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1ª edição 2016

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1ª edição

2016

“Estranho seria se eu não

me apaixonasse por você...”

Nando Reis

Este livro é dedicado à Mari que existe dentro de cada

uma de nós. Nunca se esqueçam de que vocês são lin-

dos, leitoras e leitores queridos, não importa a cor da

pele, o cabelo ou o tipo de corpo. Tenham sempre orgu-

lho de quem são, pois vocês são muito especiais!

01. De janeiro a janeiro – Nando Reis

02. Mari Mariana – Victor e Léo

03. Corpitcho – Maria Rita

04. Equalize – Pitty

05. Epitáfio – Titãs

06. Não me deixe só – Vanessa da Mata

07. Pra você, guardei o amor – Nando Reis

08. Não vá embora – Marisa Monte

09. Palavras de um futuro bom – Jota Quest

10. Me adora – Pitty

11. Por onde andei – Nando Reis

12. Velha e louca – Mallu Magalhães

13. Primavera – Los Hermanos

14. Um certo alguém – Lulu Santos

15. Noite do prazer – Cláudio Zoli

16. Pode ser – Pedro Mariano

17. Encostar na tua – Ana Carolina

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18. Bem que se quis – Marisa Monte

19. Magic – Coldplay

20. As dores do mundo – Jota Quest

21. Enquanto ela não chegar – Frejat

22. Só tinha de ser com você – Elis Regina

23. No seu lugar – Kid Abelha

24. Simplesmente – Bebel Gilberto

25. Só você – Fábio Jr.

26. Eu nunca estive tão apaixonado – Fábio Jr.

27. Desde que o samba é samba – Diogo Nogueira

28. Soneto do teu corpo – Leoni

29. Por enquanto – Cássia Eller

30. Você não me ensinou a te esquecer

– Caetano Veloso

31. Hoje a noite não tem luar – Legião Urbana

32. Por enquanto – Legião Urbana

33. Quem te viu, quem te vê – Chico Buarque

34. Eu sei que vou te amar – Tom Jobim

P L Ay L i S T

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D E J A N E i Ro A J A N E i Ro

Nando Reis

Tr i i immmmm! Tr i immmmm! Ah, droga! Eu me reviro na cama e silencio o alarme do ce-

lular enquanto tento acordar. odeio acordar cedo. Levantar é tão

difícil que tenho oito — sim, oiTo — alarmes programados, um

a cada 15 minutos pela manhã, só para conseguir sair da cama no

horário e não chegar atrasada ao trabalho.

Levanto devagar, me espreguiçando, e vou até o banheiro para

tomar um belo banho quente e me preparar para mais um dia na

Be, uma das revistas de moda mais conceituadas do país.

Sou assistente do presidente da empresa, Carlos Eduardo Mo-

raes, há quase três anos. É um trabalho desafiador e cansativo, que

exige criatividade e comprometimento da minha parte. Tenho hora

para chegar, mas não para sair. Em compensação, aprendo muito e

consigo colocar em prática muita coisa que estudei na faculdade

de administração.

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Mari

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A Be é um ótimo lugar para se trabalhar. Tenho um excelente

salário, muitos benefícios, e pude fazer um MBA numa conceitua-

da universidade – tudo pago pela empresa. Adoro o meu trabalho,

apesar de algumas coisas me incomodarem – principalmente, a for-

ma como a maioria das pessoas me trata.

Talvez seja injusto dizer a maioria das pessoas... boa parte dos

meus colegas de trabalho é legal. Meu problema é com as modelos,

seus empresários e as pessoas ligadas a elas. Apesar de gentil com

todos, sou muito diferente da maior parte das pessoas que traba-

lham no meio.

Saio do banho e volto para me vestir no quarto. Paro em

frente ao espelho e observo, por alguns instantes, meus longos ca-

belos castanhos, rosto “comum” e o corpo que não se encaixa nos

padrões de beleza que vejo diariamente ou que são impostos pela

sociedade.

Dá pra entender por que sou diferente? Pois é, mas isso não

me deprime, muito pelo contrário. A Laís, minha melhor amiga,

diz que sou como uma das mulheres de uma propaganda que a

agência de publicidade em que ela trabalha havia criado e rece-

bido vários prêmios: a mulher de verdade. A típica brasileira com

corpo violão, um pouco mais avantajado. Aquela que, em vez de

36, veste 44.

Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos que não levam

a lugar algum e me concentro em me arrumar e não chegar atrasa-

da. Meu chefe é ótimo, mas detesta atrasos. E nem pensar em alterar

seu ritual da manhã.

Ligo o som e a voz melodiosa de Nando Reis invade o quarto.

Enquanto canto os versos da música De janeiro a janeiro, visto uma

saia lápis preta, que valoriza o meu corpo, com uma camisa branca

de seda com manga curtinha.

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Calço um scarpin nude e complemento o visual com um brin-

co bonito e um bracelete. Se tem algo de que me orgulho, é do

meu estilo. Não sou uma das magrelas da revista, mas estou sempre

arrumada e elegante, pronta para qualquer situação.

Aplico rapidamente a maquiagem, e o celular toca. o rosto

divertido da minha amiga aparece no visor.

— oi!

— Bom dia, Mari! Já estou aqui embaixo. A van não vai nos

esperar! — Ela me apressa, como faz diariamente. Abro um sorriso,

pegando o blazer e a bolsa.

— Estou descendo! — Moramos no bairro do Méier, na zona

norte carioca. Nós duas trabalhamos na zona sul da cidade e de-

mos sorte de conseguir uma van que fazia o trajeto do Méier até

o Leblon, algo raro. Laís descia antes de mim, na porta da agência

Prime, em Botafogo, enquanto eu seguia até ipanema, onde ficava

o luxuoso escritório, à beira-mar, da Be.

Pego o elevador, ainda ajeitando a roupa e, ao chegar no tér-

reo, vejo Laís conversando com um dos meus vizinhos, o Márcio.

Gatinho, 25 anos, dono de uma loja de roupas masculinas no shop-

ping. E supergalinha.

— olha quem apareceu, a linda Mariana — diz ele, sorrindo,

com seu jeito de galã. Apesar de arrancar suspiros, nós sabemos que

ele não é o tipo de cara certo para nos envolvermos. Garantia de

coração partido.

— oi, Márcio, bom dia! Vamos, Laís? Estamos em cima da

hora — falo apressada e nos despedimos dele, indo para o ponto,

que ficava a alguns metros de casa.

— Ai, Mari, ele é um gatinho!

— Eu sei, mas não é para o nosso bico. Vamos! Circulando! —

brinco enquanto ela ri.

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Laís é minha amiga de infância. Crescemos na mesma vila,

frequentamos as mesmas escolas e nossas mães são amigas até hoje.

Quando decidimos sair da casa dos nossos pais, aos 22 anos, nada

mais natural do que morarmos perto uma da outra. Somos tão

amigas que, com um simples olhar, sabemos o que a outra está

pensando. Eu sei tudo sobre ela e ela, sobre mim.

ou quase tudo.

— E aquele seu chefe gato, hein? Ainda está saindo com a

Barbie Fashionista? — pergunta ela, e não posso deixar de rir.

Lembram quando falei do quase tudo? o que a Laís não sabe é

que meus quatro pneus estão arriados pelo meu “chefe gato”. Eu sei,

não precisa me olhar assim. Tenho total consciência de que o Carlos

Eduardo não é para mim. Ele costuma sair com as Barbies da vida e

eu não sou uma delas. Mas babar pelo cara não é proibido, né?

— Não, agora ele está pegando uma sósia siliconada da Gisele

Bündchen — respondo, rindo.

Apesar da atração que sinto por ele — quando vocês o co-

nhecerem, vão babar como eu —, sigo a minha vida sem qualquer

esperança. Ele é um cara lindo, só sai com modelos e sempre me

veria como sua assistente.

A van chega e seguimos para o trabalho, conversando. Somos

o mesmo grupo fazendo aquele percurso todos os dias, há três anos,

então, o caminho é sempre animado. isso é essencial para que eu

consiga chegar bem-disposta ao trabalho depois de acordar tão cedo.

Em Botafogo, Laís me abraça e me beija.

— Entra no Messenger quando chegar! — pede e dá tchau. A

gente se fala diariamente enquanto trabalha. Nunca deixamos de

fazer nossas obrigações, mas o papo é parte do nosso dia.

Cerca de 20 minutos depois, chegamos à Avenida Vieira Souto,

uma das ruas mais valorizadas da cidade e onde fica o escritório da Be.

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— Pronto, Marizinha. Está entregue! — diz Ruan, o moto-

rista, e sorri. Desço em frente ao prédio, respiro a maresia e me

preparo para deixar de ser Mari, a garota comum, e virar Mariana

Costa, a competente assistente de Carlos Eduardo.

M A R i M A R i A N A

Victor e Léo

Hoje va i s e r um d ia daque l e s. Três reuniões e uma delas é com a equipe para falar da prévia

da revista do próximo mês, que está uma droga. Páginas e mais pá-

ginas prontas para ir direto para o lixo. Eu sabia que precisava pro-

curar um novo editor, mas estava adiando esse momento. Renée

estava conosco há muito tempo e tinha certeza de que a demissão

seria um baque para ela.

Saio do carro, que está estacionado na garagem do prédio

onde fica o escritório da Be, a revista de moda que “herdei” do

meu pai como castigo pela minha “adolescência louca” (como ele

costumava dizer), em vez de uma das publicações mais “sérias” do

grupo, como era de se esperar, mas que hoje era a minha vida.

Visto o paletó antes de entrar no elevador. observo o reflexo

no espelho e fico satisfeito com a minha aparência. o terno feito

sob medida e a gravata de seda pura são a imagem de um empre-

sário de sucesso.

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Cadu

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Enquanto espero que o elevador vazio me leve até o décimo

segundo andar, confiro as horas no relógio e sorrio ao pensar que

a Mariana, minha supercompetente assistente, vai preparar o meu

café e o levará à minha sala exatamente três minutos após a minha

chegada.

Ela trabalha comigo há três anos e é excelente. Tem ideias

criativas e é um sopro de realidade no mundo “plástico” em que vi-

vemos. Caramba, estou poético hoje, penso comigo mesmo. Temos um

bom relacionamento profissional e tenho a sorte de contar com

alguém que, além de tudo, atura meus momentos de mau humor e

mantém minha rotina em ordem.

o elevador para no meu andar e eu respiro fundo, me prepa-

rando para deixar de ser Cadu, apaixonado por praia e música, e

virar Carlos Eduardo Moraes, diretor de redação de uma das maio-

res revistas do país. Sigo até a entrada e a recepcionista abre um

sorriso enorme ao me ver. A menina é bonita, mas tem o cérebro

do tamanho de uma noz.

— Bom dia, Sr. Carlos Eduardo. — Ela me cumprimenta; sor-

rio e balanço a cabeça. Vou em direção à minha sala, respondendo

aos cumprimentos da equipe. Na metade do caminho até a área

da diretoria, meu cérebro já entrou no modo de trabalho e vou

seguindo pelo corredor, pensando nas coisas que Mariana precisa

providenciar para as reuniões de hoje. Vou aproveitar e pedir que

ela faça um levantamento dos editores da concorrência. Quem sabe

consigo trazer um bom para cá?

Entro na sala e a visão que tenho me desestabiliza completa-

mente. Mariana está abaixada perto da mesa, de costas para a por-

ta, pegando uma pilha de papéis que caiu no chão. Ela resmunga,

reclamando que a papelada pareciam ter vida própria, mas meus

olhos estão vidrados naquelas pernas incríveis e no corpo que eu

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nunca havia notado antes. Caramba, onde ela escondeu aquilo

tudo? Ela se levanta de repente, e, quando se vira, está corada. os

cabelos, que normalmente ficam presos, estão soltos, deixando-a

com uma aparência, no mínimo, sedutora.

— Ai, Carlos Eduardo, desculpe. Não percebi que você tinha

chegado. Eu estava separando esses documentos e caiu tudo no

chão. — Ela se desculpa, atrapalhada. Não consigo segurar o sorriso

ao vê-la tão desconcertada. Mariana era o exemplo da perfeição e

vê-la assim tornava-a quase... humana!

— Tudo bem, Mariana. Devo esperar que meu café chegue

tranquilamente ou corro o risco de levar um banho quente? —

Não resisto e brinco com ela.

Ela me olha surpresa. Nós nos entendemos bem, mas não

temos o costume de brincar um com o outro. Sou um cara brin-

calhão, divertido, mas não no trabalho. Não sei o que aconteceu

comigo, só que o comentário pareceu... certo. Ela abre um sorri-

so tímido e, cara, não sei o que acontece naquele momento, mas

sinto o mesmo que senti quando Rodrigo me deu um soco no

estômago no último treino de jiu-jitsu. Foi inesperado. Ele errou

o golpe e me atingiu, me deixando sem ar, exatamente como eu

me sentia agora.

— Não. — o sorriso é acompanhado de bochechas coradas.

Quem ainda cora nos dias de hoje? — Prometo que vou entregar seu

café em segurança — responde ela, ainda sorrindo. Então coloca

uma mecha de cabelo atrás da orelha e meu olhar segue o movi-

mento. Ela cora novamente com a atenção, e eu balanço a cabeça

na tentativa de sair do transe no qual estou preso.

— obrigado, Mariana. Estarei em minha sala. Não se apresse

para trazer o café — digo e sigo para a minha sala, tentando enten-

der o que estava acontecendo comigo. Fecho a porta e vou direto

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para a janela, torcendo para que a bela vista do mar de ipanema

consiga apagar aquela imagem sedutora e acalme meu corpo.

Tenho uma reunião com investidores em meia-hora e não

será nada bom demonstrar o que estava sentindo pela minha sur-

preendente assistente.