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    As 18 Razes CONTRA a Reduo da Maioridade Penal

    1. Porque j responsabilizamos adolescentes em ato infracional

    A partir dos 12 anos, qualquer adolescente responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa

    responsabilizao, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no ECA, tm o objetivo de ajud-

    lo a recomear e a prepar-lo para uma vida adulta de acordo com o socialmente estabelecido. parte do seuprocesso de aprendizagem que ele no volte a repetir o ato infracional.

    Por isso, no devemos confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Cdigo Penal, a

    capacidade da pessoa entender que o fato ilcito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentando em

    sua maturidade psquica.

    2. Porque a lei j existe. Resta ser cumprida!

    O ECA prev seis medidas educativas: advertncia, obrigao de reparar o dano, prestao de servios

    comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internao. Recomenda que a medida seja aplicada de acordo

    com a capacidade de cumpri-la, as circunstncias do fato e a gravidade da infrao.

    Muitos adolescentes, que so privados de sua liberdade, no ficam em instituies preparadas para sua

    reeducao, reproduzindo o ambiente de uma priso comum. E mais: o adolescente pode ficar at 9 anos em

    medidas socioeducativas, sendo trs anos interno, trs em semiliberdade e trs em liberdade assistida, com o

    Estado acompanhando e ajudando a se reinserir na sociedade.

    No adianta s endurecer as leis se o prprio Estado no as cumpre!

    3. Porque o ndice de reincidncia nas prises de 70%

    No h dados que comprovem que o rebaixamento da idade penal reduz os ndices de criminalidade juvenil. Ao

    contrrio, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expe as(os) adolescentes a

    mecanismos/comportamentos reprodutores da violncia, como o aumento das chances de reincidncia, uma vez

    que as taxas nas penitencirias so de 70% enquanto no sistema socioeducativo esto abaixo de 20%.

    A violncia no ser solucionada com a culpabilizao e punio, mas pela ao da sociedade e governos nas

    instncias psquicas, sociais, polticas e econmicas que as reproduzem. Agir punindo e sem se preocupar em

    discutir quais os reais motivos que reproduzem e mantm a violncia, s gera mais violncia.

    4. Porque o sistema prisional brasileiro no suporta mais pessoas.

    O Brasil tem a 4 maior populao carcerria do mundo e um sistema prisional superlotado com 500 mil presos.

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    S fica atrs em nmero de presos para os Estados Unidos (2,2 milhes), China (1,6 milhes) e Rssia (740

    mil).

    O sistema penitencirio brasileiro NO tem cumprido sua funo social de controle, reinsero e reeducao dos

    agentes da violncia. Ao contrrio, tem demonstrado ser uma escola do crime.

    Portanto, nenhum tipo de experincia na cadeia pode contribuir com o processo de reeducao e reintegrao

    dos jovens na sociedade.

    5. Porque reduzir a maioridade penal no reduz a violncia.

    Muitos estudos no campo da criminologia e das cincias sociais tm demonstrado que NO H RELAO

    direta de causalidade entre a adoo de solues punitivas e repressivas e a diminuio dos ndices de

    violncia.

    No sentido contrrio, no entanto, se observa que so as polticas e aes de natureza social que desempenham

    um papel importante na reduo das taxas de criminalidade.

    Dados do Unicef revelam a experincia mal sucedida dos EUA. O pas, que assinou a Conveno Internacional

    sobre os Direitos da Criana, aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que

    cumpriram pena em penitencirias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a

    sociedade foi o agravamento da violncia.

    6. Porque fixar a maioridade penal em 18 anos tendncia mundial

    Diferentemente do que alguns jornais, revistas ou veculos de comunicao em geral tm divulgado, a idade de

    responsabilidade penal no Brasil no se encontra em desequilbrio se comparada maioria dos pases do

    mundo.

    De uma lista de 54 pases analisados, a maioria deles adota a idade de responsabilidade penal absoluta aos 18anos de idade, como o caso brasileiro.

    Essa fixao majoritria decorre das recomendaes internacionais que sugerem a existncia de um sistema de

    justia especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos.

    7. Porque a fase de transio justifica o tratamento diferenciado.

    A Doutrina da Proteo Integral o que caracteriza o tratamento jurdico dispensado pelo Direito Brasileiro s

    crianas e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no prprio texto constitucional, em documentos e

    tratados internacionais e no Estatuto da Criana e do Adolescente.

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    Tal doutrina exige que os direitos humanos de crianas e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma

    integral e integrada, mediando e operacionalizao de polticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.

    A definio do adolescente como a pessoa entre 12 e 18 anos incompletos implica a incidncia de um sistema

    de justia especializado para responder a infraes penais quando o autor trata-se de um adolescente.

    A imposio de medidas socioeducativas e no das penas criminais relaciona-se justamente com a finalidade

    pedaggica que o sistema deve alcanar, e decorre do reconhecimento da condio peculiar de desenvolvimento

    na qual se encontra o adolescente.

    8. Porque as leis no podem se pautar na exceo.

    At junho de 2011, o Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), do Conselho Nacional

    de Justia, registrou ocorrncias de mais de 90 mil adolescentes. Desses, cerca de 30 mil cumprem medidas

    socioeducativas. O nmero, embora seja considervel, corresponde a 0,5% da populao jovem do Brasil, que

    conta com 21 milhes de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.

    Sabemos que os jovens infratores so a minoria, no entanto, pensando neles que surgem as propostas de

    reduo da idade penal. Cabe lembrar que a exceo nunca pode pautar a definio da poltica criminal e muito

    menos a adoo de leis, que devem ser universais e valer para todos.

    As causas da violncia e da desigualdade social no se resolvero com a adoo de leis penais severas. O

    processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalizao da violncia e seu ciclo.Aes no campo da educao, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuio da vulnerabilidade de

    centenas de adolescentes ao crime e violncia.

    9. Porque reduzir a maioridade penal tratar o efeito, no a causa!

    A constituio brasileira assegura nos artigos 5 e 6 direitos fundamentais como educao, sade, moradia,

    etc. Com muitos desses direitos negados, a probabilidade do envolvimento com o crime aumenta, sobretudoentre os jovens.

    O adolescente marginalizado no surge ao acaso. Ele fruto de um estado de injustia social que gera e agrava

    a pobreza em que sobrevive grande parte da populao.

    A marginalidade torna-se uma prtica moldada pelas condies sociais e histricas em que os homens vivem. O

    adolescente em conflito com a lei considerado um sintoma social, utilizado como uma forma de eximir a

    responsabilidade que a sociedade tem nessa construo.

    Reduzir a maioridade transferir o problema. Para o Estado mais fcil prender do que educar.

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    10. Porque educar melhor e mais eficiente do que punir.

    A educao fundamental para qualquer indivduo se tornar um cidado, mas realidade que no Brasil muitos

    jovens pobres so excludos deste processo. Puni-los com o encarceramento tirar a chance de se tornarem

    cidados conscientes de direitos e deveres, assumir a prpria incompetncia do Estado em lhes assegurar

    esse direito bsico que a educao.

    As causas da violncia e da desigualdade social no se resolvero com adoo de leis penais mais severas. O

    processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalizao da violncia e seu ciclo.

    Aes no campo da educao, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuio da vulnerabilidade de

    centenas de adolescentes ao crime e violncia.

    Precisamos valorizar o jovem, consider-los como parceiros na caminhada para a construo de uma sociedade

    melhor. E no como os viles que esto colocando toda uma nao em risco.

    11. Porque reduzir a maioridade penal isenta o estado do compromisso com a juventude

    O Brasil no aplicou as polticas necessrias para garantir s crianas, aos adolescentes e jovens o pleno

    exerccio de seus direitos e isso ajudou em muito a aumentar os ndices de criminalidade da juventude.

    O que estamos vendo uma mudana de um tipo de Estado que deveria garantir direitos para um tipo de Estado

    Penal que administra a panela de presso de uma sociedade to desigual. Deve-se mencionar ainda a

    ineficincia do Estado para emplacar programas de preveno da criminalidade e de assistncia social eficazes,junto s comunidades mais pobres, alm da deficincia generalizada em nosso sistema educacional.

    12. Porque os adolescentes so as maiores vitimas, e no os principais autores da violncia

    At junho de 2011, cerca de 90 mil adolescentes cometeram atos infracionais. Destes, cerca de 30 mil cumprem

    medidas socioeducativas. O nmero, embora considervel, corresponde a 0,5% da populao jovem do Brasil

    que conta com 21 milhes de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.

    Os homicdios de crianas e adolescentes brasileiros cresceram vertiginosamente nas ltimas dcadas: 346%

    entre 1980 e 2010. De 1981 a 2010, mais de 176 mil foram mortos e s em 2010, o nmero foi de 8.686 crianas

    e adolescentes assassinadas, ou seja, 24 POR DIA!

    A Organizao Mundial de Sade diz que o Brasil ocupa a 4 posio entre 92 pases do mundo analisados em

    pesquisa. Aqui so 13 homicdios para cada 100 mil crianas e adolescentes de 50 a 150 vezes maior que

    pases como Inglaterra, Portugal, Espanha, Irlanda, Itlia, Egito cujas taxas mal chegam a 0,2 homicdios para a

    mesma quantidade de crianas e adolescentes.

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    13. Porque, na prtica, a pec 33/2012 invivel!!

    A Proposta de Emenda Constitucional quer alterar os artigos 129 e 228 da Constituio Federal, acrescentando

    um paragrafo que prev a possibilidade de desconsiderar da inimputabilidade penal de maiores de 16 anos e

    menores de 18 anos.

    E o que isso quer dizer? Que continuaro sendo julgados nas varas Especializadas Criminais da Infncia e

    Juventude, mas se o Ministrio Publico quiser poder pedir para desconsiderar inimputabilidade, o juiz decidir

    se o adolescente tem capacidade para responder por seus delitos. Seriam necessrios laudos psicolgicos e

    percia psiquitrica diante das infraes: crimes hediondos, trfico de drogas, tortura e terrorismo ou reincidncia

    na pratica de leso corporal grave e roubo qualificado. Os laudos atrasariam os processos e congestionariam a

    rede pblica de sade.

    A PEC apenas delega ao juiz a responsabilidade de dizer se o adolescente deve ou no ser punido como um

    adulto.

    No Brasil, o gargalo da impunidade est na ineficincia da polcia investigativa e na lentido dos julgamentos. Ao

    contrrio do senso comum, muito divulgado pela mdia, aumentar as penas e para um nmero cada vez mais

    abrangente de pessoas no ajuda em nada a diminuir a criminalidade, pois, muitas vezes, elas no chegam a

    ser aplicadas.

    14. Porque reduzir a maioridade penal no afasta crianas e adolescentes do crime

    Se reduzida a idade penal, estes sero recrutados cada vez mais cedo.

    O problema da marginalidade causado por uma srie de fatores. Vivemos em um pas onde h m gesto de

    programas sociais/educacionais, escassez das aes de planejamento familiar, pouca oferta de lazer nas

    periferias, lentido de urbanizao de favelas, pouco policiamento comunitrio, e assim por diante.

    A reduo da maioridade penal no visa a resolver o problema da violncia. Apenas fingir que h justia. Um

    autoengano coletivo quando, na verdade, apenas uma forma de massacrar quem j massacrado.

    Medidas como essa tm carter de vingana, no de soluo dos graves problemas do Brasil que so de fundo

    econmico, social, poltico. O debate sobre o aumento das punies a criminosos juvenis envolve um grave

    problema: a lei do menor esforo. Esta seduz polticos prontos para oferecer solues fceis e rpidas diante do

    clamor popular.

    Nesse momento, diante de um crime odioso, mais fcil mandar quebrar o termmetro do que falar em enfrentar

    com seriedade a infeco que gera a febre.

    15. Porque afronta leis brasileiras e acordos internacionais

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    Vai contra a Constituio Federal Brasileira que reconhece prioridade e proteo especial a crianas e

    adolescentes. A reduo inconstitucional.

    Vai contra o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) de princpios administrativos, polticos

    e pedaggicos que orientam os programas de medidas socioeducativas.

    Vai contra a Doutrina da Proteo Integral do Direito Brasileiro que exige que os direitos humanos de crianas e

    adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada s polticas de natureza universal,

    protetiva e socioeducativa.

    Vai contra parmetros internacionais de leis especiais para os casos que envolvem pessoas abaixo dos dezoito

    anos autoras de infraes penais.

    Vai contra a Conveno sobre os Direitos da Criana e do Adolescente da Organizao das Naes Unidas

    (ONU) e a Declarao Internacional dos Direitos da Criana compromissos assinados pelo Brasil.

    16. Porque poder votar no tem a ver com ser preso com adultos

    O voto aos 16 anos opcional e no obrigatrio, direito adquirido pela juventude. O voto no para a vida toda,

    e caso o adolescente se arrependa ou se decepcione com sua escolha, ele pode corrigir seu voto nas eleies

    seguintes. Ele pode votar aos 16, mas no pode ser votado.

    Nesta idade ele tem maturidade sim para votar, compreender e responsabilizar-se por um ato infracional.

    Em nosso pas qualquer adolescente, a partir dos 12 anos, pode ser responsabilizado pelo cometimento de um

    ato contra a lei.

    O tratamento diferenciado no porque o adolescente no sabe o que est fazendo. Mas pela sua condio

    especial de pessoa em desenvolvimento e, neste sentido, o objetivo da medida socioeducativa no faz-lo

    sofrer pelos erros que cometeu, e sim prepar-lo para uma vida adulta e ajuda-lo a recomear.

    17. Porque o brasil est dentro dos padres internacionais.

    So minoria os pases que definem o adulto como pessoa menor de 18 anos. Das 57 legislaes analisadas pela

    ONU, 17% adotam idade menor do que 18 anos como critrio para a definio legal de adulto.

    Alemanha e Espanha elevaram recentemente para 18 a idade penal e a primeira criou ainda um sistema especial

    para julgar os jovens na faixa de 18 a 21 anos.

    Tomando 55 pases de pesquisa da ONU, na mdia os jovens representam 11,6% do total de infratores,

    enquanto no Brasil est em torno de 10%. Portanto, o pas est dentro dos padres internacionais e abaixo

    mesmo do que se deveria esperar. No Japo, eles representam 42,6% e ainda assim a idade penal no pas de

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    20 anos.

    Se o Brasil chama a ateno por algum motivo pela enorme proporo de jovens vtimas de crimes e no pela

    de infratores.

    18. Porque importantes rgos tm apontado que no uma boa soluo.

    O UNICEF expressa sua posio contrria reduo da idade penal, assim como qualquer alterao desta

    natureza. Acredita que ela representa um enorme retrocesso no atual estgio de defesa, promoo e garantia

    dos direitos da criana e do adolescente no Brasil. A Organizao dos Estados Americanos (OEA) comprovou

    que h mais jovens vtimas da criminalidade do que agentes dela.

    O Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente (CONANDA) defende o debate ampliado para que

    o Brasil no conduza mudanas em sua legislao sob o impacto dos acontecimentos e das emoes. O CRP

    (Conselho Regional de Psicologia) lana a campanha Dez Razes da Psicologia contra a Reduo da idade

    penal CNBB, OAB, Fundao Abrinq lamentam publicamente a reduo da maioridade penal no pas.

    Mais de 50 entidades brasileiras aderem ao Movimento 18 Razes para a No reduo da maioridade penal.