sofrimento. Jesus a passar por terríveis dores, físicas, emocionais e espirituais. Pois a Isaias 53:5 deixa claro ao dizer: Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.Jesus o filho de Deus, nosso redentor, salvador e Senhor se fez pecado por nós e atraiu todas as suas consequências de uma vez só na cruz. Num sofrimento que começa já na noite de quinta-feira, no Getsêmani, sofrimento tamanho que chegou a suar sangue. Este sofrimento é acrescido por sua prisão em meio a socos e pontapés, chicotadas e dilacerastes. Cansado ao ponto de não conseguir carregar a própria cruz,

com sede, fome, sem dormir a noite anterior, pois estava em julgamento e tortura; ridicularizado com uma coroa de espinhos na cabeça. Nunca perdeu o foco, Seu Pai celeste e o ser humano ao qual veio salvar. Se olharmos para a narrativa do Evangelho segundo S. Marcos, vemos que Jesus nesta hora já está na Cruz há 6 horas (ver Marcos 15:25). Jesus foi crucificado à hora terceira (significa pelas nove horas da manhã), e morreu por volta da hora nona, isto é, três horas da tarde, o que nos leva a esta estimativa de 6 horas.Além de todos esses sofrimentos da cruz e tudo que precede este momento, existe algo que precisamos equacionar, que é como a cruz matava uma pessoa. Especialistas no assunto dizem que a maior parte das pessoas crucificadas tenha morrido por falta de ar. Quando alguém é preso pelos braços, gera na pessoa uma dificuldade enorme na respiração. Isto deve-se ao peso da pessoa ficar centralizado na sua caixa torácica, comprimindo os pulmões e dificultando exponencialmente a cada minuto o respirar. Imagine ter que sustentar todo o peso do corpo e ainda conseguir colocar ar nos pulmões… Agora imagine a dificuldade de Jesus em respirar adicionado a todo o resto. No entanto,

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o que vemos é Jesus trazendo-nos sete mensagens. A última pessoa em quem Ele estava a pensar era em si mesmo. Com o seu Pai celeste em mente, a sua mãe terrestre e o seu dever como filho mais velho, as pessoas ao Seu redor, um ladrão e todos nós. A cada frase um sacrifício, a cada fôlego para uma palavra e um tremendo esforço.Nas suas últimas palavras, no entanto, ele faz apropriação de um salmo de Davi, mais precisamente o Salmo 31. Um salmo de confiança em Deus, em meio a angústia e perseguição. Este salmo era tão conhecido que o verso 5, que é a parte que diz “nas tuas mãos entrego meu espírito”, se tornara uma oração das crianças judaicas antes de irem dormir. Era comum na oração das crianças judias elas terem como sua última frase esse verso. Ao terminarem a suas orações com esta frase, elas estavam a pedir a Deus bons sonhos e que as livrasse de todos os pesadelos. Podemos imaginar Jesus em todo o seu sofrimento, por mim e por ti, literalmente ao tomar o nosso lugar. Ele diz estas palavras, pois pelo seu sacrifício, agora completo, ele não somente estava a confiar o seu espírito para que todo o pesadelo pessoal acabasse, mas assim também de todo aquele que n´Ele cresse. Não mais dor, sofrimento e morte, n’Ele entregamos o nosso espirito nas mãos do nosso bondoso Pai dos céus. Quanto amor, quanta paixão e entrega.Louvado seja Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador. Que depositemos em Deus Pai o

nosso espírito, na certeza que Cristo nos salva eternamente.Amém!

Pastor Ricardo Canfield