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P A R A C O N C U R S O S

7ª edição – 2016Revisada, ampliada e atualizada

www. e d i t o r a j u s p od i vm . c om . b r

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

AUTORESDIRLEY DA CUNHA JÚNIORMAR-

CELO NOVELINO

COLABORADOR NA PESQUISA DE JURISPRUDÊNCIA E QUESTÕES

RENATO MEDRADO BONELLI

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e in-dividuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O preâmbulo, embora seja parte integrante das constituições e possua a mesma origem e sentido dos demais dispositivos, costuma ser distinguido por sua eficácia e pelo papel que desempenha. Os posicionamentos existentes acerca da natureza jurídica do preâmbulo podem ser reunidos em três concepções.

De um lado, situam-se a teses da natureza normativa, nos termos das quais o preâm-bulo é compreendido como um conjunto de preceitos com eficácia jurídica idêntica à dos demais enunciados normativos consagrados no texto da constituição. Para esta perspectiva, o preâmbulo é dotado de força normativa e, portanto, serve como parâmetro para o controle de constitucionalidade.

De outro, encontram-se as teses da natureza não normativa, para as quais o preâmbulo, por ser destituído de valor normativo e de força cogente, não pode ser invocado como pa-râmetro para a declaração de inconstitucionalidade de leis e atos normativos. Nesse sentido, Jorge Miranda (2000) observa que o preâmbulo não é uma declaração de direitos, não cria direitos ou deveres, não forma um conjunto de preceitos, nem pode ser invocado enquanto tal, de forma isolada. Esse o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 2.076/AC; MS 24.645-MC/DF).

As concepções que negam o caráter normativo do preâmbulo podem ser subdivididas em dois grupos. No primeiro, encontram-se as que situam o preâmbulo não no domínio do direito, mas da política ou da história, atribuindo-lhe tão somente um caráter político- ideológico (tese da irrelevância jurídica). No segundo, localizam-se aquelas para as quais

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.

o preâmbulo participa das características jurídicas da constituição e, embora não possua caráter normativo, desempenha uma função juridicamente relevante. Ao indicar a intenção do constituinte originário e consagrar os valores supremos da sociedade, ele serve de vetor interpretativo, ou seja, fornece razões contributivas para a interpretação dos enunciados normativos contidos no texto constitucional (tese da relevância interpretativa ou jurídica específica ou indireta). (NOVELINO, 2016).

2. BIBLIOGRAFIA CITADA

MIRANDA, Jorge (2000). Manual de direito constitucional. 4. ed. Coimbra: Coimbra. Tomo II.

NOVELINO, Marcelo (2016). Curso de direito constitucional. 11. ed. Salvador: JusPodivm.

2. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (Cespe – Procurador Federal/2013 – Adaptada) Considerando o entendimento prevalecente na dou-trina e na jurisprudência do STF sobre o preâmbulo constitucional e as disposições constitucionais transitórias, julgue os itens seguintes.

I. As disposições constitucionais transitórias são normas de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada. Por serem hierarquicamente inferiores às normas inscritas no texto básico da CF, elas não são consi-deradas normas cogentes e não possuem eficácia imediata.

II. A jurisprudência do STF considera que o preâmbulo da CF não tem valor normativo. Desprovido de força cogente, ele não é considerado parâmetro para declarar a constitucionalidade ou a inconstitu-cionalidade normativa.

03. (Cespe – Analista Judiciário – Área Administrativa – CNJ/2013 – Adaptada) Acerca de direito consti-tucional, julgue os itens a seguir: O preâmbulo da CF é norma de reprodução obrigatória e de caráter normativo, segundo entendimento doutrinário sobre a matéria.

04. (Cespe – Analista Legislativo – Consultor Legislativo – Câmara dos Deputados/2014) À luz dos prin-cípios fundamentais de direito constitucional positivo brasileiro, julgue os itens a seguir. Quando um estado da Federação deixa de invocar a proteção de Deus no preâmbulo de sua constituição, contraria a CF, pois tal invocação é norma central do direito constitucional positivo brasileiro.

05. (Vunesp – Defensor Público – MS/2014) No que se refere à interpretação da natureza jurídica do preâmbulo da Constituição, segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que:

a) o preâmbulo da Constituição é normativo, apresen tando a mesma natureza do articulado da Constitui-ção e, consequentemente, serve como paradigma para a declaração de inconstitucionalidade.

b) o preâmbulo da Constituição não constitui norma central, não tendo força normativa e, consequente-mente, não servindo como paradigma para a decla ração de inconstitucionalidade.

c) o preâmbulo da Constituição possui natureza histórica e política, entretanto, se situa no âmbito dogmático e, consequentemente, serve como paradigma para a declaração de inconstitucionalidade.

d) o preâmbulo da Constituição possui natureza interpretativa ou unificadora e traz sentido às categorias jurídicas da Constituição e, portanto, trata-se de norma de reprodução obrigatória nas Constituições estaduais.

GAB 01 E C 02 E 03 E 04 B

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 1º

TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municí-pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;II – a cidadaniaIII – a dignidade da pessoa humana;IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V – o pluralismo político.Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos

ou diretamente, nos termos desta Constituição.

1. BREVES COMENTÁRIOS

República federativa do Brasil

Forma de Estado Federação

Forma de Governo República

Sistema de Governo Presidencialista

Regime de Governo Democrático

No caput do art. 1º estão consagrados princípios materiais estruturantes que consti-tuem diretrizes fundamentais para toda a ordem constitucional, a saber: princípio republicano; princípio federativo; e, princípio do Estado democrático de direito.

O princípio republicano vem sendo consagrado entre nós desde a Constituição de 1891, instituidora da República e do Estado Federal em substituição à Monarquia e ao Estado Uni-tário adotados pela Constituição de 1824. A República, enquanto forma de governo associada às ideias de coisa pública e igualdade, tem como critérios distintivos a representatividade, a temporariedade, a eletividade e a responsabilidade política, civil e penal dos governantes. A representatividade está relacionada ao caráter representativo dos governantes, inclusive do Chefe de Estado. A temporariedade (ou periodicidade) impõe a alternância no poder dentro de um período previamente estabelecido, de modo a impedir o seu monopólio por uma mesma pessoa ou grupo hegemônico ligado por laços familiares. A eletividade está ligada à possibi-lidade de investidura no poder e acesso aos cargos públicos em igualdade de condições para todos que atendam os requisitos preestabelecidos na Constituição e nas leis. A responsabili-dade do governante decorre de uma ideia central contida no princípio republicano segundo a qual todos os agentes públicos são igualmente responsáveis perante a lei, porquanto em uma República não deve haver espaços para privilégios. A forma republicana de governo postula ainda que o debate de ideias na esfera pública seja sempre pautado por razões públicas, com o respeito e valorização das diferentes concepções ideológicas, filosóficas e religiosas.

O princípio federativo tem como dogma fundamental a autonomia político-adminis-trativa dos entes que compõem a federação. A federação é uma forma de Estado na qual há mais de uma esfera de poder dentro de um mesmo território e sobre uma mesma população.

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Art. 1º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

No Estado federativo os entes políticos que o compõem possuem autonomia, sendo o poder de cada um deles atribuído pela Constituição. Decorrente do princípio federativo, o princípio da indissolubilidade do pacto federativo (“união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”) veda aos Estados o direito de secessão. Caso ocorra qualquer tentativa de separação tendente a romper com a unidade da federação brasileira, é permitida a inter-venção federal com o objetivo de manter a integridade nacional (CF, art. 34, I).

A noção de Estado democrático de direito está indissociavelmente ligada à realização dos direitos fundamentais, porquanto se revela um tipo de Estado que busca uma profunda transformação do modo de produção capitalista, com o objetivo de construir uma sociedade na qual possam ser implantados níveis reais de igualdade e liberdade. (STRECK, 2009). Na busca pela conexão entre a democracia e o Estado de direito, o princípio da soberania popular se apresenta como uma das vigas mestras deste novo modelo, impondo uma organização e um exercício democráticos do Poder (ordem de domínio legitimada pelo povo). Outra ca-racterística marcante deste modelo de Estado é a ampliação do conceito meramente formal de democracia (participação popular, vontade da maioria, realização de eleições periódicas, alternância no Poder) para uma dimensão substancial, como decorrência do reconhecimento da força normativa e vinculante dos direitos fundamentais, os quais devem ser usufruídos por todos, inclusive pelas minorias perante a vontade popular (pluralismo, proteção das minorias, papel contramajoritário do Poder Judiciário...).

Os fundamentos devem ser compreendidos como os valores estruturantes do Estado brasileiro, aos quais foi atribuído um especial significado dentro da ordem constitucional, sendo a dignidade da pessoa humana considerada o valor supremo do nosso ordenamento jurídico. Os princípios nos quais esses fundamentos se materializam desempenham um im-portante papel, seja de forma indireta, atuando como diretriz para a elaboração, interpretação e aplicação de outras do ordenamento jurídico, seja de forma direta, quando utilizados como razões para a decisão de um caso concreto.

A soberania pode ser definida como um poder político supremo e independente. Supre-mo, por não estar limitado por nenhum outro na ordem interna; independente, por não ter de acatar, na ordem internacional, regras que não sejam voluntariamente aceitas e por estar em igualdade com os poderes supremos dos outros povos. (CAETANO, 2003). Portanto, a soberania deve ser analisada em dois âmbitos distintos. A soberania externa se refere à repre-sentação dos Estados, uns para com os outros, na ordem internacional; a soberania interna é responsável pela delimitação da supremacia estatal perante seus cidadãos na ordem interna. Por ser um instituto dinâmico, a soberania não possui atualmente o mesmo conteúdo de outras épocas. A evolução do Estado de Direito formal para o Estado Constitucional Democrático fez com que, no plano interno, a soberania migrasse do soberano para o povo, exigindo-se uma legitimidade formal e material das Constituições. No plano externo, a rigidez de seus contornos foi relativizada com a reformulação do princípio da autodeterminação dos povos e o reconhecimento do Estado pela comunidade internacional.

A cidadania, enquanto conceito decorrente do princípio do Estado Democrático de Direito, consiste na participação política do indivíduo nos negócios do Estado e até mesmo em outras áreas de interesse público. (BASTOS, 1995). O tradicional conceito de cidadania vem sendo gradativamente ampliado, sobretudo após a Segunda Grande Guerra Mundial.

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 1º

Ao lado dos direitos políticos, compreendem-se em seu conteúdo os direitos e garantias fundamentais referentes à atuação do indivíduo em sua condição de cidadão.

Dentre os fundamentos do Estado brasileiro, a dignidade da pessoa humana possui um papel de destaque. Núcleo axiológico do constitucionalismo contemporâneo, constitui o valor constitucional supremo e, enquanto tal, deve servir, não apenas como razão para a decisão de casos concretos, mas principalmente como diretriz para a elaboração, interpreta-ção e aplicação das normas que compõem a ordem jurídica em geral, e o sistema de direitos fundamentais, em particular. Como consequência da consagração da dignidade humana no texto constitucional impõe-se o reconhecimento de que a pessoa não é simplesmente um reflexo da ordem jurídica, mas, ao contrário, deve constituir o seu objetivo supremo, sendo que na relação entre o indivíduo e o Estado deve haver sempre uma presunção a favor do ser humano e de sua personalidade. O indivíduo deve servir de “limite e fundamento do domínio político da República”, pois o Estado existe para o homem e não o homem para o Estado. (CANOTILHO, 1993). A positivação constitucional impõe que a dignidade, apesar de ser originariamente um valor moral, seja reconhecida também como um valor tipicamente jurídi-co, revestido de normatividade: sua consagração como fundamento do Estado brasileiro não significa uma atribuição de dignidade às pessoas, mas sim a imposição aos poderes públicos do dever de respeito e proteção da dignidade dos indivíduos, assim como a promoção dos meios necessários a uma vida digna (NOVELINO, 2008).

O reconhecimento dos valores sociais do trabalho como um dos fundamentos do Esta-do brasileiro impede a concessão de privilégios econômicos condenáveis, por ser o trabalho, enquanto ponto de partida para o acesso ao mínimo existencial e condição de possibilidade para o exercício da autonomia, imprescindível à concretização da dignidade da pessoa huma-na. A partir do momento em que contribui para o progresso da sociedade à qual pertence, o indivíduo se sente útil e respeitado. Sem ter qualquer perspectiva de obter um trabalho com uma justa remuneração e com razoáveis condições para exercê-lo, o indivíduo acaba tendo sua dignidade violada. Por essa razão, a Constituição consagra o trabalho como um direito social fundamental (CF, art. 6º), conferindo-lhe proteção em diversos dispositivos. A liberdade de iniciativa, que envolve a liberdade de empresa (indústria e comércio) e a liberdade de contrato, é um princípio básico do liberalismo econômico (SILVA, 1997). Além de fundamento da República Federativa do Brasil, a livre iniciativa está consagrada como princípio informativo e fundante da ordem econômica (CF, art. 170), sendo constitucionalmente “assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei” (CF, art. 170, parágrafo único). Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, “o princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor.” (RE 349.686).

O pluralismo político, antes de ser uma teoria, consiste em uma situação objetiva, na qual estamos imersos. Nossas sociedades são pluralistas, isto é, são sociedades com vários centros de poder (BOBBIO, 2009). Do ponto de vista normativo, o reconhecimento cons-titucional do pluralismo como um dos fundamentos do Estado brasileiro impõe a opção por uma sociedade na qual a diversidade e as liberdades devem ser amplamente respeitadas. O pluralismo político deve ser compreendido em um sentido amplo, de modo a abranger não apenas a dimensão político-partidária (CF, art. 17), mas também a religiosa (CF, art.

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Art. 1º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

19), a econômica (CF, art. 170), a de idéias e de instituições de ensino (CF, art. 206, III), a cultural (CF, arts. 215 e 216) e a dos meios de informação (CF, art. 220). Este fundamento é concretizado, ainda, por meio do reconhecimento e proteção das diversas liberdades, dentre elas, a de opinião, a filosófico-religiosa, a intelectual, artística, científica, a de comunicação, a de orientação sexual, a profissional, a de informação, a de reunião e de associação (CF, art. 5º, IV, VI, IX, X, XIII, XIV, XVI e XVII).

O parágrafo único, do art. 1º da CRFB/88, reconhece e endossa a resposta democrática segundo a qual o povo é o autêntico titular do Poder Constituinte Originário, poder de natureza política encarregado de elaborar a constituição de um Estado. A doutrina juspo-sitivista aponta três características que o diferenciam dos poderes constituídos. Trata-se de um poder inicial, por não existir nenhum outro antes ou acima dele; autônomo, por caber apenas ao seu titular a escolha do conteúdo a ser consagrado na Constituição; e incondicio-nado, por não estar submetido a nenhuma regra de forma ou de conteúdo. Já na concepção de viés jusnaturalista do Abade Emmanuel Joseph Sieyès, autor da obra “O que é o Terceiro Estado?” e um dos princiapais teóricos do Poder Constituinte, este se caracteriza por ser incondicionado juridicamente pelo direito positivo, apesar de sua submissão aos princípios do direito natural; permanente, por continuar existindo mesmo após concluir a sua obra; e inalienável, por sua titularidade não ser passível de transferência, haja vista que a nação nunca perde o direito de querer mudar sua vontade.

Ao lado do Poder Constituinte Originário, existem outras espécies que, embora tenham a constituição como fundamento, também costumam ser denominadas de “constituintes”.

O Poder Constituinte Decorrente é aquele conferido pela Constituição aos Estados--Membros para que possam se auto-organizar (CF, art. 25 e ADCT, art. 11). Nas palavras de Anna Cândida Ferraz (1979), possui “um caráter de complementariedade em relação à Constituição” e tem por finalidade “perfazer a obra do Poder Constituinte Originário nos Estados Federais, para estabelecer a Constituição dos seus Estados componentes.” Por ser instituído e limitado pela Constituição da República, suas características são diametralmen-te opostas às do Poder Constituinte Originário. Trata-se de um poder jurídico, limitado e condicionado juridicamente.

O Poder Constituinte Derivado é o responsável pelas alterações no texto constitucional segundo as regras instituídas pelo Poder Constituinte Originário. Caracteriza-se por ser um poder instituído, jurídico, limitado e condicionado pelo direito. A Constituição de 1988 esta-beleceu a possibilidade de sua manifestação por meio de reforma (CF, art. 60) ou de revisão constitucional (ADCT, art. 3º).

PODER CONSTITUINTE

Originário Decorrente Derivado

Conceito

Poder responsável pela cria-ção da Constituição de um Estado. A posição dominan-te na doutrina é que possui natureza política (poder de fato).

Poder atribuído aos Estados--membros para elaborar suas próprias constituições.

Poder consagrado na cons-tituição para a modificação de suas normas por meio de emendas, seja de refor-ma (Poder Reformador), seja de revisão (Poder Revisor).

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 1º

PODER CONSTITUINTE

Originário Decorrente Derivado

Caracte-rísticas

– Visão positivista:• Inicial – por inaugurar

uma nova ordem jurídica.• Autônomo – por caber

apenas ao seu titular a es-colha da ideia de direito a ser consagrada.

• Incondicionado – por não ser conformado por nenhuma norma procedi-mental ou material.

– Visão jusnaturalista:• Incondicionado juridica-

mente – por não encon-trar limites no direito po-sitivo anterior.

• Permanente – por não se exaurir com o seu exercí-cio.

• Inalienável – por ter uma titularidade, que pertence ao povo, intransferível

• Instituídos – por serem poderes criados pela constituição. Possuem natureza jurídica (poder de direito).

• Limitados – por encontrarem limites estabelecidos pelo texto constitucional.

• Condicionados – por terem suas manifestações confor-madas pela constituição, seja na forma, seja no conteúdo.

Obser-vação

O titular do Poder Cons-tituinte é sempre o povo, mas o seu exercício se dá por meio de representantes.

– –

2. ENUNCIADOS DE SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIA

STF – Súmula vinculante nº 11. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

STF – Súmula vinculante nº 14. É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

STF – Súmula nº 70. É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para co-brança de tributo.

STF – Súmula nº 323. É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para paga-mento de tributos.

STF – Súmula nº 547. Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estam-pilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.

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Art. 1º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

3. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (Cespe – Analista Legislativo – Consultor Legislativo – Câmara dos Deputados/2014) À luz da doutrina atual relativa ao poder constituinte, julgue os itens a seguir:

I. Com o advento de uma nova ordem constitucional, é possível que dispositivos da constituição anterior permaneçam em vigor com o status de leis infraconstitucionais, desde que haja norma constitucional expressa nesse sentido.

II. O titular do poder constituinte é o povo, que, no Brasil, engloba tanto os brasileiros natos quanto os naturalizados.

III. O poder constituinte originário tem o condão de instaurar uma nova ordem jurídica por meio de uma nova constituição ou mesmo de um ato institucional.

02. (Cespe – Analista Legislativo – Consultor Legislativo – Câmara dos Deputados/2014) A respeito de princípios fundamentais e de direitos e garantias fundamentais, julgue os próximos itens. A demo-cracia brasileira é indireta, ou representativa, haja vista que o poder popular se expressa por meio de representantes eleitos, que recebem mandato para a elaboração das leis e a fiscalização dos atos estatais.

03. (Vunesp – Procurador Município – Prefeitura São Paulo – SP/2014) Para atingir o bem comum, o Estado se estrutura para exercer o poder político. Nesse sentido, seguindo o conceito de Forma de Estado, a organização pode ser

a) monarquia ou república.b) monarquia constitucional ou república.c) unitário ou federal.d) democrático ou autocrático.e) presidencialista ou parlamentarista.

04. (Cespe – Analista Legislativo – Consultor Legislativo – Câmara dos Deputados/2014) Acerca dos direitos e garantias fundamentais e dos princípios constitucionais, julgue os itens subsequentes. A República Federativa do Brasil, constituída como Estado democrático de direito, visa garantir o pleno exercício dos direitos e garantias fundamentais, incluindo-se, entre seus fundamentos, a cidadania e a dignidade da pessoa humana.

05. (Cespe – Polícia Militar – PM-CE/2014) Acerca da teoria das normas constitucionais, da classificação das Constituições e do poder constituinte, julgue os itens subsequentes:

I. As chamadas Constituições flexíveis são aquelas que exigem requisito especial de reforma, ou seja, não podem ser emendadas pelo mesmo processo que se emprega para fazer ou revogar a lei ordinária.

II. Segundo a doutrina majoritária, o poder constituinte é permanente, uma vez que, ao contrário da assembleia constituinte, cuja atuação se exaure com a promulgação da Constituição, não desaparece com a entrada em vigor da carta constitucional.

III. A norma programática vincula comportamentos públicos futuros. Ao editar uma norma desse tipo, o constituinte, então, direciona, formalmente, o desdobramento da ação legislativa dos órgãos estatais.

06. (IESES – Cartório – TJ – PB/2014) O poder constituinte originário é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica antecessora. Seu objetivo fundamental, portanto, é a criação de novo Estado. São características do poder constituinte originário EXCETO:

a) Condicionado.b) Autônomo.c) Ilimitado juridicamente.d) Soberano na tomada de suas decisões.

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 1º

07. (FMP – Cartório – TJ – MT/2014) São características do Estado Brasileiro:a) sistema de governo democrático e regime de governo presidencialista.b) forma de governo republicana e sistema de governo democrático.c) forma de governo republicana e regime de governo democrático.d) sistema de governo republicano e regime de governo presidencialista.e) sistema de governo presidencialista e regime de governo republicano.

08. (Cespe – Analista Judiciário – Direito – TJ – SE/2014) Julgue os itens a seguir, a respeito da teoria dos direitos fundamentais e dos princípios fundamentais na Constituição Federal de 1988 (CF).

I. A dignidade da pessoa humana, princípio fundamental da República Federativa do Brasil, promove o direito à vida digna em sociedade, em prol do bem comum, fazendo prevalecer o interesse coletivo em detrimento do direito individual.

II. O pluralismo político traduz a liberdade de convicção filosófica e política, assegurando aos indivíduos, além do engajamento pluripartidário, o direito de manifestação de forma apartidária.

09. (FEPESE – MP junto ao Tribunal de Contas – MPTSC/2014) Assinale a alternativa correta.a) A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do

Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como funda mentos: a sobera-nia; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais do tra balho e da livre iniciativa; o pluralismo político.

b) Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade sobera-na, justa e solidária; garantir o desenvolvimento internacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for mas de discriminação.

c) A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: independência nacional; prevalên cia legalista de direitos; autodeterminação dos povos; intervenção mínima; igualdade entre os Estados; defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terro-rismo e ao racismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; concessão de asilo político.

d) Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou indire tamente, nos termos desta Constituição.

e) São Poderes da União, dos Estados e dos Municípios, independentes e harmôni cos entre si, o Legis-lativo, o Executivo e o Judiciário.

10. (IESES – Cartórios – TJ – MS/2014) Segundo a Constituição Federal de 1988, a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como alguns de seus fundamentos:

a) A cidadania, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político.b) A soberania, a dignidade da pessoa humana, construção de uma sociedade livre, justa e solidária.c) A soberania, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, promoção do bem de todos, sem

preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.d) Dignidade da pessoa humana, o pluralismo político, erradicação da pobreza e a marginalização e

redução das desigualdades sociais e regionais.

11. (Vunesp – Cartório – TJ – SP/2014) Assinale a alternativa que compreende todos os fundamentos da República brasileira, como tais expressamente referidos pela Constituição Federal.

a) Cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e pluralismo político.b) Soberania, cidadania e dignidade da pessoa humana.c) Soberania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da propriedade e pluralismo

político.

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Art. 1º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

d) Soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e plu ralismo político.

12. (ACAFE – Agente de Polícia – SC/2014) A República Federativa do Brasil, formada pela união indisso-lúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democráti co de Direito (art. 1º da CF).

Com base no enunciado acima é correto afir mar, exceto:a) São objetivos fundamentais da República Fe derativa do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização

e reduzir as desigualdades sociais e regio nais.b) A soberania, a cidadania e o pluralismo políti co não são fundamentos da República Federativa do

Brasil.c) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.d) É livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato.e) Construir uma sociedade livre, justa e solidá ria é um dos objetivos fundamentais da República Fede-

rativa do Brasil.

13. (FCC.TRE-RR.Técnico Administrativo.2015) Nos termos da Constituição de 1988, são fundamentos da República Federativa do Brasil, dentre outros:

a) soberania, cidadania e pluralismo políticob) cidadania, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e inafastabilidade da jurisdiçãoc) dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e função social da propriedaded) soberania, igualdade e liberdadee) dignidade da pessoa humana, direito à vida e à saúde e fraternidade

14. (MPF.MPF.Procurador da Républica.2015) O pluralismo político é princípio fundante da ordem cons-titucional e deve ser compreendido não apenas em sua acepção político-partidária, mas alcançando todas as concepções e ideias que tenham relevância para o comportamento político coletivo;

15. (FCC.TRT-6.Juiz do Trabalho.2015) Ao tratar sobre a teoria do poder constituinte, leciona José Afonso da Silva que poder constituinte é o poder que cabe ao povo de dar-se uma constituição. Ainda sobre o assunto, afirma que se trata da vontade política do povo capaz de constituir o Estado por meio de uma constituição (cf. Poder constituinte e poder popular: estudos sobre a Constituição. São Paulo: Malheiros, 2000, pp. 67-68). Tal perspectiva teórica sobre o poder constituinte encontra resistência ou limitação na figura

a) das constituições codificadas.b) das heteroconstituições.c) do bloco de constitucionalidade.d) das constituições dirigentes.e) do método bonapartista de imposição da Constituição.

16. (PUC-PR.PGE-PR.Procurador Estadual.2015) A tarefa do Poder Constituinte é criar normas jurídicas de valor constitucional, isto é, fazer a Constituição que atenda às demandas políticas e jurídicas de criação ou transformação. Sobre a teoria do Poder Constituinte, assinale a assertiva CORRETA

a) O Poder Constituinte derivado é competência constitucional estabelecida voltada exclusivamente à revisão do texto constitucional

b) O Poder Constituinte derivado decorrente não pode ser considerado limitado, sob pena de violação do princípio da autonomia dos entes federados

c) De acordo com a teoria clássica do Poder Constituinte, a Constituição é resultado do exercício de um poder originário, anterior e superior a ela, no qual ela se radica e do qual advêm toda a sua premência e irrestrição

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 2º

d) O processo da mutação constitucional equivale formalmente ao exercício do Poder Constituinte derivado reformador

e) O Poder Constituinte - tanto em sua versão originária quanto derivada - possui as mesmas carac-terísticas e limites, já que estabelece normas constitucionais por meio de um processo legislativo extraordiná rio.

17. (TRT-6.TRT-6.Juiz do Trabalho.2015) Considerando as afirmações abaixo, assinale a alternativa COR-RETA:

I. O poder constituinte originário é o poder político por meio do qual se estabelece uma nova Consti-tuição. Trata-se de poder inicial (não se funda em nenhum outro poder), ilimitado (por não necessitar observar o direito positivo anterior), incondicionado (não estando adstrito ao cumprimento de regras formais), permanente (não se esgota com a realização da Constituição, podendo a qualquer momento ser estabelecida nova ordem jurídica) e extraordinário (devendo ser exercido excepcionalmente).

II. O poder de reforma eventualmente se confunde com o fenômeno da mutação constitucional, já que aquele pode se dar por meio de um processo informal de mudança da Constituição, quando ocorre a alteração do sentido e alcance das normas constitucionais por obra de todos os atores políticos que protagonizam a interpretação da norma ápice.

III. No âmbito do poder de reforma, os limites implícitos exercem a mesma autoridade daqueles ex-plicitados na Constituição, uma vez que eles também se voltam ao asseguramento da identidade constitucional.

IV. A ampla maioria da doutrina constitucional brasileira não adere à teoria da dupla revisão ou dupla reforma constitucional

a) Somente as afirmativas I, II e III estão corretasb) Somente as afirmativas I, II e IV estão corretasc) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretasd) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretase) Todas as afirmativas estão corretas

GAB01 C C C 02 E 03 C 04 C 05 E C C 06 A 07 C 08 E C 09 A10 A 11 D 12 B 13 A 14 C 15 B 16 C 17 D –

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

1. BREVES COMENTÁRIOSInspirado na obra de Locke, Montesquieu escreveu o clássico tratado L’Esprit des lois

(1748). Após constatar, com base na “experiência eterna”, que todo aquele que é investido no poder tende a dele abusar até que encontre limites, o escritor francês sustenta que a li-mitação a um poder só é possível se houver outro poder capaz de limitá-lo. (CAETANO, 2003). A descrição da Constituição inglesa como exemplo de limitação do poder pelo poder, segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2007) pode ter tido a intenção oculta, em razão das cautelas exigidas pela época, de “recomendar a divisão do poder como remédio contra o absolutismo e como garantia da liberdade”, especialmente se assegurada a independência do Judiciário. No final do Século XVIII, este princípio transformou-se em dogma com a célebre consagração no art. 16 da declaração dos direitos do homem e do cidadão, na qual ficou estabelecido que “toda sociedade na qual não é assegurada a garantia dos direitos, nem determinada a separação dos poderes, não possui uma constituição.”

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Art. 2º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

A doutrina liberal do início do século XIX preconizava uma rigorosa separação de fun-ções a serem atribuídas com exclusividade a cada órgão da soberania. Esta rígida separa-ção, baseada na interpretação do esquema extraído por Locke e Montesquieu da prática constitucional britânica, todavia, mostrou-se inadequada. (CAETANO, 2003). Canotilho (1993) constata que atualmente há uma tendência de se considerar que a teoria da separação dos poderes engendrou um mito, consistente na atribuição a Montesquieu de um modelo teórico reconduzível à teoria dos três poderes rigorosamente separados, no qual cada poder recobriria uma função própria sem qualquer interferência dos outros. Todavia, prossegue o constitucionalista português, “foi demonstrado por ElSENMANN que esta teoria nunca existiu em Montesquieu [...]. Mais do que separação, do que verdadeiramente se tratava era de combinação de poderes: os juízes eram apenas «a boca que pronuncia as palavras da lei»; o poder executivo e legislativo distribuíam-se por três potências: o rei, a câmara alta e a câmara baixa, ou seja, a realeza, a nobreza e o povo (burguesia). O verdadeiro problema político era o de combinar estas três potências e desta combinação poderíamos deduzir qual a classe social e política favorecida.”

A ideia de limitação da soberania por meio da repartição das competências distribuídas por diversos órgãos perdeu boa parte de seu valor, pois o princípio não apresenta a mes-ma rigidez de outrora, porquanto a ampliação das atividades estatais impôs novas formas de interrelação entre os poderes, de modo a estabelecer uma colaboração recíproca. Nesse sentido, José Afonso da Silva (1997) ensina que “A ‘harmonia entre os poderes’ verifica-se primeiramente pelas normas de cortesia no trato recíproco e no respeito às prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos têm direito. De outro lado, cabe assinalar que nem a divisão de funções entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas. Há in-terferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em detrimento do outro e especialmente dos governados.” Por seu turno, João Maurício Adeodato (2009) identifica três fatores importantes e estreitamente conexos responsáveis por tornar obsoleta a tradicional separação de poderes: “a progressiva diferenciação entre texto e norma, a crescente procedimentalização formal das decisões e o aumento de poder do judiciário.”

A Constituição de 1988, além de protegê-lo como cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º, III), estabeleceu toda uma estrutura institucional de forma a garantir a independência entre eles, matizada com atribuições de controle recíproco. Nesse prisma, a separação dos poderes não impede o controle de atos do Legislativo e do Executivo pelo Poder Judiciário. A inde-pendência entre os poderes tem por finalidade estabelecer um sistema de “freios e contrape-sos” para evitar o abuso e o arbítrio por qualquer dos Poderes. A harmonia se exterioriza no respeito às prerrogativas e faculdades atribuídas a cada um deles. Conforme destacado pelo Ministro Sepúlveda Pertence (STF – ADI 98), para fins de controle de constitucionalidade é necessário extrair da própria Constituição o traço essencial da atual ordem, por não haver uma “fórmula universal apriorística” para este princípio.

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 2º

2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA

STF/755 – Nomeação de dirigentes: aprovação legislativa e fornecimento de informações protegidas por sigilo fiscalO Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta para decla-rar a inconstitucionalidade da expressão “empresas públicas, sociedades de economia mista” constante do art. 1º, bem assim da íntegra do inciso IV do art. 2º e do art. 3º, todos da Lei 11.288/99 do Estado de Santa Catarina. A norma impugnada estabelece condições e critérios a serem observados para o exercício de cargos de direção da Administração Indireta da referida unidade federativa. Quanto ao art. 1º da aludida lei catarinense, o Tribunal confirmou a orientação fixada no julgamento da medida cautelar no sentido da impossibilidade de a Assembleia Legislativa manifestar-se sobre a indicação de dirigentes de empresa pública e de sociedade de economia mista feita pelo Poder Executivo. Assentou, contudo, não haver óbice relativamente aos dirigentes de autarquias. No tocante ao inciso IV do art. 2º e ao art. 3º, o Colegiado aduziu que os preceitos extrapolariam o sistema de freios e contrapesos autorizado pela Constituição. Asseverou que os artigos em questão, além de determinarem o fornecimento de informações protegidas por sigilo fiscal como condição para a aprovação prévia pelo Poder Legislativo dos titulares de determinados cargos, criariam mecanismo de fiscalização pela Assembleia Legislativa que se estenderia após a exoneração dos ocupantes dos citados cargos. Reputou, ainda, violado o princípio da separação dos Poderes (CF, art. 2º) em virtude da outorga à Assembleia Legislativa de competências para fiscalizar, de modo rotineiro e in-discriminado, a evolução patrimonial dos postulantes de cargos de direção da Administração Indireta do Estado-membro e de seus ex-ocupantes, bem como as atividades por eles desenvolvidas nos dois anos seguintes à exoneração. Destacou que essas atribuições não teriam relação com as funções próprias do Legislativo. ADI 2225/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, 21.8.2014. Pleno.

STF/765 – ADC 33-DF. Rel. Min. Gilmar MendesAção declaratória de constitucionalidade. Medida Cautelar. 2. Julgamento conjunto com as ADIs 4.947, 5.020 e 5.028. 3. Relação de dependência lógica entre os objetos das ações julgadas em conjunto. LC 78/93, Resolução/TSE 23.389/13 e Dec. Legislativo 424/13, este último objeto da ação em epígrafe. 4. O Plenário considerou que a presente ADC poderia beneficiar-se da instrução levada a efeito nas ADIs e transformou o exame da medida cautelar em julgamento de mérito. 5. Impossibilidade de alterar-se os termos de lei complementar, no caso, a LC 78/93, pela via do decreto legislativo. 6. Ausência de previsão constitucional para a edição de decretos legislativos que visem a sustar atos emanados do Poder Judiciário. Violação à separação dos poderes. 7. O DL 424/13 foi editado no mês de dezembro de 2013, portanto, há menos de 1 (um) ano das eleições gerais de 2014. Violação ao princípio da anterioridade eleitoral, nos termos do art. 16 da CF/88. 8. Inconstitucionalidade formal e material do Dec. Legislativo 424/13. Ação Declaratória de Constitucionalidade julgada improcedente.

STF/745 – AgRg no RE 788.170-DF. Rel. Min. Cármen LúciaAgravo regimental no recurso extraordinário. Administrativo e constitucional. Intervenção excepcional do Poder Judiciário na implementação de políticas públicas: possibilidade. (...).

STF/756 – ADI: diário oficial estadual e iniciativa de leiO Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.454/00, do Estado do Rio Grande do Sul. A lei, de iniciativa parlamentar, disciplina as matérias suscetíveis de publicação pelo Diário Oficial do Estado, órgão vinculado ao Poder Executivo. O Tribunal consignou que, no caso, estaria configurada a inconsti-tucionalidade formal e material do ato normativo impugnado. Afirmou que a edição de regra que disciplinasse o modo de atuação de órgão integrante da Administração Indireta do Estado-membro somente poderia advir de ato do Chefe do Poder Executivo estadual. Haveria, ademais, na edição da norma em comento, nítida afronta ao princípio constitucional da separação dos Poderes, na medida em que, ao se restringir a proibição de publicações exclusivamente ao Poder Executivo, teria sido criada situação discriminatória em relação a um dos Poderes do Estado-membro. ADI 2294/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 27.8.2014. Pleno.

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Art. 2º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

STF/765 – ADI e emenda parlamentar – 1O Plenário, por maioria, confirmou medida acauteladora e julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 10.385/95 do Estado do Rio Grande do Sul. O artigo impugnado decorre de emenda parlamentar ao texto de iniciativa do Poder Judiciário. Considera, de efetivo exercício, “para todos os efeitos legais, os dias de paralisação dos servidores do Poder Judiciário, compreendidos no período de 13 de março de 1995 a 12 de abril de 1995, mediante compensação a ser definida pelo próprio Poder”. O Tribunal asseverou que a jurisprudência do STF admitiria emendas parlamentares a projetos de lei de iniciativa privativa dos Poderes Executivo e Judiciário, desde que guardassem pertinência temática e não importassem em aumento de despe-sas. O cotejo entre o Projeto de Lei 54/95, apresentado pelo Poder Judiciário gaúcho e a Proposta de Emenda Parlamentar 4/95, que dera origem à norma ora impugnada evidenciaria que a emenda não guardaria pertinência temática com o projeto originário – reajuste de vencimentos dos servidores do Poder Judiciário gaúcho. Ao fundamento de que o preceito desrespeitaria os limites do poder de emenda, o Tribunal entendeu haver ofensa ao princípio da separação de Poderes (CF, art. 2º). Por se tratar de iniciativa de competência do Poder Judiciário, inviável à assembleia legislativa gaúcha propor emendas que afetassem a autonomia financeira e administrativa do Poder Judiciário, sob pena de exercer poder de iniciativa paralela. ADI 1333/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, 29.10.2014. Pleno.

STF/760 – ADI e vício materialO Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Lei 14.235/03 do Estado do Paraná. A norma citada proíbe o Poder Executivo estadual de iniciar, renovar e manter, em regime de exclusividade, as contas dos depósitos que especifica, em qualquer instituição bancária privada, e adota outras providências. O Tribunal asseverou que a norma questionada teria intentado revogar o regime anterior, estabelecido pela Lei 12.909/00, além de desconstituir os atos e contratos firmados com base em suas normas. Destacou, ainda, que o art. 3º da Lei 14.235/03, ao afirmar que “caberá ao Poder Executivo revogar, imediatamente, todos os atos e contratos firmados nas condições previstas no art. 1º desta lei”, teria violado os princípios da separação dos Poderes e da segurança jurídica. ADI 3075/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, 24.9.2014. Pleno.

3. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (Cespe – Analista Legislativo – Consultor Legislativo – Câmara dos Deputados/2014) À luz dos prin-cípios fundamentais de direito constitucional positivo brasileiro, julgue os itens a seguir Se, em certa ação judicial, o juízo competente impuser ao Poder Executivo determinada obrigação, sob pena de multa diária pelo seu descumprimento, tal imposição não ofenderá o princípio da separação dos poderes.

02. (CESPE.FUB.Assistente em Aministração.2015) Julgue os itens a seguir, a respeito da Constituição Federal de 1988 (CF) e dos fundamentos da República Federativa do Brasil. De acordo com a CF, o poder emana do povo, mas é dividido em três funções — executiva, legislativa e judiciária —, que, bem delimitadas, são impedidas de exercer competências umas das outras

03. (FGV.DPE-MT.Analista Advocacia.2015) A ordem constitucional, ao dispor sobre a existência dos Po-deres Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos entre si, mostra-se compatível com a possibilidade de

a) uma Comissão Parlamentar de Inquérito examinar a juridicidade de atos praticados pelo Poder Judi-ciário, de modo a identificar possíveis desvios de conduta

b) a Constituição Estadual determinar a prévia aprovação, pela Assembleia Legislativa, de todos os presidentes de entes da Administração Pública nomeados pelo Poder Executivo

c) o Presidente do Tribunal de Justiça ser convocado a prestar esclarecimentos perante a Assembleia Legislativa

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 3º

d) o Poder Legislativo, por meio de comissão específica, referendar as licenças ambientais concedidas pelo Poder Executivo

e) o Poder Legislativo editar leis interpretativas, de modo a direcionar a atuação dos Poderes Executivo e Judiciário no sentido indicado

GAB 01 C 02 E 03 E

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

1. BREVES COMENTÁRIOS

A Constituição brasileira de 1988, inspirada no art. 9º da Constituição portuguesa de 1976, inovou em relação às nossas constituições anteriores ao estabelecer os objetivos fun-damentais que visam à promoção e concretização dos fundamentos da República Federativa do Brasil (CF, art. 1º). Diversamente dos fundamentos, que são valores estruturantes do Estado brasileiro, os objetivos fundamentais consistem em algo exterior a ser perseguido. Consagrados em normas-princípio, estabelecem finalidades a serem promovidas pelos po-deres públicos, os quais têm o dever de empreender, na maior medida possível, os esforços necessários para alcançá-los.

A construção de uma sociedade justa e solidária (princípio da solidariedade) e a busca pela redução das desigualdades sociais e regionais estão associadas à concretização do prin-cípio da igualdade material (igualdade de fato), legitimando, portanto, a adoção de políticas afirmativas (ações afirmativas ou discriminações positivas) por parte do Estado.

A erradicação da pobreza é uma das muitas concretizações do princípio da dignidade da pessoa humana, por estar indissociavelmente relacionada à promoção de condições dignas de vida. Com o objetivo de viabilizar a todos os brasileiros acesso a níveis dignos de subsistência, foi instituído pela EC 31/2000 o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, cujos recursos são aplicados em ações suplementares de nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar e outros programas de relevante interesse social voltados para melhoria da qualidade de vida (ADCT, art. 79). O prazo de vigência, inicialmente previsto até o ano de 2010, foi prorrogado por prazo indeterminado pela EC 67/2010.

A promoção do bem de todos, sem quaisquer formas de preconceito e discriminação, está diretamente relacionada à proteção e promoção da dignidade da pessoa humana e ao respeito às diferenças, como exigência do pluralismo.

Este rol é apenas exemplificativo, ou seja, os objetivos fundamentais não se exaurem naqueles expressamente enumerados.

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Art. 4º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

Atenção: É bastante usual em provas objetivas serem invertidos os fundamentos (CF, art. 1º), com os objetivos fundamentais (CF, art. 3º) e os princípios que regem o Brasil em suas relações internacionais (CF, art. 4º), razão pela qual tais dispositivos merecem uma leitura atenta por parte dos concursandos.

2. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (UFG – Defensor Público – GO/2014) A propósito dos princípios fundamentais da República Fe derativa do Brasil, reconhece-se que

a) o pluralismo político está inserido entre seus objeti vos.b) a livre iniciativa é um de seus fundamentos e se con trapõe ao valor social do trabalho.c) a dignidade é também do nascituro, o que desautori za, portanto, a prática da interrupção da gravidez

quando decorrente de estupro.d) a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra

forma de discriminação, é um de seus objetivos.e) o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, dependentes e harmônicos entre si, são poderes da União.

02. (CETREDE.JUCEC.Advogado.2015) Constitui(em) objetivo(s) fundamental(ais) da República Federativa do Brasil, previstos no art. 3° da CF/88, EXCETO

a) construir uma sociedade livre, justa e solidáriab) garantir o desenvolvimento nacionalc) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionaisd) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativae) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras

formas de discriminação

GAB 01 D 02 D

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguin-tes princípios:

I – independência nacional;

II – prevalência dos direitos humanos;

III – autodeterminação dos povos;IV – não-intervenção;

V – igualdade entre os Estados;

VI – defesa da paz;

VII – solução pacífica dos conflitos;

VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X – concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino--americana de nações.

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 4º

1. BREVES COMENTÁRIOSOs princípios elencados no art. 4º da Constituição estabelecem orientações e limites para

as condutas a serem adotadas pelo Brasil perante outros Estados e organismos internacionais. Inspirada na Constituição portuguesa de 1976, a sistematização desses princípios pode ser creditada à atuação decisiva de destacados internacionalistas para os quais a democratização era algo que se impunha não apenas no âmbito interno, mas também no da política inter-nacional. Para Flávia Piovesan (2009), esta inovação introduzida pela Constituição de 1988 insere-se no contexto contemporâneo marcado pela tendência de constitucionalização do Direito Internacional e de internacionalização do Direito Constitucional.

José Afonso da Silva (2014) identifica quatro inspirações para este rol de princípios que devem reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais: a de caráter nacionalista, expressa nas ideias de independência nacional, de autodeterminação dos povos, de não in-tervenção e de igualdade entre os Estados; a de caráter internacionalista, revelada na deter-minação de prevalência dos direitos humanos e de repúdio ao terrorismo e ao racismo; a de caráter pacifista, exteriorizada nos dispositivos que determinam a defesa da paz, de solução pacífica dos conflitos e a concessão de asilo político; e a de caráter comunitarista, observada nas ideias de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e no estímulo à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

O princípio da independência nacional costuma ser considerado pela doutrina como “a face externa da soberania ou, simplesmente, a soberania externa.” George Galindo (2014) explica que enquanto a soberania nacional se afirma no plano interno, a independência nacio-nal o faz no plano internacional. Embora haja quem considere sua consagração desnecessária, por ser um princípio que está inserido no conceito de soberania, há uma diferença relevante a ser notada. O dispositivo que consagra a soberania nacional como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (CF/88, art. 1º, I) refere-se exclusivamente ao Estado brasileiro, tanto em sua relação com outros Estados e organismos na ordem internacional (soberania externa), quanto no que se refere a sua supremacia perante os cidadãos na ordem interna (soberania externa). Já o que contempla a independência nacional como um dos princípios que regem o Brasil em suas relações internacionais deve ser compreendido como uma norma que impõe ao Estado brasileiro não apenas o dever de atuar no plano internacional de modo compatível com sua própria soberania, mas, sobretudo, o dever de respeito à independência dos demais Estados soberanos. Trata-se, portanto, de uma diretriz vinculante a ser observada em sua política externa.

O princípio da prevalência dos direitos humanos impõe ao Estado brasileiro deveres no âmbito interno e externo. Internamente, impõe não apenas a plena integração dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos ao ordenamento jurídico pátrio, mas tam-bém a devida observância das normas consagradoras desses direitos. No plano internacional, exige o engajamento no processo de elaboração de normas protetivas dos direitos humanos, bem como o dever de adotar posições políticas e jurídicas contrárias aos Estados que não os respeitam. (PIOVESAN, 2014). Com base neste princípio, o Supremo Tribunal Federal já indeferiu pedido de extradição por considerar que o ordenamento jurídico do Estado requerente era incapaz de assegurar aos réus as garantias necessárias para um “julgamento imparcial, justo, regular e independente.” Afirmou-se que o Tribunal não pode atuar com

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Art. 4º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

indiferença diante de “transgressões ao regime das garantias processuais fundamentais”, pois a Constituição de 1988 impõe ao Estado brasileiro o “dever de sempre conferir prevalência aos direitos humanos.” (Ext. 633/CH).

O princípio da autodeterminação dos povos impõe o dever de respeito ao direito que todas as nações possuem de definir o próprio sistema político e de escolher o modo mais adequado para seu desenvolvimento econômico, social e cultural. (PIOVESAN, 2014). A autodeterminação dos povos é também uma norma do Direito Internacional contemporâneo, consagrada nos principais tratados e convenções internacionais de direitos humanos, dentre eles, a Carta da ONU de 19451 e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.2 O Comitê de Direitos Humanos da ONU esclarece, em sua Recomendação Geral n. 12 (1984), que “o direito à autodeterminação é de particular importância porque sua realização é uma condição essencial para a eficaz garantia e a observância dos direitos humanos individuais e para a promoção e o fortalecimento desses direitos.”

O princípio da não intervenção impõe ao Estado brasileiro um dever de abstenção, a ser cumprido na maior medida possível, que o impede de intervir, direta ou indiretamente, em assuntos internos ou externos de outros países. A vedação constitucional abrange tanto intervenções militares, como interferências no plano político, econômico e cultural.3 No plano internacional tem sido admitida, em determinados casos, a denominada “intervenção humanitária”, em especial, quando autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU.

O princípio da igualdade entre os Estados impõe ao Brasil a adoção, no plano interna-cional, de posições e medidas que favoreçam o igual tratamento jurídico a todos os Estados soberanos. Galindo (2014) observa que a igualdade jurídica entre os Estados se manifesta em três níveis. A igualdade formal impõe o dever de tratamento igualitário dos Estados perante os órgãos judiciais internacionais. A igualdade legislativa significa, por um lado, que os Es-tados só podem ser obrigados àquilo que consentiram; por outro, que devem o mesmo peso e representação nos processos decisórios em órgãos internacionais e na aplicação das normas de direito internacional. A igualdade existencial, por seu turno, confere aos Estados o direito de existir (“integridade territorial”), de escolher o modo de sua existência (“independência política”) e, como consequência, de participar do sistema internacional.

O princípio da defesa da paz impõe dois deveres de natureza distinta: o de caráter negativo exige que o Estado brasileiro se abstenha de provocar conflitos armados; o de caráter positivo exige a adoção de medidas voltadas ao restabelecimento ou à manutenção da paz. Nas hipóteses de conflitos armados, o Estado brasileiro deve apoiar o acionamento dos sistemas

1. Artigo 1º. Os objetivos das Nações Unidas são: [...] 2) Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

2. Artigo 1º. 1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

3. Nesse sentido, o disposto no artigo 19 da Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA): “Nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, seja qual for o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro. Este princípio exclui não somente a força armada, mas também qualquer outra forma de interferência ou de tendência atentatória à personalidade do Estado e dos elementos políticos, econômicos e culturais que o constituem.”

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 4º

de segurança coletiva, e não as intervenções promovidas por um país ou grupo de países. A adoção de medidas por organizações internacionais é a que se revela mais compatível com os princípios da não intervenção e da igualdade entre os Estados. A manutenção da paz é um dos propósitos das Nações Unidas que, para esse fim, deve “tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz”. (Carta da ONU, artigo 1 (1)). No âmbito regional, a Organização dos Estados Americanos estabelece a garantia da paz com um dos propósitos essenciais para a realização dos princípios em que se baseia e para o cumprimento de suas obrigações em conformidade com a Carta das Nações Unidas. (Carta da OEA, artigo 2 (a)).

O princípio da solução pacífica dos conflitos exige que, na maior medida possível, o Estado brasileiro busque resolver suas contendas internas e externas sem o uso da força e apoie a adoção de medidas não coativas para a resolução de controvérsias internacionais.4 A Carta da ONU elenca, em seu artigo 33 (1), as seguintes medidas a serem adotadas pelas partes para a solução de controvérsias: “negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbi-tragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha.”

O princípio do repúdio ao terrorismo e ao racismo atua como uma diretriz vincu-lante para as relações do Brasil com outros Estados e com organizações internacionais. O princípio opera no sentido de impor a adoção de posturas, no plano internacional, voltadas à combater esses tipos de práticas e de impedir sejam firmadas relações políticas ou comerciais com países que estimulem ou não adotem medidas para combatê-las. Na definição de José Afonso da Silva (2014), terrorismo “é o meio pelo qual o agente – terrorista – produz uma ação extraordinariamente violenta (o terror) com o objetivo de criar uma situação de medo profundo, visando a atingir um determinado fim ou à dominação política”; o racismo, por sua vez, “é teoria e comportamento destinados a realizar e justificar a supremacia de uma raça sobre outra”. Como ideologia baseada na convicção de existência de uma hierarquia racial, este não se confunde com o preconceito, compreendido como uma intolerância ou sentimento hostil de um indivíduo em relação a determinadas pessoas ou grupos pelo sim-ples fato de terem origem, crenças ou características (físicas, culturais...) diferentes das suas.

O princípio que assegura a concessão de asilo político visa à proteção de indivíduos outras nacionalidades contra perseguições, por parte de seu país de origem, motivadas por razões de natureza política. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela ONU em 1948, estabelece que “toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países”, salvo nos casos de processo decorrente de crime de direito comum ou de atividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

4. George Galindo (2014) esclarece que, “historicamente, no direito internacional, a expressão mais empregada não é a solução pacífica dos ‘conflitos’, mas a solução pacífica das ‘controvérsias’. A opção tomada em 1988 mostra-se paradoxal se a própria Constituição é tomada como referência. No preâmbulo está disposto ‘e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias’. No vocabulário jurídico internacional, o termo conflito normalmente é utilizado para referir-se ao uso da força armada; por sua vez, controvérsia denota uma disputa ou diferença que não envolve necessariamente a questão armada.”

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Art. 4º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

(artigo 14 (1) e (2)). A Convenção Americana dos Direitos Humanos, por sua vez, é mais restritiva por delimitar o direito de obter asilo aos casos “de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos”. (artigo 22 (7)). O asilo e o refúgio são medidas unilaterais, destituídas de reciprocidade e voltadas à proteção da pessoa humana, mas que não se confundem. Flávia Piovesan (2014) elenca as seguintes diferenças entre o asilo (em sua acepção regional latino-americana) e o refúgio (em sua acepção global):

“o refúgio é, pois, medida essencialmente humanitária, enquanto o asilo é medida essencialmente política. O refúgio abarca motivos religiosos, raciais, de naciona-lidade, de grupo social e de opiniões políticas, enquanto o asilo abarca apenas os crimes de natureza política. Para o refúgio basta o fundado temor de perseguição, enquanto para o asilo há a necessidade da efetiva perseguição. Ademais, no refúgio a proteção como regra se opera fora do país, já no asilo a proteção pode se dar no próprio país ou na embaixada do país de destino (asilo diplomático). No refúgio há cláusulas de cessação, perda e exclusão constantes da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, já no asilo inexistem tais cláusulas. Outra distinção está na natureza do ato de concessão de refúgio e asilo – enquanto a concessão de refúgio apresenta efeitos declaratórios, a concessão de asilo apresenta efeito constitutivo, dependendo exclusivamente da decisão do país.”

Por fim, o princípio da integração latino-americana impõe ao Estado brasileiro a adoção de medidas de natureza econômica, politica, social e cultural voltadas à formação de uma comunidade de nações da América Latina. Para Marcos Augusto Maliska (2014), o termo “integração” deve ser compreendido como uma autorização, concedida pelo legislador constituinte originário, para a busca de uma integração supranacional, e não apenas para uma de uma associação de Estados nos moldes tradicionais do direito internacional, ou seja, com a observância dos princípios clássicos da soberania.

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Princípios Fundamentais (Art. 1º)

Objetivos Fundamentais (Art. 3º)

Princípios das Relações Internacionais (Art. 4º)

I – SoberaniaII – CidadaniaIII – Dignidade da pessoa hu-manaIV – Valores sociais do trabalho e da livre iniciativaV – Pluralismo político

I – Construir uma sociedade li-vre, justa e solidáriaII – Garantir o desenvolvimento nacionalIII – Erradicar a pobreza e a mar-ginalização e reduzir as desigual-dades sociais e regionais.IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais-quer outras formas de discrimi-nação* DICA: Por se tratar de uma ação estatal, sempre começa com verbo.

I – Independência NacionalII – Prevalência dos Direitos Hu-manosIII – Autodeterminação dos po-vosIV – Não-intervençãoV – Igualdade entre os EstadosVI – Defesa da PazVII – Solução pacífica dos con-flitosVIII – Repúdio ao terrorismo e ao racismoIX. Cooperação entre os povos para o progresso da humanidadeX. Concessão de asilo político.

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 4º

2. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (ESAF – Auditor-Fiscal – RFB/2014) Em 16 de março de 2014, a Criméia realizou consulta popular que resultou em ampla maioria favorável à separação da Ucrânia, abrindo caminho para sua anexação à Rússia, que restou implementada nos dias seguintes. A Criméia pertenceu à Rússia até 1953, quan-do o líder Nikita Kruschev resolveu que a Península deveria integrar a Ucrânia. Considerando esses acontecimentos, assinale a opção correta, tomando por fundamento a Constituição Federal de 1988.

a) A Constituição Federal de 1988 não se ocupa do tema em epígrafe, vale dizer, não trata de questões internacionais e não menciona os respectivos princípios que devem guiar as relações internacionais da República Federativa do Brasil.

b) A Constituição Federal de 1988 se ocupa do tema em epígrafe, porém, não menciona qualquer princí-pio de relações internacionais, deixando para o Congresso Nacional a tarefa de criá-los, via legislação ordinária.

c) A Constituição Federal de 1988 se ocupa do tema em epígrafe, estabelecendo, como princípio, que a República Federativa do Brasil somente intervirá em outro Estado soberano na hipótese de requisição, em defesa da Democracia e dos Direitos Humanos, com ou sem mandato da Organização das Nações Unidas.

d) A Constituição Federal de 1988 se ocupa do tema em epígrafe, estabelecendo, como princípios da República Federativa do Brasil, no plano internacional, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

e) A Constituição Federal de 1988 se ocupa do tema em epígrafe, estabelecendo, como princípios da República Federativa do Brasil, no plano internacional, os princípios da autodeterminação dos povos e a não intervenção.

02. (FCC – Procurador Judicial – Prefeitura Recife-PE/2014) Entre os princípios que regem, segundo a Constituição Federal, a República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, encontram-se os seguintes:

a) defesa da paz, soberania nacional, não-intervenção e repúdio a todas as formas de tratamento de-sumano ou degradante.

b) autodeterminação dos povos, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e promoção do bem-estar e da justiça social.

c) defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, não-intervenção e repúdio ao terrorismo e ao racismo.d) soberania nacional, proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, não-intervenção e

solução pacífica dos conflitos.e) cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, proteção do meio ambiente ecologica-

mente equilibrado, promoção do bem-estar e da justiça social.

03. (ACAFE – Agente de Polícia – SC/2014) A Constituição brasileira inicia com o Título I dedicado aos "princípios fundamentais", que são as regras informadoras de todo um sistema de normas, as dire-trizes básicas do ordenamento constitucional brasileiro. São regras que contêm os mais importantes valores que informam a elabora ção da Constituição da República Federativa do Brasil.

Diante dessa afirmação, analise as questões a seguir e assinale a alternativa correta.I. Nas relações internacionais, a República brasi leira rege-se, entre outros, pelos seguintes princípios:

autodeterminação dos povos, defe sa da paz, igualdade entre os Estados, con cessão de asilo político.II. Os princípios não são dotados de normatividade, ou seja, possuem efeito vinculante, mas constituem

regras jurídicas efetivas.III. Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer, pois implica ofensa a

todo o sistema de comandos.IV. São princípios que norteiam a atividade eco nômica no Brasil: a soberania nacional, a fun ção social

da propriedade, a livre concorrên cia, a defesa do consumidor; a propriedade privada.

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Art. 4º TÍTULO I – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS.

V. A diferença de salários, de critério de admis são por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil a qualquer dos trabalhadores urbanos e rurais fere o princípio da igualdade do caput do art. 5º da Constituição Federal.

a) Apenas I, II, III estão corretas.b) Apenas II e IV estão corretas.c) Apenas III e V estão corretas.d) Apenas I, III, IV e V estão corretas.e) Todas as afirmações estão corretas.

04. (FMP – Cartório – TJ – MT/2014) A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações interna-cionais por princípios. Um desses é:

a) o repúdio ao terrorismo e ao racismo.b) a defesa dos Estados americanos.c) o respeito aos direitos naturais.d) a laicidade dos Estados.e) a soberania do Conselho de Segurança da ONU.

05. (OBJETIVA CONCURSOS.Pref. São Pedro do Sul-RS. Agente Administrativo.2015) De acordo com a Constituição Federal, analisar os itens abaixo:

I. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelo princípio da indepen-dência nacional.

II. A cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. Não está entre os princípios elencados no artigo 4º da Constituição Federal. a) Os itens I e II estão corretos.b) Somente o item I está correto.c) Somente o item II está correto.d) Os itens I e II estão incorretos.

06. (FUNCAB.FUNASG.Advogado.2015) Sobre os princípios fundamentais da Constituição Brasileira, pode-se afirmar que:

a) a República Federativa do Brasil e constituída dos seguintes poderes, independentes e harmônicos entre si: Legislativo, Administrativo, Executivo e Judiciário

b) a República Federativa do Brasil tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político

c) a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina e da África, visando à formação de uma comunidade internacional de nações latinas e africanas

d) todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário

e) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais não constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil

07. (CESPE.IRBr.Diplomata.2015) A concessão de asilo político a estrangeiro é princípio que rege a Re-pública Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, mas, como ato de soberania estatal, o Estado brasileiro não está obrigado a realizá-lo

GAB 01 E 02 C 03 D 04 A 05 B 06 B 07 C

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 5º

3. BIBLIOGRAFIA CITADA NO TÍTULO I:

ADEODATO, João Maurício (2009). “Adeus à separação dos poderes?”. Leituras complementares de constitucional: Teoria da Constituição. Marcelo Novelino [org.]. Salvador: JusPodivm, p. 283-292.

BASTOS, Celso Ribeiro (1995). Curso de direito constitucional. 16. ed. São Paulo: Saraiva.

BOBBIO, Norberto (2009). O futuro da democracia. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra.

CAETANO, Marcello (2003). Manual de ciência política e direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Alme-dina. Tomo I.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes (1993). Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina.

FERRAZ, Anna Cândida da Cunha (1979). Poder constituinte do Estado-membro. São Paulo: RT.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves (2007). Do processo legislativo. 6. ed. São Paulo: Saraiva.

GALINDO, George Rodrigo Bandeira (2014). “Comentário ao artigo 4º, incisos I, III, IV, V, VI e VII”. Comentários à Constituição do Brasil. CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). São Paulo: Saraiva/Almedina, p. 150-174.

MALISKA, Marcos Augusto (2014). “Comentário ao artigo 4º, parágrafo único”. Comentários à Cons-tituição do Brasil. CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). São Paulo: Saraiva/Almedina, p. 181-183.

NOVELINO, Marcelo (2008). “O conteúdo jurídico da dignidade da pessoa humana”. Leituras comple-mentares de direito constitucional: direitos humanos e direitos fundamentais. 3. ed. Marcelo Novelino [org.]. Salvador: JusPodivm, p. 153-174.

PIOVESAN, Flávia (2009). “Comentário ao artigo 4º”. Comentários à Constituição Federal de 1988. Paulo Bonavides et alii [Coord.]. Rio de Janeiro: Forense, p. 40.

___ (2014). “Comentário ao artigo 4º, incisos II, III, VIII, IX e X”. Comentários à Constituição do Brasil. CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). São Paulo: Saraiva/Almedina, p. 153-181.

SILVA, José Afonso da (1997). Curso de direito constitucional positivo. 14. ed. Malheiros: São Paulo.

___ (2014). Comentário contextual à Constituição. 9. ed. São Paulo: Malheiros.

STRECK, Lenio Luiz (2009). Hermenêutica jurídica e(m) crise: Uma exploração hermenêutica da cons-trução do Direito. 8. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado.

TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I – DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

1. BREVES COMENTÁRIOSO ordenamento jurídico, ao mesmo tempo em que guarnece o Estado com instrumentos

necessários à sua ação, protege certos interesses dos indivíduos contra a intromissão estatal. A maior parte dos setenta e oito incisos do art. 5º concretiza um dos cinco princípios con-sagrados no caput, quais sejam: o princípio da inviolabilidade do direito à vida; o princípio

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Art. 5º TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

da igualdade; o princípio geral de liberdade; o princípio da segurança jurídica e o princípio da proteção ao direito de propriedade.

Os direitos individuais são prerrogativas fundamentais atribuídas aos particulares em face do Estado e de outros particulares, visando à proteção de valores como a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade. As garantias individuais são instrumentos criados para assegurar a proteção e efetividade dos direitos fundamentais. Não são, portanto, um fim em si mesmo, mas um meio a serviço de um direito substancial. Os direitos e garantias individuais, sem embargo de estarem contemplados sistematicamente no art. 5º da Cons-tituição, não se restringem a ele, sendo possível identificar outros direitos e garantias desta espécie ao longo do texto constitucional.

D I S C U R S I V A

(TJ/RS – Juiz de Direito - RS/2012) Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Constituição Federal, art. 5º, caput). Estabeleça a distinção entre direitos e garantias individuais segundo a doutrina.

Os direitos coletivos, por sua vez, estão basicamente consagrados nos Capítulos I e II do Título II, não obstante a expressa referência aos direitos e deveres coletivos constar apenas do primeiro Capítulo. Dentre os “direitos coletivos” nele consagrados estão as liberdade de reunião (CF, art. 5º, XVI) e de associação (CF, art. 5º, XVII a XXI). A rigor, o exercício desses direitos é que pressupõe a atuação de uma pluralidade de sujeitos, mas a titularidade continua sendo de cada um dos indivíduos. Coletivos, portanto, são os instrumentos de exercício e não os sujeitos dos direitos.

Com relação aos destinatários dos direitos e garantias individuais, uma interpretação literal do dispositivo excluindo os estrangeiros não residentes, revelar-se-ia incompatível com a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III). Por isso, deve-se fazer uma interpretação extensiva no sentido de assegurar tais direitos e garantias, a todas as pessoas que se encontrem no território brasileiro.

A orientação adotada pelo Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a condição jurídica de estrangeiro aliada ao fato de não possuir domicílio no Brasil não inibe, só por si, o acesso aos instrumentos processuais de tutela da liberdade nem subtrai o Poder Público do dever de respeitar as prerrogativas de ordem jurídica e as garantias de índole constitucional que o ordenamento positivo brasileiro assegura a qualquer pessoa (HC 94.477/PR). Nesse sentido, revela-se ilegítima a adoção de tratamento arbitrário ou discriminatório por parte do Estado brasileiro a qualquer indivíduo, independentemente de sua origem ou domicílio (HC 94.016-MC/SP; RE 215.267).

Vale notar ainda que, embora originariamente os direitos e garantias fundamentais te-nham sido pensados em referência às pessoas físicas, na atualidade é incontestável a pos-sibilidade de também serem titularizados por pessoas jurídicas, inclusive de direito público, sobretudo, no caso dos direitos fundamentais de natureza procedimental. (STF – AC 2.395-MC/PB; STF – AC (QO) 2.032/SP).

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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Art. 5º

1.1. Direito à vida

1.1.2 Âmbito de proteção

O conceito de vida, para fins de proteção constitucional, está relacionado à existência física do ser humano. A inviolabilidade do direito à vida assegurada pela Constituição não se refere, portanto, a toda e qualquer forma de existência, mas tão somente à vida humana em seu sentido biológico, cuja proteção começa antes mesmo do nascimento e termina com a morte.

A inviolabilidade, consistente na proteção do direito à vida contra violações por parte do Estado e de terceiros, não se confunde com a irrenunciabilidade, característica distintiva dos direitos fundamentais que os protege inclusive em face de seu próprio titular.

O direito à vida costuma ser compreendido em uma dupla acepção. Em sua acepção negativa, consiste no direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo. Trata-se, aqui, de um direito de defesa que confere ao indivíduo um status negativo (em sentido amplo), ou seja, um direito à não intervenção em sua existência física por parte do Estado e de outros particulares. A acepção positiva costuma ser associada ao direito a uma existência digna, no sentido de ser assegurado ao indivíduo o acesso a bens e utilidades indispensáveis para uma vida em condições minimamente dignas.

Por fim, vale lembrar que o direito fundamental à vida deve ser pensado não apenas sob a perspectiva do indivíduo, enquanto posição jurídica de que este é titular perante o Estado (dimensão subjetiva), mas também do ponto de vista da comunidade, enquanto bem jurídico essencial que impõe aos poderes públicos e à sociedade o dever de adotar medidas de proteção contra práticas que atentem contra o direito à vida e de promoção dos meios indispensáveis a uma vida humana com dignidade e qualidade (dimensão objetiva).

1.1.3 Restrições (intervenções restritivas)

O direito à vida, apesar de sua importância axiológica e de ser pressuposto elementar para o exercício de todos os demais direitos, não possui um caráter absoluto. Em casos de colisão com o mesmo bem jurídico titularizado por terceiros ou, ainda, com outros princípios de peso relativo (ou seja, diante do caso concreto) maior, o direito à vida poderá sofrer restrições no seu âmbito de proteção.

Na Constituição de 1988, única restrição expressamente prevista é a possibilidade de imposição de pena de morte em caso de guerra declarada (CF, art. 5º, XLVII, a).

Há, no entanto, outras hipóteses de intervenções que, apesar de não terem previsão expressa, são consideradas legítimas por encontrarem justificação em outros princípios de hierarquia constitucional (cláusula de reserva implícita).

No âmbito infraconstitucional, podem ser mencionadas como formas de intervenção legítima no âmbito de proteção do direito à vida as hipóteses de excludente de antijuridi-cidade (CP, arts. 23 a 25). É o caso, por exemplo, de um policial que atira com a intenção de causar a morte de um sequestrador quando este for o meio extremo e último para salvar a vida do refém. (PIEROTH; SCHLINK, 2012).