#17 - delirium
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17ª edição da Desumbiga, revista de um núcleo autónomo da AEFML.TRANSCRIPT
2 d e s u m b i g a
auLa de aNaTOmia
ediTORiaLP3
TemaP5
JaNeLa de eXPRessO
P15
TRaNsmissO ORaL
P21
babiLNiaP33
esTRias CLNiCasP39
aRTes e aFiNsP24 e 25
PeRegRiNaOP45
dFiCes COgNiTiVOsmaRCadOs.
3 d e s u m b i g a
desumbiga
- Bernardo, a Emlia disse que era boa ideia sermos ns a escrever o
editorial. Eu no estou assim to certa disso, mas parece que somos os
mais velhos.
- Qual que o tema da revista Salom?
- Delirium.
- Delirum? A girls band portuguesa?
- No, Delirium como estado de perturbao da conscincia, algo
semelhante ao estado que experienciaste no ltimo jantar da malta.
- Ah claro, algo semelhante ao prprio des1biga.
- Ou semelhante ideia de serem duas pessoas a escrever um edi-
torial.
- Acabei de chegar de Erasmus, tens que me pr a par dos textos
que vo constar da revista.
- Ento Para alm dos textos que dizem respeito ao tema, temos
uma entrevista a um mdico fora do convencional, duas pginas true
colours, um novo projecto para expor trabalhos artsticos na faculdade
e claro todas as seces habituais.
- Uma exposio do Desumbiga? Estou a ver que este nosso peque-
no delrio colectivo est a ganhar contornos palpveis!
- Esperemos que seja um delrio contagiante
- J entrevistaram um mdico? No era mais adequado ir falar l
com as gajas da girls band? Eu delirava. Mas agora pra fazer um edi-
torial, n? Que achas duns cogumelos mgicos para a inspirao?
- Concordo plenamente, afinal para a despedida tem que ser tudo em grande.
- Pensando bem, acho que o Harrison j tem um teor alucinognico
bem forte. Fico-me por a.
- Ento bora l desumbigar e respirar um pouco de ar livre e real.
- Ok. Editorial, vamos a isso.
bERNARDO mOURAsAlOm sIlVA
ediTORiaL
FiCHa TCNiCa
RedaCO*alexandre Freitas
ana Teresa Prata atprata5@hotmail.com
antnio Caetano erihsehc@gmail.com
bernardo Moura bernardo.m.moura@gmail.com
bianca Branco
carlos Pereira
david Moreira dnm.fmul@gmail.com
daniela Alves
dr Bemol
francisco Vale franciscovale@campus.ul.pt
lusa Lopes
maria Emlia Pereira m.e@live.com.pt
mrio Mi-Siccarosi
salom Silva salome.mecas@gmail.com
tiago Miranda
vtor Magno
CaPa e CONTRa-CaPabernardo Moura
salom Silva
gRaFismOantnio Caetano
samuel Fialho
[Digital Impulse]
samuel@digitalimpulse.com.pt
TiRagem400 exemplares
imPRessOeditorial aefml
CONTaCTOsrevista desumbiga
associao de estudantes da faculdade de medicina de
lisboa, hospital santa maria, piso 01
avenida prof. egas moniz
1649-035, lisboa
des1biga@gmail.com
des1biga@yahoogroups.com
#17
ARm
AN
* O cOntedO dOs textOs publicadOs da exclusiva respOnsabilidade dOs seus autOres
4 d e s u m b i g a
5 d e s u m b i g a
Tema
eXCeRTO N 410 da COLeCTNea desCONHeCida e iNdiTa uVidas CONTuRbadas, meNTes bRiLHaNTes O deLiRium OCuLTO u P CeNas TiPO Nada a VeR u O deLiRium dO TemPO u POema deLiRaNTe u deLiRium
AN
tON
y g
ORm
lEy
- FIR
mA
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6 d e s u m b i g a
Tema
Porque que odeio escuteiros? No sei! Em geral odeio fardas... ou seja bom-beiros, polcia, tropa, militares, PSP, membros de empresas de segurana como a SECURITAS, PROSEGUR, GRU-
PO 8, etc, mas tambm odeio bombeiros, GNR, corpo de interveno, etc... no sei se por desrespeitar as autoridades ou por ser quase anarquista... no sei! Talvez seja apenas porque muita desta gente usa a farda sem saber muito bem porqu! Usam-na como se fossem muito importantes! Nasce-lhes uma arrogncia, uma impertinncia inacreditvel, inadmissvel! Repa-rem naquelas coisas verdes que passam multas ilegais nas ruas de lisboa aos carros em cima do passeio... aquele lodo verde que tem umas letras a dizer EMEL... essa a mais nojenta da escumalha de farda... ah como gosto da PJ... essa polcia judiciria... inteligente, eficiente, discreta, traioeira, elegante mas ainda assim mais honesta que a PSP, que mais no faz por-que o magistrado no deixa, o poltico no quer e o povo no merece... essa a nica polcia
que tolero, talvez por no usar farda (no dou por eles quando nos cruzamos na rua)!.... a arrogncia de um polcia ou de um bombeiro fardado s comparvel sua ignorncia e sua preguia!.... e mais no escrevo seno fazia um livro s disto e isto tem mais piada escrito assim de rajada sem pontuao sem nada!
escrito por carlos pereira algures em lisboa, portugal (feze europeia, terceiro calhau a contar do sol, sistema solar, estrada de santiago, uni-verso) no incio do quinto ms no ano da graa de vosso senhor jesus cristo de dois mil e cinco.
cARlOs pEREIRA
Excerto n 410da colectnea des-conhecida e indita666 (re)flexes no soalho do rs do cho duma mente acabada (de chegar) ou os incrveis 111 pensamentos por cada um desta meia dzia de anos
7 d e s u m b i g a
Tema
De uma demncia
lquida, a condi-
o de existentes
aplaude-nos.
Quantas percep-
es nos inauguram a mente
e, ainda assim, talvez a lucidez
seja escassa.
Este no o mundo dos
lcidos; mas dos que o tentam
ser. Sob leis factuais e poss-
veis, sob as pesadas arcadas
dos conceitos sociais, sob a
imobilidade das carcaas das
construes psicolgicas, sob
a mendicidade inerente
satisfao das emoes. Uma
lucidez foradamente conser-
vada, similar a um dogma que
teima congruir ileso, mes-
mo em frico com cenrios
agudos. Tudo justificado por esse ganho maior: o estatuto
lcido, forjado por um conjunto
de idealizaes insatisfatrias
e incompletas. Nem sabemos
onde em ns nasceram, ou
se as no temos, onde em
ns nasceriam. Mas so elas
que nos rasam jusantes aos
sentidos, aos pensamentos e
s aces.
A nossa tentativa de lucidez
menos do que aquilo que so-
mos. Pois o impacto do mago
do ser, apenas superfcie,
na potica dos demais. Como
pode, a metasubstncia da
profundidade do ser, metamor-
fosear-se no seu trajecto de tal
modo, que ao alcanar o outro
uma aragem r?
A crtica, mimetizada pela
concepo de lucidez que
herdmos, no nos liberta.
a criao que constitui o acto
final e mximo deferido humanidade. O nico que nos
desenlaa as pernas dos mean-
dros speros da terra e nos ca-
tapulta de um s rasgo para os
tectos das constelaes. Tudo
o resto sobrevivncia, uma
luz baa e insegura na buclica
noite dos nossos sonhos.
Tudo o que no somos,
integra a remota beleza da
inconscincia que o pecado
da mente. Devido ao objecto se
encontrar oculto, atribumos-
-lhe a inexistncia. Nesta ma-
tria somos nascituros cegos
procura de formas definveis. como as florestas sus-
pensas no ar, onricas na sua
materializao. Se as vssemos
por dentro dos troncos e das
folhas, no restariam dvidas
que a manifestao dos entes
um conhecimento que parte
de um lugar especfico. Seria a dendrolatria do intrnseco e
da plenitude. S que encontr-
-la articula o corpo e a mente
numa frentica suspenso
de sentidos e emoes, para
evadi-lo de sonhos. Pois se no
o sonho ou a paixo, somos
patacoadas ilgicas da criao.
A lucidez plagiada um
valor que sustenta um tempo
presente eterno. A germinao
do futuro at pode ser conce-
bida em meios brandos, mas a
sua derradeira exteriorizao
a loucura. Existe aqui um radi-
calismo, pois o novo sempre
um afrontamento e justific-lo implica o sangue de quem o
vislumbra.
Que se passe ileso pela
vida Mas por ns mesmos?!
Isso constitui um rastejo de
inocuidade, uma sucesso exe-
cutiva, triste e montona, de
gestos e frases pr herdados.
A dana at ao suor e a m-
sica ritmada e os gritos agudos
e o calor da labareda e a cren-
a num sincretismo da nature-
za e a mstica da inconscincia
e o caldo das ervas e por fim o
delrio orgstico.
O conhecimento no se
obteve da ausncia de conhe-
cimento, mas da alucinao
necessria para expuls-lo do
seu trono oculto.
O delirium a lucidez
oculta.
O amor o delirium oculto.
E o oculto, o que ser reve-
lado.
mARIA EmlIA pEREIRAm.e@LiVe.COm.PT
O DELIRIUM OCULTO
8 d e s u m b i g a
Tema
VIDAS CONTURBADAS, MENTES BRILHANTES
com bastante frequncia que verifico que grandes gnios da humanidade, mais ou me-nos conhecidos, eram oriun-dos de famlias disfuncionais,
violentas, demasiado rgidas ou no tinham famlia de todo. Cresceram sem estrutura, sem suporte, com uma inte-ligncia que transbordava as regras da suposta normalidade. No compreendi-dos, nunca desenvolveram sentimento de pertena aos que os rodeavam, nem sequer sua era de existncia.
Desde cedo, era significativo o tem-po que despendiam sozinhos. Sempre tiveram dificuldade em desenvolver amizades e, dos amigos que tinham, os que realmente interessavam e eram interessados, nunca ultrapassaram os dedos de uma mo. Na juventude, dominados pela timidez e insegurana, mas com vontade de experienciar tudo o que j tinham lido h muito tempo em livros, usavam drogas, lcool ou ambos para atingirem um estado que de alguma