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18º Grau Maçônico por Wagner Veneziani Costa Um sobrevivente do peculiar interesse do período na mitologia rosa-cruz está familiarizado com a Maçonaria no mundo inteiro. É o famoso Rose-Croix ou 18º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. Supostamente, o conteúdo do ritual tem muito poucos elementos “rosa-cruzes” óbvios nenhuma referência a Christian Rosenkreuz ou à Casa do Espírito Santo, ou até à fraternidade R.C. Comentaristas maçônicos acadêmicos acostumaram-se a concluir que as palavras Rose (“Rosa”) e Croix (“Cruz”) são puramente acidentais e não há como inferir nenhuma influência rosa-cruz. Essa crítica não faz sentido dentro do contexto real da Maçonaria da metade do século XVIII, em que os mitos logo perderam sua especificidade, sendo reduzidos a lições morais e éticas. As lições morais da Rose-Croix permanecem as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Amor aprendidas por meio de uma jornada simbólica empreendida pelo “cavaleiro maçom” em potencial a um local no Oriente, onde um mistério alquímico da primeira ordem é representado a saber, a crucificação de Cristo em Jerusalém: “A Pedra Cúbica que emana sangue e água”, como o ritual vividamente declara. É bem possível que o escritor do ritual estivesse ciente do simples misticismo cristão dos textos pós-Fama de Andreae, embora o sabor do ritual sugira com mais força sensibilidades mais católicas que espirituais protestantes. O ritual não está preocupado com a mitologia de Christian Rosenkreuz, apenas com o potencial iconográfico da rosa e da cruz. Essa imagem é combinada com a do pelicano alimentando suas crias com o próprio sangue, um claro símbolo de Cristo e Seu amor salvador. O ritual foi provavelmente criado como uma maneira poderosamente conveniente de afirmar a identidade cristã dentro da Maçonaria (que estava sob ameaça), embora retenha uma atmosfera de sugestivo mistério maçônico. Que melhor fonte para o tema cristão em um cenário esotérico simpatizante à “casa oculta” ou Loja ideal da Maçonaria do que um Rosacrucianismo de fervor cristão, celestial e fragrantemente místico em espírito. No clímax do rito, por exemplo, o futuro “aprimorado” cavaleiro maçom encontra uma escada (associada com Jacó e Beth-el, o lugar de Deus) que conduz a um altar adornado com rosas. As palavras Rose-Croix sugerem um Cristianismo místico e mágico do século XVIII e continuam a fazê-lo: algo indefinível e além da razão. A Maçonaria prefere inferência e alusão a qualquer implicação de especificidade confessional e dogma metafísico: universalismo, simbolismo é tudo. Afinal, a Maçonaria seria definida como “um sistema peculiar de moralidade dissimulado em alegoria e ilustrado por símbolos”. Em muitos aspectos, essa última declaração de William Preston (Illustrations of Masonry ,1772) [“Ilustrações da Maçonaria”]; também pode ser aplicada a aspectos de

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18º Grau Maçônico por

Wagner Veneziani Costa

Um sobrevivente do peculiar

interesse do período na mitologia

rosa-cruz está familiarizado com a

Maçonaria no mundo inteiro. É o

famoso Rose-Croix – ou 18º Grau do

Rito Escocês Antigo e Aceito.

Supostamente, o conteúdo do

ritual tem muito poucos elementos

“rosa-cruzes” óbvios – nenhuma

referência a Christian Rosenkreuz ou

à Casa do Espírito Santo, ou até à

fraternidade R.C. Comentaristas

maçônicos acadêmicos acostumaram-se a concluir que as palavras Rose (“Rosa”) e

Croix (“Cruz”) são puramente acidentais e não há como inferir nenhuma influência

rosa-cruz. Essa crítica não faz sentido dentro do contexto real da Maçonaria da metade

do século XVIII, em que os mitos logo perderam sua especificidade, sendo reduzidos a

lições morais e éticas.

As lições morais da Rose-Croix permanecem as virtudes cristãs da Fé, Esperança

e Amor – aprendidas por meio de uma jornada simbólica empreendida pelo “cavaleiro

maçom” em potencial a um local no Oriente, onde um mistério alquímico da primeira

ordem é representado – a saber, a crucificação de Cristo em Jerusalém: “A Pedra Cúbica

que emana sangue e água”, como o ritual vividamente declara.

É bem possível que o escritor do ritual estivesse ciente do simples misticismo

cristão dos textos pós-Fama de Andreae, embora o sabor do ritual sugira com mais força

sensibilidades mais católicas que espirituais protestantes. O ritual não está preocupado

com a mitologia de Christian Rosenkreuz, apenas com o potencial iconográfico da rosa

e da cruz. Essa imagem é combinada com a do pelicano alimentando suas crias com o

próprio sangue, um claro símbolo de Cristo e Seu amor salvador.

O ritual foi provavelmente criado como uma maneira poderosamente conveniente

de afirmar a identidade cristã dentro da Maçonaria (que estava sob ameaça), embora

retenha uma atmosfera de sugestivo mistério maçônico. Que melhor fonte para o tema

cristão em um cenário esotérico simpatizante à “casa oculta” ou Loja ideal da

Maçonaria do que um Rosacrucianismo de fervor cristão, celestial e fragrantemente

místico em espírito. No clímax do rito, por exemplo, o futuro “aprimorado” cavaleiro

maçom encontra uma escada (associada com Jacó e Beth-el, o lugar de Deus) que

conduz a um altar adornado com rosas.

As palavras Rose-Croix sugerem um Cristianismo místico e mágico do século

XVIII e continuam a fazê-lo: algo indefinível e além da razão. A Maçonaria prefere

inferência e alusão a qualquer implicação de especificidade confessional e dogma

metafísico: universalismo, simbolismo é tudo. Afinal, a Maçonaria seria definida como

“um sistema peculiar de moralidade dissimulado em alegoria e ilustrado por símbolos”.

Em muitos aspectos, essa última declaração de William Preston (Illustrations of

Masonry ,1772) [“Ilustrações da Maçonaria”]; também pode ser aplicada a aspectos de

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Neorrosacrucianismo.

A composição original do grau do “Soberano Príncipe Rose-Croix [“Rosa-Cruz”],

Cavaleiro do Pelicano e da Águia”, há muito foi atribuída a Jean-Baptiste Willermoz

(1730-1824). De acordo com A.C.F. Jackson (Rose Croix, A History of the Ancient &

Accepted Rite for England and Wales. Lewis Masonic, 1980) [“Rosa-Cruz, Uma

História do Rito Antigo e Aceito na Inglaterra e no País de Gales”], o título apareceu

pela primeira vez em 1761, como uma deferência aos detentores do grau do Cavaleiro

da Águia.

Em 1766, um francês de origem crioula chamado Estienne Morin (falecido em

1771) completou uma série de Constituições, consideradas atualmente pelo Rito Antigo

e Aceito da Maçonaria como importantes documentos de fundação. Essas Constituições

datavam de 1762, um ano depois que Morin recebeu uma patente da Grande Loja da

França, nomeando-o como “Inspetor-Geral”. Morin considerou a indicação como uma

missão para difundir a Maçonaria através do Atlântico de uma forma que servia a seus

interesses. De fato, ele se tornaria “Inspetor-Geral” de sua própria constituição

maçônica. Morin chegou às Índias Ocidentais em 1763, mas não se sabe se ele

completara um Ritual Rose-Croix naquela época. O que ele provavelmente tinha era

uma lista de cerca de 25 graus obtidos de Jean-Baptiste Willermoz, o arquivista chefe da

Maçonaria, em Lyon.

Como veremos, no tempo devido, Willermoz passou bastante tempo em Lyon

examinando, meticulosamente, os rituais de toda a Europa, buscando pela doutrina

essencial que unificaria o todo. Em 1761, Willermoz e seu grupo formaram um novo

rito de 25 graus. A maioria deles era apenas de nomes e ainda precisavam ser

elaborados.

Nesse meio-tempo, Willermoz também se correspondia com um certo Meunier de

Précourt, mestre de uma Loja em Metz, que sabia um pouco sobre um grau Rose-Croix

que estava sendo trabalhado em algum lugar da Alemanha. Em 1762, De Précourt

aguçou mais o apetite de Willermoz com promessas de “mil segredos maravilhosos”

disponíveis na Alemanha, inclusive uma Ordem do Templo.

Willermoz completou o Ritual Rosa-Cruz em 1765. Se provinha ou não da

Alemanha, não se sabe. Estranhamente, em 1765, surgiu um livro, Les Plus Secrets

Mystères [“Os Mistérios Mais Secretos”] com cerimônias que incluíam o grau dos

“Cavaleiros da Espada e da Rose-Croix”. O grau não tinha semelhança com o de

Willermoz. Talvez houvesse um pouco de concorrência com a proto-Gold-und

Rosenkreuzers, oferecendo mais do que devoto simbolismo maçônico.

O Rose-Croix era popular e, por volta de 1768, existiu uma instituição em Paris

que se denominava o “Primeiro Capítulo Soberano Rosa-Cruz”, cujos estatutos e

regulamentos foram emitidos em 1769. Essa iniciativa expandiu-se à Grã-Bretanha,

onde foi acolhida pelos poucos que tiveram acesso a seu trabalho como o grau ne plus

ultra – a mais alta forma de Maçonaria, pois “não há nada mais além”. A partir de 1775,

o grau Rose-Croix era trabalhado nos “Acampamentos” dos Cavaleiros Templários

Maçônicos britânicos.

Dois anos antes de a instituição parisiense ser estabelecida, o vice de Morin,

Francken, fundou a Loja de Perfeição e Conselho dos Príncipes de Jerusalém em

Albany, Nova York. Uma “Loja de Perfeição” foi aberta em Charleston em 1783, a

origem do atual “Supremo Conselho, Jurisdição Maçônica do Sul” (Estados Unidos).

Muito importante para a Maçonaria, o grau Rose-Croix transforma a lenda do

assassinato de Hiram Abiff por pedreiros invejosos, ao insistir que o evento crítico da

Maçonaria ocorreu quando o “Mestre morto” (não Hiram Abiff mas Cristo, “a pedra

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fundamental que os edificadores rejeitaram”) convidou o pedreiro para “morrer n’Ele” e

renascer no Espírito. Por essa razão, o Cavaleiro Maçom da Rose-Croix é “aprimorado”

no clímax do grau. A substância dessa mensagem é bastante clara na Fama Fraternitatis,

na qual os Irmãos descobrem as seguintes palavras na cripta oculta de Christian

Rosenkreuz: “Nascemos de Deus, morremos em Jesus e viveremos de novo pelo

Espírito Santo.” Esta é, no Rito Antigo e Aceito, “a perfeição da Maçonaria”.

Os maçons, em geral, têm relutado em acomodar as plenas implicações dessa

compreensão. Freemasonry – The Reality, Tobias Churton, Lewis Masonic, 2007).

Martines de Pasqually (1709? ou 1726/1727-1774)

A maior influência na vida do ritualista maçônico Willermoz, sem dúvida, foi a

mente extraordinária de “Don Martines Pasqually”, como ele próprio assinava (seu

verdadeiro nome era e continua a ser uma questão duvidosa). Contudo, o sistema de

crença de Pasqually, embora possa ser classificado como “paramaçônico”, não pode ser

chamado “rosa-cruz”. Entretanto, seu pensamento era, em certos aspectos, inconcebível

sem que a mitologia e a tradição rosa-cruz existissem antes e na sua época, enquanto

que ele próprio continuaria a influenciar o que, posteriormente, passou sob o nome e

descrição de “rosa-cruz”. Por essa razão, Pasqually não pode ser ignorado.

Sua fama reside principalmente por ter fundado uma Ordem dos Élus Coëns

[“Sacerdotes Eleitos”], em 1765, ano em que Willermoz completou seu ritual Rose-

Croix, cuja confluência de datas atesta a notável quantidade de atividade concertante

paramaçônica existente nesse período.

Os Eleitos Coëns não foram a primeira incursão criativa de Pasqually no ritual

teosófico. Em 1754, ele fundou um Chapitre des Juges Écossais (“Capítulo de Juízes

Escoceses”) em Montpellier, a cidade que Haslmayr tentou alcançar antes de ser

condenado às galés em 1612, quando estava em busca de um irmão rosa-cruz. A palavra

“Escocês” refere-se à crença nos círculos maçônicos franceses de que a autêntica

Maçonaria vinha da Escócia, pois as Lojas estabeleceram-se na França sob a égide de

jacobitas exilados (partidários da dinastia Stuart na Grã-Bretanha).

Entre 1762 e 1772, Pasqually estava baseado em Bourdeaux, onde Morin também

viveu até sua partida para as Índias Ocidentais em 1763. Em 1765, Pasqually formou

um “Templo Coën”, chamado Les Élus Écossais [“Os Eleitos Escoceses”], que, no ano

seguinte, tornou-se a Ordre des Chevaliers Maçons Élus Coëns de l’Univers, a Ordem

dos Cavaleiros Maçons Eleitos Sacerdotes do Universo. Pasqually estava “pensando

grande”.

A garantia para essa grandiosa criação era uma tradução feita por Pasqually de

uma “constituição e patente”, que, segundo ele, fora concedida a seu pai, em 20 de maio

de 1738, por “Charles Stuard [sic], Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra, Grão-Mestre de

todas as Lojas sobre a superfície da Terra”. Esse documento pode ou não ter sido

apócrifo. O uso do nome Charles Stuart era, certamente, uma referência a Bonnie Prince

Charlie, que, posteriormente, apareceria na história contada pelo barão alemão Von

Hund, que vocês conhecerão logo abaixo, sobre como ele obteve um rito templário da

mesma origem real. É fato bastante comprovado que os jacobitas exilados usaram a

Maçonaria como um sistema de apoio, mas não se sabe se o pretendente ao trono

britânico estava envolvido.

A data de 1738 é interessante, pois foi neste ano que a Grande Loja dos Maçons

Livres e Aceitos de Londres produziu seu novo livro de Constituições. É possível que

houvesse aqui uma tentativa de os maçons “escoceses” (ou melhor franceses) de

“ordens superiores” superarem o ás de Londres com um apelo à autoridade ausente e

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superior. A cavalaria maçônica era melhor quando concedida por um rei, naturalmente.

Seria preciso apenas combinar a Escócia com as lendas recém-cunhadas dos “templários

exilados” para lançar uma nova estrutura mitológica. Essa estrutura estava,

inevitavelmente, amarrada à mística da Rose-Croix e persiste até os dias de hoje.

Pasqually aparentemente servira em um regimento escocês na Espanha (tinha

descendência hispano-judaica) e foi entre os militares que ganhou seus primeiros

recrutas, que, por acaso, eram católicos romanos (outro soco no olho da Maçonaria

“Regular”). Foi através da Loja militar Josué que Louis-Claude de Saint-Martin

conheceu o notável Pasqually (Saint-Martin fora designado à Foix Infanterie).

Entre 1766 e 1767, muitos foram admitidos na ordem de Pasqually, incluindo

Willermoz. É estranho que os três mais fecundos colaboradores da Maçonaria Teosófica

radical com nuances rosa-cruz todos se conheceram: Pasqually, Willermoz e Saint-

Martin. Sua influência agregadora tem sido imensa, em certos círculos continentais.

Pasqually usou a Maçonaria como estrutura, mas principalmente por uma questão

de conveniência histórica. Embora fosse em parte um judeu convertido, Pasqually era

genuinamente cristão, mas, até onde se saiba, pertencia a um ramo do Cristianismo que

se pensava estar extinto: o Cristianismo Judaico. O conhecimento dessa tradição

especial chegou a Pasqually, disse ele, por sucessão. Ele obteve esse conhecimento do

pai.

Pasqually promoveu seu próprio sistema teosófico, que gozou de imensa

influência. Willermoz, por exemplo, chegou a considerá-lo a essência da Maçonaria e

Saint-Martin – que tinha muitas ideias próprias – submeteu-se à fonte peculiar de

inspiração espiritual de Pasqually. A ideia de uma transmissão secreta de conhecimento

elevado harmonizava-se com a mitologia do Rosacrucianismo, como também seu foco

em Cristo.

No final do século, a crença seria de que, seja o que inspirara o sábio Christian

Rosenkreuz, também inspirara a teosofia de Pasqually e Saint-Martin; as obras de cada

um deles – junto com as de Jacob Böehme – podiam ser lidas in tandem, e como

reforços mútuos a uma poderosa força da Maçonaria teosófica e oculta. Cada vez mais

curioso, talvez fosse o comentário de Andreae.

Pasqually afirmou que seu ensinamento vinha diretamente da Sabedoria Celestial

e, com tal autoridade, escreveu Treatise on Reintegration [“Tratado da Reintegração”].

Pasqually declarou que, embora o homem tenha sido criado à semelhança de Deus, ele

agora estava em um estado de “ruptura” com Deus, um estado de “privação”, de

separação de Deus. Pasqually afirmava que, no entanto, isso não era o fim da questão. O

Homem ainda podia, quando reconciliado, retornar a seu estado original. Esse retorno

envolvia uma gnose judaico-cristã, sobre a qual disse: “Devo relembrar aos homens,

companheiros, de seu primeiro estado maçônico, que é dizer espiritualmente homem ou

alma, de forma a fazê-los ver verdadeiramente que são na verdade homem-deus, sendo

criados à imagem e semelhança desse Todo-Poderoso Ser” (carta a Willermoz, 13 de

agosto de 1768). Alguns leitores podem considerar essa promessa um tanto pobre de

veemência. Como se conseguia ficar tão inspirado com a ideia de serem reconciliadas

com Deus? Não é isso o que os evangélicos pregam?

Bem, não exatamente. O homem do século XVIII vivia em um universo mental

muito diferente do nosso. Podemos imaginar, por exemplo, que republicanos e

democratas americanos hoje se sentissem um tanto estranhos, talvez até um pouco

desconfortáveis, se tivessem de passar algumas horas ouvindo os discursos de Benjamin

Franklin. Ele poderia parecer muito diferente ao vivo do que haviam imaginado. Suas

suposições, linguagem e clímax da conversa seriam muito estranhos ao ouvido

moderno.

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Em suma, a opinião amplamente arraigada do homem do século XVIII era, em

geral, de que o Homem era um ser caído. O relacionamento principal com seu criador

era tenso e difícil; o que o tornava fundamentalmente inseguro se as asas da salvação

parecessem débeis. Os protestantes eram encorajados a ter um relacionamento pessoal

com seu salvador, mas o pensamento da época poderia tornar isso difícil. Aos católicos,

ensinava-se que era bem mais fácil desagradar a seu criador do que ganhar ou estar

receptivo às graças que poderiam salvar-lhes a alma. De qualquer forma, o homem

estava muito longe do que Deus queria que ele fosse. Havia um abismo entre o que o

homem era e como deveria ser. Pecado e inferno eram próximos e a ignorância não era

desculpa.

Hoje em dia, a maioria das pessoas herdou um conceito “naturalista” do ser

humano. Elas são capazes de se ver até bastante superiores, em alguns aspectos, com o

resto do mundo natural, mas ainda parte fundamental dele. Outros acreditam que não

vivemos à altura de nosso lugar na ordem natural e somos, desse modo, como um déficit

ecológico global. Esses são extremos e a maioria das pessoas encontra-se no meio-

termo. Pensamos ser mais ou menos o que estamos destinados a ser; podíamos ser

melhores e provavelmente deveríamos. Mas somos seres humanos no sentido orgânico

pleno do termo; nosso corpo e alma (se acreditarmos neles) estão bem amarrados.

Isso era apenas um sonho para a maioria, no século XVIII. Quando encontraram

algo parecido nos mares do sul, imediatamente pensaram no Éden, e no estado anterior

ao pecado original. Para eles, o homem como criatura orgânica finita não era o que

Deus tinha verdadeiramente pretendido. Rousseau poderia objetar, mas não era bom

sonhando com a bucólica arcádia, cantando as virtudes da vida campestre, enquanto a

peste grassava e a morte rondava na esquina. Corrupção e morte não foram removidas

da vista. Corrupção e morte, decadência, a condição lamentável e desprezível do

homem era visível a todos que não tinham condições de retratar a paisagem campestre

de sua terra à maneira dos poetas gregos. A vida era pútrida e fétida, e todos os seres,

não importa a aparência, cedo ou tarde sucumbiriam a esse estado. A queda do homem

era fato e os indícios estavam por toda a parte.

Como poderia ele ser salvo? Seria possível confiar apenas na Igreja, ou havia uma

consciência maior, uma centelha de luz divina, que exigia a própria vontade e

concentração? Como salvar a pérola da imagem de Deus no homem do lodo que o

cercava?

Pasqually oferecia um caminho que afirmava ter sempre existido mas que, agora

estava disponível, sob nova forma mais adequada à época. No sistema de Pasqually,

havia quatro classes de graus, além dos graus do ofício. A terceira era a Classe do

Templo com os graus: Grande Arquiteto, Cavaleiro do Oriente (ou Grande-Eleito de

Zorobabel), Comandante do Oriente (ou Aprendiz Réau-Croix). Este último abria os

portões à Quarta classe: o grau de Réau-Croix, que era uma classe em si. Havia sete

graus porque havia sete dons do espírito.

Avançando através dos sete graus, o Sacerdote-Eleito estaria apto a entrar em um

culto cerimonial, uma teurgia que envolvia invocações mágico-espirituais, ativando

energias divinas. Havia também uma liturgia para invocar “seres espirituais e

inteligentes” (anjos).

É preciso lembrar que, para Pasqually, a palavra mason [“maçom”] era sinônima

de “homem”. Todos os homens estão envolvidos na obra da construção, ou são

“trabalhadores da vinha”. Ser homem é ter potencial criativo. A arquitetura é apenas um

aspecto disso e não se devia tomar o símbolo literal ou especificamente demais, como é

comum no oficio.

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O primeiro Homem foi o Rei-Sacerdote do Universo. Daí, tornou-se pessoal,

preocupado apenas consigo mesmo. A reconciliação pode torná-lo de novo um ser

universal. O sistema de Pasqually era basicamente uma ordem religiosa, observada com

preces e restrita às almas que não esteja em desacordo com a “verdadeira Igreja”. Seu

sistema oferecia uma experiência de reconciliação com Deus e consciência de um ser

superior, não meramente a teologia ou sua promessa ocasional. Seu objetivo era

expandir a alma e a mente.

Pasqually escreveu que a Teurgia era “uma cerimônia e uma regra de vida que

permite a invocação do Eterno em santidade”.

Era possível que coisas estranhas acontecessem nas câmaras onde o ritual teúrgico

se desenrolava. Manifestações curiosas de atividade aparentemente sobrenatural que

ocorriam na câmara de operação chamavam-se “passes” ou “glifos divinos”. Estes não

deveriam causar distração aos operadores, mas, dizia Pasqually, deveriam ser

considerados sinais de que a “reconciliação” avançava. O “passe”, portanto, era uma

manifestação do que Pasqually estava apto a chamar La Chose [“a Coisa”], que nada

mais era que a Sabedoria personificada – a divina Sofia.

De acordo com o especialista em Martinismo Robert Amadou, “a Coisa não é a

pessoa de Jesus Cristo (...), a Coisa é a presença de Jesus Cristo”, exatamente como o

Shekinah (ou glória) era a presença de Deus no Templo.

Pasqually oferecia um culto de expiação, purificação, reconciliação e santificação.

Como tal, era uma espécie de resposta católica ao Rosacrucianismo protestante, ou até

uma versão deste. De qualquer forma, as correntes agora, graças a Pasqually, estavam

entrelaçadas. Como diz Saint-Martin: “Este homem extraordinário é o único que não

consegui entender”.

O que Andreae teria pensado sobre ele daria um interessante estudo.

Barão Karl Gotthelf von Hund (1722-1776)

O barão Von Hund afirmava ter sido iniciado em uma linhagem única da

Maçonaria, estimulado por Charles Edward, pretendente Stuart ao trono britânico.

Certamente, era de interesse dos jacobitas fazer oposição à Maçonaria anti-Stuart,

dominada pelos liberais hanoverianos da Grande Loja de Londres e imaginar um ramo

superior do ofício.

A mitologia envolvida para estabelecer esse pretexto provinha de duas fontes

principais. A primeira, a crença do maçom jacobita, Andrew Michael “Chevalier”

Ramsay, emitida pela primeira vez em 1736, de que a Maçonaria renascera na Europa

por ordens cavaleirescas durante o período das cruzadas e, depois, o persistente mito das

origens patriarcais antediluvianas da Maçonaria, aliado à dinâmica “rosa-cruz” dos

mistérios sagrados, trazidos do Oriente pelos cavaleiros-peregrinos. Desse modo,

pensava-se que a “Maçonaria” pura desempenhava um papel na restauração da unidade

primitiva da humanidade. Essa ideia elevada tinha ressonância com a noção de

reconciliação e restauração da perfeição adâmica do homem, preconizada por Pasqually.

Em sintonia com a natureza exaltada da missão maçônica “superior”, Von Hund

criou o Rito da “Estrita Observância”. A virtude da Estrita Observância era a de ser a

continuação de uma ordem secreta de cavaleiros templários, que, por alguma razão,

sobrevivera à supressão papal em 13 de abril de 1312.

É provável que a Escócia tenha oferecido abrigo aos cavaleiros sobreviventes, e

seus segredos estavam agora astuciosamente guardados em Lojas maçônicas e

alimentados pelas virtudes cavalheirescas dos aristocratas e monarcas escoceses. Desse

modo, a Grande Loja de Londres – e a Maçonaria exportada dali à Alemanha e à França

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– não tinha os verdadeiros segredos. Havia uma mistura intrigante entre a necessidade

de segredos com as fantasias sobreviventes da fraternidade oculta rosa-cruz, dando à

Estrita Observância e semelhantes ordens posteriores sua peculiar matriz de “Maçonaria

Cavalheiresca” com pitadas de devoção mística cristã “rose-croix” mais profunda e

gnóstica. Era uma bebida rica e inebriante, servida como antídoto aos rigores bastante

tediosos da chamada Era da Razão.

Com sempre se observou, uma falsa ideia é um fato real. Para o crente, acreditar

na mentira pode não torná-la real. A crença em um vínculo com os antigos templários

criou o fato dos novos templários. Suas crenças tornaram-se uma força motivadora de

fato que não pode ser descartada, simplesmente por causa de uma divergência de

perspectiva histórica. Existem muitos que gostam de considerar-se templários

maçônicos no conhecimento de que representam algo como um ressurgimento em vez

de uma continuidade de uma ordem desaparecida. Como observou o historiador

maçônico francês Pierre Mollier, o neotemplarismo atrai os homens que se sentem

como estranhos em um mundo que se tornou profano demais.

Em 1774, a Estrita Observância foi estabelecida na “província” neotemplária da

“Borgonha”, ou seja, em Estrasburgo, depois, em Lyon (“Auvergne”) e em Montpellier

(“Septimania”). Trabalhavam-se dois graus além dos três graus do ofício de Aprendiz

Aceito, Companheiro e Mestre Maçom. O primeiro era de Noviço, o segundo Cavaleiro

Templário, no qual era revelado o segredo de que a Maçonaria era, na realidade, uma

sobrevivência da Ordem do Templo, convocada a uma missão secreta pela qual seus

membros há muito sofreram.

Na Alemanha, a Loja regular de Braunschweig, Zu den drei Weltkugeln [“Aos

Três Globos”], adotou a Estrita Observância e, posteriormente, tornar-se-ia um centro

nervoso dos Gold und Rosenkreuzers. O duque Fernando de Braunschweig tornou-se

“Magnus” da ordem de Von Hund. É interessante ver que os descendentes das antigas

famílias solidárias ao movimento do século XVII tornaram-se patronos dos novos

movimentos templários, rosa-cruzes e maçônicos (o landgrave de Hesse-Kassel também

estava envolvido).

Em 1775, Braunschweig foi o local escolhido pela Ordem da Estrita Observância

para reunir 26 nobres alemães a fim de discutir seus negócios e futuro; de Estrita

Observância tinha bem pouco. Um ano após o congresso, os membros dirigentes da

ordem viajaram até Wiesbaden, a convite do barão Von Gugomos, que se dizia

emissário dos “Verdadeiros Superiores” da ordem. Seu quartel-general era no Oriente,

em Chipre (famosa na história como fortaleza dos Cavaleiros Hospitalários de São

João). Ele esperava tomar o controle da ordem e, depois que as perguntas se

aprofundaram, declarou que retornaria a Chipre para obter valiosos textos secretos para

demonstrar a “genuína” linhagem da ordem e seu propósito elevado. Gugomos foi

exposto; seus títulos e patentes eram falsificados. Não foi a última vez na história que

falsificações levariam a uma quebra de confiança na ordem.

Após os conventos maçônicos de Lyon (1778) e Wilhelmsbad (1782), a Ordem da

Estrita Observância morreu, mas suas ideias seriam substancialmente ressuscitadas

quase de imediato. A Estrita Observância transformou-se no Régime Écossais Rectifié

de Willermoz: o Rito Escocês Retificado, mais conhecido e reverenciado atualmente

nos círculos maçônicos devotos pelo acrônimo de C.B.C.S.: Chevaliers Bienfaisants de

la Cité Sainte, os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.

O que Willermoz fez com a ideia da Ordem do Templo deve-se muito à força

transcendental da mente de Pasqually. O que Willermoz fez mostrou ter um significado

bem mais abrangente com um impacto direto no mundo do Neorrosacrucianismo.

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No Rito Escocês Retificado de Willermoz, o que importa não é o cavaleiro templário

como tal, mas uma ordem trans-histórica, cuja existência remonta, supostamente, ao

início dos tempos. A verdadeira “Ordem do Templo” denotava algo bem maior do que a

ordem particular da cavalaria sagrada dos séculos XII e XIII. A verdadeira ordem

espiritual do Templo do Universo poderia continuar, pois não dependia dos acidentes da

história ou de vastas propriedades pelo continente (ou aprovação do papa ou o que seja).

Desse modo, qualquer coisa de natureza secreta e mística associada com os

templários era simplesmente uma manifestação do contato entre membros dessa ordem

(nem todos precisavam saber isso) e que, depois, seria chamada “a Grande Fraternidade

Branca” (em que “branca” refere-se a “magia branca”, suprarrealidades sagradas,

santas, divinas, perfeitamente espirituais e orientadas pela luz). Portanto, a afirmação

em defesa das realidades da história, de que os templários não tinham vínculos

históricos com a “Grande Obra” da redenção da humanidade, podia ser rebatida com a

acusação de que tal conhecimento não era para todos nem tampouco discernível à

inteligência de todos: apenas aos que receberam o conhecimento revelado pela autêntica

iniciação. Esse discurso manifestamente oculto não se sustentaria no tribunal, mas esses

julgamentos seriam raros. Em certo sentido, estava dizendo, para usar uma expressão

vulgar à Era da Razão, “como ela poderia se safar”.

A concepção de uma ordem trans-histórica pode ser descrita como o conceito

fundamental do Neorrosacrucianismo e sua criação representava um desenvolvimento

simbólico na história dos Invisíveis. Não eram mais os discípulos “rosa-cruzes” que

eram invisíveis, mas seus mestres – o que não quer dizer os próprios adeptos

experientes não poderiam, como a ocasião exigia, vestir o véu secreto da invisibilidade!

De acordo com a teoria superior do Neorrosacrucianismo, toda iniciação

“verdadeira” provém da ordem transcendente. Portanto, qualquer ordem iniciática

aprovada podia ser declarada apenas uma manifestação terrestre da ordem divina acima

do espaço e do tempo. Assim que se admite essa concepção, estabelece-se o fundamento

lógico por meio do qual uma ordem pode afirmar estar em “sucessão espiritual” com a

Ordem Rosa-cruz, a Ordem do Templo, Jesus Cristo, os essênios, João Batista,

Pitágoras, os antigos egípcios, os cátaros, os gnósticos, Apolônio de Tiana, Simão, o

Mago, os maniqueístas – e por aí vai: aí está a boa-fé alojada sobre um nível inacessível

(racionalmente inegável). Contra a corrosão da Era da Razão, uma dupla ou tripla

demão de tinta.

Logicamente, seria apenas uma questão de tempo começar-se acreditar que os

“Superiores Incógnitos” habitassem no espaço exterior. Quanto mais esquisito se fosse,

mais esquisitos seriam seus Chefes Secretos. Contudo, embora algumas ordens se

divertissem com as fantasias de ficção científica, a maioria preferiu a interpretação

estritamente “espiritual”.

Ordens aprovadas podem afirmar terem entrado em contato com habitantes

angélicos da “Casa Invisível”. O fato de a manifestação terrestre do sagrado Santuário

ser imperfeita não é importante ao argumento. Os Mestres conhecem bem as fraquezas

da humanidade, pois vieram para corrigi-las.

A Casa “Invisível” tem, certamente, “Guardiões Invisíveis”, “Superiores

Incógnitos”, “Chefes Secretos”, cujo trabalho é de tamanha abrangência

multidimensional de complexidade extraordinária a ponto de, sinceramente, estar além

do entendimento da pobre humanidade ignorante. Nós, pobres almas não regeneradas

que somos, coitados que mal conseguimos ficar em pé em uma postura que relembre o

homo sapiens, só podemos vislumbrar, ter flashes da Grande Obra em andamento, a

Grande Missão da alquimia cósmica da qual somos – se tivermos sorte – meramente os

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instrumentos temporais, a serem descartados após o uso, em bênção ou esquecimento,

dependendo de nossa conformação, ou não, aos ditames dos mestres.

Desse modo, também é uma certeza lógica o fato de a seguinte passagem do

recém-descoberto Evangelho de Judas ser empregada (se já não é) como exemplo da

“Casa Invisível”, vislumbrada por membros privilegiados do movimento gnóstico dos

séculos II e III, e que os “ortodoxos” não conseguiam, ou conseguem, ver: “Nenhuma

pessoa de nascimento mortal é merecedora de entrar na casa que viste, pois aquele lugar

está reservado para o sagrado. Nem o sol nem a lua lá regerão, nem o dia, mas o sagrado

habitará para sempre lá, no reino eterno com os anjos sagrados.”

A própria concepção apareceria (trans-historicamente?) na obra bastante influente

de Karl von Eckartshausen, Die Wolke über dem Heiligthum,1802 [“A Nuvem sobre o

Santuário”], sobre uma Igreja transcendente de adeptos espirituais que guiam a evolução

espiritual da humanidade. É a esse organismo que Aleister Crowley buscou acesso

definitivo quando se uniu à Ordem Hermética do Amanhecer Dourado, em 1898, e é

desse suposto organismo que muitos hierofantes dos mistérios neo-rosa-cruzes

reivindicam sua autoridade, uma suposta autoridade não de “meras patentes de papel”,

mas do contato direto com os anjos. Desse modo, o Anjo Mágico de John Dee sempre

será de mais interesse a essas pessoas do que os textos devocionais de Johann Valentin

Andreae. Vale notar, a esse respeito, que uma das mais recentes reimpressões da obra de

Eckartshausen foi feita pela Rozenkruis Pers, editora da ordem rosa-cruz holandesa, o

Lectorium Rosicrucianum.

A teoria de Willermoz e Pasqually corrobora a maioria das ordens neo-rosa-cruzes

e suas ramificações e quase sempre o que derruba tais ordens é a descoberta de serem

falsas as supostas ligações com os Superiores Incógnitos. Assim, quando Aleister

Crowley, por exemplo, sugeriu as próprias propostas de fundar uma ordem de magia

branca, depois de 1900 (quando a Ordem do Amanhecer Dourado se fragmentou), ele o

fez não com base no fato de que o líder do Amanhecer não tivesse contato algum com

os “Chefes Secretos” da ordem (isto é, que eles não existiam), mas sim que o então líder

da ordem, Samuel Mathers, “fracassara” nesses contatos e não mais servia a seus

propósitos. Com Mathers fora, Crowley achou que tinha garantido o próprio contato

com um “Chefe Secreto”, conforme o próprio relato, em abril de 1904. Eu

particularmente gosto muito do estudo, rituais e cerimônias da O.T.O. .

Com a chegada da ordem trans-histórica (vinculada a vários outras linhagens

gnósticas, herméticas, bíblicas e cabalísticas), surgiu o Ser Adepto trans-histórico...

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