16'39'' a extinção do reino deste mundo

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O livro celebra a saga de um grupo de agricultores no interior da Paraíba para proteger as sementes crioulas (sementes não geneticamente modificadas) e os deslumbres da humanidade na corrida espacial. Uma história contemporânea que transita entre arte, mito e ciência. Busca o entrelaçamento dessas duas narrativas, apenas aparentemente desconexas. Lançando mão de uma construção metafórica, faz chegar aos seus leitores fragmentos de histórias reais que beiram o conto fantástico e a ficção científica. Texto de Ana Luisa Lima Fotografias de Fernanda Rappa Pesquisa iconográfica e projeto Gráfico de Daniela Brilhante Ensaio de Cristhiano Aguiar

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L7321 Lima, Ana Luisa. 16’39’’ a extinção do reino deste mundo / Ana Luisa Lima. – São Paulo: Cigarra Editora, 2015. 123p. ISBN 978-85-69848-00-4 1. Ficção. 2. Conto brasileiro I. Título.

CDD – B869.3

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16’39”

ANA LUISA LIMA

f o t og ra f i a s d e FERNANDA RAPPA

A E x t i n ç ã o d o R E i n o

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C i g a r r a E d i t o r a

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16’39”

ANA LUISA LIMA

f o t og ra f i a s d e FERNANDA RAPPA

A E x t i n ç ã o d o R E i n o

d E s t E M u n d o

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C i g a r r a E d i t o r a

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Ora, a ciência é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. Pois, pela ciência, os antigos obtiveram bom testemunho. Pela ciência, entendemos que foi o Universo formado pela palavra do Tempo, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não são visíveis.

(Interpretação livre da Carta aos

hebreus, capítulo 11, versículos 1-3.)

Para Guilherme

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I. A EXTINÇÃO

II. DIÁSPORA

III. O REINO

IV. EPISODYO

V. O ESPAÇO

VI. O PARADOXO

VII. A MENSAGEM

VIII. O ETERNO RETORNO

O Elogio ao OVNI

Cristhiano Aguiar

O Projeto

Cosmonautas

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Descobrimos da maneira mais terrível, que é preciso saber-se demasiado pequeno para que se possa entender as coisas do Universo. Que por muito tempo insistimos em levar uma vida falsamente soberana. Envoltos numa ideia

equivocada de um “eu” arrogante. E pensar que a Terra já era imensa, mas nossos delírios de grandeza cegou-nos da nossa ínfima parte de uma Absoluta Existência sem começo nem fim.

A EXTINÇÃO

I

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Para muitos, a verdade permaneceu escondida na superfície das coisas. Quando o Óbvio manifestou-se, em forma de grande seca, extinguiu quase tudo e quase todos. Me encontrava a uma distância, até então, inimaginável, no sentido contrário ao Sol. Engolida pela escuridão. As memórias eram como pontos de luz que talvez ajudassem a encontrar um caminho de volta.

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DIÁSPORA

II

Acostumada a referir aquilo que conhecemos como “dia” através de medida rudimentar de tempo, insisti em seguir calculando quantos dias faziam desde que decidi participar dessa expedição. Mas ao cruzar a primeira Galáxia, todas as noções cartesianas tornaram-se banais. Racionalizar a existência sob percepções tão lineares, seria o mesmo que continuar ignorando que a Consciência tem papel mais absoluto do que o Corpo. É preciso um esforço imenso para reconduzir os pensamentos e ultrapassar as barreiras de cada paradigma que se estilhaça diante dos eventos cósmicos milenares que acontecem e testemunho com meus próprios olhos.

Como disse, não sei mensurar muito bem quanto tempo faz que deixei tudo para trás e me tornei voluntária nessa viagem investigativa. O fato é que para nós, aqui, anos-

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luz longe de casa, faziam um pouco menos de quinze dias quando interceptamos uma mensagem. Parece ser um diálogo entre cosmonautas. E nesse, sugere que as viagens para fora da Terra já não têm o caráter de expedição como a nossa. O que está acontecendo é uma dispersão em massa. As condições do nosso Planeta Água tornaram-se tão árduas que é preferível lançar-se ao Desconhecido, do que esperar o Óbvio seguir seu curso rumo à completa Extinção da vida como nos habituamos replicar.

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O REINO

III

Os presságios daquela tarde já eram vestígios inestimáveis. Mas o corpo nem sempre é capaz de vislumbrar os significados das cicatrizes enquanto essas ainda são feridas. O sol já ia alto quando terminamos a caminhada de quase treze quilômetros. De algum modo aquele pedaço de mundo havia aprendido a subsistir. Tudo estava entregue ao notável ajuste do enredo de Todas as coisas.

A incursão do sol por entre as frestas das copas daquelas frondosas árvores já era em si mesma o grande semeador da vida necessária que, incrustada uma existência à outra, não tardava florar, erigir, brotar, escorrer, ressurgir. Algo de encantado era o que sustentava aquela possibilidade

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de convívio do Selvagem com o humano-domesticado, sinceramente amparado apenas por uma demarcação circular

de uma cerca feita de arbustos e cipós. No colorir os pés com o vermelho da esguia estrada de argila que levava à cabana, fomos iniciados àquele modo de estar no mundo que se elucidava aos primeiros cheiros do ar cálido de cada amanhã.

Foi assim que, num daqueles dias, me vi simbiótica, num despertar de um sonho torvelinho para alma, ainda que apaziguador do espírito, porque de algum modo parecia responder às inquirições mais profundas, ainda que não soubesse ao certo como nomear as perguntas, ou mesmo ter um acesso lúcido àquela revelação que se abrira aos olhos enquanto dormia. O certo é que naquela manhã, ao firmar-me sobre meu próprio corpo, ao me pôr de pé, não senti aflição. Aquele zumbido constante dentro se percebeu aquietado, devoto ao Silêncio imponente e zeloso que manifestava sem pudor sua presença.

Meu pai, pelo contrário, ao que parecia, jamais deixou pesar sobre si qualquer jugo das pretensões de saberes abissais. Nunca transpirou, por muito tempo, infortúnios. Fez-se músico pelo simples deleite de ser parte harmônica de um pulsar que lhe era natural. Não havia nele apego às

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palavras explicativas de sua aventura existencial. De sintaxe simples, sua existência era de um sujeito de cujo predicado o conduzia. Desde muito cedo, havia aprendido a ser par, justaposto a todo aquele que lhe aparecesse sob o vínculo do afeto. Como se o afeto fosse uma liga irreparável.

Nos dias em que vivemos sob abrigo da cabana, soubemos nos integrar ao jeito docemente austero da existência nua que se desenrolava em atos bastante simples conforme as demandas do corpo. Embora eu, vez por outra, atendesse ao chamado do meu corpo civil programado para exigir o desnecessário. E assim me infligi certos danos ao não atender às recomendações tácitas daquela Comunidade Natural quanto ao modo de uso de tempo e espaço. Como naquela vez, em busca de entretenimento, quis voltar ao rio, tarde da noite, fisgar um bicho por farra e me perdi pelo caminho. E no entrevero de conseguir chegar de novo à cabana fui fustigada nas pernas e no dorso, sem nunca saber pelo quê ou por quem.

Naquele interlúdio, sem regimento do tempo maquínico, pouco falamos, já não mais por intolerância, mas pelo fato de que a cumplicidade daquele estar juntos tinha-se tornado eloquente. Um dia, por descuido de não saber momentaneamente onde estava, fui procurar no radiozinho uma estação qualquer que trouxesse música para dentro de mim. Papai de ouvido assíduo e acurado, de lá de fora, deitado na rede, pediu que parasse ali a busca. Debaixo dos ruídos havia identificado uma melodia calma. Era algo parecido com nada, ou tudo que já poderíamos ter ouvido. Reconhecia naquele coro do Desconhecido algo que se parecia com o pulsar que se ouve quando se tampa os

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ouvidos. Um marulho de um milhão de vozes em uníssono. Um canto nem alegre, nem triste, sem lamento ou euforia. Era um voltar para primeira casa. O útero materno inundado de vida, de uma possibilidade úmida de se respirar.

Na última noite, em que banqueteamos o pescado com bardana, me dei conta de que, diante daquela fogueira, algo de encantatório nos ligava. Algo que nunca foi possível perceber quando imersos e sujeitos às agruras dos excessos urbanos. Aos primeiros calores da manhã, iniciamos a volta sob o consentimento daquele dia que logo mais se faria pleno azul.

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EPISODYO

IV

Eu, cá comigo, sempre acreditei que cada livro escrito e revelado ao mundo é apenas um fragmento do Livro dos livros, em que se deve ser contada (ou que já foi contada) toda a história da humanidade. Talvez, por isso, desde que decidi tomar parte da expedição, comecei a escrever de forma obsessiva os detalhes das “descobertas” que nos ocorreram desde o primeiro instante. Aqui, foi-nos dado entender que “descobrir” é algo que só existe dentro de uma forma linear de pensar o Tempo. Como contar toda história usando os códigos do tempo que se chama hoje? Esse é o grande desafio e empecilho. A chave de todo o tempo, a ilimitação de todo o espaço. A consciência de todas as coisas se chama Sonho. Foi quando passei a entender que essa coisa de tempo não é uma invenção humana. Mas algo da linguagem do Deus, que ainda não nos foi possível começar a decifrar.

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Havia acabado de acordar de um sonho devastadoramente encantador. Nele, um sábio me dizia, em outras palavras,

que – agora nesse mundo acordada não me foi permitido lembrar – cada existência lida com suas próprias linguagens. Ele me falou enquanto sua mão esquerda escrevia numa lousa: EPISODYO. Em 349, antes da vinda do Cristo, ocorreu o evento sísmico mais importante depois da construção da Vida que se fez na Terra. Toda a existência terrestre se construiu até

esse evento. O que veio depois são reflexos, reproduções, reinvenções daquilo que é e já foi.

Nem sempre haverá um véu entre os tempos em que se dão as existências. Mas talvez, através do Sonho seja possível ter o vislumbre dos nossos muitos modos de existirmos desde já: nos movemos no tempo-espaço através da consciência. Essa é a parte de nós que se restaura a cada tentativa existencial de fazer sentido. A cada mover-se pelo tempo, a alma (que é apenas parte da consciência) quer fazer sentido através de uma construção histórica. Toda pessoa leva uma existência em que determinados episódios da vida que se leva acordada lhes permitem conhecer sobre o Todo através de uma fresta para o universo nu.

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GALAXIAFIG. N4

FIG. GEOCÊNTRICA

EXCÊNTRICA

Mas, me parece, foi dado a poucas pessoas a sensibilidade e senso de vocação o traduzir essa linguagem tão simples de características tão complexas. E é assim que, através da escrita, algo desvela aos poucos os véus sobre a humanidade, a partir de nossa própria porção humana. Cada passagem por essa Existência é digna de nota. Porque são nos detalhes que se revelam as grandes coisas. São nas pequenas coisas que se revelam os conhecimentos da alma-humana. Essa que é para nós, um mistério. O mistério, por vezes conflituoso, que faz com que todos estejam, a um só Tempo, encarnados num só ser.

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O ESPAÇO

V

Foi preciso ver a Terra por fora para entender o verdadeiro deus que se chama Tempo, e não há outro. E que é apenas através d’Ele que se é possível vislumbrar o segredo das coisas. Pelos olhos desse onipresente Deus, atravessei Galáxias e me vi arrebatada pela simplicidade de sua sublime Criação. Que o que agora vejo em tamanhos imensos, já pude ter nas minhas mãos de criança.

Sistemas inteiros de planetas habitáveis que emprestaram suas formas àqueles alimentos que aprendemos a chamar de sementes. O Planeta Fava é grandioso. Formado quase que inteiramente por planícies. Cortado por caudalosos rios. Apenas na sua região nordeste ainda existem formações rochosas pontiagudas e de altitude muito elevadas a ponto de suas eternas cúpulas de gelo poderem ser vistas a anos-luz de distância. Despedi-me desse planeta, recostada

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à minúscula janela, vendo-o tornar cada vez menor, do tamanho que voltaria a caber num prato. Então, lembrei-me de um domingo qualquer, em que minha querida Voinha ainda não havia sido invocada ao começo de Tudo.

O Planeta Feijão Z faz parte de um grande Sistema com pequeninos planetas que guardam características similares de formações rochosas sedimentares e concentrações de água em grande proporção. Quase dois terços de suas superfícies são completamente planas. Nesses planetas, há um equilíbrio perfeito entre porções de terras e grandes lagos. Não há a concepção de oceano. Nem mesmo de mar. A ideia de horizonte não existe, porque de qualquer lugar se pode ter vislumbre de qualquer outro lugar. Não há a ideia de assombro, ou abismo. Pelos tipos variados de terras argilosas, tudo indica que esses foram os primeiros planetas a constituírem essa Galáxia. Esses planetas, a uma grande distância, apresentam diferentes cores em sua superfície devido à variação dos tipos de solo e da vegetação – que se modifica por uma adaptação necessária à incidência da luz fornecida por sua pequena Estrela.

Os Planetas Feijões ganham uma letra em seu nome para marcarem suas singularidades e ajudar na navegação dos peregrinos cósmicos que costumam visitá-los. Diz-se que uma vez a cada mil anos, para temporalidade local, quando suas órbitas estão plenamente alinhadas com sua minúscula Estrela, que tem forma de um grão de milho, eles formam os nomes de renomados Agricultores da Terra.

Muito antes do início da grande Extinção, esses Agricultores preservaram as sementes que se assemelhavam

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a esses planetas e que por anos foram os únicos alimentos disponíveis. Eram os únicos grãos que se adaptaram às condições muito áridas, num lugar chamado Sertão da Paraíba. Na temporalidade da Terra, esse fenômeno de alinhamento pode ser visto a olho nu, em dias de céu aberto. Pode ser confundido com um evento estelar que ocorre a cada noventa dias. Existem aproximadamente quarenta planetas nesse sistema. Alguns ainda estão sendo redescobertos, por algum momento foram abandonados por acreditar-se que já não podiam abrigar vida. Por possuírem órbitas longínquas, passam muitos ciclos de tempo afastados demasiadamente de sua Estrela, e assim não recebem incidência de luz suficiente para manterem suas porções de água em estado líquido.

Desde que os primeiros cosmonautas descobriram essa relação do Sistema Feijões com os Agricultores da Terra, criaram uma Rota que passava pela Paraíba para fins de conhecimento daquela prática avançada de preservação das espécies. As visitas em determinado momento tornaram-se tão assíduas que os habitantes de lá começaram a utilizar a forma das primeiras aeronaves espaciais para criar cisternas de armazenamento de água. Acreditavam que aqueles Objetos Voadores Não Identificados pertenciam à antiga civilização que conviveu com água em abundância naquela região, milhões de anos atrás.

O mais intrigante e peculiar planeta desse sistema é o Planeta Feijão F. Por estar muito afastado de sua Estrela, seu modo de manter estável a temperatura de sua atmosfera acontece graças à vegetação que cobre toda a sua extensão. De aparência hostil, a Floresta Negra é constituída de variadas espécies de espinheiros. De copas com formatos

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pontiagudos, suas folhas negríssimas possuem a capacidade de grande absorção de luz. Toda luz captada transforma-se em calor que percorre todo tronco chegando até as raízes que são responsáveis pelo aquecimento do solo e que, por sua vez, mantém em estado líquido os lençóis freáticos. Nesse planeta, não há tipo qualquer de formação aquática de superfície. Não há rios, nem lagos, tampouco, oceanos. Quase que oitenta por cento do seu subsolo é formado por aquíferos, que é o que torna possível o armazenamento de água necessário para a sobrevivência da Floresta Negra. O planeta é conhecido por abrigar grandes platôs de características pantanosas, cujo aroma exalado é doce. De difícil navegação aérea, porque a Floresta Negra atua como uma espécie de escudo entre o céu e o solo, pouquíssimos cosmonautas se atrevem visitá-lo. Não existe possibilidade de pouso de grandes aeronaves. Nesse sentido, para conhecer a terra firme desse planeta, é preciso que os cosmonautas em voo livre, amparados apenas por paraquedas, com grande habilidade para manobras, sobrevivam ao risco de serem perfurados pelas copas das árvores que mais se parecem lanças.

Diz-se que a poucos, na Terra, foi dado conhecer a respeito desses Planetas Sementes. Por motivos que não se sabe quais, um artefato apareceu na região da Paraíba, um cubo de aproximadamente 2 x 2 metros. Através dele, em função do conjunto de lentes invertidas, era possível observar o desenvolvimento do plantio das sementes junto com o Sistema Planetário em alinhamento. Tal experiência só poderia ser acessível às crianças cujo poder de intuição que lhes é natural ativava a possibilidade do Conhecimento.

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Phaseolus vulgaris L.

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Curcubita pepo L.

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O PARADOXO

VI

Enquanto me distanciava do Planeta Feijão R, comecei a desejar uma nova chance de ter de volta a Terra debaixo dos meus pés. Desejei ter desdenhado menos da gravidade das coisas. É certo que houve pedaços de tempo cujo peso recaiu implacável sobre nossos ombros. Mas sempre foram com efeitos de gravidade irregulares, porque as coisas se pesam mais em uns do que em outros.

Assim, poderia ter escolhido melhor o que carregar. Mais ainda, o que não carregar sobre os ombros. Aqueles ainda eram tempos de mudança, mesmo que fosse corriqueiro tantos tipos de ameaças. Nunca julguei necessário, por exemplo, voltar àquele estado de simbiose com a Existência. Tinha tornado natural, como era para a grande maioria dos Terráqueos, o exercício de extinguir as coisas pelo consumo desenfreado.

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O começo do fim sempre esteve anunciado. Mas nunca fomos capazes de infligir em nós mesmos qualquer tipo de responsabilidade sobre os acontecimentos que se seguiram. Desde que nos tornamos orgulhosos em celebrar a separação do cultural e o natural, a razão da intuição, passamos a negligenciar o pleno Conhecimento. A invenção da ideia de civilidade esmagou quaisquer outros modos de ser e estar no mundo que não fosse notadamente racional. Desse modo, as formas mágicas e ritualísticas de estruturar os modos de existir foram consideradas secundárias. Espécies de submundos, sublinguagens, que não deveriam considerar na História. E pensar que toda racionalidade foi o que permitiu a construção desse modo de estar no mundo que, a partir de um modelo equivocado de hierarquias – eram como fraturas – tinham como pressupostos ficções de superioridade de uma cultura sobre a outra. No fundo, essas ficções, que alimentaram preconceitos, nos puseram em situação de Desequilíbrio. Uma grande comunidade global cujo Corpo nunca soube se manter. O planeta Terra fora por muito tempo negligenciado sem pudores.

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A primeira grande descoberta de nossa expedição. Veio-nos como assombro. Ao primeiro contato feito com outros cosmonautas, nos demos conta de que nossa linguagem de instrução de navegação, através de complexas equações matemáticas, era bastante obsoleta e, para grandes trajetórias, ineficaz. O Sistema de Navegação, que permitia atravessar Galáxias e tocar fronteiras do Universo, estava baseado em desenhos elementares que eram em si não apenas dados matemáticos, mas também noções da física quântica e da filosofia. A qualquer pessoa era dado a possibilidade de leitura desde que já tivesse desenvolvido princípios da Intuição, que era a chave para acessar todo e qualquer Conhecimento desenvolvido por qualquer indivíduo, em qualquer tempo.

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A MENSAGEM

VII

De um momento pro outro o tempo já não tinha mais esquinas. As águas se avermelharam. Os céus escureceram. O Óbvio tornou-

se verdade. As máquinas já não se deixavam governar por mãos humanas. Aliás, o que é o humano, quase tudo se perdeu.

Espero que essa mensagem consiga lhe alcançar antes de sua chegada. O pouco de vida que aqui resta, sobrevive sob uma sombra. Uma espécie de culpa na mesma proporção que a antiga arrogância. Muitas cidades foram abandonadas.

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Alguns fugiram para as montanhas. Outros lamentam profundamente suas sortes e esperam sua vez de tentar a vida em outro planeta.

Terráqueos. Esse é o nome que nos demos quando as águas começaram a secar e o que se chamava florestas desapareceu. Foi a primeira vez

que nos entendemos como comunidade global. Foi preciso o começo do fim para que pudéssemos vislumbrar um futuro possível juntos.

Lhe enviei um antigo mapa na intenção de que pudesse encontrar o que procura sem dificuldades. Lembre que quase nada desenhado ali existe como era. Naquela época, as linhas poderiam ser tão espessas que fizeram gerações inteiras sentirem-se separadas, divididas, domesticadas por ideia tão tola quanto absurda chamada Estado-nação. É certo que sempre tivemos modos de vidas diferentes, linguagens que preservamos de nossos

ancestrais. Mas nada disso deveria ter sido motivo de guerra. De destruição em busca de domínios uns sobre os outros.

Vulcões entraram em erupções, explosões por todos os lados nos deixaram ilhados. A escassez está em todos os lugares. Não te parece tolo que nesse momento que temos que lidar com separações reais já

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não nos sentimos tão divididos? Migrar é uma palavra que há muito tempo perdeu seu significado. Quem diria ou mesmo poderia supor que os primeiros viajantes estabeleceriam linhas imaginárias em que leis igualmente fictícias as tornariam tão perigosas ao transpor. Muitos morreram em desertos, ou engolidos por oceanos procurando abrigos do outro lado da linha.

Não pude ouvir todo conteúdo de sua última mensagem. Penso que algo se perdeu ao longo do caminho até aqui. É possível que tenha sido o momento que me contava sobre o motivo de sua vinda. Lembre-se de trazer água de beber e alguns grãos. As estradas por aqui têm se tornado cada vez mais longas, então venha leve. E quem sabe, com esperanças.

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https://youtu.be/JCO1DwGTSFw

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O ETERNORETORNO

VIII

Passados alguns Planetas, entre esses o Girassol e o Jerimum. Recebemos o aviso de que aquela seria a última chance de retorno. Em 39 segundos, já não mais teríamos condições físicas para a viagem de volta.

Lembrei-me dos Primeiros habitantes da Terra. Os que souberam engajar-se na vocação de fazer parte da Existência. Porque souberam evoluir na medida certa de coexistir. Descobriram o fogo. Mas não fizeram desse seu deus. Inventaram a ferramenta. Apenas com um graveto sabiam suprir-se de mel sem destruir a Colmeia. Mais que isso era interferir demasiado nas vidas que não poderiam considerar suas.

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Não foi sem guerras entre si que aprenderam a constituir o Código. Mas ao se darem conta de seu avançado conhecimento do bem viver, guardaram-se num Pacto e inventaram uma linguagem só deles. Para que o pleno Conhecimento de Tudo não fosse usado de forma individual e gananciosamente.

Não se sabe como, mas um elo se desfez. E uma irrelevante parte do Conhecimento tornou-se acessível para os próximos habitantes, por muito tempo, nomeados: Humanidade. E aqueles que permaneceram fiéis ao Pacto, ficaram conhecidos como os Primatas.

Nos anos 1960, tempo terrestre, durante a primeira corrida espacial, os Estados Unidos da América puseram em órbita seu primeiro astronauta, o Primata Ham. Sua trajetória durou exatamente dezesseis minutos e trinta e nove segundos. Haveria algo de profético no simples fato de que o Tempo tenha decidido que os Primatas veriam a Terra por fora antes da Humanidade?

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Quando eu era criança e me perguntavam do que mais tinha medo, respondia sem pestanejar: “de escuro e de disco voador”. A cena com a qual começa este ensaio poderia ser assim: estamos, nós, um grupo de amigos, passando frio em cima da laje de uma casa em Campina Grande, Paraíba. O pânico de escuridão e UFOs (poucas siglas são mais sonoras) foram substituídos pelo território apavorante, inexplorado, chamado “garotas”. Um exemplar da espécie, aliás, está dei-tado a meu lado. Temos todos 15 anos e vamos chamá-la, nesse relato, de Lois.

Convém lembrar aos incautos que nos encontramos na primeira metade dos anos 90 e os alienígenas estavam, lite-ralmente, em todo o lugar. Além da moda de seriados como

Cristhiano Aguiar

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O ELOGIO AO OVNI

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X-Files ou de filmes como Independence Day, discos vo-adores eram assuntos de discussão bem mais fre-quentes do que hoje. Os avistamentos, os relatos de abdução e as conspira-ções governamentais fa-ziam parte do imaginário de milhares de pessoas de

uma maneira que hoje reputo menos frequente. Quem não se lembra de supostas autópsias vazadas e exibidas em canais de TV, naquela pré-historica era pré-Youtube? Ou do mais tropical dos episódios ufológicos, o do nosso E.T. de Vargi-nha? A cidade mineira, aliás, segundo pude ler na internet,

até hoje vende souve-nirs em homenagem aos supostos visitan-tes extraterrestres. Há, inclusive, uma enorme caixa d`água em formato de um disco voador, assim como um exemplar de um dos legados

brasileiros à civilização ocidental: não me refiro ao forró, ao samba, nem a Machado de Assis, mas ao que eu chamo

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de ruínas-quase, ou seja, todo monumento, centro cultural, museu, biblioteca, que quase ficou pronto. No caso de Var-ginha, um quase memorial em homenagem ao episódio que conferiu fama internacional ao município.

Naqueles começos dos anos 90 eu frequentava uma Igreja Presbiteriana em Campina Grande. Os debates sobre aliens também angustiavam a teologia reformada: se existem alie-nígenas, eles devem ser evangelizados? Cristo veio para re-dimir o pecado de todos os povos humanos e dos extrater-renos também? Alguém argumentou que se os alienígenas não conheciam pecado, então Deus não permitiria o contato deles conosco (e por isso as distâncias estelares seriam imen-sas); outros defenderam o quanto a ideia da vocação missio-nária poderia compreender não apenas povos indígenas e muçulmanos, por exemplo, mas até mesmo alienígenas; por fim, foi defendido que se a Bíblia não fazia alusão na vinda de Cristo aos alienígenas, é porque essa seria a prova de que eles não existiam – e houve quem defendesse serem os re-latos de abduções, UFOs, etc., artimanhas do Satanás. Tudo isso me recordo de ter sido discutido em um culto voltado para jovens, que acontecia nos Sábados à noite em nossa igreja; ao fim do debate com o pastor, apagaram as luzes, exceto uma, e alguém, para criar um efeito cênico, lançou em meio a nós uma cesta de vime embalada de maneira a se assemelhar a um disco voador.

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Expliquemos, porém, a laje: eu participava, havia algumas semanas, de um grupo de ufologia. Todos os participantes moravam no mesmo bairro, localizado próximo ao campus da Universidade Federal da Paraíba (hoje Universidade Fe-deral de Campina Grande). Éramos filhos de professores e os nossos pais também se interessavam por ufologia. Foi o

caso dos meus vizinhos, um casal do interior paulista que dava aulas na UFPB, cujo fi-lho era muito meu amigo e participava do nosso grupo de ufólogos. Volta e meia, quando eu ia até a casa de-les, o seu pai me mostrava seus cadernos com muitas

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anotações de centenas de relatos, colhi-dos desde meados dos anos 70, se não me engana a memória, de avistamentos de Ovnis por toda a Paraíba. O mais fascinante, para além dos relatos em si, cheios de espaços obscuros, luzes com comportamentos misteriosos, solidões epifânicas e episódios telepáticos, con-sistia no método rigoroso com o qual

não só os relatos eram compilados, mas também organiza-dos naqueles cadernos. As anotações, por exemplo, eram

acompanhadas de diagra-mas, muitos deles tentan-do reproduzir a trajetória dos Ovnis. Me explicou o pai, coçando a sua barba loira e espessa, o quanto aquilo que me era mos-trado correspondia a um conjunto de metodologias observado por ufólogos

de todo o mundo. Até poucas semanas atrás, na verdade, nem me lembrava de tudo isso, até ver uma dessas típicas páginas na exposição 16’39’’: a extinção do reino deste mundo.

Nosso grupo de ufologia discutia e colecionava casos de discos voadores recortados de revistas, jornais, ou compila-dos na internet. O acesso à internet, aliás, como vocês de-

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vem se lembrar, era muitas vezes feito após a meia-noite, por ser mais barato. Além disso, a conexão era realizada por telefone fixo, após ouvirmos um barulho típico que acabo de ouvir outra vez após uma breve pesquisa pelo Youtube. Hoje em dia penso o quanto o som da conexão tinha o efeito pedagógico de ser um tipo de umbral no qual se sinalizava, com bastante clareza, o quanto havia um novo mundo a ser desbravado, o universo da internet, cuja essência, mas não vou me aprofundar nisso hoje, me parece cada vez mais fic-cional, quase como se fosse um dos planetas visitados pela narradora do texto 16’39’’: a extinção do reino deste mundo, es-crito por Ana Luisa Lima. Atualmente, pelo contrário, nós é que fomos conquistados pelo virtual. Ele se expandiu, cruzou as fronteiras e nos envolve em um abraço invisível, obrigando-nos todos a ser seus tripulantes1.

Um dos importantes temas da literatura é a incapacidade de dizer com palavras tudo aquilo que implora para ser nar-rado. No caso da laje, a coisa é menos sublime do que sugere a frase anterior e ela diz respeito mais à minha pouca capa-cidade como autor: de que maneira descrever um aberto céu estrelado sem recair no clichê de nomeá-lo como “um aber-to céu estrelado”? Deitados na laje, fazíamos o que chamá-

1 Isso tudo é, claro, mais licença poética do que qual-quer outra coisa; reativa, pensa a partir da ideia equivocada de que existe o virtual x o real; pelo contrário, desde sempre o que temos são zonas de confluências e interfaces; defendo, porém, o quanto pode valer a pena estar um tanto equivocado, desde que a imagem criada a partir disso fun-cione. A mesma ambiguidade se dá com a maneira como vivemos com as ficções. Afinal de contas, pertence a todos nós a seguinte frase do narrador de A invenção de Morel: “faça-me entrar no céu da consciência de Faustine”. Me pergunto: por que não?

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vamos de Vigília, a espera por algum avistamento de Ovnis. No fundo, hoje desconfio o quanto aqueles encontros eram também um subterfúgio para beijar a única garota do nosso grupo. “Levem-me ao seu líder”, diziam os alienígenas das antigas ficções científicas ao chegarem em nosso planeta (e uma variante disso é uma velha piada do gênero, no qual o Alien chega ao nosso planeta e faz a pergunta a uma vaca, a um poste, a um iphone, entre outras opções): o líder do grupo não era eu, mas um garoto – vou chamá-lo de Luthor – um ano mais velho do que nós, um rapaz magro, branco, olhos claros e cabelo cacheado cor de cobre. A laje na qual faríamos a Vigília ficava na sua casa. Atualmente vislumbro Luthor atrás da caixa registradora de sua loja de suprimentos de informática; ou então, gravata do Mickey pendurada no pescoço, blazer e bermudas havaianas, na Califórnia profun-da, trabalhando/gerenciando em algum empreendimento do mundo digital. Ele possuía uma natural capacidade de organização, embora não de liderança, bem como um enci-clopédico conhecimento sobre ufologia. Tratava-se daquele tipo de seres inseguros que não desviam o olhar do seu rosto enquanto não se encerrar a conversa; em tudo o mais, po-rém, a vida é circular, indecisa, diria até, nos casos extremos, sombria.

Lois sempre foi adorável: pele bastante morena, cabelos curtos, castanhos, cortados a chanel – e um tanto bochechu-da. Morríamos (naquela idade, o verbo é mais do que ade-quado) de tesão por ela – seu atraente corpo e seus vestidos floridos. Nós lhe éramos indiferentes, ainda muito crianças, talvez, apesar de compartilharmos a mesma idade. Não acre-dito que Lois estava conosco especificamente por conta da

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ufologia. O tema lhe interessava, com certeza, mas já ali se encontrava algo que definiria a adulta que ela iria se tornar: existir guiada por uma generosa abertura para a vida. Não se tratava, entretanto, de um “vamos experimentar tudo”, e sim uma aceitação do tudo, uma disposição de abrir os bra-ços para a diversidade das coisas – algo particularmente útil, também, quando a escuridão toma conta.

Então lá estávamos. Passamos horas na laje tomando cho-colate quente, conversando, rindo, sete adolescentes bem agasalhados e deitados em colchões. Nada, contudo, acon-teceu, além da própria noite. Não havia nuvens e a rua era mal iluminada; algumas vezes estrelas cadentes cruzavam o céu; era possível enxergar tantas estrelas, que de fato tinha--se a impressão de que alguma, mal posicionada, acabara de despencar dali para em seguida definhar. Aos poucos todos dormiram, exceto Lois e eu. Meu coração ficou cada vez mais agitado. Ao meu lado, quase com o braço colado no meu, eu ouvia Lois respirar, sentia seu perfume; lá em cima, todo o espaço sideral. Em certo momento, enxerguei (de fato enxerguei?) meu corpo despencando em direção à noi-te, atravessado por radiações e em aceleração cada vez mais intensa, um corpo se esfarelando, guiado pela vontade da entrega.

Quando acordei, só na manhã seguinte, Lois já tinha ido embora para passear com seu cachorro.

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Assim, um dos temas da Ficção Científica (vou chamá-la, de agora em diante, FC) é o desejo, embora não necessa-riamente o mesmo desejo que, naquela noite, alimentei por Lois, mas sim o outro, despertado pela noite e suas estrelas. Há muito desejo no texto 16’39’’: a extinção do reino deste mun-do, de Ana Luisa Lima, mais do que em 16’39’’: a extinção do reino deste mundo, as fotografias, vídeos e instalações de Fer-nanda Rappa. No caso de Rappa, o espaço é quase todo o do abandono, marcado por uma fecunda vertente da FC, a da exploração das distopias. Desnaturalizando um cenário tão cartografado em nosso imaginário, o do sertão nordestino, seus trabalhos conseguem o equilíbrio necessário de criar representações pós-utópicas sem abrir mão de uma necessá-ria vinculação com a historicidade e cotidianidade do espaço social paraibano pesquisado em seu trabalho. A caixa d’água

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transformada em Ovni, ou o terreno baldio cheio de lixo e plástico, são os exemplos desse equilíbrio.

Na faceta textual de 16’39’’: a extinção do reino deste mun-do, a ficção ensaística de Ana Luisa Lima, encontramos sim o caminho da distopia, mas contraposta a fortes traços de utopismo, que podem ser identificados em outros textos de Lima. Tenho, aliás, dificuldade de situar os textos que a autora vem escrevendo, em especial quando os insere no campo das artes visuais, porque tem havido em sua pro-dução uma crescente incorporação da ficcionalidade e do poético, o que tem minado a ênfase no aspecto conceitual--argumentativo típico de textos que esperaríamos chamar de “crítica de arte” ou “curatoriais” (e tenho firmado a opinião de que estamos em territórios próximos, porém distintos, quando agenciamos as palavras “crítica de arte” e “curado-ria”, em especial quando vivemos em tempos nos quais a prática curatorial tem se misturado, de modo pernicioso, a uma lógica de assessoria de imprensa cult-chic a serviço de instituições, empresas privadas ou Grandes Artistas). Des-ta maneira, quando seus textos acertam no ponto, e com frequência o fazem, Ana Luisa Lima tem escrito um tipo de texto cuja nomenclatura tenho evitado empregar a todo custo, mas que em seu caso julgo adequada: eu os leio como possíveis aproximações da barthesiana (em si também utó-pica?) concepção de escritura.

Causa, portanto, espanto o fato de que um texto tão hí-brido dialogue com a tradição da FC. Costumo definir a FC e outros gêneros relacionados às narrativas fantásticas como uma exploração/extrapolação dos limites do corpo, da temporalidade, da mente, da política... De tudo o mais

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que pudermos imaginar, na verdade. Mas essas especulações ocorrem com maior frequência a partir de textos poucos ex-perimentais em termos de linguagem e estrutura, o que não é o caso de 16’39’’: a extinção do reino deste mundo. De qualquer maneira, em meio às suas viagens intergaláticas, a narradora também abre espaço para discussões especulativas típicas da FC, no caso sobre as relações entre fé, identidade e o próprio Tempo:

Nem sempre haverá um véu entre os tempos em que se dão as existências. Mas talvez, através do Sonho seja possível ter o vislumbre dos nossos muitos modos de existirmos desde já: nos movemos no tempo-espaço através da consciência. Essa é a parte de nós que se restaura a cada tentativa existencial de fazer sentido. A cada mover-se pelo tempo, a alma (que é apenas parte da consciência) quer fazer sentido através de uma construção histórica.

Retornemos, porém, à utopia. Ela está no coração da FC, desde os seus primórdios nas narrativas utópicas de meados do século XVI (e que já bebiam nos textos da Antiguidade relacionados à Sátira Menipeia), a partir da qual se fundou uma tradição em que o planeta desconhecido e o alienígena servem como um modelo de Como as Coisas Deveriam Ser2.

2 Desenvolvo as relações entre Ficção Científica, Uto-pia e Distopia em um âmbito mais acadêmico aqui: https://www.academia.edu/14748196/Utopias_e_fic%C3%A7%C3%A3o_cient%C3%ADfica_Ray_Bradbury_e_Philip_K._Dick.

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Um ótimo exemplo, no XVIII, é o divertido conto “Micro-megas”, de Voltaire, no qual dois viajantes, em si perfeitos e vindos de sociedades perfeitas, chegam ao nosso planeta, confundem as baleias com os seres mais inteligentes da Ter-ra e depois se entediam ao conhecer os nossos filósofos.

16’39’’: a extinção do reino deste mundo estabelece um inter-texto muito interessante, tanto no caso de Rappa, quanto principalmente no caso de Ana Luisa Lima, com um clássico romance da ficção científica e um dos grandes representan-tes do utopismo nesse gênero: As crônicas marcianas, de Ray Bradbury, publicado em 1950. Cada capítulo da obra de Bra-dbury retrata um episódio da longa saga humana de coloni-zação do planeta Marte, bem como da conflituosa relação entre os marcianos, alegoria romantizada dos povos índige-nas dos Estados Unidos, e a humanidade. Os vários planetas retratados no texto de Ana Luisa Lima poderiam muito bem ser paisagens das narrativas utópicas, em geral, ou da Marte criada por Bradbury:

Sistemas inteiros de planetas habitáveis que emprestaram suas formas àqueles alimentos que aprendemos a chamar de sementes. O Planeta Fava é grandioso. Formado quase que inteiramente por planícies. Cortado por caudalosos rios. Apenas na sua região nordeste ainda existem formações rochosas pontiagudas e de altitude muito elevadas a ponto de suas eternas cúpulas de gelo poderem ser vistas a anos-luz de distância.

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Da mesma maneira, as próprias imagens da viagem espa-cial empreendida pela narradora remetem não apenas àquele romance, como retomam este que é um tema fundamental do gênero, o desbravamento do desconhecido, tudo isso re-alizado muitas vezes pelo deslocamento através de espaços:

Como disse, não sei mensurar muito bem quanto tempo faz que deixei tudo para trás e me tornei voluntária nessa viagem investigativa. O fato é que para nós, aqui, anos-luz longe de casa, faziam um pouco menos de quinze dias quando interceptamos uma mensagem. Parece ser um diálogo entre cosmonautas. E nesse, sugere que as viagens para fora da Terra já não têm o caráter de expedição como a nossa. O que está acontecendo é uma emigração em massa. As condições do nosso Planeta Água tornaram-se tão árduas que é preferível lançar-se ao Desconhecido, do que esperar o Óbvio seguir seu curso rumo à completa Extinção da vida como nos habituamos replicar.

A ideia da Viagem se desdobra na Distância, ou melhor, no conhecimento distanciado de si, da própria cultura, do Outro e do universo quando nos separamos daquilo com o qual usualmente estávamos acostumados – no caso do texto de Ana Luisa Lima, como em tantos outros da FC, a separa-ção em relação ao planeta Terra:

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Acostumada a referir aquilo que conhecemos como “dia” através de medida rudimentar de tempo, insisti em seguir calculando quantos dias faziam desde que decidi participar dessa expedição. Mas ao cruzar a primeira Galáxia, todas as noções cartesianas tornaram-se banais. Racionalizar a existência sob percepções tão lineares, seria o mesmo que continuar ignorando que a Consciência tem papel mais absoluto do que o Corpo. É preciso um esforço imenso para reconduzir os pensamentos e ultrapassar as barreiras de cada paradigma que se estilhaça diante dos eventos cósmicos milenares que acontecem e testemunho com meus próprios olhos.

O conhecimento obtido pela Distância é fundamental, po-rém para muitos dos personagens da FC o preço a ser pago pode ser alto demais, pois o perigo da fratura da identidade, do se tornar estranho a si mesmo e ao seu ponto de ori-gem, sempre nos ronda. Em 16’39’’: a extinção do reino deste mundo, a narradora sofre com esse dilema ao final da narra-tiva: “Passados alguns Planetas, entre esses o Girassol e o Jerimum. Recebemos o aviso de que aquela seria a última chance de retorno. Em 39 segundos, já não mais teríamos condições físicas para a viagem de volta”. Mais adiante, Ana Luisa Lima fala do primata Ham, “o primeiro astronauta”: “Haveria algo de profético no simples fato de que o Tempo tenha decidido que os Primatas veriam a Terra por fora an-tes da Humanidade?”. Fernanda Rappa traduz isso nos mos-

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trando o crânio de um primata e as imagens do seu rosto. O que esse animal sentiu? Como traduzir seus sentimentos para a linguagem humana? Nenhuma das duas criadoras es-boça para nós qualquer forma de resposta: em ambas, há tão somente assombro pelo Cosmos, que está ao mesmo tempo aberto e cerrado às nossas explorações.

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Edgar Allan Poe não só ajudou a formular os contos de terror e as narrativas policiais, mas de igual maneira ajudou a inventar a FC. Um dos seus mais impressionantes contos é “Descida no Maelström”, o relato de um redemoinho gigan-te formado em um oceano e de como, utilizando conheci-mentos científicos, um marinheiro, cuja embarcação fora en-golfada pelo redemoinho, sobreviveu ao fenômeno. Como bem afirma Bráulio Tavares na sua antologia Contos obscuros de Edgar Allan Poe, “Descida no Maelström” é o ilustre ante-cendente de uma série de narrativas de FC nas quais astro-nautas estão à deriva no espaço ou em um planeta inóspito (não deixa de ser o caso da narradora de 16’39’’: a extinção do reino deste mundo). Este é com certeza um dos meus contos preferidos de Poe, em especial porque podemos encontrar cenas como essa:

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Nunca esquecerei a sensação de espanto, horror e admiração com que olhei em torno de mim. O barco parecia estar pendurado, como por mágica, a meio do caminho para baixo, sobre a superfície interior de um funil de vasto diâmetro, de prodigiosa profundidade, e cujos lados, perfeitamente lisos, podiam ter sido tomados por ébano, se não fosse a rapidez vertiginosa com que eles giravam e a cintilante e lívida irradiação que deles emanava quando os raios da lua cheia, dentre aquela abertura circular, entre as nuvens que já descrevi, espraiavam-se numa torrente de áureo esplendor ao longo das negras paredes, penetrando até o recesso mais recôndito do abismo.

Ao olhos de hoje, a retórica de Poe nos soa um tanto bom-bástica demais, no entanto como resistir a “Nunca esquece-rei a sensação de espanto, horror e admiração”? Aqui reside o coração de tudo sobre o qual conversamos até agora; aqui entendemos a alma da FC e das demais literaturas do fantás-tico, do estranho e da imaginação especulativa. Há os abis-mos dos céus, das águas e das terras, muitas vezes portais que nos permitem acesso a novos lugares incertos, não car-tografados, e localizáveis no nosso próprio mundo interior. Volto, por isso, à laje e às terrestres agonias do coração: que nunca se esgote, em nós, o espanto.

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O PrOjetO

16’39’’ a extinção do reino deste mundo surge da parceria da artista Fernanda Rappa com a crítica de arte e editora Ana Luisa Lima. Uma narrativa contemporânea que transita en-tre arte, mito e ciência. A exposição e o livro trazem a saga de um grupo de agricultores no interior da Paraíba, Brasil, para proteger as sementes crioulas (sementes não genetica-mente modificadas) ao mesmo tempo que são também reais os deslumbres da humanidade em torno da corrida espacial.

A narrativa encontrou seu argumento a partir da pesquisa sobre a proteção das sementes crioulas na região do Planal-to da Borborema, no estado da Paraíba, pelos moradores da região e repassadas através de gerações. A tradição fa-miliar é responsável pela disseminação desse modo de vida. A conservação da agrobiodiversidade, enquanto consciência ambiental, dá-se através dessa herança cultural e não de uma ideologia conservacionista. Em paralelo a isso, há o anelo da humanidade em ganhar o espaço, e para tal, parece não haver limitações. Como no caso do envio do chimpanzé cha-mado Ham para o espaço, em 1961. O programa espacial dos Estados Unidos da América lançou Ham dentro de uma cápsula em Cape Canaveral, Flórida, que permaneceu em órbita 16 minutos e 39 segundos. Ele e sua cápsula foram resgatados no Oceano Atlântico.

O projeto pode ser visto como desdobramentos de pes-quisas que se encontram. A pesquisa de 8 meses realizada pela artista Fernanda Rappa através da Bolsa para Desen-volvimento de Projeto do Prêmio Brasil de Fotografia 2013, iniciada em outubro do mesmo ano, com o auxílio da as-sociação de direito civil sem fins lucrativos ASPTA (Agri-cultura Familiar e Agroecologia), que atua na região desde 1993 promovendo o desenvolvimento rural sustentável.

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A partir do imaginário coletivo da região sobre a relação en-tre homem e natureza, que acontece principalmente através da interação entre a população local e o banco de sementes, ativa-se o debate sobre biotecnologia e a Nova Revolução Verde, apontando para a dúvida sobre o que seria melhor para o planeta: proteger as sementes originais e os pequenos produtores ou as grandes empresas de transgênicos e o mo-nopólio dos alimentos verdes.

Há quase dez anos atuando como crítica de arte e editora Ana Luisa Lima focou suas investigações sobre arte contem-porânea nas relações entre artes visuais e literatura, imagem e narrativa. Uma das dobras dessa pesquisa acontece a par-tir da experimentação da escrita literária em diálogo com trabalhos de artistas como no caso do conto “O milagre” para uma série fotográfica, sobre Canudos-BA, que compõe o livro “Desterro_Expedição Etnográfica de Ficção” de Íca-ro Lira, 2014. Por entender o campo da curadoria mais um lugar ensaístico e propositivo, menos um exercício retórico amparado por referências historicistas, a ideia de trazer a lin-guagem literária ganha sentido na ampliação de um arcabou-ço simbólico no qual a exposição tem um aliado dialógico e não um aparato descritivo delimitador de suas possibilidades de leitura. É sob essa perspectiva que desenvolve o texto curatorial de “O Espelho do Avesso” exposição individual de Carolina Krieger, 2012. No projeto “Poemas aos Homens do Nosso Tempo – Hilda Hilst em diálogo”, 2013, com Na-zareno, Thiago Martins de Melo, Paulo Meira, Divino Sobral e Adir Sodré, desenvolve o conto fantástico “O grande livro; ou, ritual para realidade irreparável” para a publicação, da qual também é editora.

Através desse projeto, de caráter multidisciplinar, o que se deseja é ampliar a discussão sobre ecopolítica, investigando as possibilidades de fundir o pensamento poético com a pes-quisa científica. A exposição e o livro procuram o entrelaça-

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mento de duas narrativas, apenas aparentemente desconexas, para construir uma outra. Lançando mão de uma construção metafórica, o projeto faz chegar, aos seus fruidores, histórias reais que beiram o conto fantástico e a ficção científica. Traz à tona as contradições de nossa existência contemporânea. Se de um lado diariamente viabilizamos modos de vida que consomem e ameaçam nossos recursos naturais a ponto de ser possível antever nossa própria destruição, do outro, es-tão os esforços pontuais de preservação e sobrevivência das espécies, sejam no interior paraibano, ou na corrida espacial que nos faz sonhar com uma vida possível fora da Terra.

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de AnA LuisA LiMA

Escritor, crítico literário e professor. Doutor em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde atualmente dá aulas nos cursos de Letras e Jornalismo. Participou da revista Granta – Melhores Jovens Escritores Brasileiros e atuou como pesquisador-visitante da University of California, Berkeley. Em 2013, foi escritor-residente da University of East Anglia, em Norwich, Inglaterra. Tem textos publicados na Inglaterra, Estados Unidos e Argentina. Edita o site literário vacatussa.com.

Daniela Brilhante, arquiteta por formação pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília – UnB, atua de modo multidisciplinar como designer gráfica e artista visual. Desde 1997 desenvolve projetos editorias, expográficos e de identidade visual no cinema, música, teatro e artes visuais. Também ministra oficinas de stop motion, linoleogravura, estamparia artesanal, tipografia. Assinou os projetos gráficos da Revista Tatuí (2010-2015). Recentemente, participou como artista da mostra “Nave Tropical” em Recife e Berlim.

Fernanda Rappa, 1981, é uma artista brasileira que trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Pós Graduada em Belas Artes pela University of Arts (Central Saint Martins) em Londres e Bacharel em Comunicação Social pela ESPM em São Paulo, sua pesquisa tem forte influência das ciências biológicas, com ênfase em Ecopolítica e Sociobiologia. Com um trabalho simbólico e ao mesmo tempo irônico sobre a relação do ser humano com a natureza, articula arte e ciência / mito e realidade em narrativas que se alicerçam no imaginário coletivo para existir.

Ana Luisa Lima, 1978, nasceu em Recife-PE, baseada em São Paulo-SP, é crítica de arte, escritora e pesquisadora independente com foco em literatura e artes visuais – imagem e narrativa. Editou a revista de crítica de arte Tatuí(2006-2015). Criadora da Cigarra Editora com selos para livros de arte e literatura. No audiovisual, lança seu primeiro curtametragem Zona Habitável (13’, Nova Lima – MG, Brasil, 2015). Colunista da revista online, de literatura, Vacatussa. É representante, no Brasil, da revista de mercado de arte contemporânea e colecionismo latino-americano TONIC (Chile). Atualmente, faz parte do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo.

ensaio CRisthiAno AguiAR

projeto gráfico dAniELA BRiLhAntE

fotografias FERnAndA RAppA

(lâminas 1|2|3)

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agradECimEntos

Clarissa Lima, Edna Lima, Frederico Lima, Dedê Barbosa de Araújo, Lívio Fernandes, Fernanda Rodrigues de Lima, Daniela Brilhante, Cristhiano Aguiar, Henrique Lukas, Ana Beatriz Almeida, Marco Maria Zanin, Shima, Thelmo Cristovam, Barnabé di Kartola, Roberta Garieri, Marcio Harum, Claudia Afonso, Vanessa Marcelino, Maria Adelaide Pontes, Flávio Cerqueira, Leonora de Mauro, Ricardo Souza, Carla Chaim, Nino Cais, Victor Leguy, Flávia Santiago, Kika Laranjeiras, Danielle Portela, Angela Tribuzi e Flávia Gimenes.

A tiragem é de 1.000 exemplares.

16’39’’: a extinção do reino deste mundo é uma publicação da Cigarra Editora, impresso em offset pela gráfica Provisual. Os papéis utilizados foram o pólen print 80gr/m2 (miolo), triplex 250 gr/m2 (capa) e offset 120gr/m2 (sobrecapa). A tipografia utilizada foi a Garamond (corpo de texto), e Imprint MT Shadow (capitulares).

[2015]facebook.com/cigarraeditora

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