177393947 reformador abril 2009 revista espirita

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Primórdios do Espiritismo Primórdios do Espiritismo Convulsionários: religião, fanatismo ou charlatanismo? Convulsionários: religião, fanatismo ou charlatanismo? Sono e sonhos Sono e sonhos Primórdios do Espiritismo Primórdios do Espiritismo Convulsionários: religião, fanatismo ou charlatanismo? Convulsionários: religião, fanatismo ou charlatanismo? Sono e sonhos Sono e sonhos R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749 FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 127 • Nº 2.161 • Abril 2009 D EUS , C RISTO E C ARIDADE

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  • Primrdios do EspiritismoPrimrdios do EspiritismoConvulsionrios: religio, fanatismo oucharlatanismo?Convulsionrios: religio, fanatismo oucharlatanismo?Sono e sonhosSono e sonhos

    Primrdios do EspiritismoPrimrdios do EspiritismoConvulsionrios: religio, fanatismo oucharlatanismo?Convulsionrios: religio, fanatismo oucharlatanismo?Sono e sonhosSono e sonhosR$ 5,00

    ISSN

    141

    3 - 17

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    F E D E R A O E S P R I T A B R A S I L E I R A

    Ano 127 N 2.161 Abr i l 2009D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

  • Fundada em 21 de janeiro de 1883

    Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

    Revista de Espiritismo CristoAno 127 / Abril, 2009 / N o 2.161

    ISSN 1413-1749Propriedade e orientao daFEDERAO ESPRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOO MASOTTIEditor: ALTIVO FERREIRARedatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

    CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRONOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SO THIAGO

    Secretrio: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRAGerente: ILCIO BIANCHIGerente de Produo: GILBERTO ANDRADEEquipe de Diagramao: SARA AYRES TORRES, AGADYR

    TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHOEquipe de Reviso: MNICA DOS SANTOS E WAGNA

    CARVALHO

    REFORMADOR: Registro de publicao no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Pol-cia Federal do Ministrio da Justia)CNPJ 33.644.857/0002-84 I. E. 81.600.503

    Direo e Redao:Av. L-2 Norte Q. 603 Conj. F (SGAN) 70830-030 Braslia (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

    Departamento Editorial e Grfico:Rua Sousa Valente, 17 20941-040Rio de Janeiro (RJ) BrasilTel.: (21) 2187-8282 FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

    [email protected]

    Projeto grfico da revista: JULIO MOREIRA

    Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

    Editorial

    O Centro Esprita Unidade Fundamental do

    Movimento Esprita

    Entrevista: Oceano Vieira de Melo

    Uso de DVDs para a Difuso do Espiritismo

    Presena de Chico Xavier

    3o Congresso Esprita Brasileiro focalizar obra de

    Chico Xavier

    Esflorando o Evangelho

    Hegemonia de Jesus Emmanuel

    A FEB e o Esperanto

    Uma histria do mundo espiritual Affonso Soares

    Reaparece La Evangelio la9 Spiritismo Affonso Soares

    Nova Lumo / Nova Luz Abel Gomes

    Seara Esprita

    Primrdios do Espiritismo Juvanir Borges de SouzaFrustraes angustiantes Vianna de Carvalho preciso coerncia Jorge Leite de OliveiraVisitando Chico Xavier Therezinha RadeticNo paraso j Richard SimonettiConvulsionrios: religio, fanatismo ou charlatanismo?

    Christiano Torchi

    Jesus e Kardec Mrio FrigriOs efeitos do lcool na sociedade e no Esprito

    imortal (Capa) Roberto Carlos FonsecaEm dia com o Espiritismo Sono e sonhos

    Marta Antunes Moura

    Mensagem consoladora aos pais Clara Lila Gonzalezde Arajo

    Aos Colaboradores Populao do Brasil Em 2050 ultrapassar 250

    milhes Gerson Simes MonteiroCristianismo Redivivo Caminho para Deus

    Haroldo Dutra Dias

    Retorno Ptria Espiritual Antonio de SouzaLucena

    O cone da liberdade Wellington BalboSejamos bons alunos Mauro Paiva Fonseca

    58

    10121417

    2022

    26

    29

    3134

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    4

    11

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    33

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    SumrioExpediente

    PARA O BRASILAssinatura anual R$ 339,00Nmero avulso R$ 55,00

    PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 335,00

    Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 2187-8274

    E-mmail: [email protected]

  • Editorial

    4 Reformador Abr i l 2009112222

    O Centro Esprita

    1FEB CFN Orientao ao Centro Esprita Ed. FEB.

    Unidade Fundamental doMovimento Esprita

    m outubro de 1977 o Conselho Federativo Nacional (CFN) da Federao

    Esprita Brasileira (FEB) aprovou um dos primeiros e mais abrangentes tra-

    balhos sobre o Centro Esprita, publicado em Reformador de dezembro do

    mesmo ano.

    Esse trabalho, intitulado A adequao do Centro Esprita para o melhor aten-

    dimento de suas finalidades, foi elaborado pelo Movimento Esprita brasileiro,

    atravs dos Conselhos Zonais do CFN, ento existentes, com a participao de di-

    rigentes e trabalhadores espritas de todas as partes do Pas, no perodo de abril

    de 1975, quando o assunto foi escolhido pelo CFN para anlise nos referidos

    Conselhos Zonais, at outubro de 1977, quando o Conselho Federativo Nacional

    aprovou o texto final.

    Esse texto, publicado como Anexo I do opsculo Orientao ao Centro Esprita,1

    destaca: o que ou como entender o Centro Esprita; qual a sua importncia para

    o estudo, a difuso e a prtica da Doutrina Esprita e para o atendimento s necessi-

    dades espirituais, morais e materiais do ser humano; e o que, basicamente, cabe ao

    Centro Esprita realizar.

    Como escola de ensinos morais e espirituais, como oficina de trabalho voltado

    ao bem do prximo, como templo de orao e como pronto-socorro espiritual, o

    Centro Esprita se destaca na condio de posto avanado na difuso do Evangelho

    luz da Doutrina Esprita, tendo por referncia as primeiras casas do Cristianismo

    nascente, que marcaram a sua ao pela prtica do bem incondicional.

    Diante dos constantes desafios que os dirigentes e trabalhadores dos centros es-

    pritas enfrentam na execuo e na manuteno de suas nobres atividades, enten-

    demos oportuno destacar a permanente atualidade do referido texto assim como

    a verso atualizada de Orientao ao Centro Esprita, que o desdobra como ajuda a

    todos os que nos encontramos nesse trabalho, visando a preservao de suas dire-

    trizes, o apoio nas suas provas e o fortalecimento na sua ao.

    E

  • Terceira Revelao, a Dou-trina Esprita, impessoale tem um sentido univer-

    salista, pelas verdades e certezasque encerra.

    O Codificador da Doutrina, quese preparou por mais de uma en-carnao a fim de se tornar a perso-nalidade confivel para dar ao seutrabalho a segurana e o crditoque s a Verdade pode oferecer, oprimeiro a reconhecer que o Espi-ritismo representa, em sua essncia,os ensinos dos Espritos superiores, frente o Esprito de Verdade, refe-rido pelo Cristo quando prometeraenviar o Consolador para relem-brar seus ensinos e trazer conheci-mentos novos Humanidade.

    Assim, tanto Allan Kardec quan-to os mdiuns que serviram in-termediao para o conhecimento,pelos homens, da Doutrina Conso-ladora, conscientizaram-se de queforam eles os instrumentos esco-lhidos para servirem a uma grandemisso, mas os verdadeiros autoresda grande Revelao foram os

    Espritos superiores, a servio doCristo.

    A Doutrina dos Espritos foirevelada aos homens pelas Inteli-gncias que se manifestaram atra-vs de diversos mdiuns, que secolocaram a servio de uma gran-de causa, sob a orientao e su-perviso de Allan Kardec.

    Mas, o prprio Codificadorda Doutrina que esclarece, naIntroduo de O Livro dos Esp-ritos (Ed. FEB, item XVII):

    [...] No produzisse este livro

    outro resultado alm do de mos-

    trar o lado srio da questo e de

    provocar estudos neste sentido

    e rejubilaramos por haver sido

    eleito para executar uma obra

    em que, alis, nenhum mrito

    pessoal pretendemos ter, pois

    que os princpios nela exarados

    no so de criao nossa. O m-

    rito que apresenta cabe todo

    aos Espritos que a ditaram. [...]

    interessante lembrar que, an-tes de se dedicar organizao epublicao das obras que consti-tuem a base do Espiritismo, o de-nominado pentateuco karde-

    quiano, que se inicia com OLivro dos Espritos, em 18 de abrilde 1857, e termina com A Gnese,em 6 de janeiro de 1868, a Espiri-tualidade superior julgou til cha-mar a ateno de grande parteda populao terrena para mani-festaes ostensivas do mundoespiritual.

    Essas demonstraes comea-ram com os fenmenos de Hydes-ville, nos Estados Unidos da Am-rica, em 1848, espalhando-se pos-teriormente pelo mundo ociden-tal, atravs das mesas girantes,que se tornaram uma diverso naEuropa, antes dos estudos srios,para que se pudesse entender todaaquela fenomenologia intrigante,propositalmente provocada pelomundo espiritual.

    Todas as classes sociais interessa-ram-se por aqueles acontecimentosinexplicveis, em que os objetos co-muns pareciam ter adquirido mo-vimentos autnomos, independen-temente da interveno humana.

    As experincias inusitadas comas mesas girantes tornaram-se di-vertimento comum na Frana,Alemanha, Inglaterra, Itlia, Espa-nha e em outros pases.

    Primrdios doEspiritismo

    A

    5Abr i l 2009 Reformador 112233

    JU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

    Ilustrao: Fonte Allan Kardec: o edu-cador e o codificador, Zus Wantuil eFrancisco Thiesen, v. 1, p. 259. Ed. FEB.

  • 6 Reformador Abr i l 2009 112244

    Foram as mesas girantes quechamaram a ateno do professorHippolyte Lon Denizard Rivailpara os fenmenos espritas.

    Percebeu ele que, por trs daque-les fatos aparentemente inexplic-veis, existia uma causa desconheci-da que deveria ser investigada.

    Aps as mesas girantes, surgi-ram manifestaes escritas comum lpis que se prendia a umacesta de vime, usada na poca,pouco depois substitudas pela es-crita diretamente elaborada pelosmdiuns, com suas prprias mos.

    A escrita medinica e a palavrados mdiuns, nas quais se podiaidentificar a presena e a manifes-tao dos Espritos comunicantes,foram fenmenos muito mais con-vincentes e expressivos, que tra-riam aos observadores estudiososa certeza da existncia de um mundoespiritual paralelo ao mundo ma-terial em que vivemos.

    Da para a frente Allan Kardec,o estudioso e preparado missio-nrio, seria o principal instrumen-to dos Espritos superiores para aformulao da Doutrina Esprita,ou Espiritismo.

    Dos trabalhos coordenados e di-rigidos por Allan Kardec, nos quaispodemos perceber a segurana e omtodo do Codificador, visandosempre mostrar a verdade e a reali-dade dos fatos, sem a interfernciade ideias inferiores ou inexatas, noque foi sempre apoiado pela Espi-ritualidade superior, resultaramvrias obras, entre as quais seencontram as cinco que consti-tuem a base fundamental da Dou-trina Esprita: O Livro dos Espritos

    (18/4/1857); O Livro dos Mdiuns(1o/8/1861); O Evangelho segundoo Espiritismo (abril de 1864); OCu e o Inferno (1o/8/1865); A G-nese (6/1/1868).

    Sobre a personalidade do Codi-ficador, escolhido pelo Alto para adifcil misso, cumprida integral-mente com todo xito, escreveuAnna Blackwell, escritora inglesaque teve com ele relacionamentopessoal, tratar-se de um Esprito

    [...] ativo e tenaz, mas de tempe-

    ramento calmo, precavido e rea-

    lista at quase frieza, ctico por

    natureza e por educao [...]1

    A primeira revelao sobre amisso que lhe cabia desempe-nhar chegou ao professor Rivailem 30 de abril de 1856, em casa deseu amigo, Sr. Roustan, atravs damdium Srta. Japhet.

    Sem compreender o motivo desua escolha para tal misso, que re-sultaria na modificao do pensa-mento religioso, filosfico e cient-fico, pelos novos conhecimentosque traria Humanidade, e retifi-cando erros milenares de concep-es e de interpretaes, teve oCodificador a confirmao, peloEsprito Verdade, do que j lhehavia sido informado, recomen-dando-lhe, porm, toda discrioe informando-o de que, mais tar-de, tomaria conhecimento demuitas outras coisas importan-tes, o que realmente aconteceu.

    Finda a grande misso que lhefora atribuda e integralmente cum-prida, desencarnou o missionrioem 31 de maro de 1869.

    Muitos homens notveis e estu-diosos, que aceitaram o Espiritis-mo, trouxeram diversos subsdios obra do Codificador, como con-sequncia natural ao fato de que aDoutrina no esttica no tempo,mas sim evolutiva, sempre apoiadaem novos aspectos da verdade, quevo sendo descobertos, verificadose interpretados inteligentemente.

    Toda uma vasta literatura espri-ta iniciou-se com os denominadosclssicos, entre os quais se inscre-vem Lon Denis, Ernesto Bozzano,Albert de Rochas, Camille Flam-marion, Paul Gibier, Arthur ConanDoyle, Gabriel Delanne, AlexanderAksakof, Antonio J. Freire, J. W.Rochester, Jos Lapponi, CesareLombroso, Alfred Erny, GustaveGeley, J. Arthur Findlay e outros.

    Das cinco obras escritas porKardec, acima mencionadas, eque constituem a fundamentaodo Espiritismo, a primeira delas,

    1Allan Kardec: o educador e o codifica-dor, Zus Wantuil e Francisco Thiesen,v. 2, p. 273. Ed. FEB.

  • 7Abr i l 2009 Reformador 112255

    O Livro dos Espritos, publicadoem 18 de abril de 1857, a base eo apoio de todas as demais, porquenele se encontram, conforme es-t expresso, sinteticamente, em seufrontispcio, os Princpios da Dou-trina Esprita, sobre a natureza dosEspritos e seu relacionamento comos homens, Espritos encarnados,a imortalidade da alma, a vida pre-sente e a futura, as leis morais e oporvir da Humanidade.

    uma sntese filosfica refle-tindo a realidade da vida, expostacom clareza e acessvel a todas asinteligncias.

    Desse livro originam-se os ou-tros quatro, que desenvolvem par-tes especficas da obra bsica.

    O xito inicial de O Livro dosEspritos foi surpreendente, no sna Frana, mas em outros pasesda Europa e das Amricas, espe-cialmente no Brasil.

    Essa obra correspondeu plena-mente ao objetivo dos Espritosencarregados de universalizar asverdades que os homens desco-nheciam e de retificar os enganose erros que as religies e filosofiaspropagaram por sculos.

    Os que tomaram conhecimen-to do Espiritismo, o Consoladorprometido por Jesus, so uma mi-noria no mundo em que vivemos.

    Mas o tempo aliado da Ver-dade e dia vir em que essa mino-ria se transformar em maioriaabsoluta, em decorrncia das leisdivinas, justas e infalveis, dentreas quais est a lei do Progresso.

    [...] A finalidade do Espiritismo

    [conforme o pensamento de Kar-

    dec] tornar melhores os que o

    compreendem. Esforcemo-nos

    por dar o exemplo e mostremos

    que, para ns, a doutrina no

    letra morta. Numa palavra, seja-

    mos dignos dos bons Espritos, se

    quisermos que eles nos assistam.

    O bem uma couraa contra

    a qual viro sempre quebrar-se

    as armas da malevolncia.2

    A vasta literatura esprita tor-na possvel aprofundar-se o ho-mem no conhecimento da Dou-trina, em todos os seus aspectos efundamentos.

    Na atualidade, para bem co-nhecermos o Espiritismo, essacouraa do bem contra o mal,dispomos no s das obrasbsicas, mas tambm da litera-tura clssica acima indicada,que ampliou o conhecimentotrazido pelos Espritos supe-riores, em sua colaborao comAllan Kardec e os mdiuns quecom ele trabalharam.

    O Consolador prometido conti-nua entre os homens, enriquecidopor novas comunicaes da Espiri-tualidade e novos mdiuns dedica-dos renovao dos que o aceitarem.

    Para comprovao da continui-dade das comunicaes preciosas,entre o mundo invisvel e o mun-do das formas visveis, basta ob-servar-se, no Brasil, a riqueza deensinamentos chegados atravsde notveis mdiuns, que dedica-ram suas vidas grande causa darenovao espiritual, no somentedos que reencarnam neste pas Ptria do Evangelho mas de to-dos os que, por toda parte, aspirame procuram a verdade e um me-lhor entendimento da vida.

    Francisco Cndido Xavier, Di-valdo Pereira Franco, Jos Raul Tei-xeira, Yvonne do Amaral Pereira,para s citar os mais conhecidos,so responsveis por inmeros des-dobramentos dos ensinos e revela-es antes abordados pelos Esp-ritos reveladores, pelo Codificadore por escritores e pesquisadoresdiversos, enriquecendo assim o co-nhecimento de inmeros assun-tos, com a abordagem de outrosaspectos que eles encerram semprejuzo do que j era conhecido.

    Chico Xavier, para s citar oque ficou escrito pelo mdium,j que toda sua vida foi dedicadaao bem, numa demonstrao decomo o Espiritismo pode influirsobre quem o aceita e vivencia,chegou a publicar 412 livros, so-bre diferentes assuntos, atravs dediversas editoras, nmero que incomum entre os maiores escri-tores de todos os tempos.

    2Sociedade Parisiense de Estudos Espritas.Revista Esprita, ano 2, jul. 1859, p. 274.Ed. FEB.

  • ogo depois da retumbantevitria do imperador Cons-tantino contra Magncio na

    batalha prxima ponte Mlviasobre o rio Tibre, em 312, o genialvencedor proclamou o Edito deMilo, no dia 13 de junho de 313,tornando o Cristianismo toleradoem todo o Imprio, como grati-do aos Cus pela ajuda que rece-bera, levando-o ao triunfo contrao seu maior inimigo...

    Aceito pelas multides sedentasde inovaes, que abandonaram opolitesmo em relao aos deuses--lares e aos do Olimpo, trocando--os por Jesus e Sua doutrina, espa-lhou-se a mensagem com arrou-bos e festas.

    Rapidamente os evangelizado-res multiplicaram-se e a difusoda nova religio ergueu santu-rios faustosos, em toda parte,

    alguns deles, antes povoados pe-los deuses ora em decadncia, subs-titudos pelo Incomparvel Mes-tre, Maria Santssima, os apsto-los e os mrtires...

    medida, porm, que o tempotranscorreu na sua marcha ine-xorvel, havendo desaparecido asperseguies que vitalizavam a fnobre e pura, comearam a sur-gir as rusgas e disputas por privi-lgios sociais e governamentais,surgindo os cultos externos extra-vagantes e as festas ruidosas quoinsensatas, semelhantes s pags

    que ressurgiam, e o entusiasmopelo amor e a caridade passou aceder lugar vulgaridade, quase indiferena...

    A pompa e o poder temporaltomaram o lugar da simplicidadee da abnegao, dando lugar aoorgulho e prepotncia que, maistarde, se transformariam em ada-ga perversa a servio do crime eda hediondez, ceifando vidas oumutilando as esperanas...

    Nessa ocasio, medraram osprdromos do que seria mais tar-de o monacato com todos os seustormentos, inspirado nos ascetasegpcios que buscavam as furnasno refgio das montanhas ou osilncio absoluto no deserto, a fimde preservarem a vida austera e ameditao.

    Embora a nobreza da iniciati-va, tornava-se uma afronta pul-

    Frustraesangustiantes

    8 Reformador Abr i l 2009 112266

    L

  • critude da mensagem crist e aosexemplos de dinamismo de Jesuse dos Seus discpulos, que jamaiscultivaram a ociosidade a pretex-to de busca de elevao, negandoo mundo para o qual se encontra-vam em servio de iluminao.

    A nova onda sensibilizou mui-tos Espritos ingnuos que deseja-vam ser fiis doutrina, renun-ciando ao mundo, que considera-vam perturbador, e s suas insi-nuaes que tinham em contade tentaes da carne, desde asambies tormentosas, s paixesasselvajadas.

    Multiplicaram-se os lugares pa-ra a fuga aos enfrentamentos hu-manos, onde so trabalhadas as ba-talhas do autoaprimoramento e dailuminao interior.

    O sculo, representando as ne-cessidades das massas infelizes,oprimidas e necessitadas, deveriaservir de oficina enriquecedora deexperincias para a aquisio dasvirtudes essenciais, ao invs de pe-rigoso campo minado pelo Tenta-dor e seus asseclas.

    Como era inevitvel, a existnciacontemplativa e ociosa, por maisque se apresentasse de incioatraente e bela, terminava por pro-duzir o estado de akeda ou acdia,ou marasmo, ou inutilidade, coma descoberta da perda de sentidopsicolgico, de objetivo, gerandosofrimentos insuportveis.

    Qual ocorre com todas as vi-das, que passam por crises exis-tenciais em determinados pero-dos, quando o indivduo faz umaavaliao do que realizou e sente--se incompleto, insatisfeito por

    considerar que foram quase in-teis os seus dias.

    A akeda passou a significar-lhesesse estado melanclico, depressi-vo, que se fixava em forma de eva-so da realidade e reao a elacom o decorrente sentimento deanimosidade contra os demaismembros da comunidade no mo-nacato onde buscavam refgio.

    O ser humano existe para fo-mentar e acompanhar o desenvol-vimento intelecto-moral, a con-quista do infinito e jamais para aparalisia.

    O corpo concedido ao Es-prito para a ao, a multiplica-o e preservao das suas for-as e possibilidades, nunca porm,para a inutilidade.

    A mente no pode parar depensar, de enfrentar a multiplici-dade de ideias que seleciona e de-senvolve como expresso da inte-ligncia.

    A monotonia mntrica e a dasjaculatrias criam um estado or-gnico e psicolgico de apatia, dedistanciamento da ao, empur-rando o ser para a incompletude.

    Esse fenmeno passou a serdenominado como o demnio-do--meio-dia, pela forma como seapossa do indivduo, e, naquela oca-sio, dos religiosos especialmente.

    A ignorncia medieval, aliada astcia de alguns telogos ines-crupulosos, que adulteraram as li-es de Jesus, adaptando-as aosseus interesses inconfessveis, co-mo reao decretaram que se tra-tava, essa acdia, de verdadeiro pe-cado mortal, por ser de inspiraodemonaca, objetivando arrancar

    as almas que aspiravam ao Cupela negao do mundo para osabismos infernais.

    Por efeito danoso, a deserodos claustros, a loucura e o suic-dio infelicitaram aqueles Espritosenganados, que se permitiram aestranha conduta, distante dos de-safios propostos por Jesus, que osviveu e os venceu com estoicismoe valor.

    O mundo, em si mesmo, no mau nem bom, seno conformeaqueles que o habitam e que delefazem o que lhes peculiar.

    A doutrina do Rabi galileu uma proposta renovadora de va-lores, firmada numa filosofia exis-tencial de amor e de perdo, decaridade e de misericrdia, me-diante cuja conduta alteram-se assombrias paisagens morais, ense-jando harmonia e plenitude.

    Sem dvida, naquelas mentesvazias, os demnios das paixesmal administradas, das necessi-dades biolgicas fora subme-tidas, dos conflitos psicolgicosmal disfarados, constituam umsquito semelhante a Legio, ahorda que atormentava o obses-so gadareno.

    Diferindo daqueles seres espi-rituais que afligiam o infeliz, essesdemnios da acdia eram inter-nos, viviam homiziados no ma-go dos seres que preferiam igno-r-los, tornando-os mais comba-tivos e, portanto, permitindo-lhesas vitrias sobre os esforos des-prendidos.

    A funo da reencarnao ade propiciar ao Esprito depurar--se das mazelas que o impedem de

    9Abr i l 2009 Reformador 112277

  • avanar no rumo da Grande Luz,de trabalhar-se, lapidando as ares-tas morais que permanecem des-de o passado no seu processo deevoluo.

    Serve-se a Deus, ajudando-se oser humano a ser feliz e ajudando--se a si mesmo a encontrar a har-monia entre o ser que se apresen-ta e aquele que se , o interior.

    Jesus sempre o exemplo emtodos os Seus passos, jamais se per-mitindo a inutilidade, a fuga darealidade e da responsabilidade.

    Quando buscou o deserto, an-tes do ministrio, para orar e je-juar, f-lo por um breve perodopreparatrio para a incomparvelsaga da Sua entrega de amor a to-das as criaturas.

    No h, portanto, como conci-liar a ao do Evangelho liberta-dor com a intil existncia mona-cal ou a fuga para regies distan-tes da comunho com os demaisseres humanos.

    Essa tarefa grandiosa, elucida edesenvolve-a o Espiritismo, con-clamando o ser humano auto-iluminao e libertao da ig-norncia generalizada, medianteo trabalho eficaz, o conhecimen-to que decifra os enigmas exis-tenciais e a caridade que digni-fica e proporciona a paz entretodos.

    Vianna de Carvalho

    (Pgina psicografada pelo mdium Dival-

    do Pereira Franco, na sesso medinica

    da noite de 9 de julho de 2008, no Cen-

    tro Esprita Caminho da Redeno, em

    Salvador, Bahia.)

    10 Reformador Abr i l 2009 112288

    Ao contemplar a vastido do espao,

    Em bela noite, um sbio refletia:

    De que me vale toda esta cincia,

    Se o mais das vezes, falo o que no fao?

    Ento ouviu a voz que lhe dizia:

    preciso coerncia...

    E disse ao vento com estardalhao:

    De que me vale, Deus, tanta teoria?

    E ouviu de novo a voz, que bem sabia

    Provir de sua prpria conscincia,

    Que, novamente, a ss, lhe repetia:

    preciso coerncia...

    Eu bem sei disso, mas o que queria

    Para, envolvendo todos num abrao,

    Poder lhes alertar sobre o que via,

    ter, como Jesus, a prescincia.

    Mas a voz, implacvel, insistia:

    preciso coerncia...

    Ento compreendeu o que no via:

    Ningum alcana a luz sem persistncia.

    To bem quanto saber, Jesus fazia

    E nisso estava toda a sua Cincia,

    Pois, para algum segui-lo, passo a passo,

    preciso coerncia.

    Jorge Leite de Oliveira

    precisocoerncia

  • Reformador: Como surgiu a moti-vao para a divulgao do Espiri-tismo por DVDs?Oceano: A partir do lanamento,em 2004, em parceria com aFederao Esprita Brasileira e oConselho Esprita Interna-cional, de Espiritismo De Kardec aos Diasde Hoje e da recu-perao do Pinga--Fogo I e II, quan-do disponibilizamosambos para o grandepblico.

    Reformador: H alguns registrosmarcantes de DVDs espritas quefizeram sucesso?Oceano: O DVD duplo com oshistricos programas Pinga-FogoI e II e o de Minha vida na outra

    vida, filme que confirmacaso verdico de re-

    encarnao porpessoa no-esp-rita, o qual foirealizado por

    produtores quedesconhecem o

    Espiritismo. Aoacrescentarmosextras espritas, es-sa produo setransforma num

    filme 100%esprita.

    Reformador: Esses DVDs estochegando ao meio leigo?Oceano: Nossos maiores clientesso lojas, livrarias e sites no--espritas. Algumas livrarias esp-ritas que divulgam o Espiritismopor meio digital tambm so nos-sos clientes.

    Reformador: Qual sua avaliaodos DVDs recentes, que lanou, so-bre Chico Xavier?Oceano: Envolvo-me emocio-nalmente como esprita e comopesquisador. Precisamos trans-mitir para as futuras geraesque fomos contemporneos deChico Xavier, que testemunha-mos sua humildade e grandiosi-dade como homem e como m-dium esprita.

    Reformador: Para o Centenriode Chico Xavier surgiro outrosDVDs?

    11Abr i l 2009 Reformador 112299

    O C E A N O VI E I R A D E ME LOEntrevista

    Uso de DVDs para aDifuso do Espiritismo

    Oceano Vieira de Melo pesquisador e documentarista esprita, responsvel por disponibilizar o Espiritismo em DVDs, tais como Saulo Gomes entrevista

    Chico Xavier e Pinga-Fogo, produzir e dirigir os filmes Chico Xavier O GrandeMdium Esprita, Eurpedes Barsanulfo Educador e Mdium e

    Divaldo Franco Humanista e Mdium Esprita. Relata preparativospara o Centenrio de Chico Xavier

  • Oceano: Sim, junto com a FEB esta-mos produzindo um documentriosobre o Centenrio de Chico Xavier.Tambm estamos restaurando asgravaes em udio que deram ori-gem aos livros Instrues Psicofnicase Vozes do Grande Alm, realizadasem Pedro Leopoldo, em 1954 e 1955,pelo Sr.Arnaldo Rocha. Iremos ouviras vozes de Emmanuel, Andr Luiz,Cairbar Schutel, Batura, Dias daCruz e outros Espritos, atravs dapsicofonia de Chico Xavier. Ser umDVD com vdeo e um CD com u-dio de 35 mensagens com duraode cerca de cinco horas.

    At abril de 2010, teremos tam-bm um filme sobre o Centro Es-prita Luiz Gonzaga, de Pedro Leo-poldo, fundado por Chico Xavier eseu irmo Jos, e a Escola Jesus Cris-to, em Campos, no Estado do Rio deJaneiro, fundada por Clvis Tavares.

    Reformador: Que sugestes tem pa-ra o melhor aproveitamento dosDVDs espritas nos centros espritas?Oceano: Recomendamos que elessejam exibidos como documentoseducativos e histricos, pertencen-tes ao Espiritismo e Humanidade.

    Reformador: Qual a sua mensa-gem para os leitores de Refor-mador?Oceano: Que leiam e estudem mais

    as obras da Codificao Espritae as de Emmanuel, Andr Luiz,Humberto de Campos/Irmo X eYvonne A. Pereira.

    12 Reformador Abr i l 2009 113300

    Vim me banhar no eflvio de bondadeque no teu corao se faz essncia;quero aprender contigo a caridadeque espalhas a mos cheias na existncia.

    Teu mandato nos prova que h verdade em tuas mos, to plenas de clemncia;que a vida alm da morte claridadebrilhando na sublime quintessncia.

    Beijo-te a face quase como um sonho! Neste pequeno verso que componho deixo-te o corao, minha ternura.

    Amenizando a dor, a desventuraque o mundo sofre sem poder cont-las tu brilhars, um dia, entre as estrelas!

    Visitando Chico XavierTherezinha Radetic

    (Este soneto foi escrito quando de uma visita nossa ao querido mdium.)

  • 13Abr i l 2009 Reformador 113311

    Presena de Chico Xavier

    O Projeto Centenrio de Chico Xavier abrangevrias aes e tem por objetivo enfatizar a obra deChico Xavier e contribuir com a preservao de suamemria.

    Como aes deste Projeto esto previstos eventos epromoes: a) Realizar o 3o Congresso Esprita Bra-sileiro, em Braslia, conforme deciso da Reunio doCFN de novembro de 2007, destacando o Centenrio deNascimento de Chico Xavier; b) Providenciar uma edi-o especial comemorativa da primeira obra psicogrfi-ca de Chico Xavier Parnaso de Alm-Tmulo , paralanamento no 3o Congresso Esprita Brasileiro; c)Preparar a elaborao de DVD e de livro que sintetizemas obras e as aes de Chico Xavier, para lanamento no3o Congresso Esprita Brasileiro; d) Providenciar o lan-amento de Selo Personalizado comemorativo, paralanamento no 3o Congresso Esprita Brasileiro; e) Des-tacar nas edies de Reformador, durante o ano de 2010,as obras psicogrficas de Chico Xavier e lanar umaEdio Especial desta revista em abril de 2010; f) Elabo-rar e disponibilizar s Entidades Federativas Estaduaisum encarte sobre o Centenrio de Chico Xavier paraeventual circulao na imprensa esprita e leiga na 1a

    semana de abril de 2010; g) Estimular a realizao pelasEntidades Federativas Estaduais de eventos regionais eestaduais para ampliar a divulgao da obra de ChicoXavier e, consequentemente, da Doutrina Esprita.

    Os preparativos para a realizao do 3o CongressoEsprita Brasileiro j se encontram em andamento. Oevento est previsto para os dias 16, 17 e 18 de abrilde 2010, nas dependncias do Centro de ConvenesDr. Ulysses Guimares, em Braslia.

    O programa desse Congresso estar subordinadoaos seguintes objetivos: dar foco nas obras de ChicoXavier; destacar a influncia da obra psicogrfica deChico Xavier no Movimento Esprita Brasileiro e noMundo; destacar as obras de Emmanuel e de AndrLuiz; destacar o exemplo de vida de Chico Xavier;respeitar o direito privacidade pessoal e espiritualde Chico Xavier. Ter como tema central: Chico Xa-vier: Mediunidade e Caridade com Jesus e Kardec.

    O CFN tambm j aprovou um rol de temas parao programa do Congresso: Chico Xavier Mediu-nidade e Caridade com Jesus e Kardec; A interpreta-o do Evangelho nas obras de Emmanuel; Orien-taes para a infncia e para a juventude nas obraspsicogrficas de Chico Xavier; Proposta educacionalnas obras psicogrficas de Chico Xavier; MomentoLrico com Base em Parnaso de Alm-Tmulo; Coe-rncia entre as obras da Codificao e de Chico Xa-vier; Atualidade da obra psicogrfica de Chico Xavier Antecipao de informaes cientficas; AndrLuiz e o Mundo Espiritual; Contribuies s provas da imortalidade da alma; A vida moral nas obras deEmmanuel; Amor Fonte de vida; As cartas familia-res; Compreenso da Justia Divina Consolo e es-perana; Misso do Brasil na tica de livro de Hum-berto de Campos; Bezerra de Menezes, Chico Xaviere o trabalho de unificao; Coerncia entre a vida e aobra de Chico Xavier; Contribuio das obras deChico Xavier para a Doutrina e para o MovimentoEsprita; O Livro Esprita Orientao para umaNova Era; Apresentao de nmeros artsticos combase na obra psicogrfica de Chico Xavier.

    3o Congresso Esprita Brasileirofocalizar obra de Chico XavierO Conselho Federativo Nacional da FEB aprovou, em Reunio ocorrida em novembro de 2008, o Projeto Centenrio de Chico Xavier, que inclui a

    realizao do 3o Congresso Esprita Brasileiro em 2010

  • 14 Reformador Abr i l 2009 113322

    ouco antes de se deitar, ass no escritrio, em suacasa, Onofre lia O Evange-

    lho segundo o Espiritismo.No captulo XI, item 4, deteve-

    -se em oportunos comentrios deAllan Kardec:

    Amar o prximo como a si

    mesmo: fazer pelos outros o

    que quereramos que os outros

    fizessem por ns, a expresso

    mais completa da caridade,

    porque resume todos os deveres

    do homem para com o prxi-

    mo. No podemos encontrar

    guia mais seguro, a tal respeito,

    que tomar para padro, do que

    devemos fazer aos outros, aqui-

    lo que para ns desejamos.

    Interrompendo a leitura, Ono-fre ps-se a imaginar como a Hu-manidade seria feliz se a Lei deAmor fosse plenamente cumprida.

    A Terra seria promovida a paraso.

    Bem, coletivamente os homensestavam longe dessa meta maravi-lhosa, mas nada o impediria deatingi-la no plano individual. De-cidiu enfrentar o desafio de amar oprximo como a si mesmo e fazerpor ele o que gostaria de receber.

    No quarto, beijou, carinhoso, aesposa j acomodada no leito, di-zendo que a amava e desejando--lhe um sono tranquilo.

    Joana endereou-lhe um olhardesconfiado.

    O que teria aprontado o mari-do? Aquela manifestao inusita-da de carinho estava cheirando ador de conscincia

    H algo que voc queira di-zer-me, Onofre?

    No, querida, apenas exprimimeu desejo de que voc sonhecom os anjos.

    Querida! espantou-se a esposa,ante a sbita afetividade do marido.

    No obstante, aconchegou-se aele e dormiu feliz.

    Pela manh, na sala de refeies,Joana avisou:

    Espere um pouco, meu bem.A Maria est atrasada. Irei pada-ria buscar os pes.

    Ele se adiantou: Pode deixar, querida. Eu vou

    rapidinho...Joana conteve o impulso de co-

    locar a mo em sua testa, a ver seestava com febre. No estava ha-bituada colaborao do maridonos contratempos do cotidiano.

    Ganhando a rua, Onofre foiabordado por um homem de apa-rncia humilde, expresso sofrida.

    Por favor, senhorCortou a conversa. Sinto muito. Estou com pressa!Mal dera alguns passos e logo a

    conscincia cobrou o cumprimen-to de sua resoluo na vspera:

    O que gostaria que fizessem porele se tentasse falar com algum?

    Voltou e disps-se a ouvir o ho-mem que o abordara.

    Perdoe incomod-lo. ver-gonhoso, bem sei! Nunca acon-teceu comigo, mas minha situa-o desesperadora! Estou de-sempregado h um ano. Tenhoquatro filhos pequenos, a esposaest doente e no h o que co-mer em casa

    Com a sensibilidade dos que secompadecem e a lucidez dos quesintonizam com bons Espritos,Onofre convenceu-se de que eleestava falando a verdade.

    Acompanhe-me, por favor.Na padaria, providenciou para

    ele pes, margarina, queijo e al-guns litros de leite.

    O pobre homem, em lgrimas,agradeceu:

    Deus lhe pague! O senhor sal-vou-me a vida! As pessoas me tra-

    No paraso jP

    RI C H A R D SI M O N E T T I

  • tam como se eu fosse um bandi-do. Ando desesperado! Cheguei apensar em me matar! Agora sintoque nem tudo est perdido. Hgente boa neste mundo.

    Conhecedor do assunto, Ono-fre preocupou-se com aquela men-o ao suicdio.

    Pelo amor de Deus, jamaispermita que essa ideia malfazeja oenvolva! saltar da frigideira parao fogo

    Passou-lhe algumas informa-es sobre as consequncias fu-nestas do suicdio e lhe deu o en-dereo do Centro Esprita que fre-quentava, prometendo que ali te-ria o apoio de que carecia.

    De retorno ao lar, Joana estra-nhou sua demora.

    que encontrei um infeliz apedir auxlio. Est desempregado,famlia numerosa sua situao desesperadora. Levei-o at a pa-daria e lhe entreguei provises.O pior que andou pensando emsuicdio Incrvel como a genteno tem ideia do que se passa nacabea das pessoas!

    Conversou com ele? Sim, j o orientei e lhe dei o

    endereo do Centro.Pouco depois, Onofre partia.

    Joana ficou a cismar:Decididamente, o marido es-

    tava mudado. Parecia outra pes-soa Certamente algum bicho omordera. Abenoado bicho, queinjetara solidariedade em suasveias!

    No trnsito, um motorista im-prudente cortou-lhe a frente.

    Reflexo rpido, Onofre brecouincontinenti, enquanto o autor daproeza o agredia com xingamen-tos, como se o erro fosse dele.

    Sentiu o sangue subir cabeae teve ganas de retrucar no mes-mo diapaso, com meia dzia depalavres e o impertinente v pa-ra o diabo que o carregue!.

    Antes que o fizesse, veio a lem-brana:

    Amar o prximo como a si

    mesmo: fazer pelos outros o

    que quereramos que os outros

    fizessem por ns.

    A recomendao de Jesus re-frescou-lhe o crebro, neutrali-zando o impulso agressivo.

    E se o motorista imprudente esti-vesse com grave problema a esquen-tar seus miolos, perturbando-o?Talvez um familiar gravemente en-fermo De qualquer forma, eraum irmo comprometido naquelemomento com a agressividade.

    Melhor orar do que amaldi-oar, considerou sabiamente.

    Ligando o rdio, ouviu o noti-cirio. Crime tenebroso mobilizavaa opinio popular. Uma multidocercava a residncia do assassino! Fa-lava-se em linchamento! Ele deveriapagar com a vida por sua crueldade!

    E seria bem merecido! con-cordou Onofre.

    No entanto, a histria de colo-car-se no lugar do outro, comoexemplificara Jesus, o fez pensar.

    O Mestre situava aqueles que secomprometem com o mal como

    doentes que precisam de trata-mento, no de execrao.

    E se o criminoso fosse um alie-nado, sem governo sobre suasaes? E se estivesse sob grave in-fluncia obsessiva?

    Em qualquer dessas situaes,seria digno de piedade.

    Modificando a reao inicial,orou pela vtima e pelo algoz.

    To logo entrou em sua empresa,o chefe da contabilidade veio solici-tar-lhe a demisso de uma secretria.

    Argumentou que ela j fora boafuncionria, mas andava displi-cente e faltando muito.

    Se assim comeouOnofre, concordando com osubordinado.

    A frase ficou em suspenso, an-te a lembrana de que era precisocolocar-se no lugar do outro.

    Repetiu, reticente: Se assim Podemos dispens-la?vamos conversar com ela.O subordinado espantou-se. Conversar para qu, chefe? J

    lhe disse que caso para demisso! funcionria antiga. Vamos

    ver o que est acontecendo.Em breves momentos, ela en-

    trava na sala.Em lgrimas, explicou que

    atravessava um momento muitodifcil. O marido a abandonaracom dois filhos. Sumira no mun-do. A me, viva, paciente termi-nal, necessitava de seus cuidados.Reconhecia que seus problemasestavam afetando a atividade pro-fissional e pedia um pouco de

    15Abr i l 2009 Reformador 113333

  • pacincia aos seus superiores.O emprego lhe era indispensvel.

    Compadecido, Onofre provi-denciou para que ela entrasse emfrias, com a promessa de que teriatoda a assistncia da empresa, aju-dando-a em suas dificuldades.

    Aps o expediente, nosso heridirigia o automvel, de retorno aolar. O trnsito estava terrvel, ex-tremamente moroso.

    Onofre, que costumava irritar-senaquela situao, surpreendente-mente sentia-se calmo. Ligou o rdio.

    Algum cantava a msica famosade Tom Jobim e Vincius de Morais:

    Vai tua vida

    Teu caminho de paz e amor

    A tua vida uma linda cano

    [de amor

    Abre os teus braos e canta

    A ltima esperana

    A esperana divina de amar em

    [paz

    Se todos fossem iguais a voc

    Que maravilha viver

    Onofre enxugou os olhos,emocionado.

    Ah! se todos fossem iguais aJesus, no na grandeza espiritual,que longe dele estamos, masiguais na vivncia do amor maior

    que ensinou e exemplificou cui-dar do prximo.

    Lembrou os ltimos aconteci-mentos.

    Reconheceu que tivera um diamaravilhoso, no pela ausnciade problemas, mas porque ele re-solvera o problema maior suainadequao aos valores do Evan-gelho.

    Uma caracterstica do Espri-to superior a sua capacidade desntese e a clareza de suas ideias.

    As escolas psicolgicas devas-sam a personalidade humana, emcomplicadas lucubraes, bus-cando traar caminhos para a curade transtornos da emoo e dopensamento, que infelicitam ospacientes...

    A psiquiatria prescreve fortesmedicamentos, que interferem naqumica cerebral para neutralizardisfunes que produzem dese-quilbrios e perturbaes...

    Toneladas de tinta so usadaspara a publicao de incontveismanuais de autoajuda, em queos autores traam extensasorientaes, que pretendemsejam originais e decisivas pa-ra ensinar as pessoas a seremfelizes.

    No entanto, Jesus, com umanica lio, em poucas pala-vras, indica-nos o caminhopara o equilbrio, a cura denossos males, a conquistada felicidade: simplesmen-te fazer ao semelhante to-do o bem que desejaramos

    receber dele.

    16 Reformador Abr i l 2009 113344

  • as questes 481 a 483 de OLivro dos Espritos, Kardectratou de um tema pouco

    estudado entre os espritas: osconvulsionrios. Para entend--lo melhor, preciso conhecer umpouco da histria do dicono1

    jansenista Franois Pris, cujo t-mulo era visitado por peregrinosque ali eram tomados por convul-ses, da o nome convulsion-rios. Os jansenistas eram adeptosda doutrina religiosa sobre a gra-a, o livre-arbtrio e a predestina-o, muito difundida no seio docatolicismo, na Frana, entre ossculos XVII e XVIII, seguidoresdo bispo e telogo catlico ho-lands Cornlio Jansnio (1585--1638). Aos mais curiosos, reco-mendamos a leitura do excelenteartigo sob o ttulo Os convulsio-

    nrios e sua histria, publicadona revista Reformador,2 de outu-bro de 1985, isso porque, no pre-sente trabalho, daremos nfase aoutros aspectos singulares desper-tados por essa mesma questo.

    Na Revista Esprita,3 Kardec re-produz um fato que se tornousmbolo do jansenismo, o qualauxilia a compreender melhor aorigem dos convulsionrios:

    Notcia Franois Pris, famo-

    so dicono de Paris, morto em

    1727, aos 37 anos, era o filho

    mais velho de um conselheiro

    do Parlamento, a quem natu-

    ralmente devia suceder no car-

    go. Preferiu, no entanto, abra-

    ar a carreira eclesistica. Aps

    a morte do pai, deixou os bens

    para o irmo e, durante algum

    tempo, ensinou catecismo na

    parquia de So Cosme, encar-

    regando-se da direo dos clri-

    gos e fazendo-lhes confern-

    cias. O Cardeal de Noailles, a

    cuja causa estava ligado, quis

    nome-lo cura dessa parquia,

    mas sobreveio um obstculo

    imprevisto. O abade Pris con-

    sagrou-se inteiramente ao re-

    tiro. Depois de ter experimen-

    tado diversos eremitrios, con-

    finou-se numa casa do subr-

    bio de So Marcelo. L se en-

    tregou sem reserva prece, s

    prticas mais rigorosas da peni-

    tncia e ao trabalho manual. Fa-

    zia meias para os pobres, que

    considerava como seus irmos;

    morreu nesse asilo.

    [...]

    Tendo seu irmo mandado eri-

    gir-lhe um tmulo no pequeno

    cemitrio de Saint-Mdard, os

    Convulsionrios:religio, fanatismoou charlatanismo?

    NCH R I S T I A N O TO RC H I

    1Eclesistico abaixo dos sacerdotes, quetem por funo ajudar o celebrante noaltar.

    2SOUZA, Edemilton Cabral de. Op.cit., n.1.879, p. 21(305)-23(307), out. 1985.

    3KARDEC, Allan. Os convulsionrios deSaint-Mdard. Op. cit., ano 2, p. 455-457,nov. 1859. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

    17Abr i l 2009 Reformador 113355

  • pobres socorridos pelo piedo-

    so dicono, alguns ricos que ele

    havia edificado e algumas mu-

    lheres que tinha instrudo pa-

    ra l se dirigiam, a fim de fazer

    preces. Houve curas que parece-

    ram maravilhosas e convulses

    que foram consideradas perigosas

    e ridculas. A autoridade4 viu-se

    enfim obrigada a fazer cessar

    esse espetculo, determinando o

    fechamento do cemitrio no dia

    27 de janeiro de 1732. Ento os

    mesmos entusiastas foram pro-

    vocar suas convulses em casas

    particulares. Na opinio de mui-

    ta gente, o tmulo do dicono

    Pris foi o tmulo do jansenis-

    mo. Mas algumas pessoas julga-

    ram ver o dedo de Deus, tor-

    nando-se mais ligadas a uma

    seita capaz de produzir tais ma-

    ravilhas. H diferentes histrias

    desse dicono, do qual talvez

    jamais teriam falado se no o

    houvessem querido transformar

    num taumaturgo.5

    Entre os fenmenos estranhos

    apresentados pelos Convulsio-

    nrios de Saint-Mdard citam-

    -se: a faculdade de resistir a gol-

    pes to terrveis que os corpos

    deveriam ficar triturados; a de

    falar lnguas ignoradas ou es-

    quecidas; um desdobramento

    extraordinrio da inteligncia:

    os mais ignorantes entre eles

    improvisaram discursos sobre a

    graa, os males da igreja, o fim

    do mundo etc.; a faculdade de

    ler o pensamento; postos em

    contato com os doentes, apre-

    sentavam dores no mesmo local

    daqueles que os consultavam;

    [...]

    A insensibilidade fsica produ-

    zida pelo xtase deu lugar a ce-

    nas atrozes. A loucura chegou a

    ponto de realmente crucifica-

    rem vtimas infelizes, a fazer-

    -lhes sofrer todos os detalhes da

    Paixo do Cristo. E estas vti-

    mas [...] solicitavam as terrveis

    torturas, designadas entre os

    Convulsionrios pelo nome de

    grande socorro.

    A cura dos doentes se operava

    pelo simples toque da pedra tu-

    mular ou pela poeira que en-

    contravam sua volta e que to-

    mavam com alguma bebida ou

    aplicavam sobre as lceras. Bas-

    tante numerosas, estas curas fo-

    ram atestadas por milhares de

    testemunhas, muitas das quais

    so homens de cincia, no fun-

    do incrdulos, que registraram

    os fatos sem saber a que os atri-

    buir. (Grifo nosso.)

    Enfim, convulsionrios era onome pelo qual eram conhecidas,no passado, as pessoas que se en-tregavam a certos tipos de prti-cas, por efeito do magnetismo, daexaltao religiosa ou do pensa-mento. Os convulsionrios da-vam-se a histerias, que degenera-vam em crueldades e indecncia,chegando muitos deles a se auto-flagelarem em espetculos pbli-cos, em meio aos quais eclodiam,tambm, certos fenmenos, entre

    eles a faculdade de ler pensamen-tos e a insensibilidade dor. Co-mo eram Espritos de pouca ele-vao aqueles que concorriam pa-ra tais fatos, as pessoas que a elesse entregavam, invigilantes e per-missivas, favoreciam o contgiocoletivo no seio dos que eramsimpticos a tais ideias, isto , quese encontravam na mesma sin-tonia.

    Alm dos convulsionrios deSaint-Mdard, Kardec menciona,na Revista Esprita6 de janeiro de1868, um artigo publicado emMonde Illustr, de 19/10/1867,sobre os rabes da tribo dos As-saouas, seita religiosa espalhadana frica, cujo articulista teste-munhou, na Arglia, diversoseventos, em que os adeptos, sub-metidos s mais cruis mortifica-es corporais, a tudo suporta-vam sem sentir qualquer dor.

    Em outro relato jornalstico(Petit Journal, de 30/9/1867),mencionado no mesmo nmeroda Revista Esprita, so registradosvrios casos, entre eles os dos en-golidores de brasas acesas, os doscomedores de vidro e de serpen-tes, fenmenos esses produzidospelos integrantes da companhiaAssoua (corpo de bal muul-mano), que se apresentou em Pa-ris, no teatro do Campo de Marte,e depois na sala da arena atlticada rua Le Peletier, espetculo quetambm recebeu a cobertura doMoniteur, de 29/7/1867. Graas

    18 Reformador Abr i l 2009 113366

    4Representante da administrao do Ce-mitrio de Saint-Mdard, em Paris.

    5Taumaturgo: pessoa a quem se atribui aautoria de milagres.

    6KARDEC, Allan. Os assaouas. Op. cit.,ano 11, p. 37-43, jan. 1868. 2. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2006.

  • enorme repercusso, os coadju-vantes desses fenmenos ficaramconhecidos como os convulsio-nrios da rua Le Peletier.

    Ressalvando a questo culturale outras motivaes aqui noabordadas, relativamente a essescostumes, creio no haver exageroalgum em classificar estas e outrascondutas extremistas no rol dofanatismo que, sem dvida, algodeplorvel e leva as pessoas, mui-tas vezes, a assumirem comporta-mento mrbido.

    O fanatismo existe em todas asreligies e at fora delas, inclusi-ve no esporte e na poltica. Detriste lembrana o episdioocorrido na Guiana, em 1978,quando, induzidas por um fan-tico, cerca de 900 pessoas suici-daram-se, estarrecendo o mundo.Em busca de soluo mgica dos

    problemas, muitos indivduossujeitam-se a ser enganados, nav crena de que as leis divinaspodem ser revogadas ao seu bel--capricho.

    Quando o homem se conduzcom fanatismo e com fins escu-sos ou fteis, atrai a presena deEspritos inferiores, que podemgerar lamentveis desvirtuamen-tos, abrindo brechas ao charlata-nismo, que consiste na explora-o da credulidade pblica, pormeio de engodos e mentiras, cir-cunstncia que contribui muitopara fomentar desequilbrios.

    O charlatanismo sempre exis-tiu, no s nas religies, comotambm em todos os segmen-tos da sociedade, inclusive nosmeios cientficos, mas nem porisso devemos tachar todos os fe-nmenos de fraudulentos pelo

    simples fato de que algumabusou das coisas mais respeit-veis. Kardec lembra que o desin-teresse absoluto, na prtica dobem, a maior garantia contra ocharlatanismo, e recomenda, en-ftico, aos espritas:

    92. Entre os adeptos do Espiri-

    tismo, encontram-se entusias-

    tas e exaltados, como em todas

    as coisas; so, em geral, os pio-

    res propagadores, porque a fa-

    cilidade com que, sem exame,

    aceitam tudo, desperta des-

    confiana.

    O esprita esclarecido repele

    esse entusiasmo cego, obser-

    va com frieza e calma, e, as-

    sim, evita ser vtima de iluses

    e mistificaes. parte toda a

    questo da boa-f, o observa-

    dor novato deve, antes de tudo,

    19Abr i l 2009 Reformador 113377

  • atender gravidade do carter

    daqueles a quem se dirige.7

    Apesar dos aspectos bizarros dosfenmenos relatados, eles permi-tem tirar concluses interessantessobre a independncia entre o esp-rito e a matria, como, por exem-plo, nos casos da insensibilidade dor.8 Muitos cristos, levados ao

    martrio, nos circos romanos,suportaram heroicamente as tortu-ras fsicas e psicolgicas, porque obrando anestsico das potnciasdivinas lhes balsamizou o coraodorido e dilacerado no tormentosomomento.9 O Espiritismo ofereceexplicaes racionais que retiramde tais eventos a crena no maravi-lhoso e no milagre, mostrando-oscomo fatos regidos por leis natu-

    rais, muitas vezes desconhecidasdas cincias ordinrias.10

    A f cega cada vez mais vemcedendo espao f raciocinada,que oferece ensanchas de culti-varmos os bons sentimentos pormeio do estudo, do discernimentoe da prtica do bem, que nos pre-servam da exposio ao ridculo edos extremismos que nos alheiamda realidade, do bom senso e doequilbrio.

    20 Reformador Abr i l 2009 113388

    9XAVIER, Francisco C. H dois mil anos.Pelo Esprito Emmanuel. 4. ed. especial.2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 2,cap. 5, p. 320.

    7KARDEC, Allan. O que o espiritismo.55. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 2,item Charlatanismo.

    8Ver, especificamente, a nota de Kardec questo 483 de O livro dos espritos. Ed. FEB.

    10KARDEC, Allan. A gnese. 52. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2008. Cap. 14, item 29.

    Vencendo a adversidade,Jesus foi de prlio em prlioE de cidade em cidade Pregando em fuga o Evangelho.

    Desde o primeiro rebateContra a misso que se eleva,Kardec sofre o combateDos que rastejam na treva.

    Na rea da Educao,Ambos agem com proveito O Cristo, sem conveno; Kardec, sem preconceito.

    Ao semear as virtudesDo Reino Espiritual Jesus reclama atitudes; Kardec, aprumo mental.

    Levando a todo momentoReconforto multido Jesus vibra o Sentimento; Kardec esperta a Razo.

    Entre dramas e conflitos,Trazendo conceito novo Jesus consola os aflitos; Kardec esclarece o povo.

    Revelando o vir-a-serQue rege a humana ascenso Jesus fala em Renascer; Kardec, em Reencarnao.

    No campo srio de estudoDa obra codificada Kardec e Jesus so tudo compreenso almejada.

    E sob o ureo fulgorQue desce da Eternidade Jesus convida ao AmorE Kardec, Caridade.

    Por fim, para quem se importaEm abrir da mente o leque Jesus Cristo a Porta; A Chave Allan Kardec.

    Fonte de consulta: Pgina O Mestre e o Apstolo, de Emmanuel, psicografada por Francisco Cndido Xavier. In: Opinioesprita, 9. ed. CEC. p. 23.

    Mrio Frigri

    Eu vos enviarei o Consolador e ele vosconduzir a toda a Verdade. JESUS.

    Jesus e Kardec

  • Hegemonia de Jesus

    21Abr i l 2009 Reformador 113399

    Esf lorando o EvangelhoPelo Esprito Emmanuel

    Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos

    digo que, antes que Abrao existisse, eu sou.

    (JOO, 8:58.)

    Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida 28. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 133.

    impossvel localizar o Cristo na Histria, maneira de qualquer personali-

    dade humana.

    A divina revelao de que foi Emissrio Excelso e o harmonioso conjun-

    to de seus exemplos e ensinos falam mais alto que a mensagem instvel dos mais

    elevados filsofos que visitaram o mundo.

    Antes de Abrao, ou precedendo os grandes vultos da sabedoria e do amor na

    Histria mundial, o Cristo j era o luminoso centro das realizaes humanas. De

    sua misericrdia partiram os missionrios da luz que, lanados ao movimento da

    evoluo terrestre, cumpriram, mais ou menos bem, a tarefa redentora que lhes

    competia entre as criaturas, antecedendo as eternas edificaes do Evangelho.

    A localizao histrica de Jesus recorda a presena pessoal do Senhor da Vinha.

    O Enviado de Deus, o Tutor Amoroso e Sbio, veio abrir caminhos novos e estabe-

    lecer a luta salvadora para que os homens reconheam a condio de eternidade

    que lhes prpria.

    Os filsofos e amigos ilustres da Humanidade falaram s criaturas, revelando em

    si uma luz refratada, como a do satlite que ilumina as noites terrenas; os apelos

    desses embaixadores dignos e esclarecidos so formosos e edificantes; todavia,

    nunca se furtam mescla de sombras.

    A vinda do Cristo, porm, diversa. Em sua Presena Divina temos a fonte da

    verdade positiva, o sol que resplandece.

  • 1. Introduo

    O lcool, do rabe al-kuhl (es-sncia) uma das drogas mais an-tigas da Humanidade. Inicialmen-te se acreditava que teria surgidoem 6000 a.C., no Egito, onde fo-ram encontradas runas de umafbrica de cerveja. Porm, recen-temente, pesquisadores descobri-ram vestgios de uva apodrecidaem locais habitados por homenspr-histricos, a qual tinha em tor-no de 5% de teor alcolico, de-monstrando que o seu consumo ancestral. No incio, a utilizaode bebidas alcolicas pelas socie-dades estava muito ligada prti-ca religiosa, pois acreditava-se queelas facilitavam o contato com osdeuses. Ainda hoje, de forma dife-renciada, o lcool serve de smbo-lo para muitas religies. Outrosentido para o uso de alcolicosera a sua utilizao tanto como

    dissipador de preocupaes e dorquanto como elemento abortivo.

    Com a Revoluo Industrial, fo-ram desenvolvidas bebidas destila-das como o usque (usquebaugh gua da vida), as quais possuem umteor extremamente alto, gerandoinmeros malefcios ao corpo hu-mano. Acompanhando a Revolu-o Industrial, as bebidas fermenta-das tambm passaram a conter umgrau etlico maior, aumentando onmero de dependentes em lcool.

    O alcoolismo decorre do uso pro-longado, geralmente entre 20 e 25anos, de substncias alcolicas. Nes-ta fase, o hbito de consumir a bebi-da j est relacionado ao ritmo devida do indivduo, sendo muito dif-cil convenc-lo a parar de ingeri-la.

    2. Efeitos no crebro

    Acreditar que o lcool so-mente um estimulante um gran-

    de engano. Ele, num primeiro mo-mento, ao agir diretamente no lo-bo frontal do crebro, desinibe oindivduo, modificando sobrema-neira seu comportamento social,mas sua principal caracterstica provocar a depresso. Seus efei-tos podem ser observados em trsfases:

    Na primeira, o indivduo, viade regra, perde seu senso moral,seus medos e inibies, passandoa se comportar conforme pendo-res ntimos que estavam reprimi-dos por medo das Leis do Estadoe pelos costumes vigentes no gru-po social em que se relaciona. Setinha comportamento tmido, pas-sa a se soltar, principalmente emrelao ao sexo oposto. Se eraquieto, torna-se loquaz.

    Na segunda, podem ocorrerfalta de coordenao motora, des-controle dos reflexos, descontro-le emocional e agressividade. Isto

    Os efeitos do lcoolna sociedade e noEsprito imortal

    22 Reformador Abr i l 2009 114400

    RO B E RTO CA R LO S FO N S E C A

    Capa

  • explica a mudana brusca decomportamento, visualizada ge-ralmente quando ocorrem atos deviolncia aps o consumo de be-bidas alcolicas. Muitos pais defamlia, que fazem uso de alcoli-cos, ao retornarem ao lar acabampor extravasar seus pendores deviolncia na esposa e nos filhos.

    A terceira caracterizada peladepresso, condio em que o in-divduo reclama de tudo e de to-dos, da vida, do salrio, e normal-mente extravasa suas angstiaspor meio de lgrimas. Ocorremtambm problemas digestivos co-mo: vmitos, diarreias, dores decabea, sono, mal-estar geral, co-ma etc. Esta fase mais perigo-sa, pois a depresso alcolica po-de levar ao suicdio, principalmen-te em alcoolistas que, ao retorna-rem realidade, percebem queno conseguiram ficar sem a bebi-da. Este sentimento de fracasso agente impulsionador do compor-tamento suicida.

    3. A dependncia

    Denomina-se alcoolismo a de-pendncia bebida alcolica, ca-racterizada pelo consumo com-pulsivo de lcool, com progressivatolerncia intoxicao produzi-da pela droga e desenvolvimento desintomas de abstinncia, quan-do o consumo interrompido. Ossintomas mais comuns no caso deuma crise de abstinncia so su-dorese, acelerao cardaca, ins-nia, nuseas e vmitos. Num esta-do mais avanado, ela se caracte-riza como delirium tremens, cau-

    sando confuso mental, alucina-es e convulses.

    Inicialmente, o alcoolista eradiscriminado, sendo tratado co-mo um ser de personalidade fra-ca. Mas, com o avano da Cinciae dos tratamentos, chegou-se concluso de que o alcoolismo uma doena, potencialmente for-te e destruidora do carter do in-divduo, que faz de tudo para tersatisfeita a sua vontade de beber:mente, rouba, trai, seduz.

    O alcoolismo gera deterioraopsicolgica e fsica. O indivduo,aos poucos, pela perda dos neur-nios, tem sua capacidade mentalreduzida, descuida-se da sua apre-sentao, torna-se impontual etem a concentrao nas atividadescorriqueiras limitada.

    Para esta doena no h cura, oque existe um tratamento inin-terrupto, a fim de que jamais ocor-ra novamente o consumo, sob ris-co de retornar todo o prazer em

    sorver os alcolicos, colocandoa perder todo o tratamento j realizado.

    4. O lcool e asociedade

    Impulsionado pelos costumessociais, pela tradio das festase comemoraes mltiplas, o ho-mem no se d conta de que olcool um dos maiores males queexistem na face da Terra. agenteimpulsionador da violncia, pos-sui inmeras doenas atreladas aoseu uso abusivo, e est entranhadoem quase todas as ocasies em queum grupo humano se rene, comose fosse impossvel conversar, tro-car ideias, tomar decises na vidaparticular ou em sociedade, semestar com um copo na mo.

    Aliado ao baixo custo de pro-duo, tornando-o uma drogaacessvel a qualquer grupo social,e s polticas de governo pouco

    23Abr i l 2009 Reformador 114411

    Fonte: Palestra realizada pela Fundao Universidade Federal doRio Grande Centro Regional de Estudos, Recuperao e

    Preveno de Dependentes Qumicos

    Capa

  • eficazes no combate ao seu consu-mo indiscriminado, ele se tornaum verdadeiro destruidor de vi-das, de carreiras e da sociedade.

    5. Consideraes

    Se o indivduo bebe uma vezpor semana, um bebedor social;se de trs a quatro vezes, umbebedor excessivo; mas se bebe to-dos os dias, considerado bebe-dor dependente. Nem todo bebedorsocial vai ser um bebedor depen-dente, porm todo dependente,um dia, j foi bebedor social. Nafase da dependncia, ele dificil-mente sair sem ajuda; precisosolicitar auxlio a parentes, ami-gos e especialistas.

    A maior dificuldade de se com-bater o uso abusivo de alcolicosest em ser o lcool uma drogasocialmente aceita. A maioria daspessoas tem o seu primeiro con-tato com o lcool dentro do pr-prio lar.

    6. O lcool e o Esprito imortal

    Joanna de ngelis nos alerta queo uso de alcolicos reflete o de-clnio dos valores espirituais dasociedade, sendo aceito como h-bito social. Enfatiza que a vicia-o alcolica inicia-se pelo aperi-tivo inocente, repete-se atravs dohbito social, impe-se aos poucoscomo necessidade e converte-se emdominao absoluta pela depen-dncia. Alerta tambm que a de-sencarnao se d atravs do suic-dio indireto, graas sobrecargadestrutiva que o dependente delcool depe sobre o corpo fsico.1

    Os efeitos do consumo desta subs-tncia transcendem os umbrais damorte, vo alm dos danos causadosao corpo fsico, instrumento de tra-balho da alma reencarnada, que o

    devolve terra aps o desenlace, amorte. Esta substncia deixa in-meras marcas no perisprito e namente do dependente alcolico, quese refletiro na prxima encarnao.

    Da anlise do texto de ManoelP. de Miranda no livro Nas Fron-teiras da Loucura, psicografia deDivaldo P. Franco, podemos con-cluir que a intoxicao alcolicatraz os seguintes prejuzos a quemdela se torna dependente:

    1. Libera toxinas que impreg-nam o perisprito;

    2. Introduz impurezas amorte-cendo as vibraes;

    3. Entorpecimento psquico;4. Insensibilidade ao tratamen-

    to espiritual;5. A dependncia prossegue

    depois da morte;6. As leses do corpo fsico

    refletem-se no corpo espiritual;7. O perisprito imprime as

    leses nas futuras organizaesfisiolgicas;

    24 Reformador Abr i l 2009 114422

    1FRANCO, Divaldo P. Aps a tempestade.Pelo Esprito Joanna de ngelis. 8. ed. Sal-vador (BA): LEAL, 1985. Cap. 9, Viciaoalcolica, p. 49.

    Capa

  • 8. O perisprito plasma no novocorpo fsico a predisposio orgnica.

    Segundo o autor espiritual, oalcoolista se transforma em peri-goso instrumento dos Espritosinferiores, pois alimenta a simesmo e a dois tipos de entidadesque o obsidiam: os viciados, que sealimentam dos alcolicos, e osque se aproveitam da fraqueza doobsidiado.2

    Se pudssemos visualizar umambiente onde se consomem subs-tncias alcolicas, seja um bar, umafesta ou no prprio lar, estaramosa observar diversas entidades es-pirituais viciadas em lcool a sor-verem fluidos alcolicos que saemdas vsceras dos bebedores. Por is-so que muitas vezes a propensopara comear ou continuar a be-ber extremamente forte, pois hum Esprito induzindo-o constan-temente ao consumo, o qual so-mente desta forma consegue tersua vontade saciada, tendo em vis-ta no ser possvel ao Esprito de-sencarnado o consumo direto dasubstncia.

    Neste contexto, Emmanuel nosesclarece que:

    O viciado ao alimentar o vcio

    dessas entidades que a ele se

    apegam, para usufruir das mes-

    mas inalaes inebriantes, atra-

    vs de um processo de simbiose

    em nveis vibratrios, coleta em

    seu prejuzo as impregnaes

    fludicas malficas daqueles,

    deixando o viciado enfermio,

    triste, grosseiro, infeliz, preso

    vontade de entidades inferiores,

    sem o domnio da conscincia

    dos seus verdadeiros desejos.

    Como se manter longedas drogas?

    Cultive um bom ambiente fa-miliar, tenha em seu lar a visuali-zao de um local de aprendizadopara a vivncia no mundo exte-rior, na vida em sociedade. Segun-do Emmanuel, no livro O Conso-lador, questo 110, Ed. FEB,

    [...] a melhor escola [de prepa-

    rao das almas reencarnadas

    na Terra] ainda o lar, onde a

    criatura deve receber as bases

    do sentimento e do carter.

    Se conheces algum que faauso abusivo ou dependente delcool, oferece-lhe ajuda atravsda Casa Esprita, onde ele poderencontrar diversos tratamentos queo conduziro a uma posio favo-rvel ao no prosseguimento douso, tais como: o passe, a guafluidificada, as reunies de desob-

    sesso, as preces e os ensinamentos,com base no Evangelho de Jesus,encaminhando-o a uma instituioespecializada no tratamento dealcoolistas, para que estas terapias,em conjunto, consigam auxili--lo em sua recuperao. Lembran-do sempre que imprescind-vel o acompanhamento mdico,e que o tratamento ambulatorialjamais deve ser interrompido.

    Bibliografia:Inteligncia. Qual o tamanho da sua?

    Revista Superinteressante, ano 22, n. 8,

    ago. 2008. So Paulo: Editora Abril S/A.

    Palestra realizada pela Fundao Univer-

    sidade Federal do Rio Grande Centro

    Regional de Estudos, Recuperao e Pre-

    veno de Dependentes Qumicos.

    SANTOS, Rosa Maria Silvestre. A pre-

    veno de drogas luz da cincia e da

    doutrina esprita Reflexes para jovens

    e educadores. Apostila.

    PRESIDNCIA DA REPBLICA. Secretaria

    Nacional Antidrogas. Preveno ao uso

    indevido de drogas: Curso de Capacita-

    o para Conselheiros Municipais. Bras-

    lia: 2008.

    Sites pesquisados: ;

    .

    VILELLA, Ana Luisa Miranda. Drogas.

    Apostila.

    25Abr i l 2009 Reformador 114433

    2Idem. Nas fronteiras da loucura. Pelo Esp-rito Manoel P. de Miranda. Salvador, BA:LEAL, 1982. Cap. 11, Efeitos das drogas, p. 88.

    Capa

  • m termos biolgicos, sono um estado comum a todosos animais vertebrados, ma-

    nifestado na forma do ciclo so-noviglia que, no homem, acom-panhado por graus variveis deinconscincia e de relativa inativi-dade. Exames especficos (ativida-de eltrica cerebral e muscular, fre-quncia cardaca e respiratria,presso arterial, reaes bioqu-micas) indicam que durante o so-no ocorrem mudanas fisiolgi-cas significativas: queda da tem-peratura corporal, diminuio naproduo da urina, variaes dafrequncia cardaca, respiratria eda presso sangunea, ativao dasfunes nervosas autnomas, au-mento do metabolismo e fluxo san-guneo no crebro, modificaesdas taxas usuais de alguns hor-mnios, como as do HC (horm-nio do crescimento),do ACTH (ade-nocorticortrpico), do HL (hor-mnio luteinizante), do cortisol eda prolactina.1

    Os estudos acadmicos e as pes-quisas cientficas relacionam umasrie de possveis causas que justi-ficariam essas e outras alteraes fi-siolgicas, ocorridas durante osono. A hiptese da existncia da al-ma, atuando em outro nvel de exis-tncia, ainda no cogitada. Con-tudo, a explicao esprita maisvivel entre elas, no h dvida:

    [...] o Esprito jamais est ina-

    tivo. Durante o sono, afrou-

    xam-se os laos que o prendem

    ao corpo e, ento, no precisan-

    do o corpo de sua presena, o

    Esprito se lana no espao e en-

    tra em relao mais direta com

    os outros Espritos.2

    Nesta situao, a alma afasta-sedo seu corpo fsico, mas a ele per-manece ligada por meio do peris-prito, o qual, por sua vez, trans-mite ao veculo somtico as im-presses, boas ou ms, vindas doEsprito, conforme a natureza das

    atividades que ele desenvolve naoutra dimenso. Importa consi-derar que

    [...] o Esprito se acha preso ao

    corpo qual balo cativo ao poste.

    Ora, da mesma forma que as

    sacudidelas do balo abalam o

    poste, a atividade do Esprito rea-

    ge sobre o corpo e pode fatig-lo.3

    Kardec faz outras considera-es, igualmente importantes:

    O corpo repousa durante o so-

    no, mas o Esprito no tem ne-

    cessidade de repousar. Enquan-

    to os sentidos fsicos se acham

    entorpecidos, a alma se des-

    prende parcialmente da matria

    e goza das suas faculdades de

    Esprito. O sono foi dado ao ho-

    mem para reparao das foras

    orgnicas e morais. Enquanto o

    corpo recupera os elementos que

    perdeu por efeito da atividade

    de viglia, o Esprito vai retem-

    26 Reformador Abr i l 2009 114444

    E

    Sono esonhos

    MA RTA AN T U N E S MO U R A

    Em dia com o Espiritismo

  • perar-se entre os outros Es-

    pritos. Naquilo que v, no que

    ouve e nos conselhos que lhe do,

    haure ideias que, ao despertar,

    lhe surgem em estado de intui-

    o. a volta temporria do exi-

    lado sua verdadeira ptria.

    o prisioneiro restitudo mo-

    mentaneamente liberdade.

    Mas, como se d com o presi-

    dirio perverso, acontece que

    nem sempre o Esprito aprovei-

    ta esse momento de liberdade

    para seu adiantamento. Se con-

    serva instintos maus, em vez de

    procurar a companhia de Esp-

    ritos bons, busca a de seus iguais

    e vai visitar os lugares onde

    possa dar livre curso s suas

    inclinaes.4

    O conhecimento atual sobre osmecanismos do sono revelam queeste passa por cinco estgios oufases, durante os quais as ondascerebrais diminuem de intensida-de at atingir um estado de rela-xamento profundo, consequentede ao no hipotlamo impor-tante rea do crebro, ligada aoestado de conscincia, reguladorade processos metablicos e aut-nomos do organismo , e no cr-tex cerebral camada mais exter-na do crebro, rica de neurnios,local de realizao de funescomplexas como memria, aten-o, conscincia, linguagem, per-cepo e pensamento.

    Admite-se que nas quatro fases,conhecidas como no-REM (Ra-pid Eyes Moviment MovimentosOculares Rpidos), h uma transi-o, cada vez mais profunda, entre

    a viglia e o sono. Na quinta fase,designada por REM, ocorre osono, propriamente dito, demons-trado por um relaxamento cor-poral profundo. o perodo noqual, efetivamente, a pessoa sonhae, em geral, recorda o que sonhou.

    O conceito de sonho noapresenta consenso cientfico, masabordagens bem fundamentadas,divulgadas por diferentes escolas.A Medicina, geralmente, determi-na que o sonho uma espcie deimaginao, a ocorrncia de ideias,emoes e sensaes percebidasdurante o sono. A Psicologia ensi-na que a forma do inconscienteexpressar-se. Alguns neurocientis-tas defendem a tese de que o sonhoseria o trnsito de informaes

    necessrias manuteno das fun-es cerebrais e mentais, algumasespecficas, como as relacionadas memria. Tais conceitos no ex-plicam, contudo, sonhos ntidos, l-gicos e objetivos que muitos cien-tistas, artistas, inventores, literatosetc., tiveram. Thomas Edison, porexemplo, sonhou com o fongrafoe outros inventos, antes de cons-tru-los. Durante uma viagem Alemanha, em 1619, Ren Descar-tes (1596-1650) sonha com umsistema filosfico que desenvol-veria, mais tarde, com o nomede Discurso do Mtodo, base dametodologia cientfica dos sculosseguintes.

    O sonho apresenta cunho ms-tico e premonitrio, benfico ou

    27Abr i l 2009 Reformador 114455

  • malfico, para a maioria das tra-dies religiosas. No Velho Tes-tamento, quase todos os profetaspossuam a capacidade de preveracontecimentos por meio dos so-nhos. Podemos ilustrar com ossonhos profticos e as interpreta-es onricas de Daniel (7:1-28),assim como os de Salomo (1Reis,3:5-15). No Novo Testamento,destaca-se a figura de Jos, querecebe avisos do anjo Gabriel:Mateus, 1:18-25 O nascimentode Jesus Cristo; Mateus, 2:13-14 A fuga para o Egito; Mateus, 2: 19--21 A volta do Egito.

    preciso analisar com sensocrtico a interpretao dos sonhosque, corriqueira nas Escrituras enos tempos antigos, tomou dois ru-mos: um banal e supersticioso, mui-to ao gosto na populao, em geral,e outro restrito aos estudiosos e elite intelectual, que o vestiram deroupagem cientfica, em especialcom os trabalhos de dois mdicos:o austraco Sigmund Freud (1856--1939), considerado Pai da Psica-nlise, e o psiquiatra suo CarlGustav Jung (1875-1961).

    Ambos os resultados banali-zao e cientificao do signifi-cado dos sonhos indicam que oassunto no to simples, co-mo pode parecer primeira vista.Entretanto, fica evidente que hdois tipos de sonhos: os incoeren-tes e os coerentes. Os primeirosso utilizados por adivinhos, nemsempre bem intencionados, pro-duzindo logro e explorando aboa-f dos que lhes fazem consul-tas. Os segundos servem de apoioa prticas psiquitricas e psicol-

    gicas. Revelam, tambm, algo mais:a atividade da alma nos momen-tos do sono e a existncia de fa-culdades do Esprito, muitas delasdesconhecidas ou ignoradas, nomeio acadmico e no religioso. Taisatributos do Esprito so faculda-des denominadas emancipao daalma, pelo Espiritismo.

    preciso cautela, desenvolvermais ponderao a respeito dosignificado dos sonhos, seguindoeste conselho dos orientadores daCodificao Esprita:

    Procurai distinguir bem essas

    duas espcies de sonhos, entre

    aqueles de que vos lembrais;

    sem isso, caireis em contradi-

    es e em erros que seriam fu-

    nestos vossa f.5

    Na verdade, sonhar inerente natureza humana. At os bebs,ainda no tero materno, sonham,como o demonstram pesquisascientficas recentes. Todos os indi-vduos sonham, mesmo que no serecordem dos acontecimentos oudos detalhes. Mas, tal como acon-tece com as demais faculdades ps-quicas, a capacidade de sonhar po-de ser aperfeioada e ampliada,pelo exerccio e pelo estudo.

    Refletindo sobre as orientaesque os Espritos transmitiram so-bre o tema, Kardec esclarece:

    Os sonhos so efeito da emanci-

    pao da alma, que se torna mais

    independente pela suspenso da

    vida ativa e de relao. Da uma

    espcie de clarividncia indefi-

    nida, que se estende aos lugares

    mais distantes ou que jamais

    se viu, e algumas vezes at a

    outros mundos. Da tambm

    a lembrana que traz mem-

    ria acontecimentos verificados

    na precedente existncia ou em

    existncias anteriores. A extra-

    vagncia das imagens do que se

    passa ou se passou em mundos

    desconhecidos, entremeados de

    coisas do mundo atual, formam

    esses conjuntos bizarros e con-

    fusos, que parecem no ter sen-

    tido ou ligao.

    A incoerncia dos sonhos ainda

    se explica pelas lacunas pro-

    duzidas pela lembrana incom-

    pleta daquilo que nos apareceu

    em sonho. Seria algo como uma

    narrao, da qual se truncas-

    sem frases ou trechos ao acaso:

    reunidos depois, os fragmen-

    tos restantes perderiam qualquer

    significao racional.5

    Referncias:1THOMAS, Clayton. Dicionrio mdico en-

    ciclopdico taber. Traduo de Fernando

    Gomes do Nascimento. 17. ed. So Paulo:

    Ed. Manole, 2000. p. 1634.2KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Tra-

    duo de Evandro Noleto Bezerra. 3. ed.

    Comemorativa do Sesquicentenrio. Rio

    de Janeiro: FEB, 2007. Q. 401.3______. ______. Q. 412.4______. O evangelho segundo o espiri-

    tismo. Traduo de Evandro Noleto Be-

    zerra. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 28,

    item 38.5______. O livro dos espritos. Traduo

    de Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Come-

    morativa do Sesquicentenrio. Rio de Ja-

    neiro: FEB, 2007. Q. 402.

    28 Reformador Abr i l 2009 114466

  • 29Abr i l 2009 Reformador 114477

    errar os olhos dos filhosamados, especialmente osque desencarnam ainda

    crianas, dilacera a ternura dospais, que permanecem a indagar,sem palavras, para onde seus entesqueridos se dirigem, aps a mortedo pequeno corpo, impassvel esilencioso.

    A evidncia da morte torna-seum fato cruel e inexorvel, tal co-mo se apresenta em nosso meio,desafiando a coragem e a f dosque acreditam na Justia Divina.Haver algo mais desalentador doque a ideia da destruio absolutados filhos que criamos com tantodesvelo? Esta e outras indagaessurgem no momento derradeiro,causando-nos amargas afliese deixando-nos atnitos diante do doloroso testemunho de vermospartir aqueles que mais amamos.

    Entretanto, preciso crer, in-cessantemente, na imortalidadedo Esprito!

    Allan Kardec, no captulo II, deO Cu e o Inferno, considera:

    O homem, seja qual for a escala

    de sua posio social [...] tem o

    sentimento inato do futuro;

    diz-lhe a intuio que a morte

    no a ltima fase da existn-

    cia e que aqueles cuja perda la-

    mentamos no esto irremis-

    sivelmente perdidos.1

    Referindo-se ao fenmeno damorte, Lon Denis (1846-1927),escritor francs, fervoroso divul-gador do Espiritismo, elucida,acertadamente:

    [...] A morte [...] em nada muda

    a nossa natureza espiritual, os

    nossos caracteres, o que constitui

    o nosso verdadeiro eu; apenas

    nos torna mais livres, dota-nos

    de uma liberdade, cuja exten-

    so se mede pelo nosso grau de

    adiantamento. De um, como do

    outro lado, temos a possibilidade

    de fazer o bem ou o mal, a facili-

    dade de adiantar-nos, de progre-

    dir, de reformar-nos.2

    Cientes da veracidade destaproposio, preciso encarar amorte como simples passagempara a verdadeira vida, e nos cabeconhecer as condies e vivnciasencontradas no plano invisvel, no-ticiadas pelos prprios Espritos,

    ao se utilizarem dos meios de co-municao de que dispem.

    Na obra Entre a Terra e o Cu,de Andr Luiz, mdico desencar-nado, responsvel pela autoria devrios livros, psicografados porFrancisco C. Xavier, que nosorientam sobre a contextura dosfatos ocorridos entre os doismundos, destaca-se a instituioLar da Bno que, aos olhos dopreclaro autor espiritual, surgecomo abenoada e colorida col-meia de amor, harmonioso casa-rio.3 Trata-se de uma importantecolnia educativa, criada para serescola de mes e domiclio dascrianas que retornam da esfe-ra carnal, conforme afirma oescritor, ao ouvir as explica-es de Blandina, dedicada sea-reira a servio da infncia, na-quele abenoado refgio. Diz, agenerosa guardi:

    [...] Tenho tarefas variadas aqui

    e alhures, entretanto, sou me-

    ra servidora. O nosso educan-

    drio guarda mais de duas mil

    crianas, mas, sob os meus cui-

    dados, permanecem apenas do-

    ze. Somos um grande conjunto

    Mensagemconsoladora

    aos pais

    CCL A R A LI L A GO N Z A L E Z D E AR A J O

  • de lares [...] e conosco multides

    de meninos encontram abrigo

    para o desenvolvimento que lhes

    necessrio [...].4

    As crianas, ao desencarnar,no prescindem do perodo derecuperao; so encaminhadaspara as inmeras unidades infan-tis existentes no mundo espiritual,atendidas por mes substitutas,companheiras abnegadas, desve-ladas, carinhosas e dedicadas aoservio do bem. Nesses locais, soministrados cuidados especiais,indispensveis melhoria dos me-ninos e meninas que l aportam.

    A resposta questo 381, de OLivro dos Espritos, relacionadacom o tema, aclara-nos sobre acriana, depois de sua morte, aoreadquirir, como Esprito, oseu precedente vigor:

    Assim tem que ser, pois que

    se v desembaraado de seu

    invlucro corporal. Entretanto,

    no readquire a anterior lucidez,

    seno quando se tenha completa-

    mente separado daquele envolt-

    rio, isto , quando mais nenhum

    lao exista entre ele e o corpo.5

    Os Espritos que j alcanaramelevada classe evolutiva, de possedo seu equilbrio mental, adqui-rem o poder de facilmente des-prender-se do corpo material,compreendendo as razes da de-sencarnao prematura. Na obrade Andr Luiz, citada, sua interlo-cutora, Blandina, afirma conhecer

    [...] grandes almas que renas-

    ceram na Terra por brevssimo

    prazo, simplesmente com o ob-

    jetivo de acordar coraes que-

    ridos para a aquisio de valo-

    res morais, recobrando, logo

    aps o servio levado a efeito, a

    respectiva apresentao que lhes

    era costumeira.6

    A dor o grande e abenoadoremdio7 e sempre o elementoamigo e indispensvel de que dispo-mos para o aprendizado de com-portamentos morais mais sublimes.

    O Esprito Neio Lcio, no livroMensagem do Pequeno Morto, de-dica pginas singelas aos mais jo-vens, oferecendo conhecimentosvaliosos sobre as impresses deum menino, de nome Carlos, des-de os primeiros momentos de seudesenlace do corpo fsico e dasparticularidades ocorridas duran-te o seu processo de adaptao naEspiritualidade, amparado por fa-miliares que lhe precederam napassagem pela sombra do tmulo.O estimado Benfeitor, atravs damediunidade de Francisco C. Xa-vier, registra, de forma sensvel, asdificuldades vividas pelo Esprito,no perodo inicial de sua chegada instituio que o acolheu. Relatao infante:

    Tanta serenidade infundiu-me

    confiana. Contudo, os gritos

    que eu ouvia perturbavam-me

    o equilbrio. Por que motivo es-

    cutava semelhantes vozes da

    30 Reformador Abr i l 2009 114488

  • mame, ali, onde no tinham

    razo de ser? Imenso mal-estar

    apoderou-se de mim. Todas as

    dores, que eu sentia anterior-

    mente, regressaram ao meu

    corpo.8

    O Esprito tem conscincia dospensamentos que se lhe dirigem enossos esforos devem ser no sen-tido de transmitir vibraes afe-tuosas, em atitude de resignao,para atenuar esses instantes e per-mitir, ao ser que parte, soltar-se,mais facilmente, dos ltimos laosque o acorrentam Terra.

    O lenitivo chega por meio daspalavras benevolentes do EspritoSanson, ex-membro da SociedadeEsprita de Paris, publicadas em OEvangelho segundo o Espiritismo,captulo V, item 21. De forma dul-cssima, ele nos aconselha:

    [...] Vs, espritas, porm, sa-

    beis que a alma vive melhor quan-

    do desembaraada do seu in-

    vlucro corpreo. Mes, sabei

    que vossos filhos bem-amados

    esto perto de vs; sim, esto

    muito perto; seus corpos flu-

    dicos vos envolvem, seus pen-

    samentos vos protegem, a lem-

    brana que deles guardais os

    transporta de alegria [...]9

    Nossos filhos, pois, continuamvivos no mundo espiritual. Preci-samos adquirir convico inaba-lvel a respeito dessa realidade ede sua grandeza! O conhecimen-to da sobrevivncia do Esprito extremamente importante com-preenso de todos os familiares,

    para que no se deixem extenuarpelo excessivo sofrimento, eterni-zando-o.

    Com a luz divina no corao,elevemos a nossa viso imaterialpara os novos e mais sublimes ho-rizontes na vida do Infinito. E, co-mo Lon Denis, proclamemos:

    No , pois, com um hino fne-

    bre que devemos acolher a mor-

    te, e sim com um cntico de vi-

    da, porque no o astro da tarde

    que se ergue cruel, mas a estrela

    radiosa da verdadeira manh.10

    (Grifo nosso.)

    Referncias:1KARDEC, Allan. O cu e o inferno. Tradu-

    o de Manuel Justiniano Quinto. Edio

    de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2006. P. 1,

    cap. 2, item 1.2DENIS, Lon. O problema do ser, do des-

    tino e da dor. 8. ed. 1. reimp. Rio de Ja-

    neiro: FEB, 2008. P. 1, cap. 10, p. 183-184.3XAVIER, Francisco C. Entre a terra e o

    cu. Pelo Esprito Andr Luiz. 2. ed. esp.

    Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 8, p. 59.4______.______. Cap. 11, p. 75.5KARDEC, Allan. O livro dos espritos.

    Traduo de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1.

    reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Q. 381.6XAVIER, Francisco C. Op. cit., cap. 10, p.

    70-71.7______.______. Cap. 21, p. 147.8______. Mensagem do pequeno morto: a

    grande viagem. Pelo Esprito Neio Lcio.

    10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Carinho

    e conforto, p. 30.9KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

    espiritismo. Traduo de Guillon Ribeiro.

    13. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB,

    2008. Cap. 5, item 21, p. 123-124.10DENIS, Lon. O grande enigma. Rio de

    Janeiro: FEB, 2008. P. 3, A lei circular, a

    misso do sculo XX, item 15, p. 213.

    31Abr i l 2009 Reformador 114499

    Aos ColaboradoresAos nossos prezados colaboradores solicitamos o obsquio

    de enviarem suas matrias, de preferncia, digitadas no progra-ma Word, fonte Times New Roman, tamanho de fonte 12, rgua15, justificado. O texto, para ser devidamente ilustrado, deveconter: at 30 linhas (1 pgina), at 80 linhas (2 pginas) e at110 linhas (3 pginas).

    Nas citaes, mencionar as respectivas fontes (autor, ttuloda obra, edio, local, editora, captulo e pgina), em nota derodap ou referncia bibliogrfica.

    Em face da grande quantidade de artigos recebidos, a Re-dao no se compromete com a publicao de todos, arquivan-do os no publicados, independentemente de comunicaoaos seus autores.

    Agradecemos o apoio e a compreenso de todos, e quepossamos continuar unidos na tarefa de divulgao da Dou-trina Esprita.

  • nenhum esperantista-esprita passar des-percebido o contedo do opsculo Uma his-tria do mundo espiritual, nascido da inspira-

    da sensibilidade de Ceclia Rocha e Clara Arajo erecentemente publicado pela FEB

    Temos ali, em abordagens adequadas ao pblicoinfanto-juvenil, temas do Esperantismo e do Espiri-tismo harmoniosamente entrelaados e solidamenteembasados em realidades da vida do mundo espiri-tual, como as conhecemos pelasrevelaes trazidas por eminen-tes autores desencarnados atra-vs de mdiuns respeitveis.

    A histria se desenrola numaColnia destinada a acolher Esp-ritos que desencarnaram na idadeinfantil, semelhante, na essncia, amuitas instituies congneresdo alm-tmulo, como, por exem-plo, a descrita pelo Esprito IrmoJacob na obra Voltei, psicografadapor Francisco Cndido Xavier.

    Mas, a particularidade da felizconcepo de Ceclia Rocha e Clara Arajo reside nofato de que a Colnia esperantista, abriga Espritosde crianas de nacionalidades diferentes que para alivo aprender o esperanto.

    Quem leu Memrias de um Suicida, ditada porclebre romancista portugus mdium Yvonne A.Pereira, pde informar-se sobre a existncia de umaUniversidade Esperantista, sediada em alta esfera domundo espiritual, cujas atividades se estendem a ou-tras regies do mundo invisvel, inclusive aquelasdestinadas ao acolhimento e tratamento de suicidas,

    sob a direo da Colnia Maria de Nazar, o que nosautoriza a crer na existncia de colnias de diferentenatureza, dirigidas por aquela Universidade, comovemos concebida na obra em foco.

    Outra particularidade da instituio registrada pe-la sensibilidade de Ceclia Rocha e Clara Arajo que de l, aps aprenderem a Lngua InternacionalNeutra, os Espritos se encaminham para outroseducandrios do plano espiritual. Aqui tomamos

    a liberdade de avanar que taiseducandrios se situariam em re-gies espirituais de diversos pa-ses, onde aqueles Espritos reen-carnariam para o desempenho detarefas nas quais tambm o espe-ranto entraria como ferramentade trabalho.

    Um dos pontos altos do textoest na nfase com que as auto-ras se referem ao idioma comofator de aproximao das crian-as do mundo inteiro, com ofacilitar-lhes a comunicao sem

    os entraves da diversidade lingustica, assim con-tribuindo para o estabelecimento da fraternidadeuniversal.

    Muito mais poderamos falar sobre a bela e sim-ples produo de Ceclia Rocha e Clara Arajo, masfinalizamos, expressando a esperana de que essalarga viso dos benefcios do uso do esperanto e daprtica do Esperantismo na educao das crianasvenha a ter fecunda influncia no enriquecimen-to do contedo dos currculos da evangelizaoinfanto-juvenil.

    Uma histria do mundo espiritual

    A

    A FEB e o Esperanto

    AF F O N S O SOA R E S

    32 Reformador Abr i l 2009 115500

  • Acaba de ser publicada pela FEB uma edio espe-cial de O Evangelho segundo o Espiritismo, na LnguaInternacional Neutra.

    Trs edies a antecederam, desde o seu lana-mento em 1947, ocasio em que os Espritos Cruz eSouza e Abel Gomes saudaram a bela iniciativa,ditando sonetos, respectivamente, aos mdiunsFrancisco Cndido Xavier (em portugus) e Lus da

    Costa Porto Carreiro Neto(em esperanto).

    Reproduzimos abaixo apea de Abel Gomes, cons-tante da obra Mediuma Poemaro e psicografada em1/11/1947, com a respectivaverso em prosa.

    33Abr i l 2009 Reformador 115511

    Reaparece La Evangelio la9

    Spiritismo

    Nova lumo venis al la Tero,Lumo sankta de la Sankta Dio!Disflui1as tute la misteroSub la forto de lEvangelio.

    Nun la pordoj bronzaj de lkarcero,Entenanta ombron de lNescio,Falas brue... Restas nur polvero...For mallumo! hela estas /io!

    Vivon novan nun ricevis vortoDe leterna Majstro el la fortoDe la flora lingvo Esperanto.

    Nun popoloj /iuj vidos klare,Dion bonan dankos, kaj grandareKolekti1os por la nova kanto!

    Uma nova luz veio Terra,Luz sagrada do Deus santo!Dissipa-se completamente o mistrioSob a fora do Evangelho.

    Agora, as portas brnzeas do crcere,Em que se encerra a sombra da Ignorncia,Caem fragorosamente... Resta apenas p...Para longe a treva! Tudo se aclara!

    Ganha vida nova a palavraDo eterno Mestre, pela foraDa florescente lngua Esperanto.

    Todos os povos vero com clareza,Agradecero ao bom Deus, e, em massa,Se reuniro para entoar um novo canto!

    Nova Lumo Nova Luz

  • 34 Reformador Abr i l 2009 115522

    m estudo do Fundo daOrganizao das NaesUnidas para a Populao, di-

    vulgado na primeira quinzena denovembro de 2008, revela que ata metade deste sculo o Brasil de-ver ter 254,1 milhes de habitan-tes. O estudo mostra ainda que oPas encerrou o ano de 2008 com194,2 milhes de pessoas, o que ocolocar na quinta posio entre

    os maiores do mundo em termosdemogrficos.

    Porm, com tudo isso, o Bra-sil ainda est longe de chegar aotopo da lista, encabeada hojepor China, ndia, Estados Unidose Indonsia. Alis, o primeiro lu-gar dever ser ocupado pela n-dia, que passar do atual 1,1 bi-lho para 1,6 bilho, ultrapassan-do a China. De acordo com o mes-mo estudo, at 2050 o mundo pas-sar dos atuais 6,74 bilhes depessoas para 9,19 bilhes. As in-formaes foram divulgadas naInternet pelo Jornal do Commer-cio, de Recife, na reportagem Bra-sil ter populao de 254,1 milhesem 2050.

    De um lado, um conti