18ª edição - o espectro

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18ª Edição - 6 Abril 2015 Núcleo de Ciência Política ISCSP - UL A Educação em Portugal © pág6 Condenados a repetir os erros do passado pág11 “Na Grécia, a revolta popular traduziu-se numa mida vitória eleitoral do SYRIZA. Em Espanha, o plano é mais radical: a formação de raiz de um pardo políco que encarne não só os valores, mas o próprio modelo assembleário dos protestos an- austeridade.” “A culpa é dos reguladores?” pág8 “Poncha Laranja” pág4

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Page 1: 18ª Edição - O Espectro

18ª Edição - 6 Abril 2015 Núcleo de Ciência Política ISCSP - UL

A Educação em Portugal © pág6

Condenados a repetir os erros do passado

pág11

“Na Grécia, a revolta popular traduziu-se numa tímida vitória eleitoral do SYRIZA. Em Espanha, o plano

é mais radical: a formação de raiz de um partido político que encarne não só os valores, mas o

próprio modelo assembleário dos protestos anti-austeridade.”

“A culpa é dos reguladores?” pág8

“Poncha Laranja” pág4

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POLÍTICA INTERNA

02 | O ESPECTRO 6 ABRIL 2015 www.facebook.com/OEspectro

Um dos principais de-safios que Portugal enfrenta é a sua ele-vada dependência energética. Esta situa-ção advém sobretudo do facto do país ser escasso em recursos naturais e mais espe-cificamente energéti-cos. Assim Portugal tem sido ao longo do tempo um grande im-portador de matérias primas, na área ener-gética sobretudo car-vão, gás natural e, com maior proemi-nência, o petróleo. Em Portugal esta a taxa de dependência ener-gética era em 2005 de 88,8% representando uma fatia importante das importações por-tuguesas e contribuin-do para que Portugal tivesse uma balança

comercial claramente negativa. Assim tem de ser uma priorida-de para Portugal di-minuir os gastos com a importação de energia e para um país com escassez de recursos energéticos a aposta nas energias renováveis torna-se natural. Essa aposta já começou a ser fei-ta em Portugal tendo tido o seu auge du-rante os governos do Eng. José Sócrates. Tal aposta já come-çou a dar os seus fru-tos com a taxa de de-pendência energética em 2014 a descer pa-ra os 71%. Assim esta aposta nas energias renováveis deve ser continuada e incenti-vada não só porque tem efeitos positivos

para a economia co-mo também tem efeitos positivos para o ambiente já que no geral estamos a falar de formas de energia não poluente. É assim necessário analisar as diferentes formas de energia renovável enumeran-do vantagens e des-vantagens bem co-mo a sua implanta-ção em Portugal. Energia Hídrica: Esta é a forma de energia renovável com maior implantação em Por-tugal também devido ao facto de ter sido a primeira a surgir. Es-te tipo de energia ge-rado pela energia que se encontra nu-ma determinada massa de água como um rio tem a vanta-gem de ser uma das formas mais eficien-tes de produzir ener-gia renovável geran-do uma grande pro-dução, tendo um bai-xo custo de produção e proporcionando um desenvolvimento local. Infelizmente esta tipo de energia tem também algu-

mas desvantagens pa-ra o ambiente, como a erosão dos solos e destruição de ecossis-temas, e para as pes-soas já que pode pro-vocar a transferência de populações ribeiri-nhas como se verifi-cou no Alqueva. Actu-almente já 30% da energia consumida em Portugal tem ori-gem hídrica. Energia Eólica: Esta forma de energia re-novável que aproveita a energia gerada pelo vento através de ven-toinhas gigantes tem tido um crescimento vertiginoso em Portu-gal sobretudo desde 2005. A título ilustrati-vo Portugal está a pro-duzir 23 vezes mais energia eólica do que à 10 anos atrás. As su-as vantagens são o facto de ser inesgotá-vel, ser relativamente barata, não poluente e existir rentabilidade no investimento. Con-tudo apresenta tam-bém algumas desvan-tagens como o facto de ser intermitente e dependente da exis-tência e da velocidade

em parceria com o NAE - ISCTE

Dependência energética e sustentabilidade ambiental

Pedro Diogo

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O ESPECTRO | 03

POLÍTICA INTERNA

do vento, provocar ruído, alterar a paisa-gem e interferir com as rotas de aves. Energia Solar: Esta for-ma de energia apro-veita a luz do sol para a criação de energia. Existem várias técni-cas de produção entre as quais se contam os painéis foto voltaicos e as fábricas heliotér-micas. As principais vantagens são o facto de não ser poluente, necessitar de pouca manutenção, aumen-to da potência ao lon-go do tempo e é apli-cável a habitações. As principias desvanta-gens são a grande quantidade de energia que é necessário no seu fabrico, os preços elevados e a depen-dência das condições atmosféricas. Portugal está na linha da frente neste tipo de energia com a Central Foto-voltaica de Serpa en-quanto uma das maio-res centrais do Mundo. Outros tipos de ener-gia renovável são menos atraentes ou por ainda se

encontrarem numa fase embrionária, energias das ondas e marés, ou por terem efeitos negativos ele-vados, como é o caso da biomassa. Naturalmente a utili-zação destas formas de energia deve ser incentivada e expan-dida sendo que a sua distribuição pelo ter-

ritório deve ser adap-tada às especificida-des climatéricas, oro-gráficas e hidrológi-cas do mesmo para aproveitar ao máximo cada uma

destas formas de energia. Para além disso o país deve ter um forte enfoque na política ambiental com um compromis-so no que respeita a outras vertentes co-mo a defesa dos habitats e da biodiversidade, podendo apostar no turismo da natureza,

na promoção da mo-bilidade sustentável (através de carros eléctricos e híbridos), uma regrada utilização dos recur-sos naturais, sobretu-

do a água potável que é um bem cada vez mais escasso bem co-mo a terra arável e um compromisso de fazer o possível para reverter o actual padrão de aquecimento global e subida do nível global dos oceanos, através da redução da emissão dos gases de

efeitos de estufa, algo que está intimamente relacionado com as energias renováveis e com a mobilidade sus-tentável.

Energia Eólica em Portugal © ENERGIASRENOVAVEIS12.BLOGS.SAPO.PT

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POLÍTICA INTERNA

Poncha de Laranja

Tiago Santos

Poderia começar este texto recorrendo à costumeira alegoria do Bailinho da Madei-ra que marca grande parte dos comentários

políticos sempre que a população insular se desloca às urnas. Po-deria mesmo ter en-titulado esta opinião tomando de assalto a característica dança da Região Autónoma. No entanto para além de cair na repetição

cairia no erro de não adequar as palavras à realidade, visto que as últimas eleições não assistimos a uma superioridade abis-

mal como tem sido hábito. Miguel Albu-querque e toda a sua equipa partiram para estas eleições na pe-numbra do passado recente do PSD Ma-deira e com isso tam-bém na penumbra do passado da própria

ilha sendo estes in-dissociáveis. É verda-de que o agora Presi-dente Regional havia há pouco tempo con-quistado a liderança do partido, conquis-tando desde logo um lugar na história, mas essa vitória não po-deria nunca servir de afirmação política e

muito menos signifi-caria que a vitória nas eleições regio-nais estava assegura-da. O acto eleitoral interno surge num plano diferente da-quele que se realizou no passado dia 29 de Março pois a ausên-

cia de uma candidatu-ra jardinista deixava o campo aberto para a vitória de Albuquer-que, que havia já con-quistado um impor-tante resultado contra Alberto João Jardim em 2012. O acto elei-toral foi o teste ao fu-turo do agora Presi-dente Regional e do PSD na Madeira na era pós-Jardim. Foi a balança que permitiu escrutinar se o reina-do do ex-Presidente foi fruto solitário da sua pessoa, ou se exis-te verdadeiramente uma ligação entre a população madeiren-se e o Partido Social Democrata. Hoje, co-nhecidos os resulta-dos, a resposta parece óbvia. Para além da confirmação da força da onda laranja na ilha estas eleições trouxe-ram a público as fragi-lidades do Partido So-cialista na região. Em coligação com o PTP e com o PAN não conse-guiu concretizar a Mu-dança que deu nome à candidatura, tendo sido relegado à condi-ção de terceira força

Miguel Albuquerque © TVI24.IOL.PT

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POLÍTICA INTERNA

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O ESPECTRO | 05

política local. Este re-sultado deve ser pon-derado pelos dirigen-tes socialistas a nível nacional, porque a derrota, essa, foi pe-sada. Ainda sobre o Partido Socialista pa-rece-me evidente que o afastamento da po-pulação madeirense ao partido da rosa não se esgota nos candida-tos regionais. António Costa fez questão de marcar presença du-rante a campanha e nem isso parece ter contribuído para um resultado positivo, motivo que levou o Secretário-Geral do PS a não se pronunciar sobre os resultados. Não deixa de ser iróni-co que foi no segui-mento de um acto eleitoral, ganho pelo Partido Socialista, que António Costa se lan-çou no seu Golpe de Estado e que agora, com uma derrota ca-tegórica, não exista sequer uma declara-ção pública proferida pelo líder. Esta conju-gação de factos pare-ce confirmar que ape-sar das diferenças en-

tre o PSD Madeira e o PSD de Pedro Pas-sos Coelho os madei-renses colocam-no no topo das suas pre-ferências. Pode ser dito, talvez com ra-zão, que o resultado regional ditou uma nova maioria absolu-ta a favor do maior partido do Governo pelo facto de o Pri-meiro-Ministro não se ter imiscuído na campanha de Albu-querque, mas ainda assim desde as elei-ções internas que a Comunicação Social faz questão de colar os dois políticos quer pela sua conhecida amizade, quer pela proximidade que es-tes tiveram nos tem-pos de Juventude So-cial Democrata, quando Passos lide-rava a estrutura a nível nacional e Albu-querque era líder na Madeira. Albuquer-que conquistou para si e para o seu parti-do nova maioria ab-soluta contrariando os que acusavam o Poder Regional da Madeira de funcionar

numa lógica de Mo-narquia e que apon-tavam à figura de Al-berto João Jardim a total responsabilida-de pelas sucessivas vitórias social-democratas. O popu-lismo e mesmo a co-acção, argumentos arremessados a Jar-dim, parecem dar agora lugar a um si-lêncio face ao surgi-mento de uma nova figura com resultados semelhantes. Por fim, mais uma vez se comprova que a Ma-deira é um activo de peso para as aspira-ções do PSD, que não deve ser esquecido pela direcção parti-dária. Parece-me que Passos deveria agora aproveitar politica-mente o inebriamen-to provocado pela Poncha de Laranja que Albuquerque serviu e assim con-quistar de modo defi-nitivo o apoio da po-pulação insular para as Eleições Legislati-vas que se aproxi-mam. Torna-se claro que a Madeira é mui-to mais que Costa!

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POLÍTICA INTERNA

em parceria com o NAE - ISCTE

Qual o interesse da Educação? (I)

Gonçalo Lima

Desde há alguns sécu-los a esta parte (pelo menos desde Adam Smith e a sua Riqueza das Nações, de 1776) se tenta perceber quais os factores cha-ve que determinam o aumento da riqueza de um país, ou seja, o seu crescimento eco-nómico. Num âmbito mais abrangente, e na verdade mais funda-mental, fala-se em de-senvolvimento. De qualquer das formas, para que haja uma es-tratégia de políticas públicas no sentido de garantir o bem-estar colectivo da popula-ção do país é necessá-rio, em primeiro lugar, fazer o diagnóstico certo dos principais problemas e, em se-gundo lugar, aplicar o tratamento adequa-do. Um dos problemas que mais constrangi-mentos cria ao cresci-

mento económico em Portugal é, inega-velmente, a forma-ção e qualificação profissional dos seus cidadãos. Devido ao atraso significativo provocado pelo tor-por do Estado Novo, e apesar das melhori-as significativas da última década, Portu-gal continua a ser um dos países com pio-res resultados neste tipo de indicadores, ao nível da União Eu-ropeia (UE). Desta-cam-se sobretudo, a elevada taxa de abandono escolar precoce (18,9% em 2013) e a baixa per-centagem de popula-ção com Ensino Su-perior (17,6%, em 2013; 7,4 pontos per-centuais abaixo da média da UE). A aprendizagem, seja ela formal ou infor-mal, é o processo pri-

mordial de acesso ao Conhecimento. O mesmo tem um valor intrínseco: todo o processo de evolução humana é processo de conhecimento das suas próprias possibi-lidades. Mas tem também um valor “mais prosaico” asso-ciado ao crescimento económico, que na gíria económica se dá o nome de capital humano, factor fun-damental na criação de riqueza. Quanto a isto, segundo a OCDE (2003), um aumento de um ano no nível médio de escolarida-de traduz-se num au-mento da taxa de crescimento anual entre 0,3 e 0,5 pon-tos percentuais. Além disto, é sabido que as economias modernas caracteri-zam-se cada vez mais pela sua capacidade de diferenciação pro-dutiva, ou seja, pela sua capacidade de inovação, algo para o qual é fundamental uma população cada vez mais instruída e com capacidades de

aprendizagem contí-nua. As generalizadas baixas qualificações e a elevada taxa de abandono escolar continuam a tornar o nosso sistema de ensi-no um mecanismo re-produtor de desigual-dades: alarga o fosso de rendimento entre aqueles que concluem o Ensino Superior e os que se ficam por ní-veis mais baixos de qualificação. A desa-celeração do investi-mento dos últimos anos em programas de formação ao longo da vida (e o fim de ou-tros) também em na-da contribui para a convergência dos pa-drões de qualificações com os da UE. Para que Portugal não fi-que para trás no pro-cesso de desenvolvi-mento necessita de uma escola pública forte e de excelência, capaz de formar do melhor modo os alu-nos a pensarem por si mesmos e a desenvol-verem trabalho de al-to valor acrescentado, seja em contexto uni-versitário, seja em

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POLÍTICA INTERNA

contexto profissional. No processo de me-lhoria constante da escola pública é, con-tudo, importante refe-rir o equilíbrio delica-do entre a necessida-de de aumento da exi-gência de aprendiza-gem e a capacidade de inclusão, bem co-mo a criação de moti-

vação para o pensa-mento autónomo. Va-le, pois, a pena adian-tar algumas propostas de melhoria do siste-ma de ensino, a de-senvolver a longo-

prazo. Divido-as em dois tipos de propos-tas, umas de altera-ção estrutural (da organização e funcio-namento das escolas) e outras de alteração programática (dos programas propria-mente ditos). Em ter-mos de propostas de alteração estrutural,

considero fundamen-tal (1) a criação de um sistema de avali-ação de professores, com funcionamento efectivo e revisões regulares do modelo

de avaliação aplica-do; (2) reformulação da carreira docente, cuja progressão pro-fissional seria cada vez mais baseada na qualidade do traba-lho prestado e não só na antiguidade; (3) maior autonomia e liberdade de contra-tualização com pro-

fessores, por parte dos agrupamentos escolares; (4) reforço do investimento em actividades extra-curriculares e de apoio aos alunos nas

escolas, transversal a todas as escolas, com o intuito de integra-ção social e reforço de aprendizagem. Em termos de propostas de alteração progra-mática, considero fun-damental (1) a inclu-são da disciplina de Filosofia logo a partir do 7º ano de escolari-dade, enquanto intro-dução à história das ideias e rudimentos de Lógica; (2) a obri-gatoriedade da disci-plina de Matemática A para todos os cursos científico-humanísticos; (3) re-forço do ensino de obras de literatura universais, que não se esgotem numa versão em prosa da Odisseia, nem em apenas obras portuguesas; (4) in-centivo à criação de aulas mais participa-das com reforço da capacidade de auto-nomia de aprendiza-gem dos alunos. Em próximos textos justi-ficarei, conveniente-mente, cada uma des-tas propostas.

© FRANCHISEBRASIL.COM

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em parceria com o NAE - ISCTE

A culpa é dos reguladores?

João Rodrigues

A entrada na era da tecnologia, da informatização e das comunicações in-stantâneas, revolucio-nou múltiplas indústrias e mudou-as estruturalmente, tor-nou as economias e as sociedades mais inter-dependentes e acelerou significa-tivamente a propagação de contá-gios económicos e financeiros. As últimas crises económicas foram fortemente po-tenciadas e desen-cadeadas pelo setor financeiro, ainda que a relação de causalidade esteja longe de ser total. Quando os efeitos de-pressivos originários nas salas de mercados transvasam para a economia real, com efeitos destrutivos para o rendimento disponível das famílias

e as recessões começam a engordar, alimentan-do-se vorazmente da espiral de pessimismo dos agentes económicos, surgem habitualmen-te vozes que denunciam a corrup-ção do sistema financeiro capitalista e a sua promis-cuidade com as mari-onetes do mundo político. Critica-se a ganância, reivindica-se mais e melhor regulação, mas raramente se levantam questões como: que culpa tenho eu? Ou será que o problema não é a falta de regu-lação, mas a própria regulação? Fazendo uma analogia certamente demasiado simplista, mas com um propósito explicativo

importante, cer-tamente todos en-tendemos o para-doxo americano em que a generalização do direito à posse de arma se traduziu num aumento da insegurança para todos. Acontecerá o mesmo com a regulação dos mercados finan-ceiros, principalmen-te dos investidores institucionais ou profissionais? Ao que tudo indica parece que sim. Um estudo de Malcolm Baker, Brendan Brad-ley e Jeffrey Wurgler, conduzido com da-dos recolhidos sobre o comportamento bolsista das acções americanas entre 1968 e 2008 indica que o aumento do peso dos investidores institucionais nos mercados contribuiu para o aumento de anomalias nas co-tações e para a for-mulação de bolhas especulativas, muito por culpa do sistema de regulação. Uma das principais

preocupações dos reg-uladores é propiciar informação clara e percetível aos poten-ciais detentores de unidades de partici-pação nestes fundos: sejam eles fundos de investimento ou de pensões. A questão que se colo-ca é: como é que o Sr. Silva pode saber se está a colocar o seu dinheiro nas mãos de bons profissionais? Como é que pode dis-tinguir facilmente se uma rentabilidade de 3% é boa ou má? A análise comparativa torna-se desta forma um requisito man-datório. Para examinar a performance de de-terminado fundo, é estabelecido um ponto de referência, como um índice bolsista representa-tivo do comportamen-to do mercado, como o PSI20 ou S&P500. Depois, analisa-se se o referido fundo conse-gue oferecer uma rentabilidade superior à do índice. Porém, há uma outra dinâmica

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POLÍTICA INTERNA

que importa para o Sr. Silva, da qual os regu-ladores o tentam proteger fazendo com que a performance neste ranking de rent-abilidades dependa de outro fator: o risco! Como o Sr. Silva ambi-ciona um bom retor-no, mas provavelmen-te importa-se bastante mais com a segurança do capital investido, não vai querer que um doidivanas encartado arrisque muito para lhe oferecer uma grande rentabilidade, caso tudo corra bem. Ora, é aqui que reside o cerne da questão. Como a medida de risco é a variação face à performance do índice escolhido, nenhum investidor, por razões meramen-te algébricas, se vai interessar por ter um grande retorno se isso implicar “desviar-se” significativamente do comportamento do próprio índice, na me-dida em que esse risco adicional canibaliza em termos de avaliação o impacto

positivo do retorno. Logo, a maximização do Índice de In-formação (a medida de avaliação que ex-plicita a performance de um fundo com base na ponderação simultânea de retor-no e risco), orienta artificialmente os in-vestidores a es-colherem os títulos que compõem o pró-prio índice. Como o volume de capitais mobilizado pelos fun-dos de investimento é enorme, os índices escolhidos são os mesmos e como são todos obrigados a aplicar a mesma razão, a procura avassaladora e artifi-cial pelos referidos títulos, leva a que se sobrevalorizem numa dinâmica que se auto alimenta de forma preocupante. Como a procura por si só causa a valor-ização, mais investi-dores, na ânsia de também obterem resultados positivos, vão procurar esses mesmos títulos, reforçando ainda

mais estre processo vicioso. O pior disto tudo, é que este comportamento es-capa ao Índice de In-formação: como a medida de risco é a variação face ao índice, se o próprio índice variar, ainda que por valorizações artificiais dos títulos que o compõem, já não existe qualquer “canibalização”. Ou seja, o Índice de Informação provoca e não deteta o risco especulativo. Um dia, quando por qualquer motivo a gota de água nesta irracionalidade che-gar e os títulos re-verterem para o seu valor fundamental, o Sr. Silva vai-se sentir expropriado e com dificuldades em ex-plicar à família como é que depois de uma decisão fundamen-tada perdeu o dinheiro resultante de anos de privações materiais. Não obstante da ilusão por falta de literacia financeira, as consequências re-

sultam do comporta-mento dos Srs. Silva desta vida. A verdade, é que falta ainda con-tar a história do inves-tidor que consciente-mente se recusou a entrar na bolha espec-ulativa e se arriscou a apresentar resultados mais baixos que os seus pares para sal-vaguardar o interesse dos clientes. Esse não atraiu o interesse de nenhum Sr. Silva e a integridade moral levou-o ao desem-prego por falta de clientela. Pelo perigoso fenómeno aqui retratado sucintamen-te, importa abandonar urgentemente os clássicos postulados normativos acerca da eficiência e racionali-dade dos mercados e rever urgentemente a forma de regular e avaliar os investidores institucionais.

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O ESPECTRO | 09

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Líder jihadista exige destruição das pirâmides de Gizé

João Ferreira

O líder muçulmano Murgan Salem al-Gohary declarou que “é da responsabilida-de de todos os muçul-manos aplicar os pre-ceitos do Islamismo, ordenando a destrui-ção dos ídolos, à se-melhança do que se fez no Afeganistão”, referindo-se às Pirâ-mides de Quéops. No entanto, segundo o site “Egypt Indepen-dent”, o jihdista, que alega ter ligações aos Talibãs, alem de que-rer destruir a Grande Pirâmide de Gizé tam-bém quer destruir a estátua da Esfinge. As afirmações acontece-ram durante uma en-trevista à Egypt’s Dre-am TV, um dia depois de o partido ultracon-servador Salafist ter invocado a Lei de Sha-ria numa manifesta-

ção na Praça de Tahir. Segundo a Sha-ria não existe separa-ção entre a religião e o Direito. Estas exi-gências feitas por parte do líder muçul-mano são o resultado de pura Ignorância face à História como aos mistérios da mes-ma, dando especial atenção às Pirâmides e à Esfinge que per-manecem ainda um grande mistério para a Humanidade. Mas não é a primeira vez que isto acontece, pois, já houve um lí-der muçulmano na Idade Média que ten-tou destruir a Grande Pirâmide, mas a sua dimensão é tal que desistiu. Os muçul-manos radicais conti-nuam sistematica-mente a destruir o património da Huma-

nidade alegando que “se vai contra Mao-mé, é para ser des-truído”. O que sabe-mos sobre o Passado é pouco e com estes sucessivos atentados à História as próxi-mas gerações nunca saberão o que existiu antes delas, e a nossa geração, que ainda tem muito que estu-dar e compreender sobre o Passado, se permitirmos tais ac-tos de barbárie, per-manecerá na igno-rância e incompreen-são. Acerca dos mis-térios das pirâmides de Gizé e da Esfinge, as três pirâmides es-tão alinhadas com exacta precisão com o cinturão de Orion bem como se notou o recente alinhamen-to em 2012 de Satur-no, Vénus e Mercúrio com as três pirâmi-des. Além disso, fo-ram descobertos ves-tígios de dobradiças de bronze dentro da maior pirâmide (das três) datadas a mais de mil anos antes da descoberta do bron-ze (Será que os anti-

gos egípcios conheci-am a fusão da prata com o ouro?). Estes são uns do mistérios, de muitos, por resol-ver (há quem diga que não foram construídas pelos egípcios). Há quem diga que a Es-finge tenha sido cons-truída no ano 10.500 a.c com ligações à mí-tica Atlântida….mas isto é apenas o come-ço do “scratching de surface” de algo muito maior. O importante é reconhecer que tanto a Esfinge e as Pirâmi-des têm uma mensa-gem para a Humani-dade, cabe-nos a nós descobrir, aprender e compreender o seu conteúdo. Concluo que, não será fácil destruir as pirâmides e a Esfinge e por isso, devemos estar aten-tos as estes atentados contra o património da Humanidade, espe-cialmente em Kem, a Terra Queimada (Egipto). Deixo o leitor com uma frase : “Bem-aventurado aquele que vive, bem aventu-rado aquele que mor-re em Tebas”.

POLÍTICA EXTERNA

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POLÍTICA EXTERNA

Condenados a repetir os erros do passado

Rui Coelho

Desde o activismo di-gital de Anonymous e Wikileaks até aos mo-vimentos assembleá-rios dos Indignados e Occupy, contagiados pelas revoltas popula-res no Magreb, entre 2010 e 2012, assisti-mos a uma explosão de envolvimento cívi-co de base como o mundo não via desde o final da década de 60. Por todo o lado cidadãos comuns deci-diram tomar nas pró-prias mãos as rédeas das suas comunidades políticas, há muito capturadas numa teia de autoritarismo, cor-rupção e falsa repre-sentação. No entanto, tal como sucedeu há 50 anos, essa energia transformadora pare-ce estar a ser canaliza-da para um beco sem saída.

Na Grécia, a revolta popular traduziu-se numa tímida vitória eleitoral do SYRIZA. Em Espanha, o plano é mais radical: a for-mação de raiz de um partido político que encarne não só os valores, mas o pró-prio modelo assem-bleário dos protestos anti-austeridade. Por cá, aplaude-se e ten-ta-se imitar tais audá-cias. Também no sé-culo passado, o ímpe-to dos novos movi-mentos sociais que agitaram o mundo ao longo da década de 60 acabaram por ser canalizados para a formação de “partidos verdes”. Inicialmente marca-dos por um forte ethos horizontal e participativo, as no-vas forças partidárias

foram rápidas a tro-car crescentes con-cessões por um pou-co mais de poder. Em poucos anos essas experiências institu-cionarizaram-se ao ponto de serem in-distinguíveis de qual-quer outro partido dos sistemas políti-cos que integram. Também a América do Sul percorreu o mesmo caminho. Paí-ses como a Bolívia, Equador e Argentina viram o nacimento de movimentos radi-cais contra as políti-cas económicas capi-talistas traduzidos em vitórias eleitorais para os partidos que melhor souberam capitalizar essas for-mas de participação extra-institucional. Também aí a retórica revolucionária foi acompanhada por uma governação que apenas pode ser ca-tegorizada como so-cial-democrata. Tanto na Europa da década de 70, como na Bolívia e Argenti-na, não só o processo transferência do em-

penho revolucionário para estratégias elei-torais e governativas não trouxe as prome-tidas transformações sociais, como acabou por resultar na asfixia das lutas e movimen-tos que o possibilita-ram. O mesmo pode

ser esperado tanto para um eventual go-verno PODEMOS co-mo para a Grécia, on-de o reformismo do SYRIZA é cada vez mais contestado. Pe-rante a cega repetição dos erros do passado, resta-nos apenas re-zar para que a traição da esquerda não ali-mente o crescimento dos novos fascismos.

Pablo Iglesias ©

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O ESPECTRO | 11

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Propriedade do Núcleo de Ciência Política ISCSP - UL Coordenador: Isa Rafael | Co-coordenador: André Cabral | Revisores: André Cabral e Beatriz Bagarrão | Design: Isa Rafael | Plataformas de Comunicação: Daniela Nascimento, João Cunha

e João Silva | Cartaz Cultural: Isa Rafael

www.facebook.com/OEspectro [email protected]

CARTAZ CULTURAL

23h

Inst. S. Ciências Sociais e Políticas

Rua Almerindo Lessa

1300-663 Ajuda, Lisboa

Preço sob consulta

FESTA DA PRIMAVERA

AEISCSP

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HOMENAGEM

A MANOEL

DE OLIVEIRA

Sem horário definido

Cinema Ideal

Rua do Loreto 15/17

1200-010 Lisboa

Preço sob consulta

25 ABRIL

38ª CORRIDA

DA

LIBERDADE

10h30

Praça dos Restauradores (Início)

Praça dos Restauradores

1250-001 Lisboa

Inscrições Grátis até 18 de Abril

parceria com

09 a 22 ABRIL

17 ABRIL