18/11/2009 subsolo art

4
1/9/2014 Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona « SubsoloArt! - Graffiti e Arte Urbana Brasileira! http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/ 1/8 « Evento – Graffiti no Escadão – Ponta Grossa, PR Boleta Vicio Pichando na rua » Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona Publicado em quarta-feira, 18 de novembro de 2009, 19:11. Categorias: Entrevistas , Graffiti Nome, idade, classe, raça, genero, religião. Anarkia, 26 anos. Moradora de classe baixa do subúrbio carioca. Sou uma grande mistura de raças como todos do meu país. Mulher. Ateu. Por que você resolveu colocar esse nome? Eu comecei a escrever anarquia na adolescência no movimento de pichação pois para mim nesta época essa palavra soava como símbolo de liberdade e rebeldia, pois como uma mulher eu tive uma criação limitada ao espaço privado e o poder e desejo de estar na rua era o que me seduzia a pichar. Assina em crew? Qual e o que significa? Não tenho uma crew, mas sim uma “sigla” que é um tipo de gangue de pichação que é a AR – Amantes do Rabisco – uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro com 20 anos de existência. Assino esta “sigla” a 8 anos. Desde que ano você assina na rua? Eu fiz minha primeira pichação em 2000, tendo o meu auge nesta cultura em 2002. Em 2001 fiz meu primeiro graffiti. No Rio de Janeiro pichação não é graffiti, são duas culturas completamente diferentes que dificilmente se misturam. Enquanto pichadora eu fazia parte da terceira geração, pois esta surgiu no final da década de 70. Mais tradicional e essencialmente vandal, acabei optando por me envolver e freqüentar o universo da pichação o que me fez acompanhar de longe a evolução da primeira geração de grafiteiros cariocas. E apenas no final de 2005 comecei a fazer graffitis com real freqüência, conhecendo e freqüentando o meio e me nominado grafiteira. Por isso considero que grafito a apenas 4 anos. Que motivo o fez buscar o graffiti? Desde criança sinto como se não me contentasse com a maneira com que as coisas do mundo estão organizadas o que me tornou uma pessoa sentimentalmente excluída exceto pelo fato do meu círculo de ligações enquanto praticante de intervenção urbana. Não a forma visual final, mas sim os meus atos e convivência com rua são um reflexo deste meu questionamento interno sobre a forma que construímos culturalmente nosso mundo. Acredito que a pichação seja uma forma inconsciente de mostrar que algo não vai bem na estrutura da organização da cidade, uma vez que a considero como fala dos inadaptados que sentem necessidade de algo mais que não seja apenas viver sobre os padrões impostos. Esta é a conclusão que cheguei hoje, mas é claro que quando agente começa a pichar agente nunca entende porque está fazendo isso. É instinto. Que picos você mais gosta de pegar e, o que mais gosta de fazer na rua? Qualquer coisa que faço na rua me deixa exitada, desde uma pichação a um painel, porém são dois tipos de sensações diferentes. É explicito minha empolgação com atitudes q necessitam de mais adrenalina, mas ao mesmo tempo só o fato de estar mexendo com a tinta já me seduz e eu me entrego muito mesmo a pinturas mais tradicionais. Como você está vê a cena do Rio de Janeiro e do Brasil? Quando falamos de graffiti, percebemos que este já foi muito absorvido pela mídia e se tornou algo vendável o que descaracteriza suas ações de inconformismo e se adapta aos critérios aceitáveis de comportamento para convívio social. Graffiti no Rio de Janeiro praticamente não possui ilegalidade, uma vez que não possui uma cena de vandalismo forte e a população e o governo apóia sua aplicação pelos muros da cidade como forma de arte e revitalização dos espaços degradados. Uma prova do que falo são as curiosas pinturas nos trens da companhia carioca que prefere aplicar esta forma de arte que é barata, bonita e agrada a todos revitalizando visualmente os vagões antigos, quando na maioria dos países do mundo existe uma casa aos pintores de trens e esse tipo de atitude seria impensável uma vez q estimularia as ações de vandalismo. Outro exemplo é o uso do graffiti como oficina em presídios para menores infratores enquanto arte educação. Como poderíamos imaginar algo que é punido pela lei sendo lecionado para infratores em presídios? No Brasil fomos privilegiados pela questão do atraso tecnológico e em relação a globalização pois por ser um país subdesenvolvido a população não tinha acesso ao mesmo tipo de informação como a parte norte do Hemisfério e toda a tecnologia desde internet a latas de spray sofisticadas que demoravam anos até chegar no país. Ao contrário do que se possa imaginar, isso não foi prejudicial para o graffiti brasileiro, muito pelo contrário foi um privilégio manter-nos afastado de toda a cultura mãe de Nova Yoque uma vez que deixou nosso poder criativo livre de influencias criando culturas diferentes de todo o mundo como o tag reto de São Paulo e o uso do látex como solução para o alto valor da lata de spray. E não só apenas por isso, mas o respeito pela adversidade, como acontece na questão da religião e no convívio de raças e misturas diversas. Esse respeito criado no país deixou muito livre as pessoas em desenvolverem o graffiti de diversas formas que muitas vezes poderiam ser olhadas de forma crítica em ambientes em que a Letras e a cultura novaiorquina fossem dominantes.

Upload: clipping-de-panmela-castro

Post on 06-Apr-2016

228 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/

TRANSCRIPT

Page 1: 18/11/2009 Subsolo Art

1/9/2014 Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona « SubsoloArt! - Graffiti e Arte Urbana Brasileira!

http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/ 1/8

« Evento – Graffiti no Escadão – Ponta Grossa, PR

Boleta Vicio Pichando na rua »

Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona

Publicado em quarta-feira, 18 de novembro de 2009, 19:11. Categorias: Entrevistas, Graffiti

Nome, idade, classe, raça, genero, religião.

Anarkia, 26 anos. Moradora de classe baixa do subúrbio carioca. Sou uma grande mistura de raças como todos do meu país. Mulher. Ateu.

Por que você resolveu colocar esse nome?

Eu comecei a escrever anarquia na adolescência no movimento de pichação pois para mim nesta época essa palavra soava como símbolo de liberdade e rebeldia,pois como uma mulher eu tive uma criação limitada ao espaço privado e o poder e desejo de estar na rua era o que me seduzia a pichar.

Assina em crew? Qual e o que significa?

Não tenho uma crew, mas sim uma “sigla” que é um tipo de gangue de pichação que é a AR – Amantes do Rabisco – uma das mais tradicionais do Rio de Janeiro

com 20 anos de existência. Assino esta “sigla” a 8 anos.

Desde que ano você assina na rua?

Eu fiz minha primeira pichação em 2000, tendo o meu auge nesta cultura em 2002. Em 2001 fiz meu primeiro graffiti. No Rio de Janeiro pichação não é graffiti, são

duas culturas completamente diferentes que dificilmente se misturam. Enquanto pichadora eu fazia parte da terceira geração, pois esta surgiu no final da década de

70. Mais tradicional e essencialmente vandal, acabei optando por me envolver e freqüentar o universo da pichação o que me fez acompanhar de longe a evolução

da primeira geração de grafiteiros cariocas. E apenas no final de 2005 comecei a fazer graffitis com real freqüência, conhecendo e freqüentando o meio e me

nominado grafiteira. Por isso considero que grafito a apenas 4 anos.

Que motivo o fez buscar o graffiti?

Desde criança sinto como se não me contentasse com a maneira com que as coisas do mundo estão organizadas o que me tornou uma pessoa sentimentalmente

excluída exceto pelo fato do meu círculo de ligações enquanto praticante de intervenção urbana. Não a forma visual final, mas sim os meus atos e convivência com

rua são um reflexo deste meu questionamento interno sobre a forma que construímos culturalmente nosso mundo.

Acredito que a pichação seja uma forma inconsciente de mostrar que algo não vai bem na estrutura da organização da cidade, uma vez que a considero como fala

dos inadaptados que sentem necessidade de algo mais que não seja apenas viver sobre os padrões impostos.

Esta é a conclusão que cheguei hoje, mas é claro que quando agente começa a pichar agente nunca entende porque está fazendo isso. É instinto.

Que picos você mais gosta de pegar e, o que mais gosta de fazer na rua?

Qualquer coisa que faço na rua me deixa exitada, desde uma pichação a um painel, porém são dois tipos de sensações diferentes. É explicito minha empolgação

com atitudes q necessitam de mais adrenalina, mas ao mesmo tempo só o fato de estar mexendo com a tinta já me seduz e eu me entrego muito mesmo a pinturas

mais tradicionais.

Como você está vê a cena do Rio de Janeiro e do Brasil?

Quando falamos de graffiti, percebemos que este já foi muito absorvido pela mídia e se tornou algo vendável o que descaracteriza suas ações de inconformismo e

se adapta aos critérios aceitáveis de comportamento para convívio social. Graffiti no Rio de Janeiro praticamente não possui ilegalidade, uma vez que não possui

uma cena de vandalismo forte e a população e o governo apóia sua aplicação pelos muros da cidade como forma de arte e revitalização dos espaços degradados.

Uma prova do que falo são as curiosas pinturas nos trens da companhia carioca que prefere aplicar esta forma de arte que é barata, bonita e agrada a todos

revitalizando visualmente os vagões antigos, quando na maioria dos países do mundo existe uma casa aos pintores de trens e esse tipo de atitude seria impensável

uma vez q estimularia as ações de vandalismo. Outro exemplo é o uso do graffiti como oficina em presídios para menores infratores enquanto arte educação.Como poderíamos imaginar algo que é punido pela lei sendo lecionado para infratores em presídios?

No Brasil fomos privilegiados pela questão do atraso tecnológico e em relação a globalização pois por ser um país subdesenvolvido a população não tinha acesso

ao mesmo tipo de informação como a parte norte do Hemisfério e toda a tecnologia desde internet a latas de spray sofisticadas que demoravam anos até chegar no

país. Ao contrário do que se possa imaginar, isso não foi prejudicial para o graffiti brasileiro, muito pelo contrário foi um privilégio manter-nos afastado de toda a

cultura mãe de Nova Yoque uma vez que deixou nosso poder criativo livre de influencias criando culturas diferentes de todo o mundo como o tag reto de São

Paulo e o uso do látex como solução para o alto valor da lata de spray. E não só apenas por isso, mas o respeito pela adversidade, como acontece na questão da

religião e no convívio de raças e misturas diversas. Esse respeito criado no país deixou muito livre as pessoas em desenvolverem o graffiti de diversas formas que

muitas vezes poderiam ser olhadas de forma crítica em ambientes em que a Letras e a cultura novaiorquina fossem dominantes.

HOM E GR A FF IT I SHOP B L OG GA L ER IA SER V IÇOS A SUB SOL OA R T

Page 2: 18/11/2009 Subsolo Art

1/9/2014 Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona « SubsoloArt! - Graffiti e Arte Urbana Brasileira!

http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/ 2/8

Isso é um dos motivos que torna hoje o Brasil um dos exponentes do graffiti mundial gerando talentos e novidades sem fim.Hoje, enquanto país em desenvolvimento e globalizado, a maioria dos recursos chegam ao nosso territórios em um período muito curto de tempo e além de hoje

contarmos com políticas governamentais como a de inclusão digital e outras que vêem sendo aplicadas desde o antigo presidente até os oito anos de mandato do

atual.No meu trabalho isso influenciou na forma de pensar o mundo. Pois, ao mesmo tempo que tive influencia dessa liberdade artística, herança das antigas gerações,

tive acesso ao mundo através da internet o que evoluiu minha consciência da posição que ocupo em minha sociedade e comparações na maneira de ser dos

ambientes como exemplo o próprio exemplo do feminismo que é acentuado na América latina como reflexo desse atraso tecnológico e cultural e que muitas vezes

não é compreendido pelas mulheres do norte já que já alcançaram sua emancipação a muito mais tempo que nós.

Como você descreve seu estilo, e a evolução de seu trabalho, ao longo dos anos?

Não confiro a parte visual a maior importância para as minhas pinturas, mas sim ao contexto e conceito das criações e ações. Considero meu trabalho é efêmero e

diversificado passando desde letras simples a personagens realistas em graffiti em muros legais e veículos ilegais.

Na sua opinião, o que lhe representa o graffiti?

Graffiti pra mim é um estilo de vida. Ele está presente me tudo o que faço.

O que lhe é mais satisfatório em todo o processo de desenvolvimento de seus trabalhos?

Eu ter certeza que posso quebrar os padrões e ir o mais longe que desejar sempre que quiser.

Trilha sonora inspiradora?

O tec tec da latinha balançando na madruga e depois o Tsssssss…….

Filme inspirador?

Admirável Mundo novo. É um filme que aborda o tema do controle. Não só ficção é pura filosofia. Realidade possível.

Diga os nomes de quem mais você admira e se identifica nos roles.

É claro q o Vinga foi o precursor da geração de pichadores inimagináveis do Rio como Kadu, Bobe, Fyt, Ellus, Maneco, Kik e outros. Esses são os q eu admiro.

Em S~ao Paulo admiro Pixobomb pela cara de fazer o q fez em ações como a da Bienal e da choque cultural.

No graffiti é claro, quem não é fã dos gêmeos? Tenho uma admiração grande também pelo Finok, Zefix e os outros meninos da ANX q mesmo em época de cinza

em São Paulo destruíram tudo. Poucos tem disposição como eles.

Influencia é outra coisa. Acho que minha formação principal na rua veio da convivência com a OD2, uma das siglas de pichação mais fodas desta década aqui do

Rio. Os caras não só pichavam, mas vaziam todo tipo de coisa q se possa imaginar que venha da rataria da rua, e minha casa era o quartel central da rapaziada. E

nisso se formou n~ao meu estilo nas paredes mas a minha maneira de pensar e agir, saber lidar com a rua, saber ser sagaz como dizemos aqui.

No graffiti minha maior influencia ‘e a Lady Pink que em um momento aonde menos se esperava o destaque de uma mulher, ela conquistou o respeito dos

grafiteiros por todo mundo!

Você acredita que existem barreiras atualmente entre as “modalidades” de arte de rua, de artista para artista? o que na sua opinião impõe essas

limitações?

A maior barreira é o preconceito. Acho que o ser humano tem q aprender a conviver com pessoas que pensam de formas diferentes e respeitar o próximo. Isso

não é só no graffiti mas em qualquer setor da vida, pois nós podemos perceber que as maiores guerras do mundo acontecem por um grupo que acha que tem o

poder de saber o que é certo.

Cada pessoa é diferente da outra e cada uma tem seu ponto forte. Não podemos dizer quem é melhor ou pior, qual o mais verdadeiro graffiti ou dizer o que ‘e

certou ou errado. O importante é cada um ser feliz com aquilo que faz e respeitar as ações dos outros.

Você acha que hoje em dia existe união de grafiteiros entre si? E pichadores e grafiteiros por exemplo?

A pichação carioca passou por uma grande reviravolta nos últimos anos. Antes a cena era mais agressiva, existia porrada na reú pra quem desse mole na pista ou

no papo. Hoje, com essa coisa de evento, votação e família os caras estão mais tranqüilos, todo mundo é amigo de todo mundo, existem poucas inimizades.

Acho que no Rio de Janeiro tanto no graffiti quanto na pichação existe muita união por conta da violência. Aqui qualquer um tem acesso a arma, brigar com os

outros é só dar motivo pra matar. E aqui sabe como é, se mata por R$1,00. Uma maneira de manter a paz e evitar tumulto é respeitando a maneira de cada um

ser, e o lance do atropelo é um exemplo disso. Aqui é uma coisa que não existe mesmo, só se o cara for muito cagão! Até os pichadores e grafiteiros hoje estão

procurando se respeitar.

Page 3: 18/11/2009 Subsolo Art

1/9/2014 Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona « SubsoloArt! - Graffiti e Arte Urbana Brasileira!

http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/ 3/8

Como você conseguiu distinguir sua vida profissional, afetiva, etc, com a vida que a arte da rua te exige?

Como já falei, graffiti é o meu estilo de vida, não existe distinção. Trabalho dando aulas de arte em Casas de Cultura e meus alunos me procuram pelo meu

trabalho com artes, no caso por conta das minhas pinturas.

Minha família já acostumou com as tintas e com minha maneira diferente de viver. Já falei pra minha mãe q ela não tem q ser preocupar com ladrão, com bebida,

bala perdida, com nada disso, ela tem é q ficar preparada com o dia que eu for presa pintando.

Sobre a vida afetiva, eu fui casada com um pichador e depois namorei 3 anos com um grafiteiro. Meu ultimo relacionamento também foi com um pichador.

E difícil imaginar um homem comum aceitando a minha convivência no meio de homens, indo para reuniões de pichação e passando o domingo na rua chegando

em casa toda suja de poeira e tinta, alem de descabelada!

Mas acredito que o mais importante nesta situação e continuar sendo considerada pelo o que eu faço, pelo o que eu sou. Me sinto envergonhada como mulher de

ver meninas que são associadas aos nomes de namorados e não fazem nada para sair dessa situação e se emancipar. E como uma prisão sem grades. E como não

ter identidade.

Você já consegue viver financeiramente tranqüila, trabalhando com as técnicas do graffiti…? O que principalmente tem usado para trabalhar?

Como eu dou aulas, eu ganho o suficiente pra viver normalmente sem perrengues. Mas realmente as vantagens do graffiti comercial e das galerias me seduzem cada

vez mais pois é um dinheiro que não ganharíamos trabalhando em um emprego normal. Tem sido uma luta muito grande pensar em meus ideais e me manter forte

diante de propostas envolvendo um dinheiro maneiro. Me lembro quando fiz alguns trabalhos pra globo e na seqüência pra Nike brincava falando q Anarquista éessa que se deixa levar pelas as armadilhas do capitalismo! Mas como o próprio Baukunin, pai do anarquismo, falou a seu irmão quando o mesmo quis vender

seus terrenos… ”- Espere primeiro a revolução, depois dividimos a terra!”

O que você acha que um bom artista de rua precisa ter, para ser bem sucedido em seu meio?

Tem que saber o que está fazendo. Não é só saber pintar bonitinho. Tem que entender o seu mundo. Graffiti é mais do que uma figura na parede.

Desde que você começou, até agora, o que mais mudou e o que continua na arte de rua?

Acho que o que mais mudou nisso tudo fui eu! A rua e o graffiti me ensinaram tantas coisas que eu nunca mais serei a mesma.

Qual época você mais curtiu dar roles? Porque?

Acredito que e a agora pois tenho pintado sozinha e isso tem me proporcionado uma grande satisfação de ver que não preciso de ninguém para realizar minhas

acoes. Que posso fazer tudo o que quiser quando quiser sem ter ninguém pra dar palpite ou interferir. Também porque foi um ano que voltei a pixar, mesmo que

de cao, foi muito legal estar com os moleques do xarpi novamente e viver esse ritmo louco. Foi bom pra dar uma acordada pra vida novamente.

Na sua opinião, qual é o maior castigo pra um grafiteiro/pichador?

Não ter tinta. Porque o nome apagar é triste, mas tendo tinta tu vai la e faz denovo!

Já foi pega? como? E como foi a punição de acordo com as leis de sua cidade?

A polícia do Rio é corrupta. Ou te batem ou te roubam. Não é do interesse deles prender e perder tempo levando pra delegacia pois o tráfico já lhe da problemas

mais sérios e em grande quantidade. Pichação é bobeira, e nessa ai, eu já passei pelas duas situações.

Já teve polícia perguntando se não ia ganhar nem um “beijinho” e perguntando o q eu tenho pra oferecer pra ser liberada. É mole?

Page 4: 18/11/2009 Subsolo Art

1/9/2014 Entrevista com a grafiteira Anarkia Boladona « SubsoloArt! - Graffiti e Arte Urbana Brasileira!

http://subsoloart.com/blog/2009/11/entrevista-com-a-grafiteira-anarkia-boladona/ 4/8

Nessa situação eu falei: Pô, então pode me levar presa porque eu sou louca mais sou moça direita. Então ele me roubou meus R$20,00 e me liberou devolvendo a

tinta.

Qual o pior erro para um grafiteiro?

Achar que é mais q alguem. Isso ai é uma grande ilusão pois um dia vc ta la encima outro dia vc ta la embaixo.

Se arrepende em algum momento de ser grafiteira? Porque?

Arrepender porque?

O quê a arte de rua te deu?

Por causa da convivência da rua eu acredito que enxergo mais além do que se tivesse vivido uma vida norma trancada em um apartamento. Conheço a minha

cidade, o meu mundo.

O que a arte de rua te tirou?

O convívio com minha família. Hoje me sinto muito distante por conta da escolha de meu estilo de vida fora dos padrões.

Você é conhecida por ter uma personalidade muito polemica. O que você acha disso?

Minha fama de boladona vem da minha personalidade forte que não me deixa levar desaforo pra casa. Mas isso na verdade enxergo como qualidade pois foi isto

que nunca me deixou ser excluída, me fez impor diante um meio tipicamente masculino e me fez exigir os meus direitos. Se hoje eu conquistei respeito pelos demais

amigos grafiteiros foi justamente porque nunca me deixei abater.

O que você diria para os que estão começando agora?

Se é pra fazer, então faça direito.

www.anarkiaboladona.com

www.flickr.com/anarkiaboladona

www.myspace.com/anarkiaboladona

www.fotolog.com/anarkiaboladona