160143629 processo penal 1 fernando da costa tourinho filho

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Capa de Sylvia Tourinho FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO m p f= -11 F» R .00.1 #N 3 REGISTRO PATRIMONIAL N2 '469 Obs nao retire esta etiqi-teta PROCESSO PENAL

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  • Capa de Sylvia TourinhoFERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHOm p f= -11 F R .00.1 #N 3REGISTRO PATRIMONIAL N2 '469 Obs nao retire esta etiqi-teta PROCESSO PENAL

  • WVOLUME21.' ediorevista e atualizada. 1999EditoraQ0 SaraivaISBN 85-02-02184-2 obra completa ISBN 85-02-02183-4 volume 1Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP,Brasil)Tourinho Filho, Fernando da Costa, 1928-Processo penal / Fernando da Costa Tourinho Filho. - 21. ed. rev. e atual. - So Paulo : Saraiva,1999.Obra em 4 v.Bibliografia.1. Processo penal 2. Processo penal - Brasil 1. Ttulo.98-5620i1CDU-343.1ndice para catlogo sistemtico:1. Processo penal : Direito penal343.15033EditaraPO SaravaAvenida Marqus de So Vicente, 1697-CEP01139-904-7b1.^EIX (011)861-3344-Barra FundaCaixa Postal 2362 -Telex: 1126789- Fax (011) 861-3308 - Fax Vendas: (011) 861-3268 -S. Paulo- SPEndereo Internet: http.-Ilwww saraiva. com. br Distribuidores RegionaisAMAZONAS/RONDNIAIRORAIMA/ACRE

  • Rua Costa Azevedo, 56 - CentroFone/Fax: (092) 633-42271633-4782ManausBAHIA/SERGIPERua Agripino Drea, 23 - BrotasFone: (071) 381-5854 / 381-5895Fax: (071) ~81-0959 -SalvadorSAURUISAO PAULORua Monsenhor Claro, 2-55 - CentroFone: (014) 234-5643 - Fax: (014) 234-7401BauruDISTRITO FEDERALSIG QD 3 131. 13 - Loja 97 - Setor Industrial Grfico Fone: (061) 344-29201344-2951Fax: ~061) 344-1709 - BrasliaGOIASITOCANTINSRua 70, 661 - Setor CentralFone: (062) 225-2882 / 212-2806Fax: (062) 224-3016 - GoiniaMATO GROSSO DO SULIMATO GROSSORua 14 de Julho, 3148 -CentroFone: (067) 782-3682 - Fax: (067) 782-0112Campo GrandeMINAS GERAISRua Padre Eustquio, 2818 - Padre EustcuioFone: (031) 464-3499 / 464-3309Fax: (031) 462-2051 - Belo HorizontePARIAMAPTravessa Apinags, 186 - C.R: 777 Batista Campos Fone: (091) 222-9034Fax: (091) 224-4817 - Belm

  • PARAN/SANTA CATARINARua Alferes Poli, 2723 - ParolinFone/Fax: (041) 332-4894CuritilhaPERNAMBUCO/PARABA1R. G. DO NORTE/ALAGOASICEARIPIAU/MARANHORua Gervsio Pires, 826 - Boa VistaFone: (081) 421-4246Fax: (081) 421-4510 - RecifeRIBEIRO PRETOISO PAULORua Padre Feij, 373 - Vila TibrioFone: (0 16) 610-5843Fax: (016) 610-8284 - Ribeiro PretoRIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTOAv. Marechal Rondon, 2231 - SampaioFone: (021) 501-7149 - Fax: (021) 201-7248Rio de JaneiroRIO GRANDE DO SULAv. Cear, 1360 - So GeraldoFone: (051) 343-14671343-75631343-7469Fax: (051) 343-2986 - Porto AlegreSO PAULOAv. Marqus de So Vicente, 1697(antiga Av. dos Emissrios) - Barra FundaFone: PABX (011) 861-3344 - So PauloA Sheyla, Hans Marcos, Fernando Erik e Sofia Stephanie, rneus netos.0 AUTOR11

  • IndiceCAPTULO 1NOES PRELIMINARES1. 0 litgio............................................................................................2. Formas compositivas do litgio........................................................ 3. 0 monoplio da administrao da justia. 0 processo.................. 4. 0 processo absorveu as demais formas compositivas do litgio? .. 5. 0 jus puniendi.................................................................................. 6. 0 processo como complexo de atos e como relao jurdica......... 7. 0 Processo Civil e o Processo Penal............................................... 8. 9. 10. li. 12. 13. 14.15.Unidade ou dualidade do Direito Processual? ......................Conceito de Direito Processual Penal ............. Autonomia do Direito Processual Penal................................ Instrumentalidade do Direito Processual......................................... Nomenclatura....................... Finalidade.................................................. Posio no quadro geral do Direito .................................................Relao do Direito Processual Penal com outros ramos do Direito e cincias auxiliares........................................................ 16. Princpios que regem o Processo Penal...........................................17. Verdade real.........................................................................18. 0 princpio daimparcialidade do Juiz ............................... 19. 20. 21.Princpio da igualdade das partes....................................................0 princpio da persuaso racional ou do livre convencimento .......Princpio da publicidade ................

  • 111218354040434546Vili1i22. Princpio do contraditrio4823. Princpio da iniciativa das partes5124. Ne eat judex ultra petita partium5325. Identidade fsica do Juiz5926. Princpio do devido processo legal6027. Princpio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilcitos 6128. Princpio da inocncia6429. Princpio do favor rei7430. Princpio do duplo grau de jurisdio

  • 75CAPTULo 2DESENVOLVIMENTO HISTRICODO PROCESSO PENAL1. 0 Processo Penal na Grcia792. 0 Processo Penal em Roma 803. 0 Processo Penal entre os germnicos 834. 0 Processo Penal cannico 845. 0 sistema inquisitivo nas legislaes laicas 856. As inovaes aps a Revoluo Francesa887. Tipos de Processo Penal908. Direito ptrio94CANTULo 3EFICACIA DA LEI NO TEMPO1. Vacatio legis 972. Ab-rogao. Derrogao. Ab-rogao expressa e tcita 973. Princpio da retroatividade984. Princpio da irretroatividade. Ultra-atividade 995. Eficcia da lei penal no tempo 1016. Eficcia da lei processual penal no tempo110CAPTULo 4EFICCIA DA LEIPROCESSUAL PENAL NO ESPAO

  • 1. Eficcia da lei penal no espao 121VIII2. 0 princpio da territorialidade. 0 da nacionalidade. 0 da prote-o. 0 da Justia Penal universal....................................................3. Lugar do crime.................................................................................4. Tempo do crime................................................................................5. Lei processual penal no espao.......................................................6. Ressalvas..........................................................................................-9-CAPTULo 5INTERPRETAO1. Noes..............................................................................................2. Interpretao autntica.....................................................................3. Interpretao doutrinal.....................................................................4. Interpretao judicial.......................................................................5. Interpretao gramatical

  • ..................................................................6. Interpretao lgica.........................................................................7. Interpretao sistemtica.................................................................8. Interpretao histrica.....................................................................9. Interpretao extensiva e restritiva.................................................10. Interpretao progressiva.................................................................11. Interpretao analgica....................................................................12. Analogia...........................................................................................CAPTULo 6FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL1 . Sentido da palavra "fonte".............................................................. 2. As fontes formais e substanciais..................................................... 3. Classificao das fontes formais .....................................................4.Modalidades das fontes diretas........................................................ 5. Fontes orgnicas............................................................................... 6. Fontes indiretas................................................................................ 7. Fontessecundrias

  • .........................................................................

    .. 8.122 130 136 137 141165 166 166 167 167 168 169 169 170 171 172 173179 179 180 180 181 181 183 1861XCAPTULo 7 V- DA PERSECUOi1.2.3.4. Polcia de Segurana........................................................................5. Polcia Civil...................................................................................... 6. Do inqurito policial........................................................................7.Finalidade do inqurito.................................................................... 8.Inquritos extrapoliciais.................................................................. 9. 10.li. 12.Da investigao preparatria...........................................................0 inqurito indispensvel?...........................................................Natureza do inqurito

  • ......................................................................Incomunicabilidade.......................................................................... 2." - DA PERSECUO1. Notitia criminis................................................................................ 2. Incio do inqurito............................................................................3. Instaurao "de ofcio"....................................................................4. Instaurao por meio de requisio.................................................5. Instaurao por meio de requerimento............................................6. Contedo do requerimento...............................................................7. A Autoridade Policial tem o dever de instaurar inqurito? ............S. Pode a Autoridade Policial indeferir requisio do Ministrio P-blico?................................................................................................9. Providncia que o ofendido pode tomar..........................................10. A delatio criminis............................................................................11. Inqurito policial nos crimes de ao penal pblica condicionada 12. A hiptese derequisio do Ministro da Justia

  • ............................ 3."- DA PERSECUAO1. 0 inqurito policial nos crimes de ao privada............................2. A mulher casada e o direito de queixa............................................3. Prazo para se requerer a instaurao de inqurito.........................4. Contedo do requerimento...............................................................X191 193 194 194 195 196 198 199 200 206 208 215217 218 218 221 222 224 224225 226 227 230 235237 238 238 239 4."-1 DA PERSECUO2. Apreenso de objetos e instrumentos do crime...............................3. Da busca e apreenso.......................................................................4. Da ouvida do ofendido..................................................................... 5.Da ouvida do indiciado.................................................................... 6.D99econhecimento........................................................................... 7. Das acareaes................................................................................. 8. Dos exames periciais

  • .......................................................................9.Reproduo simulada.......................................................................10. A identificao.................................................................................11. Tipos e subtipos................................................................................12. Pode o indiciado recusar-se a ser identificado?..............................13. Folha de antecedentes...................................................................... 5."- DA PERSECUO1. Priso em flagrante .2. 0 curador no auto de priso em flagrante.......................................3. Concluso do inourito __6. Arquivamento ........7. Juizado de Instruo........................................................................CAPfTULo 8DA ACO1. Noes gerais...................................................................................2. Fundamento do direito de a . o e base constitucional....................

  • 3. Ao penal--***4. Fundamento constitucional da ao penal.......................................5. Natureza jurdica do direito de ao---.............................................6. Windscheid e Muther.......................................................................7. Adolph Wach e a autonomia do direito de ao.............................8. PlszeDegenkolb240 243 244 246 247 249 249 251 254 254 260 263 266267 269 269 273 279 280 282285 288 290 292 293 295 296 297X19. A teoria do direito potestativo 29810. 0 conceito de direito de ao 30011. 0 direito de ao no plano estritamente processual 30112. 0 conceito de ao penal 305 2." - DA AAO PENAL1. Enquadramento da ao penal no sistema legal normativo ............2. A influncia do Cdigo de Instruo Criminal da Frana ..............3. A orientao do legislador ptrio de 1890......................................4. A orientao nos trabalhos legislativos de 1940............................5. A opinio de Jorge A. Romeiro e de Vicente de Azevedo .............6. Crticas de Frederico Marques........................................................

  • 7. Normas penais e processuais...........................................................8. Classificao da ao penal.............................................................9. Classificao subjetiva....................................................................10. Razo de ser da diviso da ao penal e da subdiviso da ao penal pblica....................................................................................11. Subdiviso da ao penal pblica...................................................12. Ao penal pblica incondicionada.................................................13. Classificao quanto pretenso.................................................... 3." - DA AO PENAL PBLICA CONDICIONADA 1. Ao penal pblica condicionada....................................................2. Ao penal pblica condicionada representao.........................3. Razo de ser.....................................................................................4. Crtica...............................................................................................5. Crimes cuja ao penal depende de representao.........................6. Natureza jurdica da representao.................................................

  • 4." - DA AAO PENAL PBLICA CONDICIONADA 3083093093093093103103113163173203223313323323333343353361. Ao penal pblica condicionada 3442. Representao 3453. A quem dirigida a representao?3454. Quem pode fazer a representao?3475. 0 ofendido incapaz e sem representante legal 349x116. Natureza jurdica do curadOr especial............................................. 7. Cessao da atividade do curador ................................................... 8.Morte do ofendido

  • .........................................................................

    ... 9.Retratao.........................................................................................10. E possvel a retratao depois do oferecimento da denncia? .......11. E possvel a retratao da retratao?............................................12. A Wssoa que faz a representao obrigada a definir juridica-.46!5mente o fato?.................................................................................... 13. Eficcia objetiva..............................................................................14.Prazo para a representao..............................................................15. possvel a representao se o representante legal veio a saber quem foi o autor do crimequando a ofendida, que j o sabia, estava com mais de 18 anos e 6 meses?..........................................16. Prazo para a representao na hiptese do 1.' do art. 24 do CPP17. Prazo para a representao nos crimes de imprensa......................18. Como provar que o titular do direito de representao soube quem foi o autor do crime nestaou naquela data? .........................19.Como se conta o prazo para a representao?................................

  • 20. Ao penal nos crimes contra os costumes.....................................21. Requisio do Ministro da Justia.................................................. 5." - INCIO DA AO PENAL PBLICA1. Como se inicia a ao penal pblica condicionada ou incondicio-2. Instante inicial da aopenal pblica.............................................3. Contedo da denncia......................................................................4. Prazo para o oferecimento da denncia..........................................5. Denncia fora do prazo....................................................................6. Devoluo do inqurito....................................................................7. Extino da punibilidade.................................................................8. Guarda em cartrio..........................................................................9. Inviabilidade da relao processual................................................10. Arquivamento do inqurito..............................................................350 350 350 352 353 354355 355 356359 361 362362 363 366 373380 381 382 391 395 396 399 399 399 400

  • XIII 6." - DA AO PENAL PRIVADA1. Noes gerais.................................................................................... 2. Distino entre ao penal pblica e ao penal privada.............. 3. Crticas ao penal privada........................................................... 4. Os crimes de ao penal privada no Cdigo atual.......................... 5.Princpios........................................................................................... 6. Quem pode promov-la?................................................................... 7. A mulher casadapode exercer o direito de queixa? ....................... 8. Pessoas jurdicas................................................................................ 9. Prazo................................................................................................... 10. li. 12. 13. 14.0 prazo na hiptese do art. 31......................................................... Contagem do prazo............................................................................ Diviso da ao penal privada......................................................... * morte do cnjuge ofendido na ao penal privadapersonalssima..* ofendido incapaz e o direito de queixa na ao penal privada personalssima....................................................................................15. Despesas judiciais ......... 7." - OUTROS TIPOS DE AO PENAL1. Ao penal privada subsidiria da pblica..................................... 2. Quando ocorre

  • .........................................................................

    ..........3. inovao do CPP de 1942?...........................................................4. Prazo para oferecimento da queixa..................................................5. Requerido o arquivamento dos autos do inqurito, poder, ainda assim, o ofendido oferecerqueixa substitutiva da denncia? ........ 6.Ao penal nos crimes falimentares.................................................7. Ao penal popular...........................................................................8. Ao penal ex officio........................................................................9. Outras modalidades de ao penal................................................... 8." - INCIO DA AO PENAL PRIVADA416 417 418 421 423 428 430 433 436 439 440 442 443443 445450 451 451 452455 458 462 470 4771. Como se inicia a ao penal privada? 4812. Ouvida do rgo do Ministrio Pblico 4823. A queixa poder ser oferecida pelo prprio ofendido?4834. Prazo485XIV

  • 5. Devoluo do inqurito4866, Arquivamento 4861 9.* - CONDIOES DA AAO1. Introduo......................................................................................... 2. 0 policiamento do exerccio do direito de ao.............................3. As pndies da ao.......................................................................4. ~s-c-ondies da ao no Processo Penal........................................5. As condies genricas.................................................................... 6.As condies especficas................................................................. 10 - REJEIO DA DENNCIA OU QUEIXA487 487 489 492 492 506CANTULO 9 I."- DA EXTINO DA PUNIBILIDADE1. A rejeio da denncia ou queixa e a extino da punibilidade .... 2.Que se entende por extino da punibilidade?................................ 3. As causas extintivas da punibilidade.............................................. 4. 0 art. 107 do CP esgota todas as causas extintivas da punibili-5.Morte do agente...............................................................................6. Anistia, graa e indulto....................................................................

  • 7. Anistia...............................................................................................8. Graa e indulto.................................................................................9. Abolifio criminis..............................................................................10. Prescrio, decadncia e perempo...............................................11. Prescrio.........................................................................................12. Prescrio retroativa........................................................................13.Decadncia.......................................................................................1. Rejeio da pea acusatria5132. Aspecto formal da denncia ou queixa 5143. Viabilidade do direito de ao 5164. Viabilidade da relao processual5205. Recurso 522525 526 535 536 539 545 546 546 554 563XV 2." - DA EXTINAO DA PUNIBILIDADE

  • iDivisoQuem pode conceder o perdo?........................................................Aceitao do perdo..........................................................................Aceitao processual e extraprocessual............................................Extenso do perdo...........................................................................Perdo e renncia..............................................................................Perempo..........................................................................................12. Quais as causas que determinam a perempo?..............................13. Perempo, renncia e perdo..........................................................14. Retratao..........................................................................................15. Subsequens matrimonium................................................................16. Subsequens matrimonium cum tertio..............................................

  • 17. 0 perdo judicial, nos casos previstos em18.1. Conceito de renncia ............2. Renncia expressa e renncia tcita................................................3. Extenso...................................4. Perdo.................................................................................................5.6.7.8.9.10.li.0 pagamento do tributo no crime de sonegao fiscal ...................APNDICE567568572573574575576577578579

  • 580580588588593597600602Aditamento queixa611Arquivamento627BIBLIOGRAFIAXVIcaptulo 11. 0 litgioNoOes PreliminaresSUMRIO: 1 - 0 litgio. 2. Formas compositivas do litgio. 3. 0 monoplio da administraodajustia. 0 processo. 4. 0 processo absorveu as demais formas compositivas do litgio? 5. 0 juspuniendi. 6. 0 processo como complexo de atos e como re-lao jurdica. 7. 0 Processo Civil e oProcesso Penal. 8. Unidade ou dualidade do Direito Processual? 9. Conceito de DireitoProcessual Penal.10. Autonomia do Direito Processual Penal. 11. Instrumentalidade do Direito Processual. 12.Nomenclatura.13. Finalidade. 14. Posio no quadro geral do Direito. 15. Relao do Direito Processual Penalcom outros ramos do Direito e cincias auxiliares. 16. Princpios que regem o Processo Penal.17. Verdade real.18. 0 princpio da imparcialidade do Juiz.19. Princpio da igualdade das partes. 20. 0 princpio da persuaso racional ou do livreconvencimento. 21. Princpio da publicidade. 22.Princpio do contraditrio. 23. Princpio da iniciativa das partes. 24.Ne eatjudex ultrapetitapartium. 25. Identidade fsica do Juiz. 26. Princpio do devido processolegal. 27. Princpio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilcitos. 28. Princpio dainocncia. 29. Princpio do favor rei. 30. Princpio do duplo grau de jurisdio.

  • 0 homem no pode viver seno em sociedade. As sociedades so organizaes de pessoaspara a obteno de fins comuns, em benefcio de cada qual.Mas, se no houvesse umpoder, nessas sociedades, restrin-1gindo as condutas humanas, elas jamais subsistiriam. Cada um faria o que bem quisesse eentendesse, invadindo a esfera de liberdade do outro, e, desse modo, qualquer agrupamentohumano seria catico.Da o surgimento do Estado, com os seus indefectveis elementos: povo, territrio e governo.Num determinado espao do globo terrestre, cada povo "exerce um poder, exclusivo e supremo,de organizao da sua vida". Uma pequena minoria, escolhida segundo critrios varios, passa adirigir os destinos do povo.Visando continuidade da vida em sociedade, defesa das liberdades individuais, em suma, aobem-estar geral, os homens organizaramse em Estado. Desde ento eles se submeteram sordens dos governantes, no mais fazendo o que bem queriam e entendiam, mas o que lhes erapermitido ou no proibido.E verdade que a origem do Estado quase to velha quanto a fome, e, at hoje, os socilogosno chegaram a um acordo sobre o seu nascimento. Walter Bagehot, Spencer, Lowie, SuninerMaine, Gumplowics, Razenhofer, Oppenheimer, Conite, Jacques Novicow, Giddings, AlbionSmall, Haeys e outros tantos socilogos e pensadores no chegaram a um denominador comumsobre o surgimento do Estado. Como surgiu? Que foras contriburam para a suaformao? Ele se desenvolveu, gradualmente, a partir da famlia?Encontrou ele seu embrio na disciplina que havia na famlia patriarcal?Na luta entre as classes pela propriedade privada? Na conquista de um grupo sedentrio poroutro nmade? Teve origem na guerra, como queriam Machiavelli e Bodin?Para o nosso estudo, no nos interessa saber como e quando surgiu o Estado. 0 certo e recerto que ele existe como uma realidade irreversvel. Evidentemente, nos seus primeiros anos, todosos poderes se enfeixavam nas mos de uma s pessoa, como no regime tribal, na famlia de tipopatriarcal. Depois, com o crescimento do agrupamento humano, por certo houve necessidade dedistribuio de funes, e, finalmente, num estgio mais avanado, os rgos quedesempenhavam as funes mais importantes, as funes bsicas, atingiram a posio dePoderes.A transformao foi paulatina.Para atingir os seus fins, as funes bsicas do Estado - legislativa, administrativa e jurisdicional- so entregues a rgos distintos: Legislativo, Executivo e Judicirio. Tal repartio, sobre sernecessria, em virtude das vantagens que a diviso do trabalho proporciona, torna-2se verdadeiro imperativo, para que se evitem as prepotncias, os desmandos, o aniquilamento,enfim, das liberdades individuais.Insuportvel seria viver num Estado em que a funo de legislar, a de administrar e a de julgarestivessem enfeixadas nas mos de um so orgo.Trs, pois, os rgos que se altearam a Poderes.Essa tripartio, contudo, no conquista muito antiga. At h pouco tempo havia Estados que

  • desconheciam essa trade de Poderes, embora recoalcessem e julgassem necessrias asfunes que lhes so afetas. Havia, ento, rgos exercendo funes jurisdicionais, legislativase administrativas sob o comando de um s homem, como se o Estado fosse uma grandeorquestra regida pela batuta de um maestro. Montesquieu refere-se Turquia do seu tempo,onde os trs"Poderes" eram reunidos na cabea do "sulto", advindo da tremendo despotismo.Em certos Estados em formao, legisla-se arbitrariamente, administra-se discricionariamente, ea justia feita segundo a vontade dos governantes. evidncia, no h a a menor seguranajurdica.Da a necessidade da tripartio dos Poderes. No h nem deve haver um Chefe, como umTodo-Poderoso. A soberania nacional, isto , "o poder supremo, exclusivo e autodeterminante dedar ordens incontrastveis, sancionadas pela fora", exercida pelos trs Poderes, ficando cadaqual nos estreitos crculos de suas atribuies: um legislando, outro administrando e o terceirojulgando, aplicando a lei.Eles devem ser independentes e harmnicos entre si. Nenhum deles pode sobrepor-se aosdemais dentro nos seus crculos de atribuies. No h nem deve haver hierarquia entre eles.Cada qual atua dentro nas suas respectivas esferas.0 Legislativo no pode elaborar leis que afrontem a Constituio. Se o fizer, cabe ao Judiciriojulg-las sem eficcia. 0 Executivo no pode cometer arbitrariedades e desmandos. Mas, se issoacontecer, encontrar um basta partido do Judicirio, tal como ocorre com a concesso dehabeas corpus, quando agentes do Executivo levam a efeito medidas'irmalidadesrestritivas da liberdade individual, sem a observncia das legais.A funo do Legislativo legislar, elaborando leis que venham ao encontro dos reclamos dasociedade, sem ferir a Constituio. A do Executivo, administrar, observando os preceitos legais.A do Judicirio, julgar, aplicando as leis aos casos concretos.3i ~E, assim, os trs Poderes, como emanao da soberania nacional, desempenham as funesestruturais e bsicas do Estado: legislao, administrao e jurisdio. Um legisla, outroadministra e o terceiro julga.Quando o povo se organizou em Estado, a primeira preocupao foi a de dar-lhe a necessriaestruturao. Essa estruturao orgnica do Estado outra coisa no seno a sua prpriaConstituio, a sua Lei Maior, a Carta Magna. Quem traa os princpios que devem disciplinar avida do Estado? Quem delineia sua estrutura? Evidente que nas sociedades de antanho, dediminuta populao, era o prprio povo que se guindava posio de "poder constituinte", paraprojetar a estrutura poltica do agrupamento humano respectivo.Hoje, de modo geral, esse poder continua sendo do povo, exercido, contudo, em virtude daexploso demogrfica, por seus representantes, eleitos para tal fim. Eles se renem emAssemblia Constituinte e elaboram a Constituio do Estado. Outras vezes surge ummovimento poltico-jurdico no Estado, e o poder de delinear sua estrutura cabe ao Poderemergente daquele movimento. Ento, na Magna Carta, distribuemse as funes bsicas do

  • Estado (legislativa, executiva e judiciria) a rgos distintos que se alam categoria de Poder,porquanto as funes que cada um deles exerce constitui uma delegao direta do povo. Assim,se o prprio povo, por meio dos seus representantes, delegou a determinado rgo a funo delegislar, de administrar e de julgar, evidente que cada um deles soberano dentro no seucrculo de atribuies. A soberania, poder supremo do Estado, exercida por aqueles trsPoderes, sem que ela perca o sentido da sua unidade. Apenas cada Poder exerce as atividadesque lhe so prprias, exclusivamente no interesse e proteo das liberdades individuais e dobem-estar geral.Por a se v que os Poderes no podem ser hierarquizados. Se fossem, os trs redundariam nums: o mais alto, o que estivesse na cumeada. Os demais seriam simples rgos incumbidos dedeterminadas tarefas. No seriam Poderes, porquanto no poderiam opor-se e contrapor-sequele que estivesse no pncaro, isto , ao mais graduado.0 elemento especfico do Poder, j se disse, " a capacidade de opor-se a outro qualquer Poderquando um venha a invadir a esfera de atribuio do outro".Para manter a harmonia no meio social e, enfim, para atingir os seus objetivos, um dos quais seala posio de primordial - o bemestar geral -, o Estado elabora as leis, por meio das quais seestabelecem normas de conduta, disciplinam-se as relaes entre os homens e4regulam-se as relaes derivadas de certos fatos e acontecimentos que surgem na vida emsociedade. Essas normas, gerais e abstratas, dispoem, inclusive, sobre as conseqncias quepodem advir do seu descumprimento. Em face de um conflito de interesses, ds quejuridicamente relevante, a norma dispe no s quanto relevncia de um deles, como tambmquanto s conseqncias da sua leso.Tais normas so, pois, indispensveis, para que se saiba o que se pode jo-que no se podefazer. 0 homem precisa, pois, contribuir para que a sociedade no se destrua, no se aniquile,porquanto sua destruio implica seu prprio aniquilamento. Se ele precisa da sociedade,obviamente deve pautar seus atos de acordo com as normas de conduta que lhe so traadaspelo Estado, responsvel pelos destinos, conservao, harmonia e bem-estar da sociedade.Entretanto, conforme vimos, no isso e, que ocorre. Os conflitos de interesses, dos maissingelos aos mais complexos, verificam-se com freqncia. Por outro lado, quando "o sujeito deum dos interesses em conflito encontra resistncia do sujeito do outro interesse", fala-se em lide.Esta , pois, na difundida lio de Carnelutti, um conflito de interesses qualificado por umapretenso resistida ouinsatisfeita (cf. Sistema del diritto processuale civile, Padova, 1936, v. 1, p. 40).Ainda segundo o ensinamento do mestre, denomina- se Pretenso a exigncia de subordinaode um interesse alheio ao interesse proprio. Na lide, h um interesse subordinante e umsubordinado.Um que deve prevalecer, por ser protegido pelo Direito, e outro que deve ser subordinado, porlhe faltar a tutela jurdica.Se Caio deve a Tcio e no quer pagar, diz-se que Tcio tem uma pretenso, porquanto podeexigir que o interesse de Caio em no lhe pagar (interesse subordinado) se subordine ao seu(que subordinante), que o de receber. Como, nesse exemplo, a pretenso de Tcio estencontrando resistncia, diz-se que h litgio ou lide.

  • Mas pouca importncia teria essa tarefa do Estado em estabelecer normas de conduta aos seusco-associados com a ameaa de uma sano, se, porventura, no conseguisse um modorazovel para solucionar esses conflitos de interesses que surgem a todo instante na vida emsociedade. E os conflitos se resolvem e ficam solucionados fazendo-se prevalecer o interesseque realmente for tutelado pelo direito objetivo.Estabelecer as normas de conduta que devem ser observadas por todos tarefa do Estado-Legislao, isto , do Poder incumbido de ela-511borar as leis reguladoras e disciplinadoras dos fatos e relaes emergentes da vida, como asrelaes decorrentes do casamento, da propriedade, do comrcio etc. Ao Poder Legislativocumpre, pois, elaborar as normas disciplinadoras dessas relaes (normas civis, comerciais,trabalhistas, penais etc.), surgindo, assim, conforme pondera Manzini, uma relao de sujeiogeral, pois todos quantos se encontrem no territrio do Estado esto obrigados observncia desuas leis.Mas de nada valeriam essas nor~ias se o legislador no cominasse sanes queles que,porventura, viessem a transgredi-Ias. Para as infraes mais graves, sanes mais severas; paraos ilcitos menos graves, sanes mais brandas.Assim, por exemplo, estabelece o legislador ptrio, no art. 1.275 do CC, que "o depositrio, semlicena expressa do depositante, no pode servir-se da coisa depositada". Esta a norma decomportamento. Ese, por acaso, dela servir-se sem assentimento expresso do depositante?Ficar sujeito a uma sano prevista no mesmo corpo do citado dispositivo legal: responder porperdas e danos. Sano branda, de natureza civil.Se algum, numa rodovia, ultrapassa o limite legal, sujeita-se a multa.Sano branda, de natureza administrativa.Entretanto, no meio social, praticam-se muitos atos que afetam sobremaneira a vida emsociedade, pondo em risco sua propria segurana.So as infraes penais, condutas contrrias ao direito e que, por sua gravidade, so punidasseveramente. Sua catalogao no fica ao belprazer do legislador. Este, obviamente, observaque determinadas condutas se desviam daquilo que, em geral, aceito pelo grupo, e, dada a suagravidade e natureza anti-social, exigem uma sano mais ou menos severa: a pena. Cabe,pois, ao legislador observar, no meio social, quaisas condutas anti-sociais, crigindo-as categoria de infraes penais. claro que esse conceito de anti-sociabil idade de determinada conduta varia no tempo e noespao. Em alguns pases orientais, a poligamia um indiferente penal. Aqui, infrao penal.Entre ns, at h pouco tem-1po, plantar maconha no constitua crime. Depois, observou o legislador que o uso desubstncias capazes de determinar dependncia fsica ou psiquica grassou e se proliferou de talforma, que outra opo no teve seno estabelecer medidas severas para evitar a propagaodo mal, punindo, tambm, aquele que plantasse a cannabis sativa L.

  • 6d0 aborto permitido em algumas legislaes e, em outras, no. Mas algumas condutas so deto grande teor de anti- sociabilidade que as legislaes dos povos civilizados as elevam categoria de infraes penais. Homicdio, latrocnio, por exemplo.0 Estado, ento, por meio do Poder Legislativo, procurou, inspirado no grau de civilizao do seupovo, proibir a prtica de determinados atos, de certas condutas humanas, cominando sanesseveras quele que v'a praticar o fato incriminado. A sano a pena, que tanto poder serprivativa de liberdade como patrimonial, dependendo da gravidade do fato punvel.Dessa forma, dispe o CP que matar algum constitui infrao penal, e a sano esta: pena derecluso de 6 a 20 anos.Se todos ns nos subordinssemos s ordens abstratas das leis que tutelam nossos interesses ebens, haveria uma "geral e espontnea submisso dos interesses ordem jurdica", edesnecessria seria qualquer preocupao do Estado em restaur-la.Entretanto, como sabemos, no isso o que ocorre. Freqentemente surgem no meio socialnumerosos conflitos de interesses em virtude de descumprimento da norma de comportamentoinserta no Praeceptum juris. Ora Caio que foi despedido injustamente, e o empregador no lhequer pagar a indenizao devida; ora o inquilino que, a despeito de estar atrasado nosalugueres. no quer desocupar o prdio locado; ora o depositrio que se serviu da coisadepositada, sem expressa autorizao do depositante, estragou-a e no quer ressarcir osprejuzos. E, assim como esses, muitos outros casos.Tais situaes so denominadas conflitos de interesses e de interesses juridicamente protegidos(pois a lei os tutelou com a ameaa de uma sano).A palavra interesse, no particular, expressa os desejos, as exigncias, os anseios, asaspiraes, a cobia, a ambio a respeito de um bem da vida. A razo entre o homem e osbens, ensina Moacyr Atriaral Santos, ora maior, ora menor, o que se chama interesse. Muitas emuitas vezes, em face de dois bens, o homem tem interesse em ambos. Se puder satisfazer erealizar aqueles dois interesses, melhor para ele. No o podendo, deve sacrificar o que no lhetrouxer uma utilidade imediata. s vezes, entretanto, h dois sujeitos pretendendo satisfazer erealizar o interesse quanto ao mesmo bem.Fala-se, ento, em conflito de interesses.71Q2. Formas compositivas do litgioi10 emprego da fora maior devia ter sido a forma mais usual para a soluo do conflito. Era a"autodefesa". Mas, sobre ser uma soluo egosta, era por demais perigosa, pois, s vezes,

  • comopreleciona AlcalZamora, o ofendido podia ser mais fraco que o autor do ataque e, assim, longede obter a reparao do delito ou do dano sofrido, podia experimentar um novo e mais graveataque. E se o prejudicado no reagisse? E se por ele ningum assumisse a defesa-vingana?A justia privada se traduziria em impunidade (cf. Derecho procesal penal, v. 1, p. 10).E at hoje, conforme observa Calamandrei, ante a ausncia de um poder supra-estatal capaz deimpor com a fora as prprias decises aos Estados, a extrema ratio para resolver os conflitos a guerra.Assim, tambm, na co-associao primitiva, o nico meio de defesa residia na fora. Evidenteque a violncia armada, o emprego da fora, "como meio de defesa do direito, implica a negaode todo o direito e de toda convivncia social pacfica". Mais: seria uma temeridade deixar aosprprios interessados a incumbncia de resolverem por si ss os prprios conflitos, porquantoficaria "excluda a possibilidade de uma deciso imparcial". Poderia haver excessos. E se umdos litigantes fosse mais fraco? Haveria ento impunidade. Acentue-se com Calmon de Passos:onde a deciso do conflito se entrega fora dos competidores, o mais forte tem sempre razo.Por isso mesmo dizia La Fontaine: "La raison du plus fort est toujours Ia meilleure"... Em vez dolema silent leges inter arma, o que deve prevalecer, na lio de Ccero, o cedant arma togae...Outro meio para a soluo dos litgios era a "composio", ou, na linguagem de Carnelutti, a"autocomposio". Pela economia de despesas, de gastos, seria uma forma excelente. Todaviaa"autocomposio", embora vigente, ainda hoje, para numerosos casos, no pode ser estendida generalidade dos conflitos, uma vez que, com freqncia, "envolve uma capitulao do litigantede menor resistncia". Ademais, e se um dos conflitantes no quisesse a composio?3. 0 monoplio da administrao da justia. 0 processo Era preciso, destarte, que a composio,a soluo do litgio (e por soluo de litgio se entende a aplicao da vontade concreta da lei, fa-8i2zendo prevalecer o interesse tutelado pelo direito), se fizesse de maneira pacfica e justa. Erapreciso, tambm, que tal funo (a de solucionar o litgio) ficasse a cargo de um terceiro. Masquem, no meio social, poderia desincumbir-se desse mister? No bastava ser um terceiro, umrbitro enfim. Era preciso, antes de mais nada, que se tratasse de um terceiro forte demais, demodo a tornar sua deciso respeitada e obedecida por todos, principalmente pelos litigantes.Cmo se percebe, somente o Estado que podia ser esse terceiro. Ento o Estado chamou a si,avocou a tarefa de administrar justia, isto e, a tarefa de aplicar o direito objetivo aos casosconcretos, dando a cada um o que seu. Os litgios afetavam e afetam sobremaneira asegurana da ordem jurdica, e, assim, para manter a ordem no meio social, para restaurar aordem jurdica quando violada, a justia - arte de dar a cada um o que e seu - passou a serexercida, administrada pelo Estado.Foi, pois, pela necessidade de pacificar o grupo e de "restabelecer, em benefcio dele, a ordemjurdica, ameaada ou violada, que o Estado interveio no campo da administrao da justia".Essa interveno, entretanto, ocorreu paulatina e gradativamente. A princpio, o Estado

  • disciplinou a "autodefesa". Mais tarde, despontou em algumas civilizaoes sua proibio quantoa certas relaes, a certos conflitos. E, assim, aos poucos, foi-se acentuando a intervenao doEstado, culminando por ved-la. No de todo, como veremos adiante, mas vedando-a. Nodecreto de Marco Aurlio, castigava-se com a perda de direito o credor que, sem recorrer ao Juiz,fizesse pagar a dvida para si com o emprego da fora (quisquis igiturprobatus mihi fuerit remullam debitoris vel pecuniam debitam non ab ipso sibi sponte datam sine ullo judice temerepossidere vel accepisso, isque sibi jus in eam dixisse: jus crediti non abebit).Esclarece Chiovenda que, nas leis de Hamurabi, notavam-se, tambm, enrgicas sanescontra a violncia privada (cf. Instituies de direito processual civil, Saraiva, 1965, v. 1, p. 38).Aquelas proibies de "autodefesa" para determinados litgios foram-se generalizando atchegar proibio total, "como uma das premissas fundamentais sobre que assenta o edifcioconstitucional do Estado".Hoje, portanto, somente o Estado que pode dirimir os conflitos de interesses. Da dizer Graf ZuDolma que o Estado detm o monoplio 9da administrao da justia. E tanto isso exato que em todas as legislaes existe normasemelhante quela do art. 345 do nosso CP: proibido fazer justia com as prprias mos,embora a pretenso seja legtima. S o Estado, e exclusivamente o Estado, que podeadministr-la. Da se infere que, detendo ele o monoplio da administrao dajustia, surge-lhe o dever degaranti-Ia.Desse modo, se apenas o Estado que pode administrar justia, solucionando os litgios, e ele ofaz por meio do Poder Judicirio, bvio que, se algum sofre uma leso em seu direito, estandoimpossibilitado de faz-lo valer pelo uso da fora, pode dirigir-se ao Estado, representado peloPoder Judicirio, e dele reclamar a prestao jurisdicional, isto , pode dirigir-se ao Estado-Juize exigir dele se faa respeitado o seu direito. A esse direito de invocar a garantia jurisdicionalchama-se direito de ao.Por essas razes que o Estado pe, disposio de todos ns, os 1-orgos prprios da administrao da justia (so os Juzes), a fim de solucionarem os litgios queos interessados levarem ao seu conhecimento.0 direito de ao encontra, pois, seu fundamento na proibio de se fazer justia com as prpriasmos. S o Estado, por meio do Poder Judicirio, que pode fazer justia, dando a cada um oque seu. A est a ratio essendi do art. 5.', XXXV, da Magna Carta, ao estabelecer que "a leino excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito".Mas de que maneira o Estado procede composio da lide? De que maneira o Estadoconsegue dirimir os conflitos de interesses? Por meio do processo. Este nada mais senoforma de composio de litgios. Em sua etimologia, a palavra processo traz a idia de ir parafrente, de avanar. Ensina Fenech: o processo e, e outra coisa no pode ser, seno um fato comdesenvolvimento temporal, um fato que apresenta mais de um momento, um fato que no seesgota no instante mesmo da sua produo. Fato que se desenvolve no tempo equivale srieencadeada de fatos parciais, menores, que constituem ou integram o fato total (cf. Derechoprocesal penal, v. 1, p. 54). Eacrescenta o mestre: esta dimenso temporal, este desenrolar-se ou desenvolver-se no tempo

  • a nota essencial do processo, de todo processo e de qualquer processo. No pode haverprocesso se no h um desenvolvimento no tempo, e, por outro lado, no pode haver nenhumfato que se desenvolva no tempo ao qual no se possa corretamente aplicar a palavraprocesso(cf. Derecho, cit., p. 54).10Podemos falar em processos patolgicos, em processos csmicos e assim por diante. 0processo de que cuidamos, forma compositiva de litgios, est integrado por atos que sedesenrolam, tambm,em sua dimenso temporal. J no se fala ernfatos, mas em atos, porque o processo, comoforma civilizada de soluo de lides, inicia-se, desenvolvese e termina pela vontade do homem.Ento o processo uma sucesso de atos com os quais se procura dirimir o conflito deinteresses. Nele se desenvW1,ve uma srie de atos coordenados visando composio da lide, e Te compe, ficasolucionada, quando o Estado, por meio do Juiz, depois de devidamente instrudo com as provascolhidas,depois de sopesar as razes dos litigantes, dita a sua resoluo com fora obrigatria. Assim,quando o proprietrio deixa de receber os alugueres do imvel locado, porque o inquilino serecusa a pagar-lhe, no podendo aquele fazer valer o seu direito fora (pois somente o Estado que administrajustia), poder dirigir-se ao Estado-Juiz (direito de ao), narrandolhe, porescrito, em que consistiu a leso do seu direito e, ao mesmo tempo, solicitando-lhe a aplicaoda vontade concreta da lei, fazendo com que o seu interesse, realmente tutelado pelo direitoobjetivo, prevalea em face da resistncia do inquilino. 0 Juiz, ento, determina seja o inquilinocientificado da pretenso exposta em juzo, chamando-o para vir defender-se. 0 inquilino atendeao chamamento. Defende-se. Proprietrio e inquilino procuram, com provas exibidas e dando assuas razes, convencer o Juiz de que o pedido deve ser julgado procedente ou improcedente, e,a final, o Magistrado, como rgo imparcial, aps estudometiculoso das provas e das alegaes das partes contendoras, vale dizer, aps reunido omaterial de cognio, aplica coativamente a norma jurdica adequada soluo da referida lide.Isso e processo, e um complexo de atos que se sucedem, coordenadamente, com um objetivocomum, com uma causa finalis: a soluo, a composio da lide. Pode-se dizer, tambm, queprocesso aquela atividade que o Juiz, encarregado que de solucionar os conflitos deinteresses de maneira imparcial, secondo verit e secondo giustizia, desenvolve, visando dar acada um o que e seu.4. 0 processo absorveu as demais formas compositivas do litgio?Insta acentuar que, embora a composio dos litgios se opere por meio do processo, este noabsorveu totalmente as demais formas compositivas da lide. Caso se d uma vista Wolhos nonossojuspositum,11constatar-se- que, excepcionalmente, permite a lei ao indivduo prover a conservao ou aobteno de um bem jurdico com a execuao de atos que regra geral lhe so defesos. Aobservao feita por Chiovenda, e a acomodao ao direito ptrio levada a cabo por Liebman(cf. Instituies de direito processual civil, acompanhadas de notas do Prof. Liebman, Saraiva,1965, v. 1, p. 38). Vejam-se, a propsito, as normas que se contm nos arts. 502, 558 e 1.279 do

  • CC.Trata-se de casos de verdadeira "autodefesa", consentida e moderada pelo Estado. Por outrolado, proclamam os arts. 160 do CC e 24e 25 do CP serem lcitos os atos praticados em legtima defesa ou em estado de necessidade.Quanto autocomposio, ainda se mantm, quando emjogo interesses disponveis. Astransaes so muito comuns na esfera extrapenal.Atualmente, com a criao dos Juizados Especiais Criminais, nas causas penais de menorpotencial ofensivo, a -transao- no passa de verdadeira -autocomposio", mais ou menos maneira do que ocorre com o plea bargaining dos norte-americanos.5. 0 Jus puniendi"Dos bens ou interesses tutelados pelo Estado (por meio das normas), uns existem cuja violaoafeta sobremodo as condies de vida em sociedade.0 direito vida, honra, integridade fsica so exemplos. Tais bens e muitos outros sotutelados pelas normas penais, e sua violao o que se chama ilcito penal ou infrao penal. 0ilcito penal atenta, pois, contra os bens mais caros e importantes de quantos possua o homem,e, por isso mesmo, os mais importantes da vida social.Mas como esses bens ou interesses so tutelados em funo da vida social, como tais bens ouinteresses so eminentemente pblicos, eminentemente sociais, o Estado, ento, ao contrrio doqueocorre com outros bens ou interesses, no permite que a aplicao do preceito sancionador aotransgressor da norma de comportamento, inserta na lei penal, fique ao alvedrio do particular.Conforme acentua Fenech, quando ocorre uma infrao penal, quem sofre a leso e o proprioEstado, como representante da comunidade perturbada pela inobservncia da norma jurdica, e,assim, corresponde ao prprio Estado, por meio dos seus rgos, tomar a iniciativa motu proprio,para garantir, com sua atividade, a observncia da lei.Por essa razo, quando se comete uma infrao penal, quem sofre a leso o prprio Estado, apar da leso sofrida pela vtima. Observe-12se, como muito bem recorda Ambal Bruno, que muitos autores distinguem, no crime, um sujeitopassivo geral, genrico ou constante, que o Estado, sob a alegao de que h sempre uminteresse pblico violado pelo crime e um sujeito passivo particular, que o titular do bemjurdico ofendido (cf. Direito penal, t. 2, p. 562).Porque os bens tutelados pelas normas penais so eminentemente pblicos, eminentementesociais, o jus puniendi, o direito de punir os infrat*es, o direito de poder impor a sanctio jurisqueles que descumprirem o mandamento proibitivo que se contm na lei penal, corresponde sociedade. Ningum desconhece que a prtica de infraes penais transtorna a ordem pblica, ea sociedade e a principal vtima e, por isso mesmo, tem o direito de prevenir e reprimir aquelesatos que so lesivos a sua existncia e conservao.Nota muito bem Gonzales Bustamante que ojuspuniendi equivale legtima defesa que sereconhece aos particulares. A sociedade tem o direito de defender-se, adotando contra qualquerpessoa que ponha em perigo sua tranqilidade as medidas preventivas e repressivas que sejamcondizentes (cf. Principios de derecho procesal penal mexicano, Porra, p. 3).Como a sociedade, assim entendida, uma entidade abstrata, a funo que lhe cabe, de reprimir

  • as infraes penais, permanece em mos do Estado, que a realiza por meio dos seus rgaoscompetentes.0 jus puniendi pertence, pois, ao Estado, como uma das expresses mais caractersticas da suasoberania. Observe-se, contudo, que o jus puniendi existe in abstracto e in concreto. Com efeito.Quando o Estado, por meio do Poder Legislativo, elabora as leis penais, cominando sanesqueles que vierem a transgredir o mandamento proibitivo que se contm na norma penal, surgepara ele o jus puniendi num plano abstrato e, para o particular, surge o dever de abster-se derealizar a conduta punvel. Todavia, no instante em que algum realiza a conduta proibida pelanorma penal, aquelejus puniendi desce do plano abstrato para o concreto, pois, j agora, oEstado tem o dever de infligir a pena ao autor da conduta proibida.Surge, assim, com a prtica da infrao penal, a "pretenso punitiva".Desse modo, o Estado pode exigir que o interesse do autor da conduta punvel em conservar asua liberdade se subordine ao seu, que o de restringir ojus libertatis com a inflio da pena.A pretenso punitiva surge, pois, no momento em que o'juspuniendi"in abstracto se transfigura no "jus puniendi" in concreto.iObserva-se, aqui, um fenmeno interessante: com o simples surgimento da pretenso punitivaforma-se a lide penal. Mesmo que o autor da conduta punvel no queira resistir pretensoestatal, dever faz-lo, pois o Estado tambm tutela e ampara ojus libertatis do indigitadoautor do crime. Revela-se, assim, a lide penal, por meio do binmio: direito de punir versusdireito de liberdade. , pois, sui generis o litgiopenal.E de que forma consegue o Estado tomar efetivo o seu direito de punir, infligindo a pena aoculpado? Tambm por meio do processo. Mas, se o Estado o titular nico e exclusivo dodireito de punir, por que razo necessita ele de recorrer s vias processuais para demonstrar oseu direito de punir, abdicando de sua soberania? No lhe seria mais fcil e mais cmodo auto-executar o seu poder repressivo? E, assim procedendo, a represso ao criminoso no seria feitacom mais rapidez e mais energia?Da mesma forma que no haveria equilbrio estvel no meio social se se permitisse, no campoextraperial, s prprias partes litigantes decidirem, pelo uso da fora, seus litgios, tambm eprincipalmente no campo penal, na esfera repressiva, os abusos indescritveis se multiplicariamem nmero sempre crescente, em virtude dos desmandos que o titular do direito de punir, cego edesenfreado, passaria a cometer. Quem poderia viver num Estado em que a represso sinfraes penais, a imposio da pena ao presumvel culpado ficasse a cargo exclusivo doprprio titular do direito de punir?Pondo os olhos nessa realidade incontrastvel, o Estado, ento, autolimitou o seu poderrepressivo. 0 Direito Penal, pois, no um direito de coao direta. Embora o Estado detenha odireito de punir, ele prprio no pode execut-lo. Ele se submete, assim, ao imprio da lei. Emsuma: embora o Estado detenha o jus puniendi, no poder faz-lo atuar com o uso direto da fora. Pondera Eberhard Schmidt: "hecha abstraccin de las

  • empresas guerreras de los detentadores del poder, nada hay causado a la humanidad tantossufrimientos, tormentos y lgrimas, como el poder del Estado que se realiza en la actividad penalpblica. Es or esto que la gran idea del Estado del derecho, que se desconfa a si mismo y quepor eso reprime y compromete su poder teniendo en cuenta las trgicas experiencias que lahistoria del derecho penal nos14proporciona, se impone en forma subyugante a cualquiera que se muestre sensible a lasenseanzas de la historia" (cf. Derecho procesal penal, trad. esp. Jos M. Nuez, Ed. Argentina,1957, p. 24).Reconheceu, pois, o Estado que o processo, mesmo para as relaes jurdico-penais, fatorindispensvel, porquanto visa a proteger os'cidados contra os abusos do Poder Pblico, "porque insensiblemente el uso ilimitado del poderse presta a abusos". E porque todo o manejo do poder #ivolve a possibilidade de abusos que oprprio Estado reconheceu a necessidade de que a pena se aplique mediante um processo.Assim, pelo respeito dignidade humana e liberdade individual que o Estado fixa amanifestao do seu poder repressivo no s em pressupostos jurdico-penais materiais (nullumcrimen nulla poena sine lege), como tambm assegura a aplicao da lei penal ao casoconcreto, de acordo com as formalidades prescritas previamente em lei, e sempre por meio dosrgos jurisdicionais (nulla poena sinejudice, nulla poena sine judicio). 0 princpio do nullumcrimen nulla poena sine lege se complementa com os princpios nulla poena sine judice e nullapoena sinejudicio, o que significa que as leis materiais, o processo e o rgo jurisdicional. sofatores indispensveis nas relaes jurdico-penais. As leis penais materiais descrevem asfiguras tpicas e cominam as respectivas sanes. As leis processuais estabelecem as regras,princpios e formalidades que devem ser observadas para se lograr a deciso do Juiz.Finalmente, o Juiz a pessoa investida do poder soberano do Estado, para, em cada casoconcreto, declarar o direito.Da a elevao dos princpios nullum crimen nulla poena sine lege, nulla poena sinejudice enullapoena sinejudicio categoria de dogmas constitucionais, como autolimitao da funopunitiva do Estado. No h crime sem lei anterior que o defina; no h pena sem prviacominaao legal. como soa o inc. XXXIX do art. 5.' da Magna Carta, enfatizado no art.1.' do CP, consagrando,'assim, o princpio da reserva legal.Nulla poena sinejudice. Nenhuma pena poder ser imposta seno pelo Juiz.Com efeito, dispe o iric. XXXV do art. 5.' da Lei das Leis: "A lei no excluir da apreciao doPoder Judicirio leso ou ameaa a direito". Ora, se a liberdade um direito individual, talvez ato mais importante de quantos possua o homem, e se a inflio de uma pena lesiona tal direito,no poder a lei, por mais importante que seja, subtrairdos Juzes a apreciao de tal leso. S o Juiz e exclusivamente o Juiz que poder dizer se oru culpado, para poder impor a medida restritiva do jus libertatis.Nulla poena sine judicio. Nenhuma pena poder ser imposta ao ru, seno com observncia dodue process of law. Se a Lei Maior, no inc. LIV do art. 5.", proclama que "ningum ser privadoda liberdade ou de seus bens sem o devido processo legaV, conclui-se que a imposio de penaao pretenso culpado precedida de um regular processo presidido pelo seu Juiz natural, ficando

  • as partes, acusadora e acusada, situadas em um mesmo plano processual de direitos e deveres,a fim de que ajustia no fique menoscabada em benefcio da parte mais bem situadaprocessualmente. "A expresso'devido processo legal', oriunda da Magna Carta de 1215, diz Ada Pellegrini Grinover, indica oconjunto de garantias processuais a serem asseguradas parte, para a tutela de situaes queacabam legitimando o prprio processo" (cf. Rev. da PGES, 19/13). Quando a Suprema Cortedos EUA teve de estabelecer em que consistiam essas garantias do due process of law e law ofthe land proclamou:"determinando o que o 'due process of law' nas Emendas V e XIV, a Corte deve referir-se aosusos estabelecidos, aos procedimentos consagrados antes da emigrao dos nossosantepassados". Em ltima anlise, diz Couture, o due process of law consiste no direito de noser privado da liberdade ou de seus bens, sem a garantia que supe a tramitao de umprocesso desenvolvido na forma que estabelece a lei (cf. Fundamentos del derecho procesalcivil, Depalma, 1972, p. 101).Dessa igualdade entre as partes acusadora e acusada, veio a mxima: non debet actori licerequoti reu non permittitur (no lcito permitir ao autor o que no for permitido ao ru). Eindispensvel que o Estado, na qualidade de titular do direito de punir, e o ru, titular do direitode liberdade, na pugna judiciria, encontrem-se no mesmo p de igualdade. "Donde se concedams en esta lucha judicial a la sociedad que al individuo, o viceversa, no se puede esperar lajusticia de la sentencia, ya porque esto mismo es una injusticia, ya porque no se puede llegar aldescubrimiento de la verdad entre dos afirmaciones contrarias, si a una y otra parte no se dejaseigual facultad de presentar lo que conduzca a sostener la afirmacin propia"(cf. E. J. Asenjo, Derecho procesal penal, v. 1, p. 104).Desse modo, o Estado somente poder infligir pena ao violador da norma penal aps acomprovao de sua responsabilidade (por meio do processo) e mediante deciso do rgojurisdicional.16Da o acerto desse ensinamento de Frederico Marques: "uma vez que a regra do nulla poenasinejudicio foi acolhida pelo legislador constitucional quando estabeleceu a necessidade deprocesso e sentenas judiciais para a condenao penal, bvio que o direito de punir no auto-executvel, dependendo sempre da apreciao jurisdicional" (cf. Curso de direito penal, v.3, p. 333).Assim, quando algum comete uma infrao penal, o Estado, como titular do direito de punir,impossibilitado, pelas razes expostas, de auto-executar seu direito, vai ajuzo (tal qual oparticular que teve seu interesse atingido pelo comportamento ilcito de outrem) por meio dorgo prprio (o Ministrio Pblico) e deduz a sua pretenso. 0Juiz, ento, procura ouvir o pretenso culpado. Colhe as provas que lhe foram apresentadas porambas as partes (Ministrio Pblico e ru), recebe as suas razes e, aps o estudo do materialde cognio recolhido, procura ver se prevaleceu o interesse do Estado em punir o culpado, ouse o interesse do ru, em no sofrer restrio no seujus libertatis. Em suma: o Juiz dir qual dosdois tem razo. Se o Estado, aplica a sanctio juris ao culpado. Se o ru, absolve-o. Isso eprocesso.Tambm aqui (no campo penal), e com mais razo ainda, o Estado que administra justia pormeio dos Juzes. No se poderia confiar tal funo "autodefesa" dos particulares. Segundo osdados da experiencia, adverte Beling, da "autodefesa" no se pode esperar uma execuo

  • adequada das penas (cf. Derecho procesal penal, trad. M. Fenech, Labor, 1945, p. 19).Se o direito de punir pertence ao Estado, se a pena somente poder ser imposta pelo rgojurisdicional por meio de regular processo, se este se instaura com a propositura da ao, bvio que o Estado necessita de rgos para desenvolverem a necessria atividade, visando aobter a aplicao da sanctio juris ao culpado. Essa atividade denominada persecutio criminis.E tal direito persecuo penal (investigar o fato infringente da norma e pedir o julgamento dapretenso punitiva) , como diz Manzini, uma obrigao funcional do Estado para lograr um dosfins essenciais para os quais o prprio Estado foi constitudo (segurana e reintegrao daordem jurdica).Para que o Ministrio Pblico, como rgo do Estado, possa exercer o direito de ao penal,levando ao conhecimento do Juiz a notcia sobre um fato que se reveste de aparncia criminosa,apontando-lhe,17i1tambm, o autor, curial deva ele ter em mos os dados indispensveis.Tais informaes preliminares so colhidas, no primeiro momento da persecuo, pela PolciaJudiciria, ou civil, como diz a Constituio, outro rgo do Estado incumbido de investigar o fatotpico e sua respectiva autoria, a fim de possibilitar a propositura da ao penal. Assim, apersecutio criminis apresenta dois momentos distintos: o da investigao e o da ao penal. Estaconsiste no pedido de julgamento da pretenso punitiva, enquanto a primeira atividadepreparatria da ao penal, de carter preliminar e informativo.6. 0 processo como complexo de atos e como relao jurdica Vimos que, praticada a infraopenal, surge a pretenso punitiva (Strafanspruch), exigncia do Estado de subordinao dointeresse do ru, em manter ntegro ojus libertatis, ao seu, que o de puni-lo, a fim de conservare resguardar a ordem jurdica e a segurana da coletividade. Formada a lide penal, o Estado, pormeio dos rgos competentes, pe-se, inicialmente, a desenvolver intensa atividadeinvestigadora para tornar possvel conhecer o genuno autor da infrao penal, bem como paracolher as primeiras informaes a respeito do fato infringente da norma, das circunstncias que omotivaram e daquelas que o circurivolveram. Essa primeira fase da persecuo, embora nointegre propriamente oprocesso, a ele se liga por uma necessidade lgica. Colhidas as primeirasnotcias sobre a infrao e identificado o seu autor, o Estado, j agora representado por outrorgo, o Ministrio Pblico, leva ao conhecimento do Juiz, em petio circunstanciada, apretenso punitiva, instaurando-se, assim, oprocesso. Vrios atos, com relevncia para oprocesso, sucedem-se, ento, de acordo com as regras e formalidades que devem serobservadas: recebimento da denncia, citao do ru, interrogatrio, defesa prvia, ouvida detestemunhas, juntada de documentos, exames periciais (se for o caso) etc. Colhido todo omaterial probatrio, o acusador e o acusado se manifestam sobre tudo quanto se apurou, e,finalmente, o Juiz, j devidamente instrudo, profere a sua deciso, dizendo se procede ouimprocede a pretenso punitiva. Se procedente, impe ao culpado a sanctiojuris. Seimprocedente, absolve-o.Visto dessa maneira, o processo no passa de uma srie de atos visando aplicao da lei aocaso concreto. Entre o ato inicial, exerccio 18do direito de ao, e a deciso final sobre o mrito, numerosos atos so realizados, de acordo

  • com as regras e formalidades previamente traadas, e esses atos vo avanando at atingir oponto culminante do processo, que a deciso sobre o meritum causae, quando, ento, o Juizdir se procede ou improcede a pretenso punitiva.Mas o processo no apenas aquele conjunto de atos coordenados visando ao julgamento dapretenso punitiva. Essa seqncia de atos coordenados, dispostos segundo as regras eformalidadesprevistas em lei, nada mais representa seno a exteriorizao de uma verdadeira relaojurdico-processual. 0 processo, tal como antevira o gnio de Oskar von Blow, no segundoquartel do sculo passado, tem o carter de uma relao jurdica autnoma, eminentementepblica, entre o Estado-Juiz e as partes. Realmente, quem procurar ver o processointrinsecamente, pelo lado de dentro, h de convir que ali se entretece um complexo de vnculosjuridicamente relevantes e juridicamente regulados. Trata-se de uma relao jurdico-processual"unitria, complexa, progressiva e continuativa". Se de um lado encontramos o Estado-Administrao, representado pelo Ministrio Pblico, como titular de um direito subjetivo (direitode ao), do outro vamos encontrar o Estado-Juiz, como titular de uma obrigao jurdica, umavez que a prestao jurisdicional tem, inegavelmente, o carter de obrigao jurdica. 0 Estado-Administrao, representado pelo Ministrio Pblico, tem o direito subjetivo pblico de exigir atutela jurisdicional, mesmo porque o prprio Estado autolimitou seu poder de punir. De outrolado, o Estado-Juiz tem a obrigao de proferir a deciso, tem a obrigao de se manifestarsobre a procedncia ou a improcedncia da pretenso do Estado-Administrao.Trata-se, ademais, de relao jurdico-processual de natureza triangular, e no angular. Arelao jurdico-processual no apenas entre as partes acusadora e acusada. Essa relaoexiste como um dos aspectos da relao jurdico-processual, que de natureza complexa. Aolado dessa relao entre as partes, baseada no princpio do contraditrio, tendo por contedopoderes de iniciativa, aos quais corresponde, na parte contrria, uma sujeio jurdica (cf. Betti,Diritto processuale civile, p. 105 e 107), h a relao entre o Juiz e as partes, relao quedecorre da sujeio ao poder jurisdicional: as partes com o direito de exigir do rgo jurisdicionalsua deciso sobre a lide, e o rgo jurisdicional com a obrigao de resolver o litgio. A relaojurdico-processual unitria,19progressiva e contnuativa. Constituda a relao processual, ela percorre vrias fases:postulatria, probatria, das alegaes, decisria. Mesmo havendo recurso, a relao processualcontinua com a sua unidade e vai-se estendendo, sem perder seu objeto, at que o Estado-Juiz,em definitivo, entregue a prestao jurisdicional. , tambm, relao autnoma e complexa. Suaautonomia decorre da circunstncia de que a relao jurdico-material, que surge com oantagonismo direito de punir versus direito de liberdade, no se confunde com a relao jurdico-processual. Seus objetos so diversos.Como bem diz Tornaghi, a relao processual antes o lao que liga o direito do Estado-Administrao (no caso da relao processual penal) a pedir tutela jurisdicional e a obrigaodos rgos jurisdicionais de prest-la (cf. A relao processual penal, p. 35).Trata-se de relao complexa, porquanto contm, dentro de si, uma srie de relaes jurdicas:entre autor e Juiz, entre autor e ru e entre ru e Juiz. Tais relaes so entre siinterdependentes e inseparaves, como afirma Betti (Diritto, cit., p. 107).7. 0 Processo Civil e o Processo PenalJ sabemos, ento, que por meio doprocesso que se compem os litgios, e por composio dolitgio ou lide se entende a aplicao da lei ao caso concreto, "atravs de operaes e de rgos

  • adequados". 0 processo consiste, assim, numa sucesso de atos (propositura da ao, citao,interrogatrio, defesa prvia, audincia de testemunhas etc.) que culminam com a deciso finaldo rgo jurisdicional pondo fim ao litgio, dando a cada um o que seu.Assim o processo, conforme ensina Moacyr Amaral Santos, como sistema de atos, rege-se porprincpios e leis, constituindo um fenmeno que se situa no campo do Direito. Ao sistema deprincpios e normas que regulam o processo, disciplinando as atividades dos sujeitosinteressados, do rgo jurisdicional e de seus auxiliares, d-se o nome de Direito Processual.Sendo o processo, como realmente o , forma de composio de litgio, conclui-se que,conceitualmente, o processo uno, pois, como diz Couture, o direito de pedir ao Estado agarantia jurisdicional um substitutivo civilizado da vingana privada.Sem embargo dessa unidade conceitual, o Direito Processual apresenta dois grandes ramos: oDireito Processual Civil e o Direito Proces-20sual Penal. E essa diviso feita levando-se em conta o seu contedo ou objeto: se se trata deuma pretenso de natureza extrapenal, ou melhor, se a natureza da lide for extrapenal, aregulamentao normativa do processo estabelecida pelo Direito Processual Civil. E talregulamentao ser feita pelo Direito Processual Penal, se se tratar de"causas penais". Assim, as normas e princpios que regulam a composio da lide extrapenalesto consubstanciadas no Direito Processual Civil, e aquelas concementes conifsio dalide penal, no Direito Processual Penal.Por outro lado, como veremos detalhadamente mais adiante, tendo em vista o grande nmero ediversidade de questes que surgem no meio social, o Estado, atendendo s vantagens que adiviso do trabalho proporciona, procurou agrup-las, distribuindo o poder de julg-las aos diversos orgos jurisdicionais, levando em considerao a natureza das questes decada grupo. Da os Juzes eleitorais, os Juzes militares, os Juzes trabalhistas, os Juzesfederais, os Juzes estaduais, integrando a Justia Eleitoral, a Justia Militar, a Justia doTrabalho, a Justia Comum Federal e a Justia Comum Estadual. E, como a regulamentaonormativa dos processos respectivos feita atendendo a certas peculiaridades, o DireitoProcessual Civil se distingue em Direito Processual Civil Comum, Direito Processual Trabalhistae Direito Processual Eleitoral. Por sua vez o Direito Processual Penal apresenta a seguintediviso: Direito Processual Penal Comum, Direito Processual Penal Militar e Direito ProcessualPenal Eleitoral.8. Unidade ou dualidade do Direito Processual?0 processo, como instrumento compositivo de litgio, um s. por meio do processo que oEstado desenvolve sua atividade juri sdicional. Assim, Direito Processual Civil e DireitoProcessual Penal no passam de faces de um mesmo fenmeno, ramos de um mesmo troncoque cresceu por cissiparidade.Observa Giovanni Leone (Trattato di diritto processuale penale, v. 1, p.16) que as pilastras doordenamento processual so comuns aos dois tipos de processo: a) ambos tm a mesmafinalidade (atuao do Poder Jurisdicional); b) em ambos a interveno do Poder Jurisdicional. condicionada ao exerccio da ao; e, finalmente, c) ambos se iniciam, se desenvolvem e seconcluem com a participao de trs sujeitos: autor, ru e Juiz.211 1

  • Nas suas linhas estruturais, no divergem os Processos Civil e Penal.Muitos institutos de um e de outro so idnticos. Que a ao seno um direito pblico,subjetivo, qual o de provocar a atuao dos rgos jurisdicionais? No tm razo, por acaso,Alcal-Zamora e Carnelutti, ao afirmarem que todas as aes de todos os ramos do DireitoProcessual tm um carter pblico, dado que se dirigem ao Estado para obter a atuao de seusrgos jurisdicionais? (cf. Derecho, cit., v. 2, p. 69, e Sistema, cit., ri. 356).Assim, quer no Processo Penal, quer no Processo Civil, o conceito de ao um s. No h umconceito de ao no Processo Penal e outro no Processo Civil. Apenas a natureza da pretenso que d, quanto ao contedo, um colorido diferente ao penal e ao civil.E quanto Jurisdio? Como funo soberana, como atividade precpua de um dos Poderes doEstado - o Judicirio -, nica, pouco importando a natureza do conflito por dirimir, se penal ouextrapenal. Nem o prprio Florian, dualista que , nega a unidade da funo jurisdicional.A distino que se faz entre jurisdio penal e jurisdio civil assenta, nica e exclusivamente,na diviso de trabalho. Determinados rgos Jurisdicionais so incumbidos de dirimir conflitosintersubjetivos de natureza civil, enquanto outros se encarregam de equacionar os de naturezapenal, sendo que, s vezes, exercem cumulativamente tais funes.E Miguel Fenech, com razo, acrescenta que, a despeito da unidade da jurisdiQo, "puedandistinguirse en ella tantos aspectos como haya convenido a los fines del Estado para elcumplimiento de su misin de justicia" (cf. Derecho, cit., p. 222).E no que tange aos recursos? 0 fundamento filosfico dos recursos em geral no assenta, comodizia o Marqus de So Vicente, na falibilidade humana? Haver diferena ontolgica entre osrecursos da esfera penal e os da esfera civil?E respeitante s excees processuais (rectius: objees processuais)?Haver alguma diferena substancial entre elas?E as citaes, notificaes, intimaes, inclusive a prpria senten-a? Por acaso tais institutos no so formalmente idnticos? Se diferenas houver, sero,quando muito, de grau, e no qualitativas.E no concemente s provas? Do ponto de vista estrutural, no se pode negar a identidade daprova no campo civil e no penal. E Camelutti 22acrescenta: h identidade tambm sob o ponto de vista da funo (cf.Studi, v. 1, p. 99 e s.).1E certo que, quando se fala em unidade do Direito Processual, no se pretende confundir oDireito Processual Penal com o Direito Processual Civil, ou que aquele seja reabsorvido poreste. No se pretende, enfim, estabelecer absoluta identidade entre ambos, mas apenas realarque as pilastras so comuns, que muitos institutos so idnticos e que por isst(se pode falar emuma Teoria Geral do Processo.Na Frana, em 1872, j se pretendeu "penalizar" o Processo Civil, segundo relato de Aramburu(v. J. Asenjo, Derecho, cit., p. 63). Observe-se que to grande a afinidade entre ambos, que

  • entre ns, ao tempo do "pluralismo processual", havia na Bahia, em Santa Catarina e no antigoDistrito Federal um Cdigo de Processo para os dois setores.0 Retspleje lov (pronuncia-se "retsplailov") dinamarqus de 1919 continha normas comuns aoProcesso Penal e ao Processo Civil. 0 Cdigo da Sucia, de 18-7-1942, exemplo frisantedessa unidade (cf. G. Leone, Trattato, cit., p. 16).0 anteprojeto do CPP de Frederico Marques praticamente manteve a mesma estrutura do CPC.No dando tento dessa comunho, dessa semelhana, processualistas (rectius: doubls depenalistas e processualistas) da estatura de Florian e Manzini (Principii, p. 8, e Trattato di dirittoprocessuale penale, v. 1, p. 70) negam a unidade do Direito Processual. Mas por no haverempenetrado no mago da questo, que Alcal-Zamora, autoridade cujo valor seria impertinnciasalientar, observou:"... finalmente, el ms grave error en que incurren consiste en confundir unidad del DerechoProcesal con identidad de sus distintas ramas: la postura correcta no es, por tanto, la suya, sinoesta otra: la de que existiendo, sin duda, hondas diferencias entre el proceso civil y el penal, nobastan a destruir la unidad esencal de todo el Derecho Procesal, porque al proclamarla, nadiepretende sostener que el Derecho Procesal Penal sea, se confunda o se reabsorba en elDerecho Procesal Civil, sino 'sencillamente' (un 'sencillamente' que, sin embargo, ha pasadoinadvertido a los partidarios del dualismo) que el Derecho Procesal Penal, como el civil, es, antetodo y sobre todo, Derecho Procesal" (cf. Derecho, cit., v. 1, p. 41).231 ii1iiQuais os argumentos da corrente dualista? Manzini observa que ningum est obrigado, noProcesso Civil, a iniciar ou a exercer a ao civil, salvo nos casos excepcionais, em que ainiciativa compete ao Ministrio Pblico. Entretanto, em se tratando de ao penal, existeobrigao funcional do Ministrio Pblico (cf. Trattato, cit., p. 110).Nota-se, de logo, que a diferena tem apenas valor para o Direito italiano. H numerosaslegislaes, inclusive a nossa, em que existe a chamada "ao penal privada", regida, entreoutros, pelo princpio da oportunidade. Nesses casos, como bvio, o ofendido ou seurepresentante legal promover a ao penal se quiser... No se pode falar, assim, emobrigatoriedade da ao penal.Da, de todo procedente a observao de Alcal-Zamora, no sentido de que a discusso devesituar-se em plano de maior perspectiva que a oferecida pelo Direito de um s pas, por muitoimportantes que aquele e este sejam. de se ponderar, entretanto, que, mesmo no Direito italiano, a atividade persecutria doMinistrio Pblico fica condicionada, s vezes, a uma manifestao de vontade; haja vista osinstitutos da"querela" e os outros que lhe so afins, tais como a richiesta, do Direito comum e do Direito

  • militar, Vistanza, l'autorizzazione a procedere, la disposizione del comandante nel diritto militare(cf. G.Battaglini, La querela, 1958, p. 218).Florian pondera que o Processo Penal instrumento indispensvel para a soluo das lides denatureza penal, enquanto o Processo Civil nem sempre necessrio para a composio daslidesextrapenais. Exata a observao. Mas essa particularidade deflui no da natureza do processo, esim da prpria lide. 0 processo, forma compositiva de litgio, e coisa diferente do litgio, que lheserve de contedo. Por outro lado, se aceito for o ensinamento de Sans, nem mesmo quanto aocontedo existe diferena entre os dois ramos do Direito Processual: '11 contenuto del processo dato dalla serie degl'atti di cui esso consta; e non gi - como se visto al punto precedentedalla 'lite' o dalla controversia, e neppure dall'azzione, dalla causa, o dal rapporto sostanziale"(cf. Luigi Sans, La correlazione traimputazione contestata e sentenza, 1953, p. 25). Assim tambm pensa Guglielmo Sabatini: "ilcontenuto del processo consta... degli atti processuali ......Alega Floriari que, no campo processual-penal, o poder dispositivo das partes restringidssimo,ao contrrio do que ocorre no civil. Estamos 24que no pelo fato de haver maior ou menor restrio ao poder dispositivo das partes que sepode negar a unidade do Direito Processual.Por outro lado, essa maior ou menor disponibilidade ainda decorre da natureza da lide. Talargumento, assim, se contm no primeiro ou no passa de desdobramento dele. Cumpreassinalar, entretanto, que nas legislaes, como a nossa, que admitem a ao penal privada, opoder dispositivo das partes bem grande. No Direito ptrio, por exemplo, esse poder dispositivodas partes bem intenso. to grande que o querelante pode perdoar o querelado, mesmo apsa prolao da sentena condenatria (cf. CP, art. 106, 2.).E bem verdade que com a instaurao dos Juizados Especiais Criminais admite-se, com atransao entre o Ministrio Pblico e o autor do fato, um certo poder dispositivo. Contudo, trata-se de exceo.Manzini (Trattato, cit., p. 110) anota que no Processo Penal vigora o principio da verdade real e,no Processo Civil, o da verdade ficta. Com vantagem obtempera o pranteado Frederico Marquesque, no Penal, o princpio da verdade real no vigora em toda a sua pureza. Eesclarece: se um indivduo absolvido por no haver a mnima prova de que praticou o crimeque se lhe imputa, a coisa julgada ir impedir que nova ao penal se instaure contra ele, apesarde provas concludentes, inclusive sua confisso, surgirem aps veredictum absolutrio: "resjudicata pro veritate habetur" (cf. Instituies de direito Processual civil, v. 1, p. 52).Essa mesma observao do saudoso mestre paulista pode ser estendida a quase todos osorderiarnentos jurdicos do mundo, porquanto pouqussimas so as legislaes que admitem achamada reviso pro societate, e, assim mesmo, com certa parcimnia, com certa modstia (cf.CPP alemo, atualizado em L'-5-1960, 362; o noruegus, de 1887; o portugus, de 1988, art.449, notadamente o ri. 1; a Lei Processual sueca em vigor a partir de L'- 1- 1948, Cap. 5 8, 3.; oCdigo Processual Penal hngaro, de 195 1, e alterado em 1957, 213 e 214; o iugoslavo, de1.0-1-1954, 379 ; o tchecoslovaco, de 19-12-1956, art. 300; o austraco, de 20-4-1960; e orusso, de 27-10-1960, arts. 373 e 380).

  • certo, por outro lado, que o princpio da verdade real, embora vigorando no Processo Penalcom mais intensidade, no exclusivo nem peculiar a este setor do Direito. Haja vista a regrainserta no art. 130 do CPC. Com muita propriedade observa Garcia-Velasco: "no podemosconsiderar su bsqueda (de Ia verdad material) misin privativa del proceso251 linkIpenal sin tachar al mismo tiempo a los dems procesos de aspirantes a falsarios, pues aunqueen la generalidad de stos la posibilidad que tienen os interesados de disponer de sus derechosy la aportacin de parte hagan posible que a su final surja como verdadero lo que slo lo sparcialmente, o no lo s en absoluto, ello no nos autoriza a afirmar que esos procesos estndestinados y previstos para la creacin de resultados artificiosos e inexactos; por donde, a sensucontrario, este de verdad material no puede considerarse como principio y menos comocualificador del proceso penal, lo que no impide que en l sea ms fcil alcanzar la verdad, comoconsecuencia de las caractersticas singulares del proceso penal y siempre con las reservasconsecuentes a la limitacin yJalibilidad humana" (grifos nossos) (cf. M. 1. Garcia-Velasco,Curso de derecho procesal penal, Universidad de Madrid, 1969, p. 16).Desse modo, a despeito das crticas dos dualistas, pode-se falar em unidade do DireitoProcessual, e, repita-se, falando-se em unidade do Direito Processual, no se pretende confundiridentidade dos seus diversos setores.Florian, aps sua obraDelleprove penale (1924) e aps o trabalho de Carnelutti, Prove civile eprove penale (1925), surgido em revide quele, reconheceu "que as novas diretrizes doProcesso Civil, em matria de prova, muito o avizinharam do processo penal" (cf. trabalhopublicado in Scuola Positiva, 1937, p. 217).Insta acentuar que a grande maioria defende a tese unitria. Entre ns, o insigne Prof. FredericoMarques e, sem contestao, paladino desse entendimento. Em suas inmeras obras, quer deDireito Processual Civil, quer de Direito Processual Penal, proclama a necessidade da criaode uma Teoria Geral do Processo.E que dizer do grande Carnelutti? No seu trabalho Prove civile e prove penale, manifestou-sedefensor dessa unidade, inclusive nos ensinos universitrios. Suas estas palavras:"... afinal de contas, o Direito Processual fundamentalmente uno.Processo Civil e Processo Penal sem dvida se distinguem, no porque tenham razes distintas,e sim pelo fato de serem dois grandes ramos em que se bifurca, a uma boa altura, um tronconico.Mais cedo, ou mais tarde, chegar o tempo em que est verdade chegar ao ensino universitrio.26Certamente, um dos mais graves contra-sensos desse ordenamento de nossos estudos jurdicos,que estamos agora pouco a pouco reformando, repousa na separao do Processo Civil eProcesso Penale na ligao deste ltimo com o Direito Penal ......

  • certo, contudo, que nos idos de 1940, em estudo publicado na Rivista di Diritto ProcessualeCivile, sob o ttulo de "Figura giuridica del dif*sore", observou o mestre uma profunda diferenaentre Processo Civil e Processo Penal, chegando a exclamar: "quanto mais medito sobre o tema,mais me persuado de que precisamente de assinalar-se uma profunda diferena entre oprocesso penal e o civil".Entretanto, dez anos mais tarde, precisamente em 1950, voltou Carnelutti a emprestar seu talento defesa dos seus ensinarnentos anteriores, em seu monumental trabalho "Per una teoriagenerale del processo", in Questioni sul processo penale, p. 10.Vale lembrar, tambm, que, segundo nos relata Calamandrei (U insegnamento del dirittoprocessuale nei nuovi statuti universitari, Rivista di Diritto Processuale Civile, 1924, p. 364), naUniversidade de Florena, o ensino do Direito Processual compreendia, por primeiro, um Cursode Instituies de Direito Processual, ao lado de um Curso de Direito Processual Civil e de"Procedimento Penal", plano semelhante ao da Universidade Catlica de Milo.E no podia ser de outra forma, uma vez que Processo Civil e Processo Penal so faces de ummesmo fenmeno.E verdade, como j disse Alcal-Zamora, que no h absoluta identidade entre ambos osprocessos. Mas de convir com Frederico Marques e com o prprio Alcal-Zamora que, em suaslinhasmestras, em suas pilastras, como diz Giovanni Leone, a estruturao da Justia Penal no diferedaquela que envolve a Justia Civil. E a prova mais eloqente e viva dessa unidade reside nosinstitutos comuns a ambos os ramos do Direito Processual.Em conferncia proferida na Universidade do Paran, assim se manifestou o Prof. GalenoLacerda:"... podem-se edificar as teorias do processo jurisdicional e suas funes, da ao e exceo,dos poderes do Juiz, dos atos processuais e de seus vcios, da litispendncia, da precluso e dacoisa julgada, com os respectivos corolrios.271 ,w- ~ claro que em termos de Teoria Geral, esses temas se aplicam a todas as manifestaes deprocesso jurisdicional -civil, trabalhista, penal (comum e militar), eleitoral e aos demais casos dejurisdio estranhos ao Poder Judicirio, previstos em nosso sistema constitucional"(RT, 355/13).Ugo Rocco, por seu turno, estudando o problema, acentuou: "La diffrenza tra diritto processualecivile e diritto processuale periale consiste in ci: tanto l'uno quanto l'altro sono diritto statualeperch promano dallo Stato; sono diritto pubblico, perch regolano l'attivit di organi dello Statoinvestiti di potere sovrano; sono diritto formale in quanto le norme giuridiche, nel disciplinarel'attivit degli organi giurisdizionali, non solo li vincolano nella forma, ma anche nel contenuto.Ma, poich le norme che regolano il contenuto, Ia materia o Ia sostanza dell'attivitgiurisdizionale sono di diritto sostariziale, il diritto processuale se distingue in diritto processualecivile e diritto processuale penale. La seconda che abbia per oggetto rapporti sostariziali di diritto

  • civile o rapporti sostanziali di diritto penale"(Trattato di diritto processuale civile; parte generale, Torino, 1957, v.1, p.186).Cumpre assinalar, por ltimo, que no so idnticos os procedimentos penal e civil. Ser issobice criao da Teoria Geral do Processo?Mesmo no Processo Civil h uma policromia deprocedimentos, maneira do que ocorre no Processo Penal. Logo, a diversidade procedimentalno se constitui em obstculo pretendida unidade.Ponto-finalizando: entendemos que se pode, muito bem, cuidar da elaborao de uma TeoriaGeral do Processo e que, desde j, poder ser criada, nas nossas Faculdades de Direito, arespectiva cadeira, responsvel pelos ensinamentos a respeito de pretenso, lide, formascompositivas do litgio, ao, jurisdio, processo, procedimento, pressupostos processuais,sujeitos processuais, princpios constitucionais do Direito Processual, organizao judiciria,atos processuais, seus vcios, teoria geral da prova. Tal cadeira poderia ser posta nos 3.' e 4."Termos (ou 2. srie). Assim, ao chegar ao 5."Termo (ou 3.' srie), o aluno j estaria familiarizado com a Cincia Processual e ser-lhe-ia fcil oestudo do Processo Penal e do Processo Civil.Em 1975 surge notvel trabalho de Antnio Carlos de Arajo Cintra, Ada Pellegrini Grinover eCndido Rangel Dinamarco, sob o ttulo Teoria geral do processo, publicado pela Revista dosTribunais. Trata-se, 28no gnero, de trabalho pioneiro entre nos e que supera, em muito, a tmida "Teoria generale delprocesso penale e civile", de Sabatini (in Scuola penale unitaria, 1930, p. 8 1), que, por sinal, nopassou de simples ensaio. Demonstraram os Autores, verdadeiros unitaristas, que o ProcessoCivil e o Processo Penal so dois aspectos de um fenmeno nico.9. Coceito de Direito Processual PenalDireito Processual Penal, na lio de Beling, aquela parte do Direito que regula a atividadetutelar do Direito Penal.0 Direito Processual Penal abrange tambm a Organizao Judiciria Penal, e, por isso, algunsautores, como Camara Leal, costumam apresentar a seguinte diviso do Direito ProcessualPenal: a) Organizao Judiciria Penal, que trata da criao, sistematizao, localizao,nomenclatura e atribuies dos diversos rgos diretos e auxiliares do aparelho judiciriodestinado administrao dajustia penal; e b) Processo Penal, que o meio pelo qual secompem as lides de natureza penal.E de observar que o Direito Processual Penal compreende tambm a persecuo fora do juzo,e, por isso, preferimos conceitu-lo como Frederico Marques: conjunto de normas e principiosque regulam a aplicao jurisdicional do Direito Penal objetivo, a sisternatizao dos rgos dejurisdio e respectivos auxiliares, bem como da persecuo penal.10. Autonomia do Direito Processual Penal0 Direito Processual constitui, como bem diz Frederico Marques, cincia autnoma no campo da

  • dogmtica jurdica, uma vez que tem objeto e princpios que lhe so prprios.No que respeita ao Direito Processual Penal, observa Giovanni Leone que a sua autonomia nodecorre, apenas, da existncia de um Cdigo de Processo Penal, mas, sobretudo, daconsiderao de queos princpios reguladores do Processo Penal no tm nenhum ponto de contato com osprincpios que disciplinam a definio de crime, sua estrutura e os institutos conexos (cf.