14ª edição - o espectro

10
14ª Edição - 20 Outubro 2014 Núcleo de Ciência Política ISCSP - UL Marinho e Pinto decide formar o Pardo Democráco Republicano © SOL A luta pela humanidade no Curdistão O estímulo fiscal do BCE e a posi- ção alemã pág5 pág7 pág2 A União com o Brasil: Portugal e a porta da Europa pág8 “(…) o Parlamento Europeu, pela mão dos seus eurodeputados, tomou uma medida que já há muito deveria ter sido instuída, ao criar no passado dia 13 de outubro de 2014 uma delegação interparlamentar União Euro- peia-Brasil.”

Upload: o-espectro

Post on 05-Apr-2016

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: 14ª Edição - O Espectro

14ª Edição - 20 Outubro 2014 Núcleo de Ciência Política ISCSP - UL

Marinho e Pinto decide formar o Partido Democrático Republicano © SOL

A luta pela humanidade no Curdistão

O estímulo fiscal do BCE e a posi-ção alemã pág5 pág7

pág2

A União com o Brasil: Portugal e a porta da Europa

pág8

“(…) o Parlamento Europeu, pela mão dos seus eurodeputados, tomou uma medida que já há muito deveria ter sido instituída,

ao criar no passado dia 13 de outubro de 2014 uma delegação interparlamentar União Euro-peia-Brasil.”

Page 2: 14ª Edição - O Espectro

POLÍTICA INTERNA

02 | O ESPECTRO 20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

Marinho e Pinto e a sua não-surpresa

João Miguel Silva

Mais um partido (que por enquanto não passa de uma inten-ção) surge no espec-tro político português. Depois de reavivar e ter abandonado o MPT - Partido da Ter-ra, Marinho e Pinto – vendo os seus objeti-vos políticos de curto prazo satisfeitos – de-cide formar o PDR, Partido Democrático Republicano, assente no mote “Liberdade, Justiça e Solidarieda-de”. Marinho e Pinto sem-pre se declarou como independente apesar de ter procurado no MPT apoio à sua can-didatura como euro-deputado, esta proe-za, que tanto o parti-do como o próprio se aventuraram, valeu-lhes a vitória. Contu-do, chegou-se ao dile-ma: “casamento ou divórcio” como Vieira

da Cunha colocou, optando-se pela se-paração. Este, aca-bando por falar pelo agora líder do PDR, declarou que a asso-ciação de Marinho e Pinto com o MPT na-da mais foi do que um “acordo pessoal” daquela pessoa com aquele partido, tendo acusado este último de se “ter fechado sobre si próprio”, ter-minando numa série de divergências es-truturais com o então cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu. Feito à sua imagem e ideais (um facto des-mentido categorica-mente pelos seus se-guidores), e recheado de frases que fazem o ouvido de alguns portugueses jubilar, como «Marinho e Pinto apresenta novo partido. Um 25 de Abril "sem chaimi-

tes"» ou até mesmo «Marinho Pinto vai fazer "striptease" do vencimento enquan-to eurodeputado», o PDR nada trás de no-vo ao descrédito em que se encontram os partidos do sistema político nacional. To-mando as suas posi-ções como “bem fun-damentadas” o Parti-do Democrático Re-publicano, seguindo os juízos de valor do seu líder, acaba por estar carregado de um discurso populis-ta, que, indo ao en-contro da descrença do eleitorado, espera atrair votos nas pró-ximas legislativas – o mais recente objetivo político de Marinho e Pinto – caso consiga, de facto, atingir a le-galidade. Para concluir surge a questão: Será que Marinho e Pinto terá em 2015 a mesma força e visibilidade política que demons-trou este ano para instalar (de novo) a surpresa na socieda-de portuguesa? Nas eleições legislativas

que se seguem, não estamos a discutir uma representação em órgãos supranaci-onais mas sim na insti-tuição em que os por-tugueses colocam as suas esperanças e de-sejos de quatro em quatro anos. Desta forma, mesmo que seja profundamente improvável que o PDR goze de uma grande representação parla-mentar, basta a che-gada do seu líder ao Parlamento para que a cena política portu-guesa possa sofrer profundas alterações: Marinho e Pinto ga-nha um relevo mais ou menos permanen-te durante uma legis-latura, e o Governo que seja formado, te-rá à sua frente um competente treinador de bancada. *(artigo redigido tendo em conta o debate “Partido Democrático Republicano: A Nova Força do Espectro Políti-co Nacional” com os oradores Vieira da Cu-nha e Afonso Garcia)

Page 3: 14ª Edição - O Espectro

20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

O ESPECTRO | 03

ECONOMIA

Oh Chefe! Pode-me fazer um Orçamento?

Rui Sousa

Dia 15 de Outubro. Novo Orçamento, no-va apresentação no Ministério das Finan-ças. Nova esperança no impacto do habi-tante português. Ao longo da exposição, Maria Luís vai apre-sentando as previsões e expectativas utili-zando toda a habilida-de política que adqui-riu nestes últimos três anos. "Como cres-ceu!"- desabafa o se-nhor consumidor que a observou de esgue-lha numa visita ao centro comercial. A cara explanada em quatorze televisores de alta definição não deixa margem para dúvidas para o históri-co militante social-democrata, nascido e criado na Avenida da Boavista - "Costa é eleito, Rio desafia Pas-sos, o ex-PM cai, Rio dança o tango com

Costa, Maria Luís de-safia Rio que, por sua vez, abate Costa e assim sucessivamen-te." O ciclo político está em união de fac-to com o ciclo econó-mico. Voltando ao OE… O empresário portu-guês limpa o suor da testa e respira um pouco mais fundo com a queda do IRC para 21%. O esperta-lhão do patrão tuga encomenda o novo Mercedes da comuni-dade, com esperança num Portugal mais próspero e saudável. Soubemos também que a sobretaxa apli-cada aos contribuin-tes em sede de IRS será devolvida em 2016, isto se, diver-sos astros estiverem alinhados e nenhum asteroide colidir com a terra. Em caso de alarme de impacto, o

crédito aos contribu-intes será usado para subsidiar a ida de es-pecialistas em perfu-rações ao espaço, com vista à destrui-ção do corpo rocho-so. Os pensionistas e funcionários públicos verão algum do seu

dinheiro recuperado e poderão estar as-sim aptos para o no-vo acto eleitoral em 2015. Começou a pré-época para os refor-mados e funcionários do Estado rumo ao título tão desejado pelos adeptos. Quanto a metas orça-mentais, o aluno bem comportado foi chamado ao gabinete do director e todos sabemos o que acon-tece quando tal acontecimento ocor-

re: ouvimos a repri-menda, mas passou. Fica a dúvida se o rela-to da asneira tivesse sido maior, o aluno não seguiria a sua vida na mesma. Com as orelhas a arder, mas a andar. Maria Luís confessou

nesta exposição a in-capacidade do gover-no para cortar mais despesa. Para o eleito-rado passou uma mensagem explícita: "ainda bem que não vamos ser eleitos no-vamente, o Estado e a máquina administrati-va têm um impasse colossal". Este desa-bafo é um problema e o maior desafio de Costa. O Tratado Or-çamental é para cum-prir mas o Tribunal Constitucional tam-

Maria Luís de Albuquerque © SAPO

Page 4: 14ª Edição - O Espectro

04 | O ESPECTRO 20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

ECONOMIA

bém. Aguardemos a nova entrada no dicio-nário Porto Editora para Reforma do Esta-do. Juntamente com o Ministro do Ambien-te, Paulo A(nuncio)u a tão badalada fiscalida-de verde, incluída na proposta de Orçamen-to de Estado. Despejar o lixo será, a partir de 2015, um acto muito mais nobre, podendo desde já instruir as crianças que ir ao con-tentor é uma "cena fixe" em conjunto com “a cenoura faz os olhos bonitos”. Tere-mos mais participa-ções e, por sua vez, participantes na factu-ra da sorte, estando

até o governo a equacionar substituir os Audi por Toyota Prius mais verdes e amigos do ambiente. Jorge Moreira da Sil-va ganha o prémio revelação deste go-verno ficando a faltar o combate lucrativo no sector energéti-co. Quanto ao Orça-mento visto por mi-nistérios, Nuno Crato foi mandado para dezoito sítios dife-rentes aquando a de-fesa do seu pelouro e vê assim a sua pasta ser premiada pelo excelente arranque de ano lectivo. Crato rouba a fama a Murphy e figurará

Papa Francisco rompe o tabu, defendendo a comunidade gay © SUPERPRIDE

nos manuais a partir de 1 de Janeiro. Por falar em ministérios a funcionar “às mil ma-ravilhas”, Paula Tei-xeira da Cruz sofreu também um corte na sua pasta e, segundo fontes de água crista-lina, vai impugnar a decisão do Conselho de Ministros quando o Citius retomar o seu funcionamento normal. Na Economia e na Saúde, as dota-ções para ambos os ministérios subiram, premiando o bom trabalho real que tem sido feito. Por fim, e fazendo alusão a uma visita dos estudantes de

Ciência Politica do 3º ano do ISCSP à Assem-bleia da Republica, o Orçamento de Estado para 2015 contempla novamente a revoga-ção do estatuto espe-cial para funcionários da AR. Cavalo de bata-lha antigo e que o ac-tual Governo em fun-ções faz questão de contemplar na versão preliminar dos OE´s a cada ano. Entre amea-ças de greve, a acções dos sindicatos, os gru-pos parlamentares têm vindo a expor uma alteração ao do-cumento permitindo a não efectividade desta medida. Poder contra-poder.

EM DESTAQUE

Page 5: 14ª Edição - O Espectro

POLÍTICA EXTERNA

O Estímulo Fiscal do BCE e a Posição Alemã

João Rodrigues

No início do mês o Banco Central Euro-peu anunciou em Ná-poles um pacote de estímulo fiscal para a Zona Euro. Mario Dra-ghi decidiu manter a taxa de juro diretora no mínimo histórico de 0,05% e anunciou que o Banco Central Europeu se prepara para adquirir asset-backed securities e covered bonds no va-lor de um trilião de euros, procurando, desta forma, estimular a economia e evitar os riscos deflacionários provenientes da es-tagnação económica, da pressão das dívidas soberanas e da incer-teza criada por confli-tos no leste europeu. O programa de com-pra de asset-backed securities e covered bonds teve início a

meio deste mês e tem a duração pre-vista de dois anos. Apesar da economia da Zona Euro ter crescido apenas 0,1% no último trimestre do corrente ano, o presidente do Bun-desbank, Jens Weid-mann, opôs-se imedi-atamente à medida e considerou-a demasi-ado arriscada, aler-tando para a transfe-rência de risco dos bancos para os con-tribuintes europeus e afirma que a medida vai contra todas as reformas regulamen-tárias que se conse-guiram implementar nos últimos anos. Não se afastando da sua matriz de atua-ção e procurando a estabilidade de pre-ços, o BCE procura estimular a economia

através do incentivo ao crédito para man-ter a inflação abaixo dos 2%, dado que a mesma, em Setem-bro, foi de 0,3% - o mínimo dos últimos cinco anos. Mario Draghi pediu aos go-vernos que fizessem

mais em prol do cres-cimento e solicitou que países com a si-tuação financeira mais robusta, como a Alemanha, lideras-sem o estímulo da procura na zona eu-ro. No entanto, os ger-mânicos, mantêm-se firmes na manuten-ção da solidez orça-mental. O presidente do Bundesbank afir-

ma que “o equilíbrio orçamental é fulcral para um país que vai enfrentar num futuro próximo o grande far-do demográfico do envelhecimento” e contraria a visão de Oliver Blachard de que mais investimen-

to público germânico reavivaria as economi-as da periferia. Reco-nhece, no entanto, que os últimos indica-dores de atividade económica na Alema-nha (quebra de 5,7% na procura da produ-ção industrial) são de-cecionantes e que Berlim precisa de in-vestir mais para ultra-passar a estagnação. Apesar disso, recusa

20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

O ESPECTRO | 05

Mario Draghi © THE GUARDIAN

Page 6: 14ª Edição - O Espectro

COLUNA EX LIBRIS

Uma Teoria da Justiça

John Rawls (1971)

Rui Coelho

Publicado em 1971, Uma Teoria da Justi-ça é considerada a mais importante obra de pensamento político das últimas décadas. Nela, Rawls oferece uma renova-ção inteligente e ori-ginal do pensamento liberal democrático. Assumindo a impor-tância do contexto social na realização pessoal dos indiví-duos, o autor procu-ra propor um siste-ma de critérios que permitam a edifica-ção de uma socieda-

de justa. Para Rawls, o estabelecimento de tais critérios seria apenas possível num processo deliberativo racional, livre de pre-conceitos e interes-ses particulares. Des-se exercício teórico, o filósofo deduz os seus dois princípios da justiça: máxima liberdade compatível e limitação das desi-gualdades em função tanto das vantagens globais como da acessibilidade às po-sições de privilégio. O argumento apre-

sentado é bastante frágil pela forma co-mo força uma conclu-são particular sobre um processo delibe-rativo de resultados imprevisíveis. Ade-mais, pode-se questi-onar até que ponto será relevante uma decisão tomada por personagens pura-mente racionais, des-providas de tudo quando as tornaria humanas. Uma Teoria da Justiça teve, no entanto, o mérito de lançar o debate entre liberalismo moderno, libertarianismo e co-munitarismo.

categoricamente que o investimento se ba-seie em estímulos através do endivida-mento público e de-fende que essa solu-ção poderia ser mais prejudicial do que be-néfica pelo risco adja-cente de poder dimi-nuir a confiança dos consumidores e inves-tidores. Como alterna-tiva defende a altera-ção estrutural das despesas do executivo e das despesas de consumo para investi-mento. Para um país como Portugal, que registou um abrandamento das exportações e que procura revitalizar a economia através da procura externa, esta medida é de extrema importância dado que os principais merca-dos de exportação são as estagnadas econo-mias do centro da Eu-ropa.

06 | O ESPECTRO 20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

www.observatoriopolitico.pt

Page 7: 14ª Edição - O Espectro

POLÍTICA EXTERNA

A luta pela humanidade no Curdistão

Rui Coelho

Os curdos são um gru-po étnico do Médio Oriente. A região que habitam, o Curdistão, compreende territó-rios pertencentes à Turquia, Síria, Iraque e Irão. Com uma população de 30 mi-lhões, são frequen-temente referidos co-mo “o maior povo sem Estado”. Trata-se de uma expressão falsa, tanto pela hete-rogeneidade linguís-tica e cultural dos curdos, que nos impe-de, em rigor, de falar de um só povo, como pelo facto de existirem nações mais numerosas desprovi-das dos seus próprios Estados como, por exemplo, os sindhis, grupo étnico do Industão, com 60 milhões de membros. Parte do antigo

Império Otomano, os curdos receberam das forças aliadas a promessa de, após o final da Primeira Guerra Mundial, assistirem ao nasci-mento do seu próprio Estado. No entanto, por força dos interesses turcos, tal promessa seria traída e o Curdistão manteve-se dividido entre os Estados da região. Após a Primeira Guerra do Golfo, como recompensa pelo seu papel na luta contra Saddam, os EUA e a ONU garantiram a criação de um território para os curdos iraquianos, no norte do país, com o estatuto de região autónoma. O Curdistão iraqui-ano permanece,

assim, a parcela do território curdo mais ocidentalizada e com maior autonomia for-mal. Entre as décadas de 70 e 90, o Partido dos Trabalha-dores Curdos (PKK), um movimento marxista-leninista, li-derou uma violenta campanha de gue-rrilha contra o Estado turco. Devido às vítimas civis dos seus atentados, foram perseguidos como

uma organização terrorista, processo que resultou, em 1999, na prisão de Öcalan, o carismático líder do movimento. Foi na prisão que

Öcalan tomou conhe-cimento da literatura libertária que circu-lava entre os militantes do PKK desde a queda da União Soviética. A obra do anarquista americano Bookchin exerceu especial im-pacto sobre Öcalan, levando-o a uma séria transformação ideo-lógica que alteraria profundamente a luta curda. Sob influência do líder

aprisionado, o Grupo das Comunidades no Curdistão, coligação que reúne os movi-mentos de indepen-dência curda PKK (turco), PYD (sírio) e

© ROAR magazine

20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

O ESPECTRO | 07

Page 8: 14ª Edição - O Espectro

PJAK (iraquiano), abandonou a gue-rrilha marxista em favor do “confe-deralismo democrá-tico”, uma visão socialista libertária muito semelhante ao modelo dos zapa-tistas, no México. Tal como sucedera em 1994 em Chiapas, os militantes do PKK declararam a indepen-dência de um terri-tório de maioria curda no Sul da Turquia. Aí tem conduzido uma experiência progre-ssista de autogoverno assente num modelo de democracia directa e delegativa, com forte pendor multi-étnico, inter-religioso, ambientalista e femi-nista. A autoridade superior do território rebelde é o Congresso da Sociedade Demo-crática, um corpo legislativo composto por delegados das assembleias popula-res, bem como por representantes das di-versas organizações da sociedade civil. Contagiado por esta experiência, o PYD

aproveitou a instabi-lidade gerada pela guerra civil na Síria para, em 2012, conquistar autono-mia para a região de maioria curda de Rojava. Também aí foi adoptado o mesmo modelo de confederação de assembleias directa-mente democráticas. Os habitantes de Rojava enfrentam, no entanto, um com-texto crítico. Desde o nascimento do Esta-do Islâmico, em Janeiro deste ano, que tem havido conflito armado en-tre os dois movi-mentos. Por este motivo, o exército do califado assumiu a cidade curda de Kobanê como o seu alvo prioritário. É assim que, desde Julho, este grupo de independentistas li-bertários, diaria-mente alargado por simpatizantes vindos ilegalmente da Tur-quia, se encontra na vanguarda da defesa da humanidade com-tra o Estado Islâmico.

A União com o Brasil: Portugal e a porta da Europa

Tiago Santos

POLÍTICA EXTERNA

Invocando uma alian-ça entre povos que dura desde o tempo dos Descobrimentos e aproveitando o pe-so que o país em questão tem no con-tinente do qual faz parte, o Parlamento

Europeu, pela mão dos seus eurodeputa-dos, tomou uma me-dida que já há muito deveria ter sido insti-tuída, ao criar no passado dia treze de outubro de 2014 uma delegação inter-parlamentar União

Europeia-Brasil que servirá de base per-manente na qual, o debate político e a co-operação entre a insti-tuição e o Estado pro-liferarão. Uma vez que Durão Barroso e a sua equi-

pa haviam várias ve-zes demonstrado von-tade de aproximar de forma clara a União Europeia ao Brasil, materializando este desejo no estabeleci-mento da Parceria Es-tratégica em 2007, fazia sentido que tam-

08 | O ESPECTRO 20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

Bandeiras do Brasil e da UE © EU BRASIL

Page 9: 14ª Edição - O Espectro

bém do ponto de vista político este estreitar das relações conhe-cesse alterações, ou não fosse o Parlamen-to Europeu o órgão representativo de to-dos os cidadãos euro-peus. Para além das vantagens económicas para ambas as partes, a diferença também pode ser sentida no campo da ação políti-ca. Precisamente um ano após a instituição da suprarreferida parce-ria, a Europa entrava numa das maiores cri-ses económicas e fi-nanceiras de que há memória, perdendo com isto muitos dos seus parceiros econó-micos e ficando des-credibilizada interna-cionalmente votada à desconfiança. Estes seis anos de recessão dotaram a Europa de um novo pensamento e de uma nova atitu-de, forçando os seus decisores a uma alte-ração de paradigma que garantisse a possi-bilidade de recuperar os danos económicos sentidos, o que, con-

duziu ao fortaleci-mento dos laços com países que até então eram atores mera-mente secundários, mas que por não te-rem sido abalados pela recessão se apresentaram en-quanto uma solução segura e viável para o futuro da União. O Brasil enquanto superpotência eco-nómica e política no seio do Mercosul sur-ge então enquanto opção óbvia nesta nova forma de enca-rar o Mundo, não es-quecendo a sua inte-gração nos BRICS de-finidos por Jim O’Neill em 2001. Por tudo o que já foi re-ferido, mas também pela historicidade das relações entre o país e outros Estados europeus, o Brasil tinha de estar na li-nha da frente das po-líticas de cooperação europeias. Com esta variabilida-de de parceiros dos quais importa tam-bém destacar os Es-tados Unidos da América, o Japão e a

China (do ponto de vista económico) a Europa cria uma base de suporte que por um lado permite uma almofada económica em caso de novo “crash” e, por outro, possibilita o cresci-mento da influência da União noutros continentes, o que é uma carta de trunfo na implementação de políticas ou na re-solução de conflitos. Esquecendo agora as vantagens bilaterais entre os atores da parceria e membros da delegação, impor-ta também referir o papel de Portugal neste novo panora-ma. Portugal é o alia-do por excelência do Brasil no velho conti-nente, a história as-sim o dita, a língua possibilita que assim seja. Esta posição quando somada à posição geográfica e geopolítica do nosso país enquanto porta da Europa e ao esca-lar da importância da Língua Portuguesa no seio da União Euro-peia, se bem aprovei-

tada, poderá elevar a condição do nosso pa-ís, facultando-nos me-canismos com os quais poderemos con-tar na projeção de po-der para as institui-ções europeias. Isto é, quanto mais profun-das forem as relações com o Brasil, mais im-portância geográfica e política Portugal terá e, consequentemente, mais força nas toma-das de decisão inter-nacionais. Assim sendo, esta de-legação demonstra-se de importância extre-ma para a Europa (devido ao alargar da rede de parceiros), para o Brasil (por se afirmar de vez en-quanto principal ator político da América do Sul) e para Portugal (pelo reforço da sua posição no seio da União Europeia). É uma delegação que peca por tardia, que ganha pela forma co-mo foi implementada e que, sob a presidên-cia de um português, pode significar uma nova fase no projeto europeu.

POLÍTICA EXTERNA

20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

O ESPECTRO | 09

Page 10: 14ª Edição - O Espectro

Propriedade do Núcleo de Ciência Política ISCSP - UL Coordenador: Isa Rafael | Co-coordenador: André Cabral | Revisores: André Cabral e Beatriz Bagarrão | Design: Isa Rafael | Plataformas de Comunicação: Daniela Nascimento, João Cunha

e João Silva | Cartaz Cultural: Isa Rafael

www.facebook.com/OEspectro [email protected]

CARTAZ CULTURAL

até 08 NOVEMBRO

Terça a Sábado: 10h às 19h

Galeria 111

Rua Dr. João Soares, 5B

1600-060 Lisboa

Preço sob consulta

PAULA REGO OBRAS INÉDITAS

10 | O ESPECTRO 20 OUTUBRO 2014 www.facebook.com/OEspectro

a partir 20 OUTUBRO

TESOUROS DA

ARQUEOLOGIA

PORTUGUESA

Terça a Domingo: 10h às 18h

Museu Nacional de Arqueologia

Praça do Império

1400-206 Lisboa

5€

02-31 OUTUBRO

CONCERTOS

ARENA

LOUNGE

Quinta a Domingo: 22h

Casino de Lisboa

Alameda dos Oceanos, 1.03.01

1990-204 Lisboa (P. das Nações)

Entrada Livre