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ABRAFATI 2015 | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS FABRICANTES DE TINTAS 14º Congresso Internacional de Tintas 14ª Exposição Internacional de Fornecedores para Tintas Iniciativas Mundiais de Vanguarda para a Sustentabilidade no Setor Mundial de Tintas e Revestimentos Apresentador e Autor: Kelson dos Santos Araujo Empresa/Instituição: Consultoria em Cores e Colorimetria INTRODUÇÃO Este artigo tem o objetivo de tecer algumas considerações breves sobre o termo 'sustentabilidade' em geral e, mais especificamente, no setor de Tintas e Revestimentos. Apresenta uma compilação abrangente das iniciativas, ações, boas práticas e tecnologias de vanguarda que empresas de ponta no mundo todo estão implementando e desenvolvendo com vistas a atenderem as necessidades dos clientes, manterem-se competitivas no mercado e, ao mesmo tempo, preocupando-se em provocar efeitos mínimos sobre o meio-ambiente e a sociedade em geral. Entre tais iniciativas inovadoras estão a substituição de componentes acrílicos derivados de petróleo por resinas vegetais, renováveis, biodegradáveis e sem emanações tóxicas, a substituição de colorantes sintéticos por pigmentos minerais, a produção de tintas à base d'água em detrimento às de base de solventes, a eliminação do chumbo e a redução de compostos orgânicos voláteis (COV) na composição das tintas, o reaproveitamento das águas servidas, entre outras. Desta forma, as empresas do setor exercerão um efetivo e favorável impacto em termos econômicos, ecológicos e sociais. Apresenta uma seleção dos mais destacados rótulos, selos, etiquetas ou marcas 'verdes' desenvolvidos por organismos de certificação ambiental em todo o mundo para concessão aos produtos ecológicos e de produção sustentável. Este tipo de rotulagem ambiental pode servir como vantagem para as empresas na comercialização dos seus produtos de fabricação sustentável proporcionando, assim, um maior ganho de competitividade junto ao mercado. Tais produtos sustentáveis são cada vez mais procurados avidamente pelos consumidores atuais, mais conscientizados no tocante à preservação do meio ambiente. O artigo finaliza com a descrição da normativa existente no Brasil, aplicada à temática da sustentabilidade no Setor de Tintas e Revestimentos. Pretende, assim, servir de orientação às empresas sobre como elas podem adequar seus processos e produtos rumo a uma fabricação e comercialização sustentáveis. O PARADIGMA ATUAL DA SUSTENTABILIDADE Com o intuito de proporcionar soluções, é nos momentos de crise que a inventividade do ser humano brota aos borbotões, em uma analogia feita propositadamente em alusão aos nossos dias, dada a atual escassez de água pela qual o Brasil está passando. Assim foi por ocasião dos eventos mais notáveis das duas primeiras Guerras Mundiais do século passado. O saldo destes dois acontecimentos em escala global, além dos terríveis números de baixas militares e civis, da imensa destruição de casas e edifícios nos países litigantes e das imensas feridas ainda abertas até os dias de hoje, incluiu também, em termos pragmáticos e bastante simplistas, muitos desenvolvimentos tecnológicos para o benefício da civilização, embora tenham sido estes apenas colaterais aos fins bélicos a que tais inovações se destinaram principalmente. Vivendo outros tempos, atualmente, as principais Nações influentes no cenário mundial estão gastando tempo, esforços e dinheiro no tradicional jogo de gato e rato, além de terem de enfrentar o espectro sombrio do terrorismo, com a poderosa indústria de armas por trás de tudo. Entretanto, outro inimigo que todos os países estão enfrentando, igualmente muito insidioso e, obviamente, de maior relevância para o tema deste Congresso, está representado pela crescente escassez dos recursos naturais posicionada na linha de frente de uma guerra silenciosa, mas que se faz valer em todos os setores da sociedade atual.

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ABRAFATI 2015 | ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS FABRICANTES DE TINTAS

14º Congresso Internacional de Tintas

14ª Exposição Internacional de Fornecedores para Tintas

Iniciativas Mundiais de Vanguarda para a Sustentabilidade no Setor Mundial de Tintas e Revestimentos

Apresentador e Autor: Kelson dos Santos Araujo

Empresa/Instituição: Consultoria em Cores e Colorimetria INTRODUÇÃO Este artigo tem o objetivo de tecer algumas considerações breves sobre o termo 'sustentabilidade' em geral e, mais especificamente, no setor de Tintas e Revestimentos. Apresenta uma compilação abrangente das iniciativas, ações, boas práticas e tecnologias de vanguarda que empresas de ponta no mundo todo estão implementando e desenvolvendo com vistas a atenderem as necessidades dos clientes, manterem-se competitivas no mercado e, ao mesmo tempo, preocupando-se em provocar efeitos mínimos sobre o meio-ambiente e a sociedade em geral. Entre tais iniciativas inovadoras estão a substituição de componentes acrílicos derivados de petróleo por resinas vegetais, renováveis, biodegradáveis e sem emanações tóxicas, a substituição de colorantes sintéticos por pigmentos minerais, a produção de tintas à base d'água em detrimento às de base de solventes, a eliminação do chumbo e a redução de compostos orgânicos voláteis (COV) na composição das tintas, o reaproveitamento das águas servidas, entre outras. Desta forma, as empresas do setor exercerão um efetivo e favorável impacto em termos econômicos, ecológicos e sociais. Apresenta uma seleção dos mais destacados rótulos, selos, etiquetas ou marcas 'verdes' desenvolvidos por organismos de certificação ambiental em todo o mundo para concessão aos produtos ecológicos e de produção sustentável. Este tipo de rotulagem ambiental pode servir como vantagem para as empresas na comercialização dos seus produtos de fabricação sustentável proporcionando, assim, um maior ganho de competitividade junto ao mercado. Tais produtos sustentáveis são cada vez mais procurados avidamente pelos consumidores atuais, mais conscientizados no tocante à preservação do meio ambiente. O artigo finaliza com a descrição da normativa existente no Brasil, aplicada à temática da sustentabilidade no Setor de Tintas e Revestimentos. Pretende, assim, servir de orientação às empresas sobre como elas podem adequar seus processos e produtos rumo a uma fabricação e comercialização sustentáveis. O PARADIGMA ATUAL DA SUSTENTABILIDADE Com o intuito de proporcionar soluções, é nos momentos de crise que a inventividade do ser humano brota aos borbotões, em uma analogia feita propositadamente em alusão aos nossos dias, dada a atual escassez de água pela qual o Brasil está passando. Assim foi por ocasião dos eventos mais notáveis das duas primeiras Guerras Mundiais do século passado. O saldo destes dois acontecimentos em escala global, além dos terríveis números de baixas militares e civis, da imensa destruição de casas e edifícios nos países litigantes e das imensas feridas ainda abertas até os dias de hoje, incluiu também, em termos pragmáticos e bastante simplistas, muitos desenvolvimentos tecnológicos para o benefício da civilização, embora tenham sido estes apenas colaterais aos fins bélicos a que tais inovações se destinaram principalmente.

Vivendo outros tempos, atualmente, as principais Nações influentes no cenário mundial estão gastando tempo, esforços e dinheiro no tradicional jogo de gato e rato, além de terem de enfrentar o espectro sombrio do terrorismo, com a poderosa indústria de armas por trás de tudo. Entretanto, outro inimigo que todos os países estão enfrentando, igualmente muito insidioso e, obviamente, de maior relevância para o tema deste Congresso, está representado pela crescente escassez dos recursos naturais posicionada na linha de frente de uma guerra silenciosa, mas que se faz valer em todos os setores da sociedade atual.

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Sendo assim, novamente entra em cena o engenho humano no sentido de minorar os efeitos nefastos da escassez dos recursos naturais como matérias-primas para as indústrias e temos, então, nossas atenções voltadas para o termo 'sustentabilidade'. Conforme menciona Garza (2015):

El concepto de sustentabilidad se ha transformado en los últimos años: de ser un término de moda – adoptado por muchas empresas para mejorar o mantener una reputación e imagen – a una manera de pensar y actuar cotidianamente, la cual constituye una parte medular de la planeación estratégica en las empresas, es decir, se ha vuelto una necesidad para competir, a través de la implementación de acciones que generen un verdadero impacto favorable en cuestiones económicas, ecológicas y sociales. (Garza, 2015)

Realmente, estamos observando uma mudança do paradigma relativo ao de que se trata a sustentabilidade. Passou-se a relegar para um segundo plano apenas o sentido de propaganda/publicidade que a maioria das empresas conferia às suas ações para sustentabilidade e, atualmente, volta-se a atenção para um conceito mais abrangente, menos passivo e que faz parte do dia a dia das empresas, traduzido por ações reais implementadas de modo a surtirem genuíno efeito sobre os aspectos econômicos, ecológicos e sociais, com vistas a obter um ganho de competitividade perante o mercado. Essa busca da liderança no mercado está intimamente ligada à construção de um futuro com opções mais sustentáveis. Isto passa, necessariamente, por uma cooperação com os clientes com o objetivo de deixar de lado as tecnologias de produção não sustentáveis e passar para a implementação de tecnologias mais sustentáveis. Henning (2012) afirma que, para uma empresa ser líder "debe adueñarse de la sustentabilidad al trabajar intensamente con los clientes en pos de resolver problemas y aprovechar las oportunidades a nivel local". Este 'apropriar-se' da sustentabilidade envolve o trabalho conjunto da localização e da sustentabilidade em prol do avanço e da otimização das tecnologias certas, voltadas para cada problema em questão por meio de soluções adequadas para cada uso final. INICIATIVAS GERAIS DAS INDÚSTRIAS DO SETOR DE TINTAS PARA A SUSTENTABILIDADE Entre as muitas ações que as empresas de ponta no setor de tintas estão implementando nos seus processos de fabricação de produtos para uso doméstico e industrial podemos destacar o compromisso das mesmas com o cumprimento dos regulamentos e das normas relativas à minimização do emprego de substâncias que exercem impacto sobre a saúde das pessoas e sobre o meio-ambiente, quais sejam os principais: chumbo e compostos orgânicos voláteis, conhecidos pela sua sigla em inglês 'VOC' (Volatile Organic Compounds). Vale notar que, no caso do chumbo, no mês de fevereiro de 2009 "entrou em vigor a lei federal no 11.762, que restringe o uso de chumbo em tintas imobiliárias para menos de 0,06% do peso do produto. Os fabricantes tiveram seis meses para se adaptar à norma e, hoje, "nenhuma grande marca leva o metal em suas fórmulas", conforme Capello (2009). De todo modo, é de conhecimento geral que as normas e os regulamentos que regem os níveis máximos permitidos de tais substâncias em tintas industriais e para decoração variam de um país para outro e, muitas vezes, de um estado para outro, além do fato de que, volta e meia, tais normas sofrem alterações contínuas. Esta evolução constante tem raiz no interesse na redução das emissões dos VOC, as quais representam uma das fontes do ozônio ambiente que contamina regiões urbanas densamente povoadas, ou zonas industriais, e que afeta a boa

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qualidade do ar que respiramos. Além disso, sabemos que muitas tintas com que pintamos paredes, tetos, portas, janelas e quase tudo que está ao nosso redor são altamente nocivas ao meio ambiente e, por conseguinte, também para a nossa própria saúde. As tintas de base petroquímica que atualmente ainda dominam o mercado são derivadas, predominantemente, do petróleo, um recurso natural não renovável. Além disso, na maioria das tintas, até 20% do volume contido na lata pode ser composto pelo pigmento dióxido de titânio, um produto que pode exercer um impacto ambiental associado muito elevado. Os resíduos e sobras precisam de tratamento especial a fim de evitar efeitos danosos ao meio ambiente. Além disso, os processos de fabricação de tintas de base petroquímica são grandes consumidores de energia, sem falar que a produção de 1 tonelada de tinta baseada em solventes pode produzir 10 a 30 toneladas de rejeitos tóxicos, em sua grande parte, não biodegradáveis*. Portanto, para fazer frente à anteriormente citada evolução constante em direção a produtos mais ecológicos e sustentáveis, a qual se verifica no setor altamente competitivo de tintas, faz-se mister que, em primeiro lugar, as empresas invistam na montagem de uma infraestrutura destinada à pesquisa e ao desenvolvimento. Tal infraestrutura traduz-se em laboratórios, equipamentos e uma equipe profissional especializada. Este investimento representará para a empresa estar preparada para atender a demanda cada vez maior de produtos cuja fabricação seja sustentável, mediante a quantificação das substâncias indesejadas (chumbo, VOC) e a subsequente redução da sua concentração. Há muitas vantagens no caso das tintas com baixos níveis de VOC. Elas são ideais para aplicações comerciais, oferecem uma excelente resistência à fricção, têm secagem rápida, baixo odor, não amarelam e apresentam maior flexibilidade e resistência à radiação ultravioleta. Contudo, só porque uma tinta é classificada como de baixo VOC isto não significa uma preferência especial em termos de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente. É importante levar em conta o processo integral de fabricação do produto e qual é o seu impacto ambiental como um todo. Neste respeito, à parte dessas supracitadas iniciativas básicas que muitas empresas do setor de tintas já empreenderam, há também outras, de caráter mais explicitamente ecológico e sustentável, que são dignas de nota. Algumas empresas dedicam-se à fabricação de linhas de produtos totalmente amigáveis ao meio ambiente, sem materiais e ingredientes tóxicos, isentos de compostos acrílicos derivados de petróleo e tendo em sua composição somente materiais sustentáveis como, por exemplo, pigmentos minerais em substituição a colorantes sintéticos. Tudo isto tem o objetivo planejado de exercer o menor impacto possível sobre o planeta. Em vez de derivados de petróleo, algumas empresas utilizam resinas de soja e outras matérias vegetais, renováveis, biodegradáveis e que não geram emanações tóxicas. As tintas baseadas em substâncias minerais e vegetais são produzidas utilizando ingredientes disponíveis in natura e, portanto, não exigem níveis elevados de processamento. Muitos destes ingredientes são advindos de fontes renováveis e, assim, não contribuem para as emissões de gases do efeito estufa ao longo da vida útil do produto. As tintas ditas 'naturais' utilizam solventes e ligantes derivados de plantas em vez de compostos sintéticos e, em geral, apresentam baixos níveis de compostos orgânicos voláteis e de emissões de carbono totais resultantes da sua produção. É uma tendência atual que a publicidade destaque a conscientização dos consumidores e de especificadores de compras no tocante à pegada de carbono deixada no meio ambiente pela fabricação de produtos de tintas. *Fonte: Instituto Nacional de Tintas e Decoração (Austrália), painters.edu.au. Consultado em 21 de março de 2015 e disponível em: http://www.greenpainters.org.au/Consumer-Information/Sustainability.htm

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Existem tintas disponíveis atualmente no mercado que ostentam uma certificação, selo, etiqueta ou rótulo, concedidos por organismos independentes, atestando que são neutras em termos de emissões de carbono e que possuem nível 'zero' de compostos orgânicos voláteis, como veremos mais adiante. Embora a utilização de matérias primas vegetais desta forma seja alvo de questionamentos, visto que envolve desviar parte da produção da soja e de outros materiais vegetais do mercado de alimentos para uma destinação industrial, é interessante observar que algumas empresas que fabricam essas tintas ecológicas e sustentáveis fazem questão de que a maior parte de tais substâncias vegetais seja cultivada perto das fábricas. Deste modo, é possível reduzir um pouco mais a 'pegada' energética relacionada aos meios de transporte e suas inevitáveis emanações poluentes. Tudo isto com o objetivo de alcançar melhores resultados para a saúde e o meio ambiente em direção a uma forma de vida mais sustentável. Consoante à questão da saúde das pessoas, os benefícios destes produtos de tintas altamente ecológicas são evidenciados pela sua maior segurança de aplicação, mesmo por parte de mulheres grávidas, jovens e pessoas com alergias ou doenças respiratórias, tais como a asma. Isto porque tais tintas não apresentam odores nocivos, não provocam irritação nos olhos nem na pele no caso de borrifos acidentais sobre quem as está aplicando. Além destes aspectos especificamente vinculados ao consumidor final dessas tintas ecológicas e de produção sustentável, temos também um menor nível de contaminação ambiental causada pelas sobras que são descartadas em ralos domésticos e uma maior duração dos acessórios aplicadores, tais como pincéis, brochas e rolos de pintura, já que a sua lavagem ao término da aplicação é mais facilitada e não exige o emprego de solventes. Todos estes fatores anteriomente mencionados, embora não representem uma panaceia, proporcionam a fabricação de produtos com uma nocividade muito menor à saúde e ao meio ambiente. Como não possuem compostos sintéticos e derivados de petróleo, não são inflamáveis nem emitem gases tóxicos no caso de incêndio. Além disso, a sua produção sustentável pode alavancar uma vantagem competitiva em um nicho de mercado mediante a implementação de publicidade inteligente e direcionada para o efeito, tendo-se em conta o acompanhamento de uma clara tendência do setor e uma janela de oportunidade responsável em termos sociais em um mundo atual que valoriza e consome tudo aquilo que se apresenta como ecológico e sustentável. É o que já fazem algumas importantes indústrias de tintas, líderes do mercado, que fornecem para o setor automobilístico e que desenvolveram linhas de tintas sustentáveis e preocupadas com a saúde dos consumidores e do meio ambiente. Tais tintas especiais quase não contêm solventes, os quais são substituídos pela água, além de eliminar a presença de tíner (solvente ou diluente das tintas). Isto faz com que se reduza imensamente a geração de contaminantes, voláteis e de efluentes, trazendo benefícios à saúde dos operários e também ao meio ambiente, levando-se em conta que a água contaminada pode ser tratada localmente antes do descarte final. Além disso, considerando os problemas causados pela recente estiagem que os grandes centros populacionais do Brasil vêm enfrentando, a implementação efetiva de processos de produção sustentável deixou de ser um 'luxo' e pode-se dizer que passou a ser mesmo uma necessidade para as empresas. Por meio de um aumento significativo de técnicas de minimização, reciclagem, recuperação e reutilização, principalmente, no caso da água, as empresas podem adequar os seus processos de produção objetivando uma geração mínima, ou até mesmo nula, de efluentes líquidos industriais e de resíduos de qualquer natureza. Isto já é um must em toda planta de produção do setor de tintas e revestimentos que pretenda ultrapassar satisfatoriamente os momentos de crise hídrica nacional.

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Para tanto, as empresas precisam contar com os avanços alcançados mediante os Departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento de novas linhas de produtos que permitam a geração de 'zero' contaminantes. Contudo, não basta apenas uma atuação e um comportamento sustentáveis no seio da empresa, mas também é necessário proporcionar consultoria aos clientes industriais e domésticos sobre a utilização e a aplicação racionais dos produtos de modo a minimizar os desperdícios e/ou as emanações voláteis, além de privilegiar os aspectos da saúde e da segurança dos trabalhadores e também do meio ambiente em geral. No tocante a este aspecto da saúde e segurança dos trabalhadores, vale a pena destacar, como ações importantes para a sustentabilidade, que as empresas devem proporcionar condições laborais seguras e salubres de modo a evitar a exposição dos operários a quaisquer agentes de risco. Para isto, atenção deve ser dada à manutenção adequada dos tanques e outros equipamentos de produção, cuidados extremos com a segurança na parte elétrica, hidráulica, gases e vapor, utilização correta dos equipamentos de proteção individual (EPI) e estudo ergonômico dos postos de trabalho. Ainda dentro deste tópico, representam igualmente ações vitais para a sustentabilidade, que as Empresas forneçam formação e capacitação sobre as boas práticas e métodos seguros de trabalho, sobre os procedimentos operacionais e proporcionem uma efetiva conscientização com respeito ao cuidado responsável com o meio ambiente. Vinculado a isto, encontra-se também um suporte constante que as Empresas devem dar às atividades das Brigadas internas contra incêndios, aos treinamentos de evacuação de emergência e às Equipes de Primeiros-Socorros. Por último, considerando que não seria producente manter somente para si mesmas todos estes esforços das Empresas em direção a uma atuação plenamente sustentável, há que se pensar também na institucionalização de uma política de transparência ou de 'portas abertas' para os meios de comunicação e para a Comunidade em geral. Como mencionado anteriormente, tal publicidade gratuita repercutirá no fortalecimento das marcas em um mercado cada vez mais ávido por produtos ecológicos e de produção sustentável. Portanto, esta foi uma breve compilação das principais práticas e iniciativas gerais implementadas por diferentes indústrias brasileiras e estrangeiras do setor de tintas, sem mencionar nomes e marcas, é claro, mas que tem o objetivo de servir como fonte rápida de consulta para que uma Empresa verifique se já está adotando uma determinada prática ou processo de produção sustentável, desde que ela lhe seja aplicável, obviamente, conforme já em execução por parte dos seus pares. A ATUAÇÃO MAIS RECENTE DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS EM TERMOS DE SUSTENTABILIDADE Na Europa, por iniciativa da Comissão Europeia, já existe una etiqueta que regulamenta a colocação no mercado de tintas, com a nomenclatura de 'sustentáveis', objetivando assegurar a ausência de substâncias tóxicas nos produtos (Figura 1). Com o nome de "EU Ecolabel", na língua franca do inglês, esta etiqueta foi lançada no ano de 1992 pela Comissão Europeia com o objetivo de desenvolver um sistema voluntário de rotulagem em âmbito europeu no qual os consumidores pudessem confiar em termos da compra de produtos de fabricação sustentável.

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Figura 1. Etiqueta EU Ecolabel para afixação em produtos de fabricação sustentável. Fonte: http://ec.europa.eu/environment/ecolabel/

Conforme o relatório da Comissão Europeia mais recente disponível (março de 2015), existem atualmente 44.051 produtos e serviços, compreendidos por 2.010 licenças concedidas para o uso da etiqueta EU Ecolabel nos diversos países da União Europeia (Figura 2). Naturalmente, o emprego da rotulagem de produtos considerados de fabricação sustentável representa somente uma pequena parte de um programa muito mais abrangente, conhecido como "Estratégia de Desenvolvimento Sustentável da União Europeia". Este programa engloba diversas iniciativas nos domínios gerais de eficiência energética, desenvolvimento sustentável, consumo e produção sustentáveis, cidades sustentáveis e a utilização sustentável de recursos naturais. Especificamente para o setor industrial, além da EU Ecolabel, a Comissão Europeia oferece também outros programas, tais como: Plano de Ação para Eco-inovação, Esquema de Auditoria e Ecogestão, Programa de Assistência a Pequenas e Micro Empresas para Cumprimento da Legislação Ambiental, Verificação Tecnológica Ambiental, Prêmios Europeus para o Ambiente, Registro Europeu de Emissões de Poluentes, Política Integrada de Produtos, Acidentes Industriais, Emissões Industriais e Fórum para Varejistas.

Figura 2. Total de Produtos e Serviços com a Etiqueta EU Ecolabel por país na União Europeia.

Fonte: http://ec.europa.eu/environment/ecolabel/facts-and-figures.html

Ainda mantendo-se no Velho Continente, porém, com o domínio de aplicação mais voltado para os países nórdicos, temos a iniciativa de rotulagem ecológica promovida pelo Nordic Ecolabel (http://www.nordic-ecolabel.org), conforme ilustrada na Figura 3. Trata-se de um esquema voluntário de rotulagem de produtos considerados 'ecológicos' com o objetivo de avaliar o impacto dos mesmos sobre o meio ambiente do início ao fim do seu inteiro ciclo de vida. A etiqueta Nordic Ecolabel garante que as exigências climáticas foram levadas em conta e que as emissões de CO2, além das oriundas de outros gases nocivos, são limitadas, entre outros fatores, nos casos em que estes sejam mais relevantes.

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Figura 3. Etiqueta ecológica Nordic Ecolabel

O sistema oficial Ecolabel dos países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) foi estabelecido em 1989 pelo Concelho Nórdico de Ministros. Tem como objetivo contribuir para uma produção e um consumo sustentáveis tendo em vista alcançar uma sociedade sustentável. A participação das empresas neste sistema é voluntária, com uma imagem positiva da rotulagem ecológica de produtos e serviços. Serve como uma ferramenta prática para auxiliar os consumidores a optarem por produtos com impacto positivo com respeito ao meio ambiente. É um sistema de selo ecológico sob a norma ISO 14024:1999* administrado por um organismo de controle em separado. Em termos internacionais, o sistema Nordic Ecolabel é bem conhecido e renomado. Segundo o sítio eletrônico da própria instituição, anteriormente mencionado, uma "recente enquete junto ao mercado nórdico mostrou que, nos países nórdicos, 94% [dos entrevistados] reconheceram a nossa marca comercial como uma Etiqueta Ecológica."

Atravessando o Oceano Atlântico, temos no âmbito da América do Norte, as iniciativas para produtos de tintas e revestimentos sustentáveis promovidas pela ACA - American Coatings Association (Associação Americana de Revestimentos). Entre elas, está a publicação de uma brochura de referência para o setor norte-americano intitulada Sustainability Awareness (Conscientização para Sustentabilidade) que faz parte dos materiais do Programa de Extensão de Comunicações da ACA. Tal brochura proporciona exemplos específicos de aplicações de revestimentos sustentáveis e, segundo a própria ACA, "enfatiza as contribuições do setor de tintas e revestimentos para a Sustentabilidade, com um recado específico: Revestimentos Protegem. Revestimentos Conservam. Revestimentos Funcionam." (ACA, 2015).

Em termos simples, esse lema quer dizer que os revestimentos fornecem proteção aos substratos aos quais eles são aplicados, o que leva à sua vida útil operacional mais longa, gerando benefícios ambientais maximizados e problemas ecológicos reduzidos ao mínimo. A ACA preconiza, no tocante às práticas industriais, com vistas à sustentabilidade e ao desenvolvimento igualmente sustentável, que o setor de tintas e revestimentos deverá minimizar o impacto exercido sobre o meio ambiente e a saúde e a segurança públicas mediante o uso responsável dos recursos naturais, bem como com a adoção de ações concretas para prevenção da poluição, minimização de resíduos, gerenciamento de riscos e administração de produtos ao longo de toda a cadeia de fabricação, distribuição e comercialização.

Neste respeito, a ACA reconhece que o setor de tintas e revestimentos, no âmbito da sua atuação, já apresenta um longo histórico de engajamento em práticas sustentáveis construtivas e positivas, entre as quais podemos citar alguns exemplos como: recuperação de recursos, eliminação de emissões perigosas, oferta de produtos formulados de modo a cumprirem com requisitos de segurança específicos, avaliações do ciclo de vida dos produtos para conhecer os impactos ambientais relevantes provenientes da conservação e da proteção da infraestrutura global, além de programas de saúde e segurança laboral e comunitária com o objetivo de proteger e beneficiar os trabalhadores que fabricam os produtos, o público e suas comunidades que utilizam as tintas e os revestimentos e também os acionistas mediante um melhor posicionamento das indústrias no mercado devido à maior aceitação de produtos sustentáveis e ecológicos. *Norma ISO 14024:1999 (última revisão em 2009): Declarações e Etiquetas Ambientais - Etiquetagem Ambiental do Tipo I - Princípios e Procedimentos. Fonte: http://www.iso.org/iso/catalogue_detail?csnumber=23145

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Em 2014, a ACA trabalhou em conjunto com o TSC - The Sustainability Consortium (Consórcio para Sustentabilidade) com o intuito de publicar os Indicadores de Desempenho Principal e de Perfil de Sustentabilidade por Categorias para o Setor de Tintas. Esses indicadores objetivam fornecer informações técnicas, consultoria industrial e informações construtivas mediante o desenvolvimento de ferramentas e recursos de medição da sustentabilidade para a categoria de produtos de tintas de consumo (Serie, 2014). Os Perfis de Sustentabilidade por Categorias são listas de itens principais e de oportunidades de aprimoramento potencial da sustentabilidade para tintas. Já os Indicadores de Desempenho Principal são uma lista de medições e de pontos a serem medidos e de rastreamento do desempenho nas áreas de produção de resíduos, emissões de compostos orgânicos voláteis (COV) e aspectos de saúde e segurança laborais, entre outros.

O TSC envolve diversas organizações que atuam em colaboração para criarem uma fundamentação científica que oriente a inovação para aperfeiçoar a sustentabilidade dos produtos de consumo. Esse Consórcio foi criado em 2009 pela Walmart, em colaboração com a Universidade Estadual do Arizona e a Universidade do Arkansas, para o desenvolvimento de sistemas de relatório e medição da sustentabilidade com o objetivo de fornecer assistência aos varejistas na melhoria da sustentabilidade dos produtos de sua comercialização. Consoante a isto, a visão do TSC consiste em conduzir a uma nova geração de produtos inovadores e redes de abastecimento que levem em conta fatores imperativos nos domínios ambiental, social e econômico. Com isto em mente, o TSC trabalha em conjunto com todos os interessados para criarem sistemas informativos e de medição que sirvam de guia para fabricantes, varejistas e consumidores.

Outra iniciativa oriunda dos EUA, no sentido de Certificação de produtos de tintas sustentáveis, está representada pelo selo Green Wise (Figura 4). Os produtos que ostentam este selo foram testados e certificados pelo Coatings Research Group Inc. (Grupo de Pesquisa sobre Revestimentos) quanto ao cumprimento de normas de desempenho de produtos, normas estas determinadas ambientalmente. O CRGI é uma associação internacional, com sede nos EUA, de fabricantes de tintas e revestimentos voltada para as vantagens e os benefícios oriundos de pesquisas e desenvolvimentos compartilhados entre seus membros sobre a tecnologia de vanguarda no setor de tintas. Fundado em 1956, o CRGI é uma fonte importante de intercâmbio tecnológico e comercial com ênfase sobre tintas e revestimentos para o setor imobiliário e arquitetônico. O Laboratório do CRGI é credenciado para a norma ISO/IEC 17025 - Ensaios e Calibração, pelo Laboratory Accreditation Bureau dos EUA (http://l-a-b.com/). Assim, os produtos certificados pelo selo Green Wise, que objetiva ser um genuíno padrão ecológico pelo qual as tintas podem ser avaliadas com precisão, alegadamente não contêm determinados produtos químicos que foram considerados nocivos aos humanos e ao meio ambiente.

Figura 4. Selo Green Wise, de responsabilidade do Coatings Research Group Inc. Fonte: http://www.greenwisepaint.com/

Já mais para o outro lado do globo, temos as iniciativas para sustentabilidade promovidas por organismos australianos. Em especial destaque está a GECA - Good Environmental Choice Australia (ou, em tradução livre: Boa Opção Ambiental da Austrália), a qual patrocina um programa de rotulagem ecológica multisetorial, independente e sem fins lucrativos. Segundo informações coletadas em seu sítio eletrônico na Internet (http://www.geca.org.au/), a GECA é a única organização australiana membro da Rede de Rotulagem Ecológica Global (GEN - Global Ecolabelling Network).

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Figura 5. Etiqueta/selo da GECA, entidade australiana de rotulagem ecológica.

http://www.geca.org.au/

A GECA, mediante seu transparente programa de certificação, desenvolve padrões contra os quais é possível auditar produtos e serviços de maneira independente pelos diferentes organismos de auditoria credenciados. Tais padrões são desenvolvidos segundo os princípios da norma internacional ISO 14024, Declarações e Etiquetas Ambientais - Etiquetagem Ambiental do Tipo I - Princípios e Procedimentos, já mencionada anteriormente, procurando alcançar melhores práticas globais em termos de atribuição de etiquetas ou selos ecológicos a produtos e serviços (Figura 5). O programa GECA estabelece o padrão para o desempenho ambiental ao longo de todo o ciclo de vida de um produto, de maneira que fica mais fácil para os compradores fazerem as suas escolhas sustentáveis com segurança e confiabilidade, sem precisarem ficar pesquisando aqui e ali, penosamente esforçando-se por conta própria na busca do produto mais ecológico e ambientalmente sustentável.

Por último, e a título de resumo, temos o organismo internacional concentrador de todas as principais iniciativas em diferentes países para a sustentabilidade, preconizadas pela criação, desenvolvimento, avaliação e atribuição da rotulagem ecológica: a GEN (Global Ecolabelling Network, ou Rede Global de Rotulagem Ecológica). Trata-se de uma associação sem fins lucrativos de diversas organizações terceiras e independentes de rotulagem, certificação e reconhecimento de desempenho ambiental, espalhadas pelo mundo. A GEN foi fundada em 1994 para aprimorar, promover e desenvolver a rotulagem ecológica de produtos e serviços (veja a Figura 6 mais adiante). O CONTEXTO BRASILEIRO: ROTULAGEM ECOLÓGICA, NORMALIZAÇÃO E INICIATIVAS SOBRE SUSTENTABILIDADE NO SETOR DE TINTAS

E o que dizer das iniciativas de rotulagem ecológica em nosso país? Temos a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas e o seu Rótulo Ambiental (ilustrado ao pé da Figura 6 mais adiante). A título informativo geral, segundo os elementos recolhidos em páginas específicas do sítio eletrônico da ABNT (http://www.abnt.org.br), ela é o único membro da Global Ecolabelling Network (GEN) na América do Sul. O programa de rotulagem ambiental que a ABNT promove possui credenciamento pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), portanto, ostenta o "reconhecimento formal que a ABNT cumpre os requisitos previamente definidos e mostrou ser competente para realizar suas atividades com confiança." Ainda segundo o texto descritivo, disponível no sítio eletrônico da ABNT, anteriormente citado, o "Rótulo Ecológico ABNT é um Programa de rotulagem ambiental (Ecolabelling), que é uma metodologia voluntária de certificação e rotulagem de desempenho ambiental de produtos ou serviços que vem sendo praticada ao redor do mundo. É um importante mecanismo de implementação de políticas ambientais dirigido aos consumidores, auxiliando-os na escolha de produtos menos agressivos ao meio ambiente. É também um instrumento de marketing para as organizações que investem nesta área e querem oferecer produtos diferenciados no mercado."

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Figura 6. Rótulos, Selos, Marcas e Etiquetas provenientes de organizações nacionais diversas que fazem parte da

GEN. Em destaque, ao pé do quadro, o 'Selo Verde' da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Fonte: http://www.globalecolabelling.net/

Como benefícios concedidos às empresas que têm os seus produtos agraciados com o Rótulo Ecológico (também conhecido como 'Selo Verde') encontram-se: • "Garantia de que o produto/serviço da empresa tem menor impacto ambiental do que seu similar que não tem o rótulo; • Garantia ao mercado que a sua empresa está preocupada com as próximas gerações; • Preservação do meio ambiente; • Redução de desperdícios (reciclagem); • Aumento da receita (venda de refugos para reciclagem);

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• Visibilidade da empresa no mercado; • Diferenciação no mercado; • Aumento das possibilidades de exportação."1 Deste modo, como preconizado por este conceito do selo, rótulo, marca ou etiqueta ecológica, não importando a nomenclatura empregada localmente, os consumidores poderão escolher, conscientemente, quais produtos e serviços certificados irão adquirir, com a confiança de que estes exercem menor impacto sobre o ambiente, a saúde humana e que levam em conta, igualmente, aspectos sociais importantes. As empresas de vanguarda no setor de tintas e revestimentos estão cientes desta tendência mundial quanto a uma maior conscientização dos consumidores e a sua preferência transferida para produtos e serviços rotulados como 'amigáveis' ao meio ambiente e à saúde humana e ao bem-estar social. Trata-se, portanto, de um fator adicional em termos de diferenciação no mercado. Certamente, sem as informações corretas, é mais difícil para os consumidores saberem quais produtos são melhores em termos ambientais e mais complicado para os fabricantes saberem em quais áreas da produção e em quais características dos produtos eles deveriam fazer aprimoramentos. Assim, as etiquetas, rótulos, marcas ou selos ecológicos servem a uma função crucial, tanto nos mercados dos consumidores, como nos dos fabricantes e distribuidores, com respeito a colaborarem para uma melhoria significativa dos produtos com vistas a uma maior sustentabilidade. O Brasil não fica atrás dos países estrangeiros no quesito interesse na busca por produtos cada vez mais 'amigos' do meio-ambiente sustentável, especificamente no setor de Tintas e Revestimentos. Já no início do século XXI, em 2002, foi criado o Programa Setorial da Qualidade – Tintas Imobiliárias, no âmbito do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat), do Ministério das Cidades, objetivando aprimorar a qualidade e modernizar os produtos do setor da construção civil2. Os importantes temas da qualidade, confiabilidade e inovação tecnológica dos produtos representaram os focos das iniciativas do setor desde então. Atualmente, pelos motivos já apresentados na parte inicial deste artigo, a sustentabilidade acrescenta-se ao trinômio anterior e as indústrias brasileiras certamente tomarão as medidas necessárias para igualmente atenderem as novas demandas desse novo e imenso mercado consumidor do Brasil, com maior poder aquisitivo, atento e ávido por produtos inovadores, confiáveis, de excelente qualidade e, também, ecológicos. No momento de uma construção ou reforma da casa, a tendência é que se dê preferência à compra de produtos 'verdes', com fabricação sustentável ou manufaturado com materiais à base de produtos naturais. O mote parece ser: "A nossa saúde agradece e a natureza também!" Em termos de padronização no Brasil, a ABNT tem disponível uma norma generalista sobre o assunto e é sempre recomendável consultá-la. Trata-se da norma ABNT NBR ISO 14031:2015, publicada recentemente, em 16 de janeiro deste ano de 2015 e válida a partir de 16 de fevereiro do mesmo ano. Elaborada pelo Comitê ABNT/CB-038 Gestão Ambiental, com 44 páginas e o título de "Gestão ambiental - Avaliação de desempenho ambiental - Diretrizes", esta norma objetiva proporcionar um guia para a elaboração do projeto e para a utilização de um sistema de avaliação do desempenho ambiental (ADA) em uma organização qualquer, independentemente do setor de atuação, dimensão da empresa, localização e complexidade. 1Fonte: sítio eletrônico da ABNT, disponível em: https://tinyurl.com/pg2qbeo

2http://www.abrafati.com.br/programas/programa-setorial-da-qualidade

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Outra norma relacionada ao tema é a ABNT NBR ISO 14045:2014, publicada em 21 de maio de 2014, válida a partir de 21 de junho do mesmo ano. Elaborada pelo mesmo supracitado Comitê da ABNT, tem 41 páginas e o título: Gestão ambiental — Avaliação da ecoeficiência de sistemas de produto — Princípios, requisitos e orientações. Em termos gerais, tem como objetivo fornecer uma descrição dos princípios, requisitos e orientações para a avaliação da ecoeficiência de sistemas de produto.

Conforme salientou Dilson Ferreira, Presidente-Executivo da ABRAFATI, em 2012: "No caso da indústria de tintas, além de oferecer produtos com o mínimo de impacto ambiental, estão sendo adotadas práticas como a utilização racional de água e energia, o desenvolvimento de novas matérias-primas oriundas de fontes renováveis, a eliminação de desperdícios, o gerenciamento adequado de resíduos e embalagens."

CONCLUSÃO

No que toca à questão da sustentabilidade nas indústrias de tintas e revestimentos, concluímos que existem várias iniciativas e ações que podem ser empreendidas, e muitas já o são, pelas empresas rumo à fabricação de produtos ecológicos, sustentáveis, amigos para com o meio ambiente e a sociedade que o habita como um todo. Listamos a seguir um apanhado de tais iniciativas, ações e práticas a título de resumo do que foi considerado até aqui.

- Infraestrutura voltada para pesquisa e desenvolvimento (laboratórios equipamentos).

- Recursos humanos profissionais altamente especializados.

- Substituição de componentes acrílicos derivados de petróleo por resinas de soja e outras matérias-primas de origem vegetal, renováveis, biodegradáveis e sem emanações tóxicas.

- Substituição de colorantes sintéticos por pigmentos minerais.

- Tintas à base d'água em detrimento às de base de solventes.

- Eliminação do chumbo e redução de compostos orgânicos voláteis na composição das tintas.

- Redução da quantidade de resíduos de qualquer natureza gerados pelos processos por meio de um aumento significativo de técnicas de minimização, reciclagem, recuperação e reutilização.

- Adequação dos processos com vistas ao objetivo de geração mínima ou nula de efluentes líquidos industriais.

- Tratamento dos efluentes efetuado de maneira local, mais simplificada e menos custosa.

- Consultoria prestada aos clientes industriais e domésticos sobre a utilização e a aplicação racionais dos produtos.

- Avaliação do ciclo de vida dos produtos para conhecer os impactos ambientais relevantes.

- Condições laborais seguras e salubres de modo a evitar a exposição dos operários a quaisquer agentes de risco.

- Manutenção adequada dos tanques e outros equipamentos de produção.

- Cuidados extremos com a segurança na parte elétrica, hidráulica, gases e vapor.

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- Utilização correta dos equipamentos de proteção individual (EPI).

- Estudo ergonômico dos postos de trabalho.

- Formação e capacitação sobre as boas práticas e métodos seguros de trabalho e sobre os procedimentos operacionais.

- Proporcionar uma efetiva conscientização com respeito ao cuidado responsável com o meio ambiente.

- Suporte constante às Brigadas internas contra incêndios, treinamentos de evacuação de emergência e às Equipes de Primeiros-Socorros.

- Institucionalização de uma política de transparência ou de 'portas abertas' para os meios de comunicação e para a Comunidade em geral.

É importante salientar que o presente artigo procurou apenas proporcionar um vislumbre do que está sendo realizado na vanguarda tecnológica do setor em países estrangeiros e no Brasil. Dadas as características ímpares do nosso país, nem todas as recomendações e/ou iniciativas no tocante a sustentabilidade podem ser aplicadas de imediato e/ou são viáveis atualmente no contexto industrial, normativo, econômico, fiscal e social brasileiro. Salientando esta questão de possíveis limitações às iniciativas inovadoras para a sustentabilidade que enfrentam as empresas nos mercados dos países emergentes, devido a fatores exógenos, tais como o cenário regulador neste setor, o relatório intitulado "Unlocking sustainable value in emerging markets" (2013) afirma o seguinte:

"A company’s ability to effectively address its sustainability challenges is ultimately the product of innovative initiatives spearheaded by the company; however, exogenous factors such as the regulatory environment in which the company operates are also important to consider. It is clear that emerging markets still have some way to go in terms of increasing their sustainability performance." (Marritt-Alers & Giese, 2013).

Decerto que há ainda um longo caminho a percorrer em termos de um incremento significativo do desempenho das empresas em direção a mais e mais iniciativas, ações e práticas inovadoras para a sustentabilidade. Finalmente, as palavras do Presidente-Executivo da ABRAFATI, Dilson Ferreira, proferidas em 2012, resumem muito bem essa questão: "As transformações que vivenciaremos no rumo da sustentabilidade representam desafios, ao mesmo tempo em que abrem imensas oportunidades, da mesma forma que já ocorre com o atendimento das demandas relacionadas à qualidade, confiabilidade e inovação tecnológica", temas estes que foram objeto de Congressos anteriores da ABRAFATI, demonstrando que o setor está 'antenado' com a vanguarda e as principais demandas deste domínio do conhecimento industrial.

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REFERÊNCIAS: ACA - American Coatings Association (2013). Sustainability Awareness Brochure. Disponível e consultada em 19 de fevereiro de 2015 em: http://tinyurl.com/kkb5zko ACA - American Coatings Association (2015). Sítio eletrônico oficial na Internet. Disponível e consultado em 19 de fevereiro de 2015 em: http://www.paint.org/about-aca/sustainability-policy.html. Capello, G. (2009). Agora é Lei - Tintas Saudáveis, artigo publicado na Revista Revista Arquitetura e Construção – 07/2009. Artigo disponível e consultdo em 21 de março de 2015 em: http://tinyurl.com/nxgwrr CEPE (2012). Glossary of sustainability related terms. CEPE - The voice of paint, printing ink and artist-s colours in Europe, julho de 2012. Eller, K. (2013). The Role of Sustainability in the EU Paint Industry. CEPE Task Force on Sustainability, Xangai, 22 de novembro de 2013. Disponível e consultado em 19 de fevereiro de 2015 em: http://tinyurl.com/k7jwltm Ferreira, D. (2012). Qualidade e sustentabilidade: essenciais para as tintas do futuro. In Obra24Horas. Matéria veiculada em 29/08/2012. Artigo disponível e consultado em 22 de fevereiro de 2015 em: http://tinyurl.com/lllzjg2 Garza, M. L. (2015). Compitiendo Sustentablemente en la Industria Automotriz: VW. IPADE Business School, Universidad Panamericana. Disponível e consultado em 21 de fevereiro de 2015 em: http://tinyurl.com/o3kpmyn Henning, M. (2012). Advanced and Sustainable Microbial Control Technologies, Dow Microbial Control, maio de 2012, pág. 4. Marritt-Alers, K. & Giese, G. (2013). Unlocking sustainable value in emerging markets. Insight 04/2013. ROBECOSAM Sustainability Investing, abril de 2013. Serie, T. (2014). TSC Publishes Final Paint Sustainability Guidelines for Retailers, ACA - American Coatings Association, abril de 2014. Disponível e consultado em 19 de fevereiro de 2015 em: http://tinyurl.com/naj5p6u